8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

quarta-feira, 28 de julho de 2010

"Lei da palmada" equaciona palmadas e beliscões a espancamentos e outras violências

Retornando às postagens, após breve pausa por excesso de trabalhos outros e por outras questões de força maior, analiso o tema do momento: a já famosa “lei da palmada”, projeto do governo Lula* encaminhado ao Congresso e que altera o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de modo a tornar proibitivos até palmadas e beliscões contra pirralhos mimados.

Trata-se simplesmente de mais um passo de  Lula e sua quadrilha no sentido de monitorar a vida dos cidadãos e das cidadãs do país inclusive na intimidade de seus lares. Algo absolutamente desnecessário, pois o ECA já prevê sanção para os casos de abuso e violência de pais naturais ou adotivos (entre outros) contra crianças e adolescentes. Transcrevendo literalmente do Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 5º: "Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punindo na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais". Acrescenta o artigo 18 do mesmo Estatuto: "É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor". Acrescenta também  o artigo 129  as medidas aplicáveis aos pais ou responsáveis que maltratam os filhos, tais como “advertência”, “perda da guarda”, “destituição da tutela” e “suspensão ou destituição do poder familiar”. Acrescenta ainda o artigo 130 que “verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum.”

No entanto, segundo Lula, não há especificação, no ECA, do que seriam os maltratos à criança (?!), o que sua lei viria a sanar. O artigo 18 passaria, então, a definir "castigo corporal" como ação de natureza disciplinar ou punitiva com o uso da força física que resulte em dor ou lesão à criança ou ao adolescente. Pela nova lei, os pais que forem flagrados dando palmadas em seus filhos poderão ser autuados com base no Estatuto da Criança e do Adolescente, e ser encaminhados a programa oficial de promoção da família, obrigados a receber tratamento psicológico ou psiquiátrico, a ter de freqüentar cursos em programa de orientação e a encaminhar seus filhos a tratamento psicológico. Sem falar que podem perder a guarda da criança. Por causa de uma palmadinha, de um beliscão? Ah, e atualizando: Será necessário o testemunho de terceiros que façam a denúncia ao Conselho Tutelar. Então, a vizinha vai dedurar o pai ou a mãe que viu dar um beliscão no filho? Fala sério?

Além de desnecessária, porque o ECA já prevê sim punições por maltratos contra as crianças e adolescentes, como citado acima, e o Código Penal prevê pena de 1 a 4 anos, para quem abusa dos meios de correção e disciplina, com  agravante se a vítima for menor de 14 anos,  a lei da palmada é também esdrúxula e perigosa. Esdrúxula porque, primeiro, equaciona palmadas e beliscões a espancamentos e outras violências; segundo, porque, parte do princípio de que uma palmada ou um beliscão (que pode variar de intensidade) leva inevitavelmente a uma escalada de violência passando pela surra e chegando até ao assassinato. É tão ridículo que fica até difícil comentar. Dou exemplo pessoal para contra-argumentar.

Há tempos atrás, estava na casa de praia da família, descansando numa rede instalada na varanda do imóvel, quando o filho do caseiro, um garoto de uns 6,7 anos (eu creio), veio por trás da minha cabeça e puxou  meu cabelo com toda a força. Com a dor, reagi automaticamente, saltando da rede e lhe puxando o cabelo com igual intensidade. Nunca mais o moleque fez dessas "gracinhas" comigo e espero que com ninguém. Agora, se dependesse dessa lei absurda, eu poderia ser acionada, embora tenha apenas me defendido, porque não poderia reagir fisicamente contra uma agressão física, já que o agressor era uma criança. Obviamente também, depois do revide, não fui tomada de fúria assassina nem acabei as férias de verão enterrando corpo no quintal da casa.

Da mesma forma, a gente cansa de ver hoje em dia, crianças em espaços públicos infernizando a vida de todo o mundo enquanto pais, sem qualquer autoridade, nada fazem para conter os pequenos tiranos. Como se não bastasse, agora, mesmo  os pais conscientes - de que sem noção de limite ninguém aprende o significado da palavra liberdade - poderão ver suas ações pedagógicas restritas, caso não consigam conter, apenas com palavras, os infantes endiabrados, visto que um simples tapa pode lhes trazer no mínimo uma boa dor de cabeça. Obviamente tapas devem ser o último recurso para coibir abusos de crianças, mas quem negar que eles às vezes são necessários vive fora da realidade.
Por isso, além de desnecessária e esdrúxula, a tal lei também é perigosa já que tira dos pais a autoridade para gerir o relacionamento com os próprios filhos, como se os pais não tivessem essa capacidade, e a transfere para o Estado que se julga melhor qualificado para a tarefa, embora, naturalmente, como não tem filhos e não está presente em cada situação particular, não esteja em posição de julgar ninguém, a não ser em casos de real violência.

De fato, apesar de existir leis similares em vários outros países (o que não quer dizer que sejam boas leis), essa lei da palmada se insere mais no perfil autoritário do petismo e de seu governo do que qualquer outra coisa, seguindo o modelo orwelliano do Grande Irmão que quer controlar a tudo e a todos. O raciocínio de que de um tapa se vai inevitavelmente a uma escalada de violência é da mesma natureza do que os petistas e seus aliados (de vários tipos) utilizaram para tentar pregar o desarmamento da população com vistas a “coibir a violência” na sociedade. Fizeram até um plebiscito, em 2005, quando a população disse não a tal proposta, pois todos sabem que não são as armas vendidas legalmente que alimentam o arsenal dos bandidos e sim as ilegais. E armas não têm vida própria para se apossar das mentes de seus donos levando-os a cometer loucuras.

