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Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Desacreditar a polícia é uma maneira de fortalecer a criminalidade: violência crescente no Brasil, fruto de indignação sem rumo, é muito perigosa

Viviane Mosé
‘Ser manifestante não dá isenção’, afirma a psicanalista Viviane Mosé

Em entrevista ao GLOBO, ela analisa a violência dos recentes protestos que tomam as ruas do país

RIO - Logo que começaram as manifestações, em junho de 2013, a psicanalista e filósofa Viviane Mosé falou sobre o risco de violência e disse que a polícia não podia ser tratada como inimiga pública número 1. E alerta: hoje, declarar-se manifestante equivale a dizer “sou do bem”.

Por que tanta violência nos protestos?

Vivemos um momento extremamente violento, a violência é gratuita, desde o menino que entra na escola mata 13 alunos e se mata, como ocorreu em Realengo, até as manifestações que estão acontecendo na Ucrânia e que aconteceram no Egito e no Brasil. Existe uma crise de valores, então todo mundo está violento. Isso é um fato, mas a questão é o que fazemos com a violência. Nossas manifestações foram violentas desde o princípio. Vimos polícia violenta, vimos manifestante violento. A violência da polícia a gente botou no jornal, criticou, mas ninguém nunca teve direito de criticar a manifestação, e esta era violenta. Provocava a polícia, jogava pedra, quebrava patrimônio público, mas ninguém podia falar nada. Então hoje estamos vendo uma violência crescente no Brasil, vinda de uma indignação sem direção, o que é muito perigoso. A gente tem de se relacionar com ela como adulto. Como sociedade, não se pode deixar a violência como está.

Por acontecer durante as manifestações, essa violência ganhou imunidade?

No Brasil, parece que dizer “sou manifestante” é dizer “sou do bem”. Então uma pessoa que nunca fez política, nunca participou de qualquer movimento social, um dia vai a uma manifestação e grita contra qualquer coisa, saindo dali como representante do bem. Ele abraça qualquer uma dessas verdades prontas que aparecem na internet, defendendo aquilo de maneira rasa. Ser manifestante não dá a ninguém isenção. Ele pode estar ali se manifestando, mas também pode ser um bandido. Ser manifestante não é sinônimo de nada além de alguém que está se manifestando. Quando soltamos manifestante só porque era manifestante, soltamos também alguns bandidos que estavam ali no meio, e hoje temos noção disso.

Na morte de Santiago Andrade, houve quem dissesse que a intenção não era atingir a imprensa, mas a polícia. Essa rejeição à polícia não seria fruto de anos de corrupção e violência policial?

Não somente de corrupção e violência policial, mas de um regime militar recente que se utilizou da polícia como ferramenta de repressão. A situação é tão grave que se fosse um policial que tivesse morrido, eles diriam que a culpa era dele. Morreu uma policial militar de 22 anos da UPP e não houve uma única manifestação por ela. Só o silêncio. Grupos de direitos humanos raramente defendem policiais. E essa violência contra a polícia recrudesce em um momento em que ela está tentando se transformar, no momento de implementação da pacificação das comunidades. Acho uma pena enfraquecer as UPPS.

A senhora acredita que essas manifestações sejam orquestradas?

As manifestações são orquestradas, mas por várias forças. É complicado. Elas são orquestradas por black blocs e pelos coletivos, como eles se chamam agora. São vários coletivos surgindo, que querem fazer justiça com as próprias mãos, como ocorreu no Flamengo. É como se estivéssemos vendo uma orquestração de alguns grupos que acreditam que a violência é válida como forma de manifesto. Também vemos alguns partidos políticos se organizando, pagando pessoas para estar lá, se utilizando daquela manifestação contra ou a favor de determinado partido. Mas também há grupos que ficaram de fora da venda de drogas nos morros, que foram prejudicados com as UPPs. Para esses grupos interessa a manifestação, porque ela vai contra a polícia, e desacreditar a polícia é uma maneira de fortalecer a criminalidade. Mas ali tem, inclusive, jovens engajados politicamente, com disposição para transformar a sociedade. Esse é o perigo das manifestações, ali tem de tudo. Atuar ali envolve a compreensão cirúrgica do problema. E não apenas botar o carimbo “é do bem” ou “é do mal”.

Qual a ideologia por trás dos black blocs?

Eles defendem o fim do capitalismo e quebram fachadas de bancos, como se isso fosse afetar os banqueiros. Eles atacam a imprensa como se esta fosse o mal, a única responsável pela alienação da sociedade. É um discurso velho e raso, quase ingênuo. Na verdade é uma indignação que não tem por trás nenhum discurso. Falta leitura ou é preguiça de desenvolver a argumentação, que fica sempre no meio do caminho. Este aliás foi o mal do século XX, a leitura foi desestimulada por comunistas e por capitalistas. O que sobrou foi essa falta de conceitos, então quando alguém diz alguma coisa na internet e um milhão concorda, vira verdade absoluta, e se você falar diferente, você é do mal. Isso é muito fascista. O domínio de uma maioria que se impõe pelo número.

As manifestações no Brasil sempre fizeram parte de momentos históricos. O que caracteriza as de hoje?

