8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

O Brasil está às vésperas de uma mudança de época rumo a ideias liberais?

Juan Arias
Será muito saudável essa mudança de época, como diz Juan Arias, em seu texto abaixo, se o liberalismo no Brasil deixar de ser tão contaminado pelo conservadorismo como se apresenta hoje.

Um Estado pequeno, mas forte, menos impostos, menos corrupção, menos interferência estatal na economia e na vida das pessoas, tudo isso compõe um estado moderno e bem mais funcional e interessante do que o que temos agora. Arias identifica essa mudança de visão na classe média já tradicional e na ascendente.

... (a classe média pensante) perdeu o complexo de defender valores como o liberalismo, que leva junto o desejo pela eficiência e o afã de criar sua própria empresa.
...É essa mesma classe que, sem distinções ideológicas excessivas, defende hoje valores que são bem mais de políticas de centro, como a livre iniciativa, a eficiência dos serviços públicos, uma maior segurança pública, menos corrupção e um Estado menos gastador e onipresente.
 Vejo até mais críticas na classe C com relação a certas bondades do Estado, como bolsas e ajudas sociais, do que em classes mais altas. Criticam que muitas dessas ajudas podem acabar acomodando as pessoas e as tornar preguiçosas para trabalhar e melhorar sua capacitação profissional.
Entretanto, como conciliar esse discurso modernizante com o reacionarismo conservador que é contra a liberdade individual (embora alguns falem cinicamente em liberdade), contra a educação sexual, contra os direitos de minorias e, sobretudo, contra a liberdade das mullheres de serem sujeitos da própria vida, de ter autopropriedade, num país ainda tão marcado pelo machismo mais anacrônico? 

Quem viver verá no que essa virada política vai dar. Verá se vão prevalecer as ideias liberais de liberdade não só para "homens brancos, héteros, burgueses e cristãos", como no já clichê, ou se vai predominar o obscurantismo conservador. Se teremos as luzes no fim do túnel em que o PT nos meteu ou se teremos um novo túnel igualmente trevoso de outros proprietários. Para nós, que queremos um Brasil melhor para todas e todos, impõe-se a necessidade de nos empenharmos pelas primeiras ideias naturalmente, porque de gente autoritária, desonesta, picareta, etc... já nos chegam esses últimos anos de petismo.

O Brasil está deixando de ser de esquerda?

Poucos brasileiros duvidam que o país está às vésperas de uma mudança que pode ser de época

Em meio ao redemoinho da crise que o país atravessa, é possível vislumbrar algo que parece ser novo e poderia marcar as próximas décadas: o Brasil está começando a deixar de caminhar para a esquerda e sente uma certa fascinação por valores mais liberais e conservadores, de centro, menos populistas ou nacionalistas e, paradoxalmente, mais modernos e globalizados.

Até antes da crise, ou das crises que se amontoam, ninguém no mundo político queria ser de direita aqui. Tanto é assim que entre o mar de partidos oficiais nenhum leva em seu nome as palavras direita ou conservador. Até o mais conservador deles, e um dos mais envolvidos no escândalo na Petrobras, o PP, se chama Partido Progressista.

Entre o mar de partidos oficiais nenhum leva em seu nome as palavras direita ou conservador

O Partido dos Trabalhadores (PT), que já foi considerado o maior partido de esquerda da América Latina, marcava o passo como príncipe dos partidos, abraçado pelos movimentos sociais, os sindicatos, os operários e boa parte dos artistas e intelectuais. As ruas também eram do PT. E isso apesar de seu mentor e guia, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se esforçar em dizer que ele não era “nem de direita nem de esquerda”, mas apenas um “sindicalista”. Em seus oito anos de Governo foi também aplaudido, mimado e defendido pelos bancos, as empresas e as oligarquias que foram amplamente recompensados por seu apoio. Ele mesmo repetia aos banqueiros que nunca tinham ganhado tanto como com ele. E era verdade.

O Brasil é visto fora de suas fronteiras com uma política de centro-esquerda, uma vez que o PT se aliou, para poder governar, com os partidos conservadores.

Essa roupagem de esquerda, com a qual era vista a política dos governos brasileiros, fazia parecer normal a preferência por países do socialismo bolivariano do continente. A direita neoliberal não tinha carta de cidadania no Brasil.

As coisas, dizem não poucos analistas, estão mudando, porque mudaram a rua e a sociedade, que começou a abandonar o PT ao mesmo tempo em que se perdeu o complexo, principalmente na classe média pensante, de defender valores como o liberalismo, que leva junto o desejo pela eficiência e o afã de criar sua própria empresa. E isso não só entre os filhos das classes mais abastadas, mas também com os da nova classe média oriunda da pobreza, que já não sonham como ontem com um trabalho fixo sob as ordens de um patrão para o resto da vida.

É essa mesma classe que, sem distinções ideológicas excessivas, defende hoje valores que são bem mais de políticas de centro, como a livre iniciativa, a eficiência dos serviços públicos, uma maior segurança pública, menos corrupção e um Estado menos gastador e onipresente.

Não basta a eles que o Estado ofereça esses serviços para todos, querem que sejam dignos de primeiro mundo, porque o Brasil tem um potencial de riqueza que possibilitaria isso.

Vejo até mais críticas na classe C com relação a certas bondades do Estado, como bolsas e ajudas sociais, do que em classes mais altas. Criticam que muitas dessas ajudas podem acabar acomodando as pessoas e as tornar preguiçosas para trabalhar e melhorar sua capacitação profissional.

Poucos brasileiros duvidam que o país está às vésperas de uma mudança que pode ser de época. Ninguém sabe ainda profetizar no que consistirá essa mudança e em que direção irá, nem qual partido e líder político serão capazes de expressar e reunir o que está sendo gerado de novo nessa sociedade.

O que parece cada dia mais provável é que a seta não aponta mais preferencialmente para os caminhos da esquerda, que foram necessários e criadores da prosperidade social, mas hoje estão perdendo o interesse e a credibilidade.

É verdade que os termos esquerda e direita hoje já não possuem mais a força que possuíam no passado, mas o que a sociedade brasileira parece estar buscando se assemelha mais com as políticas dos países hoje mais igualitários, com democracias mais consolidadas, com menores taxas de corrupção política, com moedas fortes e com liberdade de empreender economicamente.

Tudo isso, junto com uma política de bem-estar social.

O que tenho escutado de muitos trabalhadores neste país é o desejo e a esperança de que, assim como no trabalho profissional, um brasileiro possa gozar do nível de vida e dos serviços públicos que hoje desfrutam os cidadãos de países considerados conservadores, onde as diferenças sociais não são tão evidentes e tão brutais como nos países embalados pelas sirenes de um populismo que, com muito Estado e pouca cidadania, acaba reproduzindo pobreza, como hoje estão sofrendo em parte nossos vizinhos argentinos.

O Brasil quer mais e melhor. E quer isso com políticas mais próximas do centro, com maior liberdade de ação, sem tutores que desejem guiar seus passos e dizer o que é melhor para as pessoas. Os brasileiros querem que sua palavra, seus projetos e suas ideias tenham também valor e peso nas decisões que forjam o destino do país.

Essa é a verdadeira subversão que hoje começa a viver essa sociedade viva e rica, que está aprendendo a dizer “não”. E, como defendia o escritor e ganhador do Nobel de Literatura José Saramago, às vezes o “não” da rebelião é muito mais construtivo do que o “sim, senhor” da resignação ou da apatia.

A rebelião não tem cor política.

Saramago era de esquerda, comunista.

Fonte: El País, Juan Arias, 19/09/2015

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Documentário americano sobre a cidade de São Paulo afirma que ela é subestimada

Americanos classificam SP como a cidade mais subestimada do mundo

Um projeto de um grupo americano que percorre várias cidades da América Latina desembarcou em São Paulo e o resultado foi um lindo curta-metragem falando da cidade que todos nós amamos e odiamos. O trio de San Francisco formado por Nick Neumann (cineasta), Walker Dawson (fotógrafo e apresentador) e Chris Moreno (escritor) descreveram no curta “São Paulo: a cidade mais subestimada do mundo” do projeto Breaking Borders pontos marcantes da cidade, como a Galeria do Rock, o bairro da Liberdade e a Vila Madalena.