Mas o “argumento” para tentar proibir os cidadãos de se autodefenderem, ao menos em casa (ah, e eles não desistiram desse intento, não) é de que o cidadão armado vai inevitavelmente partir para o tiroteio sem mais nem menos, porque perdeu a cabeça em uma briga, ou de que, ao se defender de um assalto, por exemplo, morrerá, já que o bandido inevitavelmente irá vencê-lo (quem disse?). Novamente aqui o Estado se achando no direito de decidir pelo indivíduo o que ele deve fazer ou não da vida, os riscos que deve tomar ou não. Em estados autoritários, os indivíduos são tratados como imbecis, que não sabem o que fazem, precisando de um “pai” que decida por eles e elas como devem agir em sociedade e até dentro de suas casas. O Grande Irmão está lhe observando, comandando, como no clássico 1984, de George Orwell.

Por fim, cabe uma análise do governo e dos políticos que fazem esse tipo de proposta e porque elas não devem ser aceitas. O petismo, corrente fundamental do (des)governo Lula, e o próprio governo Lula vivem pelo mundo de beijos e abraços com os piores ditadores do planeta, torturadores e assassinos. Fora isso, o governo Lula financia, com dinheiro público, o Movimento dos Sem-Terra (MST), hoje em dia já armado, em muitas circunstâncias (que invade terras produtivas, destrói plantações e mata animais), além de ter vínculos comprovados com narcoterroristas colombianos (FARC), que sequestram e matam inocentes, como bem relembrado recentemente pelo vice do candidato Serra, Índio da Costa. Fora ainda a violência da corrupção siderada, das quebras de sigilo de cidadãos, do uso do Estado e do dinheiro público para o projeto de poder de um partido.

Por último, um partido e um governo que cometem tantas violências está em posição de querer punir pais por darem uma palmada em seu filhos? Não é preciso ser um gênio para notar que essa lei é mais um capítulo da novela petista do escárnio puro.

*Nota: Alguns afirmam que esse projeto é o mesmo apresentado há tempos pela deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), que Lula agora encaminha; outros que se trata de projeto do governo com base no da deputada. Seja como for, tem a marca registrada do partido.

Postagem atualizada em 01 de agosto de 2010

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Rid of me, de PJ Harvey, é o oitavo melhor álbum pop/rock

O álbum Rid of Me, da compositora e roqueira inglesa Polly Jean Harvey (nascida em 9 de outubro de 1969), mais conhecida como PJ Harvey, foi considerado o oitavo melhor trabalho da lista dos 25 melhores álbuns de pop/rock da revista musical Spin.

Rid of Me, lançado em 1993, tem um pouco de hard rock, indie rock, blues e punk e foi o segundo álbum da roqueira, ainda com a participação do trio com quem produzira Dry, seu primeiro álbum.  As críticas positivas ao trabalho, da imprensa especializada,  só cresceram com o passar dos anos e, além da revista Spin, a Rolling Stones definiu Rid of Me como um dos títulos essenciais dos anos 90 e, em 2003, como um dos melhores discos de todos os tempos entre os 500 mais conceituados.

Considerado o melhor trabalho de PJ Harvey, Rid of Me, extremamente pessoal, tematiza a sexualidade, o machismo, a paixão, tudo mesclado com música cheia de energia e vibração de uma artista que a revista Spin definiu como a primeira mulher a tocar guitarra melhor do que canta. Abaixo Rid of Me, com letra.

Faixas do álbum
1.Rid of Me;  2.Missed; 3.Legs; 4. Rub 'til It Bleeds; 5.Hook; 6.Man-Size Sextet; 7.Highway '61 Revisited (Bob Dylan); 8.50ft Queenie; 9.Yuri-G; 10.Man-Size; 11.Dry; 12.Me-Jane; 13.Snake; 14.Ecstasy


Lyrics | P.J. Harvey - Rid of me lyrics

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Mulheres muito fortes ou quando o desejo é mais forte que as convenções!

Sempre admirei quem ousa ir além dos estereótipos de normalidade impostos pela sociedade. Sobretudo sempre admirei aqueles e aquelas que ousam esculpir, nos próprios corpos, a bandeira libertária do desejo individual contra a padronização das convenções.

Tatuados (hoje mais inseridos na sociedade), body modifiers em geral, travestis e fisiculturistas, para citar alguns tipos mais conhecidos, sempre me provocaram fascínio, às vezes acompanhado de um certo espanto, diante de seu visual e de sua coragem de desafiar os preconceitos, apesar de todas as dores que dele advém. A maior parte dos discriminados, por vários preconceitos passíveis de dissimulação, busca esconder o estigma que lhes foi imposto pela sociedade para evitar a discriminação.

Entretanto, em algumas pessoas, o desejo de afirmar a individualidade, o desejo de afirmar o desejo parece ser tão forte que supera o medo da desaprovação social. E principalmente quando essas pessoas são do sexo feminino, normalmente mais restrito em suas possibilidades de afirmação como sujeito, minha admiração é ainda maior, embora não seja menor às vezes meu estranhamento.

Esse é o caso das fisiculturistas que abordo nessa postagem, aquelas mulheres que malham tanto que seus corpos ficam parecidos com corpos masculinos para lá de bombados, modelito Arnold Schwarzenegger. Naturalmente, não apenas eu me interesso por elas, mas também inúmeras outras pessoas, cada uma por sua razão.

Assim foi com dois fotógrafos, um americano, outro brasileiro que resolveram fazer ensaios com modelos fisiculturistas, explorando o inusitado de rostos maquiados e adornados com brincos se equilibrando em corpos ultramusculosos. O americano Martin Schoeller fez uma série de fotos de fisiculturistas que estão em exposição, na galeria de arte Hasted Hunt Kraeutler, em Nova York. O brasileiro André Arruda produziu também uma exposição, denominada Fortia Femina – Aceitação e Preconceito, com fisiculturistas nuas, que esteve em cartaz, no ano passado, no Centro Cultural da Justiça Federal no Rio. Clicando nos links, você pode ver mais imagens das exposições.
 
