8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Retrospectiva 2015: A cultura do desrespeito detona o "homem cordial" brasileiro

Ruth de Aquino
A jornalista Ruth de Aquino faz uma crônica realista das cidades e do povo brasileiro e detona o mito do nosso "homem cordial". Os brasileiros estão cada vez mais para "homem selvagem", tendo como trilha sonora a vulgaridade do funk sob o governo obsceno do PT.

Precisamos encontrar forças - nem sei onde - para achar uma luz no fim do túnel nem que seja a luz fornecida por um isqueiro. Pessoalmente, não é de hoje que digo que, se tivesse condições, iria passar os restos do meus dias em algum lugar mais civilizado. Porque esta zona aqui é um martírio para qualquer pessoa minimamente civilizada.

A cultura do desrespeito
Washington parece outro planeta. O motorista sorri. A cidade funciona. A vida flui. Gentileza gera gentileza

É cada vez mais deprimente voltar ao Brasil, depois de uns dias em cidade civilizada no exterior. A falta de educação nas grandes cidades brasileiras torna o cotidiano uma batalha diária. Isso para não falar na falta total de segurança. Física e econômica. O desrespeito das prefeituras e dos governos estaduais com as necessidades básicas do cidadão e do contribuinte – saúde, educação, moradia e transporte – contribui para provocar um êxodo, não só para fora do país. Casais de jovens, com ou sem filhos, começam a se mudar para cidades pequenas. Buscam relações mais humanas, gastos mais baixos, menos estresse, menos poluição, menos barulho, menos tempo no trânsito, menos risco de morrer atropelado, esfaqueado ou com um tiro no ponto de ônibus, no parque ou na praia. “Cansamos”, dizem.

“Não aguento mais abrir um jornal”, ouço falar. O problema não é o jornal, mas a realidade estampada na imprensa. Os exemplos do “Rio que dá certo” ou da “São Paulo que dá certo” são raros. Sem contar a devassidão moral e ética de nossos políticos, incomoda perceber que “o brasileiro cordial” não passa de um mito.

Não é o nível de escolaridade que conta. As festas no playground de meu prédio no bairro do Leblon são um retrato da falta de educação e civilidade da tal elite. Barulho absurdo, contra a convenção, e o lixo de garrafas, latas e gordura – para o porteiro limpar. No condomínio pequeno de Búzios onde tenho casa, ameaço chamar a polícia porque o som de funk e batidão eletrônico na piscina, misturado a gritos femininos de ca$*&#ralho, não deixa a neta dormir. Resposta: “Mas aqui na festa só tem delegado e policial”.

Estive em Washington em abril e me senti num “retiro espiritual”. As pessoas sorriem para você na rua. Do nada. Pedestres felizes, confiantes e desarmados. Como assim? No metrô, cede-se lugar a crianças. Não se empurra ninguém. Já os brasileiros... a moda agora é nem esperar a pessoa sair do elevador. Ao entrar numa farmácia ou pagar no caixa em Washington, você escuta: “How are you doing today?”, acompanhado de um sorriso. Os grandes supermercados são limpos, imaculados! Os produtos têm qualidade. Vinho francês Mouton Cadet a US$ 9,99. Carnes, peixes e frutos do mar frescos. Enorme oferta de orgânicos.

Impossível comparar os preços de carros com o Brasil. Dá inveja o esquema de leasing. Não existe Detran em Washington, já pensou que maravilha? Não há obrigação de vistoria. Ninguém é refém de cartório. Caramba. Por que infernizam tanto a nossa vida?

Ninguém fecha e xinga no trânsito nem ousa trafegar pelo acostamento ou acelerar no sinal amarelo. Não há policiais de trânsito. Se existe um cruzamento sem sinal, a prioridade é do pedestre. O carro para no meio da rua ao enxergar um ser humano a pé. O motorista sorri para você. Parece outro planeta. A cidade funciona. A vida flui. Gentileza gera gentileza.

Ao usar o celular, ninguém olha para os lados com medo de assalto seguido de morte. Ao andar na calçada, ninguém é atropelado por ciclistas que teclam o celular! Isso não existe. Bicicletas não disputam espaço com pedestres, crianças, idosos. No Brasil, tiram fino, em velocidade.

Posso falar com mais propriedade do carioca, já que nasci em Copacabana e sempre amei esta cidade. Era bem melhor. O Rio virou uma selva. Selva não, tadinhos dos animais. Virou uma zona. Para isso, conta também a arrogância de prefeito, governador e suas equipes.

Noticiário da semana no Rio, apenas? Uma nadadora, medalhista pan-americana, morre atropelada por um bêbado veloz no ponto de ônibus, que foge e está solto. Banalidade. Taxista mata bandido após ser roubado e sequestrado. Favelas expandem e desmatam em todos os bairros, muros ecológicos são abandonados pela prefeitura por demagogia e omissão. Delegacias fecham de madrugada “por falta de segurança”. Ciclistas buscam a natureza na Floresta da Tijuca, mas são assaltados e ameaçados de morte. No centro e no Aterro do Flamengo, assaltantes atacam com facas e porretes. Em Santa Teresa, as obras do bondinho estão paradas, prejudicando moradores e comerciantes. Trem descarrila na hora do rush e, sem plano de contingência, trabalhadores andam pelos trilhos.

E o metrô? O temível tatuzão da Linha 4 não deixa dormir, moradores ficam um mês sem telefone, água e internet. O metrô abre trincas em prédios e, “por movimentação do solo”, derruba concreto em cima de pedestre em praça de Ipanema. A Justiça proíbe ruídos entre 22 horas e 7 horas, mas o secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osorio, não pode parar as obras porque terminar o metrô “é um compromisso olímpico internacional”. Ninguém planeja ou calcula antes? O compromisso olímpico de despoluir a Baía de Guanabara foi para as cucuias.

E se o Brasil incluísse no currículo escolar a disciplina do respeito à cidadania?

Fonte: Época, 09/05/2015

Publicado originalmente em 11/05/2015

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Retrospectiva 2015: Confirmada a informação de que o Mais Médicos visa fundamentalmente financiar a ditadura cubana

Segue abaixo matéria e vídeo do Jornal da Band confirmando a informação de que o programa Mais Médicos visa fundamentalmente financiar a ditadura cubana. Este blog já havia denunciado o esquema com clippings de vários artigos que podem ser conferidos abaixo (à guisa de resgate).

