8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Kassab: melhor negócio que Judas fazes tu, Joaquim Silvério!

Melhor negócio que Judas fazes tu, Joaquim Silvério....
Não que seja novidade, pois, ao largar a prefeitura de São Paulo meio de lado para criar seu partido, o PSD, posteriormente dar terreno para Lula e outras cositas mais, Gilberto Kassab já estava paparicando o PT com vistas ao seu (dele) futuro político. Apoiou Serra em função de seus compromissos pessoais com o tucano, apoio aliás mais danoso para a candidatura do que o de Maluf a Haddad, pois sua gestão foi  um dos pontos mais atacados pelo petista. 

Mal eleito Haddad, porém, Kassab já perdoou as críticas, mudou de lado e ordenou à bancada psdista na câmara que vire situação, passando agora a receber elogios dos petralhas e elogiando-os igualmente. Sonha com ministérios de polpudos orçamentos para fazer seu pé de meia em Brasília. Até regateia: "quero o ministério das Cidades, no mínimo o dos Transportes".

Tanta baixeza me fez lembrar do célebre Romanceiro da Inconfidência, da Cecília Meireles, em seu Romance XXXIV, uma homenagem aos traíras de todos os tempos. Destaco o verso: "Pelos caminhos do mundo, nenhum destino se perde: há os grandes sonhos dos homens e a surda força dos vermes." 

Mas todo o Romance XXXIV vale a leitura pois é lindo! Para desopilar um pouco o fígado que não esta fácil filtrar tantas substâncias tóxicas ao mesmo tempo.

Romance XXXIV ou de Joaquim Silvério

Melhor negócio que Judas
fazes tu, Joaquim Silvério:
que ele traiu Jesus Cristo,
tu trais um simples Alferes.

Recebeu trinta dinheiros...
-- e tu muitas coisas pedes:
pensão para toda a vida,
perdão para quanto deves,
comenda para o pescoço,
honras, glória, privilégios.
E andas tão bem na cobrança
que quase tudo recebes!

Melhor negócio que Judas
fazes tu, Joaquim Silvério!
Pois ele encontra remorso,
coisa que não te acomete.

Ele topa uma figueira,
tu calmamente envelheces,
orgulhoso impenitente,
com teus sombrios mistérios.

(Pelos caminhos do mundo,
nenhum destino se perde:
há os grandes sonhos dos homens,
e a surda força dos vermes.)

(Cecília Meirelles, Romanceiro da Inconfidência.)

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Os conservadores brasileiros não são o Tea Party e o PSDB não é o Partido Republicano - Capítulo final da saga “O desastrado kit gay”

Esta imagem é mera montagem para ilustrar o tema do post
Eu já havia falado sobre o desastrado discurso de Serra a respeito do apelidado “kit gay” antes de grão-tucanos, como FHC, manifestarem seu desacordo com o que chamaram de flerte de Serra com setores conservadores e antes do próprio núcleo político da campanha do tucano ter dito que ele "demorou demais" para minimizar o debate sobre o kit anti-homofobia, no qual sequer deveria ter entrado. (Falo hoje pela última vez sobre esse tema).

Aliás, escrevi três textos sobre o assunto, sendo dois podcasts: A encruzilhada de Serra ou os Conservadores precisam de um partido para chamar de seu; No meio do caminho tinha um kit gay. Tinha um kit gay no meio do caminho!; Cartilha de Serra também pode ser considerada “doutrinação para o homossexualismo. Lamentei muito ter que fazer essas considerações de público porque sabia que seriam utilizadas por petistas contra o tucano, mas não dava para ficar de boca fechada diante da gritante contradição em que entrou o candidato em prejuízo de projetos importantes de combate a preconceitos em ambiente escolar.

José Serra é um dos políticos com maior histórico em prol da população LGBT no Brasil, incluindo aí um projeto de combate a diversos tipos de discriminação para ser usado em escolas. Entre essas discriminações se inclui o trabalho contra a homofobia, com abordagem conceitual semelhante à do Escola sem Homofobia (grotescamente chamado de kit gay) que o candidato decidiu criticar para fazer média com conservadores e atingir seu rival Fernando Haddad. 

Ao fazê-lo, Serra se mostrou incoerente com sua própria trajetória política e afastou muitos de seus eleitores tradicionais que obviamente nunca foram conservadores. Eu mesma só votei nele porque não poderia em sã consciência deixar de tentar impedir o PT de chegar à prefeitura de São Paulo. Meu voto foi pela cidadania, contra a tirania. Entretanto, praticamente não divulguei sua candidatura. Me limitei a questionar a competência e a probidade de Haddad, já bem conhecidas por sua passagem pelo Ministério da Educação e por fazer parte do partido do mensalão. Sua “gestão” será – salvo milagre - um desastre para a cidade, sem falar em outras possíveis consequências futuras. 

O argumento contrário ao “kit gay” é ilógico até da perspectiva conservadora

Até hoje, contudo, não me conformo com a estupidez do tucano de ter-se metido a criticar o tal kit gay para fazer média com conservadores. Se ele ao menos tivesse criticado o formato do projeto, o cabide de emprego para a militância LGBT petista que o projeto se tornaria, mas não, o parvo saiu a criticar logo o conceito do mesmo ao dizer que o Escola sem Homofobia “não ensinava e sim doutrinava para o homossexualismo”, ecoando o discurso retrógrado de gente como o pastor-vigarista Silas Malafaia, o troglodita deputado Jair Bolsonaro, o colunista de Veja, Reinaldo Azevedo, e outros anônimos de igual teor. Isso quando ele próprio, Serra - repetindo - já aprovara projeto de igual conteúdo.

Esse discurso de que se pode “ensinar homossexualismo” é ilógico até do ponto de vista conservador. Os conservadores costumam apregoar que a única sexualidade normal, natural, é a heterossexualidade. Então, como seria possível “ensinar homossexualismo”, considerando que o que é dado pela natureza não é passível de alteração por aprendizagem? Só se pode ensinar algo a um ser (humano ou animal) se este tiver (potencialmente) a capacidade para o aprendizado dado. Pode-se ensinar muitas coisas a um cachorro, dependendo de suas potencialidades, mas não se pode ensinar um cão a miar porque isto contraria a natureza do bicho. Ele não tem capacidade para tal. Não há como ter êxito nessa insana empreitada.

Assim, contraditoriamente, quando os conservadores afirmam que é possível se “ensinar o homossexualismo” em escolas, eles reconhecem que a homossexualidade faz tão parte da natureza humana quanto à heterossexualidade, que todos somos potencialmente bissexuais, tanto que temem que a simples visão de materiais, escritos ou audiovisuais, sobre homossexualidade, possa despertar esse lado reprimido de seus filhos (vão virar bichas, sapatões). Em suma, não é lógico afirmar que a (hetero)sexualidade é a única normal e natural e, ao mesmo tempo, que é possível se “ensinar homossexualismo”. Uma afirmação nega a outra. Na verdade, incoerências como essa surgem sempre quando o que dizemos se baseia em preconceitos e não na razão.

De qualquer modo, obviamente, esses projetos de combate à homofobia na escola visam de fato apenas trabalhar os preconceitos inculcados na cabeça dos jovens por seus pais e evitar que esses jovens se tornem molestadores de outros garotos e garotas diferentes por qualquer razão, impedindo estes útimos de terem a educação necessária para ascender na vida. Essa conversa de “ensinar homossexualismo” é viagem de gente de boca grande, mau hálito e papo furado. 

Os conservadores brasileiros não são o Tea Party e o PSDB não é o Partido Republicano dos EUA 

Agora falando do aspecto político-partidário da questão, como eu disse em meus outros artigos sobre o assunto, me impressionou e me impressiona muito a arrogância e a prepotência desses conservadores. Botaram na cabeça que são o Tea Party brasileiro e o PSDB, o Partido Republicano, e acham que podem transformar a sigla dos tucanos num partido para chamar de seu. 

Entretanto, para começo de conversa, o PSDB é, de fato, análogo ao Partido Democrata americano, ambos social-democratas, não tendo nada a ver com a atual conjuntura do Partido Republicano dos EUA. Aqui no Brasil, talvez o partido que mais se aproximaria dos conservadores fosse o DEM. Digo talvez porque, embora conheça alguns parlamentares do partido que comunguem de ideias conservadoras, não sei se o partido em geral, principalmente sua geração mais jovem, encamparia certas coisas cheias de teias de aranha. 

Na ausência de partido próprio, natural que os conservadores votem no PSDB para fazer frente ao PT, mas aí o certo é eles se adaptarem à realidade do partido e não querer que o partido se adapte à realidade deles. Mas não, frustrados por Serra não ter dado continuidade ao discurso conservador, pelo tiro no pé que foi, continuam afirmando (como eu havia previsto, aliás), finda a eleição, que o tucano e seu partido foram covardes por não terem levado a questão do “kit gay” para a televisão. 