As fisiculturistas brasileiras – pelo que se vê nas fotos em preto e branco – são menos esculpidas que suas colegas americanas (nas fotos coloridas). Nestas realmente há uma maior explosão de músculos, músculos que muitos homens não ostentam. Ao observá-las, reflito primeiro que elas contestam, em carne e osso, o mito da maior fragilidade física feminina (essas espantosas mulheres mostram claramente que, querendo, mulheres podem ser tão ou mais fortes que homens); segundo, que elas questionam, com seu visual, o que seria o feminino e o masculino e suas belezas correspondentes.

Esteticamente não me agradam corpos excessivos, independente de aparecerem em homens ou mulheres. Acho que a figura humana fica muito pesada. Prefiro sempre o caminho do meio, equidistante entre as obes@s e @s ultramalhad@s. Entretanto, não posso deixar de admirar a poesia escrita pela coragem dessas mulheres de esculpir, nos próprios corpos, a força libertária do desejo. Nesses tempos novamente tão liberticidas, tão hostis às liberdades individuais, com os agentes do Estado tentando regular toda a nossa vida, sempre é bom destacar quem desafina do coro dos contentes. Tim-tim para elas!

sábado, 10 de julho de 2010

O goleiro Bruno e a candidata de programa!

Duas histórias provocaram polêmica na semana passada. Aparentemente distintas, vejo coisas em comum entre ambas.

A primeira, o escabroso caso do assassinato de Eliza Samudi, amante do goleiro Bruno, do Flamengo, sequestrada, espancada, estrangulada e, por fim, esquartejada, com as partes do corpo jogadas a cães e os ossos enterrados sabe-se lá onde.

A moça, do time das Marias de Chuteiras (moças que vivem às voltas com jogadores de futebol), como amplamente divulgado pela imprensa, transou com o tal Bruno, tendo ficado grávida dele. A partir da gravidez, passou a cobrar de Bruno o reconhecimento da paternidade da criança e correspondente pensão, naquela velha história do toma que o filho é teu.

Golpe dos mais antigos, dado por mulheres a fim de arrumar marido ou pensão, a exigência de Eliza para que Bruno reconhecesse a paternidade da criança nunca foi aceita pelo goleiro que, do tipo machista e violento, logo de início foi lhe metendo umas porradas e exigindo que tomasse abortivos. Eliza deu inclusive queixa numa delegacia da mulher contra as agressões sofridas.

Mas o fato é que a criança nasceu, em fevereiro, levou o nome do pai, e Eliza continuou em sua saga pelo reconhecimento da paternidade do menino, conseguindo que a Justiça obrigasse Bruno a fazer exame de DNA. Agora, não dá para entender porque, na primeira semana de junho, apesar de já ter passado por uma agressão razoável, a moça aceitou ir ter com o goleiro e amigos dele no sítio do atleta, chamado Sítio das Esmeraldas, em Minas Gerais. O desconfiômetro da moça estava desligado que nem cogitou o perigo que corria. Os próximos capítulos desse triste conto prometem ainda muitas cenas de terror.

De qualquer forma, o que impressiona é o fato de um caso que poderia ter sido resolvido na Justiça e, sendo comprovada a paternidade da criança, ter levado a uma pensão para o menino, ter chegado ao que chegou. Afinal o goleiro não é nenhum pobretão. Obviamente, o machismo do jogador mais alguns possíveis traços de psicopatia determinaram o triste fim dessa história.

Basta lembrar que, antes de surgirem evidências mais contundentes que o levaram à prisão, Bruno já havia argumentado, em sua defesa, que Eliza era uma “rodada”, que já tinha dormido com todo o time do São Paulo e feito um filme pornô. Em outras palavras, o filho podia ser de qualquer um, e Eliza era uma vadia cuja palavra consequentemente não valia nada.

Daqui partimos para a outra história que rolou pela Web. O cartunista Nani, no dia 6 agora, fez uma charge (ver imagem ao lado) onde aparece uma prostituta encostada numa parede, rodando a bolsa e dizendo: “o programa quem faz são os fregueses: PMDB, barba, cabelo e bigode; PDT, papai e mamãe e vai por aí...” Nani se referia ao programa de governo da candidata Dilma Roussef que, na segunda, dia 05/06, apresentou primeiro uma versão do documento, ao TSE, cheia de propostas autoritárias, depois apresentou outra versão e, por fim, apresentou as duas, ainda afirmando que haveria uma terceira.

Quando a primeira versão, baseada no programa do PT, chegou ao conhecimento público e do PMDB, partido aliado do governo, houve muita polêmica pelo caráter radical do texto. Após a chiadeira geral, Dilma se saiu com uma história de que o primeiro programa fora apresentado por engano, mesmo ela tendo rubricado e assinado o documento, que era uma coisa do PT, e ela não está de acordo com tudo que diz o PT, e que, por último, a segunda versão era a da coalizão que dá sustentação à sua canditadura.

O cartunista Nani partiu da palavra programa para se remeter à caricatura de uma prostituta, pois prostitutas fazem programa, que se vende a quem paga mais, apontando para o fato de Dilma ter mudado seu programa de governo por pressão do PMDB, PDT, etc...

