Patrícia Medici e Gabriela Cabral Rezende dedicam a vida à fauna brasileira e receberam o Whitley Awards, o “Oscar Verde” mundial |
Dois projetos idealizados por pesquisadoras brasileiras
foram vencedores do maior prêmio de conservação ambiental do mundo, o
"Fundo Whitley para a Natureza", chamado de “Oscar Verde”. Na manhã
desta quarta-feira (29) Gabriela Rezende recebeu a notícia da vitória que a
beneficia com cerca de R$ 260 mil (40 mil libras esterlinas) para auxiliar o
financiamento de seus projetos envolvendo o mico-leão-preto.
Além das iniciativas inscritas, o Fundo ainda garante o
principal prêmio da edição a um projeto que já tenha sido vencedor
anteriormente e continue merecendo destaque na biodiversidade. Foi nesta
categoria que consagrou Patrícia Medici com seu trabalho sobre a conservação de
antas no Brasil, recebendo cerca de R$ 400 mil (60 libras esterlinas).
Gabriela Rezende preserva os micos-leões-pretos da Mata Atlântica |
Gabriela Rezende estava entre os quinze finalistas do "Fundo Whitley para a Natureza", um dos mais prestigiados prêmios referentes à conservação no mundo, popularmente chamado de “Oscar Verde”. Premiado, o projeto trata da conexão dos fragmentos florestais da paisagem do Pontal do Paranapanema para garantir a reintrodução de micos-leões-pretos em áreas onde ainda não estão presentes.
Implantando o projeto, os corredores ecológicos estabelecerão uma área contínua de mais de 45.000 hectares de Mata Atlântica para micos-leões-pretos, aumentando a população na região e reduzindo a zero o risco de extinção das pequenas populações, já que estarão todas conectadas.
Implantando o projeto, os corredores ecológicos estabelecerão uma área contínua de mais de 45.000 hectares de Mata Atlântica para micos-leões-pretos, aumentando a população na região e reduzindo a zero o risco de extinção das pequenas populações, já que estarão todas conectadas.
Além do reconhecimento e de toda a visibilidade que o prêmio trás, ele vem com um apoio financeiro que vai ajudar muito a dar os próximos passos para a conservação da espécie. Com esse recurso vamos focar nas atividades de manejo das populações, movimentar grupos de micos-leões-pretos para as áreas que estão sendo conectadas, justamente para garantir que eles ocupem essas áreas restauradas e que isso possibilite o crescimento da população”, explica.
O prêmio conferido usualmente é entregue em uma celebração oficial em Londres, dinâmica que foi modificada em função da pandemia do novo coronavírus. Quanto ao adiamento da cerimônia, Gabriela garante que a comemoração será ainda maior.
Vai ser muito emocionante viver tudo isso no dia da cerimônia, que foi postergada. Trazer notícias boas de conservação da biodiversidade em um momento tão complicado que o mundo está passando é muito especial”, completa.
Também faremos mais plantios de árvores e corredores para alcançar o nosso objetivo final de estabelecer essa grande área contínua e reconectar as populações de mico. Também não podemos deixar de lado as ações de educação ambiental e envolvimento comunitário, que são cruciais para garantirmos a sustentabilidade de tudo que a gente faz”, completa.
O prêmio conferido usualmente é entregue em uma celebração oficial em Londres, dinâmica que foi modificada em função da pandemia do novo coronavírus. Quanto ao adiamento da cerimônia, Gabriela garante que a comemoração será ainda maior.
Vai ser muito emocionante viver tudo isso no dia da cerimônia, que foi postergada. Trazer notícias boas de conservação da biodiversidade em um momento tão complicado que o mundo está passando é muito especial”, completa.
Patrícia defende a causa da conservação da anta brasileira |
Há 24 anos, a bióloga Patrícia Medici, cofundadora da ONG brasileira Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), começou a desvendar os mistérios que envolviam as antas na Mata Atlântica, mais especificamente no Parque Estadual Morro do Diabo (SP). Se a perda de habitat, a caça e o aumento da urbanização eram ameaças para esse mamífero, o projeto utilizou a tecnologia de GPS, armadilhas fotográficas, a restauração de corredores florestais e até a atividade de educação ambiental como ferramentas da conservação da espécie.
Eu comecei a pensar em expandir para diferentes partes do Brasil esse projeto. Além da Mata Atlântica, em áreas que sabíamos da ocorrência desse animal como o Pantanal, o Cerrado e a Amazônia”, explica Patrícia.
E foi com a ideia de expansão das ações para o Pantanal que o projeto conquistou seu primeiro prêmio no Fundo Whitley, em 2008.
Houve uma reação do tipo: ‘é um projeto sobre antas mesmo que ganhou um prêmio?’ (risos). Isso gerou na gente uma necessidade de falar mais com o público sobre o animal”, relembra a pesquisadora.
Ampliar os conhecimentos, produzir o maior banco de dados sobre o animal e estudar o atropelamento da espécie nas estradas foram conquistas que permitiram que o fundo mantivesse o suporte para os diferentes passos do projeto.
Recebemos auxílio para dar continuidade às ações no Cerrado e agora este prêmio para a Amazônia”, vibra Patrícia.
Em 7 anos, no Mato Grosso do Sul, monitoramos 35 rodovias e detectamos mais 600 carcaças de antas por atropelamentos que ocasionaram a morte de mais de 30 pessoas. É, de longe, o problema mais sério para conservação e um risco para o tráfego nessas rodovias”
O dinheiro recebido pelo prêmio, agora, será dividido entre a expansão do projeto para a Amazônia e um retorno ao local de nascimento da iniciativa para avaliar a população dez anos após a pesquisa original. O valor recebido deve também ajudar a conter ameaças, criar planos a favor das antas e reforçar estratégias que reduzam o atropelamento desses animais em estradas, como cercamentos, radares e passagens de fauna.
A equipe coordenada por Patrícia é composta por cinco pessoas fixas, um trainee de algum país que possua o animal para obter conhecimentos e treinamentos sobre ele e mais sete colaboradores de diversas áreas que analisam, por exemplo, a contaminação de antas por agrotóxicos.
O prêmio "Whitley Fund for Nature " foi fundado na Inglaterra e completa 27 anos em 2020. Nessa trajetória já beneficiou mais de 200 projetos em 80 países com um financiamento que supera 16 milhões de libras, um valor que se aproxima dos 90 milhões de reais. Desde a origem da iniciativa, sete brasileiros já foram premiados (Patrícia Medici, por exemplo, havia vencido em 2008).
O dinheiro para auxiliar os projetos provém de doações de grandes instituições e fundações que vão desde o WWF até a Fundação Leonardo DiCaprio, por exemplo. Também foram premiados na edição deste ano projetos do Quênia, Butão, Nigéria, Indonésia e África do Sul, que envolviam assuntos como chimpanzés, antílopes e anfíbios.
Clipping Conheça as brasileiras vencedoras do maior prêmio de conservação ambiental do mundo, por Gabriela Brumatti e Giulia Bucheroni, Terra da Gente, G1 Campinas, 29/04/2020