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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Duas barreiras que afastam as mulheres da ciência

O filme ‘Estrelas Além do Tempo’ mostra o papel relegado
de algumas mulheres na conquista espacial

Duas barreiras que afastam as mulheres da ciência
Elas recebem menos convites para avaliar o trabalho de seus pares. E meninas se veem como menos brilhantes desde os 6 anos

Na semana passada, dois estudos colocaram em evidência algumas das barreiras que impedem o aproveitamento do potencial das mulheres na ciência. O primeiro deles, publicado na revista Nature, se refere à presença feminina como avaliadoras dos trabalhos de seus colegas. Essa avaliação é uma das bases do sistema científico e acadêmico, e permite que as revistas científicas analisem a qualidade dos artigos submetidos para publicação. Além disso, trata-se de um caminho para que os avaliadores melhorem em sua própria área de conhecimento e fortaleçam vínculos com outros pesquisadores.

Uma análise da União Americana de Geofísica (AGU, na sigla em inglês) indica que mulheres de todas as idades têm menos probabilidades de participar desse processo. O estudo mostra que, entre 2012 e 2015, a presença feminina entre os revisores foi de 20%. Trata-se de uma porcentagem bem inferior aos 27% de mulheres que conseguem ter aceitos artigos em que aparecem como primeiras autoras, e abaixo dos 28% de membros femininos da AGU. A presença de mulheres varia com a idade. Entre aquelas na casa dos 20 anos, elas representam 45%. Em contraste, os autores da análise, Jory Lerback e Brooks Hanson, mostram que a porcentagem de artigos aprovados para publicação apresentados por mulheres é ligeiramente maior que a de homens (61% a 57%).

Sobre os motivos para essa menor representação, os autores mencionam como primeira causa o fato de as mulheres receberem menos convites para avaliar artigos do que os homens. Além disso, as mulheres também recusam esses convites com mais frequência.

Candidaturas idênticas para postos fixos nas universidades têm mais probabilidade de sucesso se o suposto aspirante é homem

Os autores apresentam duas possíveis interpretações para esses resultados. A primeira é que as mulheres que escrevem artigos sofram uma discriminação às avessas. A outra, talvez mais plausível, é que elas preparem melhor o envio de seus trabalhos já esperando encontrar mais dificuldades. Essa hipótese coincide com os resultados de outros estudos que indicam que as pessoas que esperam mais obstáculos dedicam mais esforço à preparação e assumem menos riscos. Isso explicaria também, pelo menos em parte, por que as mulheres enviam menos artigos para publicação do que os homens. “Um processo de estudo duplo-cego poderia lançar mais luz sobre esses fatores”, propõem os autores do artigo na Nature.

Nesse sentido, estudos como o que foi publicado na PNAS por um grupo liderado por Corinne A. Moss-Racusin, psicóloga do Skidmore College (Estados Unidos), sugerem que os professores universitários, independentemente de seu gênero, avaliam de maneira mais favorável uma candidatura para diretor de laboratório se ela vem acompanhada de um nome masculino. Outras análises semelhantes observaram como candidaturas idênticas para postos fixos na universidade têm mais possibilidades de sucesso se o suposto aspirante for homem. Esses trabalhos observam ainda que essas inclinações também atingem indivíduos que valorizam a igualdade e se consideram objetivos.

A complexidade do problema das inclinações também foi abordada em um artigo publicado na mesma revista em 2015. Apesar de haver uma grande quantidade de dados que refletem a desvantagem das mulheres nas carreiras ligadas à ciência e à engenharia, e de isso poder estar relacionado com os estereótipos de gênero, esses dados não são avaliados igualmente dependendo de quem leia sobre eles. Naquele artigo, foi observado que os homens – em particular aqueles em posições de poder dentro do mundo acadêmico – eram reticentes em aceitar o valor dos dados apresentados nesse tipo de estudo. Essa percepção, em um campo dominado pelos homens, dificulta que as inclinações sejam reconhecidas e comecem a ser combatidas.

