8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

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quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Tarsila do Amaral: um pouco da obra da mais renomada pintora brasileira

Tarsila do Amaral



A mais renomada pintora brasileira e um dos pilares do movimento modernista brasileiro, Tarsila do Amaral, nasceu em 1886 em Capivari, no interior de São Paulo. Filha de ricos proprietários de terra, terminou o ensino escolar em Barcelona, na Espanha, onde teve os primeiros contatos com a pintura. Sua obra-prima é o Abaporu, atualmente exposta em Buenos Aires, na Argentina, e com um valor de mercado inestimado. Mas suas outras pinturas também atraem o público em exposições e são desejadas por colecionadores, chegando a ser vendidas ou leiloadas por milhões de reais. Tarsila do Amaral morreu em 17 de janeiro de 1973, em São Paulo, de causas naturais. Relembre:

Início da carreira

A carreira de Tarsila nas artes plásticas começou em 1917, ao ter aulas com o pintor naturalista Pedro Alexandrino Borges. Em 1920, ela se mudou para Paris, onde estudou na Academia Julian e no ateliê de Émile Renard, recebendo uma vasta experiência vanguardista. De volta ao Brasil em 1922, aderiu ao modernismo. Apresentada por Anita Malfatti aos modernistas Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia, formou o “Grupo dos Cinco”, que nos anos seguintes influenciou a arte brasileira com o Manifesto Antropofágico. As reuniões do grupo eram realizadas no ateliê de Tarsila.

Operários, obra da fase Social da pintora -1933 (Foto: Wikimedia Commons)
Fases artísticas

O estilo de Tarsila tem influências do cubismo de Pablo Picasso e Fernand Léger, pintores que ela conheceu pessoalmente durante uma viagem à Espanha em 1923. O movimento influenciou a primeira fase de Tarsila, denominada “Pau Brasil”, em que a pintora buscou representar as paisagens do Brasil rural e urbano. A segunda fase, chamada de “Antropofágica”, começou com o Abaporu, em 1928. Com ela, Tarsila passou a usar cores mais vivas, como o amarelo, o vermelho, o roxo e o verde, para ilustrar obras mais oníricas. Por fim, veio a fase “Social”, inspirada pelos ideais comunistas e por sua passagem pela União Soviética em 1931. As obras têm cores sóbrias e acinzentadas para ilustrar a precariedade da vida operária.

Obra símbolo do modernismo

O Abaporu, obra mais conhecida de Tarsila, é o maior símbolo visual do Modernismo brasileiro, movimento cultural estabelecido na década de 1920. Foi mantida em segredo durante meses, até ser entregue como uma surpresa de aniversário para o escritor e então marido da artista, Oswald de Andrade, em 11 de janeiro de 1928. Perplexo, ele mostrou a tela para um amigo, o poeta Raul Bopp, e juntos eles começaram a ver na pintura a figura de um índio canibal, um antropófago que devoraria a cultura para em seguida reinventá-la. Daí surgiu o título da obra: com um dicionário de tupi-guarani, Tarsila encontrou as palavras “aba” e “poru”, significando “homem que come”.

O Abaporu, obra mais conhecida de Tarsila, é o maior símbolo visual
do Modernismo brasileiro (Foto: Wikimedia Commons)
De mão e mão

O casamento de Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade terminou em 1929. Na partilha, a pintora acabou ficando com o Abaporu. Em 1960, o quadro foi vendido ao colecionador Pietro Maria Bardi, fundador do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Em menos de um mês, o quadro foi revendido a Érico Stickel. Em 1984, foi adquirido pelo galerista Raul Forbes por US$ 250 mil. Até que, em 1995, Forbes decidiu leiloar a tela na casa de leilões Christie's, em Nova York. Quem a arrematou foi o empresário argentino Eduardo Constantini, que pagou US$ 1,35 milhão e a doou para o acervo do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (Malba), onde ela permanece até hoje.

A Caipirinha, leiloada por R$ 57,5 milhões
Recordista

Tarsila do Amaral é detentora do recorde de maior valor pago por uma obra de arte no Brasil. Em um leilão realizado em 17 de dezembro de 2020, a pintura “A Caipirinha” foi arrematada por R$ 57,5 milhões. O quadro entrou em disputa após ser penhorado judicialmente. Ao todo, recebeu 19 lances, e acabou adquirida por um colecionador. O recorde anterior de obra mais cara pertencia a “Vaso de Flores”, de Alberto da Veiga Guignard, comprada em 2015 por R$ 5,7 milhões.

No site oficial da pintora, pode-se encontrar sua biografia e completa. Clique aqui para seguir até lá.

Clipping Tarsila do Amaral: 5 curiosidades sobre a vida e a obra da pintora, por Marília Marasciulo, 12/01/2021, Galileu

terça-feira, 16 de março de 2021

As obras revisitadas das artistas Julieta de França, Georgina de Albuquerque e Abigail de Andrade


'Canto do Rio', de Georgina Albuquerque (1926). Acervo Museu Antônio Parreiras
Discriminadas por seus pares, Julieta de França, Georgina de Albuquerque e Abigail de Andrade têm suas obras revisitadas

Anita Malfatti, Djanira, Tarsila do Amaral, Lygia Clark, Tomie Ohtake, Lygia Pape, Beatriz Milhazes, Abigail de Andrade, Adriana Varejão. Postas assim, lado a lado, parecem muitas as brasileiras que alcançaram fama internacional no mundo das artes plásticas.