Enquanto o próprio PSDB e qualquer pessoa não-conservadora que analise a candidatura do Serra, reconhece, inclusive por não viver restrita ao ambiente conservador, que o tema do “kit gay” foi um erro para o tucano, a hora da virada negativa para ele, os “cons”’ continuam afirmando que o candidato perdeu porque não fez o que eles – conservadores – queriam, levando a palhaçada do “ensinar homossexualismo” nas escolas para o horário eleitoral gratuito. É mole!?

Reestruturar o PSDB não passa por emular discurso conservador

É certo que ninguém entende a apatia do PSDB diante dos desmandos do lulopetismo nestes últimos 10 anos, sobretudo, a não defesa de seu maior patrimônio que foi o Real e o governo FHC. É certo que ninguém entende sua incapacidade de fazer uma oposição concreta ao petismo que inclusive ameaça sua existência bem como a da democracia brasileira. 

De qualquer forma, porém, a recuperação, a renovação e a reorganização do partido não passa por uma mudança de cunho ideológico, indo da centro-esquerda para a ponta direita. (No máximo, para meu gosto, talvez pudesse ser um pouco mais social-liberal). Esse papo conservador de que o campo da esquerda é monopólio do PT e de que, para voltar a vencer, o PSDB teria que emular um discurso conservador é conversa mole para boi dormir. (Querem um partido pronto para ocuparem em vez de se dar ao trabalho de construir um). 

Pelo contrário, o Brasil está carente de partidos fortes de centro, democráticos, moderados, respeitosos da laicidade do Estado, inclusivos, modernos, que possam apresentar uma alternativa para quem tem consciência de que esse atual flaflu entre socialistas (da boca para dentro ou para fora) de um lado e conservadores do outro, ambos autoritários, não interessa ao país, não interessa a quem quer um mundo melhor para todos. Já vimos um confronto parecido no passado, e o fim do filme é bem conhecido. 

Os conservadores que se organizem em partido próprio e tragam a público uma candidatura legitimamente conservadora que diga o que querem ver discutido em eleição. (Ajudarão inclusive a democracia dessa forma). E que passem suas ideias pelo escrutínio da opinião pública, pois inventar que o Brasil é conservador sem testar tal afirmação na prática é muito fácil, né mesmo? O que não pode voltar a acontecer é esse aluguel do PSDB por conservadores que, já pela segunda eleição, tem se mostrado francamente contraproducente.

Nesta eleição, digo, sem papas na língua, que os conservadores – e a obtusidade de Serra que resolveu ecoar o discurso deles – colaboraram decididamente para a vitória do PT! Óbvio que não foi apenas a fala desastrada de Serra sobre o “kit gay” a razão para sua derrota (vários fatores contribuíram para tal), mas foi ela sim seu calcanhar de Aquiles, aquele ponto X que ele não deveria ter descoberto. Então, parabéns aos “cons” pela contribuição à vitória do PT em Sampa!

E fico por aqui, para não me repetir mais. Como disse, no início do texto, já desenvolvi esse tema dos conservadores e seu “kit gay”, na eleição do Serra, por vários ângulos, em dois artigos (também em podcast), além de ter transcrito o material contra a homofobia que Serra aprovou quando governador e um dos vídeos que o acompanhava. Repito abaixo os links desses artigos, para quem quiser lê-los também. E termino me citando: “Para nós, demais paulistanos que não nos incluímos nem entre as viúvas do Muro de Berlim nem entre os cruzados medievais, só nos resta orar para que a Fortuna não nos abandone e que o Mal não deite raízes fundas demais que nos impossibilite tirá-las posteriormente.” 



Ética da Tirania: Tirano é quem usa os bens dos governados como se fossem seus’

Uma ética que opera em favor dos governantes

Transcrevi alguns trechos de um texto do Instituto Humanitas Unisinos intitulado "O ‘mensalão” e a esquerda. Uma leitura crítica a partir da esquerda" pois achei interessante observar que, mesmo entre os que se identificam com a dita esquerda, há uma visão realista sobre o episódio do mensalão. Ao fim da postagem, encontra-se link para a matéria completa.

Dos trechos que transcrevi, destaco os seguintes parágrafos:

1) O uso de recursos públicos orientado para objetivos corporativos, de grupos, como seu viu no ‘mensalão’ manifesta o que o professor da Unicamp, Roberto Romano intitula de “ética da tirania”, ou seja, a ideia de “uma ética que opera em favor dos governantes”. Segundo ele, se trata “da ética que nega direitos às ‘pessoas comuns’ é a ética do ‘sabe com quem está falando’? A ética do absolutismo tirânico. Não podemos esquecer que, na tradição ética e jurídica antiga e moderna, tirano ‘é quem usa os bens dos governados como se fossem seus’. ...No Brasil temos uma ética da tirania porque o que fazem nossos operadores do Estado é julgar de sua propriedade o que é público”.

2) A contemporização com os desvios do PT, ou a indulgência para com parcela dos seus dirigentes, assume caráter antirrepublicano... escreve Luiz Werneck Vianna, professor-pesquisador da PUC-Rio.

O Estado, quando subordinado a agrupamentos – quaisquer agrupamentos, da bancada ruralista à bancada evangélica ou ainda de consórcios partidários –, perde seu caráter republicano naquilo que tem de mais importante, de tratar todos como iguais, identificando, porém, os que dele mais precisam, os setores mais vulneráveis.

Conjuntura da Semana. O ‘mensalão” e a esquerda. Uma leitura crítica a partir da esquerda

Segundo o professor da Unicamp Roberto Romano, “é proibido no Brasil ser oposição”. Diz ele: “Se discordar, não tem acesso aos recursos. Sem recursos, não leva obras para a sua região. Sem obras, não é reeleito, fica fora do jogo. Esse ‘é dando que se recebe’, essa ausência de partidos reais, tem como origem essa estrutura do Estado brasileiro que é supercentralizada”.
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O uso de recursos públicos orientado para objetivos corporativos, de grupos, como seu viu no ‘mensalão’ manifesta o que o professor da Unicamp, Roberto Romano intitula de “ética da tirania”, ou seja, a ideia de “uma ética que opera em favor dos governantes”. Segundo ele, se trata “da ética que nega direitos às ‘pessoas comuns’ é a ética do ‘sabe com quem está falando’? A ética do absolutismo tirânico. Não podemos esquecer que, na tradição ética e jurídica antiga e moderna, tirano ‘é quem usa os bens dos governados como se fossem seus’. A lição está em Aristóteles, São Tomás , Jean Bodin  e outros mais. No Brasil temos uma ética da tirania porque o que fazem nossos operadores do Estado é julgar de sua propriedade o que é público”.

A contemporização com os desvios do PT, ou a indulgência para com parcela dos seus dirigentes, assume caráter antirrepublicano: "O nome próprio do moderno é o da autonomia que se exprime no exercício da livre manifestação de vontade da cidadania, a partir de uma vida associativa e de partidos políticos que extraiam sua seiva de um mundo da vida descontaminado do poder administrativo e do poder sistêmico da economia, para usar a linguagem, incontornável na cena contemporânea, de Jürgen Habermas”, escreve Luiz Werneck Vianna, professor-pesquisador da PUC-Rio.

O Estado, quando subordinado a agrupamentos – quaisquer agrupamentos, da bancada ruralista à bancada evangélica ou ainda de consórcios partidários –, perde seu caráter republicano naquilo que tem de mais importante, de tratar todos como iguais, identificando, porém, os que dele mais precisam, os setores mais vulneráveis. Nesta perspectiva a ação do julgamento do mensalão deve ser interpretada como um avanço republicano na correção das regras, mesmo que conservadoras, do funcionamento político-partidário.

“O Rubicão foi atravessado à vista de todos e, na nova margem em que nos encontramos, não há mais caminho de volta”, diz o sociólogo Luiz Werneck Vianna, comentando o julgamento do STF. Segundo ele, “provavelmente, ecoaram nesse tribunal os argumentos de maior alcance pedagógico já registrado entre nós em favor da democracia representativa”.

Na análise de Werneck, “em alguns votos contundentes, em que personagens clássicos da Roma republicana foram evocados, ministros da Suprema Corte demonstravam estar conscientes de que anunciavam um novo começo para a democracia brasileira sob a égide de uma ética republicana”. Segundo ele, “democracia de massas, que se amplifica com as poderosas mudanças sociais de que o País é hoje um laboratório aberto, não pode desconhecer a República e as suas instituições, sob pena de se ver dominada pelos interesses políticos e sistêmicos estabelecidos”.