É delicado falar disso. “O gigante acordou.” É, o gigante acordou de uma hora para outra, sem nenhuma tradição de atuação ou participação política, as manifestações não nasceram de um engajamento com movimentos sociais, não houve continuidade com nada que existia até então de luta política e social. Do nada, as pessoas foram para a rua, levando a sua indignação. Mas levaram uma indignação sem conceito, sem sofisticação intelectual nenhuma, abraçados a meia dúzia de verdades rasas, quase ingênuas. Aquele grande bloco na rua contra o quê? Contra a passagem? O serviço público? Depois que toda essa energia está canalizada, o que a gente faz com isto, se não quer atingir nada? Necessariamente esse movimento acaba em violência. Para mim a violência foi o gozo das manifestações que não estavam indo para lugar nenhum. E esse gozo está justificado por intelectuais e comentadores. E é perigoso, está solto pela rua. Você vê isso o tempo inteiro, quando alguma coisa dá errado no Brasil, então você queima ônibus, queima lixo, depreda, e isso é primitivo demais.

Qual é a sua expectativa sobre o futuro dessas manifestações?

No primeiro levante do gigante adormecido sobrou indignação, mas faltou educação, faltou leitura. Mas a boa nova é que o Ensino Básico vem melhorando, e acredito que em poucos anos, em até cinco anos, esse gigante das ruas vai despertar novamente, e dessa vez será outro. Não aquele movido pela campanha publicitária “Vem pra rua”, mas por uma indignação elaborada por meio de propostas, de rumos para a sociedade que queremos. E que o poder público se prepare para essa demanda, criando novas pontes de diálogo, de entendimento, de cooperação, o que já não é uma escolha, mas a única possibilidade de vida em sociedade.
Entrevista em vídeo

Fonte: O Globo, Elenilce Bottari, 27/04/2014

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Diferenças entre a esquerda e os liberais no aspecto social e econômico

Marcos Lisboa
A esquerda e os liberais  

O caso recente da energia é um exemplo da estratégia à esquerda. A realidade tem o mau hábito de decorrer de dificuldades técnicas

A discussão sobre as abordagens de política econômica frequentemente se escora em estereótipos: a direita seria autoritária na política e liberal na economia; a esquerda, democrática e desenvolvimentista. Este artigo propõe um contraponto.

A clivagem usual pode ter origem na ditadura militar, uma escolha trágica que, na retórica, tem sido utilizada para esconder a semelhança entre os principais projetos políticos à esquerda e à direita no período. Ambos compartilhavam o autoritarismo e o diagnóstico econômico que enfatizava a relevância da intervenção pública, o estímulo à produção doméstica, a proteção de setores estratégicos pouco competitivos e a normatização minuciosa das regras para as decisões privadas.

A divergência não ocorreu tanto sobre a estratégia econômica, mas mais sobre quem deveria liderá-la. A esquerda apoiava uma aliança política alternativa, porém compartilhava o projeto nacional-desenvolvimentista e a pouca ênfase em políticas sociais como educação. Por isso mesmo era apenas aparente o paradoxo do elogio ao 2º PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) do governo Geisel.

A abordagem liberal se diferencia de ambos os projetos pela ênfase nas regras e procedimentos para a análise e a deliberação das políticas públicas. Na economia, implica tratamento similar a grupos semelhantes e exposição à concorrência, tendo como resultado a desigualdade que decorre do mérito, e não do acesso privilegiado ao governo. Benefícios podem ser concedidos desde que transparentes, com metas de desempenho e avaliação independente.

O debate sobre política social no Brasil nos anos 2000 reflete a divergência entre liberais e a esquerda. Não se tratava de controvérsia sobre a sua relevância, mas de como melhor utilizar os recursos. De um lado, defendia-se a sua transferência para os grupos de menor renda, com incentivos à educação dos jovens. De outro, políticas sociais universais, paradoxalmente combinadas com o nacional-desenvolvimentismo, que escolhe os setores econômicos beneficiados. De um lado, o Bolsa Família; de outro, o Fome Zero.

Para a esquerda, os desafios econômicos devem ser enfrentados pela barganha e intervenções discricionárias. Para os liberais, a desigualdade de renda e os custos mais altos de produção são decorrentes de políticas sociais ineficazes, do excesso de distorções econômicas e da proteção a empresas ineficientes.

A diferença de diagnóstico decorre dos objetivos e regras de debate. À esquerda, a discussão é pautada pela visão de mundo, selecionando os resultados e conclusões por afinidade ideológica. Os liberais são céticos sobre verdades intrínsecas e restringem a discussão aos procedimentos da análise dos dados. De um lado, a leniência com práticas e compromissos, desde que garantido o rumo ideológico. De outro, a tolerância com crenças e políticas, desde que respeitados os processos e procedimentos. A dominância dos fins em contraposição à disciplina dos meios. Por isso, a abordagem liberal é compatível com políticas diferentes e mesmo confrontantes com o seu estereótipo, como políticas sociais focadas em grupos de menor renda e incentivos ao desenvolvimento tecnológico.

O caso recente da energia é um exemplo da estratégia à esquerda. Com discurso indignado pelas condições de mercado, adotou-se uma medida intervencionista com a promessa de queda dos preços. A realidade tem o mau hábito de decorrer de dificuldades técnicas, e não apenas da vontade ou da barganha política, e o resultado foi frustrante. Para manter a promessa, foram concedidos subsídios. A regulação equivocada afetou a expansão da oferta e o conjunto da obra é o preço recorde da energia, além da já aventada estimativa de gastos públicos de R$ 18 bilhões em 2014.

Para os liberais, o debate democrático deve ser resolvido por meio da transparência, para que a sociedade delibere sobre as políticas públicas e, à luz do sol, enfrente dilemas mais difíceis do que o proposto pela retórica da indignação.