Um segundo artigo publicado na semana passada traz mais informações sobre as possíveis causas da sub-representação feminina na ciência e na engenharia. Em um estudo apresentado na revista Science, foi perguntado a meninos e meninas se acreditavam que uma pessoa descrita para eles como especialmente inteligente era de seu sexo ou do oposto. Quando as crianças tinham 5 anos, não se observavam diferenças. Mas a partir dos 6 ou 7 anos, a probabilidade de que meninas considerem a pessoa brilhante como sendo de seu sexo cai.

Em outro experimento do mesmo estudo, os autores viram que as meninas mais velhas, a partir dos 6 anos, têm menos interesse em jogos que, segundo a descrição, teriam sido planejados para crianças muito inteligentes. No entanto, o interesse não variava entre os gêneros quando o jogo era apresentado como dirigido a crianças muito persistentes. Os responsáveis pelo estudo consideram que essas ideias sobre gênero e inteligência, que aparecem em uma fase inicial da infância, podem afastar as meninas das carreiras em ciência e engenharia. Um dado interessante é que tanto meninos como meninas reconhecem que elas tiram melhores notas, o que sugere que não associam essas notas com brilhantismo. Agora, os autores querem entender as origens dessas diferenças de percepção.

Fonte: El País, por Daniel Mediavilla, 02/02/2017

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Estudantes criam bactéria que come o plástico dos oceanos

Miranda Wang e Jeanny Yao 
Estudantes criam bactéria que come plástico dos oceanos e o transforma em água

A poluição dos oceanos é um problema sério  que tende a piorar. Hoje são despejados 8 milhões de toneladas de plástico ao ano nos mares – é até difícil de processar esse número -, e estima-se que, em 2050, teremos mais plástico do que peixes nas águas do planeta. Procurando uma saída, duas universitárias desenvolveram uma bactéria capaz de degradar o material.

Miranda Wang e Jeanny Yao moram em Vancouver, Canadá, e vêm trabalhando na ideia desde que estavam no colégio, possuindo hoje já duas patentes, uma empresa e cerca de U$ 400 mil dólares de investimento. Em 2013 elas já davam palestras sobre o trabalho, que vem recebendo incentivos financeiros e já ganhou cinco prêmios de inovação tecnológica, como, por exemplo, o prêmio Perlman de Ciência. 

O objetivo delas é desenvolver essa bactéria que se alimenta dos resíduos plásticos, retornando água e CO2 para os oceanos. O sistema funciona em duas etapas: na primeira, o plástico é dissolvido com o uso de solventes, depois as bactérias entram em ação. A estimativa é que cada litro de solução com bactérias possa remover nove gramas de plástico das águas.

O produto está em teste desde o ano passado, e elas esperam que ele seja viável comercialmente em até dois anos. Wang acha o plástico um material essencial e que não será deixado de lado tão cedo, por isso é necessário criar um jeito de torna-lo biodegradável. Women rock science!


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

A violência é predominantemente cometida por homens jovens no mundo inteiro.

A concentração de assassinatos cometidos por homens jovens é uma constante nos estudos do crime, afirma o professor da Universidade de Cambridge, Lawrence Sherman

Por que os homens são responsáveis por 95% dos homicídios no mundo?

A violência é predominantemente cometida por homens jovens no mundo inteiro.

Estudo sobre homicídios feito pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) e publicado em 2014 aponta que 95% dos assassinos no mundo são homens. Eles também são a maioria das vítimas de mortes violentas.

Mas por que as mulheres, que representam pouco mais de 50% da população mundial, cometem muito menos homicídios que os homens?

Acadêmicos há anos tentam buscar respostas para essa pergunta. Os achados empíricos variam e as explicações vão desde testosterona a diferentes tipos de socialização.

Uma a cada sete vítimas de homicídios em todo o mundo é jovem entre 15 e 29 anos de idade 
Caron Gentry, professora da Universidade de St Andrews (Escócia) e especialista em terrorismo e gênero, afirma que é preciso de mais informação qualitativa para compreender o que está por trás das estatísticas.

