sexta-feira, 12 de julho de 2013

8 exemplos de como o capitalismo possibilitou a liberação das mulheres

O capitalismo tem suas fraquezas, mas foi ele  que pôs fim à
 opressão das aristocracias hereditárias, melhorou o padrão de vida
 da maioria das pessoas no mundo e possibilitou a  emancipação das mulheres. Camile Paglia
Transcrevo o texto abaixo, originalmente postado no blog Capitalismo para os Pobres porque achei interessantes os exemplos que o autor, Diogo Costa, listou sobre a ajuda da economia de mercado  à liberação feminina. Como já abordei em texto aqui do CCC (Feminismo e Liberalismo: uma relação histórica e íntima!), ao contrário do que dizem os conservadores, o feminismo, em sua acepção geral de luta pelos direitos das mulheres, não só não tem sua origem em um suposto marxismo cultural como até, ao contrário, deve sua paternidade às ideias liberais, em especial as de igualdade de direitos perante a lei, de soberania do indivíduo sobre seu próprio corpo e de liberdade individual em geral. Não por menos, aliás, os primórdios do feminismo coincidem com o aparecimento das ideias liberais. 

Mas não só no aspecto doutrinário e filosófico, o liberalismo pavimentou o caminho para as lutas femininas. Também do ponto de vista econômico, os avanços tecnológicos decorrentes da economia de mercado, mudaram em muito a condição da mulher para melhor. Sobretudo o advento da pílula anticoncepcional, do início da década de 60, trouxe um enorme avanço para a liberdade das mulheres pelo controle que lhes proporcionou sobre o processo reprodutivo.

Ressalvo apenas que, obviamente sem o protagonismo das próprias mulheres na luta por seus direitos, não teria sido possível aproveitar os progressos trazidos pelo capitalismo. As limitações impostas às mulheres nunca foram fundamentalmente decorrentes das limitações tecnológicas e sim da cultura patriarcal. Nunca foi por questões de maior fragilidade física que as mulheres foram restritas ao lar e às tarefas domésticas e impedidas de estudar (ninguém precisa ser fisiculturista para levantar um livro, pois não?). Essa é apenas uma desculpa machista  para justificar a exclusão social das mulheres.

Mulheres já foram consideradas frágeis demais para fazer esportes, para jogar futebol, para lutar boxe e MMA, para trabalhar na construção civil, em exércitos e na polícia. Hoje as mulheres estão em todas essas profissões e com certeza não houve nenhuma alteração anatômico-fisiológica na constituição feminina nos últimos duzentos anos. Fora que as mulheres mais pobres sempre tiveram que trabalhar tanto nas cidades quanto no campo. 

Então, não procede o que diz o autor do texto de que a industrialização permitiu que as mulheres compensassem com neurônios o que lhes faltava em musculatura. De fato, foram as mulheres mais pobres que passaram a ralar nas fábricas porque estas surgiram como uma alternativa de trabalho melhor remunerada que as outras existentes, embora longe de satisfatórias.  Mas é fato que, apesar dos pesares, essa melhor remuneração contribuiu para dar mais independência financeira para as mulheres das classes trabalhadoras, abrindo espaço para a ideia da emancipação feminina em geral.

E, ainda hoje, acho que uma das melhores formas de tirar as mulheres da pobreza e lhes dar mais autonomia em todos os sentidos é possibilitando que se tornem pequenas, médias e grandes empreendedoras. Em outras palavras, capitalismo para as mulheres, sobretudo para as pobres. 

8 Conquistas Capitalistas Das Mulheres 

1. A Revolução Industrial


Ouvimos falar das péssimas condições que mulheres e crianças enfrentavam na indústria britânica do século XIX pelas páginas de Dickens ou pela boca do nosso professor de geografia. E às vezes nos esquecemos perguntar por que as mulheres escolhiam ir para as fábricas. Na verdade, as fábricas aumentaram a renda e a independência das mulheres.

Voltaire notava que, por serem fisicamente mais fracas que os homens, as mulheres eram “pouco capazes de fazerem o trabalho pesado de marcenaria, carpintaria, ferragem ou arado”. E que, portanto, “elas eram necessariamente delegadas com os trabalhos mais leves do interior da casa e, sobretudo, com o cuidado dos filhos”.