O que impressionou os americanos foi o fato de a cidade ter sido escolhida por estrangeiros de várias nacionalidades como seu novo lar, já que recebemos aqui uma grande colônia de libaneses, japoneses e italianos.

Confira o curta sobre a cidade de São Paulo:



Fonte:
Viver SP, por Fábio Santos, 11/12/2014

terça-feira, 8 de setembro de 2015

No Brazilian Day, em Nova York, Fábio Júnior detonou Lula, Dilma e os políticos brasileiros

Fábio Júnior no Brazilian Day em Nova York
Até o cantor Fábio Júnior, que nunca fez o tipo politizado, mandou bala no PT, em Dilma, Lula, Zé Dirceu, PMDB e os políticos em geral durante sua apresentação no Brazilian Day (06/09). Mas terminou dizendo que depende de nós mudar essa porra. O vídeo do cantor detonando nossos políticos viralizou, e eu não podia deixar de registrá-lo, como brasileira que também não aguenta mais esse estado de coisas e faz tempoooo.

O desabafo de Fábio Júnior e o recado aos idiotas que logo serão ex-governantes

No Brazilian Day comemorado neste domingo em Nova York, transmitido ao vivo pelo Multishow e pela Globo Internacional, o cantor Fábio Júnior nem precisou recorrer a algum dos seus muitos sucessos para empolgar a multidão. Bastou-lhe cobrir os ombros com a bandeira nacional, declarar-se envergonhado com a roubalheira institucionalizada pelo lulopetismo e identificar sem rodeios os chefões do bando responsável pela decomposição moral, econômica e política do Brasil. O desabafo foi encampado em coro pela plateia composta por milhares de indignados.

Nesta segunda-feira, pela primeira vez num Sete de Setembro, não houve no Dia da Independência o pronunciamento presidencial difundido por uma cadeia de emissoras de rádio e TV. Por falta de coragem para dizer a verdade, e sobretudo por medo das vítimas de 13 anos de tapeação, Dilma Rousseff escondeu-se num palavrório bisonho divulgado pela internet. Mas não escapou de ser representada no ato de protesto em Brasília pela versão feminina do já famoso Pixuleko: ao lado do Lula com traje de presidiário, os manifestantes promoveram a estreia da Dilma tamanho família e com nariz de Pinóquio.

A presidente que não preside desde o início formal do segundo mandato agora foge até de gravações na TV. Está proibida há muito tempo de dar as caras nas ruas do país (ou, como avisa o vídeo, de qualquer lugar onde haja gente nascida neste viveiro de corruptos). As revelações do empreiteiro Ricardo Pessoa e o inquérito chancelado por Teori Zavascki embarcaram os ministros Aloizio Mercadante e Edinho Silva no bote de investigados que flutua no mar de lama que cobre o Planalto ao naufrágio. Não há esperança de salvação, até porque já não há sinais de vida inteligente no governo.

Prova disso é que os cretinos homiziados no palácio continuam a agir como se todos os brasileiros fôssemos idiotas. Não somos, reafirma o show de Fábio Júnior. Idiotas foram sempre eles. Logo serão também ex-governantes.

Fonte: Veja, blog do Augusto Nunes, 07/09/2015

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Petistas atacam protesto pacífico e constitucional a socos, pontapés e facadas!

Emanuele Thomazielo da União da Juventude Socialista (PT) esfaqueou Pixuleco
Petralhada fascista decidiu impedir manifestação pacífica e constitucional na base do soco, do pontapé e até da facada. Na sexta-feira, dia 28/08/2015, o boneco de 12 metros do ex-presidente Lula da Silva, apelidado de Lula inflado, ou Pixuleco, apareceu, em São Paulo, na ponte Estaiada, e no centro da cidade, onde foi esfaqueado pela petista Emanuele Thomazielo da União da Juventude Socialista (PT). No domingo, em outra aparição do boneco, desta feita na av. Paulista, em frente ao TCU, novamente os petistas apareceram para tumultuar o protesto e tentar esvaziar o boneco. E tudo na base da violência física mesmo, no melhor estilo chavista, castrista. Em outras palavras, no melhor estilo fascistoide, embora chamando a manifestação de "fascista".

Vale lembrar que a Constituição Federal em seu artigo Artigo 5º, XVI, declara:
Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, DESDE QUE não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o MESMO LOCAL, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente...
Página no facebook convocando para a destruição do boneco
A intenção da fascistada é intimidar a oposição (quantos bonecos de políticos eles já não fizeram também) e provocar uma reação proporcionalmente violenta para depois se fazer de vítima. É fundamental estabelecer estratégias de anular as intenções da canalha, sem se intimidar, mas sem responder às provocações. E pedir ação das autoridades competentes porque a máfia da estrelinha está infringindo a constituição e a liberdade de expressão dos cidadãos brasileiros. 



terça-feira, 21 de julho de 2015

Recesso de julho. De volta em 03/08


quinta-feira, 16 de julho de 2015

Como diria minha avó: não quer ajudar, não atrapalha.

Não costumo curtir o Gregório Duvivier e praticamente desconheço o Porta dos Fundos. Costuma ser bobo da corte esquerdista assim como o Danilo Gentili é da corte direitista, mas, no texto abaixo, sem dúvida acertou em cheio. Quem coloriu sua foto de perfil do facebook, por ocasião da aprovação do casamento LGBT nos EUA, viu bem o que ele descreve abaixo. Gente sem noção dizendo que não ia colorir sua foto porque tinha criança morrendo de fome na África, bicho morrendo no Brasil, ou seja, coisas mais importantes na qual se engajar. E até gente desfazendo amizade porque uns amigos coloriram suas fotos e outros não coloriram. Tudo muito antidemocrático e estúpido. Como ele bem diz, "o problema é exatamente esse: alguém fazendo alguma coisa lembra a gente de que a gente não está fazendo nada." "...melhor seria se se usasse essa energia para tentar mudar, de fato, alguma coisa. Como diria minha avó: não quer ajudar, não atrapalha." 
Todo vegetariano diz que a parte difícil de não comer carne não é não comer carne. Chato mesmo é aguentar a reação dos carnívoros: "De onde você tira a proteína? Você tem pena de bicho? Mas de rúcula você não tem pena? E das pessoas que colhem a rúcula, você não tem pena? E dos peruanos que não podem mais comprar quinoa e estão morrendo de fome?" 
O estranho é que, independentemente da sua orientação em relação à carne, não há quem não concorde que o vegetarianismo seria melhor para o mundo, seja do ponto de vista dos animais, ou do meio ambiente, ou da saúde, ou de tudo junto. O problema é exatamente esse: alguém fazendo alguma coisa lembra a gente de que a gente não está fazendo nada. Quando o vizinho separa o lixo, você se sente mal por não separar. A solução? Xingar o vizinho, esse hipócrita que separa o lixo, mas fuma cigarro. Assim é fácil, vizinho.
Quem não faz nada pra mudar o mundo está sempre muito empenhado em provar que a pessoa que faz alguma coisa está errada —melhor seria se usasse essa energia para tentar mudar, de fato, alguma coisa. Como diria minha avó: não quer ajudar, não atrapalha. 
É sempre a mesma coisa. Primeiro todo o mundo põe um filtro arco-íris no avatar. Depois vem uma onda de gente criticando quem trocou o avatar. Depois vem a onda criticando quem criticou. Em seguida começam a criticar quem criticou os que criticaram. Nesse momento já começaram as ofensas pessoais e já se esqueceu o porquê de ter trocado o avatar, ou trocado o nome para guarani kayowá, ou abraçado qualquer outra causa.

Toda batalha pode ser ridicularizada. Você é contra a homofobia: essa bandeira é fácil, quero ver levantar bandeira contra a transfobia. Você é contra a transfobia: estatisticamente a transfobia afeta muito pouca gente se comparada ao machismo. Você é contra o machismo: mas a mulher está muito mais incluída na sociedade do que os negros. E por aí vai. Você é de esquerda, mas não doa pros pobres? Hipócrita. Ah, você doa pros pobres? Populista. Culpado. Assistencialista.