Incrível ter lido mais comentários irados a respeito dessa charge do que a propósito do assassinato da Eliza Samudi. O que teve de gente acusando o cartunista de falta de respeito com as mulheres, por ter associado à imagem sugerida da candidata petista a uma prostituta, não foi brincadeira. Inclusive o presidente do PT, José Eduardo Dutra, escreveu no blog do Josias de Souza, que reproduziu a charge, o seguinte comentário:
Lamentável a reprodução no blog de Josias de Souza de charge grosseira e ofensiva. Não condiz com a reputação de seriedade do jornalista e está muito abaixo do nível que se espera de sua cobertura das eleições”.
Na página do cartunista, também choveu uma tempestade de comentários irados dada à suposta grande ofensa feita às mulheres pela charge onde se relaciona as idas e vindas do programa da candidata Dilma à imagem de uma prostituta dizendo que o programa quem define é o cliente.

Como disse no início da postagem, vi um pano de fundo comum a essas duas histórias aparentemente distintas. Percebi o quanto a sociedade brasileira continua moralista, hipócrita e machista. Percebi o quanto o valor das mulheres ainda está relacionado ao número de vezes em que abrem as pernas, ficam de joelhos ou de quatro. Sei que me entendem.

O goleiro Bruno procurou desqualificar a cobrança de Eliza quanto à paternidade do filho pelo fato de ela ter feito sexo com muitos homens e participado de um filme pornô. Se ela estava cobrando dele a paternidade é porque devia ter boas razões para acreditar que o filho não fosse de outro, não?

Os comentaristas que ficaram tão ofendidos, por ver relacionada à imagem de Dilma a uma prostituta, têm das prostitutas uma péssima visão, embora muitos hipocritamente  denominem as prostitutas de profissionais como outras quaisquer e inclusive as chamem de trabalhadoras do sexo, no jargão politicamente correto.

A verdade é que o jogador Bruno ficou profundamente revoltado porque uma mulher, que ele via como puta, portanto, não respeitável, tivesse o desplante de lhe cobrar alguma coisa, em particular o reconhecimento da paternidade de seu filho. Tão pouco respeitável seria Eliza, por seu histórico sexual, que poderia ser despachada desta para a melhor que ninguém sequer se daria ao trabalho de investigar, tamanha sua irrelevância. À parte os possíveis traços de psicopatia do sujeito, creditados à frieza com que planejou e executou o crime, o fato é que o número de homens que continua matando mulheres, por conta da visão que tem delas, permanece alto.

A verdade também é que os críticos da charge do Nani consideram simplesmente sugerir que uma mulher seja uma puta uma ofensa inominável porque putas têm como atividade fazer sexo com muitos homens (às vezes também com mulheres) e cobrar por isso. E isso não merece respeito.

Entretanto, de fato, ofensiva e mesmo obscena é essa maneira de pensar. Eliza pode ter sido oportunista, mas a lei faculta às mulheres pedir reconhecimento da paternidade dos filhos e requerer pensão para eles, e nada justifica a violência que sofreu, a morte precedida de tortura. E a charge do Nani só pode ser ofensiva para quem é muito moralista e hipócrita, sobretudo se for do PT, o partido das grandes imoralidades. De fato, ofensivo é associar a imagem das prostitutas, que não tem a vida nada fácil, que têm que trabalhar muito duro para sobreviver, a uma mulher que vendeu não o corpo mas sim a alma por um projeto de poder dos mais obscenos.

Nota: No site do Nani, vale também ver outra página, onde o cartunista mostra que, quando fez charges de outros políticos, inclusive utilizando a imagem de prostitutas, nunca houve tanta "polêmica" nem presidentes de partidos vieram dando lição de moral que eles próprios não têm.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Segurança ou burocracia? Eleitor terá que apresentar documento oficial com foto para votar

Uma mudança, na Lei Eleitoral 12.034/09, promete criar muita confusão este ano: é que, além do título de eleitor, a pessoa terá que  apresentar um documento oficial com foto para poder votar nas eleições deste pleito. Em outras palavras, o eleitor deverá levar a carteira de identidade, de trabalho ou a de motorista para participar da votação.

O objetivo, segundo a Justiça Eleitoral, é evitar fraudes, já que o documento com foto impede a possibilidade de que um eleitor vote pelo outro. Mas tem que ser documento com foto, portanto, certidão de nascimento ou de casamento não serão aceitos. Em caso de dúvida sobre a identidade do eleitor, mesmo com a apresentação do documento com foto, os mesários poderão fazer perguntas pessoais para comparar com a ficha cadastral do TRE, como nome dos pais e data de nascimento.

E o prazo, para o eleitor que perdeu o título tirar a segunda via, é  23 de setembro. Veja o vídeo abaixo do TSE sobre as novidades para essa eleição!

Pessoalmente, acho a tentativa de evitar fraudes na eleição super-válida, mas, para isso, penso que bastaria  a carteira de identidade, sabendo o eleitor a seção em que votar. Considerando a questão infra-estrutural, a exigência dos dois documentos deve aumentar as filas e criar problemas para quem, por exemplo, esquecer um dos documentos ou não levar porque sequer ficou sabendo da obrigatoriedade. E logo nessa eleição tão crucial para o país, uma novidade dessas.

E você, o que acha da nova? Veio para o bem ou para o mal?


Lembrete
Datas de votação:
Propaganda eleitoral gratuita do primeiro turno: de 17 de agosto a 30 de setembro
Primeiro turno: 3 de outubro
Segundo turno: 31 de outubro
O que levar:
Título de eleitor
Documento oficial com foto: Cédula de Identidade (RG), Carteira Nacional de Habilitação (CNH) ou Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Campanha contra a morte de um jovem gay do Irã!

O Grupo Pluralidade e Diversidade de Duque de Caxias e a LIBERTOS Comunicação, de Belo Horizonte, estão realizando uma campanha para salvar a vida de um gay iraniano, condenado à morte por sodomia, propondo que receba asilo no Brasil, como caso já ocorrido anteriormente. A campanha se chama Envie um e-mail, Salve uma vida!