Entrevistas com mulheres que tenham cometido homicídios, diz a pesquisadora, e análise das circunstâncias das vidas dessas mulheres podem ajudar a entender o que acontece.
Eu me pergunto se há dados que não estão visíveis. Será que não se prende muitas mulheres justamente porque pensamos que elas não são capazes [de matar] ou porque os seus atos violentos são registrados de forma diferente?", questiona a pesquisadora, em entrevista à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
Cerca de 80% das vítimas de homicídio também são homens, de acordo com a ONU
Assassinos e vítimas

Os números do estudo da UNODC não variam significamente entre países nem entre regiões, independentemente do tipo de arma usada ou homicídio.
Homicídio é principalmente um problema de homens, não apenas em termos de autores, mas também das vítimas, a maioria delas envolvendo jovens menores de 30 anos", afirma Enrico Bisogno, chefe da unidade de desenvolvimento de dados da UNODC.
Relatório divulgado em março deste ano pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas sobre a evolução da criminalidade em todo o mundo indicou que cerca de 80% das vítimas de homicídio em todo o mundo também são homens.

De acordo com Bisogno, assassinatos em espaços públicos são geralmente cometidos por homens contra homens. Já na esfera doméstica, na maioria dos casos as vítimas são mulheres assassinadas por seus parceiros, ex-parceiros ou familiares.
Enquanto homens são mortos por alguém que não conhecem, quase metade de todas as mulheres mortas são vítimas de pessoas mais próximas a elas", diz a UNODC.
Faca usada por James Fairweather para matar dois desconhecidos em Essex, na Inglaterra, em 2014; estudos indicam que geralmente homens são mortos por desconhecidos
Enigma constante

Homens figurando entre a maioria absoluta das vítimas e assassinos é uma das constantes mais fortes da criminologia, diz o diretor do Instituto de Criminologia da Universidade de Cambridge, Lawrence Sherman.

Para reforçar que não se trata de uma tendência atual, Sherman cita as conclusões do historiador urbano americano Eric Monkkonnen, considerado uma autoridade sobre a história do crime.

Monkkonnen analisou ​​minuciosamente as estatísticas de homicídios em grandes cidades como Nova York e Londres. Entre 1719 e 1856, 85% dos assassinos identificados na capital inglesa eram homens. Em Nova York, foram 93% de agressores do sexo masculino quando analisadas mortes cometidas entre 1797 e 1875.

Os números de Nova York também falam muito sobre o perfil das vítimas. Em dois séculos, entre 1800 e 1999, 82,1% das pessoas assassinadas também eram homens.

Embora existam evidências de que os homens matam e morrem mais que as mulheres, as razões pelas quais isso acontece ainda podem ser consideradas um enigma a ser desvendado.

Esta foi a arma que a polícia de Nova York acredita que tenha sido usada pelo homem que matou os agentes Wenjian Liu e Rafael Ramos em 2014, no bairro de Brooklyn em Nova York. Segundo a UNODC, as armas de fogo são as mais utilizadas em homicídios
Os pesquisadores indicam que as razões podem dizer respeito aos papéis do homem e da mulher em certas sociedades, o consumo de álcool, o acesso a armas de fogo, e a tendência masculina a participar de quadrilhas e atividades do crime organizado.

Segundo a UNODC, "o consumo de álcool e drogas ilícitas aumenta o risco de cometer um homicídio. Em alguns países, mais da metade dos homicidas atuaram sob influência de álcool".
As armas de fogo são as mais utilizadas em homicídios e causam quatro em cada dez homicídios em nível mundial, enquanto um quarto das vítimas são assassinadas com facas e objetos cortantes."
A tese da testosterona

Psicólogos como Martin Daly e Margo Wilson, autores de Homicide: Foundations of Human Behavior ("Homicídio: Fundamentos do Comportamento Humano"), exploram uma "psicologia biológica evolutiva do homicídio que leva em consideração as diferenças de gênero", segundo Sherman.

Entre essas diferenças, estariam as biológicas subjacentes, incluindo a testosterona.