Cintia Suzuki resumiu bem: "Você coloca um avatar coloridinho, aí não pode porque tem gente passando fome. Aí o governo faz um programa pras pessoas não passarem mais fome, e aí não pode porque é sustentar vagabundo (...). Moral da história: deixa os outros ajudarem quem bem entenderem, já que você não vai ajudar ninguém".

Todo vegetariano diz que a parte difícil de não comer carne não é não comer carne. Chato mesmo é aguentar a reação dos carnívoros: "De onde você tira a proteína? Você tem pena de bicho? Mas de rúcula você não tem pena? E das pessoas que colhem a rúcula, você não tem pena? E dos peruanos que não podem mais comprar quinoa e estão morrendo de fome?"

O estranho é que, independentemente da sua orientação em relação à carne, não há quem não concorde que o vegetarianismo seria melhor para o mundo, seja do ponto de vista dos animais, ou do meio ambiente, ou da saúde, ou de tudo junto. O problema é exatamente esse: alguém fazendo alguma coisa lembra a gente de que a gente não está fazendo nada. Quando o vizinho separa o lixo, você se sente mal por não separar. A solução? Xingar o vizinho, esse hipócrita que separa o lixo, mas fuma cigarro. Assim é fácil, vizinho.

Quem não faz nada pra mudar o mundo está sempre muito empenhado em provar que a pessoa que faz alguma coisa está errada —melhor seria se usasse essa energia para tentar mudar, de fato, alguma coisa. Como diria minha avó: não quer ajudar, não atrapalha.

Fonte:  FSP, 13/07/2015

segunda-feira, 22 de junho de 2015

E as rolas vão rolar: Boechat, Malafaia, homofobia e machismo


Depois da travesti crucificada na Parada LGBT de Sampa, a última polêmica, ocorrida na sexta (18), ficou por conta de um imbróglio envolvendo o jornalista Ricardo Boechat, da rádio BandNews FM, e o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.  Boechat, em seu programa matinal, afirmou “que é no âmbito de igrejas neopentecostais que estão acontecendo atos de incitação à intolerância religiosa”. Comentava sobre o caso da menina de 11 anos que foi atacada, no último dia 14, com uma pedrada, quando saia de um culto de Candomblé no Rio de Janeiro. Suspeita-se que tenham sido evangélicos os autores da agressão.

Malafaia, então, repondeu, via Twitter:
Avisa ao jornalista Boechat, que está falando asneira, dizendo que pastores incitam os fiéis a praticarem a intolerância. Verdadeiro idiota”.
Sabendo da tuitada, Boechat retrucou, em seu programa de rádio, sem poupar palavras. 
Ô, Malafaia, vai procurar uma rola, vai. Não me enche o saco. Você é um idiota, paspalhão, um pilantra, tomador de grana de fiel, explorador da fé alheia. E agora vai querer me processar pelo que acabei de falar que é o que você faz. Você gosta muito é de palanque. Eu não vou te dar palanque porque tu é um otário, tu é um paspalhão”.
[...]
...É o seguinte: é no âmbito de igrejas neopentecostais que estão acontecendo atos de incitação à intolerância religiosa, mais do que em outros ambientes. Em nenhum momento.... eu disse qualquer coisa que generalizasse esse comentário... Você é homofóbico, você é uma figura execrável, horrorosa. E que toma dinheiro das pessoas a partir da fé. Você é rico. Eu não sou rico porque tomei dinheiro das pessoas pregando a salvação depois da morte. O meu salário, os meus bens, o meu patrimônio vieram do meu suor, não do suor alheio. Você é um charlatão ....você é tomador de grana. Você e muitos outros. Não tenho medo de você, seu otário. Vai procurar uma rola, repetindo em português bem claro".
Malafaia sentiu o golpe e, em seguida, postou vídeo, em sua página no youtube, dizendo que iria processar o jornalista pela fala atravessada, além de comentar matéria sobre a demissão de Boechat do jornal O Globo, onde foi colunista. E terminou, desafiando novamente o jornalista: 
Então eu não tenho medo de você e está desafiado. Não é no seu programa não, porque eu não vou te dar esse mole. Em qualquer programa. Senta na mesa comigo que eu vou te engolir. Porque tu não tem argumento. Tu é bom sozinho, eu quero ver no confronto.
Os vídeos da treta entre os dois estão aí embaixo, primeiro o do Boechat, depois do Malafaia.

Nem é preciso dizer que o destempero de Boechat ganhou as redes sociais e as páginas de sites e blogs não tanto pelas várias verdades que disse sobre o execrável pastor mas sim por tê-lo mandado "procurar uma rola". A expressão, indiscutivelmente machista, é usada com frequência para tentar desqualificar as falas das mulheres que são mais assertivas, independentes, apresentando-as como "nervosinhas", "ranzinzas", "problemáticas", "mimizentas", "chatas", supostamente por falta de rola (ou de trepar). Claro, é absurdo insinuar que uma mulher (ou qualquer pessoa) age dessa ou daquela forma ou diz isso ou aquilo por falta de sexo. Trata-se, entre outras coisas, de uma forma de tentar silenciar as mulheres desconsiderando sua capacidade intelectual, sua racionalidade.

Ao mandar Malafaia "procurar uma rola", Boechat se dirigiu ao pastor, sobre o qual sempre pairou suspeitas de ser um gay mal resolvido (por certos trejeitos e afinadas de voz que costuma apresentar), como se fosse mulher, fazendo um outing atravessado do mesmo. Não que homens que apresentam características ditas femininas sejam necessariamente gays. Nem que homofóbicos sejam necessariamente gays mal resolvidos. Entretanto, quando essas duas características aparecem no mesmo perfil, há fundamento para se suspeitar que a figura seja um homossexual egodistônico, um gay que não se assume para si próprio (é inconsciente dos próprios desejos de tão reprimidos) e que persegue outros homossexuais como quem quebra espelhos para não ver a própria imagem. Nos EUA, é comum ativistas LGBT trazerem a público os casos homossexuais de muitos desses pastores evangélicos e políticos republicanos, ironicamente homofóbicos, que combatem os direitos homossexuais.

Concluindo, podemos dizer que, no cômputo geral, Boechat lavou a alma de muitos. Traduziu em público o que muita gente pensa sobre esse charlatão abominável chamado Silas Malafaia. Provocou também muitas risadas e memes (até eu entrei no clima). O que não impede que possamos analisar o uso da expressão "vai procurar uma rola", mesmo engraçada, por sua verdadeira natureza machista. Lamentável e inadvertidamente inclusive, Boechat referendou seu uso que deve aumentar. Criou assim uma faca de dois gumes.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Simone de Beauvoir explica "porque era feminista" em rara entrevista televisiva (1975)


Simone de Beauvoir Explains “Why I’m a Feminist” in a Rare TV Interview (1975)


In Simone de Beauvoir’s 1945 novel The Blood of Others, the narrator, Jean Blomart, reports on his childhood friend Marcel’s reaction to the word “revolution”:

It was senseless to try to change anything in the world or in life; things were bad enough even if one did not meddle with them. Everything that her heart and her mind condemned she rabidly defended—my father, marriage, capitalism. Because the wrong lay not in the institutions, but in the depths of our being. We must huddle in a corner and make ourselves as small as possible. Better to accept everything than to make an abortive effort, doomed in advance to failure.

Marcel’s fearful fatalism represents everything De Beauvoir condemned in her writing, most notably her groundbreaking 1949 study, The Second Sex, often credited as the foundational text of second-wave feminism. De Beauvoir rejected the idea that women’s historical subjection was in any way natural—“in the depths of our being.” Instead, her analysis faulted the very institutions Marcel defends: patriarchy, marriage, capitalist exploitation.

In the 1975 interview above with French journalist Jean-Louis Servan-Schreiber—“Why I’m a Feminist”—De Beauvoir picks up the ideas of The Second Sex, which Servan-Schreiber calls as important an “ideological reference” for feminists as Marx’s Capital is for communists. He asks De Beauvior about one of her most quoted lines: “One is not born a woman, one becomes one.” Her reply shows how far in advance she was of post-modern anti-essentialism, and how much of a debt later feminist thinkers owe to her ideas:

Yes, that formula is the basis of all my theories…. Its meaning is very simple, that being a woman is not a natural fact. It’s the result of a certain history. There is no biological or psychological destiny that defines a woman as such…. Baby girls are manufactured to become women.”