Mas, para cada uma das que furaram o teto de vidro imposto às mulheres nesta área, há um exército de outras que permaneceram invisíveis.
Existe uma névoa que acoberta a lembrança de outras artistas anteriores a Tarsila e Anita Malfatti, como se antes das modernistas simplesmente não tivessem existido artistas do então denominado ‘sexo frágil’. Existiriam artistas mulheres no século XIX? Se sim, quem foram elas? E por que sabemos tão pouco sobre elas?”, escreve a pesquisadora e professora do Instituto de Estudos Brasileiros da USP Ana Paula Simioni na abertura de sua ampla pesquisa de doutorado sobre mulheres esquecidas pela historiografia dominante na arte brasileira.
O problema de fundo, avalia Simioni, na verdade tem duas pernas: no Brasil, tudo o que se produziu antes da Semana de Arte Moderna de 1922 tende a ser visto como “menor”, “pouco nacional”; em outras palavras, uma cópia do que chegava da Europa.

Além disso, e apesar da presença esporádica de mulheres na Escola Nacional de Belas Artes, do Rio de Janeiro – praticamente, única instituição existente para o estudo da matéria na virada do século XIX para o XX –, elas eram consideradas eternamente amadoras e preteridas nos prêmios e salões.

Na sua pesquisa, a professora resgatou três grandes artistas, pioneiras que enfrentaram o machismo do seu tempo com estilo e persistência. E, sem surpresa, comprovou que, com suas criações, elas ajudaram a retratar e definir a sociedade brasileira.

Julieta de França

Nascida em Belém em 1870, esta escultora foi uma das primeiras mulheres admitidas na Escola Nacional de Belas Artes (que abriu suas portas a elas apenas em 1889). Também foi a primeira a conseguir uma vaga numa das prestigiosas viagens ao exterior promovidas pela instituição.

Se, no Brasil, trilhava um caminho promissor como discípula de Rodolfo Bernardelli, em Paris teve aulas com ninguém menos que Auguste Rodin.

Mocidade em flor', de Julieta de França (1902)
De volta ao Rio, em 1908, inscreveu uma maquete sua no concurso para a escolha de um monumento que celebraria o centenário da Independência do Brasil. Foi desclassificada sem maiores explicações. Inconformada, voltou à França por conta própria e colheu depoimentos favoráveis ao seu projeto, inclusive do próprio Rodin.

Pediu a revisão da decisão, mas foi novamente rejeitada. Mais: sua fama de “brigona” lhe valeu uma passagem só de ida para o ostracismo.

A maquete rejeitada de Julieta de França
Desafiados, os cânones da Academia brasileira nunca perdoaram a audácia de uma outsider que tentou se equiparar aos homens – e cuja própria história de vida ilustra bem o papel então reservado às mulheres, nas artes e, em virtualmente, qualquer outro setor da vida pública.

Georgina de Albuquerque

A paulista de Taubaté foi uma das primeiras mulheres a receberem o prêmio principal da Escola Nacional de Belas Artes pela sua pintura Sessão do Conselho de Estado.

Georgina provocou toda uma revolução na pictografia brasileira ao retratar um momento – provavelmente muito mais realista – do processo de independência do país que em nada recorda a triunfal caracterização de Pedro I com a espada às margens do riacho Ipiranga.

'Sessão do Conselho de Estado', de Georgina Albuquerque (1922)
Na cena, a mulher dele, a futura imperatriz Leopoldina, ocupa o centro da narrativa e ouve conselhos de ministros e parlamentares (todos homens, naturalmente).

O tema do quadro também é uma declaração de intenções em si. Apesar de aceitas, paulatinamente, nos círculos de criação, às mulheres se reservavam temas menos "nobres", como cenas domésticas, íntimas, além de naturezas mortas e paisagens.

Albuquerque desafia os padrões ao pintar um quadro político, hoje integrante do acervo do Museu Histórico Nacional, no Rio.

Abigail de Andrade

O pouco (quase nenhum) acesso das mulheres à vida pública na segunda metade do século XIX levou esta carioca a se especializar em autorretratos. Premiada no Salão Imperial de 1864, gozou de relativa fama e prestígio.

Mas cometeu o pecado máximo de uma mulher do seu tempo: envolveu-se com seu professor Angelo Agostini, então casado, e engravidou dele.

"Interior de Ateliê" de Abigail Andrade (1889). Coleção Hecilda e Sérgio Fadel, Rio de Janeiro
Proscrita na conservadoríssima sociedade brasileira do século XIX, precisou se refugiar com ele em Paris, onde criou, nos seus primeiros anos, a filha de ambos, Angelina Agostini, ela própria uma pintora reconhecida.'Estrada do Mundo Novo com Pão de Açúcar ao Fundo', de Abigail de Andrade (1888)

Andrade morreu em 1890, em Paris, e, ao longo das décadas seguintes, foi sendo pouco a pouco apagada dos registros artísticos brasileiros, até sua recente reabilitação. Poucas das suas obras sobreviveram até os nossos dias, e a maioria pertence a coleções privadas.

Clipping 3 artistas plásticas quase esquecidas que ajudaram a retratar a sociedade brasileira, por Alessandro Soler, 01/01/2021, Doméstika

quinta-feira, 5 de março de 2020

Saiba como conhecer os principais museus do mundo via Google Arts and Culture

A noite Estrelada - Van Gogh - Moma
Já imaginou poder visitar museus sem sair de casa? Isso é possível graças a tecnologia. O Google Arts and Culture permite ver peças de arte de museus do Brasil e do mundo. O projeto do Google conta com a colaboração de diversos museus.

Por meio da plataforma é possível fazer passeios virtuais dentro das galerias dos principais museus do mundo. Além disso, é possível abir obras raras em alta definição pelo computador.

O Google Arts and Culture utiliza a mesma tecnologia do Street View, para apresentar as galerias com passeios panorâmicos. A proposta é oferecer uma experiência imersiva aos usuários.