Muitos engoliram a conversa hipócrita e populista de que os contrários ao programa eram de fato contra o tratamento dos pobres e não contra mais essa baixaria petista. Sem falar na demonização dos médicos brasileiros pela máfia da estrelinha e seus sequazes. Agora, gravações com membros do próprio governo desvelam o óbvio: o programa visa basicamente financiar os irmãos Castro que há mais de meio século vive parasitando o povo cubano mantido refém em seu próprio país. Depois, ainda há quem conteste porque os brasileiros estão nas ruas protestando com sonoros #ForaPT.

A formação dos médicos cubanos e os moldes de sua exportação para países compañeros
Clipping Médicos cubanos no Brasil: discriminados pelos governos Dilma e Castro
Mais 4 mil cubanos chegarão ao Brasil para trabalhar em regime semi-escravo
Mais Médicos: a vergonha escravagista que o governo Dilma firmou com a ditadura cubana

Mais Médicos: acordo com Cuba foi mascarado
Gravação mostra como governo fingiu que programa estava aberto a profissionais de outros países

Gravações de uma reunião anterior ao lançamento do Mais Médicos revelam que assessores ministeriais tentaram mascarar um dos objetivos do programa: atender o governo cubano, reservando a maior parte do orçamento a profissionais vindo do país insular.

Após as manifestações de junho de 2013, o governo federal tratou de apressar algumas medidas populares. Uma delas foi contratar médicos para atuar em locais do país que não eram atrativas para doutores brasileiros com o projeto, que o planalto vinha estruturando secretamente havia seis meses.

A pressa foi grande que acabou dando causa a um evento raríssimo em Brasília, onde, em pleno sábado, aconteceu uma reunião da qual participaram ao menos seis assessores de ministérios. O Jornal da Band conseguiu identificar três assessores do Ministério da Saúde que participaram do encontro: Rafael Bonassa, assessor do gabinete do ministro, Alberto Kleiman, da área internacional e Jean Kenji Uema, chefe da assessoria jurídica.

Além deles, também esteve no encontro Maria Alice Barbosa Fortunato, que atualmente é coordenadora do Mais Médicos na Organização Panamericana de Saúde (Opas), a mais preocupada do grupo em ocultar a preferência do governo federal pelo médicos Cubanos.
Eu acho que não pode ter o nome governo de Cuba porque senão vai mostrar que nós estamos driblando uma relação bilateral”, explicou Maria Alice em um trecho da gravação, ressaltando que, como o documento é público, um “drible” estaria sendo aplicado no texto.
Para mascarar o acordo com Cuba, a representante da Opas propõe que seja simulada uma abertura para médicos de outros países. A esses, no entanto, será destinado apenas 0,13% da verba alocada para o primeiro ano do Mais Médicos.
Eu posso colocar atividades do Mercosul e da Unasul, que vai dar dois milhões. Dois milhões (de reais) em relação a um bilhão e seiscentos milhões (de reais), será que na coisa da justiça tem problema?”, questionou.
Salário de cubanos foi estipulado por Marco Aurélio Garcia

A discussão dos assessores enfrenta outros temas complicados , como a vinda de "assessores" cubanos para acompanhar o programa, encarados pelos críticos do Mais Médicos como vigias ou feitores do governo cubano para evitar deserções.
Eu vou colocar, tipo assim, se são nove mil médicos e 50 assessores, eu vou colocar 9.050 médicos bolsistas no meu T.A. (Termo de Ajuste), porque no programa não entra e é isso que eu quero defender”, explicou Maria Alice em outro trecho da gravação.
Outro problema posto na reunião foi qual seria o salário que Cuba iria pagar aos médicos. Segundo o representante do Ministério da Saúde, Alberto Kleiman, quem definiu o valor foi um brasileiro, o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia.
Sessenta (por cento) para o governo e 40 (por cento) para o médico. O Marco Aurélio (Garcia) botou isso na reunião, só para socializar”, frisou o assessor na reunião.
A representante da Opas, no entanto, disse achar que o governo brasileiro, que contrata e paga a conta, não deveria se meter.
A relação é do governo deles, eles que decidem. Não é a gente que vai interferir nisso”, opinou.
Não é o que pensa o Tribunal de Contas da União, que após estudar os documentos que embasaram o acordo concluiu que o tratamento diferenciado entre os médicos brasileiros e os que virão por meio de intercâmbio afronta o artigo 5º da Constituição Federal, segundo o qual todos são iguais perante a lei.

O TCU aponta que o documento afronta também o código de recrutamento da Organização Mundial de Saúde (OMS), que determina que o "pessoal de saúde imigrante deve ser contratado, promovido e remunerado com base em critérios objetivos, tais como níveis de qualificação, anos de experiência e grau de responsabilidade, tendo por base a igualdade de tratamento com o pessoal de saúde do país onde irão trabalhar”.

O TCU vê ainda falta de transparência na relação entre a Opas e o governo brasileiro no caso do Mais Médicos. e diz que “a Opas/OMS vem invocando imunidade de jurisdição para não atender às audiências públicas bem como para negar a apresentação de documentação referente ao convênio com Cuba".

O atual secretario de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, Heider Aurélio Pinto, diz que não houve intenção de mascarar o acordo com Cuba.
Não tem nenhuma tem tentativa de burlar”, garantiu, afirmando que os termos do acordo “são bem claros”.
Fonte:  Notícias Brasil, 17/03/2015

Publicado originalmente em 18/03/2015

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Retrospectiva 2015: "Sobre o terrorismo islâmico: Porque o Islã é, sim, violento"

Porque o Islã é, sim, violento

Por Alex Antunes 

Psiquicamente violento, aliás, como qualquer religião; particularmente as monoteístas. O grande problema com essas religiões não é, como acusa a ciência, a crença irracional em dogmas não aferíveis. É situar a “verdade” fora de si mesmo, em algum código mais ou menos simplório, imutável e ditado por algum deus didático. E não é bem assim que as coisas funcionam.

O religioso autoritário projeta fora de si, num deus ou profeta x (coloque aí qualquer nome, incluindo Maomé, o gatilho da vez), um conjunto de regras que direciona e simplifica a sua relação angustiosa com a complexidade do mundo. Na verdade o que esse covarde está fazendo é se furtar à aventura mais empolgante da experiência humana: descobrir os fundamentos de sua própria ética.

Mas porque a sua própria ética não poderia ser exatamente a de Maomé (ou do deus cristão, judaico etc)? Poderia. Se ele não tivesse a expectativa de converter outras pessoas ao seu sistema, e oprimir os “infiéis”, ou seja, tentar aumentar sua zona de conforto, ao custo do desconforto moral dos outros.

