8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

True Blood: Vampiros lutam por direitos como os homossexuais!


Vampiros sempre existiram na imaginação das pessoas bem antes de Bram Stoker ter lançado o clássico do gênero, o seu famoso Drácula, em 1897. Mas foi com o livro de Stoker que o vampirismo fez escola e nunca mais saiu de cena.

Geralmente associados ao mal, mas também à sexualidade, os vampiros, contudo, têm apresentado, com o passar dos anos, cada vez mais características humanas, dilemas existenciais, crises éticas.

A bem da verdade, o próprio Drácula saiu da Transilvânia para Londres, num laivo de romantismo angustiado, em busca da reencarnação de seu amor perdido, Mina, que o destino havia lhe tirado ainda bem jovem. O problema é que o Conde, em sua trajetória, vai chupando deus e todo mundo, deixando literalmente muitos mortos e mortos-vivos pelo caminho.

A saga do Conde rendeu também inúmeros filmes de terror B, C, mas também A, além de filmes de terrir (como o ótimo Dança dos Vampiros do Polanski), e os atores que representaram o vampiro-mór, como Bela Lugosi, Christopher Lee, Jack Palance, Gary Oldman, entre outros, entraram para a história.

A saga do Conde inspirou ainda muitos outros escritores a criarem seus vampiros, variantes do clássico, com alguns diferenciais. Em tempos mais recentes – como já disse – os vamps passaram a ter crises existenciais, éticas, culpa por matarem humanos inocentes, como o vampiro Louis de Entrevista com o Vampiro, de Anne Rice, ou mesmo revolta contra a própria espécie, como o vampiro negro Blade, que sai caçando seus iguais.

Com o avanço da ciência – que não conseguiu desacreditá-los – e o advento dos hemocentros e dos sangues sintéticos, os mais modernos puderam se abster totalmente de sangue fresco ou mesmo humano, preferindo controlar seus instintos e até interagir com suas antigas presas. Mais do que isso, deram para se apaixonar por humanos, em alguns casos sendo capazes de consumar a paixão, em outros não.

No seriado de TV Moonlight, recentemente exibido pela Warner, o vampiro Mick, que até pode andar – mais ou menos – à luz do sol, se apaixona por uma jornalista, que descobre sua identidade e o acompanha na resolução de casos, embora o amor entre eles apareça como uma impossibilidade. No filme Crepúsculo, sucesso de bilheteria atual, em cinemas do mundo todo, o casal teen composto por um vampiro e uma mocinha vive suspirando seu amor platônico para gáudio da platéia.

E agora, no dia 18 de janeiro, estreou pela HBO, a série True Blood, onde os vampiros não só dispensam o sangue humano por um sangue sintético inventado pelos japoneses (ah, esses japoneses!), como também interagem com os humanos, apaixonam-se por eles e – sim - consumam a paixão por meio de um sexo selvagem que literalmente tira sangue de seus pares.

Mais do que isso, os vampiros querem seu lugar à lua, como os humanos querem ao sol, organizam-se em grupos vampirescos e reivindicam direito ao amor, ao casamento e à propriedade privada, que não são bestas.

Vulneráveis à prata, são imobilizados por traficantes de drogas, que drenam seu sangue, de incríveis poderes reabilitadores e afrodisíacos, e o vendem para humanos viciados, que ficam pra lá de doidões com a nova droga, chamada True Blood. São também vítimas de muitos preconceitos dos humanos que os temem e os rejeitam e os consideram de cara os principais suspeitos quando surgem crimes misteriosos.

A analogia com a luta homossexual é muito grande. Na introdução de cada episódio, em uma das cenas aparece um cartaz onde se lê God hate Fangs (Deus odeia vampiros), uma paródia dos homofóbicos cartazes dos fundamentalistas cristãos onde se constuma ler God Hate Fags (Deus odeia homossexuais). No último episódio do dia 25/01, em um programa de televisão, um pregador evangélico aparece desconjurando a representante da associação dos vampiros que reivindica direitos para sua comunidade.