Fonte: Folha de São Paulo, Marcos Lisboa, 14/02

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Jean Wyllys e Rachel Sheherazade - quem diria - têm mais em comum do que sonham as vãs filosofias


A liberdade seletiva de Sheherazade e Jean Wyllys

Por 
Pedro Menezes e Mano Ferreira

Nunca faltou quem defendesse uma liberdade relativa, adjetivada, dividida em parcelas ou restrita a setores específicos da sociedade. Poucos, no entanto, foram os que levaram a liberdade como princípio, como uma decorrência natural da existência humana. “Em todos os tempos sempre foram raros os verdadeiros amigos da liberdade.” Dizia Lord Acton na Inglaterra do século XIX. Agora, no Brasil de fevereiro de 2014, é assustador como a frase ainda ecoa com tanta força.

No Rio de Janeiro, um garoto de 15 anos foi amarrado sem roupas a um poste em via pública e torturado por cerca de 30 homens, tendo a orelha cortada por seus agressores. Após ter sido levado a um hospital e medicado, o garoto fugiu. Comentando a notícia, a colunista Rachel Sheherazade, do SBT, se referiu ao garoto como “marginalzinho”, dando a entender que a fuga do hospital se deu em função do medo de ser encontrado pela polícia e preso por conta de sua ficha criminal “mais suja que pau de galinheiro”.


As primeiras informações ainda não identificavam a ficha criminal do garoto e é curioso que Sheherazade tenha feito afirmações tão contundentes sobre isso, num momento em que provavelmente desconhecia o próprio nome do rapaz. De fato, a imprensa identificou alguns bandidos, réus confessos e detidos em flagrante: foram justamente os torturadores cujos atos criminosos Rachel julga “compreensíveis” e “legítimos”.

As insinuações dela quanto ao motivo da fuga do garoto também pareceram não resistir a uma mínima apuração jornalística. Segundo as reportagens, o rapaz fugiu assustado e foi imediatamente ao encontro da diretora de um abrigo municipal, onde permaneceu teve sua localização imediatamente revelada à polícia.

Como eu considero que fichas criminais não justificam sessões de tortura coletiva, concedo a Rachel o gozo livre da fala estúpida. Sei que o adolescente tinha passagens pela polícia. Talvez ele até tenha cometido um crime tão grave quanto aquele do qual foi vítima – ponto sobre o qual não há indícios. Recuso-me, porém, a classificar como jornalista alguém que justifica e incentiva a mutilação de um garoto de 15 anos sem sequer se dar ao trabalho de esclarecer as informações que utiliza como desculpa para a barbárie.

Recuso-me, também, a chamar de “justiceiros” os torturadores, ou dizer que eles fizeram “justiça com as próprias mãos”. As duas expressões, usadas por toda a sorte de palpiteiros sobre o caso, dão à palavra justiça uma definição bastante controvertida. Afinal, o que há de justo em trinta homens adultos utilizando facas e armas de fogo para aterrorizar um menino solitário amarrado pelo pescoço?

Logo após a veiculação das imagens, Sheherazade foi fortemente criticada pelo PSOL, que promete processá-la por conta das suas opiniões. Não creio que a estupidez da comentarista possa ser considerada um ato criminoso. Se for, sugiro que o PSOL também corte na própria carne.

No mesmo dia em que Rachel apareceu no jornal, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) revoltou-se com o pedido de asilo político da cubana Ramona Matos Rodriguez, chamando-a de desertora e ironizando o emprego do termo “escravo”, comumente utilizado para se referir aos médicos cubanos que trabalham em solo brasileiro.

Jean, que foi vencedor do reality show Big Brother Brasil e é homossexual assumido, ganhou projeção nacional como deputado por questões relacionadas ao público LGBT. Ele acredita que todo ser humano deve ser livre para amar e se relacionar com quem bem queira – desde que não seja uma relação de trabalho. Jean acha que Ramona não deve ser livre para escolher onde trabalhar, nem para fugir de um regime autoritário que perseguiu e assassinou homossexuais.

O PSOL agrega os termos “socialismo” e “liberdade”. Mostra agora, mais uma vez, que quando precisa escolher entre dois valores quase sempre incompatíveis elege como prioridade o seu projeto político. Se em um momento ou outro o PSOL defende a liberdade, não o faz porque goste, mas porque precise.

Ao comentar a tortura em via pública de um garoto de quinze anos, Sheherazade se apegou a detalhes irrelevantes, como a fuga do hospital, para justificar o autoritarismo. Ao comentar o pedido de asilo de uma mulher farta de viver sob os desmandos de um genocida, Jean Wyllys ironizou o acontecimento, apegando-se a detalhes irrelevantes, como a participação do DEM no caso.

Para justificarem as suas opiniões bizarras, Jean e Rachel usurpam palavras em um dicionário um tanto particular, torturando a linguagem para defender absurdos que atentam contra os direitos humanos. No dicionário de Jean Wyllys, os médicos cubanos não podem ser chamados de escravos, ainda que escravidão seja a única palavra possível para classificar um regime de trabalho em que o trabalhador não pode se demitir, é vigiado por agentes de segurança e recebe um salário arbitrário definido unilateralmente. No dicionário de Rachel Sheherazade, a barbárie ganha o curioso nome de “legítima defesa coletiva”e torturadores viram justiceiros.

Jean Wyllys e Rachel Sheherazade são duas faces de uma mesma moeda. Em nome de seus preconceitos, projetos políticos e valores discutíveis, Jean e Rachel redefinem o significado das palavras que lhes interessam e destilam seu ranço autoritário da forma mais nojenta possível. Rachel o faz em nome da ordem, Jean em nome da ideologia. A essência, porém, é a mesma. E a liberdade, aquela liberdade da qual falou Lorde Acton, continua tendo pouquíssimos amigos sinceros.