A interpretação de Werneck pode ser demasiada otimista, o reverso, porém, a pura e simples desqualificação do julgamento é pior ainda. Ser de esquerda também é ser republicano, ou seja, estabelecer, defender e pactuar regras de funcionamento do aparelho do Estado que não se subordinem às lógicas corporativas e privativas.

Mensalão e o ‘caráter complexo da ética’. Uma chave de leitura

Uma contribuição para problematizar o tema do ‘mensalão’ é olhá-lo a partir do método da complexidade sugerido por Edgar Morin que propugna que nada está isolado, todas as ações reverberam e apresentam consequências. Ainda mais sofisticado, Morin fala no princípio do ‘caráter complexo da ética’ que se manifesta naquilo que chama de ‘ecologia da ação’. Diz Morin: “Desde o momento em que um indivíduo empreende uma ação, qualquer que seja ela, esta começa a escapar de suas intenções. Ela entra num universo de interações e finalmente o meio ambiente apossa-se dela num sentido que pode se tornar contrário ao da intenção inicial. Com frequência a ação retorna em bumerangue sobre nossa cabeça”, escreve ele no livro Introdução ao pensamento complexo (Porto Alegre: Sulina, 2005, p. 80-1).

Morin alerta que “uma ação não depende somente da vontade daquele que a pratica, depende também dos contextos em que ela se insere, das condições sociais, biológicas, culturais, políticas que podem ajudar o sentido daquilo que é a nossa intenção. Dessa forma, as ações podem ser praticadas para se realizar um fim específico, mas podem provocar efeitos contrários aos fins que pretendíamos”.

O que o pensador francês sugere é que “boas intenções” ou mesmo ações feitas em nome do suposto “bem comum” podem resultar no oposto ao desejado. Segundo ele, “a ecologia da ação implica que não é suficiente apenas ter boa vontade. Temos de tentar examinar as condições em que se dá a ação, e então, de acordo com a necessidade, poderemos segui-la, ou transformá-la, ou ainda abandoná-la. Portanto, há duas ideias importantes na ética: uma, quando nos decidimos pro uma ação pelo bem, fazemos um balanço dos efeitos de nossa ação, e assim, ao tornarmo-nos conscientes de seus efeitos, podemos rever nossas ações ou decisões. Em segundo lugar, a ideia de que é preciso traçar uma estratégia de ação, ou seja, ficar atento aos elementos novos e às informações que se somam à situação”.

Diz Morin: “Penso no período em que vivi durante a guerra, ou no pós-guerra, na minha relação com o comunismo, quando conheci pessoas ou militantes que achavam que trabalhavam para o bem da humanidade sem perceber que trabalhavam, ao contrário, pela sua escravidão. Isso, contudo, pode estender-se a todas as atividades. Quantas pessoas não acreditam trabalhar para o bem, sem perceber que na realidade estão sendo manipuladas”?

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Genoíno e tantos outros “aceitavam” o jogo do ‘mensalão’ e suas diferentes modalidades – o mesmo vale para militantes de base – na convicção (sei!) de que se tratava de um mal menor ou mesmo necessário para o avanço das reformas no Brasil.
Emerge aqui uma questão: A instauração de políticas sociais, o bolsa-família, a política de cotas, a mobilidade social dos mais pobres para cima, fornecem um “salvo conduto” aos erros de seus dirigentes? 

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Na cabeça de muitos, o ‘mensalão’ foi um desvio necessário – garantir governabilidade – para o Brasil avançar. Optou por entrar e mesmo, intensificar a lógica que resultou e orientou o ‘mensalão’: os interesses, o jogo, que acontece nos bastidores. Disputas e manobras, que muitas vezes não chegam ao conhecimento da população, mas que se configuram numa intensa guerra, travada nas trincheiras do mundo da política.
Muitos sequer viram gravidade no fato, uma vez que se trata de prática corriqueira na política nacional adotada por todos os partidos – ou quase todos – que se passou a chamar de “caixa 2”. Talvez, a complacência com o ‘mensalão’ deva-se também em parte ao fato de que o mecanismo do “caixa 2” seja utilizado em outras esferas da sociedade e não apenas na esfera pública.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Não faça essa Malddad com São Paulo! Veja o currículo do 13

Quando uma imagem vale mais do que 1000 palavras! Veja o vídeo com o currículo de Fernando Haddad!

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Como assim o PT não é uma quadrilha?

Artigo contraditório de Demétrio Magnoli
Costumo apreciar os artigos de Demétrio Magnoli, inclusive transcrevi vários neste blog, mas este "O PT não é uma quadrilha" me deixou um tanto quanto perplexa, vindo dele. Quer dizer que uma criatura pequena, peluda, que mia e anda pelos telhados não é um gato e sim um tatu?

Que nome se dá a um agrupamento de pessoas que fez do roubo sistêmico do dinheiro público uma forma de governo? Sanga budista? Inclusive contraditoriamente Magnoli cita as várias razões pelas quais pode se considerar o PT uma quadrilha, incluindo as condenações de seus líderes por formação de quadrilha, para concluir dizendo que a agremiação não é uma quadrilha!!??

Se não é, como os condenados petistas permanecem no "partido", quando deveriam inclusive pelo estatuto da sigla, ser desligados? Não são cúmplices dos criminosos os petistas que não foram diretamente condenados pela justiça por seus delitos, mas apoiam a permanência de seus parceiros criminosos no partido e ainda saem por aí difamando os juízes, dizendo que o STF não tem representatividade para julgar petistas!? Cúmplices de criminosos recebem nome diferenciado quando os criminosos são de partidos? Criminosos recebem nome diferenciado quando pertencem a partidos?

Se o PT se transformou numa máquina de cometer delitos penais em série, com vistas a permanecer no poder indefinidamente, e - sim - solapar a democracia, desculpe, porque não chamá-lo pelo verdadeiro nome? (Eu só acrescentaria "fascistóide" ao quadrilha). Por uma espécie de etiqueta política unilateral? Enquanto o PT injuria, difama, calunia, rouba e até mata, a oposição não pode chamar as coisas pelos nomes? 

E vai me dizer que Demétrio não sabe o que as vitórias do PT representam para a democracia brasileira!? Vale sempre lembrar que os nazistas chegaram ao poder pela via democrática. Esta eleição mesmo em São Paulo, concretizando-se, vai ser usada pelos petistas (todos) para dizer que o judiciário nada significa porque eles foram absolvidos pelas urnas. Essa gente não é um partido, nos termos normais: é uma mistura de máfia com tropa de choque fascista!

Em suma, Demétrio Magnoli, desta vez, perdeu uma boa oportunidade de ficar calado. Até concordo que a oposição não tem encontrado um discurso contra os petistas, mas, exatamente ao contrário do que ele diz, foi por não descrever o PT pelo que ele se tornou, por falta de vigor, por excesso de polidez, como ovelhas entre lobos. De qualquer forma, se Demétrio tem outra sugestão de discurso para a oposição, porque não a colocou em vez de simplesmente criticá-la por dizer o óbvio andando a pé? De repente, tem uma boa ideia de como dizer o mesmo com outras palavras mais "democráticas".  

Segue o estranho texto de Magnoli, publicado hoje em vários jornais.

O PT não é uma quadrilha

Demétrio Magnoli

Fernando Haddad está cercado por José Dirceu e Paulo Maluf. Sobre Dirceu, aparece a palavra "condenado"; sobre Maluf, "procurado". Contaminada pelo desespero, a propaganda eleitoral de José Serra não viola a verdade factual, mas envereda por uma perigosa narrativa política. O candidato tucano está dizendo que eleger o petista equivale a colocar uma quadrilha no comando da Prefeitura paulistana. A substituição da divergência política pela acusação criminal evidencia o estado falimentar da oposição no País e, mais importante, inocula veneno no sistema circulatório de nossa democracia.

Demóstenes Torres foi expulso do DEM antes de qualquer condenação, quando se patenteou que ele operava como despachante de luxo da quadrilha de Carlinhos Cachoeira. José Dirceu foi aclamado como herói e mártir pela direção do PT depois da decisão da Corte Suprema de uma democracia de condená-lo por corrupção ativa e formação de quadrilha. O mensalão é um tema legítimo de campanha eleitoral e nada há de errado na exposição dos vínculos entre Haddad e Dirceu. A linguagem da política, contudo, não deveria confundir-se com a linguagem da polícia.