Ambientado numa cidade interiorana da Louisiana, Bon Temps, True Blood na verdade fala da dificuldade enorme que a sociedade tem para lidar com os diferentes. De quebra, traz um caliente romance entre a garçonete médium Sookie (Anna Paquin, de X-Men) e o vampiro Bill (Stephen Moyer).

Muito bem feita em termos técnicos e de conteúdo, a série de Alan Ball, um dos idealizadores de A Sete Palmos, promete muitas emoções. Abaixo, vídeo com cenas de amor entre Bill e Sookie.

HBO, aos domingos, 22:00

domingo, 25 de janeiro de 2009

Feliz aniversário, São Paulo!


Berço do movimento homossexual no Brasil, berço sobretudo da organização lésbica brasileira, berço da primeira manifestação lésbica contra o preconceito em nosso país, berço da primeira caminhada lésbica, São Paulo é a cidade do meu coração, ainda que tenha nascido em outra cidade maravilhosa.

Tudo em São Paulo é grande, seu tamanho, sua pujança, seus problemas. Mas a maior grandeza de Sampa é mesmo sua diversidade, de povos, de culturas, de etnias, e sobretudo sua eterna capacidade de se abrir para inúmeras possibilidades, oportunidades.

Para você, minha bela-feia, minha bela-fera, em homenagem aos seus 455 aninhos, seu hino feito por alguém que - como eu - veio de outro sonho feliz de cidade, mas soube lhe traduzir como ninguém daqui mesmo.

Sampa, Caetano Veloso



Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas

Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes

E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Vestido de Michelle Obama quase ofusca discurso do marido


Na terça-feira, dia 20, ocorreu a tão aguardada cerimônia de posse de Barack Obama, o primeiro presidente negro americano. Considerando a história pregressa dos negros nos Estados Unidos, marcada por virulento racismo, Obama ter chegado à presidência da maior potência mundial é, sem dúvida, um feito histórico sem precedentes.

Há mais ou menos 60 anos, os negros americanos nem sequer podiam sentar lado a lado com brancos em ônibus, havia lugares só para brancos e só para negros, universidades eram vetadas aos negros. Negros ainda tinham problemas para votar, e casar com brancos era proibido por lei. Aliás, o racismo nos EUA, ao contrário do Brasil, era inclusive institucional.

Então, claro, diante de tal quadro, a posse de Obama não poderia deixar de ser emocionante ainda que só pela questão racial. Fora isso, Obama aparece com um discurso progressista, preocupado com direitos humanos e meio-ambiente, em flagrante contraste com seu antecessor George W. Bush, a pior persona política que o mundo viu nos últimos anos, belicista, vilão ambiental, contrário a tudo que a maioria de nós considera como o necessário para um mundo melhor.

Assim, foi inevitável verter algumas lágrimas na cerimônia de posse de Obama. Não pensei, contudo, que fosse inevitável também dar umas risadas. Ao contrário dos europeus, os americanos em geral (há exceções, claro) nunca primaram exatamente pela elegância de modos e trajes. A breguice sempre os assediou, e não falo só dos adeptos da country music, dos caipiras da terra do tio Sam. É uma espécie de característica nacional na qual volta e meia algum deles resvala, sobretudo aqueles deles do sexo feminino...rsss

Michelle Obama não se fez de rogada e manteve a tradição. Apareceu num modelito amarelo-limão, meio-bordado, acompanhado de luvas e sapatos esverdeados de arribombar o malho. As filhas também estavam vestidas com cores vibrantes, mas, em crianças, a gente entende. Mesmo a mulher do vice-presidente que apareceu com um casaco vermelhão e botas pretas de fazer o gáudio da galera de clubes fetichistas, não pôde superar em visibilidade (rsss) a primeira-dama.

Agora, mais engraçado que o vestido da Michelle, só mesmo os comentários que ele gerou. Preocupados em manter a pompa e a circunstância e movidos pela simpatia provocada pelo casal Obama, a imprensa nacional abriu o baú dos eufemismos e largou brasa em frases como “o vestido luminoso de Michelle”, “o vestido reflete a personalidade forte de Michelle”, “o amarelo do vestido reflete a esperança”, além de paradoxos como “a elegância acintosa de Michelle”.... hehehe. Houve inclusive quem se irritasse com as críticas sobre o estilo luminoso da primeira-dama e visse nelas um velado racismo.