Fonte: Estudantes pela Liberdade, 06/02/2014

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Mais Médicos: a vergonha escravagista que o governo Dilma firmou com a ditadura cubana

Tendo que tirar, dos míseros R$400,00, dinheiro para se manter
Médicos cubanos moram em república, vivem de cesta básica e pagam ônibus
Profissionais do Mais Médicos trazidos por meio de convênio com o governo de Cuba reclamam da falta de repasse das prefeituras para despesas básicas

Cubanos do programa federal Mais Médicos, responsáveis pelo atendimento em unidades básicas de saúde nas periferias de grandes cidades e no interior do País, têm trabalhado sem receber o dinheiro da ajuda de custo prometido pelas prefeituras. Para driblar o atraso, eles improvisam repúblicas, vivem de cestas básicas, recebem "vale-coxinha" e pagam, do próprio bolso, a passagem de ônibus para fazer visitas do Programa Saúde da Família (PSF).

Embora o Ministério da Saúde pague as bolsas, cabe às prefeituras arcar com os custos de moradia, alimentação e transporte. A cláusula é uma exigência do governo federal para a participação no programa.
Em Cuba, disseram que teríamos facilidades que não estamos encontrando aqui. Prometeram, por exemplo, que haveria um carro nas unidades para levar para as visitas domiciliares, mas isso não existe. Temos de pegar ônibus e pagamos a passagem", diz uma médica cubana que atende em uma UBS da capital paulista.
Os médicos têm despesa extra de pelo menos R$ 24 com as tarifas. "Parece pouco, mas faz diferença porque recebemos só US$ 400, e o custo de vida aqui é alto", afirma. A bolsa em torno de R$ 900, ante a de R$ 10 mil paga a profissionais de outras nacionalidades, foi um dos motivos apresentados por Ramona Matos Rodríguez, de 51 anos, para abandonar o programa, no Pará, na semana passada.

Os médicos reclamam também do vale-refeição. "São R$ 180 por mês, dá R$ 8 por dia de trabalho. Onde você almoça em São Paulo com esse dinheiro?", pergunta um médico trazido por meio do convênio entre a Organização Pan-americana de Saúde (Opas), o governo federal e o governo cubano, que fica com a maior parte da bolsa.

Nenhum cubano ouvido na capital quis ter seu nome divulgado com medo de represálias. Eles receberam um comunicado oficial da Secretaria Municipal da Saúde que os proíbe de conceder entrevista sem autorização.

Em Osasco, o maior problema é o atraso no pagamento dos auxílios para moradia e alimentação referentes ao mês de janeiro. "Eles não têm dinheiro para nada", conta um médico sobre a condição dos profissionais trazidos em dezembro. Os cubanos não comentam abertamente os contratos, mas, diante dos atrasos, admitem dificuldades.

Gestores da saúde da cidade da Grande São Paulo relatam que médicos que não recebem a ajuda de custo são transportados em carro do serviço público para as UBSs, de "casa" para o trabalho e do trabalho para "casa". Eles moram ainda em hotéis. "Essa é uma surpresa desagradável do trabalho", disse um médico do programa.

Cubatão também tem situação difícil. No município da Baixada Santista, quatro médicas cubanas foram alojadas em uma casa, em uma espécie de república, na qual vivem com cestas básicas da prefeitura em substituição ao dinheiro da alimentação, que ainda não veio. São Paulo, Osasco e Cubatão são governados pelo PT.

Os atrasos se repetem em Francisco Morato, município dirigido pelo PV. Com nove cubanos, um uruguaio e um brasileiro formado na Argentina, a cidade deveria gastar com cada médico R$ 500 de ajuda de custo e R$ 2,5 mil no aluguel, segundo o convênio com o Ministério da Saúde. Mas, até a semana passada, o pagamento era somente uma promessa.

Notificações. O descumprimento de regras não é exclusividade dos municípios paulistas. Em todo o País, 37 prefeituras já foram notificadas pelo governo federal após serem acusadas de irregularidades. A maioria das notificações foi causada pela falta de pagamento dos auxílios.

De acordo com a pasta, 27 dos casos já foram encerrados, a maioria deles com a regularização. No entanto, a prefeitura de Ceará-Mirim, no Rio Grande do Norte, foi descredenciada. A decisão foi tomada no dia 24 do mês passado, após o ministério tentar, por dois meses, fazer com que o município pagasse os auxílios a três estrangeiros.

Missão. Apesar de tantos problemas, há cubanos que encaram a atuação no Brasil como uma missão humanitária. Yaima Gonzalez, de 29 anos, é um exemplo. Ao lado de dez compatriotas, ela não reclama do atraso nos auxílios em Osasco nem do porcentual recebido de Havana. "O governo de Cuba fez um contrato e estamos aqui para ajudar", diz Yaima, que atuou na Venezuela.

Para matar a saudade da família, os contatos com as duas filhas são diários. "Conversamos por e-mail", conta, lembrando que o contrato vai durar três anos. Quando não está na UBS, a cubana descansa no hotel e passeia pela capital. "Já fui à Rua 25 de Março", diz a médica, com um sorriso no rosto.

Para o cubano Raidel Sanchez Rojas, de 43 anos, que trabalha na UBS Nova Osasco, o estilo de vida dos brasileiros é sua maior preocupação. "Encontramos aqui hipertensão, diabetes, gastrites, obesidade. São doenças que revelam um estilo de vida", diz o médico, em bom português. "Trabalhamos pela prevenção", afirma. Ele também é vítima do atraso dos repasses, mas está otimista. Na semana passada, acreditava que logo alugaria uma casa em Osasco. Enfim, teria um lar.

