Esta semana que passou quase me vi envolvida num tremendo barraco pelo grande crime de não ter lido e não ter comentado um texto que me enviaram como circular num e-mail. Por conta da minha longa militância, algumas pesquisadoras, que já me entrevistaram, pedem meu parecer sobre suas teses. Muitas vezes, pela correria da vida cotidiana, deixo de comentar de imediato ou levo inclusive tempo para comentar o que me enviam. Nesses casos, contudo, quando sou objetivamente convocada a dar minha opinião sobre algo, pelo menos me sinto na obrigação de me desculpar por não ter lido ou por ter demorado a responder. Nunca me ocorreu, contudo, de alguém me vir com paus e pedras porque não expressei minha opinião sobre um texto. Tá certo que minha opinião vale muito (rsss), mas não é caso para tanto.
Como para tudo, porém, existe uma primeira vez, na semana passada fiz meu debut nesse tipo de imbróglio. Dado o caráter cordial do relacionamento que tinha com a pessoa barraqueira em questão (não sabia que era barraqueira até então) e pelo fato inclusive de estar tentando convencê-la a escrever num projeto coletivo de uma colega em comum (nem de minha iniciativa o projeto é), expliquei que não lera e comentara aquele texto dela, da barraqueira (embora tivesse comentado outros), por ter estado muito ocupada, ao mesmo tempo que busquei incentivá-la a redigir para o projeto coletivo pela idéia do projeto simplesmente. Mas a figura afirmou que, como lia meus textos, apesar de eu não ter pedido que o fizesse, eu tinha a obrigação (como amiga...rsss) de ler e comentar os dela, e, já que não lia os dela, não estava em posição de lhe pedir que escrevesse em nenhum outro lugar (sic). E quanto mais logicamente eu tentava argumentar com a dita, mais enfurecida ela ficava, começando, depois de um certo momento, literalmente a delirar, dizendo-se atacada, perseguida e não sei mais quantas outras. Como vi que estava entrando numa areia movediça porque a figura distorcia tudo o que eu dizia, entendendo inclusive o avesso do que eu falava, encerrei a conversa ponderando que ela estava querendo brigar, mas eu não queria, e desejando-lhe que ficasse bem e se encontrasse. A dita ainda me enviou uma mensagem desaforada, quando então a bloqueei, mas continua pela Web a destilar seu surto e, por certo, a veicular suas alucinações pelos bastidores da vida.
Conversa de louco, não é mesmo? Circulares de textos rolam aos milhares pelas caixas de entrada de todo mundo, por isso mesmo, quando se quer uma opinião de qualquer forma, a gente expressa isso claramente. Se não, entende-se que é facultativo ao destinatário comentar ou não a circular. Claro, todo mundo espera um feedback de tudo que envia, mas ninguém, em estado normal, arma um tremendo barraco porque alguém não leu um texto em particular.
Mas parece mesmo que está todo mundo meio louco, arrumando
brigas por motivos fúteis, como barris de pólvora humanos de pavio super-curto. Em novembro do ano passado, presenciei, mais do que vivi, um outro lance desses de ira despropositada. Ia deixar uma colega no ponto de ônibus, mas antes parei na farmácia, e ela me acompanhou para dar continuidade à conversa que mantínhamos. Estacionei o carro atrás de um outro de vidro fumê, e lá fomos às compras. Quando já estava no caixa, reparo que a pessoa do carro de vidro fumê manobrava, tentando sair, sabe-se lá por onde, pois não havia espaço para tal, e se aproximava perigosamente do meu carro. Pedi à colega que me acompanhava que fosse dizer @ motorista que esperasse um pouquinho que eu já estava pagando as compras. Minha colega foi e voltou irritada porque a motorista (era uma mulher) fora grosseira com ela, dizendo que tinha o que fazer, coisas do gênero (só ela, né?) em voz alta. Até apressei a caixa, alertando-a que tinha uma atacada ali no estacionamento e que era melhor correr.
Bem, saímos da farmácia e fomos para meu carro. Minha colega pegou a mochila que havia deixado no banco de trás, demos um beijinho de despedida, ela saiu em direção ao ponto de ônibus e eu sentei no banco do motorista, para dar partida no carro, quando se iniciou uma cena inusitada. Minha colega, que já estava a meio caminho do ponto de ônibus, retornou e se dirigindo ao carro de vidro fumê ergueu o braço e exclamou um “como é que é mesmo?”. Depois fiquei sabendo que a motorista havia dito para minha colega que era bom mesmo ela se apressar para não perder a hora na zona (sic). Ato contínuo, saiu do carro de vidro fumê uma versão brasileira do Arnold Schwarzenegger, se dirigiu a essa minha colega soltando fogo pelas narinas, pegou-a pelos ombros e a empurrou. Ela se estatelou no meio fio. Daí que saio eu do meu carro, para acudir a colega, e a barraqueira da motorista do vidro fumê sai do carro dela agora preocupada em controlar seu provável marido pitbulll que ela mesmo atiçara. Os transeuntes começaram a rodear a cena e a dizer para chamar a polícia ao mesmo tempo que xingavam o grandalhão de covarde, assim meio baixinho porque o tamanho do pitt e sua raiva botavam mesmo medo.