Without denying the fact of biological difference, De Beauvoir debunks the notion that sex differences are sufficient to justify gender-based hierarchies of status and social power. Women’s second-class status, she argues, results from a long historical process; even if institutions no longer intentionally deprive women of power, they still intend to hold on to the power men have historically accrued.

Almost forty years after this interview—over sixty since The Second Sex—the debates De Beauvoir helped initiate rage on, with no sign of abating anytime soon. Although Servan-Schreiber calls feminism a “rising force” that promises “profound changes,” one wonders whether De Beauvoir, who died in 1986, would be dismayed by the plight of women in much of the world today. But then again, unlike her character Marcel, De Beauvoir was a fighter, not likely to “huddle in a corner” and give in. Servan-Schreiber states above that De Beauvoir “has always refused, until this year, to appear on TV,” but he is mistaken. In 1967, she appeared with her partner Jean-Paul Sartre on a French-Canadian program called Dossiers.

Fonte: Open Culture, 23 de maio de 2013

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Com tantas correntes feministas, um Partido Feminista Democrático é viável?

O que o feminismo ensina à política

A democracia brasileira não está consolidada, ao contrário, ela parece ameaçada. Os prejuízos da ditadura militar ainda se fazem sentir nas marcas autoritárias visíveis no parlamento atual, assim como nas esferas micrológicas da vida cotidiana, bem como em todas as instituições. Camadas da sociedade vivem amedrontadas, outras tantas pagam todos os preços sociais da humilhação e da exploração. A violência partilhada por todos e, e em seu profundo lastro político-econômico, provocada por poucos, parece insuperável tanto ao nível simbólico quanto material e físico.

Apesar da precariedade concreta de nossa democracia, o desejo que a mantém viva – e que impulsiona várias de suas realizações na contramão do autoritarismo como tendência dominante – é sinal de que podemos avançar. Numa aliança entre trabalho e conhecimento, dizer que um outro mundo é possível é bem mais do que utopia abstrata. A criação de um novo partido político na cena brasileira atual é efeito do profundo desejo de democracia que anima nossos pensamentos e ações na intenção de uma sociedade justa, aquela em que a igualdade de direitos se torna concreta para todos os excluídos enquanto, ao mesmo tempo, são respeitadas suas singularidades.

Metade da humanidade (no sentido de conjunto concreto de seres humanos e não no sentido de uma ideia abstrata) é composta de mulheres que, ao mesmo tempo, foram excluídas de direitos historicamente. Na política, na economia, na educação, na saúde, nas ciências e nas artes, a participação das mulheres foi proibida ou controlada, tendo como cenário o vasto espectro da dominação masculina. As mulheres deveriam ficar em casa alienadas da esfera pública. A posição subalterna de tantas pessoas imposta pela dominação masculina não trouxe nada de bom a ninguém.

As mulheres atravessaram a história como sujeitos de reivindicações. Aviltadas, violentadas, impedidas de participar da vida pública, as mulheres lutaram pelo direito à educação, ao trabalho, ao voto. Lutam ainda hoje por direitos que vão da representação política à equiparação salarial, da liberdade relativa ao próprio corpo ao direito à singularidade.

A essa luta que tem início com as mulheres, luta experimentada em todas as culturas, deu-se o nome de feminismo. Esse nome ainda assusta algumas pessoas que não percebem que a luta feminista poderia não ter nome algum e que, mesmo assim, continuaria produzindo os melhores frutos que a árvore da emancipação poderia dar. O feminismo é luta por emancipação sem violência.

Como método de transformação política, o feminismo tem muito a nos ensinar.

As mulheres foram desconsideradas em muitos âmbitos das atividades humanas. No entanto, hoje, quando ocupam os espaços do trabalho e do conhecimento, sabemos que sua força é desejada enquanto, ao mesmo tempo, não é reconhecida. Sabemos que grande parte das famílias em todas as classes sociais é sustentada por mulheres. Em palavras muito simples, podemos dizer que as mulheres são a mais profunda força de sustentação social. Nas mais diversas crises, as mulheres estão sempre prontas e disponíveis para todos os tipos de esforços na proteção das bases da sociedade.

Apesar de não serem reconhecidas como deveriam, e de não terem direitos necessários garantidos, as mulheres seguem como uma espécie de força que se recria em silêncio. Ora, por que não dar a elas o poder? Por que não poderiam representar ai mesmas na esfera pública, sobretudo, no governo?

A criação de um Partido Feminista Democrático é capaz de contemplar todos os sujeitos silenciados para que tragam sua contribuição à construção de um outro poder. Um poder compreensivo e participativo. Um poder voltado ao diálogo. Um poder crítico do próprio poder. Um poder capaz de criar democracia contra toda forma de opressão, mas também contra toda forma de engodo e cegueira social. Um poder emancipatório que possa integrar a todos de maneira lúcida contra jogos de dominação e exploração e, assim, extirpá-los.

O partido feminista é um partido que contempla as mulheres e todos os que se reconhecem como mulheres, mas também de todos os que lutam a partir da ético-política feminista. É, sobretudo, um partido de singularidades que pretende a produção do comum como esfera da partilha democrática do poder.

O partido feminista é o lugar da prática lúcida e aberta a todas as pessoas independentemente de suas raças, crenças, sexualidades e classes sociais que busca, por diversos caminhos, mudanças na ordem das mentalidades e das práticas sociais injustas. A criação do partido é um passo decisivo nessa transformação que se torna a cada dia mais urgente.

A aposta é na criação de um poder livre de ressentimento. Aposta na amizade filosófica entre mulheres e todos aqueles que desejam um mundo ecológica e socialmente viável para todos os seres que existem. Na base, o feminismo é ético-política ecologista. Visa um mundo melhor em que cada pessoa como ser social responda pela humanidade concreta.

Fonte:  Blog da Márcia Tiburi,  10/05/2015

Marcia Tiburi é doutora em Filosofia e seus principais temas de pesquisa são ética, estética, filosofia do conhecimento e feminismo. É autora de diversos livros, artigos, colaboradora de jornais e revistas especializadas. É professora do Programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Admirável Mundo Novo: Oculus Rift promete apagar as fronteiras entre as realidades virtual e objetiva


A matéria abaixo é de junho do ano passado e o Oculus ainda estava em teste. Agora já  comercializado. Do que se trata?
Trata-se de uma mistura de um sistema estereoscópico 3D, 360 graus de visibilidade, som surrounding diretamente conectado aos seus ouvidos, e um software que atinge diretamente seu córtex cerebral.
E Zuckerberg, do Facebook, que pagou dois bilhões de dólares por parte da empresa inventora do produto, afirmou:
Este é o futuro. É como ir (com o Oculus) além da ideia de imersão e alcançar uma verdadeira presença humana, de cada indivíduo, num mundo virtual. Você anda, fala, come, senta, levanta, grita de dor, tem prazer e chora, deixando o plano do real - no qual a atual Internet se insere- para os velhos filósofos e psicanalistas. 
Abaixo vídeos sobre a experiência de usuários estrangeiros e brasileiros com o Oculus. Não sei se os games já estão totalmente desenvolvidos, mas a experiência parece ser incrível. E há que se estar em boas condições físicas e psicológicas para encarar a coisa. Pode dar ataque cardíaco e psicose, hem?

O "Mundo Real" vai acabar em 2015
Palmer Luckey, um garoto com pouco mais de 20 anos, criou uma tecnologia que pode mudar o mundo
Por Jack London - 28/06/2014

Você já ouviu falar em Oculus Rift? E em Palmer Luckey ?

Uma das maiores revistas internacionais da área de tecnologia, em edição recente, garante, numa reportagem de capa, que o moleque Luckey está perto de mudar os mercados de jogos, filmes, TV, música, design, medicina, sexo, esportes, artes, turismo, redes sociais, educação e até mesmo a própria realidade, esta “velha anciã” que já não nos é suficiente.