Fonte: Estado de São Paulo, 08/02/2014

Para Cuba, com amor


Ramona Rodriguez. A cubana que fugiu do Mais Médicos de Pacajá, no Pará, criou um enrosco sem tamanho para o governo Dilma Rousseff. Reacendeu críticas ao extravagante contrato em que os irmãos Castro se apropriam do grosso dos salários dos médicos exportados e deu xeque-mate à legalidade do programa, carro-chefe da campanha do ex-ministro Alexandre Padilha ao governo do Estado de São Paulo.

Contas publicadas pelo jornal O Globo revelam que o Mais Médicos reforçará os cofres da ilha em R$ 713 milhões ao ano, 77% do valor destinado ao programa junto a Cuba. Só 23% ficam com os profissionais importados.

Criou ainda uma encrenca jurídica.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, apressou-se em dizer que Ramona poderá perder o visto de permanência no país e a licença para atuar como médica no Brasil. A tese é frágil. Ancora-se na medida provisória que sustenta o programa, que pouco vale se confrontada à Constituição. Aliás, se o Brasil conferir a Ramona um improvável asilo, ela pode passar no Revalida e exercer a profissão como qualquer médico estrangeiro.

Para o governo, ficar com Ramona é um problema. Incitaria novas dissidências. Embarcá-la de volta pode ser ainda pior. Até porque, sabe-se, a ditadura cubana não a pouparia de retaliações, que acabariam reveladas pela mídia. Não à toa, ela teme por seus familiares, em especial pela filha, também médica.

É tão verdade que mesmo no Brasil Ramona já é vítima de detratores. Ela foi acusada de bêbada e devassa pelo deputado José Geraldo (PT-PA), que inscreveu nos anais da Câmara trechos indizíveis da carta repugnante do presidente do Conselho Municipal de Saúde de Pacajá, Valdir Pereira da Silva. De nível tão baixo que o PT deveria se envergonhar e pedir solenes desculpas.

Para completar, blogs engajados divulgaram a versão de que Ramona só queria mesmo encontrar o namorado, em Miami, e que tudo não passou de uma farsa instruída pelo líder dos Democratas, Ronaldo Caiado (GO).

A previsão é de que o Brasil receba mais de sete mil médicos cubanos. Hoje, 5.378 já estão operando a um custo de R$ 925,86 milhões por ano, isso sem computar transporte e moradia. Repita-se: mais de três quartos disso fica com o governo de Cuba.

Embora o governo Dilma afirme que só decidiu importar cubanos porque não conseguiu preencher as vagas do Mais Médicos com brasileiros e outros estrangeiros, Ramona foi treinada há dois anos para vir para o Brasil. Fez parte de uma farsa.

E faz parte de uma massa que sustenta, com o seu trabalho, a ditadura que ela já demonstrou que não quer. Mas que o governo do PT apoia. Com unhas, dentes e dinheiro. Muito dinheiro.

Fonte: Blog do Noblat, Mary Zaidan, 09/02/2014 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Nouveau Parfum: uma crítica às mulheres feitas à base de Photoshop


A cantora húngara Csemer Boglárka – ou simplesmente Boggie lançou um clipe, chamado Nouveau Parfum (Novo Perfume), onde aparece sendo transformada numa mulher glamourosa por meio daquela mágica que só o Photoshop sabe fazer. 

Com o objetivo de contestar as belezas cada vez mais artificiais das indústrias da moda e da beleza, a cantora já  ultrapassou os dois milhões de acessos no youtube. Na letra, a mensagem bem clara: "Eu não sou seu produto... Eles não podem me mudar.  Sem comparação, inigualável, a nova fragrância, sou eu mesma, o novo perfume."

Confira a letra traduzida e a original bem como o clipe ao fim da postagem.
Novo Perfume
Seja Prada, Hugo Boss, Chanel, Giorgio Armani, Cartier, Azarro, Sisley, Escada, Gucci Naf Naf, Nina Ricci, Lancôme, Kenzo e ainda em plus/encore, outra vez

Seja Bruno Banani, La Bastidane, Estée Lauder, Guerlain, Burberry e Thierry Mugler, Bourjois, Chloé, Jean-Paul Gautier, Valentino e eu nem sei mais

O que eu escolho?
Por que eu escolho?
Quem quer que eu escolha?
Eu não sou seu produto

De beleza, de preciosidade
Eles não podem me mudar
Sem comparação, inigualável,
A nova fragrância, sou eu mesma, o novo perfume

Seja Roberto Cavalli, Bulgari, Givengi, Dolce & Gabana, Paco Rabana ou Lacoste Tommy Hilfiger, Yves Saint Laurent e eu nem sei mais

O que eu escolho?
Por que eu escolho?
Quem quer que eu escolha?
Eu não sou seu produto

De beleza, preciosidade
Eles não podem me mudar
sem comparação, inigualável,
A nova fragrância, sou eu mesma, o novo perfume.

Nouveau Parfum
Soit Prada, Hugo Boss, Chanel, Giorgio Armani, Cartier, Azarro, Sisley, Escada, Gucci Naf Naf, Nina Ricci, Lancôme, Kenzo et encore en plus/encore, encore

Soit Bruno Banani, La Bastidane, Estée Lauder, Guerlain, Burberry et Thierry Mugler, Bourjois, Chloé, Jean-Paul Gautier, Valentino et je n'en sais plus

Lequel je choisis?
Pourquoi je choisis?
Qui veut que je choisisse?
Je ne suis pas leur produit

De beauté, d'préciosité
Ils ne peuvent pas me changer
Sans pareille, nonpareille,
Le nouveau parfum, c'est moi-même, nouveau parfum

Soit Roberto Cavalli, Bulgari, Givengi, Dolce & Gabana, Paco rabana, soit Lacoste Tommy Hilfiger, Yves Saint Laurent et je n'en sais plus

Lequel je choisis?
Pourquoi je choisis?
Qui veut que je choisisse?
Je ne suis pas leur produit

De beauté, d'préciosité
Ils ne peuvent pas me changer
Sans pareille, nonpareille,

Le nouveau parfum, c'est moi-même, nouveau parfumne peuvent pas me changer Sans pareille, nonpareille, Le nouveau parfum, c'est moi-même, nouveau parfum

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Debates libertários: qual o mínimo comum liberal?