Tudo isso me fez lembrar o velho conto do Andersen, A roupa nova do rei, onde dois vigaristas se fazendo passar por estilistas, conhecedores da vaidade ilimitada do soberano de plantão, convencem-no que o estão vestindo com um tecido tão diáfano e chique que é como se fosse invisível. O monarca, não querendo parecer fora de moda, se auto-ilude de que está usando algo muito fashion e vai inclusive desfilar em público... pelado. Todos os súditos, não querendo contrariar sua majestade, fazem vista grossa diante da nudez real e participam da pantomima até que um menino – com a sinceridade típica da infância – olha para sua majestade e exclama a célebre frase: “ O rei está nu.” Quebrado o encanto, todos passam a gritar o mesmo para desespero da realeza.

Pois, é. Sou como aquele menino. Também morro de simpatia pelo casal Obama e desejo a ambos sucesso em sua difícil empreitada, mas o vestido de Michelle foi uma das coisas mais feias que vi na vida, não importa se feito pela mais cotada estilista cubana-americana do momento, custando os tubos, ou se comprado diretamente na notória grife DASPU...rsss

E que me perdoem as leitoras e leitores esse post-chiste, mas é que rir ainda é o melhor remédio. Continuo rindo.

domingo, 18 de janeiro de 2009

E - afinal - a Catarina ficou com a Stella?

O autor de A Favorita, João Emanuel Carneiro, depois de gravar a despedida de Stella e Catarina, com Stella assumindo a paixonite não correspondida pela amiga, e tudo terminando em lágrimas e abraços e exclamações de futuras saudades pra cá e pra lá, mudou de idéia ao fim e ao cabo e, no último capítulo da novela, botou as duas indo juntas para Buenos Aires.

Stella diz para a amiga que estava feliz por ela ter aceito o convite para viajar, Catarina diz que era tudo influência dela (Stella) estar indo tomar avião, etecetera... Uma conversa meio mole, meio sonsa, aparentemente ainda só de amigas, mas, considerando o papo ocorrido quando Stella assumiu seu amor por Catarina, sem dúvida pelo menos ambígua.

Aí já não dava mais para a Catarina dizer que não sabia com quem estava se metendo, né? Se eu fosse a Stella, encararia a mudança súbita da situação com muitas esperanças. E você como se sentiria?

E como viu esse final feliz meia-boca entre as duas?

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Ne me quitte pas, ainda na onda de Maysa, quando fala o coração!

Ainda na onda da Maysa redescoberta, Ne me quitte pas, com tradução!

E o autor do livro Maysa - Só numa multidão de amores, Lira Neto, no qual é baseada a minissérie, está metendo o pau no roteiro da versão televisiva da trajetória da diva.

Diz que 90% do que a gente tá vendo é pura ficção. Mandaram a personagem histórica pro espaço, reduziram-na a uma menina mimada e autodestrutiva, tirando o caráter do seu drama existencial.

Fora distorções históricas importantes como omitir que Maysa foi, apesar de rainha da fossa, e não apenas por causa de Boscôli, que também não era tão cafajeste como retratado na minissérie, uma das primeiras cantoras brasileiras a gravar bossa-nova já em 1957.

Se Lira Neto está querendo vender seu livro que, lançado em abril de 2007, também está bombando mais do que nunca, fez o marketing certo. Licença poética a gente entende, mas, quando a distorção histórica é grande, me dá o maior bode. Daí que lá vou eu comprar o livro. Aliás, em um dos posts do blog do livro, uma entrevista com o jornalista Lira Neto, para a International Magazine, registra-se a razão porque Maysa já mereceu 2 posts por aqui. Vale a pena ler a entrevista. Cito:

"Maysa está de volta à cena em biografias e discos tributos. Trinta anos após sua morte, a cantora e compositora que desafinou do coro dos contentes de seu tempo é relembrada por sua voz, suas composições e, principalmente, por sua personalidade. O livro Maysa: Só numa multidão de amores, do jornalista Lira Neto, é um dos responsáveis pelo retorno dessa mulher/mito que teve seus imensos olhos verdes descritos pelo poeta Manoel Bandeira como "dois oceanos não pacíficos".
Segue também a letra de Ne me quitte pas.