Dirceu permanece na alta direção petista, pois é um dos artífices de uma concepção da política que rejeita a separação entre o Estado e o partido. No mensalão, a imbricação Estado/partido assumiu o formato de um conjunto de crimes tipificados. Entretanto, tal imbricação se manifesta sob as formas mais diversas desde que Lula subiu a rampa do Palácio do Planalto. O código genético do mensalão está impresso no movimento de partidarização da administração pública, das empresas estatais, dos fundos de pensão, dos sindicatos, das políticas sociais e da política externa, conduzido ao longo de uma década de lulismo triunfante. Na linguagem da política, Dirceu figuraria como símbolo da visão de mundo do lulopetismo. Mas a campanha de Serra não é capaz de escapar ao círculo de ferro da linguagem policial.

A Interpol define Paulo Maluf como um foragido da Justiça. Lula e Haddad não se limitaram a firmar um pacto eleitoral com o partido de Maluf, mas peregrinaram até a mansão do fugitivo para desempenhar o papel abjeto de cortejá-lo como liderança política. Faz sentido divulgar, no horário de campanha, as imagens da macabra confraternização. Todavia, uma vez mais, seria indispensável traduzir o evento na linguagem da política, que não é a da Interpol.

Maluf é um caso extremo, mas não um ponto fora da curva. Lula e o PT insuflaram uma segunda vida aos cadáveres políticos de Fernando Collor, Jader Barbalho, José Sarney, Renan Calheiros e tantos outros. As alianças recendem a oportunismo, um vício menor, mas a extensão da prática exige uma explicação de fundo. O paradoxo aparente do encontro entre "esquerda" e "direita" é fruto de um interesse compartilhado: a continuidade da tradição patrimonial de apropriação da "coisa pública" pela elite política. As "estranhas alianças" lulistas funcionam como ferramentas para a repartição do imponente castelo de cargos públicos na administração direta e nas empresas estatais. Até hoje o Brasil não concluiu o processo de criação de uma burocracia pública profissional. Na linguagem da política, a confraternização de Lula e Haddad com Maluf ajudaria a esclarecer os motivos desse fracasso. Mas a propaganda eleitoral de Serra preferiu operar em outro registro.

A campanha do tucano oscila entre os registros administrativo, moral e policial, sem nunca sincronizar o registro político. De certo modo, ela é um reflexo fiel da falência geral da oposição, que jamais conseguiu elaborar uma crítica sistemática ao lulopetismo. Entretanto, nas circunstâncias produzidas pelo julgamento do mensalão, a inclinação oposicionista a apelar para a linguagem policial tem efeitos nefastos de largas implicações. Na democracia, não se acusa um dos principais partidos políticos do País de ser uma quadrilha.

O PT não é igual à sua direção eventual, nem é uma emanação da vontade de Dirceu ou mesmo de Lula. O PT não se confunde com o que dizem seus líderes ou parlamentares em determinada conjuntura, nem mesmo com as resoluções aprovadas nesse ou naquele encontro partidário. Embora tudo isso tenha relevância, o PT é algo maior: uma história e uma representação. A trajetória petista de mais de três décadas inscreve-se no percurso da sociedade brasileira de superação da ditadura militar e de construção de um sistema político democrático. O PT é a representação partidária de uma parcela significativa dos cidadãos brasileiros. A crítica ao partido e às suas concepções políticas não é apenas legítima, mas indispensável. Coisa muito diferente é tentar marcá-lo a fogo como uma coleção de marginais.

O jogo do pluralismo depende do respeito à sua regra de ouro: a presunção de legitimidade de todos os atores envolvidos. Nas democracias, eleições concluem-se pelo clássico telefonema em que o derrotado oferece congratulações ao vencedor. Em 1999, após o terceiro insucesso eleitoral de Lula, o PT violou a regra do jogo ao desfraldar a bandeira do "fora FHC". Serra ficou longe disso dois anos atrás, mas seu discurso de derrota continha a estranha insinuação de que a vitória de Dilma Rousseff representaria uma ameaça à democracia.

Agora, na eleição paulistana, a propaganda do tucano sugere que um triunfo de Haddad equivaleria à transferência da Prefeitura da cidade para uma quadrilha. Na hipótese de derrota, como será o seu telefonema de domingo à noite?

Marqueteiros designam ataques ao adversário eleitoral pela expressão "propaganda negativa". O rótulo dos vendedores de sabonete abrange tudo, desde a crítica política fundamentada até as mais sórdidas agressões pessoais. O problema da campanha de Serra não está no uso da "propaganda negativa", mas na violação da regra do jogo. Não é assim que se faz oposição.

* SOCIÓLOGO, DOUTOR EM GEOGRAFIA HUMANA PELA USP.
E-MAIL: DEMETRIO.MAGNOLI@UOL.COM.BR (não consegui contato por esse e-mail)

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

As frases emblemáticas sobre o julgamento do mensalão no Jornal Nacional

E continua tão distraída que pode dar São Paulo ao ladrão
Durante quase três meses, o país acompanhou o julgamento do mensalão. Ao longo desse período, algumas frases ouvidas no plenário do Supremo ajudaram a dar a dimensão histórica do momento.

Onze ministros e muitos momentos para ficar na história.

“Esses fatos estão com as vísceras expostas. Eles gritam. Cegar para essa realidade é golpear a própria sociedade”, afirmou Carlos Ayres Britto, presidente do STF.

O dinheiro é para o crime o que o sangue é para veia. Ou seja, se não circular com volume e sem obstáculo, não temos esquemas criminosos como esses”, avaliou a ministra Cármen Lúcia.“Esse processo criminal revela a face sombria daqueles que, no controle do aparelho de estado, transformaram a cultura da transgressão em prática ordinária e desonesta de poder”, definiu o ministro Celso de Mello.

“A entidade bancária serviu de verdadeira lavanderia de dinheiro para se cometer um crime que não está nem previsto, mas esse deveria ser o nome: gestão tenebrosa, pelos riscos que acarreta e pelas consequências que acarreta à economia popular”, disse o ministro Luiz Fux.

Discussão, argumentos, teses jurídicas e muita inspiração. Na música:

“Dormia a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações”, disse Roberto Gurgel, procurador-geral da República.

Inspiração no paladar:

“Nordestinamente, eu diria, é isso mesmo, gosto de jiló, gosto de mandioca roxa, gosto de berinjela crua. Ou seja, algo de vinagre, algo de fel, fica no céu da boca do magistrado, que se vê na obrigação de condenar alguém”, comparou Ayres Britto.

Foram mais de 200 horas de julgamento. Do plenário, saíram também lições que vão ecoar por toda a sociedade brasileira.

“Agentes públicos que se deixam corromper, qualquer que seja sua posição, são eles corruptos e corruptores, os profanadores da República, os subversivos da ordem institucional. São eles os delinquentes, marginais da ética do poder”, definiu Celso de Mello.

“O estado brasileiro não tolera o poder que corrompe e nem admite o poder que se deixa corromper”, comentou Celso de Mello.“Nenhum juiz verdadeiramente digno da sua vocação condena ninguém por ódio”, afirmou o ex-ministro do STF Cezar Peluso.

“Corrupção significa não que alguém foi furtado de alguma coisa, mas que uma sociedade inteira foi furtada pela escola que não chega, pelo posto de saúde que não se tem. Eu acho que esse julgamento dá exatamente o testemunho de que o estado de direito, a política é, sim, necessária para qualquer lugar deste planeta”, declarou Cármen Lúcia.

 

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A condenação do PT (um partido neofascista)


No artigo Petismo, neobolchevismo neofascista abordei as semelhanças entre a estrutura corrupta e autoritária do PT e o fascismo de Mussolini. Citei também outro autor, o cientista político Paulo Roberto de Almeida, que fez análise semelhante sobre o projeto de poder do petismo, moldado em conluio com políticos corruptos, empresários inescrupulosos e oportunistas de todos os tipos.  Agora, o conhecido historiador Marco Antonio Villa também analisa a estrutura fascista do PT. Destaco o trecho:

"O único projeto da aristocracia petista — conservadora, oportunista e reacionária — é de se perpetuar no poder. A estratégia petista conta com o apoio do que há de pior no Brasil. É uma associação entre políticos corruptos, empresários inescrupulosos e oportunistas de todos os tipos. O que os une é o desejo de saquear o Estado."
Por Marco Antonio Villa

O julgamento do mensalão atingiu duramente o Partido dos Trabalhadores. As revelações acabaram por enterrar definitivamente o figurino construído ao longo de décadas de um partido ético, republicano e defensor dos mais pobres. Agora é possível entender as razões da sua liderança de tentar, por todos os meios, impedir a realização do julgamento. Não queriam a publicização das práticas criminosas, das reuniões clandestinas, algumas delas ocorridas no interior do próprio Palácio do Planalto, caso único na história brasileira.