Dois autores liberais chilenos discutem o que deve ser o mínimo denominador comum entre as diferentes correntes liberais. O segundo texto - a que se refere o primeiro - está no original em espanhol mas é bem acessível. Negritei os pontos que me pareceram mais interessantes. Um bom debate!

Mínimo comum liberal: a liberdade


Muitos liberais contemporâneos atuam em favor da igualdade, esquecendo que muitas assimetrias e desigualdades não tem origem no exercício da igualdade.

Jorge Gómez/El Mostrador - Chile

Em um artigo interessante (El Mínimo comum Liberal), Cristóbal Bellolio coloca uma série de respostas para esclarecer as dúvidas em torno daquilo que seria um projeto liberal no Chile e seu minimalismo teórico e programático. 

Gostaria de fazer algumas observações para contribuir com o debate. 

O liberalismo é metodologicamente individualista, ou seja, rechaça concepções orgânicas e coletivistas da sociedade. Isso – ao contrário daquilo em que erroneamente se acredita – não significa conceber indivíduos ilhados e sem laços com os outros, mas sujeitos que exercem sua vontade de modo autônomo e com respeito aos demais. 

Desta maneira, as pessoas são capazes de escolher, com base no exercício da vontade, onde se situa o valor da liberdade individual, segundo o qual cada pessoa é um fim em si mesma, e não um meio para os outros. Disso surge o direito de cada um a levar adiante seus projetos de vida sem interferência do Estado ou dos governantes; a sua liberdade de consciência (quer dizer, acreditar no que quiser); de associação; de movimento e de dispor de bens obtidos de maneira justa no exercício de sua vontade, mediante livres trocas com os demais. 

Como cada pessoa é dona de sua própria vontade e de seu corpo e, portanto, um fim em si mesma, ninguém, nem um rei, nem um líder supremo, nem um grupo de pessoas, nem sequer uma maioria, nem sequer em nome do Estado ou deus, ou o que for – pode submetê-la à obrigação de agir ou de pensar de determinada maneira. 

Nesse sentido, ao contrário do que Cristóbal Bellolio coloca, a liberdade individual deve prevalecer sempre, salvo quando um sujeito agride física ou psicologicamente o outro, transgredindo sua dignidade inerente. E justificar essa violação com base em questões duvidosas, como necessidades de coordenação ou demandas de justiça social, poderia abrir espaço para outra violação, a da liberdade pessoal de maneira ampla. Nem sequer “salvar a democracia” justificaria a ambiguidade de “restrições instrumentais da liberdade”. 

Foi isso o que aconteceu nos Estados Unidos anos atrás durante a chamada “guerra ao terror”, quando foram outorgados amplos poderes às polícias para invadir casas sem maiores justificativas; e no Chile, onde certas restrições para “salvar a democracia” terminaram com violência indiscriminada contra algumas pessoas. Isso seria transformar a democracia em uma religião do Estado.

O liberalismo como doutrina emergida em contraposição ao exercício arbitrário do monopólio da força sobre as pessoas e, portanto, desconfiada do poder concentrado, exige que este – que não é outro senão o poder político – atue sob altas restrições a fim de resguardar a integridade pessoal de cada um. 

A partir desse fundamento, deriva-se não apenas a necessidade de separar poderes para evitar sua concentração viciosa, mas também o princípio de que o Estado não deve impor um modo de vida ou uma crença sobre as pessoas, mas sim resguardar sua liberdade – que é a liberdade civil – para que possa exercer todo seu potencial. Essa limitação do poder estatal quanto a não impor um modo de vida também implica que, inclusive o Estado liberal, em seu afã progressista, não pode tentar impor uma moral secular e laica, varrendo tudo o que é considerado tradicional na sociedade. 

Como o absolutismo e seu regime econômico (o mercantilismo) violavam sistematicamente a liberdade de comércio e de propriedade de camponeses e artesãos (empobrecidos com os altos impostos para a guerra, confiscos e trabalho forçado), o liberalismo aumenta a defesa irrestrita do livre intercambio comercial como princípio ético e como instrumento para a paz entre os Estados, rejeitando o nacionalismo e o protecionismo com suas derivações coletivistas ou corporativistas, mas também as pretensões estadistas de planejamento econômico fascista e comunista.

Atualmente, muitos liberais contemporâneos atuam em pró da igualdade, esquecendo que muitas posições assimétricas e muitas desigualdades não têm origem no exercício da liberdade, mas sim no privilégio criado em torno do poder político, muitas vezes camuflado de regulações estatais nos mercados. 

O mercantilismo econômico moderno, vigente em nível mundial, é um exemplo claro disso, e sem dúvidas culmina em formas injustas de desigualdade ao inibir a livre competição quando o poder político favorece determinados grupos corporativos ou de interesse mediante leis, barreiras de entrada, concessões ou transferências judicialmente duvidosas. 

No cenário político chileno também existe uma série de barreiras de entrada que inibe a livre competição democrática e propicia estruturas oligárquicas, elitistas e de castas em todo o espectro político-partidário, que todo liberal deveria questionar. 

