quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Vídeo de loja de brinquedos encoraja garotas a se tornarem engenheiras. Chupem essa, conservas!

Chupem essa, conservas!
Todo conservador que se preza detesta o feminismo, assim tomado de forma genérica. E detesta porque os feminismos (em suas diversas correntes, com raras exceções) atacam o que os conservadores consideram o papel "natural" da mulher (tão "natural" que precisa ser garantido por uma restrita educação diferenciada). Por isso, todos eles, dos mais toscos, tipo Bolsonaro, Malafaia, Feliciano, aos mais letrados, os tais conservadores liberais, como Pondé, Reinaldo Azevedo, entre outros, buscam negar a construção cultural que se faz sobre as diferenças biológicas entre os sexos. 

Em seu livreto Guia Politicamente Incorreto da Filosofia, um amontoado de clichês, frases feitas e falácias a granel, o embusteiro-filósofo Luiz Felipe Pondé dedica um dos capítulos de sua "obra" a renaturalizar, "baseando-se" no darwinismo, os papéis sexuais de homens e mulheres como frutos de um suposto inconsciente genético herdado.  Nesta perspectiva, homens e mulheres têm características diferentes, herdadas pela seleção natural, as quais não são passíveis de construção ou desconstrução social. Assim sendo, embaralhar os papéis masculinos e femininos seria péssimo para a vida cotidiana. Sei.

Dá até vergonha alheia ler esse tipo de gororoba intelectual, já que a educação diferenciada é de uma obviedade gritante. Ninguém precisa ler nenhum compêndio feminista para constatá-la, bastando ter olhos que vejam, além de simplesmente enxergar. Trata-se de mais um daqueles casos em que o rei está nu, porém apenas um menininho tem a coragem de declarar a verdade. A diferença, no caso da educação diferenciada, é que foram as menininhas as primeiras a enunciar a falta de vestimentas do rei.

Qualquer um(a) pode constatar que as diferenças comportamentais entre homens e mulheres derivam fundamentalmente da educação. O adestramento começa no berço, quando os meninos são vestidos de azul e as meninas com o idiota cor-de-rosa, prosseguindo por toda a infância, com os brinquedos para meninas e meninos, e a bem da verdade estendendo-se pela vida inteira. Os papéis sexuais são impostos arbitrariamente às crianças independentemente de suas características individuais de personalidade, temperamento, índole. São fôrmas para onde a garotada é empurrada como massinha de modelar. E os que se rebelam contra essa tirania educacional são reprimidos até fisicamente.

Não por menos o deputado Boçalnaro declarou, em 2010, que se “O filho começa a ficar assim, meio gayzinho (leia-se feminino), leva coro, ele muda o comportamento dele.” Não por menos também, a histeria conservadora contra o tal kit gay (invenção igualmente do truculento deputado do PP-RJ) que supostamente iria perverter a ordem "natural" dos papéis sexuais nas escolas. Que ousadia mostrar como aceitável o que nós levamos séculos para introjetar na cabeça de todos como anormalidade. 

Aliás, com um pouco de raciocínio, já se chega à conclusão de que a naturalidade dos papéis sexuais é farsesca. Se as diferenças comportamentais entre mulheres e homens derivam da natureza porque precisam ser ensinadas? Porque essa história de brinquedo de menina e de menino, se as crianças não brincam com os genitais e sim com o que é comum a ambos os sexos, ou seja, mãos, pernas e cabeça? 

A educação diferenciada prejudica fundamentalmente as meninas, pois visa mutilar seu potencial intelectual e existencial. Mas prejudica também os meninos, mutilados em sua capacidade de desenvolver empatia, criados para serem criaturas toscas, abrutalhadas e parasitas. A musiquinha Girls, cantada pelos Beastie Boys, descreve sem sutilezas para que serve a educação diferenciada. Diz a letra:
“Garotas para lavar a louça / Garotas para limpar meu quarto / Garotas para lavar roupa / Garotas para “fazer” no banheiro / Garotas —tudo o que realmente quero são garotas”.
Melhor pagar uma empregada e uma puta, né mesmo? Concluindo, os conservas sabem que é de menino que se torce o pepino, mas nós sabemos também. Daí que é sempre auspicioso registrar as iniciativas de minar o poder repressivo da máquina de promover desigualdades chamada educação diferenciada. É o caso do vídeo viral da loja de brinquedos GoldieBlox que visa encorajar as meninas a se tornarem engenheiras.