Veja um histórico do caso e, ao final, a ação a ser tomada em prol do rapaz:
O governo do Irã condenou mais um homossexual à morte. Ebrahim Hamidi, natural da cidade de Tabriz, no noroeste do Irã, foi acusado de homossexualidade e sodomia junto com mais quatro jovens. No entanto, os rapazes receberam veredictos diferentes. Enquanto Ebrahim foi condenado à execução, os outros três foram absolvidos. Segundo Saghi Ghahramani, advogado da Associação de Defesa dos Gays Iranianos, sediada em Toronto, Ebrahim foi torturado e forçado a confessar atos de sodomia, enquanto os outros quatro jovens apenas foram acusados há alguns meses por um quinto homem.

Segundo Saghi Ghahramani, atualmente há outros cinco rapazes que estão sujeitos à mesma condenação no país. "Ebrahim Hamidi é atualmente o único jovem acusado de sodomia e condenado à morte que tem a sorte de ter um advogado e seus pais para apoiá-lo nesta questão", afirma ele.

Em novembro do ano passado, Nemat Safavi, outro iraniano de 21 anos, preso desde os 16, também foi condenado à morte sob a mesma acusação.

Ponderações e ações a serem tomadas:
Vale lembrar que o governo brasileiro tem sido criticado pelas entidades de defesa dos direitos LGBT por manter uma relação amigável com o presidente do país, Mahmoud Ahmadinejad. Tudo porque Luís Inácio Lula da Silva declarou há alguns meses, em visita a República Islâmica, ser favorável ao programa nuclear iraniano.

Não podemos admitir que o Governo brasileiro continue pactuando com um regime que nega o holocausto e assassina homossexuais em espetáculos de ódio e monstruosidade em praça pública como os nazistas faziam.

O Grupo Pluralidade e Diversidade convoca Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e todos e todas que defendem a vida, a liberdade e o direito de se expressar que envie uma carta ao Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores)  intercedendo pela vida do jovem Ebrahim Hamidi de apenas 20 anos, solicitando que ele seja apatriado pelo governo brasileiro para assim preservar-lhe a vida.

Não podemos nos calar perante a esse assassinato anunciado. Devemos e podemos dar uma resposta a barbárie, vamos cobrar do governo brasileiro um posicionamento firme e urgente, assim como foi na questão nuclear.

Os interesses econômicos e políticos não podem estar acima da Liberdade da Democracia e da Vida. Mande um email, salve uma vida!

Envie seu email para: imprensa@itamaraty. gov.br ou ligue para:(0XX61) 3411-8006/ 8007 / 6160 / 6162 / 6163 e cobre do Ministro Celso Amorim e do Governo Brasileiro um posicionamento em relação ao caso, e para que, da próxima vez em que o governo brasileiro falar em Direitos Humanos, não faça como quem comeu salame e arrota presunto.

Saudações Humanitárias,
Osmar Rezende
Reproduza essa mensagem para amigo@s e conhecidos, para senadores, deputados, vereadores, líderes partidários locais que também mandem emails presionando o Ministro através de ofício e solicite resposta oficial do deputado e a resposta que o Ministro ou Ministério lhe deu em relação ao caso, pois se não eles dizem que vão fazer e não fazem.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Um tributo a Frida Kahlo!

1. Frida pinta em sua cama, na Cidade do México, em 1940;
2. Fotografia de 1943 feita por um fotógrafo desconhecido;
3. Retrato de 1946, poucos dias depois de uma cirurgia. Em texto no verso da foto, a pintora reclama de dores: “Ficou pior do que nunca”;
4. Diego Rivera em 1933, quatro anos após o casamento com Frida.
Fotos e legendas: blog Mente Aberta
 
A pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954) completaria hoje, 06 de julho, 103 anos, se estivesse viva, mas faleceu em 1954, segundo atestado de óbito, de embolia pulmonar, aos 47 anos de idade. Suspeita-se, contudo, que a embolia tenha sido provocada por overdose de remédios, levantando a hipótese de suicídio.

Mulher atemporal e universal (mais do que mexicana, é um ícone de mulher de todos os tempos e continentes), Frida foi daquelas pessoas raras que soube transformar a dor em poema, ou melhor, em pintura. Vítima de enfermidades e acidentes, conviveu com a dor física por toda a vida e a pintou em seus quadros contundentes.

Quando criança teve poliomielite, o que a deixou com a perna esquerda mais curta e a musculatura atrofiada. Aos 18 anos, o ônibus em que viajava colidiu com uma espécie de trólebus, e uma barra metálica literalmente a atravessou, quebrando-lhe 3 vértebras da coluna, duas costelas, esmagando-lhe a pélvis e a perna direita. Ao fim da vida, feridas não cicatrizadas nessa perna levaram a uma amputação do membro. Debita-se a todo esse quadro médico dramático bem como a seu nacionalismo as típicas saias longas e exuberantes que foram uma de suas marcas registradas (pois ocultavam as sequelas do acidente e da polio). Tornou-se viciada na morfina que lhe davam para aliviar a dor.

Produziu cerca de 200 obras, entre quadros e desenhos, considerados surrealistas para alguns, mas que ela definia como realistas, a maioria deles auto-retratos, muitos deles deitada em sua cama, durante algumas de suas múltiplas convalescenças. Apesar de todo o sofrimento físico, encontrou forças para amar intensamente homens e mulheres, com destaque para o também pintor Diego Rivera, com quem teve um relacionamento para lá de tempestuoso, com idas e vindas e muitas mútuas traições, e o militante russo León Trotsky.