Enquanto eu entrava no meu carro de volta, para abrir a porta para minha colega a fim de sairmos dali (ela estava inclusive com um dos cotovelos sangrando), o Arnold também veio para o meu lado fungando e babando. Me senti como naquela cena do Alien III quando o monstro chega bem perto do rosto da Ripley mas não a mata porque sabe que ela estava grávida de outro monstrinho. O Arnold quase encostou o nariz no meu, mas eu mantive a pose e lhe disse que, se me tocasse, a coisa ia ficar feia. Funcionou porque ele se afastou, pude abrir a porta do carro do motorista e do passageiro para minha colega entrar e fugirmos dali. Antes pegamos a placa do veículo do pitt e, posteriomente, fomos à delegacia da mulher dar queixa. Como a colega já tinha problemas osteomusculares, o tombo agravou sua condição, estando até hoje na base da fisioterapia.
Coisa de louco, não é mesmo? Como é que alguém pode estar tão alterado a ponto de agredir outro alguém por que não tem paciência para esperar as manobras de um carro num estacionamento público? E as conseqüências de atitudes como esta? Minha colega poderia ter batido a cabeça no meio fio e ter sofrido algo bem mais sério do que problemas nas articulações.
Cito esses dois casos porque são os mais recentes que vivi, mas não são os únicos e não sou a única a ter vivido ou presenciado atitudes deste tipo principalmente em cidades como São Paulo. Tem muita gente que perde até a vida em simples brigas de trânsito, de bar, de rua. Gente que nunca sequer lhe viu, por qualquer picuinha, se toma de fúria descontrolada e parte para a baixaria verbal ou física num piscar de olhos.
O senso comum diz que há muitas pessoas por aí, carregadas de frustrações, desapontamentos, que buscam descarregar em outras pesssoas seus infortúnios, e o mais certo é simplesmente não deixar que elas lhe façam de lixeira. Sem dúvida, manter a cabeça fria em momentos de ataques alheios, súbitos e sem sentido, pode minimizar realmente as conseqüências dos atos dos destemperados sobre nossas vidas. Mas creio que é necessário uma análise mais ampla das sociedades que, cada vez mais, produzem gente assim tão irada, tão egoísta, tão amarga, tão de mal com a vida.
Como para tudo, porém, existe uma primeira vez, na semana passada fiz meu debut nesse tipo de imbróglio. Dado o caráter cordial do relacionamento que tinha com a pessoa barraqueira em questão (não sabia que era barraqueira até então) e pelo fato inclusive de estar tentando convencê-la a escrever num projeto coletivo de uma colega em comum (nem de minha iniciativa o projeto é), expliquei que não lera e comentara aquele texto dela, da barraqueira (embora tivesse comentado outros), por ter estado muito ocupada, ao mesmo tempo que busquei incentivá-la a redigir para o projeto coletivo pela idéia do projeto simplesmente. Mas a figura afirmou que, como lia meus textos, apesar de eu não ter pedido que o fizesse, eu tinha a obrigação (como amiga...rsss) de ler e comentar os dela, e, já que não lia os dela, não estava em posição de lhe pedir que escrevesse em nenhum outro lugar (sic). E quanto mais logicamente eu tentava argumentar com a dita, mais enfurecida ela ficava, começando, depois de um certo momento, literalmente a delirar, dizendo-se atacada, perseguida e não sei mais quantas outras. Como vi que estava entrando numa areia movediça porque a figura distorcia tudo o que eu dizia, entendendo inclusive o avesso do que eu falava, encerrei a conversa ponderando que ela estava querendo brigar, mas eu não queria, e desejando-lhe que ficasse bem e se encontrasse. A dita ainda me enviou uma mensagem desaforada, quando então a bloqueei, mas continua pela Web a destilar seu surto e, por certo, a veicular suas alucinações pelos bastidores da vida.
Conversa de louco, não é mesmo? Circulares de textos rolam aos milhares pelas caixas de entrada de todo mundo, por isso mesmo, quando se quer uma opinião de qualquer forma, a gente expressa isso claramente. Se não, entende-se que é facultativo ao destinatário comentar ou não a circular. Claro, todo mundo espera um feedback de tudo que envia, mas ninguém, em estado normal, arma um tremendo barraco porque alguém não leu um texto em particular.