Não é à toa que nas religiões monoteístas o ser superior é invariavelmente representado por uma figura masculina “forte”. Nas religiões politeístas, o arquétipo do patriarca existe, mas é um entre outros, incluindo deusas, deuses instáveis, insondáveis e truqueiros, ou seja, todo um catálogo de comportamentos humanos. O que tende à tolerância com comportamentos variados, e mesmo eticamente dúbios (fazem parte do jogo da vida – e não necessariamente de um polo “do mal” e inaceitável).

A onda de declarações “do bem” da comunidade islâmica, após o atentado ao Charlie Hedbo, não cola. Um exemplo da empáfia autoritária muçulmana em contextos em que não é justificável (ou em que é ainda menos justificável) é dado no caso do filme Femme De La Rue, da estudante belga Sofie Peeters, sobre o assédio nas ruas. E na reação do líder muçulmano local Abu Haniefa, que respondeu acusando Sofie de “provocar os homens” ao andar pelas ruas “nua como uma prostituta”, e “pintada como uma palhaça”.

Claro que Sofie no filme está vestida normalmente, e simplesmente anda em um bairro (de maioria muçulmana) da capital de seu país, enquanto é assediada. Como eu comentei aqui, me lembra a piada de um homem que faz um teste de Rorschasch, e é diagnosticado como obcecado sexual. Aí ele diz “me mostram um monte de imagem de safadeza (aquelas manchas disformes do teste), e querem que eu pense no quê?”. O autoritário moralista está sempre projetando no outro as suas patologias, mazelas e dificuldades no mundo.

O comportamento de parte da esquerda, acusando os cartunistas de mexerem com a sensibilidade religiosa dos outros, é absurdo. Eles, os cartunistas, foram (fomos) agredidos antes, por alguém que acha que tem acesso a um código moral superior. Como disse Stephane Charbonnier, o Charb, “Maomé não é sagrado para mim. Eu vivo sob a lei francesa, não sob a lei do Corão”. É quase uma obrigação para um francês consequente trollar a ideia de que Maomé (ou qualquer deus) dite um código moral rígido para a civilização européia.

O comportamento de outra parte da esquerda, abduzindo para si o Charlie Hebdo (“O ataque ao Charlie Hebdo é um ataque à extrema esquerda”) também não procede. Não há porque duvidar da sinceridade de gente de qualquer matiz político que se sentiu atingida pelo atentado. E a contracultura, território de origem do CH, não é monopólio da esquerda ortodoxa, mesmo que alguns dos cartunistas envolvidos tenham sido comunistas de carteirinha.

Basta lembrar que a última capa, no próprio dia do atentado, foi simpática ao escritor Michel Houellebecq, que é acusado de dar munição para a extrema direita francesa com seu livroSoumission. Charb e o Charlie estavam explorando, corajosamente, um território em que esquerda e direita ortodoxas se misturam, se confundem e não sabem o que fazer. Ele engloba, além da imigração, questões comportamentais e de direitos individuais, como gênero, sexualidade, consumo de substâncias postas na ilegalidade etc.

No filme Profissão De Risco, com Johnny Depp, inspirado na vida do traficante americano George Jung, quando é acusado de atravessar uma fronteira portando maconha, ele diz: “estou sendo sentenciado por atravessar uma linha imaginária carregando uma planta”. É esse grau de translucidez que tem que ser mantido quando os “seres superiores” e seus códigos morais esquisitões falam.

Todos os fundamentalistas (inclusive os fundamentalistas políticos) que querem impor a sua percepção de mundo a quem não está minimamente interessado nela exercem algum grau de violência, seja essa violência física ou psicológica. Como eu comentei ontem, neste texto, Atentado À Inteligência: “É claro que é direito dos muçulmanos (e de outros fundamentalistas) (…) serem ‘submissos’ a seu deus (ou concepção de sistema social). É nisso que o humor, ou o chiste, se converte num inimigo central dos fundamentalistas: ele é a farpa que esvazia o balão autoinflado dessa ‘autoridade moral’, dessa solenidade patética, dessa angústia pela infalibilidade – que é a mais humana das características. Assim como (…) os sistemas religiosos contenham sempre uns fragmentos de verdade, tomá-los como o todo da verdade será sempre um erro”.

E exigir isso dos outros, além de erro, é intolerável. Na verdade, o sufismo (a parte mística do Islã), assim como a cabala judaica e o cristianismo primitivo, tem tecnologias mágicas e espirituais fascinantes, e bastante funcionais inclusive. Mas essa parte da experiência religiosa se perdeu, se contaminou ou foi engessada na religião institucional e em seu viés político. Posto assim, não interessa se Jesus ou Maomé ou seja lá quem for foram figuras históricas e/ou grandes iniciados. Cabe é dar um sonoro f*-se a quem (pensa que) fala em nome deles.


Fonte: Blog do Alex Antunes, 11 de janeiro
Publicado originalmente em 21/01/2015

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Boas Festas e Feliz Ano Novo!

















Nossa página entra em férias de fim de ano, retornando às postagens atualizadas em 11 de janeiro. Até lá estaremos republicando algumas das postagens mais populares da Contra o Coro dos Conentes durante o ano de 2015. 

Desejamos a todas e todos Boas Festas e Feliz Ano Novo!

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Vice-prefeito de BH acusa Aloísio Mercadante (PT) de pedir apoio em troca de verba

Mercadante barganhando verba pública contra impeachment
de Dilma. Alguém duvida que não?

O vice-prefeito de Belo Horizonte, Délio Malheiros (PV), publicou nesta terça-feira (15) em seu Facebook um vídeo com uma grave denúncia envolvendo o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e o prefeito Marcio Lacerda (PSB). Segundo ele, ao cobrar do ministro R$ 20 milhões que estão pendentes em Brasília referentes a creches da capital, o prefeito ouviu uma proposta indecorosa do petista. A União liberaria os recursos para o município se Lacerda conseguisse, em troca, votos dentro do PSB contra o impeachment de Dilma Rousseff.

Petistas usando verba pública para escolas como barganha a fim de manter seu projeto criminoso de poder em curso. Alguém duvida de que possa ser real a acusação do vice-prefeito? Oportunidade imperdível para mais partidos caírem fora do barco furado do atual governo, antes que afundem junto com ele.

Cliquem aqui para ver o vídeo ou marquem http://on.fb.me/1TUzFNM (caso o link direto esteja apresentando problemas). 