Segundo André Luiz Pinto dos Santos, professor especialista nos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Artes Visuais do Centro Universitário Internacional Uninter, é possível, por exemplo, acessar o acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo sem sair de sua casa.
A Pinacoteca possui um dos acervos mais importantes das artes produzidas no Brasil. O edifício está localizado no Jardim da Luz, no centro da cidade de São Paulo, e conta com pinturas de relevância para a história nacional, como é o caso da natureza-morta 'Bananas e Metal' - quadro produzido em 1887 por Pedro Alexandrino (1856 – 1942), tido pela crítica como o pintor de naturezas-mortas mais importante do país entre o final do século XIX e início do século XX", explica.
Além disso, a plataforma possibilita ao internauta dar zoom nas obras de artistas, a tal ponto que chega a ser possível inclusive notar as ações de restauro e intervenções sofridas.

Alguns dos museus disponíveis na plataforma são: MoMa The Museum of Modern Art, em Nova York, EUA; Uffizi Galery, em Florença, Itália; Van Gogh Museum e Anne Frank House, em Amsterdã, Holanda; Masp - Museu de Arte de São Paulo; Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, Brasil, entre outros.
A Virgem, Gustav Klimt - Galeria Nacional de Praga
Clipping Saiba como conhecer museus do mundo todo sem sair de casa, Revista Vida e Arte,  24/02/2020

terça-feira, 23 de julho de 2019

Adriana Melo, quadrinista brasileira da DC Comics, ganha prêmio Eisner 2019

Puerto Rico Strong - Foto: Divulgação / Amazon
A San Diego Comic-Con serve como palco para diversos anúncios relacionados à cultura pop, como a revelação do futuro do MCU (Universo Cinematográfico da Marvel), e até a capa oficial de Death Stranding, aguardado título do produtor Hideo Kojima. Além disto, o evento sediou o Prêmio Eisner 2019, uma premiação voltada aos quadrinhos e poderia ser considerada, inclusive, como o "Oscar das HQs" devido ao nível de relevância.

Enquanto brasileiros, fomos muito bem representados no Eisner pela quadrinista da DC Comics, Adriana Melo, que foi vencedora na categoria Melhor Antologia com a obra "Puerto Rico Strong". Ao Globo, a ilustradora conta que "não tinha tanta expectativa, mas estava torcendo... Foi, sim, uma surpresa muito grande. Não tenho como não dizer que estou muito, muito, muito feliz".

Adriana Melo trabalha na DC Comics
A coletânea de quadrinhos presta apoio à reconstrução e recuperação do país caribenho após o furacão Maria, de 2017, com todos os lucros sendo redirecionados à causa. As HQs contam histórias porto-riquenhas, abordando a diversidade do país em termos étnicos, culturais e de orientação sexual, por meio de narrativas individuais. Além disso, os quadrinhos tratam do fato de Porto Rico fazer parte do território estadunidense, embora uma parcela da população americana não reconheça isto -- e as eventuais dificuldades geradas por esta concepção equivocada.

A antologia é uma produção concretizada por 60 artistas (roteiristas e ilustradores) de nacionalidades variadas. A obra ainda não tem previsão para ser lançada no mercado brasileiro. No entanto, é possível adquiri-la pela Amazon, que entrega no país.

Adriana trabalha na DC Comics e produz conteúdos relacionados a Arlequina, Hera Venenosa, e Homem-Borracha, por exemplo. Você pode acompanhar o trabalho da artista brasileira por meio do Instagram e do Twitter.

Clipping de IGN Brasil, 21/07/2019

quarta-feira, 21 de março de 2018

Querer censurar obras de arte do passado, com base em valores do presente, gera grandes distorções

"Hilas e as Ninfas": o objetificado é o homem
Sob a desculpa de promover debate a respeito da objetificação do corpo feminino na arte, em fins de janeiro deste ano, o quadro "Hilas e as Ninfas", de John William Waterhouse (1849 – 1917), foi temporariamente retirado de exibição no Museu de Manchester, Inglaterra. A retirada, porém, provocou revolta do público local e até internacional, e o quadro teve que voltar ao seu lugar de origem bem antes do planejado.

No texto abaixo, Laura Ferrazza, doutora em História da Arte pela Sorbonne/PUCRS, analisa a obra e seu ator de forma contextualizada tanto no que diz respeito à época de sua produção quanto no refente à história da arte. Demonstra então que, no quadro em pauta, o objetificado é o homem, Hilas, e os sujeitos do desejo são as ninfas. Assim aponta para as distorções que ocorrem quando se projeta sobre o passado os olhos do presente. E questiona as tentativas de censura de obras antigas que não se encaixam nas exigências da correção política atual. Sempre vale lembrar que a arte não tem que bater continência nem para o moralismo de direita nem de esquerda nem de qualquer facção.

A Maldição e a Beleza

Em fins de janeiro deste ano, o museu de Manchester, no interior da Inglaterra, mandou retirar de sua exposição permanente o quadro “Hilas e as Ninfas”, de 1896, de autoria de John William Waterhouse (1849 – 1917). Além do quadro propriamente dito, os souvenires inspirados na pintura também sumiram da loja do museu. A decisão, segundo curadores, era suscitar o debate sobre a objetificação do corpo feminino na arte e na exposição permanente do espaço. Na parede onde antes ficava a obra, foi fixado um texto explicando ao público os motivos da desaparição. O público foi estimulado a expressar sua opinião em post-its, a serem fixados no mesmo local. A retirada de uma das obras mais emblemáticas do acervo provocou, de fato, rápidas e loquazes manifestações. As declarações dos visitantes, bem como dos internautas nas redes sociais ficaram bem divididas: alguns afirmaram que retirar a obra significa abrir um precedente perigoso, pela rendição à tendência de se apagar ou censurar a produção visual do passado; outros elogiaram a decisão por considerá-la politicamente correta.