Mas parece mesmo que está todo mundo meio louco, arrumando
brigas por motivos fúteis, como barris de pólvora humanos de pavio super-curto. Em novembro do ano passado, presenciei, mais do que vivi, um outro lance desses de ira despropositada. Ia deixar uma colega no ponto de ônibus, mas antes parei na farmácia, e ela me acompanhou para dar continuidade à conversa que mantínhamos. Estacionei o carro atrás de um outro de vidro fumê, e lá fomos às compras. Quando já estava no caixa, reparo que a pessoa do carro de vidro fumê manobrava, tentando sair, sabe-se lá por onde, pois não havia espaço para tal, e se aproximava perigosamente do meu carro. Pedi à colega que me acompanhava que fosse dizer @ motorista que esperasse um pouquinho que eu já estava pagando as compras. Minha colega foi e voltou irritada porque a motorista (era uma mulher) fora grosseira com ela, dizendo que tinha o que fazer, coisas do gênero (só ela, né?) em voz alta. Até apressei a caixa, alertando-a que tinha uma atacada ali no estacionamento e que era melhor correr.
Bem, saímos da farmácia e fomos para meu carro. Minha colega pegou a mochila que havia deixado no banco de trás, demos um beijinho de despedida, ela saiu em direção ao ponto de ônibus e eu sentei no banco do motorista, para dar partida no carro, quando se iniciou uma cena inusitada. Minha colega, que já estava a meio caminho do ponto de ônibus, retornou e se dirigindo ao carro de vidro fumê ergueu o braço e exclamou um “como é que é mesmo?”. Depois fiquei sabendo que a motorista havia dito para minha colega que era bom mesmo ela se apressar para não perder a hora na zona (sic). Ato contínuo, saiu do carro de vidro fumê uma versão brasileira do Arnold Schwarzenegger, se dirigiu a essa minha colega soltando fogo pelas narinas, pegou-a pelos ombros e a empurrou. Ela se estatelou no meio fio. Daí que saio eu do meu carro, para acudir a colega, e a barraqueira da motorista do vidro fumê sai do carro dela agora preocupada em controlar seu provável marido pitbulll que ela mesmo atiçara. Os transeuntes começaram a rodear a cena e a dizer para chamar a polícia ao mesmo tempo que xingavam o grandalhão de covarde, assim meio baixinho porque o tamanho do pitt e sua raiva botavam mesmo medo.
Enquanto eu entrava no meu carro de volta, para abrir a porta para minha colega a fim de sairmos dali (ela estava inclusive com um dos cotovelos sangrando), o Arnold também veio para o meu lado fungando e babando. Me senti como naquela cena do Alien III quando o monstro chega bem perto do rosto da Ripley mas não a mata porque sabe que ela estava grávida de outro monstrinho. O Arnold quase encostou o nariz no meu, mas eu mantive a pose e lhe disse que, se me tocasse, a coisa ia ficar feia. Funcionou porque ele se afastou, pude abrir a porta do carro do motorista e do passageiro para minha colega entrar e fugirmos dali. Antes pegamos a placa do veículo do pitt e, posteriomente, fomos à delegacia da mulher dar queixa. Como a colega já tinha problemas osteomusculares, o tombo agravou sua condição, estando até hoje na base da fisioterapia.
Coisa de louco, não é mesmo? Como é que alguém pode estar tão alterado a ponto de agredir outro alguém por que não tem paciência para esperar as manobras de um carro num estacionamento público? E as conseqüências de atitudes como esta? Minha colega poderia ter batido a cabeça no meio fio e ter sofrido algo bem mais sério do que problemas nas articulações.
Cito esses dois casos porque são os mais recentes que vivi, mas não são os únicos e não sou a única a ter vivido ou presenciado atitudes deste tipo principalmente em cidades como São Paulo. Tem muita gente que perde até a vida em simples brigas de trânsito, de bar, de rua. Gente que nunca sequer lhe viu, por qualquer picuinha, se toma de fúria descontrolada e parte para a baixaria verbal ou física num piscar de olhos.
O senso comum diz que há muitas pessoas por aí, carregadas de frustrações, desapontamentos, que buscam descarregar em outras pesssoas seus infortúnios, e o mais certo é simplesmente não deixar que elas lhe façam de lixeira. Sem dúvida, manter a cabeça fria em momentos de ataques alheios, súbitos e sem sentido, pode minimizar realmente as conseqüências dos atos dos destemperados sobre nossas vidas. Mas creio que é necessário uma análise mais ampla das sociedades que, cada vez mais, produzem gente assim tão irada, tão egoísta, tão amarga, tão de mal com a vida.