Em 2013, em vão, técnicos do Tesouro Nacional alertaram Dilma sobre o desastre de sua política econômica

Destaque:
... (em 2013) Dilma já sabia qual era o tamanho do desastre que estava por vir e mentiu deliberadamente para se eleger. Portanto, que as aparências não enganem. Arno Augustin pensava e agia conforme suas convicções, mas todas as suas atitudes resultaram de ordens diretas de Dilma, de quem o secretário era apenas um “soldado”, um “cumpridor de tarefas”, na definição de alguns dos entrevistados pelo Valor. Arno cometeu vários delitos, mas o principal foi não ter contrariado a chefe – esta sim, inteiramente responsável por todas e cada uma das medidas que resultaram no flagelo fiscal que o Brasil enfrenta hoje.
A Irresponsabilidade como Método

A petista Dilma Rousseff não pode mais permanecer na Presidência da República pela simples razão de que adotou a irresponsabilidade como método de governo. Sua administração violou de forma sistemática e deliberada as leis referentes à gestão das contas públicas, mas não o fez porque foi obrigada por circunstâncias adversas e passageiras, como costumam alegar Lula, Dilma e a tigrada, e sim em razão de certezas ideológicas da petista, derivadas de uma visão deletéria do papel do Estado.

Ao longo do primeiro mandato de Dilma, mesmo diante de insistentes alertas de técnicos do governo segundo os quais tal conduta estava comprometendo a capacidade do Estado de honrar seus compromissos, a equipe econômica da petista – por ordem expressa dela – continuou a cavoucar o erário para dele extrair os recursos necessários para manter as políticas populistas do PT, enquanto maquiava as contas para enganar o País a respeito do estado putrefato das finanças nacionais.

Se ainda havia alguma dúvida a respeito dessa irresponsabilidade, mesmo diante das contundentes conclusões do Tribunal de Contas da União (TCU), um documento sigiloso produzido por técnicos do Tesouro Nacional em julho de 2013, revelado agora pelo jornal Valor, comprova de uma vez por todas que o governo sabia perfeitamente dos riscos que assumiu ao recorrer às mutretas fiscais para sustentar a malfadada “nova matriz macroeconômica” – um delírio estatista nascido das convicções de Dilma.

O relatório dizia que, a se manter aquela política inconsequente, o Brasil perderia o grau de investimento em até dois anos e teria um passivo de R$ 41 bilhões em razão das “pedaladas” no pagamento de diversos subsídios. Afirmava também que a chamada “contabilidade criativa” – conjunto de truques para simular superávit em contas que apresentavam déficit – minava a credibilidade da política fiscal.

Esse estudo foi apresentado ao secretário do Tesouro, Arno Augustin, em novembro de 2013. Na época, já estava claro que a “nova matriz” fazia água por todos os lados – a inflação subia mesmo com a contenção dos preços administrados, as despesas do governo cresciam mais do que a arrecadação e as desonerações já atingiam R$ 70 bilhões. Com esse cenário, informa a reportagem, os técnicos alertaram que a situação fiscal se tornaria em breve insustentável e que a meta de superávit primário daquele ano, de 2,3% do PIB, não seria atingida. O secretário reagiu. Disse que aquela reunião tinha o objetivo de acabar com o “motim” dos técnicos contra a política econômica – que, segundo Augustin, era fundamental para manter o crescimento do País. Ademais, afirmou ele, somente quem havia sido eleito – Dilma Rousseff – tinha a prerrogativa de ditar a política econômica. Aos técnicos, portanto, cabia somente acatá-la. Qualquer forma de crítica era considerada uma sabotagem.

Ao longo de 2014, em razão da campanha eleitoral, o controle de informações e decisões no Tesouro e na Fazenda, do ministro Guido Mantega, ficou ainda mais rígido. Naquele ano, as “pedaladas” já haviam inflado os resultados fiscais em quase 300% – tudo para que Dilma pudesse garantir, no palanque, que o País estava com as contas em ordem e pronto para dar um formidável salto a partir de sua reeleição. “O Brasil vai bombar em 2015”, chegou a declarar a presidente, acusando os adversários de “alarmismo”.

Naquela oportunidade, como agora ficou claro, Dilma já sabia qual era o tamanho do desastre que estava por vir e mentiu deliberadamente para se eleger. Portanto, que as aparências não enganem. Arno Augustin pensava e agia conforme suas convicções, mas todas as suas atitudes resultaram de ordens diretas de Dilma, de quem o secretário era apenas um “soldado”, um “cumpridor de tarefas”, na definição de alguns dos entrevistados pelo Valor. Arno cometeu vários delitos, mas o principal foi não ter contrariado a chefe – esta sim, inteiramente responsável por todas e cada uma das medidas que resultaram no flagelo fiscal que o Brasil enfrenta hoje.

Fonte: Estadão, Editorial, 10/12/2015

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Absurdos petistas atingem também o ensino de História



Nova face do autoritarismo
Proposta da comissão do MEC para o ensino da História em 2015 é uma aberração. Mutila os processos históricos globais, aposta na sincronia contra a diacronia

por Ronaldo Vainfas

Não é de hoje que o Estado brasileiro tenta estropiar o ensino da História no país. No regime militar, a principal tentativa veio com a obrigatoriedade do ensino de Estudos Sociais, fundindo a História e a Geografia em uma mesma disciplina, em detrimento de ambas. Foi uma decisão do governo Médici, em 1971, no auge da ditadura, restrita ao atual ensino fundamental, antigo primeiro grau. O modelo era o do Social Studies dos EUA, que concebia o estudo da História a partir de círculos concêntricos: família, escola, bairro, cidade, país. Um modelo limitado, ao mesmo tempo individualista e nacionalista. O combate à História como disciplina se alastrou para o antigo secundário, atual ensino médio, com a imposição das disciplinas Organização Social e Política do Brasil (OSPB) e Educação Moral e Cívica. Tais reformas foram executadas nas gestões dos ministros Jarbas Passarinho e Ney Braga no MEC, ambos militares reformados engajados no golpe de 1964.


A sociedade brasileira reagiu, e a História foi restaurada como disciplina específica, entre 1984 e 1993, em meio ao processo de redemocratização do país. Atualmente, ela integra o currículo mínimo do ensino fundamental e do ensino médio. Os diversos Parâmetros Curriculares Nacionais garantiram a interdisciplinaridade, sem rejeitar a especificidade do conhecimento histórico: a diacronia, as particularidades.