Muito distante das pesquisas acadêmicas — instrumentalizadas por petistas — e, portanto, mais próximos da realidade, os ministros do STF acertaram na mosca ao definir a liderança petista, em 2005, como uma sofisticada organização criminosa e que, no entender do ministro Joaquim Barbosa, tinha como chefe José Dirceu, ex-presidente do PT e ministro da Casa Civil de Lula. Segundo o ministro Celso de Mello: “Este processo criminal revela a face sombria daqueles que, no controle do aparelho de Estado, transformaram a cultura da transgressão em prática ordinária e desonesta de poder.” E concluiu: “É macrodelinquência governamental.” O presidente Ayres Brito foi direto: “É continuísmo governamental. É golpe.”

O julgamento do mensalão desnudou o PT, daí o ódio dos seus fanáticos militantes com a Suprema Corte e, principalmente, contra o que eles consideram os “ministros traidores”, isto é, aqueles que julgaram segundo os autos do processo e não de acordo com as determinações emanadas da direção partidária. Como estão acostumados a lotear as funções públicas, até hoje não entenderam o significado da existência de três poderes independentes e, mais ainda, o que é ser ministro do STF. Para eles, especialmente Lula, ministro da Suprema Corte é cargo de confiança, como os milhares criados pelo partido desde 2003. Daí que já começaram a fazer campanha para que os próximos nomeados, a começar do substituto de Ayres Brito, sejam somente aqueles de absoluta confiança do PT, uma espécie de ministro companheiro. E assim, sucessivamente, até conseguirem ter um STF absolutamente sob controle partidário.

A recepção da liderança às condenações demonstra como os petistas têm uma enorme dificuldade de conviver com a democracia. Primeiramente, logo após a eclosão do escândalo, Lula pediu desculpas em pronunciamento por rede nacional. No final do governo mudou de opinião: iria investigar o que aconteceu, sem explicar como e com quais instrumentos, pois seria um ex-presidente. Em 2011 apresentou uma terceira explicação: tudo era uma farsa, não tinha existido o mensalão. Agora apresentou uma quarta versão: disse que foi absolvido pelas urnas — um ato falho, registre-se, pois não eram um dos réus do processo. Ao associar uma simples eleição com um julgamento demonstrou mais uma vez o seu desconhecimento do funcionamento das instituições — registre-se que, em todas estas versões, Lula sempre contou com o beneplácito dos intelectuais chapas-brancas para ecoar sua fala.

As lideranças condenadas pelo STF insistem em dizer que o partido tem que manter seu projeto estratégico. Qual? O socialismo foi abandonado e faz muito tempo. A retórica anticapitalista é reservada para os bate-papos nostálgicos de suas velhas lideranças, assim como fazem parte do passado o uso das indefectíveis bolsas de couro, as sandálias, as roupas desalinhadas e a barba por fazer. A única revolução petista foi na aparência das suas lideranças. O look guevarista foi abandonado. Ficou reservado somente à base partidária. A direção, como eles próprios diriam em 1980, “se aburguesou”. Vestem roupas caras, fizeram plásticas, aplicam botox a três por quatro. Só frequentam restaurantes caros e a cachaça foi substituída pelo uísque e o vinho, sempre importados, claro.

O único projeto da aristocracia petista — conservadora, oportunista e reacionária — é de se perpetuar no poder. Para isso precisa contar com uma sociedade civil amorfa, invertebrada. Não é acidental que passaram a falar em controle social da imprensa e... do Judiciário. Sabem que a imprensa e o Judiciário acabaram se tornando, mesmo sem o querer, nos maiores obstáculos à ditadura de novo tipo que almejam criar, dada ausência de uma oposição político-partidária.

A estratégia petista conta com o apoio do que há de pior no Brasil. É uma associação entre políticos corruptos, empresários inescrupulosos e oportunistas de todos os tipos. O que os une é o desejo de saquear o Estado. O PT acabou virando o instrumento de uma burguesia predatória, que sobrevive graças às benesses do Estado. De uma burguesia corrupta que, no fundo, odeia o capitalismo e a concorrência. E que encontrou no partido — depois de um século de desencontros, namorando os militares e setores políticos ultraconservadores — o melhor instrumento para a manutenção e expansão dos seus interesses. Não deram nenhum passo atrás na defesa dos seus interesses de classe. Ficaram onde sempre estiveram. Quem se movimentou em direção a eles foi o PT.

Vivemos uma quadra muito difícil. Remar contra a corrente não é tarefa das mais fáceis. As hordas governistas estão sempre prontas para calar seus adversários.

Mas as decisões do STF dão um alento, uma esperança, de que é possível imaginar uma república em que os valores predominantes não sejam o da malandragem e da corrupção, onde o desrespeito à coisa pública é uma espécie de lema governamental e a mala recheada de dinheiro roubado do Erário tenha se transformado em símbolo nacional.

MARCO ANTONIO VILLA é historiador e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos

Baixaria do "kit gay" prejudicou Serra: Marketing e núcleo político divergiram da ofensiva tucana

Ao ecoar a ignorância e o preconceito conservador contra "kit gay",
Serra prejudicou a própria candidatura
Do marketing ao núcleo político da campanha de José Serra (PSDB), a avaliação é de que o tucano "demorou demais" para minimizar o debate sobre o kit anti-homofobia, no qual sequer deveria ter entrado.
O candidato já havia sido avisado por interlocutores, às vésperas do primeiro turno, que o assunto poderia vir à tona e lhe era perigoso. Na campanha presidencial de 2010, Serra ficou negativamente marcado pela discussão de temas como religião e legalização do aborto, que lhe grudaram uma pecha conservadora que, segundo os mais próximos, nada tem a ver com as reais convicções do tucano.
Para estes grupos da campanha tucana, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus e que ofertou seu apoio a Serra, é "incontrolável". Mas Serra teria errado ao comentar a diferença do material distribuído nas escolas estaduais em 2009, quando governador, daquele que estava sendo feito no Ministério da Educação à época de Haddad como ministro. Dizem que ali o candidato "deu corda" a um assunto ingrato, impossível de abordar na propaganda televisiva e desgastante do ponto de vista político. Avaliam que o candidato fora influenciado a falar por pessoas alheias à campanha, de seu círculo pessoal.
Sobre a estratégia para a última semana da disputa, tucanos alegam que não há o que mudar. Mostram-se atônitos com os resultados mostrados por pesquisas como Ibope e Datafolha, que dão ao adversário petista uma dianteira de 20 pontos percentuais. A campanha faz pesquisas diárias por telefone com amostras de 1000 entrevistados. Todas indicam situação de empate técnico e um número de indecisos de quase um terço do eleitorado - bem maior do que aparece nas sondagens dos institutos.
Um tucano envolvido na estratégia de campanha alega que um mesmo grupo faz pesquisa para o PSDB desde 1994 e "nunca errou". Portanto, seria descabido duvidar dos resultados e mudar o discurso por causa das diferenças em relação ao Datafolha e Ibope. As pesquisas qualitativas do grupo mostram que o eleitor indeciso tende a fazer uma aposta "segura" na última hora. Isso norteou as inserções televisivas que vendem o candidato do PSDB como experiente e realizador, em contraponto a um adversário que "não está preparado", segundo a peça.

Fonte: Valor Econômico - 23/10/2012

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

No meio do caminho tinha um kit gay. Tinha um kit gay no meio do caminho!

No meio do caminho tinha um kit gay. Tinha um kit gay no meio do caminho
Em novo podcast, comento outra vez as eleições de São Paulo e as razões para a situação adversa que enfrenta o candidato tucano José Serra. Na minha opinião, entre outros fatores para esse resultado, sem dúvida, pesou a crise de identidade ideológica de Serra que, a fim de fazer média com conservadores, meteu-se a ecoar a visão destes no caso do famigerado "kit gay".  Cometeu o erro fatal de criticar o tal "kit gay", projeto com a mesma perspectiva educacional de luta contra a discriminação que ele próprio já endossara quando governador. A contradição indiscutível abalou sua credibilidade e, não por coincidência, infelizmente marcou sua queda nas pesquisas.

Ouça o podcast e deixe sua opinião sobre o mesmo. Agradeço a audição!


Atualização (29/10): Transcrição do podcast

Hoje vou voltar a comentar as eleições para a prefeitura de São Paulo e os problemas da candidatura do tucano José Serra. Os institutos de pesquisa têm errado sobremaneira, em todo o país, mas não se pode relevar o que indicam a respeito da vantagem de Haddad sobre o candidato do PSDB.