Segundo a equipe do museu, a retirada seria temporária. Tanto o desaparecimento da obra quanto as reações do público seriam registradas pela artista contemporânea Sonya Boyce em uma obra que integraria uma próxima exposição. Contudo, o repúdio do público intensificou-se tanto na esfera local quanto na internacional, e o quadro acabou retornando a seu local de origem após apenas sete dias, bem antes do prazo programado. A curadora Clare Gannaway defendeu o projeto afirmando que, no período em que a obra fora produzida, “as personagens femininas aparecem como objetos passivos e decorativos ou como mulheres fatais.”

Todo esse alvoroço aguçou meu desejo de refletir mais sobre a referida pintura e seu autor e sobre as visões do feminino na arte do período, para tentar entender como uma produção de mais de cem anos pode se tornar objeto de tamanho debate nos dias atuais.

Autor e obra contextualizados

Comecemos pelo autor da obra. Afinal, quem foi Waterhouse? Nascido em Roma em 1849, filho de artistas ingleses, foi para Londres em 1853. Ingressou na Academia Real Inglesa em 1871, formando-se em 1888, época em que já estava produzindo ativamente. Continuou pintando até 1915, quando um câncer o obrigou a abandonar o trabalho. Em 2 de fevereiro de 1917, um dia após seu falecimento, uma nota no jornal Times de Londres o descreveu nos seguintes termos: “Este pintor pré-rafaelita pintava de uma maneira moderna.”

A Irmandade Pré-Rafaelita foi fundada em 1848 por três artistas: Dante Gabriel Rossetti, John Everett Millais e William Holman Hunt. O grupo iria influenciar a pintura inglesa de toda segunda metade do século XIX. O nome indicava uma oposição à arte inspirada no modelo clássico do Renascimento, personificada na figura do pintor italiano Rafael de Sanzio (1483 – 1520), que exaltava as formas perfeitas. Esse era o modelo seguido pela academia de arte inglesa. Tomando a corrente contrária, o grupo pretendia explorar, entre outros temas, o romance medieval e mesmo temas míticos, mas de maneira diferente do que acontecia na arte tradicional. O grupo oferecia aos novos artistas uma direção alternativa à arte acadêmica da época, e Waterhouse sucumbiu a esse apelo.

A confraria pré-rafaelita se dissolveu em 1862, mas seus protagonistas tiveram carreiras longevas. Seguiram produzindo e formando novos artistas com tendências semelhantes. Além da exploração de temas cavalheirescos, o espírito pré-rafaelita primava pela precisão no traço e a atenção aos detalhes. Waterhouse embebeu-se desse espírito, mas também foi influenciado pelas paisagens de pinceladas fluídas dos Impressionistas franceses e os temas carregados de simbologias obscuras do movimento Simbolista, também francês. Em suma, observou as transformações na arte do mundo ao seu redor e, a partir disso, desenvolveu um estilo único.

Na década de 1880, Waterhouse tornou-se conhecido como “o pintor das feiticeiras”. Isso, por haver transformado as mulheres no tema principal de suas pinturas. Em sua obra, abundaram, de fato, as criaturas mágicas – mas havia também mulheres de outros tipos. Suas figuras femininas eram inspiradas em personagens literárias medievais ou da antiguidade greco-romana; nesse sentido, a literatura inglesa da segunda metade do século XIX teve grande influência sobre as escolhas artísticas de Waterhouse e dos demais pintores pré-rafaelitas. Na primeira metade do século, a figura literária dominante era masculina: os heróis byronianos, libertinos, sedutores, rebelados contra a autoridade divina. Na segunda metade, ocorre a ascensão da mulher fatal, às vezes anjo luminoso, às vezes demônio crepuscular. Nesse contexto, os artistas pré-rafaelitas, situados entre o romantismo e o movimento decadentista do fim de século, haverão de criar uma imagem ambivalente da feminilidade.

Waterhouse representou uma mulher multifacetada, que podia desempenhar diferentes papéis. Em suas telas, encontramos heroínas, mártires, santas e bruxas. Isso é notável se pensarmos no contexto em que produziu suas obras: a era Vitoriana (reinado da Rainha Vitória, de 1837 a 1901) e a era Eduardiana (reinado de Eduardo VII, de 1901 a 1910). Foi nesse período que as mulheres inglesas iniciaram sua luta por igualdade social, como, por exemplo, o movimento das sufragistas, que data de 1897. Por outro lado, foi também um período de repressão contra a sexualidade feminina. Waterhouse mostra-se sensível a essas questões ao escolher figuras femininas como protagonistas e, muitas vezes, únicas personagens em suas telas. As mulheres de Waterhouse são poderosas, feiticeiras que comandam os acontecimentos, ou figuras livres, que exibem sua própria nudez sem pruridos.

Um dos motivos da recente polêmica em torno à tela “Hilas e as Ninfas” é a representação de um grupo de jovens nuas. A questão do nu, por sinal, estava no coração do debate artístico inglês na segunda metade do século XIX. Antes disso, na arte britânica, o nu era tido como um gênero menor, até mesmo vulgar. É por volta de 1850 que os críticos de arte reconhecem a ausência do nu como uma carência na tradição acadêmica do país; surge então a ideia do nu inglês. A Inglaterra desse período cria seu estilo de nu a partir da união entre três vertentes: o idealismo limpo do neoclassicismo francês, a volúpia dos nus italianos (principalmente venezianos) e o realismo inglês. Dessa maneira, os pintores ingleses produziram a imagem enigmática e sedutora, vulnerável e independente da mulher vitoriana. Sobre o véu literário e mitológico, haverá de esconder-se uma sensualidade bastante subversiva.