Eis que agora vem à baila a discussão da Base Curricular Comum, urdida pelo Estado desde o primeiro governo lulopetista. Nunca se soube como foram escolhidos os membros da comissão encarregada do trabalho, cujos nomes só agora vêm a público, muito menos as instruções que receberam deste governo cara de pau. O fato é que os trabalhos da comissão foram consolidados em 2014, ano eleitoral, e publicizadas em 2015. O conceito de Base Curricular Comum é, por si mesmo, discutível, ao presumir uma uniformidade de conhecimentos desejáveis, sobretudo em História, para um país gigantesco e diverso.

O mais grave, porém, é a retomada da postura autoritária, ainda que invertendo a chave da ditadura militar. A disciplina História prevista pelo regime lulopetista estabelece para o fundamental I o ensino de sujeitos, grupos sociais, comunidades, lugares de vivências e, por fim, o dos “mundos brasileiros”. Conceitos abstratos e anódinos, impossíveis de serem ensinados a crianças, salvo como doutrina. Os primeiros dois anos do fundamental II prosseguem nesta linha abstrata de “processos e sujeitos”.

Imagine-se o aluno que ingressar no ensino médio com tais “conhecimentos” incertos. E logo no primeiro ano, terá aulas sobre os “os mundos ameríndios, africanos e afro-brasileiros”, matéria aprofundada no ano seguinte, com o estudo dos “mundos americanos”, para culminar com os “mundos europeus e asiáticos” no terceiro ano. Nunca houve, na história deste país, parafraseando o “grande líder”, um ataque deste jaez ao ensino da História.

O ensino da História do Brasil sempre foi problemático entre nós, brasileiros, sendo ora admitida como disciplina específica, ora inserida na História Geral. Reaparece, na versão lulopetista, de maneira desastrosa. A comissão encarregada de formular o currículo comum não se avexa de escrever que “enfatiza-se a História do Brasil como o alicerce a partir do qual tais conhecimentos serão construídos ao longo da educação básica”.

Nem mesmo a reforma do ministro Francisco Campos, em 1931, ou a de Gustavo Capanema, em 1942, ministros de Getúlio Vargas, ousaram perpetrar tal decreto, entronizando o Brasil como o centro do mundo. E o tempo era revolucionário, golpista, ditatorial — depende da interpretação.

A proposta da comissão do MEC para o ensino da História em 2015 é, portanto, uma aberração. Mutila os processos históricos globais, aposta na sincronia contra a diacronia, é fanática pelo presentismo. Incentiva ódios raciais e valores terceiro-mundistas superados. Estimula a ignorância, ao colocar a História ocidental como periférica, na realidade como vilã. Combate o eurocentrismo com um brasilcentrismo inconsistente. É uma aposta no obscurantismo, inspirada por um modelo chavista de política internacional. Que Deus salve o Brasil desta praga — só apelando a Deus, et pour cause.

Fonte: O Globo, 05/12/2015

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

O Brasil não aguentará mais 3 anos de desgoverno


Destaque:
Nenhum representante eleito deveria acreditar que seu mandato é sua propriedade irrevogável. A administração pública não lhe pertence: pertence ao povo. Este deve ter o direito legal de confiscar o mandato que foi concedido a uma liderança que se mostra irresponsável. É bom que nossos mandatários saibam que sua permanência é condicional.
O Brasil não merece mais 3 anos deste desgoverno

por Gustavo Ioschpe

É uma incrível lástima que alguém com a ficha corrida de Eduardo Cunha tenha sido eleito para o Congresso Nacional e, lá, tenha sido escolhido pelos seus pares para presidir a Casa. Porque coube a ele, por imposição do cargo, a tarefa de acatar o pedido de impeachment da presidente Dilma. Mas assim como os votos de Cunha - tanto os populares quanto o de seus nobres colegas - não o eximem da cassação que se aproxima, tampouco os milhões de sufrágios concedidos a Dilma blindam o seu mandato da possibilidade do impeachment. Por uma simples razão: a democracia não é o império do voto, mas sim da lei. Hitler foi eleito premier da Alemanha; Lenin, Fidel e Mao chegaram ao poder com amplo apoio popular. Mas não ocorreria a ninguém de boa fé sugerir que esses senhores lideraram uma democracia.

Esses são os dois principais argumentos de quem se opõe ao impeachment. Primeiro, de que Eduardo Cunha não tem autoridade moral para conduzir o impedimento de quem quer que seja. Segundo, que impeachment sem prova de roubo é golpe. 

Ora, o impeachment não é um processo conduzido por Eduardo Cunha. Cabe a ele apenas aceitar ou não a denúncia contra a presidente. Quem a investiga é a Câmara dos Deputados, e quem a julga é o Senado. E o fazem não apenas porque são representantes democraticamente eleitos do povo, mas porque é assim que a lei manda. Lei muito anterior a este governo. Ajuda-memória: Ibsen Pinheiro, que presidiu a Câmara dos Deputados na época do impeachment de Collor, foi cassado por quebra de decoro dois anos depois. Que relevância a lisura de Ibsen tem sobre o julgamento de Collor? Nenhuma. Que relevância a lisura de Eduardo Cunha tem sobre o julgamento de Dilma? Tampouco nenhuma.


A alegação de golpe é mais absurda ainda. Não pode ser golpe algo que está previsto na Constituição. Ponto. Ademais, chama a atenção a inconsistência lógica desses acusadores. Os que equacionam impeachment a golpe hoje foram alguns dos maiores defensores do impeachment de Collor. Também ele foi um presidente eleito por voto popular, regido pela mesma Constituição e pela mesma lei do impeachment. Como é então que algo que era legítimo e defensável àquela época passou a ser golpe hoje? Como bem disse o presidente do PT, Rui Falcão, em evento de julho desse ano:
Não se esqueçam, companheiros e companheiras, que gritamos fora Collor e gritamos fora FHC. E o ex-presidente Collor saiu da Presidência num processo legal, dentro da democracia, e é isso que eles pretendem fazer agora: expelir a Dilma dentro de um processo democrático." O país está tão de ponta cabeça que eu me vejo concordando totalmente com o presidente do PT.
Esse discurso de golpe acaba seduzindo muitos desavisados que acreditam que o único crime que um político pode cometer é o roubo. Apesar da popularidade da prática no Planalto Central, há outras e piores modalidades de indignidade que um administrador pode cometer. Pense bem: se aderíssemos a essa cartilha, o afastamento de Dilma seria legítimo se fosse pega roubando um Chambinho numa mercearia de Brasília; já ter detonado um país de 200 milhões de habitantes ao longo de seguidos anos de irresponsabilidade fiscal, quebrado a maior empresa nacional e destruído seu setor elétrico, entre outras peripécias: tudo isso seria permitido. Não faz nenhum sentido.