Vários fatores podem ter contribuído para essa situação, tais como a avaliação negativa da gestão do atual prefeito Kassab, considerado herdeiro de Serra, a própria rejeição à Serra que já estava alta no primeiro turno, a campanha milionária do rival e sua máquina de mistificações e difamações, etc. Tudo isso, contudo, já existia no primeiro turno, mas não impediu Serra de chegar ao segundo, inclusive liderando o pleito, embora não se possa desconsiderar que, na primeira etapa da eleição, a máquina de destruição de reputações do PT tenha mirado principalmente Russomano e não o tucano.

Qual o fator então que pesou decididamente para o atual resultado adverso? Na minha opinião, sem dúvida a crise de identidade ideológica de Serra que, para fazer média com conservadores, meteu-se a ecoar a visão destes no caso do famigerado kit gay. (Abordei este tema, aliás, no podcast anterior A Encruzilhada de Serra ou Os conservadores precisam de um partido para chamar de seu). Quando da eleição de 2010, Serra já havia flertado com conversadores ao abordar o tema do aborto, mas, naquela ocasião, não chegou a público nenhuma contradição concreta sobre a posição do candidato relativa ao assunto antes do pleito e durante o mesmo. Só rolou uma história de que sua mulher havia feito um aborto, mas a nota ficou com cara de fofoca baixaria de imprensa sensacionalista. 

Desta vez, contudo, ao criticar o tal kit gay de Haddad, por supostamente “não ensinar mas sim doutrinar”, Serra foi confrontado com o fato de que ele próprio já tinha aprovado um projeto também dirigido a escolas onde a questão da homossexualidade é abordada a partir da mesma perspectiva da do projeto Escola sem Homofobia. Na postagem Cartilha deSerra também pode ser considerada “doutrinação para o homossexualismo, reproduzi o texto do projeto e um dos vídeos que o acompanha para quem quiser verificar a abordagem. E o fiz, porque, mesmo sendo eleitora do tucano, não gosto de mentiras e, sobretudo, não gosto  de mentiras que podem prejudicar os projetos de combate a discriminações nas escolas.

Além do que, seja na boca da Dilma/Haddad ou do Serra, essa história de que o apelidado kit gay não “ensinava mas sim fazia doutrinação do homo ou bisssexualismo ou fazia proselitismo homossexual ou ainda propaganda de opções sexuais” é simplesmente ridícula. Na verdade, esse tipo de “argumento” visa apenas impedir que se desconstrua o preconceito que leva à discriminação que atinge estudantes homossexuais em salas de aula, na contramão do posicionamento dos organismos internacionais de defesa dos direitos humanos sobre a questão da homofobia.

Também existe tanto proselitismo da bissexualidade em afirmar que bissexuais são afortunados, por terem toda a humanidade entre a qual encontrar um parceiro ou parceira, quanto dizer que depois da noite vem o dia e vice-versa. Aliás, diga-se de passagem, se não fosse toda a repressão promovida pelo kit hétero (essa camisa de força que já vem malhada antes da gente nascer), provavelmente a maioria das pessoas seria bissexual. No fundo, esses conservadores morrem de medo é de que as pessoas de repente se deem conta de que o rei sempre esteve nu. De qualquer forma, pode-se fazer a prova dos nove com eles e perguntar qual a proposta que teriam de combate à homofobia que não faça “proselitismo homossexual”. Gostaria de saber como  combater a homofobia sem tratar a homo e a bissexualidade como naturais.  

Mas voltando aos percalços da candidatura do Serra, alguém pode contestar que seja a ligação com conservadores o grande problema do tucano, já que o PT também tem feito alianças com todo o tipo de reacionários (Collor, Sarney, Maluf, Bispo Macedo, Garotinho) mas continua vencendo eleições com ajuda destes. Entretanto, como já havia comentado no podcast anterior, a única coisa que o PT sabe fazer bem é mentir. Tem uma muito azeitada máquina de mistificação e difamações cujos tentáculos se espalham pela imprensa, blogs, movimentos sociais, etc. O PSDB não tem. Tucanos são ruins até em propagandear suas realizações quanto mais em sustentar mentiras. O PT, ao contrário, acusa os outros de fazer aquilo que ele mesmo faz, e a mentira cola. 

Por isso, Serra devia ter aprendido a se esquivar de certas polêmcias a partir da experiência com a campanha anterior, para a presidência da República, onde já fora rotulado de promotor do conservadorismo pelo fato de o tema do aborto ter permeado as eleições. Ele não tem a rede de proteção dos caras-de-pau que os candidatos petistas têm. Basta lembrar que Dilma Roussef se dizia  favorável à legalização do aborto antes das eleições de 2010, depois durante as mesmas negou tudo, indo fingir devoção religiosa em igrejas da cidade de Aparecida, mas foi Serra quem ficou com a fama de reacionário do pleito. Dilma também disse, como comentei anteriormente, que o tal “kit gay” fazia propaganda de opções sexuais, ao vetá-lo com anuência de Haddad, mas só Serra é quem está levando a fama de vendido ao atraso por suas declarações sobre o Escola sem Homofobia.

Mas Serra não aprendeu com a eleição de 2010 e cometeu o erro fatal de criticar o tal kit gay, projeto com a mesma perspectiva educacional de luta contra a discriminação que ele próprio já endossara quando governador. A contradição indiscutível abalou sua credibilidade e, não por coincidência, marcou sua queda nas pesquisas. Sob críticas inclusive de membros de seu próprio partido, por flertar com o conservadorismo, o tucano decidiu não mais tocar no assunto, porém, o estrago à sua candidatura parece ter sido irremediável. Para tentar vencer os petralhas, Serra teria que ter buscado se diferenciar deles, mantendo-se coerente com sua trajetória social-democrata e não ter-se permitido virar porta-voz de um grupo ao qual nunca pertenceu.

Por outro lado, os conservadores, a quem andou paparicando, insistem em dizer, ao contrário  das evidências, que a queda de Serra nas pesquisas é por conta da campanha do mesmo ser covarde, por ele não ter mostrado aos eleitores o que Haddad pretendia levar às escolas, a seus filhos, irmãos, sobrinhos, netos, pelo candidato ter amarelado enfim ao desistir do seu postiço discurso conservador. Se assim fosse, só para citar um exemplo, resta explicar porque os votos de Russomano não migraram para Serra e sim para Haddad no segundo turno.

Impressiona aliás a arrogância e a prepotência desses que se dizem conservadores e se encarapitaram na candidatura do Serra. Embora não consigam organizar um partido próprio, para defender sua visão de mundo, acham que são muito bons de votos por ter blogs com milhões de acessos. Milhões de acessos em blogs que até agora não se traduziram nas cerca de apenas 500 mil assinaturas necessárias para se registrar um partido nem nos milhões de votos para eleger um candidato mesmo numa cidade considerada conservadora como São Paulo? De fato, segundo o Data Folha, em pesquisa publicada ontem, dia 21/10, a maioria do eleitorado paulistano é mais liberal do que conservadora, se juntarmos os muito liberais, os liberais e os mais ou menos liberais em oposição aos conservadores e muito conservadores. De fato, sempre achei esse papo de que Sampa é conservadora uma tremenda bobagem. Isso é muito relativo.

De qualquer forma, pode-se argumentar que não tendo candidato próprio, os conservadores encamparam quem lhes pareceu em condições de bater o PT. Mas aí pelo menos deveriam ter respeitado o histórico do candidato e não tentar descaracterizá-lo para atender a seus anseios. Querer que um candidato não-conservador encampe a agenda conservadora, em flagrante contradição com sua própria trajetória, e ainda sair pregando a ética e a honestidade contra a quadrilha do PT?  Conservador pode fazer a realpolitk, mas o PT não? O resultado desse oportunismo é simplesmente o nivelamento de todos ao mesmo patamar do petralhismo, o que só o beneficia.

Entretanto, a arrogância e a prepotência desses conservadores são de tal tamanho que não aceitam o fato do candidato e seus assessores simplesmente terem se tocado que a candidatura ficou bem mal na foto, pelas contradições cometidas, e decidido tentar reverter o desastre recolocando o tucano em seu trilho natural. Fora que unsoutros “cons“, diante do possível naufrágio da candidatura tucana, já estão tirando o seuzinho conservador da reta, com uma conversa mole de que não tem preconceito de espécie alguma, mas que insistiram para o candidato tucano bater o bumbo do kit gay porque os pais têm o direito de escolher como querem que se ensine seus filhos.

Preconceitos todos temos – e quem diz que não tem mente – mas precisamos cuidar para que nossos preconceitos não se transformem em discriminação. E é a isso que os projetos de combate à homofobia nas escolas, entre outras discriminações, se propõem: trabalhar parar que os preconceitos trazidos do berço pelos alunos os tornem perseguidores de outros alunos, diferentes da maioria por qualquer razão, impedindo estes últimos de estudar e ter a correspondente ascensão social a qual todos têm direito. Há algo de bem errado na cabeça de pessoas que não aceitam essa proposta.