Ne Me Quitte Pas
Jacques Brel
Composição: Paroles et Musique: Jacques Brel 1959

Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit déjà
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
À savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
À coups de pourquoi
Le coeur du bonheure
Ne me quitte pas (x4)

Moi je t'offrirai
Des perles de pluie
Venues de pays
Où il ne pleut pas
Je creuserai la terre
Jusqu'après ma mort
Pour couvrir ton corps
D'or et de lumière
Je ferai un domaine
Où l'amour sera roi
Où l'amour sera loi
Où tu seras reine
Ne me quitte pas (x4)

Ne me quitte pas
Je t'inventerai
Des mots insensés
Que tu comprendras
Je te parlerai
De ces amants là
Qui ont vu deux fois
Leurs coeurs s'embrasser
Je te raconterai
L'histoire de ce roi
Mort de n'avoir pas
Pu te rencontrer
Ne me quitte pas (x4)

On a vu souvent
Rejaillir le feu
De l'ancien volcan
Qu'on croyait trop vieux
Il est paraît-il
Des terres brûlées
Donnant plus de blé
Qu'un meilleur avril
Et quand vient le soir
Pour qu'un ciel flamboie
Le rouge et le noir
Ne s'épousent-ils pas
Ne me quite pas (x4)

Ne me quite pas
Je ne veux plus pleurer
Je ne veux plus parler
Je me cacherai là
À te regarder
Danser et sourire
Et à t'écouter
Chanter et puis rire
Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L'ombre de ta main
L'ombre de ton chien
Ne me quitte pas (x4)

sábado, 10 de janeiro de 2009

A ética do outing: Quando é válido assumir os outros!

Coming out of the closet é a expressão em inglês que, na tradução para o português, virou o célebre sair do armário. Sair do armário é quando uma pessoa decide assumir sua homossexualidade ou qualquer outra preferência sexual não-ortodoxa publicamente.

Outing, por sua vez, é a expressão também em inglês que designa o ato de tirar alguém do armário à revelia. Ação política controversa, pois implica expor a privacidade alheia, ela divide opiniões em sua aplicação, mas vem sendo utilizada cada vez mais em todo o mundo.

Para alguns ativistas LGBT, o outing deveria ser feito com todos os enrustidos, pois eles contribuem pouco ou nada para o avanço dos direitos humanos LGBT, embora se beneficiem imensamente dos ganhos conquistados pelos que tiveram a coragem de se assumir.

O argumento é consistente, mas esbarra no fato de que as pessoas dependem de empregos para sobreviver, e a homossexualidade, ou qualquer outra atividade sexual diferente da heteronormalidade tradicional, pode ainda ser motivo de demissão no trabalho, pode criar problemas na relação da pessoa com a família e mesmo em seu círculo pessoal de socialização.

Por essa razão, o outing indiscriminado, mesmo de celebridades, não costuma ser bem aceito. Prefere-se incentivar as pessoas a que se assumam espontaneamente no seu ritmo de autoaceitação para que o sair do armário se dê com o mínimo de problemas em relação ao entorno de cada um(a).

Entretanto, há uma variante do outing que tem ganho cada vez mais adeptos: o outing de pessoas que, embora pertencentes a minorias sexuais, atuam contra os direitos dessas minorias ou contra membros dessas minorias, por razões pessoais egoístas, como ascender na carreira, ou para prejudicar um desafeto.