Em ambos os casos, o que temos é uma concentração de poder em contraposição à liberdade, que sempre é o primeiro problema que os liberais enfrentam. Essa é o primeiro fato que os que valorizam a liberdade devem encarar e, a partir daí, começar a erguer um projeto político que reúna forças, tendo consciência de que o principal inimigo da liberdade é sempre a concentração de poder político –inclusive se este se diz liberal–, e que a liberdade tem como base o respeito à dignidade das pessoas, donas de sua vontade e, por consequência, capazes de escolher.

* Não encontrei registro do(a) tradutor(a) no site da Carta Maior de onde retirei o artigo.

Fonte: El Mostrador, 05/04/2014

El Mínimo Comum Liberal

La renuncia de Lily Pérez –y otros parlamentarios– a Renovación Nacional, aduciendo que ese partido había girado hacia el conservadurismo, abre la discusión sobre qué significa el proyecto liberal en los tiempos que corren.

Fuerza Pública, Red Liberal, el Partido Liberal, Amplitud, Evópoli. Comienzan a proliferar los movimientos políticos que de una u otra manera se definen como “liberales”. Sin embargo, la etiqueta es controvertida. El ex presidenciable Andrés Velasco sostuvo recientemente que los liberales de derecha no eran propiamente liberales y que se “vestían con ropajes ajenos” al apropiarse del concepto. Reafirmó así la identidad centroizquierdista de su proyecto. El diputado electo Felipe Kast recogió el guante respondiendo que “las ideas de libertad son propias de la derecha”, añadiendo que es Velasco quien equivoca el camino al insistir en la convivencia con la Nueva Mayoría. Poco se puede construir sobre este tipo de intercambios, porque no despejan la pregunta de fondo: en qué consiste básicamente el proyecto liberal chileno y cuáles son los mínimos teóricos y programáticos que debieran acordarse antes de iniciar acercamientos estratégicos o incluso electorales. Este artículo intenta colaborar en la respuesta de esa pregunta.

La presunción a favor de la libertad

El corazón de la doctrina liberal es el individualismo normativo. Las personas tienen derecho a llevar adelante sus proyectos de vida de acuerdo a sus propias evaluaciones morales. Por tanto, el poder político debe justificar cada una de sus intervenciones. Los liberales operan mentalmente con una especie de presunción permanente a favor de la libertad. Esto no significa que la libertad individual prevalezca en todos los escenarios; significa que el Estado debe esgrimir buenas razones para restringirla o limitarla. El daño a terceras personas es el ejemplo prototípico. Pero bien puede haber otras buenas justificaciones –necesidades de coordinación, aseguramiento de bienes públicos, atender las demandas de la justicia social, etcétera. Piense, por ejemplo, en el fresco debate sobre la voluntariedad u obligatoriedad del voto. En principio, un liberal debiera estar a favor de un sistema que por defecto respete la decisión libre y soberana de las personas. Sin embargo, si la democracia está en riesgo podría perfectamente acceder a ciertas restricciones instrumentales de la libertad.
En el fondo, el liberalismo se abstiene de usar el espacio político para pontificar a los ciudadanos respecto de lo que es bueno para sus vidas. Eso lo hace esencialmente antipaternalista y antiautoritario. Cualquier entendimiento liberal chileno debiera ser desconfiado de la siempre ambiciosa pretensión punitiva de sus gobernantes. En consecuencia, los liberales debieran estar en contra de las concentraciones excesivas de poder en cualquier ámbito. Por lo anterior, también se ha dicho que los liberales defienden la idea de un Estado neutral, imparcial y respetuoso de los distintos proyectos de vida que asuman los ciudadanos en una sociedad cada vez más plural.

Mercado y desigualdad

El liberalismo contemporáneo –a diferencia del clásico– se toma muy en serio el problema de la desigualdad. La libertad formal o el derecho a elegir, se ha dicho, pierde parte importante de su valor cuando las alternativas están severamente restringidas por la condición social de la persona que aspira a ejercerla. Al respecto hay dos consideraciones relevantes que debieran estar en el piso básico de un diálogo liberal en Chile.

La primera es la diferenciación que básicamente hacen todas las teorías de justicia liberales entre desigualdades justas e injustas. Las primeras serían aceptables en tanto son producto de una competencia en la cual los individuos participan en relativa igualdad de condiciones. Las segundas, en cambio, serían gravemente problemáticas: no puede ser justo un resultado que viene determinado por posiciones de partida brutalmente asimétricas. Los esfuerzos de las instituciones del Estado deben, por tanto, estar volcados a atenuar esas diferencias que no tienen nada que ver con el mérito o el esfuerzo. Por eso, sería extraño que un liberal prefiriera destinar recursos a financiar la educación universitaria antes que hacerse cargo agresivamente de la educación primaria y preescolar.
Lo segundo es que los liberales siguen siendo entusiastas del libre mercado y no debiesen caer en la demonización generalizada del lucro cuando actúa como legítimo incentivo fuera del ámbito público. Hay suficiente evidencia empírica de que las economías descentralizadas en base a la competencia, el emprendimiento y la innovación son claves para generar crecimiento y mejorar los estándares generales de calidad de vida. Además, los liberales prefieren el mercado porque funciona mejor que sus alternativas como mecanismo de traspaso de información y conocimiento. Y, finalmente, porque las personas tienen derecho a disponer de sus bienes como estimen conveniente. La debida y exigente regulación de los mercados es totalmente consistente con los objetivos descritos.