Finalizando, infelizmente, ao que tudo indica, Serra dificilmente será prefeito de São Paulo, embora seja de longe o mais capaz dos candidatos em disputa. Pior, ele sai dessa eleição com a imagem de reacionário que nunca foi, e nós, paulistanos, é que vamos pagar o pato de ter na prefeitura de nossa cidade uma quadrilha fascistóide que vai usá-la para se reerguer das acusações do mensalão e aprofundar a corrosão da democracia brasileira.

E, desta vez, se confirmada a eleição de Haddad, pode-se dizer que os petistas contaram, para a vitória, com a ajuda inestimável dos ditos conservadores que tanto os detestam. Obviamente estes últimos deveriam fazer alguma autocrítica, mas duvido que o façam. Sofrem da mesma ojeriza pelo espelho que os petistas. Continuarão apenas postando comentários irados e preconceituosos, em redes sociais e na caixa de comentários de seus blogs com milhões de acessos, sem tirar a bunda e a cabeça quadradas da frente do computador a fim de tentar ao menos um partido que os represente para que não precisem mais ser tão oportunistas e tão contraproducentes numa próxima eleição. 

Para nós, demais paulistanos que não nos incluímos nem entre as viúvas do Muro de Berlim nem entre os cruzados medievais, só nos resta orar para que a Fortuna não nos abandone e que o Mal não deite raízes fundas demais que nos impossibilite tirá-las posteriormente. 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

FHC pondo as coisas no seu devido lugar: FHC diz a aliados que campanha de Serra flerta com conservadorismo

Dá-lhe, Fernandão! 
FHC diz a aliados que campanha de Serra flerta com conservadorismo

Tucanos acham que kit anti-homofobia não deveria ser abordado
CATIA SEABRA
MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem criticado duramente a campanha do tucano José Serra à prefeitura, especialmente o flerte do candidato com o que chama de setores conservadores.

Segundo tucanos, FHC lamenta, por exemplo, a aliança de Serra com os opositores da cartilha anti-homofobia produzida na gestão de Fernando Haddad no Ministério da Educação. O kit não foi distribuído por determinação da presidente Dilma Rousseff após pressão da bancada religiosa no Congresso.

Presidente de honra do PSDB, FHC alerta os aliados para o risco de Serra sair desta eleição com o rótulo de conservador após a exploração de temas como o kit contra a homofobia e o aborto -questão que abordou na sua campanha à Presidência em 2010.

AÉCIO

FHC também se queixa da resistência de Serra a conselhos, como o de levar o senador Aécio Neves à propaganda eleitoral já no primeiro turno numa tentativa de afastar os rumores de que, se eleito, deixaria a prefeitura para concorrer à Presidência.

FHC não é o único contrariado com os rumos da campanha. Amigo de Serra, de quem foi vice na chapa para o Palácio dos Bandeirantes em 2006, o ex-governador Alberto Goldman diz que não alimentaria o debate sobre o chamado "kit gay".

"Não foi Serra quem abordou. Mas, se fosse ele, não responderia. Diria que não tem nada a ver com a eleição para a prefeitura", disse.

Ministro da Justiça no governo FHC, José Gregori também demonstra desconforto com o tema. Segundo ele, a opinião de apoiadores de Serra, como o pastor Silas Malafaia, não retrata a do próprio candidato. Mas, numa campanha eleitoral, diz, essas discussões afloram. "O velho Serra, nesta altura da vida, não mudou", afirma.

Fonte: Folha de São Paulo, 18/10/12

Em São Paulo não se trata apenas de escolher um prefeito — é preciso brecar um projeto hegemônico do PT que ameaça a democracia

SP, não sou conduzido,
conduzo
O jornalista Ricardo Setti, com coluna na Veja, sumarizou muito bem as razões pelas quais, apesar de muitos pesares, ainda mantenho meu voto  em José Serra: brecar o projeto hegemônico do PT que ameaça a democracia.

Da mesma forma que não quero um Brasil socialista (como bem disse Ferreira Gulllar, quem ainda acredita nisso é maluco) não quero um Brasil reacionário, moralista e com tendências teocráticas. No fundo, esses são dois extremos que praticamente se tocam.

Quero um Brasil democrático, inclusivo, laico, liberal (nas diferentes acepções do termo) mas que também combata os diversos preconceitos que dividem as pessoas e impedem que todos tenham a mesma condição de largada na vida.

É perfeitamente possível combater preconceitos e discriminações sem partir para cotas e privilégios. Com boa educação para todos e um ambiente de livre expressão, sem os extremistas de plantão que hoje nos reprimem, podemos sim, na base do diálogo, da troca de ideias, promover um país melhor. Mas para isso é fundamental que se mantenha presente essa senhora tão polêmica mas tão imprescindível chamada democracia. Portanto, FORA PT!

Até o 
 sabe:
O importante agora é derrotar o Haddad porque ele é incompetente e porque sua vitoria fortalece o Lula e a turma do Mensalão.

Em São Paulo não se trata apenas de escolher um prefeito — é preciso brecar um projeto hegemônico do PT que ameaça a democracia
Por Ricardo Setti 