A lei que versa sobre o assunto (n. 1.079) é clara e clarividente: os crimes mais importantes que um Presidente da República pode cometer são de responsabilidade. Para um presidente ter a sua liberdade cerceada, aplicam-se a ele ou ela as mesmas leis que se aplicam a você e eu. Já para ser privado do exercício do cargo para o qual foi eleito, as justificativas são outras. Basta que sua conduta, ainda que bem-intencionada, seja de tal ponto lesiva aos interesses da pátria que requeira a cessação do mandato. Lembremo-nos que Collor foi absolvido pelo STF pelo comportamento que levou à sua cassação. Alguém acredita que essa decisão jurídica altera o acerto do seu impeachment?

Não sou jurista, mas tenho dificuldade de imaginar que as condutas previstas em lei como passíveis de impeachment não se apliquem a esse governo. Veja os exemplos: Art. 7.5 "servir-se das autoridades sob sua subordinação imediata para praticar abuso do poder, ou tolerar que essas autoridades o pratiquem sem repressão sua" (quantos ministros foram ou estão envolvidos em casos de corrupção?); Art. 9.3 "não tornar efetiva a responsabilidade de seus subordinados, quando manifesta em delitos funcionais (...)"; Art. 10.2 "exceder ou transportar, sem autorização legal, as verbas do orçamento" (quanto tempo faz que Dilma não cumpre a Lei da Responsabilidade Fiscal?); Art. 11.2 "ordenar despesas não autorizadas por lei ou sem observância das prescrições legais relativas às mesmas" (pedaladas, pedaladas, pedaladas).

Os opositores do impeachment que leem essa lei costumam dizer que ela é tão vaga e ampla que poderia se aplicar a qualquer presidente, em qualquer tempo. Outros dizem que se esses atos servirem para embasar o impedimento de presidente da República, então nenhum político do país terá a certeza da conclusão do seu mandato. Sei que essas observações são vistas como críticas, mas eu as vejo como elogio.

Nenhum representante eleito deveria acreditar que seu mandato é sua propriedade irrevogável. A administração pública não lhe pertence: pertence ao povo. Este deve ter o direito legal de confiscar o mandato que foi concedido a uma liderança que se mostra irresponsável. É bom que nossos mandatários saibam que sua permanência é condicional. Também é bom que a lei seja ampla e flexível. As formas de irresponsabilidade são amplas, e não convém a criação de leis de afogadilho, casuísticas, para se lidar com sandices impensadas. Melhor é ter um instrumento que dê um norte ao processo e deixe aos congressistas de cada época certa margem de manobra para interpretar os pormenores do comportamento do presidente.

Espero que os atuais congressistas cheguem a um entendimento de que a atual presidente violou o dever solene que tem como primeira mandatária do país. Seus desatinos não têm nem o benefício da originalidade: os descalabros do seu "pensamento" econômico já foram testados em outras épocas e países, e sempre causaram destruição. Além da inépcia administrativa, é difícil de imaginar que uma presidente notoriamente detalhista e focada nas minúcias de sua administração não soubesse que, à sua volta no dia-a-dia do poder e financiando suas campanhas, houvesse um espesso e caudaloso mar de lama de corrupção a azeitar as engrenagens do seu governo. Dilma pecou quando agiu e quando se omitiu, quando interferiu e quando prevaricou. Seus erros são muitos e recorrentes, e sua teimosia e despreparo fazem crer que, a qualquer nova oportunidade, ela incorrerá no mesmo comportamento que nos trouxe até aqui. Se ainda tivesse um pingo do patriotismo que norteou sua peleja contra a ditadura na juventude, a presidente saberia que o melhor caminho para a democracia é a sua renúncia. Estando sua visão obnubilada pela fome de poder, espero que nossos congressistas não fraquejem frente às suas obrigações. Esse governo nos trouxe até o precipício, e o passado já não podemos alterar. Mas o futuro nos pertence, e convém não passar os próximos três anos dando um salto rumo ao abismo.

Fonte: Veja, 05/12/2015


terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Às ruas novamente pela democracia


Destaque:

É hora de nos engajarmos nessa luta pela democracia no Brasil, sem meios-termos, sem receios, conclamando as demais entidades da sociedade civil que congregam administradores de empresas, contadores, engenheiros, médicos, auxiliares de saúde, arquitetos, promotores e juízes, trabalhadores da indústria, comerciários, etc., bem como entidades do terceiro setor e os inúmeros participantes dos movimentos construídos pelas redes sociais, para em uma só voz exigir mudanças no sistema eleitoral, fonte de muitos males, e no regime de governo, com a adoção, pelo menos, de presidencialismo parlamentarizado, visando a facilitar a responsabilização dos governantes.
É a hora da sociedade civil

Miguel Reale Júnior


O Estado Democrático de Direito está gravemente ferido. É necessário reconstruir a democracia, da qual um dos alicerces consiste na confiança da população nos agentes políticos que elege. Hoje, justificadamente, essa confiança inexiste no Brasil.

A democracia destaca-se por viver e conviver com as divergências, a serem superadas pelo diálogo e pela persuasão para a formação de uma maioria parlamentar legítima, respeitada pelas minorias. Todavia o confronto de ideias e de perspectivas, próprio da democracia, desapareceu do cenário político, substituído por entendimentos promovidos graças a arranjos financeiros com dinheiro público subtraído de empresas como Petrobrás, Sete Brasil, BR Distribuidora, Angra 3, Belo Monte.

Não se fez política, nem se praticou a democracia. Apenas se transitou num bazar de venda de apoios por dinheiro vivo ou graças à ocupação de cargos na administração, colocando apaniguados em postos estratégicos para obtenção de vantagens ou para demonstração de prestígio. Instalou-se a desabusada prática de exercer o poder para institucionalizar a ação corrosiva da corrupção como normalidade. A democracia foi corroída por dentro ao se obter uma maioria marrom, enlameada pela compra de consciências e do convencimento.

O poder econômico privado aliou-se a administradores públicos venais, abocanhando serviços superfaturados cujos frutos reverteram em parte para deputados e senadores, bem como para seus partidos, visando a assegurar ao Executivo uma maioria comprada. Os partidos da base governista fizeram caixa para enfrentar, com muitos recursos, as futuras eleições.

Formou-se um círculo pernicioso com o dinheiro público desviado desde o mensalão e consolidado no petrolão, pois esses numerários, em conluio com empresários, saíram dos cofres de órgãos do Executivo, pela ação de diretores, indicados por líderes políticos, e foram usados para manutenção de apoio parlamentar ao próprio Executivo.