Em  homenagem à pintora  foi lançado agora um livro com 401 fotos inéditas de cenas de sua intimidade e de seus amigos  (Frida Kahlo: suas fotos, CosacNaify, 524 páginas, R$ 120). Posto algumas aqui à guisa de divulgação. O Google também fez um de seus doodles (logo em homenagem a uma personalidade, evento) que igualmente copiei para cá.

Posto ainda abaixo um vídeo sobre Frida e sua obra para quem não conhece e para quem quer recordar e celebrar essa mulher excepcional. Feliz aniversário, Frida!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Contra o Coro dos Contentes no programa Affair com Você!

Pessoal, a televisão on-line AllTV vai abordar hoje, segunda-feira, às 22:00, em seu programa Affair com Você, o Dia Internacional do Orgulho LGBT, 28 de junho, e citará o nosso Contra o Coro dos Contentes sobre o assunto. Convido a tod@s a assistir e participar do programa.
 
O Programa Affair com você, apresentado por Graça e Paulo Tessarioli, tem a sexualidade como eixo central, apontando os vários conceitos sobre o tema a partir de diversos enfoques: saúde, educação, direitos humanos, cidadania, inclusão, arte, cultura e beleza, contribuindo para a formação e orientação de qualidade.

O programa é transmitido pela allTV, a primeira TV da Internet, todas as segundas-feiras, ao vivo, a partir das 22:00. O acesso ao site da allTV é ilimitado e gratuito. O internauta pode participar ao vivo do programa por meio do Chat e Linha Direta. Depois de alguns dias, o programa fica disponibilizado no site da allTV no diretório Ondemand.

Affair Com Você
Dias de Exibição: Segunda-Feira.
Horário: das 22:00 às 23:00
Gênero: Saúde e Comportamento
Apresentadores: Graça, Paulo Tessarioli.
Link: www.alltv.com.br

domingo, 4 de julho de 2010

Eleição sem maquiagem, por Fernando Henrique Cardoso

Reproduzo texto, desse domingo, no Zero Hora on-line, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, aquele senhor muito vilipendiado pelos petistas, mas reponsável, como todo o mundo reconhece (quero dizer, como todos reconhecem internacionalmente), pela estabilidade econômica do país, com o Real, e pelos programas sociais que Lula usurpou. Neste artigo FHC alerta para os perigos do modelito nacional-desenvolvimentista de Lula e da eleição da Dilmentira. Como sempre FHC merece ser lido pela lucidez e  pertinência de suas abordagens.

O mundo continua se contorcendo sem encontrar caminhos seguros para superar as consequências da crise desencadeada no sistema financeiro. Até a ideia (que eu defendi nos anos 1990 e que parecia uma heresia) de impor taxas à movimentação financeira reapareceu na voz dos mais ortodoxos defensores do rigor dos bancos centrais e da intocabilidade das leis de mercado. No afã de estancar a sangria produzida pelas exacerbações irracionais dos mercados, outros tantos ortodoxos passaram a usar e até a abusar de incentivos fiscais e benesses de todo tipo para salvar os bancos e o consumo. Paul Krugman, mais recentemente, lamentou a resistência europeia à frouxidão fiscal. Ele pensa que o corte aos estímulos pode levar a economia mundial a algo semelhante ao que ocorreu em 1929. Quando a crise parecia acalmada, em 1933, suspenderam-se estímulos e medidas facilitadoras do crédito, devolvendo a recessão ao mundo. Será isso mesmo? É cedo para saber. Mas, barbas de molho, as notícias que vêm do Exterior, e não só da Europa, mas também da ziguezagueante economia americana e da letárgica economia japonesa, afora as dúvidas sobre a economia chinesa, não são sinais de uma retomada alentadora.

Enquanto isso, vive-se no Brasil oficial como se tivéssemos nos transformado em uma Noruega tropical, na feliz ironia de um jornal em editorial recente. E em tão curto intervalo, que estamos todos atônitos com tanto dinheiro e tantas realizações. Basta ler o último artigo presidencial no Financial Times. A pobreza existia na época da “estagnação”. Agora assistimos ao espetáculo do crescimento, sem travas, dispensando reformas e desautorizando preocupações. Se no governo Geisel se dizia que éramos uma ilha de prosperidade num mundo em crise, hoje a retórica oficial nos dá a impressão de que somos um mundo de prosperidade e o mundo, uma distante ilha em crise. Baixo investimento em infraestrutura? Ora, o PAC resolve. Receio com o aumento do endividamento público e o crescente déficit previdenciário? Ora, preocupação com isso é lá na Europa. Aqui, não. Afinal, Deus é brasileiro.

sábado, 3 de julho de 2010

Estreia 16 de julho: DZI CROQUETTES, libertários e transgressivos!

DZI CROQUETTES foi um grupo de dança, música, humor, que marcou a década de 70, num dos períodos mais sombrios da ditadura militar. Brincando com os papéis de masculino e feminino, gays ou andróginos (como queiram), os rapazes do DZI contestavam, com muito deboche, a repressão política, moral e sexual da época.

Assisti suas apresentações várias vezes em São Paulo. Eles fizeram sem dúvida parte do entorno cultural que levaria à formação dos primeiros grupos homossexuais no Brasil. Grupos homossexuais que, ao contrário dos de hoje, eram contestadores, bem-humorados, libertinos e libertários.

Curioso observar que naquele contexto super-repressivo (os DZI acabaram censurados como de praxe), as pessoas eram muito mais abertas de cabeça do que hoje quando vivemos numa sociedade aberta (que andam tentando fechar novamente). Não só pela político-partidarização do movimento, como por sua institucionalização, os militantes e grupos homossexuais atuais são conservadores em política e em moral, vivendo em função de vitimismos, poder e fama, tudo mesclado com uma bem bregada pudicícia.