Em "Hilas e as Ninfas" é o homem o objetificado

Nas telas de Waterhouse, assim como em outros pintores pré-rafaelitas, a Antiguidade não é a dos grandes deuses do Olimpo, nem dos músculos modelados sob as vestes. O que interessa é a sensualidade das pequenas figuras, principalmente as femininas. Um exemplo é o próprio episódio que inspirou a tela “Hilas e as Ninfas”. Hilas tornou-se escudeiro do semideus Herácles ‒ ou Hércules ‒ após ser poupado por ele em uma batalha. Héracles encantou-se pela beleza do rapaz, e juntos embarcaram na expedição dos Argonautas. Em uma parada na ilha de Mísia, Hilas foi apanhar água junto à fonte Pegea, onde vivia um grupo de náiades (ninfas dos lagos e das fontes). Encantadas pela beleza do jovem, as ninfas o atraíram para dentro das águas e fizeram com que se afogasse; em outra versão, conferiram-lhe vida eterna e permitiram que morasse para sempre na fonte, junto delas. O fato é que Hilas nunca mais foi visto; Héracles pôs-se a procurar seu efebo pela ilha e perdeu a partida do navio Argos. O quadro de Waterhouse revela o instante mesmo em que Hilas sucumbe às ninfas e sela seu destino. É uma espécie de maldição da beleza: nesse caso, a beleza de Hilas, que desperta a cobiça das ninfas e o leva ao fim trágico. Ou seja: aqui, ironicamente, quem parece ser o objeto do desejo é o homem, e não as moças. Na pintura, o transbordamento amoroso e o êxtase são sugeridos de forma controlada, e a nudez dialoga com o tema: é principalmente nos olhares incisivos e nos gestos contidos que a sedução acontece.

A cena se desenvolve num ambiente natural com densa vegetação, onde se destacam os corpos nus das ninfas e seus olhares, que demonstram perfeitamente o poder de atração. Numa época de repressão sexual feminina, mulheres nuas, que conduzem os acontecimentos, não deixam de representar uma certa transgressão. A natureza selvagem em torno aos personagens é outro subterfúgio para sugerir aquilo que não pode ser dito explicitamente. O jogo de cores intensas na paisagem revela a pulsação amorosa. Assim, a natureza encarna a faceta da sensualidade irreprimida e florescente.

Será possível julgar o passado de forma definitiva com os olhos do presente? Por um lado, é inegável que o presente está permeado de passado; mas também existe uma distância e um contexto diverso. É problemática a exigência de que a visão dos corpos, do feminino, das mulheres satisfizesse, na era vitoriana, todas as exigências da correção política atual. Como tentei demonstrar, na verdade, há um tipo de transgressão em afrontar uma época cerceadora com a imagem de um corpo feminino nu e naturalizado; há uma homenagem em colocar-se a mulher como feiticeira, quando as ideias de igualdade entre os sexos incendeiam mentes e levam bandeiras para as ruas.  Contudo, hoje, parece que o passado sempre ‒ e somente ‒ pecou; há o perigo da distorção, de vermos apenas o que desejamos ver nas imagens que nos chegam de outras eras. Parece tentador apontar apenas os erros do passado, mas isso pode levar a interpretações dúbias, ao apagamento de comportamentos sobre os quais podemos, sim, refletir e formar uma opinião crítica; o problema é o desejo de silenciar. O episódio de “Hilas e as Ninfas” demonstra a potência das imagens que, ao atravessar os tempos, chegam a nossa contemporaneidade para gerar novas, profundas e às vezes bastante complexas reflexões.

Laura Ferrazza é doutora doutora em História da Arte pela Sorbonne/PUCRS e pesquisadora do PPG de História da UFRGS

Fonte:  O Estado de São Paulo, 24/02/2018

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Leni Riefenstahl, a cineasta genial que revolucionou a arte cinematográfica documentando o nazismo

Leni Riefenstahl, a genial cineasta que documentou o nazismo
Há tempos, em uma lista de discussão, criticava-se o autor de novelas Aguinaldo Silva por seu personagem Crô, o estereótipo do gay com seus tiques e trejeitos femininos. Criticava-se Aguinaldo porque o personagem Crô, da novela Fina Estampa, prestaria um desserviço à causa homossexual encarnando uma caricatura dos homens gays e, além de tudo, um capacho. Segundo os críticos de Aguinaldo, principalmente por este ser também homossexual e ter editado o Lampião da Esquina (primeira publicação LGBT de distribuição nacional), seus personagens deveriam representar uma imagem positiva dos homens homossexuais, de acordo com os parâmetros de positividade da militância. Agora, o personagem virou filme, e as críticas continuam bem ácidas.

A discussão levou ao recorrente debate sobre a necessidade ou não do engajamento da arte em lutas políticas, debate que desde fins do séc. XVIII não sai de pauta. Fazendo um aparte, pessoalmente, rejeito  a obrigação de qualquer finalidade moral ou social para a arte, considerando-a válida apenas como expressão estética. Sou da turma da arte pela arte.

Por outro lado, meio imbrincada ao debate sobre arte engajada ou não geralmente surge a discussão sobre o quanto a obra de um artista pode ser avaliada por sua vida pessoal e suas posições políticas. De fato, ética e estética nem sempre andam juntas, a História registrando a obra de artistas que foram inovadores em estética mas bem discutíveis em ética. Muitos artistas geniais mostraram triste apreço por ideias e práticas autoritárias, sexistas, racistas, antissemitas além de por comportamentos delinquentes. 