Nesses casos, o outing é não só moralmente justificável como necessário. Ao não fazê-lo, principalmente contra gente influente, permite-se que essas pessoas continuem agindo em prejuízo da comunidade ou dos indivíduos aos quais atingem diretamente. O silêncio e a inação da comunidade em relação a essas pessoas torna a todos cúmplices de suas atitudes hipócritas e deploráveis. Pelo contrário, ao assumi-las, encoraja-se pelo menos algumas delas a pensar duas vezes antes de repetir as mesmas ações no futuro.

Concordo inteiramente com essa última perspectiva. Pior do que os que lutam contra nossos direitos, não sendo da comunidade, só mesmo os que, sendo do meio, atuam contra os interesses coletivos ou contra membros da comunidade por razões mesquinhas.

Obviamente, não se fala aqui de pessoas que são discretas simplesmente, reservadas, e não ficam levantando bandeira a toda hora e em todo o lugar. Essas pessoas agem naturalmente, não escondem que são LGBT mas também não ostentam, não podendo, portanto, ser classificadas como “no armário” muito menos como traidoras da causa.

Fala-se aqui de enrustidos que chegam ao ponto de difamar e perseguir outros membros da comunidade enquanto secretamente continuam mantendo relações não-heterotradicionais. Estes devem ser assumidos para expor sua hipocrisia e destruir sua má influência.

O outing às vezes é mal-visto porque utilizado também por pessoas sem princípios que invadem a privacidade alheia para faturar com matérias sensacionalistas ou para simplesmente prejudicar alguém. Principalmente celebridades costumam sofrer com a imprensa marrom que não mede esforços para divulgar detalhes picantes da vida íntima de artistas, políticos e gente influente em geral.

Nesse quesito, não só a homossexualidade de alguns mas também o fetichismo de outros são um prato cheio para os escândalos. Em março do ano passado, o presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), Max Mosley, foi vítima desse tipo de ação antiética. Um vídeo, em que ele aparece em cenas sadomasoquistas de temática nazi com algumas mulheres, foi divulgado na Internet, pelo tablóide inglês News of The World, e virou um escândalo total.

Mosley foi várias vezes ameaçado de demissão e afirmou que a revelação devastou sua família. De qualquer forma, conseguiu dar a volta por cima, assumiu suas preferências e até conseguiu processar o jornal por invasão de privacidade. Segundo o presidente da FIA, a divulgação das imagens foi obra de alguém da área do motor a fim de desestabilizá-lo.

Naturalmente, o outing político nada tem a ver com esse tipo de ação mercantilista e de má-fé. Ele é estritamente destinado aos hipócritas que, embora membros de uma comunidade estigmatizada, usam dos estigmas que a afetam para atacar indivíduos dessa mesma comunidade ou para, ao combater a luta pelos direitos dessa comunidade, usufruir de benesses pessoais. O outing dessas pessoas é, nessas circunstâncias, como afirma o ativista Peter Tatchell, da aguerrida organização inglesa OutRAge, a quem devo muitas das idéias desse artigo, uma potente técnica de autodefesa queer.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Maysa, Quando Fala o Coração

A minissérie Maysa, Quando Fala o Coração, está bombando no IBOPE. Não pude deixar de segui-la, como a maioria (É, de vez em quando, eu me afino com a maioria), e curtir a trajetória dessa mulher tão intensa, bela e sofrida.

Ainda não tenho uma avaliação bem clara da série, pois está em seus primeiros capítulos, mas venho apreciando a história. Alguns atores me parecem um pouco empostados, dando um ar de documentário à série mais do que de narrativa dramática simplesmente.

A Larissa Maciel, que interpreta Maysa, me pareceu também um pouco forçada a princípio, mas agora, já no quarto capítulo, acho que começou realmente a encarnar a diva. Só seus esforços para emular a cantora já valem um bom conceito. Deve ter ficado muito tempo (dizem que 8 meses) assistindo os vídeos da Maysa para imitar seus trejeitos.

Mas eu não sabia que a Maysa, além de beber que nem um gambá (de onde saiu essa expressão?), armava também tantos escândalos e barracos. Já andam dizendo que ela foi a versão alcoólica e brasileira da Amy Winehouse...rsss que também capricha na maquiagem carregada nas pálpebras.