A militância de hoje torceria o nariz para o DZI CROQUETTES. Não quer Paradas carnavalescas porque isso não é sério, porque não gosta de festas. Quer fazer marchas ao som do Caminhando, do Geraldo Vandré, em versão funérea, levando bandeiras de revoluções socialistas enquanto contam os cadáveres vítimas da homofobia. Ficam chocados com algumas palavras mais "sujas" (trepar ou comer provocam frisson nas vestais), mas nem se envergonham de viver do dinheiro público, sem a necessária contrapartida  de realizações públicas para a população LGBT, nem de participar de organizações ou endossar organizações que desconhecem a alternância de poder. E mesmo quando não são do tipo que vive do dinheiro público, não escondem o pendor autoritário e os sonhos liberticidas, apoiando projetos de  solapamento das estruturas democráticas, com destaque para a  censura à imprensa eufemisticamente chamada de "controle social dos meios de comunicação".

É como se o relógio tivesse se movido em sentido anti-horário, e hoje fosse ontem, antes dos DZI, de Ney Matogrosso, da Tropicália, da Bossa Nova, antes do grupo Somos (primeiro grupo homo do país), do Grupo Lésbico-Feminista´(primeiro grupo lésbico do país), do jornal Lampião (primeiro tablóide brasileiro do gênero)... Incrível!

Naturalmente que ainda existem preconceito e discriminação, que existem atos de violência contra homossexuais que precisam ser denunciados e não podem continuar impunes, mas também existe muito mais liberdade do que há 40 anos; o tema da homossexualidade e os direitos homossexuais são pauta constante da mídia,  muita coisa foi conquistada no cotidiano. Então como se explica que há 40 anos, quando a homossexualidade ainda era um tabu, altamente discriminada e reprimida, as pessoas LGBT fossem menos vitimistas e muito, infinitamente muito mais bem-humoradas e inteligentes?

Talvez vendo o premiado documentário sobre os DZI que estreia, no dia 16 de julho, a gente consiga descobrir a resposta ou pelo menos indícios para a mesma. No mínimo, a gente vai poder lembrar ou conhecer outra forma de fazer política que sabe que é perfeitamente possível unir contundência e competência com arte, alegria e bom-humor.

Abaixo a sinopse do documentário, transcrita do site do Reserva Cultural, que você pode consultar, para conferir os horários, preços de exibição do DZI CROQUETTES, a partir de 16 de julho. Enquanto isso, fique com o trailer do documentário e uma análise do Nelson Motta, sobre o grupo, no Jornal Nacional.
Atualização (07/07): Pré-estreia: dia 13 de julho, 21:00, no Reserva Cultural

DZI CROQUETTES
Brasil (2009) – 110 minutos.
Gênero: Documentário
Censura:
Direção: Tatiana Issa e Raphael Alvarez
Elenco: Liza Minnelli, Ron Lewis, Gilberto Gil, Nelson Motta, Marília Pêra, Ney Matogrosso

Sinopse
A trajetória do irreverente grupo carioca Dzi Croquettes, que marcou o cenário artístico brasileiro nos anos 70. O conjunto contestava a ditadura por meio do deboche e da ironia e defendia a quebra de tabus sociais e sexuais. O grupo é lembrado por depoimentos de artistas e amigos como Liza Minnelli, Ron Lewis, Gilberto Gil, Nelson Motta, Marília Pêra, Ney Matogrosso, Betty Faria, José Possi Neto, Miéle, Jorge Fernando, César Camargo Mariano, Cláudia Raia, Miguel Falabella, Pedro Cardoso e Norma Bengell.


- Prêmio Itamarati e do Público de melhor documentário na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

- Prêmio do Júri e Público de Melhor Documentário no Festival do Rio



quinta-feira, 1 de julho de 2010

Clipping legal: Um voto conservador pelos direitos dos gays americanos


Entrevista com o senador republicano James S. Alesi que votou a favor do casamento homossexual em Nova Iorque. Um recado para os conservadores brasileiros que permanecem com uma cabeça tão medieval. Destaco:
A maioria das religiões cristãs é contra o homossexualismo. Como cristão, a sua fé não pesou na hora de fazer a escolha? Essa não é uma questão religiosa, mas de igualdade de direitos civis. Quem deve decidir isso é o estado e não as igrejas. Eu vi muitos cristãos, que estavam rezando comigo, e eram contra o casamento gay. Mas, por outro lado, havia outros, na mesma igreja, querendo que a medida fosse aprovada por serem a favor da igualdade de direitos.


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Um voto conservador pelos direitos dos gays americanos

Um dos senadores republicanos que definiram a aprovação de casamento homossexual em NY conta ao site de VEJA o que o fez contrariar seu partido

Primeiro a quebrar a unidade republicana no Senado estadual de Nova York ao anunciar seu voto a favor do casamento gay, em junho deste ano, James S. Alesi alega que a decisão foi uma questão principalmente de consciência. Mas não só. Em 2009, juntamente com sua bancada, o senador opôs-se a um projeto de lei similar, que havia sido proposto pelo Partido Democrata. Dois anos - e alguns votos a menos - depois, o senador tomou consciência de que sua escolha não só contrariou suas convicções pessoais, como lhe trouxe um ônus político. “Meus eleitores da comunidade gay ficaram muito desapontados e eu perdi votos nas eleições legislativas estaduais”, conta Alesi. “De lá para cá, fui percebendo o quão angustiante minha decisão havia sido para as pessoas cujas vidas foram negativamente afetadas por ela. Prometi a mim mesmo que se tivesse a oportunidade de votar essa medida novamente, optaria pelo ‘sim’”.