Então, distinguir a obra de seu autor, embora imprescindível, nem sempre é tarefa fácil. Principalmente para nós, simples distinto público, é dureza mesmo separar o joio do trigo. Penso na objeção emocional que passei a ter quanto à obra de Chico Buarque de Holanda depois de saber de seu apreço pela ditadura cubana. Logo ele que, no período da ditadura militar, posava de paladino da democracia com suas musiquinhas de protesto!? Hoje, sem grandes problemas digestivos, só consigo escutar sua obra lírica.

De qualquer forma, Chico Buarque nunca foi um artista excepcional. Pelo contrário, sua obra sempre foi convencional em termos de estética, sem nada de muito inovador, apesar de ter composições realmente bonitas. Mas e quando se trata de um artista, no caso de uma artista genial, inovadora em sua arte como poucos, mas cuja obra retratou exatamente um dos fenômenos políticos mais lastimáveis da história humana?

Refiro-me a cineasta alemã Leni Riefenstahl que revolucionou a arte cinematográfica tendo como tema nada menos do que o nazismo. Em suas obra-primas, O Triunfo da Vontade e Olympia, Leni filmou respectivamente um encontro do partido nazista, em 1934, e as Olimpíadas, na Alemanha de Hitler, em 1936. Inovou tanto que, segundo Vicente Amorim, cineasta brasileiro (de Um Homem Bom, 2008), falando sobre Olympia:
É a glorificação da perfeição física que até hoje se irradia na propaganda, no design moderno, nos editoriais de moda. Se retirarmos a influência de Leni, provavelmente ainda estaríamos no século 19, do ponto de vista visual.
Verdade. O que salta aos olhos ao ver os dois documentários de Leni é sua atualidade. Parece que estamos assistindo a peças produzidas por algum artista de hoje. Tantos anos passados e as imagens ainda impactam e emocionam por sua beleza. Se a cineasta teve ou não um maior engajamento com o nazismo ou se simplesmente se aproveitou do culto nazista à beleza para produzir uma verdadeira elegia à forma humana, ao corpo humano, continua uma questão em aberto. Uma coisa, contudo, é certa: ela foi uma artista excepcional, uma mulher polêmica e notável.

Seguem texto de 2009 da revista Aventuras na História, sobre a Leni Riefenstahl, dois vídeos com suas obras O Triunfo da Vontade e Olympia. Seguem ainda odocumentário sobre ela: The Wonderful Horrible Life of Leni Riefenstahl (A maravilhosa vida horrível de Leni Riefenstahl). À parte a questão estética, são todos documentos históricos imperdíveis. 


A cineasta de Hitler
Leni Riefenstahl inventou técnicas cinematográficas e produziu imagens com efeitos espetaculares. Além de talentosa, era linda. Nada disso bastou para libertá-la da sombra nazista

No dia 1º de agosto de 1936, eram abertos na Alemanha os XI Jogos Olímpicos da história moderna. Pela primeira vez, a recém-inaugurada televisão transmitia para aparelhos instalados em prédios públicos de Berlim a espetacular cerimônia. Fascinado, o povo alemão viu e ouviu, ao vivo, um orgulhoso Adolf Hitler recebendo do grego Sypiridon Louis (campeão da maratona de Atenas, em 1896) um ramo de oliveira colhido nos montes de Olímpia, ao som de 100 mil vozes bradando "Heil, Hitler! Heil, Fuerher!" Todas as cenas da cerimônia foram registradas em 400 quilômetros de filme pela cineasta alemã Leni Riefenstahl.

A cobertura do evento foi uma encomenda do Comitê Olímpico Internacional, mas teve, claro, a mão de Adolf Hitler, presidente do país-sede dos jogos. Foi dele a palavra final sobre quem seria a responsável pelas imagens que terminaram se tornando um poderoso instrumento de propaganda a favor do regime nazista. Numa época de tecnologias cinematográficas incipientes, Leni soube tirar proveito da megaestrutura colocada à sua disposição. Ela inventou novas formas de olhar pela câmera, revolucionando as imagens de um jeito  que até hoje marcam o que assistimos na televisão ou no fotojornalismo esportivo.

Os contornos épicos dados ao evento não se limitaram à abertura dos jogos. Seis meses antes, Leni já estava dirigindo os técnicos que cobririam as provas realizadas na piscina. Como a tecnologia ainda não permitia captar imagens ao nível da água, Leni teve a ideia de construir plataformas especiais nas bordas para os operadores de câmera, que também eram posicionados com o atleta nos saltos de trampolim e dentro da água.

Nas provas de corrida, ela também inovou ao mandar cavar buracos e instalar trilhos para poder captar imagens à altura do chão. E equipou de câmeras corredores que acompanharam os atletas. Os planos ousados - focados no esforço e tensão dos competidores - e a fotografia única de Leni geraram imagens consideradas por especialistas uma aula de estética e de hipervalorização do corpo, com efeitos obtidos a partir de closes muito próximos ou de enquadramentos de baixo para cima, que davam aos atletas aspecto de estátuas gregas.
"É a glorificação da perfeição física que até hoje se irradia na propaganda, no design moderno, nos editoriais de moda. Se retirarmos a influência de Leni, provavelmente ainda estaríamos no século 19, do ponto de vista visual", diz Vicente Amorim, cineasta brasileiro que, em 2008, dirigiu o longa-metragem Um Homem Bom.
Triunfo da propaganda

A aproximação de Leni com Hitler aconteceu em 1932, quando ela dirigiu seu primeiro filme, A Luz Azul, juntamente com o húngaro Bela Balázs, um dos críticos mais influentes nos anos 30 e 40. Abordava a história de uma jovem montanhesa, representada pela própria diretora, em busca de uma pedra que projetava luminosidade singular. Antes disso, ela havia atuado como atriz em seis películas do alemão Arnold Fanck, especialista em filmes de montanha, que impressionaram muito a artista. Rodados em penhascos e em meio a avalanches, há quem diga que veio daí "o culto à monumentalidade" de Leni.