Uma organização criminosa passou a dominar o País e suas instituições políticas, levando ao cúmulo de se eliminar a divisão de Poderes e o jogo de contrastes de perspectivas próprio da democracia. Parlamentares e administradores uniram-se na festança da fruição do dinheiro público desviado. A corrupção tornou-se o denominador comum por via do qual se compuseram Executivo e Legislativo visando à apropriação de vantagens indevidas de toda ordem.

Tão grave quanto era o liame tentado entre Presidência da República e presidência da Câmara dos Deputados, com vista a um acordo espúrio para garantia de mútua impunidade: o apoio de deputados do PT à absolvição do presidente da Câmara em troca da rejeição liminar dos pedidos de impeachment. Todavia, ao se recusar o PT a apoiá-lo, Eduardo Cunha acolheu o pedido de impeachment, escrevendo certo por linhas tortas.

A defesa do Estado Democrático de Direito é dever do advogado, como assinala o artigo 2o do novo Código de Ética. Hoje o mais frágil e mais urgente cliente do advogado é o Estado de Democrático de Direito. A sua defesa incumbe a todos nós advogados, bem como às nossas instituições.

Agora não se trata de lutar contra uma ditadura, nem de resistir às afrontas às liberdades civis e políticas, mas, sim, em ir mais a fundo, pois os alicerces, fincados pela Constituição de 1988, apodreceram. É preciso, portanto, reconstruir suas bases. Não é só o governo que está em crise, é o regime democrático que está. Como principais defensores do Estado Democrático de Direito, aos advogados cumpre assumir a dianteira para salvar a democracia, reestruturá-la, não só afirmando a necessidade de punição daqueles que a destroem pelo mal da corrupção, observado o devido processo legal, mas pugnando, mais do que já se fez, por medidas impeditivas da corrosão da democracia.

Os advogados, valendo-se de sua história de lutas, devem exigir, pressionar com força por mudanças de fundo urgentes, para tanto mobilizando novamente a sociedade, já mobilizada pelos diversos movimentos contra a corrupção que levaram milhões às ruas, agora tendo por pauta a reforma estrutural do Estado. Não basta afastar Dilma. É preciso também preparar o futuro.

É hora de nos engajarmos nessa luta pela democracia no Brasil, sem meios-termos, sem receios, conclamando as demais entidades da sociedade civil que congregam administradores de empresas, contadores, engenheiros, médicos, auxiliares de saúde, arquitetos, promotores e juízes, trabalhadores da indústria, comerciários, etc., bem como entidades do terceiro setor e os inúmeros participantes dos movimentos construídos pelas redes sociais, para em uma só voz exigir mudanças no sistema eleitoral, fonte de muitos males, e no regime de governo, com a adoção, pelo menos, de presidencialismo parlamentarizado, visando a facilitar a responsabilização dos governantes.

Cumpre, também, estabelecer eficaz e sério Programa de Integridade, com inamovível e bem qualificado fiscalizador dos demais servidores em cada setor da administração pública, bem como nos partidos políticos, a serem responsabilizados pelos atos de seus membros. A eliminação de dois terços dos cargos em confiança na administração direta e indireta, assim como a aplicação de testes de honestidade e garantia de confidencialidade para informantes de práticas de corrupção são outras propostas positivas.

Além do mais, é importante o fortalecimento dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Ministério Público Eleitoral, para fiscalizar a estrutura de campanha dos candidatos e suas contas durante o processo eleitoral.

Só assim se pode refazer a confiança do povo no processo democrático. Dessa forma, cumpre aos advogados tentar salvar, em conjunto com várias forças sociais, o seu cliente preferencial, o combalido Estado Democrático de Direito. É a hora da sociedade civil!

Fonte:
Estado de São Paulo, 05/12/2015

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

O Brasil precisa depor Dilma, entre outras razões, por uma questão de sobrevivência



Fernando Gabeira provando que ainda existe vida inteligente à esquerda. Destaco:

Quase todos concordam com a gravidade da crise, nunca antes neste país o governo errou tanto, corrompeu tão disciplinadamente a vida política, corroeu tanto os alicerces da jovem democracia, engrandecida com a luta pelas diretas. Naquele momento, a bandeira das diretas tinha conotação positiva, era a esperança que nos movia. Muitos acham que só ela nos move. Mas diante das circunstâncias ameaçadoras é o instinto de sobrevivência que nos pode mover: o Brasil está se desintegrando.
Hoje a esperança só pode ser construída na luta pela sobrevivência. Chegou a hora de conversarmos por baixo, uma vez que do sistema político não vem resposta. Naturalmente, saindo do pequeno universo, abrindo-se para as diferentes posições no campo dos que querem a mudança. Nada que ver com conversa de ex-presidentes ou com essa história de que oposição e governo têm de se entender.
O governo tem de entender que chegou sua hora, pois é o grande bloqueio no caminho da esperança. Não é possível que, no auge de uma crise econômica, epidemias e desastre ambiental, o país aceite ser governado por uma quadrilha de políticos e empresários.

Quase tudo em ruínas
Fernando Gabeira

Agora que tudo está em ruínas, exceto algumas instituições que resistem, não me preocupo em parecer pessimista. Quando anexei às listas das crises o grave momento ambiental, algumas pessoas ironizaram: el Niño? Naquele momento falava apenas da seca, da tensão hídrica, das queimadas e enchentes. Depois disso veio o desastre de Mariana, revelando o descaso do governo e das empresas que, não se contentando em levar a montanha, transformam o Doce num rio de lama.

No fim de semana compreendi ainda outra dimensão da crise. O Brasil, segundo especialistas, vive uma situação única no mundo: três epidemias produzidas pelo Aedes Aegypti (dengue, chikungunya e o zika vírus). O zika está sendo apontado como o responsável pelo crescimento dos casos de microcefalia. Sabe-se relativamente pouco sobre ele. E é preciso aprender com urgência. O dr. Artur Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses, considera a situação tão complexa como nos primeiros momentos da epidemia de aids.

Agora que está tudo em ruínas, restam os passos das instituições que funcionam, o prende aqui, prende lá, delata ou não delata, atmosfera de cena final, polícia nos calcanhares. Lembra-me a triste cena final do filme Cinzas e Diamantes, de Andrzej Wajda. A Polônia trocava um invasor, os nazistas, por outro, os comunistas: momento singular. No entanto, há algo de uma tristeza universal na Polonaise desafinada e no passeio do jovem casal por uma cripta semidestruída pelos bombardeios.