Em julho, o ex-atleta paraolímpico sul-africano Oscar Pistorius foi condenado a seis anos de prisão pelo assassinato de sua noiva, a modelo Reeva Steenkamp, em fevereiro de 2013. Ele sempre afirmou que a confundiu com um ladrão.
De acordo com Pueyo, a testosterona tem uma relação direta com a competitividade "e às vezes a violência é o último passo da competitividade".
O tipo de assassinato mais frequente entre os homens é o que acontece em meio a uma briga, no contexto de ócio ou de grupos que competem entre si em termos de delinquência", diz.
A final da copa europeia de 1985 é lembrada como uma das piores tragédias em um estádio. Hooligans ingleses iniciaram a violência e 39 pessoas morreram esmagadas pela multidão de pessoas que tentavam fugir. Alguns especialistas acreditam que a testosterona influencia na violência entre os homens, outros a consideram um fator irrelevante.
Apesar da péssima reputação ligada à violência, alguns estudos indicam que a influência da testosterona depende muito do contexto.

Por exemplo, um estudo de 2009 da Universidade de Zurique e da Royal Holloway London, publicado na revista Nature,apontou que o hormônio aumenta a importância dada ao status, o que para algumas espécies de animais pode significar agressividade. Mas para a espécie humana, não necessariamente.

No experimento, 120 voluntários receberam uma dose de testosterona ou de um placebo antes de iniciar negociações com a liberdade de fazer ofertas justas ou injustas. A expectativa era de que os que receberam testosterona se comportassem de maneira mais agressiva. Na verdade, eles fizeram propostas mais justas para reduzir ao máximo o risco de rejeição.

Antonio Andrés Pueyo, professor de Psicologia e Criminologia da Universidade de Barcelona, concorda que a testosterona pode ter certa influência, mas não de maneira determinante.
A testosterona parece explicar em parte, porque a maioria dos assassinatos são cometidos por homens jovens. Mas em outros casos, como por exemplo os assassinatos de companheiros, pesam outros fatores não tão biológicos", diz.
O papel da sociedade

E ele não é o único. O professor Sherman, na Inglaterra, afirma que existem fatores culturais, sociais e políticos correlacionados que incidem na imensa diferença nas taxas de homicídios cometidos por homens e mulheres.

Para a professora de Sociologia da Universidade de Harvard, Jocelyn Viterna, a socialização é um fator importante.
Várias pesquisas sociológicas demonstram que os meninos e os homens são socialmente recompensados por serem fisicamente fortes e dominantes, e socialmente ridicularizados se demonstram fragilidade ou submissão", explica à BBC Mundo a professora de Harvard.
As mulheres, por outro lado, são favorecidas socialmente por seu comportamento tranquilo, subordinado e pacífico. Há homens e mulheres que vivem para satisfazer essas expectativas."
A socialização de gênero é iniciada na infância e tem um papel chave em nossos comportamentos como adultos.
A diferença impressionante de gênero nas taxas de homicídio é, de um ponto de vista sociológico, claramente enraizado na socialização de gênero. Isso está arraigado em nossa sociedade."

Para Gentry, co-autora, com Laura Sjoberg, do livro Mothers, Monsters, Whores: Women's Violence in Global Politics ("Mães, Monstros, Putas: A violência contra as mulheres na política global"), as razões que explicam por que há uma quantidade maior de assassinos homens do que mulheres têm raízes sociais e culturais e não tanto biológicas.
As mulheres na maioria das sociedades, se não em todas as sociedades, não têm acesso igualitário ao poder. Talvez tenham acesso a armas, mas não necessariamente ao poder e à dinâmica social que lhes dão a habilidade de cometer um assassinato."
Como sociedade, diz Caron Gentry, "presumimos que as mulheres são mais pacíficas, mais gentis, mais predispostas a criar, educar".
Quando as mulheres matam

Ao falar da pesonalidade de um homicida, explica Pueyo, há dois fatores chave: sua atitude em relação à violência e sua impulsividade ou temperamento.

Ambos elementos ocorrem indiscriminadamente em homens e mulheres, "quando a pessoa o faz por vingança, ciúme, inveja ou qualquer outro motivo que acredita que justifique o homicídio", diz Gentry.

É assim que mulheres e homens podem mostrar a mesma crueldade.
Presumimos que as mulheres são mais pacíficas, mais gentis, mais dispostas a criar, educar e (como sociedade) não sabemos como reagir quando não é assim, mas as mulheres têm estado envolvidas em genocídios, as mulheres estupram, cometem atos de terrorismo, torturam", diz Gentry.
Em muitos casos, as mulheres matam para se defender ou proteger seus filhos.