O fato é que a mulher emplacou muitos sucessos dor-de-cotovelo e de fossa, como se dizia, deixando indeléveis, na memória coletiva, os hits Ouça e Meu Mundo Caiu. Como não há nesse mundo quem, em fase adulta, não tenha curtido uma dor de amor, dá para entender o porquê do sucesso de ontem e de hoje da cantora.

Historicamente falando, a aproximação da Maysa da bossa nova, via o amante Ronaldo Bôscoli, também é interessante de se ver. A bossa nova vai desanuviar os ouvidos e a paisagem da música brasileira. Tudo fica light, mesmo quando a letra tem tom menor. A imagem da mulher passa de fatal destruidora de homens, dos sambas-canção do Lupicínio e outros, à musa (olha que coisa mais linda, mais cheia de graça...), o amor perde as tintas carregadas e os fins-de-caso não dão mais vontade de se pendurar no lustre.

Mas os anos 50, 60 e 70, de diferentes formas, foram mesmo as décadas do excesso, bossa-nova à parte. Era como se muita energia reprimida tivesse explodido em muitas contravenções, contraculturas, rebeldias meio autofágicas de toda uma coletividade. Maysa foi apenas um de seus produtos de boa qualidade. É bom revê-la e ouvi-la de novo, como no vídeo abaixo, quando esteve no Japão, cantando Manhã de Carnaval.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Baila Comigo: Dança de Salão para o público LGBT

Conheci Giovane Salmeron durante as comemorações do Dia do Orgulho Lésbico (19 de agosto) de 2006, quando ele ministrou uma aula de dança de salão para as participantes do evento, introduzindo-as nos primeiros passos do mambo e do bolero, culminando com um arretado forró. Após uma hora e meia de bailado, todas estavam suadas e exaustas, mas com sorrisos radiantes pela dinâmica e a diversão da atividade.

Em outubro de 2008, Giovane abriu seu próprio espaço em São Paulo onde também desenvolve o projeto Duco et Ducitur (do latim “conduzo e sou conduzido”) para o público LGBT. Como ele disse - e eu concordo -, "A Dança, enquanto prática social, nos dá a sensação de pertencimento e estabilidade de que tanto precisamos e merecemos."

Entrevistei Giovane para o site da Um Outro Olhar e convido a tod@s para ler a entrevista:
http://www.umoutroolhar.com.br/entrevistas_bailacomigo.htm

domingo, 4 de janeiro de 2009

A revolução do garfo: uma revolução sem sangue!

Nos últimos anos, na América Latina, temos tido a ascenção dos populismos de esquerda, daquela esquerda tradicional, arcaica, que acredita em revolução comunista, socialista e ditaduras do proletariado. Daquela esquerda que, nos países em que se instalou, no século passado, produziu regimes totalitários e milhões de mortos nas suas chamadas revoluções.

O vídeo abaixo, contudo, fala de um outro tipo de revolução: da revolução do garfo, sem uma gota de sangue. Uma revolução acessível a cada um(a) de nós, bastando um pouco de consciência e compaixão. Poderíamos dizer: mude sua alimentação e salve o planeta!

A proposta vegetariana hoje se baseia em 3 pilares:

1) a questão ética (ou comer com o mínimo de crueldade):
Se nós, seres humanos, não somos carnívoros e sim onívaros, ou seja, comemos de tudo, podendo viver sem carne, temos o direito de matar animais para produzir alimento, considerando o imenso sofrimento que tal escolha causa a seres que, como nós, tem frio, tem fome, tem medo?

2) a questão da saúde:
O ciclo natural de vida dos animais de abate é totalmente detonado, pois eles não são vistos como seres vivos e sim produtos. São obrigados a ingerir hormônios e antibióticos, entre outras coisas, vivem confinados e sofrem barbaridades até serem mortos. Quem come carne ingere todas essas drogas e todo esse sofrimento.

