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A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

quinta-feira, 25 de março de 2021

Metade dos caçadores de 9000 anos atrás era composta de mulheres


Descrição artística de uma mulher  caçadora de  9000 anos atrás nas montanhas andinas do Peru MATTHEW VERDOLIVO/UC DAVIS IET ACADEMIC TECHNOLOGY SERVICES

Os homens antigos são tradicionalmente retratados como caçadores, enquanto as mulheres são coletoras. Mas esse estereótipo pode não ser nada mais do que isso, de acordo com um novo estudo.

A ideia de que os ancestrais do sexo masculino vagavam pela terra com lanças nas mãos enquanto as mulheres ficavam em casa para cuidar dos filhos e preparar refeições parece, na verdade, infundada. Em vez disso os antigos caçadores que viveram há cerca de dez mil eram cerca de metade mulheres, sugere o estudo.

Esta descoberta abre novas possibilidades interessantes de como era realmente a vida dessas mulheres antigas.

Em um estudo publicado na quinta-feira na revista Science Advances, uma equipe de arqueólogos explica que ideias profundamente cimentadas sobre papéis sexuais nas sociedades antigas têm atrasado a ciência.
[Vários] estudiosos teorizaram que tal divisão de trabalho teria sido menos pronunciada, totalmente ausente ou estruturalmente diferente entre nossos primeiros ancestrais caçadores-coletores. [Mas] apesar de tais considerações teóricas, alguns estudiosos relutaram em atribuir a funcionalidade de caça para ferramentas associadas a enterros femininos.”
Essencialmente, o campo resistiu amplamente às teorias sobre antigas caçadoras em favor da narrativa existente de que as mulheres antigas ficavam em casa para ter ou cuidar dos filhos.

Os arqueólogos atribuem parcialmente esse descuido ao “preconceito sexual contemporâneo”. No entanto, os restos que eles descobriram no Peru em 2013 podem oferecer grandes evidências da ideia oposta para serem ignoradas.

Randall Haas, o primeiro autor do estudo e professor assistente de antropologia na UC Davis, disse em um comunicado que essas descobertas mudaram completamente a forma como ele imaginou essas sociedades antigas.
Nossas descobertas me fizeram repensar a estrutura organizacional mais básica dos antigos grupos de caçadores-coletores, e grupos humanos em geral”, disse Haas. “Possivelmente por causa de suposições [históricas] sexistas sobre a divisão de trabalho na sociedade ocidental, descobertas arqueológica de mulheres com ferramentas de caça simplesmente não se encaixavam nas visões predominantes do mundo. Foi preciso um caso forte para nos ajudar a reconhecer que o padrão arqueológico indicava o comportamento de caça real das mulheres.”
O início da caça de grandes animais era possivelmente feita por mulheres e homens

Ao contrário de nossos ancestrais mais modernos, que podem deixar para trás evidências escritas para nos ajudar a reimaginar suas vidas, os cientistas que estudam povos do Pleistoceno Superior e do Holoceno Inferior (cerca de nove mil a doze mil anos atrás) têm muito menos evidências.

Para descobrir como eram esses povos antigos, os acessórios com os quais viveram — e com os quais foram enterrados — podem ser a chave.
Os objetos que acompanham as pessoas na morte tendem a ser aqueles que as acompanharam em vida”, escrevem os autores do estudo.
Escavações dos cemitérios no Peru. Crédito: Randall Haas
No Peru, a equipe descobriu restos que as análises dentais, ósseas e proteicas sugerem ser um indivíduo do sexo feminino entre 17 a 19 anos. Enterrados ao lado desse indivíduo havia uma variedade de itens tradicionalmente encontrados no kit de ferramentas de um caçador de grandes animais, incluindo projéteis pontiagudos, ferramentas de corte e uma faca.

No total, eles encontraram 24 artefatos neste cemitério relacionados à caça e processamento de grandes animais.

Para ter certeza de que a descoberta não foi apenas um acaso, a equipe conduziu uma revisão de 107 sítios arqueológicos que datam da mesma época nas Américas, cerca de dez mil anos atrás.