Capas de revistas costumam acertar muito mais que errar. Mas nunca vi uma frase tão longa numa capa, e tão contundente. Mudar a realidade? Mudar o sexo? Mudar praticamente todas as atividades humanas?

Palmer Luckey: jovem pode ser considerado, em pouco tempo,
um grande revolucionário (Foto: Wiki Commons)
Um pequeno detalhe: Palmer Luckey (que parece nome de personagem de série de TV) tem 21 anos e trabalha em seu projeto desde os 18, na garagem da casa de seus pais em Long Beach, na Califórnia (Estados Unidos). O tal projeto chama-se Oculus Rift, um equipamento parecido com uma máscara de mergulho incrementada. O seu objetivo é desfazer qualquer diferença entre a realidade do cotidiano físico-emocional e a realidade virtual.

Trata-se de chegar a um ponto final numa busca que já tem mais de dois séculos. Desde Julio Verne até os autores de sci fi de hoje em dia, cientistas, visionários, escritores e filósofos procuram este caminho: um mundo digital tão envolvente, que neurologicamente não somos capazes de separá-lo do mundo fora de nós.

Acompanhe alguns dos comentários de especialistas sobre o Oculus Rift:

- Isto será maior do que qualquer um esperava.
- Esta é a primeira vez que um projeto foi bem sucedido em estimular partes do sistema visual humano diretamente, e de maneira permanente.
- Ele é seguramente um ponto de inflexão, e o projeto já é viável hoje. O mundo está na beira de uma grande mudança: Apple II, Netscape, Google, IPhone e agora o Oculus Rift.

E como funciona a “coisa”? Trata-se de uma mistura de um sistema estereoscópico 3D, 360 graus de visibilidade, som surrounding diretamente conectado aos seus ouvidos, e um software que atinge diretamente seu córtex cerebral.

Você pode estar deitado numa praia, com um Sol escaldante na cabeça. Mas se estiver usando o Oculus, poderá viver uma experiência “real” de estar esquiando no inverno suíço. Você sentirá frio e a sensação de estar encasacado, com o vento a lhe castigar os ossos.

Pensou em Matrix? É muito mais, você pode viver numa comunidade carente num canto qualquer do mundo e viver diariamente em Nova Iorque ou Paris.

O produto está nos seus testes finais e seu lançamento previsto para o primeiro trimestre de 2015. A Sony já anunciou que vai tentar criar um produto semelhante, e lançou um projeto que chama de Projeto Morpheus.

Adivinhe quem já comprou um pedaço da empresa que desenvolve o Oculus Rift? Sim, claro, ele, o Zuka, o intrépido Mark Zuckerberg, que tirou do bolso dois bilhões de dólares, sem pestanejar, depois de experimentar o produto por uma hora.
- Este é o futuro, diz Zuckerberg. É como ir (com o Oculus) além da ideia de imersão e alcançar uma verdadeira presença humana, de cada indivíduo, num mundo virtual. Você anda, fala, come, senta, levanta, grita de dor, tem prazer e chora, deixando o plano do real - no qual a atual Internet se insere- para os velhos filósofos e psicanalistas.
Já vimos outras manchetes estupefacientes em capas de jornais e revistas, e muitas vezes a realidade dobrou, triturou e moeu os sonhos.

Você vai mudar a maneira de seu cérebro funcionar, de seus olhos e ouvidos serem usados e, sobretudo, mudar sua vida, seu trabalho, suas relações pessoais, seu estar no mundo.

Se for isto tudo mesmo, o Oculus Rift será muito mais do que poderíamos imaginar para o futuro próximo.

Anote aí: Palmer Luckey, um rosto quadrado e um pouco rechonchudo, que só trabalha de sandálias, e seus sócios, Nate Mitchell e Brendan Iribe, podem estar fazendo história.

Será? Pelo sim ou pelo não, procure saber mais sobre o produto agora, amanhã pode ser tarde.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Humanos: crianças egoístas e más que querem prazer às custas do sofrimento de outros

Uma vida de inferno para que humanos consumam 100 gramas de sua dor
CRIANÇAS EGOÍSTAS

Frank Alarcón
Tristes são os tempos em que deve ser a força da lei, e não a sensatez, quem governa nossas ações. A proibição municipal do foie gras é preciosa tanto em caráter pedagógico como prático. Resistências a essa proibição são sintomas sérios de transtorno moral maior.
 Defensores do foie gras e da exploração animal parecem viver ainda na tenra infância –período em que a conduta egocêntrica mais se manifesta. Para essas crianças que comandam cozinhas em francês e frequentam restaurantes com ternos e saltos altos, se animais sofrem como consequência de suas vontades, o azar é deles.

O que devemos pensar de práticas que obrigam animais enclausurados a uma alimentação forçada, que alteram a fisiologia de suas vísceras, onde estas são extraídas de forma sanguinária, moídas, embaladas e vendidas como iguaria a consumidores voluntariosos?

E o que devemos pensar de consumidores que pouco se importam com as consequências de seus prazeres gastronômicos? Respostas para as duas perguntas se relacionam com a cruel produção e comércio do foie gras (fígado gordo, em francês), atividades que a Câmara de São Paulo busca proibir mediante sanção do prefeito Fernando Haddad.

A palavra-chave é egoísmo. Sob o risco de ter seu negócio e capricho gastronômico obstruídos, produtores e consumidores do foie gras reivindicam seu direito de vender/consumir o que bem desejarem, quando quiserem. Uma questão de fundo puramente pessoal, dizem eles.

Esse raciocínio raso ignora convenientemente uma terceira parte envolvida, à revelia, que é submetida a uma vida miserável para que desejos culinários de alguns minutos sejam atendidos.

Tudo indica que para os reféns do paladar, animais não são dignos de consideração moral. Assim como coisas, animais poderiam ser aprisionados, submetidos a rotinas de convívio dolorosamente artificial, alimentação e iluminação forçada e uma vida abreviada por um pescoço quebrado, uma degola ou outra crueldade que a criatividade humana possa conceber.

Sim, a palavra é esta: crueldade. O sofrimento animal transcende o momento de seu assassinato diante de uma existência de penúria deliberadamente provocada.

Defensores do foie gras e da exploração animal parecem viver ainda na tenra infância –período em que a conduta egocêntrica mais se manifesta. Para essas crianças que comandam cozinhas em francês e frequentam restaurantes com ternos e saltos altos, se animais sofrem como consequência de suas vontades, o azar é deles.

O sofrimento desses animais é desprezível diante do prazer de comer e cobrar –caro– por 100 gramas de crueldade. Aqui, demanda e oferta apadrinham o casamento entre egoísmo e economia. Alguns iludidos alegam que matar animais é tradição, registro cultural praticado há séculos e que, portanto, deve ser preservado. Constrangedor!

Não vivemos mais na Idade da Pedra nem comemos cotidianamente com as mãos nuas. Há séculos incorporamos à nossa rotina alimentar artificialidades como talheres, pratos, cocção de alimentos, guardanapos e papel higiênico.

Invocar o apego às raízes e à preservação cultural, além de embaraçoso, apenas revela quão escravos alguns segmentos da nossa sociedade são de tradições retrógradas.

Tristes são os tempos em que deve ser a força da lei, e não a sensatez, quem governa nossas ações. A proibição municipal do foie gras é preciosa tanto em caráter pedagógico como prático. Resistências a essa proibição são sintomas sérios de transtorno moral maior.

Provoco: Quem ousará proibir a produção e comércio do "foie gras" das classes B, C e D (a salsicha, a linguiça e o hambúrguer) em um país onde 70 milhões de bois e suínos e 5 bilhões de aves foram assassinados apenas em 2014 com os auspícios do governo federal?

Diante da inexistência de uma sociedade corajosa ou de líderes carismáticos capazes de discutirem seriamente a ética animal, mudanças incrementais não são desprezíveis. Explorar animais é eticamente equivocado, ambientalmente nocivo, nutricionalmente desnecessário. Egoístas discordarão.