No entanto, se nos concentrarmos nos infanticídios veremos que o equilíbrio do gênero dos assassinos muda, diz Pueyo. "As mulheres cometem mais infanticídios, especialmente o de bebês, do que os homens. Parece fácil a explicação: a maior responsabilidade pelo cuidado é delas."

Ao analisar os casos das mulheres que mataram seus filhos, algumas tendências são observadas.
Se as crianças são muito pequenas, menores de dois anos, geralmente as razões que as levam a matar são sociais. Por exemplo: não querem que se saiba que engravidaram ou não sabem o que fazer com o filho", diz o professor.
Na análise Child murder by mothers: patterns and prevention ("Assassinatos de crianças por mães: padrões e prevenção", em português), da Associação Mundial de Psiquiatria, os psiquiatras Susan Hatters e Phillip Resnick explicam que em muitos filicídios - quando uma mãe ou um pai mata o próprio filho - as mães falam em "motivos altruístas". Muitas dessas mulheres têm transtornos mentais.

Os neonaticídios acontecem quando o bebê é assassinado nas suas primeiras horas de vida e em quase todos os casos são cometidos por "mães jovens, solteiras, que não desejavam engravidar e não receberam cuidados pré-natais".

Em 2004, homens e mulheres mascarados, alguns deles com cinturões de explosivos, invadiram uma escola na cidade russa de Berlan, abriram fogo e tomaram mil pessoas como reféns. Três dias depois, o sequestro terminou em massacre: 331 pessoas morreram, 186 delas crianças. A foto acima mostra o resgate.
Mas seria presunçoso tomar conclusões determinantes sobre os motivos pelos quais os homens cometem mais homicídios do que as mulheres porque, como advertem os especialistas, cada homicídio corresponde a uma situação específica que é influenciada por vários fatores.


"Mulheres terroristas são raras, mas existem. Homens que matam bebês são raros, mas existem. Nenhum comportamento relacionado a homicídio é exclusivo de um gênero", diz Pueyo.

Fonte: BBC Mundo, por Margarita Rodriguez, 24/10/2016

Ver também 70% das mulheres sofrem algum tipo de agressão durante suas vidas cometida por homens 

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Rússia quer descriminalizar violência doméstica

Rússia:Os defensores do projeto dizem acreditar que agressões “moderadas”
são importantes para a sustentação de valores “tradicionais" (Getty Images)

Rússia está prestes a descriminalizar violência doméstica

Todo ano, mais de 12 mil mulheres são mortas pelos próprios maridos no país
Imagine isto: uma mulher apanha de seu marido e presta queixa, fazendo com que ele tenha de pagar uma multa. Ele paga com o dinheiro da família, vai para casa e grita com ela por ter reclamado.Você pode ter certeza que, na próxima vez, ela só vai tentar esconder suas cicatrizes e roxos, e não vai reclamar”, conta Alena Popova, ativista russa, ao jornal britânico The Guardian.
Na Rússia, a chamada “lei do tapa” pode fazer dessa situação hipotética uma realidade, descriminalizando a violência doméstica muito em breve. Na última semana, o parlamento do país já aprovou esta mudança.

Os defensores do projeto – conservadores do partido de Vladimir Putin -, dizem acreditar que agressões “moderadas” são importantes para a sustentação de valores “tradicionais”.

De acordo com a nova lei, será necessário haver, no período de um ano, mais de uma agressão ao mesmo membro de uma família para que isto seja considerado um crime.

Caso contrário, não passará de uma “ofensa administrativa” ou contravenção – uma forma de dizer que, além de não ser penalizado, o indivíduo recebe uma penalização mais branda.

De acordo com a agência estatal de notícias RIA Novosti, todo ano 12 mil russas morrem por conta da violência doméstica. No país, há uma expressão que diz que “se ele te bate, é porque ele te ama”. O avanço da nova lei comprova como esse tipo de discurso é difundido – e o quanto ele pode ser perigoso.

No site change.org, Popova organizou uma petição contra a mudança na lei. Até agora, ela já conta com quase 200 mil assinaturas.

Fonte: Exame, 24/01/2017

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