3) a questão ambiental:
Para criar pasto para os animais de abate e para produzir alimento para eles, milhares de hectares de floresta virgem são derrubados, destruindo o habitat natural de várias espécies, o que também contribui com o aquecimento global. O que se produz de comida, para alimentar o gado, daria, se fosse fornecido diretamente aos humanos, para acabar com a fome no mundo. Esses animais, com suas fezes, também poluem o solo e as águas e até com seu puns afetam a camada de ozônio.

Já há quem diga que, para ter um futuro, a humanidade terá que compulsoriamente deixar de comer carne, pois o planeta não aguentará por muito tempo o sistema de alimentação que temos atualmente.

Não precisamos esperar por esse dia. Podemos começar essa revolução agora, mudando progressivamente nossos hábitos alimentares. O vídeo abaixo fala um pouco de tudo isso com mais propriedade.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Passado, presente, futuro!

Me interessei pelo Budismo tempos atrás - já faz um tempo – meio por acaso meio por destino (quem sabe?). O primeiro mel que atraiu a abelha existencialmente indagadora foi o filme O Pequeno Buda, do Bertolucci. À parte a beleza do filme em si mesmo – que recomendo - e mais do que a trajetória "maravilhosa" do Sidarta Gautama, do nascimento à Iluminação, o que mais me impressionou foi a forma como morre o monge tibetano, que busca, no roteiro, em algumas crianças, seu mestre renascido.

Ele vinha doente e tinha como sua última missão encontrar a criança em que reconheceria seu mestre. Como o mestre era brincalhão, 3 crianças mostraram suas características, e o monge as apresentou (as crianças), em seu monastério, como o lama renascido. Cumprida sua missão, ele sentou para meditar e se foi, sem drama, como se estivesse apenas dormindo.

Fiquei impressionada, pensando se realmente alguém poderia morrer assim, tão placidamente. Tempos depois comprei um livro chamado Conhecimento da Liberdade, sem reparar que era de outro monge tibetano. Gostei do livro, das questões que abordava e me dei conta, ao fim, de que as idéias levantadas pelo autor refletiam sua formação budista. Curiosa, passei a ler sobre o Budismo, suas diferentes escolas, e, por fim, acabei indo parar num templo Zen no bairro da Liberdade, em São Paulo capital, por indicação de uma conhecida.

E foi com o Zen que acabei me relacionando mais intimamente, apesar de inúmeras idas e vindas, intermitências que por certo não contribuíram para minha imagem na avaliação da mestra. Apesar de discípula um tanto indisciplinada do zen-budismo (o que não deixa de ser uma ironia), as idéias budistas calaram fundo em minha mente e mudaram muita coisa na minha maneira de ver o mundo, a sociedade, as pessoas, a vida.

Mais para ser vivido do que entendido, o Zen é prático, não teórico, tanto que busca desligar o piloto automático, em que a maioria de nós leva a vida, não só através da meditação propriamente dita mas também da sacralização de todo o cotidiano. Sua proposta, como a de todo o Budismo, é de que se viva a vida aqui e agora porque o presente é o único tempo real de que dispomos. Fácil de dizer, dificílimo de fazer, tal proposição encerra, contudo, uma sabedoria que se aplica a todo mundo, independente de sexo, etnia, orientação sexual ou seja qual for a especificidade.

Por isso, para começar o ano, resolvi transcrever aqui uma das anedotas filosóficas Zen (que é pródigo nelas) que mais expressam essa verdade, verdade que, se apreendida, poderá fazer de nossos 2009 um ano bem melhor do que os anteriores.

Um dia, caminhando pela selva, um homem encontrou um tigre feroz.

Ele correu, mas logo chegou à beira de um penhasco. Descendo por um cipó, viu outro tigre lá embaixo.

Então apareceram dois ratos e começaram a roer o cipó...
Subitamente, ele viu um morango maduro e apetitoso.

Ele o colheu e colocou na boca...

Delicioso!

Não viva no passado. Não se preocupe com o futuro. Aproveite o momento. Ser feliz é agir conforme as circunstâncias, sejam elas quais forem.
Feliz 2575!

Imagem e texto: Zen em Quadrinhos, Tsai Chih Chung, Ediouro, 3 edição.

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