Com base nas ferramentas encontradas nesses vários cemitérios, a equipe descobriu que eles continham os restos mortais de 16 homens e 11 mulheres caçadoras.
Modelos plausíveis ​​variam entre 30 e 50% da participação feminina, sugerindo que a caça inicial era provavelmente neutra em relação ao sexo ou quase neutra”, escrevem os autores.
Embora as descobertas apoiem ​​uma nova teoria da igualdade sexual entre caçadores e caçadores que vivem no Pleistoceno Superior e no Holesteno Inferior, os autores afirmam que mais trabalhos são necessários para reconciliar essas descobertas com evidências mais recentes sugerindo que esses papéis eram divididos pelos sexos. A caça já foi praticada por homens e mulheres antigas, antes que os homens assumissem um papel de liderança neste trabalho?

Os cientistas especulam que a tecnologia mais crua que os antigos caçadores usaram no Pleistoceno Superior e no Holesteno Inferior pode significar que todas as pessoas capazes (machos ou fêmeas) precisariam ser convocados para caçar em prol da eficiência. Sociedades pré-históricas mais avançadas podem ter precisado apenas dos homens para caçar.

Para responder a essas e outras perguntas, os cientistas esperam concluir análises mais comparativas para descobrir por que essas antigas caçadoras podem ser exceções ou se os arqueólogos estão deixando passar detalhe importantes como resultado do pensamento moderno.

Resumo: A divisão sexual do trabalho com mulheres como coletoras e homens como caçadores é uma grande regularidade empírica da etnografia de caçadores-coletores, sugerindo um padrão de comportamento ancestral. Apresentamos uma descoberta arqueológica e uma meta-análise que desafiam a hipótese do homem-o-caçador. Escavações no local montanhoso andino de Wilamaya Patjxa revelam um sepultamento humano de 9.000 anos (WMP6) associado a um kit de ferramentas de caça com pontas de projéteis de pedra e ferramentas de processamento de animais. Análises osteológicas, proteômicas e isotópicas indicam que este primeiro caçador era uma jovem fêmea adulta que subsistia de plantas e animais terrestres. A análise das práticas de sepultamento do Pleistoceno Superior e do Holoceno Inferior nas Américas situam o WMP6 como o primeiro e mais seguro sepultamento de caçadores em uma amostra que inclui dez outras mulheres em paridade estatística com os primeiros sepultamentos de caçadores machos. As descobertas são consistentes com práticas de trabalho não generalizadas nas quais as primeiras caçadoras-coletoras eram caçadoras de grandes animais. 

Clipping Estávamos todos errados: não eram os homens que caçavam na antiguidade, por Marcelo Ribeiro, 05/11/2020, Hyperscience. Img: Science Mag

quinta-feira, 18 de março de 2021

As mulheres samurais do Japão

Tomoe Gozen
A sociedade japonesa até os dias atuais têm uma forte hierarquia patriarcal, a história dos grandes feitos em todo mundo é sempre narrado na perspectiva masculina, por isso, não é muito comum ouvir falar de mulheres samurais.

Porém, elas exerceram grande papel no período do Japão feudal e foram decisivas nas batalhas.

Onna Bugeishas

As mulheres samurais, chamadas de Onna Bugeishas, lutavam batalhas defensivas, protegendo castelos e vilas, porém, não era incomum encontrar mulheres na linha de frente, com honra ao lado de homens.

Arqueólogos já encontraram em escavações, evidências de mulheres no campo de batalha.

BATALHA DE SENBON MATSUBARU

Testes de DNA em 105 corpos revelaram que 35 eram femininos. Em duas outras escavações, o resultado foi semelhante.

As Onna Bugeisha, além de exímias guerreiras, eram educadas em ciências, matemática e literatura.

O treinamento de armas das Onna Bugeishas chamava arte da Naginata,
destinado para combates em locais abertos (ver vídeo abaixo)

Armas e habilidades

Suas armas eram conhecidas, como Ko-Naginata, uma versão menor das usadas pelos homens, a O-Naginata, foi desenvolvida para melhorar o balanço e dar mais velocidade e força.

Outra arma que elas utilizavam era a adaga Kaiken, utilizada para combates em espaços pequenos e fechados, também utilizado para autodefesa. Outa característica da Kaiken era servir para o ritual de Seppuku.

Além das armas, as mulheres samurais treinavam Tantōjutsu, um sistema de luta tradicional do Japão e praticado até os dias atuais.

Treinadas profissionalmente por alguma figura patriarca, elas eram preparadas para proteger a si e a família durante qualquer ataque.