No próximo dia 28, em São Paulo, a maior e mais importante cidade do Brasil, não estará sendo apenas eleito um novo prefeito, escolhido entre José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT).
Estará em jogo, mais que isso, decidir se o PT prosseguirá, ou não, com seu projeto hegemônico, de “cristinakirchnerização” da vida pública brasileira, de ocupar com seus quadros todos os espaços possíveis, de tornar difícil, se conseguir, a vida da imprensa livre, de permanecer no poder custe o que custar, mesmo depois do mensalão.
Estará em jogo, em última instância, uma fatia importante da democracia brasileira.
O tucano José Serra, então, é um novo Messias? É o melhor candidato da história da República? É um super-herói sem máculas que barrará o avanço dos malvados vilões da fita?
O petista Fernando Haddad, por sua vez, seria o demônio personificado? Um troglodita político que esmagará a porretadas as liberdades públicas, de seu gabinete no Viaduto do Chá?
Nada disso, é claro.
Serra tem qualidades que o ódio de seus inimigos não reconhece: enorme experiência, um saldo muito positivo como secretário do Planejamento do governador Franco Montoro (1983-1987), como um dos deputados mais ativos da Constituinte, um senador profícuo, um ministro da Saúde que marcou época, um prefeito efêmero, mas eficaz, da cidade de São Paulo, um excelente governador do Estado durante três anos e meio.
Tem defeitos? Deus sabe que sim: é excessivamente centralizador, não ouve quase ninguém, deveria ser menos arrogante e ter mais respeito pelos adversários (e, às vezes, pelos próprios aliados), ostenta um péssimo humor que não ajuda em nada suas tarefas.
Pesam contra ele acusações? Sim, pesam, a começar pela tal história do tal Paulo Preto. Mas não custa lembrar que o PT está há dez anos no poder, há dez anos tem o Ministério da Justiça, há dez anos manda na Polícia Federal. Se trabalharmos com fatos, a pergunta é obrigatória: onde estão as investigações, ou sequer os indícios de qualquer irregularidade?
Haddad é um quadro novo, relativamente jovem (além de não aparentar seus 49 anos) e promissor do PT. Professor da USP, bacharel, mestre e doutor e, diferentemente da maioria dos graduados petistas trabalhou, sim, na iniciativa privada, e ainda mais no setor financeiro. Já está na vida pública há 11 anos, com passagem pela área de economia e planejamento tanto na Prefeitura de São Paulo como trabalhando com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Seus sete anos como ministro da Educação do lulalato e de Dilma foram um período de altos e baixos, e o saldo, a despeito de seus esforços, não passou de medíocre e controvertido.
O problema não está em Haddad, cujas qualidades incluem a afabilidade pessoal e o bom trato com assessores e subordinados.
Lula leva Haddad a tiracolo para a fato antes inimaginável: mendigando minutos na TV de Maluf na casa de Maluf (Foto: Folhapress)
O problema é o projeto de que Haddad – por força do dedazo de Lula, que o empurrou como candidato goela abaixo do PT paulistano — faz parte. Haddad, que Lula levou pela mão no humilhante e outrora absolutamente inimaginável peregrinação até a casa de Paulo Maluf, quando vendeu mais uma parte da alma do PTem troca e menos de 2 minutos de tempo na TV.
O projeto de Lula, que é também…
* o projeto de comprar o Congresso com dinheiro sujo, e subordiná-lo ao Executivo,
* o projeto de José Dirceu, do “bater neles nas urnas e nas ruas”,
* o projeto de que cooptou quase todo o leque partidário à custa de cargos, vantagens e tudo o que antes se criticava da “velha política” brasileira no afã de alcançar, dispor de e manter o poder até onde a vista alcança,
* o projeto de um “núcleo duro” que, com raríssimas exceções, nunca escondeu seu desprezo pela “democracia burguesa”,
* o projeto de Rui Falcão, aquele que, embora membro dela desde sempre, denuncia “a elite” e ofende o Supremo Tribunal Federal ao incluí-lo entre a oposição “conservadora, suja e reacionária”,
* o projeto da turma de Franklin Martins, que ressurge dentro do PT querendo o “controle social” da imprensa, sinônimo de calar a imprensa livre,
* o projeto dos que consideram as consideram as condenações impostas pelo Supremo Tribunal Federal a mensaleiros e ladravazes como um “golpe” da oposição –coitadinha dela — e da imprensa, um improvável e espantoso golpe contra um EX-presidente, não aceitando as regras mais elementares da democracia e do Estado de Direito,
* o projeto de quem, propositalmente, martela nos ouvidos da opinião pública que quem se opõe aos desígnios do PT “é contra o Brasil” — como fazia a ditadura militar com o “ame-o ou deixe-o”,
* o projeto de quem esvaziou, desmoralizou e politizou as agências reguladoras — criadas para serem entes de Estado, e não de governo, com padrão e ação técnicos –, distribuindo-as como moeda de troca entre partidos,
* o projeto de quem inchou com milhares de militantes partidários os quadros da administração pública,
* o projeto de quem distribuiu cargos gordíssimos e bem remunerados em conselhos de estatais e de fundos de pensão de funcionários de estatais a sindicalistas “companheiros” — não pela competência, mas pela afinidade ideológica,
* o projeto de quem prestou, e em menor grau ainda continua prestando, seguidas homenagens a regimes párias como o de Cuba e o do Irã, e estende tapete vermelho a demagogos autoritários como Hugo Chávez ou governantes que pisam nos interesses brasileiros, como Evo Morales,
* o projeto de quem tratou os narco-terroristas das chamadas “Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia”, as Farc, como grupo político no cenário colombiano, e não como os bandidos, sequestradores e assassinos que são, tendo por eles mais consideração do que com os governos democráticos, mas “de direita”, de Bogotá,
* o projeto de quem envergonhou o Brasil se abstendo de condenar, na ONU, regimes que pisoteiam os direitos humanos, concedendo prioridade em desferir caneladas em aliados ocidentais, a começar pelos Estados Unidos,
* o projeto de quem, qual república de bananas, abriu generosamente os braços ao terrorista e assassino Cesare Battisti, concedendo-lhe o status de refugiado político e ferindo os brios de uma democracia exemplar como a Itália, país amigo e terra dos ancestrais de mais de 30 milhões de brasileiros,
* o projeto de quem, na oposição, por décadas se opôs sistematicamente, por razões ideológicas, a medidas que beneficiavam o Brasil, de tal forma que nada que a atual oposição faça possa nem de longe lembrar o comportamento deletério e derrotista manifestado por Lula e o lulo-petismo ao longo de sucessivos governos,
* o projeto a que resiste, como uma rocha, há 18 anos, o eleitorado do Estado de São Paulo, acompanhado há menos tempo pelos eleitores Minas Gerais e, aqui e ali, pelo de Estados como o Paraná, o Pará e Goiás, razão pela qual a conquista da cidade de São Paulo é vista como um passo importante para “descontruir” a administração tucana do Estado e tentar abocanhá-lo em 2014..
Tancredo discursa já como presidente eleito para restaurar a democracia, em 1985: o PT não apoiou sua eleição (Foto: Dedoc / Editora Abril)
Quase todo mundo sabe, mas, como nossa memória é curta, e a memória de boa parte dos lulo-petistas extremamente seletiva, vale lembrar que Lula e sua turma, entre outros episódios que vou deixar de lado…
*… foram contra a eleição de Tancredo Neves como presidente da República em 1985, ato que encerraria a ditadura militar, dando lugar a um regime civil que restauraria as liberdades públicas e a democracia. Os então deputados petistas que votaram em Tancredo – Ayrton Soares (SP), Bete Mendes (SP) e José Eudes (RJ) — foram expulsos do partido. 
*… não participaram da solenidade de homologação da nova Constituição democrática, a 5 de outubro de 1988, e deixaram claras suas “ressalvas” ao texto aprovado por todos os deputados e senadores de todos os partidos.
Os petistas assinam a nova Constituição, porque era uma formalidade inescapável, mas o próprio Lula, então deputado constituinte, pronunciou um longo discurso 12 dias antes da promulgação, a 23 de setembro de 1988, dizendo, com todas as letras: “O partido [PT] vota contra o texto, e amanhã, por decisão do nosso Diretório – decisão majoritária – assinará a Constituição, porque entende que é o cumprimento formal da sua participação nessa Constituinte”.
* … defenderam em 1989 o calote da dívida externa brasileira, com Lula candidato à Presidência – seria derrotado no segundo turno por Fernando Color –, medida que levaria o Brasil à bancarrota e à desegraça, faria secar os investimentos externos por tempo indeterminado e transformaria o país em pária internacional.
* … recusaram-se num momento de gravíssima crise institucional, no final de 1992, a colaborar com o vice Itamar Franco, que assumiu em definitivo a Presidência com o afastamento de Fernando Collor e, no Planalto, tentou fazer um governo de grande acordo nacional para tirar o país do caos econômico e da derrocada moral a que o levara seu antecessor. A ex-prefeita petista de São Paulo Luiza Erundina, uma exceção, cometeu o “crime” de cooperar com o presidente Itamar como ministra da Administração e viu-se obrigada a deixar o PT.
O então ministro da Fazenda Rubens Ricupero e o presidente Itamar Franco com as primeiras cédulas do Real, em 1994: o plano que estabilizou a economia foi ferozmente combatido pelos petistas -- cujos governos, depois, tanto se beneficiaram dele (Foto: Dedoc / Editora Abril)
* … combateram sem tréguas o Plano Real, classificando como “eleitoreiro” o mais bem sucedido programa de estabilização da moeda da história econômica do país, concebido por equipe reunida pelo ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, e bancado pelo presidente Itamar. Sem ele, como se sabe, os proclamados êxitos econômicos do lulalato não existiriam.
 * … se opuseram ferozmente a todas as privatizações que, durante os dois mandatos de FHC (1995-2003), dinamizaram e modernizaram a economia do país, aumentaram a arrecadação de impostos, diminuíram o peso do Estado, melhoraram a competitividade do Brasil no mercado internacional e tornaram o país terreno fértil para investimentos estrangeiros.
A oposição do lulo-petismo, que não esteve alheio à participação em atos de hostilidade e mesmo da agressão física a empresários e autoridades durante leilões na Bolsa de Valores, incluiu a da telefonia, que permitiu entre outros resultados que o país pulasse em menos de duas décadas de 800 mil celulares para os mais de 200 milhões que tem hoje.
* … manifestaram-se em 1999 inteiramente contra a adoção de um dos três pilares da estabilidade do país – a política de câmbio flutuante. No mesmo ano, declararam-se contrário ao segundo deles, a política de metas de inflação. No ano seguinte, combateram e votaram contra o terceiro pilar do tripé que, ironicamente, propiciaria um governo extremamente favorável ao próprio Lula – a Lei de Responsabilidade Fiscal .
* … inventaram e propagaram uma campanha de teor golpista e antidemocrática, o “Fora FHC”, tão logo o presidente iniciou em 1999 o segundo mandato, para o qual, derrotando Lula, foi eleito por MAIORIA ABSOLUTA dos eleitores brasileiros, e no PRIMEIRO TURNO.
* combateram e criticaram, a partir de 2001, várias medidas da chamada “rede de proteção social” estabelecida pelo governo FHC, como o Bolsa Escola, o vale-alimentação, o vale-gás, o auxílio a mulheres grávidas que fizessem todos os exames do prénatal e o auxílio a famílias que evitassem o trabalho infantil de seus integrantes. Os distintos programas que Lula e seus seguidores, na oposição, consideravam “esmola” e parte de uma suposta ação eleitoreira viriam a ser unificados durante o lulalato e transformados em sua principal vitrine: o Bolsa Família — utilizado, como todos sabemos como O instrumento eleitoreiro por excelência.
Por tudo isso, e por mais que se poderia relacionar aqui, o voto CONTRA o PT em São Paulo se impõe — para impedir que um projeto hegemônico que, misturando belas palavras e sorrisos com ameaças, pretende moldar a democracia brasileira a seus desígnios.

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