FRANK ALARCÓN, 41, biólogo, é coordenador no Brasil da ONG Cruelty Free Internationnal

Fonte: Folha de São Paulo, Tendências e Debates, 23/05/2015

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Tura Satana estrela o clássico trash "Faster, Pussycat! Kill! Kill!" de Russ Meyer

Os filmes B ou trash (lixo), em termos de orçamento e qualidade, focando temas bizarros, também viraram cult e ganharam fãs como o diretor americano Quentin Quarantino que inclusive os homenageou com o projeto “Grindhouse” em parceria com Robert Rodriguez. Grindhouses eram os "cinemas americanos baratos que apresentavam dois filmes do tipo 'baixo orçamento mesmo' em sequência, com o valor de apenas um ingresso." (Cinéfilos)

O filme "Faster, Pussycat! Kill! Kill!", de Russ Meyer, é um desses clássicos dos filmes B que viraram cult, também por causa da protagonista Tura Satana que chegou a namorar Elvis Presley e foi uma precursora das mulheres badass (durona, fodona, de atitude) no cinema.

A sinopse abaixo é do próprio vídeo que editei porque estava muito B. Também não precisamos exagerar, né mesmo?

Elas são ágeis! Elas são sexy! Elas são mortais! No deserto californiano, três strippers em carros esportivos, após um racha com um casalzinho ingênuo, acabam matando o rapaz e sequestrando a garota. 

Em um posto de gasolina uma das garotas toma conhecimento de uma bolada de dinheiro guardada por um velho deficiente físico que mora com dois filhos, um deles demente. Usando a garota sequestrada como isca para se aproximar do rancho do velho e colocar a mão na bolada, a stripper Varla (Tura Satana) e as outras controladas por ela tentam seduzir o velho e os filhos com o intuito de encontrar o dinheiro. 

Comentário: É um dos melhores Exploitation films já feitos.Tem de tudo: corridas, strippers em fúria, Elvis genérico, deserto e mulheres detonando todo mundo. Um filme, estrelado pela diva Tura Satana, também protagonista de Astro Zombies, que consegue prender sua atenção durante todo o tempo. Dirigido por Russ Meyer, lorde dos filmes Exploitation e Sexploitation,  este é  seu filme mais conhecido, um clássico do Grindhouse que com certeza inspirou Quentin Tarantino em suas produções.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O Porteiro da Noite

Lançado em 1974, O Porteiro da Noite, da cineasta italiana Liliana Cavani, provocou muita polêmica e inclusive furor, entre judeus e feministas, ao retratar o ardente amor entre uma judia e um oficial da SS nazista.

A relação que começa em um campo de concentração, onde ele a salva da morte, recomeça em 1957, quando ela o reencontra como porteiro de um hotel em Viena. Longe de denunciá-lo às autoridades, como criminoso de guerra, ela volta aos seus braços, e eles retomam o relacionamento dos primeiros tempos.

Os amigos do porteiro, todos nazistas fugitivos, obviamente querem acabar com a testemunha de seu passado, passatempo a que se dedicam costumeiramente, mas o porteiro de novo tenta protegê-la, desta vez sem sucesso. Enfurnam-se num dos quartos do hotel onde vivem seu estranho amor até, já quase mortos de exaustão, saírem às ruas para serem obviamente mortos.

Mais do que um prato cheio para teorias psicanalíticas, dado o caráter sadomasoquista do relacionamento entre os personagens, O Porteiro da Noite transgride por mostrar que há mais entre vítimas e opressores do que sonha a vã filosofia do politicamente correto, nos fazendo pensar sobre a natureza da condição humana.

Ademais, o filme guarda uma cena para lá de sexy, ainda que decadente, chamada a cena bíblica pela referência à Salomé, onde Lucia Atherton (Charlotte Rampling, belíssima no filme) canta e dança para uma platéia de nazis embasbacados, incluindo seu amante, Maximilian Theo Aldorfer, interpretado por Dirk Bogarde. Veja abaixo. Fetiche puro. Para ver ou rever o filme todo, clique aqui.

Elenco
Dirk Bogarde (Maximilian Theo Aldorfer)Charlotte Rampling (Lucia Atherton)Philippe Leroy (Klaus)Gabriele Ferzetti (Hans)Giuseppe Addobbati (Stumm)Isa Miranda (Condessa Stein)Nino Bignamini (Adolph)Marino Masé (Atherton)Amedeo Amodio (Bert)Piero Vida (Day Porter)Geoffrey Copleston (Kurt)Manfred Freyberger (Dobson)Ugo Cardea (Mario)Hilda Gunther (Greta)Kai S. Seefeld (Jacob)
Esteve em exibição, em 2008,  no HSBC Belas Artes, mas volta e meia retorna em algum cinema. Também em DVD.



Reedição do original de 23/07/2008

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Tanto nos EUA quanto no Brasil, fundamental lutar pelo Estado Laico


Desde a Carta sobre a Tolerância, aparecida em Londres em 1689, ano da Revolução Gloriosa, de autoria do filósofo inglês John Locke, que se prega a necessária separação dos assuntos do Estado daqueles da Igreja. Dizia o filósofo que enquanto os interesses de um se misturassem com os do outro não haveria progresso em direção à tolerância. Daí a necessidade de uma separação radical entre a política (então, a encargo do rei) e a religião (sob auspício do clero). “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, como teria dito o próprio Cristo.

No Brasil, formalmente ao menos, a separação do Estado e da Igreja vem desde a Constituição de 1891, estando essa separação consagrada no art. 19 da Constituição Federal de 1988. 

Entretanto, apesar desses avanços, como a religião e o estado mantiveram concubinato por tantos milênios da história humana, até hoje religiosos sonham em recriar os antigos laços. Afinal, o hábito faz o monge. Sem falar dos povos que ainda são governados por governos teocráticos, como nos países islâmicos. 

Daí que estamos novamente às voltas com ameaças ao estado laico (o estado não religioso) tanto em nosso país como no mundo. Fundamentalistas cristãos já se tornaram um flagelo tão grande na África quanto o vírus da AIDS e do Ebola. Nos EUA, como se vê pode ler no artigo abaixo, a "influência dos conservadores religiosos ultrapassou os rituais e passou a afetar uma série de aspectos da vida pública americana."

No Brasil, pastores deputados já estão há um tempo em circulação, e chegamos ao ponto de ter dois candidatos à presidência evangélicos, uma com chances de ganhar o pleito. Aliás, exatamente devido à sua formação evangélica, Marina Silva já alterou seu programa de governo de modo a não apoiar objetivamente nenhuma demanda da população LGBT.

Torna-se imprescindível portanto que os secularistas se organizem, a exemplo da American Humanist Association (AHA) americana, para entoar um versinho da época da Revolução Francesa que dizia:

“Apaguemos o vestígio
Do jugo supersticioso
A razão lhe toma o prestígio
A razão é bem precioso”.

(VOVELLE, Michel. A Revolução Francesa Contra a Igreja. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1989, p.53.)

É descabido que, em pleno século XXI, haja gente querendo determinar a vida da sociedade com base em livros de mitologia. Quem quiser seguir suas crenças ou crendices que as siga, mas não as queira impor ao conjunto da sociedade, sobretudo usando o Estado para tal. Repetindo as palavras de Locke, enquanto os interesses da religião se misturarem com os do Estado não haverá progresso em direção à tolerância. Não haverá, portanto, uma sociedade mais democrática e feliz.

Ateus dos EUA se organizam para influenciar política

Em contraposição à crescente direita religiosa, céticos tentam promover candidaturas com uma visão de Estado mais secular

WASHINGTON - Com o avanço da direita religiosa nos EUA, os descrentes decidiram sair do armário e se organizar para influenciar políticas públicas, principalmente nas áreas de educação, saúde e mudanças climáticas. Depois de estabelecer um grupo de lobby em Washington, os céticos de todo o gênero criaram um comitê para financiar candidatos às eleições legislativas de novembro comprometidos com uma visão secular de governo.

Nenhum integrante do Congresso americano é abertamente ateu, em um reflexo do rechaço a essa opção em um país no qual referências religiosas frequentam as manifestações políticas. O presidente dos EUA termina seus discursos solenes com “Deus salve a América” e todas as sessões do Senado e da Câmara são abertas por capelães oficiais, que juntos ganham salários anuais de US$ 345 mil, pagos com dinheiro público.