Mas foi Balázs quem apresentou a ela O Couraçado Potemkin, obra-prima do russo Sergei Eisenstein, famoso por suas teses sobre a montagem dialética, que dizem que as sensações de um filme podem ser construídas. Conversando sobre essas teorias com Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista, Leni caiu rapidamente no gosto do chanceler da Alemanha, que, dizem as más línguas, sempre teve uma quedinha por ela - questionada, a diretora afirmou que, para Hitler, fez apenas documentários.

E que documentários. Depois do inexpressivo Vitória da Fé, de 1933, sobre o quinto congresso do partido nazista, ela foi convencida por Hitler a produzir um longa-metragem sobre o sexto congresso. Foi sua obra-prima e sua condenação. O encontro partidário, marcado para setembro de 1934, em Nuremberg, transformou-se no filme O Triunfo da Vontade, extraordinária peça de propaganda. A logística de produção foi apoteótica para a época: mais de 100 técnicos e 30 câmeras. Segundo a própria Leni, no documentário The Wonderful Horrible Life of Leni Riefenstahl ("A maravilhosa vida horrível de Leni Riefenstahl"), de Ray Müller, feito em 1993, Hitler queria "um filme feito por um artista, e não por um diretor de partido".

Para sua realização, ela desenvolveu truques e artifícios até então inéditos. Por exemplo, um elevador construído e encaixado entre os mastros das enormes bandeiras do partido permitiu mover a câmera da esquerda para a direita e de cima para baixo, e fazer longos travellings (quando a câmera se desloca de forma contínua). Outro recurso, diz André Piero Gatti, pesquisador do Centro Cultural São Paulo e professor de História do Cinema na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), foram "câmeras muito próximas (close-ups) que tornaram agigantados objetos simples e contribuíram para a distorção da escala, para a captação em imagens de uma espécie de místico poder absoluto, escondendo atrás de uma beleza plástica a podridão de um regime".

Para o filósofo Paul Virilio, no livro Guerra e Cinema, "o evento foi organizado de maneira espetacular, não somente do ponto de vista de uma reunião popular, mas de modo a fornecer material para um filme de propaganda". Tudo foi determinado em função da câmera: os rostos voltados para o mesmo lugar, os braços levantados em cumprimento nazista, as ruas apinhadas de gente, que se fundem em um grande corpo, o conceito-chave da unidade alemã.


Dois anos depois é que veio o documentário Olympia, que fez dos jogos uma celebração do corpo e do Terceiro Reich. Leni era linda, talentosa e mulher, numa área dominada por homens. Mas foi a cineasta de Hitler. E a vinculação ao nazismo a perseguiu para sempre. Até a morte, aos 101 anos, em 2003, ela afirmou desconhecer os crimes cometidos por seus patrocinadores.

No fim da Segunda Guerra, a cineasta foi presa por quatro anos. Solta, tentou filmar, mas foi hostilizada pela opinião pública. Trabalhou então como fotógrafa. Nos anos 70, lançou dois livros sobre os nubas, tribo do Sudão com quem passou seis meses nos anos 60, fotografando obsessivamente. Esse material forma o que os críticos consideram seu mais importante ensaio. Cobriu os Jogos Olímpicos de Munique (1972) para a revista Time e fotografou celebridades, como Mick Jagger. Nos anos 80, mergulhou no silêncio da fotografia submarina, que resultou no filme Impressões Subaquáticas (2002).


Receita para fazer voar
Muitas câmeras para seguir o mergulho

Em 1932, houve uma tentativa de filmar os Jogos Olímpicos de Los Angeles. Mas eram poucas câmeras e para poucas modalidades. Em 1936, nos jogos de Berlim, Leni Riefenstahl produz um documentário com uma superestrutura de produção. A imagem dos mergulhadores no ar virou um marco para a foto esportiva. Operadores trocavam lentes embaixo da água para acompanhar a parte final dos saltos, criando uma sequência sem pausas, do início ao fim das provas. Hans Ertl, fotógrafo-chefe, criou uma câmera subaquática e uma plataforma de apoio para filmar ao nível da superfície. Leni subverteu o ponto de vista clássico "de plateia", em troca de ângulos inesperados.

Do trampolim

Saltos filmados em plongée (de cima para baixo) e de baixo para cima, do trampolim, dão impressão de voo. De uma plataforma ao nível da água, a câmera pega a hora do mergulho.

Do céu

Um dirigível levava uma câmera automática, com objetivas de até 600 mm, o limite máximo da época. O resultado eram panorâmicas aéreas do evento e do mergulho.

Dentro d'água

Equipamentos à prova d'água filmam o fim do mergulho. Diferentes lentes captam detalhes do músculo, da respiração e da expressão dos atletas.

Saiba mais

LIVRO

Leni - The Life and Work of Leni Riefensthal, Steven Bach, Knopf, 2007

Biografia que explora as fronteiras éticas entre arte, beleza e verdade, muito crítica às escolhas feitas pela cineasta.

SITES
Fotos, informações sobre a artista, críticas e dados técnicos.

Fonte: Aventuras na História, Bruno Vieira Feijó | 20/07/2009


Publicado originalmente em 11/12/13

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

As Divas da década de 40: Tributo a Lauren Bacall!