Dios y la patria

Cualquier proyecto que se precie de liberal va acompañado de un cierto espíritu progresista. El concepto da para mucho, pero su aplicación en este punto es específica: el camino al desarrollo se pavimenta en el ensayo y en el error, a través de la deliberación pública y el cuestionamiento racional de las estructuras tradicionales. Poner en juego esta herencia ilustrada en un subcontinente como el nuestro no es fácil. Pero es inmensamente necesario. Aquí hay tres ideas que considero dignas de subrayar.

Primero, los grupos que quieran participar de esta conversación entre liberales tienen que comprender a cabalidad las exigencias de una auténtica separación de esferas entre la política y la religión. Lo menciono explícitamente dado que el Presidente Piñera ha sido negligente al respecto y algunos de estos movimientos pueden verlo como líder natural. Segundo, es imperativa una apertura al mundo –y a la región– que conecte con la mejor versión de la aspiración cosmopolita liberal. Valorar lo nuestro no puede significar nacionalismo trasnochado ni chauvinismo proteccionista. Tercero, desde la vereda del soñar no cuesta nada, labrar un ethos identitario que nos caracterice por participar en política evaluando rigurosamente la evidencia y cambiando de opinión si así lo exige la fuerza de los argumentos y la honestidad intelectual. No es sano legislar en base a mitos y dogmas.

Es imposible abarcar en una columna todos los elementos ideológicos y muchos menos las agendas concretas que podrían encarnar estos mínimos comunes. El objetivo es abrir un diálogo que dé suficiente espacio a las clarificaciones doctrinarias antes de pensar en el nombre y el timbre del eventual paraguas compartido. Esta discusión no despejará los obstáculos principales –la persistencia de dos culturas separadas entre liberales de izquierda y liberales de derecha, y la existencia de un sistema electoral poco amigable a terceras fuerzas que irrumpan por el centro– pero es ineludible para el éxito de largo plazo.

Fonte: Capital Online, 21/01/2014

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Romeu Tuma bomba no Roda Viva

Romeu Tuma bomba no Roda Viva
O Roda Viva desta última segunda (dia 3), com o ex-secretário de Justiça do governo Lula Romeu Tuma Junior, obteve o maior índice de audiência do programa em quase 14 anos. Alcançou a maior audiência desde a entrevista realizada com a então recém-eleita prefeita de São Paulo Marta Suplicy (PT), a 30 de outubro de 2000.

Tendo em vista o sucesso, segue o texto do site da Cultura sobre o programa e o vídeo do mesmo. Recomendo também o texto O “sincericídio” de Romeu Tuma Junior Confesso que não me animei ainda a ler o livro de Tuma, tendo visto opiniões pouco estimulantes sobre ele. Mas vamos à entrevista ao menos que parece ter sido interessante.

“Eu fiz uma peça de defesa e não de acusação”
Ex-secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, comenta as repercussões em torno do seu livro Assassinato de Reputações

O ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Júnior foi o entrevistado do Roda Viva de segunda-feira (3). Ele chefiou a secretaria entre os anos de 2007 e 2010, até que foi afastado por uma suposta ligação com integrantes de uma organização criminosa. Recentemente, Tuma lançou o Livro "Assassinato de Reputações - Um crime de Estado", no qual não só rebate as acusações de que foi alvo, como também faz graves acusações ao ex-presidente Lula e a autoridades federais - uma delas a de usar órgãos de segurança para conquistar objetivos políticos.

Entre os assuntos abordados, o livro trata do uso de dossiês forjados para prejudicar adversários, do assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, das tentativas de transformar a Polícia Federal em instrumento político e das investigações que envolvem o empresário Daniel Dantas. Hoje, Tuma já contabiliza mais de 60 mil exemplares vendidos.

Assim que o livro começou a ser vendido, o ex-secretário recebeu algumas ameaças de processos judiciais por parte das pessoas citadas na publicação. Porém, Tuma afirma até o momento não foi notificado oficialmente de que alguém o teria processado. Ele justifica: “É difícil você ser processado quando fala a verdade”.

Tuma revela que chegaram até ele algumas ameaças, que já estão sendo investigadas, e um e-mail enviado pela assessoria do banqueiro Daniel Dantas, solicitando alguns esclarecimentos.

No entanto, Tuma Júnior declara estar preparado para caso seja acionado na justiça. “Eu tenho várias provas no livro. Eu fui secretário nacional da Justiça, eu não seria nenhum louco, irresponsável, de acusar alguém injustamente por assassinato de reputação, no qual fui vítima. Eu fiz uma peça de defesa e não de acusação”.

O ex-secretário explica ainda que não foi omisso quanto aos supostos crimes dos quais revela no livro, e afirma que tentou por diversas vezes falar, mas não foi ouvido. “Eu fiquei três anos tentando me defender na justiça das falsas acusações que me foram imputadas, e não tinha esse espaço. Ninguém quis me ouvir, então fui obrigado a escrever. Tudo o que eu presenciei eu denunciei, mas eu tinha superiores. Eu jamais prevariquei”.

Filho do político Romeu Tuma (1931-2010), Romeu Tuma Júnior começou a carreira policial aos 18 anos como investigador. Foi delegado da Polícia Civil de São Paulo e deputado estadual paulista. Ocupou, entre 2007 e 2010, o cargo de Secretário Nacional de Justiça durante o governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. À época, presidiu o Conselho Nacional de Combate à Pirataria.

Participaram da bancada do programa Ricardo Setti, colunista do site da revista Veja; Mario Cesar Carvalho, repórter especial da Folha de S. Paulo; Eugênio Bucci, professor e colunista do jornal O Estado de S. Paulo e da revista Época; Cristine Prestes, repórter da área jurídica; e Fernando Gallo, repórter do jornal O Estado de S. Paulo. O Roda Viva ainda teve a participação do cartunista Paulo Caruso.

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