Na última década e meia, a influência dos conservadores religiosos ultrapassou os rituais e passou a afetar uma série de aspectos da vida pública americana. Em muitas escolas, a Teoria da Evolução começou a ser ofuscada pelo ensino do criacionismo, que apresenta a visão bíblica da origem do mundo. 

As restrições ao aborto aumentaram e o rechaço ao custeio de certos métodos anticoncepcionais por motivos religiosas foi chancelado pela Suprema Corte, que também considerou constitucional a realização de orações em encontros da comunidade para discutir políticas públicas. 

Sair do armário não é só uma figura de linguagem. Os militantes da não religião seguem os passos dos gays e dos ativistas que defendem direitos civis para ampliar a visibilidade. “Ao não sermos notados, ajudamos a criar uma atmosfera na qual todo o mundo nos EUA parece ser cristão. Os secularistas devem ser visíveis e participar do debate público, para que os deputados e senadores tenham de considerar o que seus eleitores ateus e agnósticos pensam, o que reduz o poder da direita religiosa”, disse o advogado David Niose, diretor da American Humanist Association (AHA), uma das principais entidades seculares dos EUA. 

Criada em 1941, a organização ganhou visibilidade na última década, em parte como resposta ao crescimento do fundamentalismo cristão. O número de associados que contribuem financeiramente para a entidade se multiplicou por seis, para 29 mil. Outros 300 mil são seguidoras da AHA no Facebook.
Um dos nossos objetivos é nos livrar do estereótipo negativo e criar uma atmosfera na qual as pessoas podem ser abertas em relação a suas crenças e saber que terão apoio de organizações como a nossa”, observou Bishop McNeill, coordenador do Freethought Equality Fund, um comitê que arrecadou US$ 25 mil em doações individuais de aproximadamente 500 pessoas. O grupo declarou apoio a 15 candidatos, nem todos ateus. Entre eles, há religiosos que professam uma agenda secular, na qual está a separação entre Estado e Igreja.
Apesar de minoritários, os secularistas são a fatia demográfica que cresce mais rapidamente nos EUA. Sua participação subiu de 15,3% da população, em 2007, para 19,6%, em 2012. A maior parte desse contingente diz não ter nenhuma convicção particular e não se identifica com os rótulos de “ateu” ou “agnóstico”. 

O que os une é a não filiação a uma religião, o que levou o Pew Research Center a batizá-los de “nenhuns”. Entre os jovens de 18 a 29 anos, o porcentual de “nenhuns” é de 32%, mais que o dobro dos 15% registrados entre pessoas de 50 a 64 anos. Na faixa de 30 a 49 anos, o índice é de 21%. “A maioria das pessoas da próxima geração não terá filiação religiosa”, aposta Don Wharton, ativista ateu de Washington. Segundo ele, o rótulo “humanista secular” tende a encontrar menos resistência que “ateu”. “Os ateus ainda são demonizados e vítimas de intolerância. Temos de mostrar que temos tantas preocupações éticas quanto os humanistas.”

Fonte: O Estado de São Paulo, por Claudia Trevisan, 31/08/2014

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Rompendo a camisa de força dos gêneros: ‘homens, libertem-se’

Homens sempre usaram saias através da história
Essa história de hoje qualquer tipo de atividade social, cultural, política ter que vir com apoio governamental é realmente muito difícil de encarar.

Há duas, três décadas atrás, se faria a mesma coisa exclusivamente pela via voluntária, comunitária. Falar em liberdade de qualquer tipo com respaldo estatal sempre será meio contraditório, para dizer o mínimo, sobretudo considerando que o estatismo faz parte dessa mesma mentalidade patriarcal e autoritária que o movimento pela libertação dos homens diz combater.

Apesar desse porém, a ideia em si é boa. Vai ao encontro do que penso sobre a necessidade de acabar com a educação diferenciada que massacra a individualidade das pessoas, forçando meninas e meninos a se encaixarem  num modelito de mulher (hétero + feminino) ou  de homem (hétero + masculino) que não raro está em desacordo com a personalidade de cada criança. Esses modelitos mutilam sobretudo as potencialidades das mulheres, mas os homens também perdem na história. São criados para serem toscos, brutos, violentos, egoístas, parasitas. Felizmente, eles também estão se cansando dessa fórmula funesta e procurando outras maneiras de ser.

Particularmente, não acho que seja o caso de trocar de papéis, antes que alguém se confunda. O que nossa sociedade convencionou chamar de masculino e feminino conforma apenas características humanas que foram arbitrariamente separadas entre os sexos. Por exemplo, o "masculino" detém boa parte das qualidades humanas responsáveis por formar gente autônoma, independente, resiliente (capaz de absorver impactos sem se quebrar). São qualidades a ser cultivadas por ambos os sexos. Do mesmo modo, sensibilidade e delicadeza (que não são sinônimo de frouxidão) se configuram igualmente como qualidades a ser incorporadas por ambos os sexos. Um mundo com menos guerras e violência generalizada pode ser um dos bons resultados do fim dessa departamentação forçada. Outro bom resultado será sem dúvida a existência de um mundo onde cada pessoa possa ter a liberdade de definir como quer ser de acordo com sua individualidade e não como a sociedade exige que seja.

Seguem artigo do Globo sobre a libertação e dois vídeos do site da campanha (ver fontes ao final).

Ação ‘Homens, libertem-se’ lança manifesto pelo direito de brochar, falir e chorar
Movimento apoiado por artistas que pede fim do machismo tem autorização para captar R$ 400 mil via Lei Rouanet

RIO - Posso brochar. Posso falir. Posso ser frágil. Posso ser sensível. Posso ser cabeleireiro, decorador, artista e não gostar de futebol. Posso admirar uma mulher que eu ache bela com respeito. São esses e muitos outros os preceitos do movimento “Homens, libertem-se”, que estimula o macho (heterossexual) a romper estereótipos em que vivem aprisionados. O músico Paulinho Moska, os cartunistas Laerte e Miguel Paiva, os atores Lúcio Mauro Filho, Marcos Breda e Álamo Facó, o escritor Nelson Motta e a historiadora Mary Del Priore apoiam a ação.

A iniciativa é uma parceria entre o coletivo mo[vi]mento, de Rio e Minas, e o grupo teatral The Living Theatre, de Nova York. O projeto teve autorização de captação, por meio da Lei Rouanet, de até R$ 400 mil para intervenções artísticas que provoquem reflexão sobre a opressão masculina. Nos eventos, a cargo de grupos de teatro de vários estados, serão distribuídas as saias-cangas símbolo do movimento. Elas poderão ser trocadas por calças, que serão doadas a instituições de caridade.

‘Eles se impõem prisões’

A ideia para a ação, que começa a ganhar corpo pouco antes da comemoração do Dia Nacional do Homem (15 de julho), veio à cabeça da atriz Maíra Lana quando ela viu um homem usando saia em sua cidade, Ouro Preto.
Os homens ficaram desconcertados, e eu achei tão engraçado. Era só uma peça de roupa, mas revelava muito sobre as prisões que eles se impõem — lembra. — Faz 200 anos que as mulheres fizeram a primeira passeata pelo direito de usar calças. Então é um absurdo que meninos sejam punidos na escola por expressar sua subjetividade.
Maíra se refere a um estudante do tradicional Colégio Bandeirantes, de São Paulo, que, em junho de 2013, foi impedido de assistir a aulas usando saia, gerando protestos e angariando simpatias dos colegas, que fizeram “saiaços” em apoio.