Imperatriz Jungu Kogo

Imperatriz Jungu Kogo

A imperatriz Jungu Kogo, foi uma guerreira que não só liderou, como organizou e planejou a conquista da Coréia, no ano 200 D.C.

Tomoe Gozen

Tomoe Gozen
Tomoe Gozen foi uma samurai excepcional, uma mulher muito bela, intelectual e com habilidades de batalha inquestionáveis.

Exímia arqueira e amazona, mestra com a Katana e uma competente política. Os mestres do clã de Minamoto afirmavam, que Tomoe Gozen, foi a primeira verdadeira general do Japão.

Gozen, provou suas habilidades de combates em muitas ocasiões, em uma delas, liderou 300 samurais contra mais de 2000 guerreiros e foi uma dos 5 sobreviventes da batalha.

Em 1184, na batalha de Awazu, venceu e decapitou Honda no Moroshige, um famoso guerreiro do clã Musashi.

Hangaku Gozen

Hangaku Gozen
Outra guerreira fenomenal foi Hangaku Gozen, uma bela e habilidosa comandante que liderou mais de 3 mil homens na defesa do forte Torisakayama, ao lado de seu sobrinho Jo Sukemori.

Nessa ocasião, Hojo, seu oponente, contava com uma força de mais de 10 mil homens, até o forte ser invadido.

Durante a batalha Hangaku foi ferida, mesmo assim, montada em um cavalo e armada com sua ko-naginata, lutou com ferocidade.

Nanako Takeko

Nanako Takeko
No final do século 18, houve uma guerra entra o clã Tokugawa e os membros da Corte Imperial.

Nanako Takeko, era muito habilidosa com a ko-naginata, extremamente inteligente e mestra nas artes marciais. Ao assumir o comando da nova força de combate de Onna Bugeishas, se juntou aos samurais na batalha.

Seu exército foi chamado de Joshitai. Takeko, morreu em batalha com um tiro no coração, antes de morrer, matou a maior quantidade de inimigos com sua ko-naginata.
Sua irmã, Nanako Yuko decapitou sua cabeça, para que o inimigo não a levasse como troféu. A cabeça está enterrada nas raízes de um pinheiro, no templo Aizu Bangemachi e um monumento foi construído em sua homenagem.

Durante o período Sengoku, a imagem das guerreiras mudou bastante, dando lugar ao status das mulheres conhecidas nos dias atuais.

As Onna Bugeishas acabaram por se tornar apenas esposas de nobres, generais e lordes da guerra. Os samurais se tornaram simples burocratas na hierarquia do império.

Clipping Conheça a história das mulheres samurais, por Kelly Kajiwara, Coisas do Japão

terça-feira, 16 de março de 2021

As obras revisitadas das artistas Julieta de França, Georgina de Albuquerque e Abigail de Andrade


'Canto do Rio', de Georgina Albuquerque (1926). Acervo Museu Antônio Parreiras
Discriminadas por seus pares, Julieta de França, Georgina de Albuquerque e Abigail de Andrade têm suas obras revisitadas

Anita Malfatti, Djanira, Tarsila do Amaral, Lygia Clark, Tomie Ohtake, Lygia Pape, Beatriz Milhazes, Abigail de Andrade, Adriana Varejão. Postas assim, lado a lado, parecem muitas as brasileiras que alcançaram fama internacional no mundo das artes plásticas.

Mas, para cada uma das que furaram o teto de vidro imposto às mulheres nesta área, há um exército de outras que permaneceram invisíveis.
Existe uma névoa que acoberta a lembrança de outras artistas anteriores a Tarsila e Anita Malfatti, como se antes das modernistas simplesmente não tivessem existido artistas do então denominado ‘sexo frágil’. Existiriam artistas mulheres no século XIX? Se sim, quem foram elas? E por que sabemos tão pouco sobre elas?”, escreve a pesquisadora e professora do Instituto de Estudos Brasileiros da USP Ana Paula Simioni na abertura de sua ampla pesquisa de doutorado sobre mulheres esquecidas pela historiografia dominante na arte brasileira.
O problema de fundo, avalia Simioni, na verdade tem duas pernas: no Brasil, tudo o que se produziu antes da Semana de Arte Moderna de 1922 tende a ser visto como “menor”, “pouco nacional”; em outras palavras, uma cópia do que chegava da Europa.