Ao som de uma versão feminista da ultrassexista Girls, do Beastie Boys, o vídeo diz a que veio. Chama-se Disrupting the Pink Isle (Detonando a Ilha Cor-de-Rosa), mas bem que podia se chamar Chupem essa, Conservas!

Vídeo viral feminista de loja de brinquedos encoraja garotas a se tornarem engenheiras

Claire Miller do New York Times

Quem disse que garotas têm de usar cor-de-rosa e brincar de boneca, principalmente quando podem construir uma máquina de Rube Goldberg em vez disso?

Essa é a mensagem de um vídeo que se tornou viral desde que foi postado no YouTube nesta semana —um anúncio da GoldieBlox, start-up de brinquedos infantis que vende jogos e livros para encorajar garotas a se tornarem engenheiras.

No vídeo, três meninas estão entediadas assistindo a princesas cor-de-rosa na TV. Então elas pegam uma caixa de ferramentas, óculos de proteção, um capacete e começam a construir uma máquina de Rube Goldberg, que manda para os ares xícaras rosas e bonecas, usando guarda-chuvas, escadas e, claro, brinquedos da GoldieBlox.

Tudo acontece sobre a melodia de “Girls”, do Beastie Boys, uma balada decididamente antifeminista. Só que a letra foi reescrita pelo criador da propaganda.

Os Beastie Boys cantavam: “Garotas para lavar a louça / Garotas para limpar meu quarto / Garotas para lavar roupa / Garotas para “fazer” no banheiro / Garotas —tudo o que realmente quero são garotas”.

Uma das atrizes do anúncio canta:
Garotas constroem uma nave espacial / Garotas criam um novo aplicativo / Garotas que crescem sabendo / Que podem projetar essas coisas / Garotas, tudo de que realmente precisamos são garotas / Para nos levar ao topo / Nossa oportunidade são as garotas / Não subestime as garotas.
“Pensei em minha infância, com princesas e pôneis, e me perguntei por que kits de construção, matemática e ciência eram para garotos”, disse Debbie Sterling, fundadora e chefe-executiva da GoldieBlox, em entrevista. “Queríamos criar uma inversão cultural, fechar esse vão entre os gêneros e preencher algumas dessas vagas de emprego que crescem à velocidade da luz.”

Ela criou a empresa há dois anos, depois de se graduar em design de produtos no departamento de engenharia mecânica de Stanford, onde ficou desapontada por não haver mais mulheres nas aulas.

As mulheres são pouco representadas como engenheiras em companhias de tecnologia, principalmente por causa de um problema de abastecimento. Em 2010, elas representavam 18% das graduações em ciência da computação; em 1987, respondiam por 37% desse número, segundo o Centro Nacional para Mulheres e Tecnologia da Informação.

O problema, dizem muitos analistas, começa na infância, quando professores e pais não encorajam garotas a correr atrás de engenharia.

A GoldieBlox é um dos esforços para mudar essas porcentagens. O programa Girls Who Code ensina a elas programação de softwares. E Sheryl Sandberg, executiva do Facebook que advoga a favor das mulheres nos negócios, frequentemente encoraja os pais a deixar suas filhas jogarem videogames, para assim ficarem animadas em relação a ciência da computação.

Sterling e a equipe da GoldieBlox tiveram a ideia de fazer um vídeo que fizesse a engenharia parecer bacana para os mais jovens. Eles foram inspirados pela máquina de Rube Goldberg usada num clipe da banda OK Go, e o criador dessa máquina, Brett Doar, concordou em construir uma para o anúncio.



"Disrupting the Pink Isle". Parents of daughters take note.

Girls.
You think you know what we want, girls.
Pink and pretty it's girls.
Just like the 50's it's girls.

You like to buy us pink toys
and everything else is for boys
and you can always get us dolls
and we'll grow up like them... false.

It's time to change.
We deserve to see a range.
'Cause all our toys look just the same
and we would like to use our brains.

We are all more than princess maids.
Girls to build the spaceship,
Girls to code the new app,
Girls to grow up knowing
they can engineer that.

Girls.That's all we really need is Girls.
To bring us up to speed it's Girls.
Our opportunity is Girls.
Don't underestimate Girls.

Fonte: Folha de São Paulo, Blog de Tec, 21/11/2013

2 comentários:

Melhor garantir igualdade na educação do que depois querer instituir igualdade na base da cota. Concordo com você. E sou homem.

Querem que as meninas só brinquem de bonecas e panelinhas naqueles velhos esquemas. Mas os tempos mudaram. Menina tem que brincar de desmontar objetos, brinquedos de coordenação motora, de raciocínio lógico, igual aos meninos. Sem mais diferenças. Adorei o vídeo!

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