Lauren Bacall (16/09/1924-12/08/2014)
Johnny Mercer (cujo centenário se completou em 18 de novembro) escreveu letras para alguns dos maiores compositores americanos, como, por exemplo, Henry Mancini em Moon River e Days of wine and roses, e  David Raksin em Laura (postei a música abaixo com Carly Simon). Clique aqui para saber mais sobre esse letrista.

De fato, Laura é música tema do filme Laura de 1944, um filme noir com Gene Tierney, Dana Andrews, Vincent Price, Clifton Webb e Judith Anderson. Como bom film noir, tem uma história detetivesca no enredo, romance e  um visual enevoado, como num sonho, somado aos contrastantes preto-e-branco. É super-elegante e traz a beleza etérea da pivô de toda a história, Laura, interpretada pela atriz Gene Tierney.

Ao ouvir a música e lembrar do filme e da atriz Gene Tierney, lembrei também de outra diva hollywoodiana dos anos 40, Lauren Bacall, que recebu o Oscar honorário, em 14/11/09, pelo conjunto de sua carreira.  Reunindo todas essas lembranças, ponderei sobre o registro de beleza das divas da década de 40, do cinema americano e internacional, e fiquei aqui divagando sobre aquela aura de magia que rodeava essas mulheres. Dizem que essa aura se deve ao trabalho de alguns fotógrafos geniais, mas acho que vai além disso. Essas mulheres tinham uma mistura de beleza, sensualidade e elegância que simplesmente foi para o brejo. Hoje também existem mulheres belíssimas passeando pelas telas de cinema, passarelas da moda, etc., mas aquele clima de mistério, beleza, sensualidade e elegância não é mais encontrado.

Sempre me amarrei nessas divas da década de 40, especialmente em Lauren Bacall. Confesso que o marido dela, Humphrey Boggart, foi a pessoa que mais invejei no mundo..rsss Que linda, nooossa! Também acho que a beleza da diva era algo não só exterior tanto que envelheceu, nunca fez plástica (como Liz Taylor), por exemplo, e permaneceu bonita até idade avançada, uma velha bonita e elegante.

Por fim, acho que deveriam solicitar  uma célula qualquer dela, preservar como patrimônio da humanidade, clonar, cultivar e depois distribuir aos fãs e aos carentes de beleza, para amenizar ao menos este mundo tão feio. Uma laurenzinha para mim, por favor!!

Abaixo, além da música Laura, lindíssima também, um vídeo com imagens de Lauren Bacall e outro com a famosa cena onde ela manda Humphrey Bogart assobiar, com aquela voz caliente. Aliás, o Oscar que recebeu foi merecido. À parte a beleza, ela também foi boa atriz.





Publicado originalmente em 22/11/09, republicado em 13/08/13 e 18/01/2015 e reeditado em 16/09/2016

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Charges em homenagem aos cartunistas franceses mortos no ataque terrorista islâmico contra a Charlie Hebdo!

A Europa tem recebido imigrantes mulçumanos sem muitos critérios eletivos há décadas. Hoje há grande contingente populacional de gente que não se adapta ao mundo ocidental no velho continente. Na França, 10% da população já é muçulmana. Entre eles, 40% são jovens desempregados que não se sentem franceses e são facilmente recrutados por grupos extremistas. 

Os peritos dizem que esses ataques-relâmpago, perpetrados por poucos indivíduos, como o que vitimou os cartunistas da Charlie Hebdo, devem aumentar, pois os ataques terroristas de massa estão cada vez mais difíceis de executar. A solução será mais repressão policial e perda de liberdades civis para os franceses. Se tivessem criado um programa de aculturamento desses imigrantes e restringido a permanência dos mesmos no país à sua capacidade de adaptação aos costumes locais, toda essa situação trágica poderia ter sido evitada. Agora ficaram entre a cruz e a caldeirinha.

E o mundo das artes e do humor, de luto. 






Link permanente da imagem incorporada
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terça-feira, 9 de setembro de 2014

Arte Hiper-realista: quase humanos!


O hiper-realismo sempre teve seu lugar ao sol das artes visuais, mas às vezes fica meio sem destaque. Recentemente, contudo, tem voltado com força sobretudo por meio das incríveis esculturas de artistas, entre outros, como o canadense Jamie Salmon e a japonesa Jackie Seo. Feitas em geral de silicone, acrílico, fibra de vidro e cabelo, as esculturas parecem realmente vivas. Vejam algumas amostras abaixo e chequem aqui a galeria dos artistas para ver outras imagens. As três primeiras imagens são de Jamie Salmon e as quatro últimas de Jackie Seo.





Reeditado do original de 21/08/2011

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Incrível Beleza: pinturas ganham vida em vídeo de cineasta italiano


O cineasta italiano, Rino Stefano Tagliafierro, teve a brilhante ideia de animar 100 obras-primas da pintura mundial em um vídeo chamado Beleza. O vídeo se inicia com uma sequência de encantadoras paisagens e outras pinturas, sobretudo as do pintor francês Français William Adolphe Bouguereau, conhecido por descrever a infância e as relações familiares.

Das cenas delicadas de Bouguereau e de outros píntores, cenas bucólicas, cândidas, sensuais, passa-se, contudo, a partir dos 4:50, a pinturas lúgubres e violentas, com destaque para as de Caravaggio, tais como a famosa Davi com a Cabeça de Golias e a Medusa. No vídeo, as pinturas parecem ganhar vida, e os efeitos são realmente impressionantes. Vale a audiência.


B E A U T Y - dir. Rino Stefano Tagliafierro from Rino Stefano Tagliafierro on Vimeo.

Pinturas pela ordem de entrada

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