Aqui, a cena não é de filme de guerra, ocupação militar, mas de um thriller policial em que a quadrilha descoberta vai sendo presa progressivamente. Enquanto isso, não há governo para responder ao desemprego, empobrecimento, epidemias, mar de lama e ao sofrimento cotidiano dos brasileiros.

As cenas finais são eletrizantes e a ausência de um roteirista tornou o filme político ainda mais atraente. Mas perto da hora de acender a luz os cinemas se preparam, abrem as cortinas e já se pode ver, de dentro, como é sombria a noite lá fora.

Quase todos concordam com a gravidade da crise, nunca antes neste país o governo errou tanto, corrompeu tão disciplinadamente a vida política, corroeu tanto os alicerces da jovem democracia, engrandecida com a luta pelas diretas. Naquele momento, a bandeira das diretas tinha conotação positiva, era a esperança que nos movia. Muitos acham que só ela nos move. Mas diante das circunstâncias ameaçadoras é o instinto de sobrevivência que nos pode mover: o Brasil está se desintegrando.

Hoje a esperança só pode ser construída na luta pela sobrevivência. Chegou a hora de conversarmos por baixo, uma vez que do sistema político não vem resposta. Naturalmente, saindo do pequeno universo, abrindo-se para as diferentes posições no campo dos que querem a mudança. Nada que ver com conversa de ex-presidentes ou com essa história de que oposição e governo têm de se entender.

O governo tem de entender que chegou sua hora, pois é o grande bloqueio no caminho da esperança. Não é possível que, no auge de uma crise econômica, epidemias e desastre ambiental, o país aceite ser governado por uma quadrilha de políticos e empresários.

Às vezes me lembro do tempo do exílio, quando sonhava com um passaporte brasileiro. Agora é como se tivesse perdido o passaporte simbólico e de certa maneira voltasse à margem.

Vivemos momento em que quase tudo está em ruínas, como se fôssemos uma multidão de pessoas sem papel. O foco nas cenas de desmonte policial é importante. O voto direto dos senadores não seria aprovado, no caso Delcídio, não fora a vigilância da sociedade.

No entanto, a gravidade da situação pede muito mais. Há um momento em que você se sente órfão dos políticos do país. Mas logo em seguida percebe que é preciso caminhar sem eles. Hora de conversar na planície.

Não descarto a importância de um núcleo parlamentar que nos ajude a mandar para as Bermudas o triângulo Dilma, Renan, Cunha. Mas as grandes questões continuam: como recuperar a economia, como voltar a crescer de forma sustentável, como reposicionar o Brasil no mundo, distanciando-nos dos atrasados bolivarianos?

Uma das muitas maneiras de ver os limites do crescimento irracional é o próprio desastre em Mariana, a agressão ao Rio Doce. A essência desse crescimento é o depois de nós, o dilúvio. Às vezes o dilúvio se antecipa, como no distrito de Bento Rodrigues, e fica mais fácil compreender a gigantesca armadilha que legamos às novas gerações. É preciso uma conversa geral e irrestrita entre todos os que querem mudar, tirando da frente os obstáculos encalhados em Brasília.

Não se trata de estender o dedo como naquele cartaz do Tio Sam, dizendo: o país precisa de você. Na verdade, o caminho é mostrar que você precisa do país; se ele continuar se enterrando, alguns sonhos e perspectivas individuais se enterram também.

Compreendo as pessoas que temem a derrubada do governo e seus aliados porque não sabem precisamente o que virá adiante. Não sei se isto as conforta, mas o descobrimento do Novo Mundo foi feito com mapas equivocados e imprecisos. A fantasia dos navegantes estava povoada de monstros e prodígios, no entanto, acabaram sendo recompensados por se terem movido.

O desafio de agora é menor do que lançar-se nos mares desconhecidos. Os mapas nascem de um amplo diálogo e, mesmo se não forem cientificamente precisos, podem nos recompensar pela movida.

Desde o princípio, o impeachment era uma solução lógica, mas incômoda. Muita gente preferiu ficar com um governo porque ele foi eleito. Não importa se a campanha usou dinheiro do petrolão, Pasadena, não importam as mentiras, a incapacidade de Dilma. Ela foi eleita. Tem um diploma. E vamos dançar nas ruínas contemplando o luminoso diploma, cultuando sua composição gráfica, a fita colorida.

Muitos povos já se perderam no êxtase religioso como resposta a uma crise profunda. Mas os deuses eram mais fortes, o sol, a fecundidade, a morte. Estamos acorrentados a um diploma.

Fonte: Estado de SP, 04/11/2015

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

O pedido de impeachment de Dilma aceito e suas possíveis consequências


As conversas hoje giram em torno da suposta impossibilidade de Cunha encaminhar e presidir o processo de impeachment da Dilma por ser corrupto. Bem, ele continua no cargo para o qual foi eleito como Dilma. E vamos lembrar que pairam sobre a eleição de Dilma as suspeitas de fraude nas urnas eletrônicas e de campanha movimentada com dinheiro de alta corrupção. Então, se Dilma e Cunha foram eleitos e, apesar dos indícios de corrupção no histórico de ambos, os mesmos continuam em seus cargos, por que Cunha não poderia encaminhar o processo de impeachment de Dilma, sendo essa possibilidade uma de suas prerrogativas?

Os vários pedidos de impeachment que foram protocolados não partiram de Cunha e sim de vários segmentos da população brasileira exaustos do buraco sem fundo em que Dilma e seus cúmplices meteram o país. O pedido de impeachment agora encaminhado não partiu de Cunha, e, pelo andar da carruagem, não será presidido por ele. O pedido de impeachment não é de Cunha e sim do povo brasileiro que, em sua maioria, quer Dilma e o PT fora do poder (e razões não faltam para tal).


Vale lembrar também que Lula e o PT deram o aval para o encaminhamento do impeachment ao propor à sua bancada que votasse pela admissibilidade do processo contra Cunha. Então, deixemos de ingenuidades, que Lula deve estar rifando a pupila simplesmente, como comentei ontem. Pra nós, que nada temos a ver com os bandidos do evangelho ou da justiça social, o que interessa é articular para que o impeachment prospere e Lula não tenha como voltar ao poder nem que chova néctar do céu. Porque isso é o que interessa ao país, pras nossas vidas. Não existe luz no fim do túnel com o PT no poder. Eu que sou muito mais das dúvidas do que das certezas, tenho sobre isso a mais profunda convicção. É questão de sobrevivência do país. Depois a gente vê o que faz com o que sobrou desse desastre todo.

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