Além disso, e apesar da presença esporádica de mulheres na Escola Nacional de Belas Artes, do Rio de Janeiro – praticamente, única instituição existente para o estudo da matéria na virada do século XIX para o XX –, elas eram consideradas eternamente amadoras e preteridas nos prêmios e salões.

Na sua pesquisa, a professora resgatou três grandes artistas, pioneiras que enfrentaram o machismo do seu tempo com estilo e persistência. E, sem surpresa, comprovou que, com suas criações, elas ajudaram a retratar e definir a sociedade brasileira.

Julieta de França

Nascida em Belém em 1870, esta escultora foi uma das primeiras mulheres admitidas na Escola Nacional de Belas Artes (que abriu suas portas a elas apenas em 1889). Também foi a primeira a conseguir uma vaga numa das prestigiosas viagens ao exterior promovidas pela instituição.

Se, no Brasil, trilhava um caminho promissor como discípula de Rodolfo Bernardelli, em Paris teve aulas com ninguém menos que Auguste Rodin.

Mocidade em flor', de Julieta de França (1902)
De volta ao Rio, em 1908, inscreveu uma maquete sua no concurso para a escolha de um monumento que celebraria o centenário da Independência do Brasil. Foi desclassificada sem maiores explicações. Inconformada, voltou à França por conta própria e colheu depoimentos favoráveis ao seu projeto, inclusive do próprio Rodin.

Pediu a revisão da decisão, mas foi novamente rejeitada. Mais: sua fama de “brigona” lhe valeu uma passagem só de ida para o ostracismo.

A maquete rejeitada de Julieta de França
Desafiados, os cânones da Academia brasileira nunca perdoaram a audácia de uma outsider que tentou se equiparar aos homens – e cuja própria história de vida ilustra bem o papel então reservado às mulheres, nas artes e, em virtualmente, qualquer outro setor da vida pública.

Georgina de Albuquerque

A paulista de Taubaté foi uma das primeiras mulheres a receberem o prêmio principal da Escola Nacional de Belas Artes pela sua pintura Sessão do Conselho de Estado.

Georgina provocou toda uma revolução na pictografia brasileira ao retratar um momento – provavelmente muito mais realista – do processo de independência do país que em nada recorda a triunfal caracterização de Pedro I com a espada às margens do riacho Ipiranga.

'Sessão do Conselho de Estado', de Georgina Albuquerque (1922)
Na cena, a mulher dele, a futura imperatriz Leopoldina, ocupa o centro da narrativa e ouve conselhos de ministros e parlamentares (todos homens, naturalmente).

O tema do quadro também é uma declaração de intenções em si. Apesar de aceitas, paulatinamente, nos círculos de criação, às mulheres se reservavam temas menos "nobres", como cenas domésticas, íntimas, além de naturezas mortas e paisagens.

Albuquerque desafia os padrões ao pintar um quadro político, hoje integrante do acervo do Museu Histórico Nacional, no Rio.

Abigail de Andrade

O pouco (quase nenhum) acesso das mulheres à vida pública na segunda metade do século XIX levou esta carioca a se especializar em autorretratos. Premiada no Salão Imperial de 1864, gozou de relativa fama e prestígio.

Mas cometeu o pecado máximo de uma mulher do seu tempo: envolveu-se com seu professor Angelo Agostini, então casado, e engravidou dele.

"Interior de Ateliê" de Abigail Andrade (1889). Coleção Hecilda e Sérgio Fadel, Rio de Janeiro
Proscrita na conservadoríssima sociedade brasileira do século XIX, precisou se refugiar com ele em Paris, onde criou, nos seus primeiros anos, a filha de ambos, Angelina Agostini, ela própria uma pintora reconhecida.'Estrada do Mundo Novo com Pão de Açúcar ao Fundo', de Abigail de Andrade (1888)

Andrade morreu em 1890, em Paris, e, ao longo das décadas seguintes, foi sendo pouco a pouco apagada dos registros artísticos brasileiros, até sua recente reabilitação. Poucas das suas obras sobreviveram até os nossos dias, e a maioria pertence a coleções privadas.

Clipping 3 artistas plásticas quase esquecidas que ajudaram a retratar a sociedade brasileira, por Alessandro Soler, 01/01/2021, Doméstika

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