Nos Estados Unidos, cada membro da federação conta, além da Assembleia, com um Senado estadual. Nessa Casa, representantes de cada região do estado, como Alesi, têm um voto de peso em decisões polêmicas, como a do dia 24 de junho. Em entrevista ao site de VEJA, o senador descreve como transcorreram as negociações partidárias para a votação do projeto de lei que autorizará o casamento gay em Nova York a partir deste domingo. Ele conta que reflexões pessoais e estratégia política o fizeram mudar de posicionamento e o seu voto foi um dos quatro que decidiram a aprovação da medida.

O que fez o senhor mudar de ideia quanto ao casamento gay, apesar do posicionamento do seu partido?
Eu sempre fui a favor da igualdade entre casais homo e heterossexuais. Mas, às vezes, no mundo político, as decisões são tomadas por razões estratégicas e não por convicções pessoais. Há dois anos, quando votamos o casamento gay pela primeira vez, o Partido Republicano era minoritário e optou por votar, em conjunto contra a medida. A intenção era evitar que a legenda perdesse votos nas eleições legislativas estaduais, que estavam muito próximas. Mesmo os democratas colocaram a medida em votação muito mais por estratégia política do que por qualquer outra razão. Eles sabiam que o projeto não seria aprovado. O resultado da decisão republicana foi que nós reconquistamos a maioria do Senado estadual e hoje controlamos a casa. Mesmo assim, meu voto não representou minhas convicções pessoais, o que foi muito angustiante. Eu prometi a mim mesmo que se tivesse a oportunidade de votar essa medida novamente, optaria pelo “sim” sem pensar nas consequências.

Algo ou alguém influenciou a sua decisão?
Tenho que ser honesto e admitir que minha reflexão quanto ao casamento gay evoluiu com o decorrer do tempo. Há dez anos, todos pensavam de maneira muito diferente sobre o assunto. Hoje, não somente creio que essa é a decisão correta, como sinto-me muito apaixonado pelo tema. Muitos críticos dizem que nos Estados Unidos nós pregamos muito a igualdade, mas não a estendemos a todos.

Assim como na votação de 2009, neste ano o senhor também recebeu recomendações de votar com a sua bancada?
Desta vez, nos foi dada a oportunidade de votar independentemente. Mas tivemos de divulgar nossos votos ao partido antes da votação e já sabíamos que a medida seria aprovada.

A maioria das religiões cristãs é contra o homossexualismo. Como cristão, a sua fé não pesou na hora de fazer a escolha?
 Essa não é uma questão religiosa, mas de igualdade de direitos civis. Quem deve decidir isso é o estado e não as igrejas. Eu vi muitos cristãos, que estavam rezando comigo, e eram contra o casamento gay. Mas, por outro lado, havia outros, na mesma igreja, querendo que a medida fosse aprovada por serem a favor da igualdade de direitos.

O senhor acredita que alguns republicanos sentiam-se inclinados a votar “sim”, mas optaram pelo “não” por questões estratégicas?
Talvez uns cinco ou seis.

O senhor enfrentou alguma retaliação por causa de seu voto?
Há dois anos, sim. Meus eleitores da comunidade gay ficaram muito desapontados e eu perdi votos nas eleições seguintes. Na área em que vivo, em Rochester, Nova York, existe uma comunidade GLBT (de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros) relativamente grande. Não só eles, mas também seus familiares, amigos e colegas de trabalho são uma voz importante no meu eleitorado. Desta vez, eu tinha uma visão melhor do que meus eleitores esperavam. Na vida política, repito, você também evolui conforme a sociedade evolui nessas questões. Eu fui percebendo o quão angustiante minha decisão foi para as pessoas cujas vidas foram negativamente afetadas por ela. Vi que, diante da maioria do meu eleitorado, eu havia feito algo errado.

A sociedade americana também está se tornando mais tolerante?
Não usaria a palavra “tolerante”, por que não é uma questão de tolerar os gays, mas de ampliar a igualdade civil. Hoje, as pessoas estão trabalhando ao lado de gays assumidos, elas têm filhos ou irmãos que são gays. Não há mais famílias gays e famílias heterossexuais, há famílias mistas. É difícil não ser tocado pela causa com tantas pessoas assim ao seu redor. Tudo isso se deve ao fato de que os homossexuais não mantêm mais sua vida em segredo, logo, a consciência sobre o tema é muito maior que há 10 anos. Não há só tolerância, mas sensibilidade.

Em que setores da sociedade americana essa mudança aparece mais?
Entre os jovens e as pessoas de meia idade, na faixa dos 40 e 50 anos. Observando com cuidado é possível ver uma mudança expressiva de mentalidade ocorrendo nos Estados Unidos. Uma lei federal permite que casais gays adotem uma criança em qualquer parte do território americano. Mas se olharmos pouco tempo atrás, nos anos 1960, havia até leis contra casamento inter-racial.

O que a aprovação dessa lei em Nova York representa para os Estados Unidos?
Nova York é um estado muito progressista. Em questões como essa, os nova-iorquinos tendem a aceitar mais as diferenças, já que convivem diariamente com nove milhões de pessoas completamente distintas em religião, país de origem e valores. Eu me lembro que quando estávamos discutindo a questão, um dos meus aliados disse: “Vamos votar essa medida e acabar com isso de uma vez”. Ao que eu respondi: “Não. Se aprovarmos esse projeto em Nova York, não estaremos terminando nada, apenas começando. Será o início de um movimento que nascerá em Nova York e se espalhará por todo o território americano”. Nosso estado é, de muitas maneiras, o lugar para onde todos os olhares dos Estados Unidos e do mundo se voltam. Ele pode liderar uma mudança nacional de atitude.

Um voto conservador pelos direitos dos gays americanos http://t.co/HGCqDlz via @VEJA

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