A ideia de que “homem não chora” também foi fortemente confrontada, quando, após a derrota da seleção na Copa, alguns jogadores de futebol, como o novo ídolo David Luiz, desabaram em lágrimas.
É importante esses ídolos mostrarem quem são, sem filtros, extravasando o que sentem. Isso contribui para que outros homens se sintam confortáveis para expor emoções e angústias — comenta Maíra.
Uma das possíveis críticas ao manifesto do “Homens, libertem-se” é não mencionar a opressão sofrida pelos homossexuais. Segundo a criadora da ação, isso acontece porque “todos os homens estão incluídos no manifesto, sejam heterossexuais ou gays.”
Mas o nosso maior alvo é o homem hétero — admite. — Queremos que ele reveja seu conceito de masculinidade e identidade, como os homossexuais e as mulheres já fazem há décadas.
Em seu livro “Homem ainda não existe”, a psicóloga Christina Montenegro afirma que o grupo masculino é o único que não se organizou para discutir gênero.
É um absurdo que o comportamento dos homens ainda seja limitado. A opressão gera a violência com o outro e também consigo. Não é à toa que todas as estatística mostram que os homens são os que mais adoecem, os que mais se suicidam e conformam a maior parte da população presidiária e manicomial... Eles têm questões internas não resolvidas — afirma Christina.
As mulheres também ganham

O cantor e compositor Paulinho Moska, apoiador da ação, conta que se sentia oprimido pelo ideal de masculinidade na adolescência:
Eu era magrelo, usava pulseirinhas hippie e me identificava com Caetano, Gil e Bowie, que eram andróginos. Passei a ser chamado de bicha e viado de forma agressiva. Sofri até me ver livre da representação masculina clássica.
Nelson Motta ressalta que a reflexão pode causar um benefício não só para eles, mas também para elas, que vivem viveriam melhor num mundo com homens livres e menos violentos:
Participo do movimento porque amo as mulheres. Tenho três filhas e duas netas, que merecem amor, respeito e homens sensíveis e educados.


Fonte:
O Globo, por Marina Cohen,14/07/2014; site Porque Homens Libertem-se

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Admirável mundo novo: exoesqueleto começa a ser comercializado nos EUA


O exoesqueleto do cientista brasileiro Miguel Nicolelis foi tão frustrante quanto o desempenho da seleção brasileira (ver vídeo abaixo), sobretudo depois da acachapante derrota para a Alemanha. Nos EUA, por outro lado, o governo aprovou a comercialização de um exoesqueleto motorizado que possibilitará que pessoas com paralisia das pernas consigam andar, sentar e até mesmo subir escadas. Pelo menos é o que promete o ReWalk, produzido pela 'ReWalk Robotics'. Segue texto sobre essa notícia alvissareira e o vídeo correspondente ao fim da postagem.

 

EUA aprova comercialização de exoesqueleto para paraplégicos

Equipamento chama a atenção por seu design não-invasivo e por ser o primeiro de seu tipo a ser aprovado para venda; ele foi criado em 2011

O governo dos Estados Unidos aprovou a comercialização de um exoesqueleto motorizado que irá possibilitar um verdadeiro 'milagre'. Com o equipamento, pessoas com paralisia nas partes de baixo do corpo conseguirão andar, sentar e até mesmo subir escadas. Esta é a promessa do ReWalk, produzido pela 'ReWalk Robotics'. 

Criado e aprovado para uso clínico em 2011, o ReWalk agora estará disponível para ser usado por qualquer pessoa dentro dos Estados Unidos. 

Apesar de existirem outros equipamentos que prometem a mesma façanha para os deficientes, o ReWalk chama a atenção por seu design não-invasivo e por ser o primeiro de seu tipo a ser aprovado para a livre comercialização. Além disso, o item também possui facilidade em seu usado, podendo até ser utilizado dentro de casa e sem a companhia de outra pessoa.

O ReWalk é feito por duas pernas mecânicas e com apoio, além de um suporte para as costas, uma bateria externa, sensores e um controle digital de pulso. Para seu uso, a pessoa precisa utilizar suas mãos e braços para controlar alguns movimentos do equipamento. 

Um dos criadores do sistema, o doutor Amit Goffer - que é quadriplégico - afirmou que o ReWalk possibilita que a pessoa faça movimentos próprios, sem qualquer tipo de interferência da máquina. "A pessoa anda com o sistema, e não o contrário. O usuário está totalmente no controle. Quando ele quiser sentar, senta. Quando quiser levantar e andar, o faz". 

Confira o vídeo de apresentação do produto:

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Segundo psicólogos, a rotina faz o tempo correr mais depressa

DESACELERAR A PERCEPÇÃO DO TEMPO É POSSÍVEL (FOTO: NICOLE JORDAN/FLICKR/CREATIVE COMMONS)
Está impressionado sobre como metade do ano já passou? Não entende porquê seu aniversário parece chegar cada vez mais rápido com o tempo? E o Natal então, que bruxaria é essa que passa a impressão de que, quando estamos no dia 25, a última ceia em família aconteceu apenas um mês atrás? Tudo isso tem a ver com a nossa percepção do tempo: segundo teorias psicológicas recentes, a grande responsável pela aceleração de nossas vidas tem um nome – rotina.

O armazenamento da memória humana não funciona como um disco rígido de computador, que salva cada informação, bit por bit. No nosso caso, a memória é socialmente construída, nem tudo é guardado e, mesmo as coisas que mantemos, frequentemente não são fáceis de serem acessadas. Na maioria das vezes, o que fica gravado de um jeito mais forte nas nossas lembranças são asprimeiras experiências que temos de alguma situação, aqueles momentos marcantes, intensos, inusitados e novos que parecem fazer com que a hora passe mais devagar.

E é justamente por isso que a rotina faz o tempo voar: quando a vida se resume a uma interminável repetição das mesmas experiências, não temos porquê guardar estas memórias de uma forma especial, e tudo parece passar por nós como um borrão. A mesma lógica explica o motivo pelo qual a infância segue o caminho oposto – o mundo era inteiro feito de novidades, por isso o ritmo das coisas era bem mais vagaroso.

Confira estas dicas simples para ajudar a desacelerar sua percepção do tempo e aproveitar melhor seu dia a dia:

1. Experimente coisas novas

Não há como negar que a rotina tenha um apelo forte e transmita uma sensação de conforto. No entanto, pequenas mudanças já podem fazer uma grande diferença na forma como apreendemos nosso cotidiano: por que não tentar um trajeto diferente para casa ou para o trabalho? Que tal jantar em um restaurante diferente, ou viajar para um lugar novo? Começar pelos detalhes pode ser um bom caminho.

2. Tente inovar no trabalho

Por ocupar tantas horas do dia, o trabalho merece uma atenção especial. É fácil deixar que a torrente de obrigações te deixe levar, e fazer tudo da mesma forma pode parecer uma boa opção para garantir os resultados esperados. Mesmo que seja difícil, correr riscos é importante: uma postura mais inovadora pode criar situações gratificantes e estimular o envolvimento com seu emprego, além de aumentar o sentimento de auto-satisfação.

3. Conheça pessoas novas

Sabe aquela pessoa que você vê todos os dias, mas com quem nunca trocou sequer uma palavra? Ela poderia se tornar uma grande amiga ou, quem sabe, até mesmo um grande amor. Conhecer histórias de vida e estabelecer novos vínculos possui um grande potencial de gerar momentos estimulantes.

4. Aproveite melhor cada momento

Aqui cabe citar o velho Carpe Diem: focar no momento presente e aproveitá-lo da melhor maneira possível é a chave para extrair o máximo de suas experiências e aprender com elas. Mesmo para as coisas que compõem claramente uma rotina, há uma saída – tente vê-las de um outro ângulo. Prestar mais atenção ao seu redor, tanto no novo quanto no velho, é uma ótima forma de incentivar insights e intensificar seus momentos.

5. Foque no lado bom das coisas

Vale tanto para o passado, quanto para o presente, como para o futuro: valorize mais as boas lembranças vividas, atenha-se ao que te faz sentir mais estimulado, e espere o melhor do seu futuro. Aposte sempre na espontaneidade – nada como atitudes inesperadas para quebrar a rotina.

Mais informações, confira os artigos do autor e psicólogo Ronald Riggio, professor de psicologia organizacional da Universidade Claremont McKenna. Os livros sem tradução para o português Why Life Speeds Up As You Get Older: How Memory Shapes our Past, de Douwe Draaisma, e The Time Paradox: The New Psychology of Time That Will Change Your Life, de Philip Zimbardo e John Boyd também são ótimas referências.

Fonte: Galileu, por Jorge de Oliveira, 26/06/2014

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