Ninguém acusa Voltaire de machismo. O que ocorria no século XVIII era uma falta de oportunidade para o trabalho feminino. Com as máquinas, as habilidades humanas mudam de valor. O capital deixa o trabalho menos braçal e mais intelectual, permitindo que as mulheres compensassem com neurônios o que lhes faltava em musculatura. Por ser mais produtivo que o trabalho rural, a renda dos trabalhadores industriais superou a renda do campo. Foi a revolução industrial que dinamizou o processo de emancipação econômica das mulheres.

2. A Invenção da Bicicleta


Mais barata e fácil de manter que o cavalo, a bicicleta deu mais mobilidade às mulheres no final do século XIX. A National Geographic publicou The Wheels of Change só para contar a história feminina da bicicleta. Originalmente, havia bicicletas com os dois pedais do mesmo lado, para que as mulheres pudessem pedalar em seus vestidos longos e de múltiplas camadas de tecido. Com o passar do tempo, o ato de pedalar causou uma reimaginação do vestuário feminino. E permitiu que as mulheres se deslocassem com mais facilidade, seja para trabalhar, se educar, ou conspirar pelos seus direitos. A líder feminista Susan B. Anthony dizia que a bicicleta “fez mais para emancipar as mulheres do que qualquer outra coisa no mundo.”

3. A Evolução da Máquina de Lavar



“Salve a vida das mulheres”, dizia a madeira que revestia as máquinas de lavar produzidas em 1907 pela Nineteen Hundred Company. O slogan é o título do livro de Lee Maxwell que conta a história da máquina de lavar. Lavar roupa em caldeirões ferventes de fato não era uma atividade muito segura. A automatização do trabalho doméstico aumentou o bem-estar feminino. A partir da máquina de lavar, outros utensílios começaram a realocar o espaço e o tempo das atividades femininas. A vida da mulher se torna mais segura – a cozinha de tempos pré-industriais era o principal local de acidentes fatais entre as mulheres. E menos tempo em trabalhos domésticos permitiu às mulheres se educarem e investir em outras atividades, da arte à indústria.

4. A Comercialização das Artes

Berthe Morisot


















“O declínio do sistema de patronagem serviu de alavanca para as mulheres escritoras”, diz Tyler Cowen em In Praise of Commercial Culture. “Os homens, que tinham conexões políticas e sociais, recebiam quase todo o patrocínio artístico.” Ao poder depender diretamente dos consumidores, as mulheres podiam desenvolver sua arte sem precisar pedir licença ao clubinho masculino. E a diminuição dos custos do material artístico, como tintas, pincel e canvas, fez com que praticar arte fosse menos um privilégio da elite e mais uma questão de talento. 

5. O Mercado Publicitário



Pode parecer frivolidade, mas o mercado de beleza abre oportunidades para a independência financeira das mulheres. Anne Applebaum lembra que “na União Soviética não havia mercado para a beleza feminina. As revistas de moda não exibiam mulheres bonitas, porque não havia revistas de moda. Nenhuma série de televisão dependia de mulheres bonitas para aumentar sua audiência, porque não se media a audiência.” Quantas líderes femininas não alcançaram proeminência por causa do mercado publicitário?

6. O Anticoncepcional



“Pela primeira vez na experiência humana, e talvez na própria natureza, um dos sexos passou a ter o controle sobre a produção de bebês”, escreve Lionel Tiger em The Decline of Men. Os anticoncepcionais deram poder reprodutivo às mulheres. Antes da sua invenção, entre 30 a 50% das noivas se casavam grávidas. O declínio desse número significa que mais mulheres puderam planejar e escolher quem será o pai dos seus filhos. Os homens passaram a ter que mudar o comportamento com relação às mulheres para se tornarem merecedores da paternidade. Agora são os homens que estão reavaliando o seu declínio social.

7. Acesso ao Crédito



Ainda hoje, as mulheres correspondem a 70% da população pobre do planeta. O acesso ao crédito é um dos instrumentos de enriquecimento das mulheres. Em boa operação, um sistema financeiro coloca pessoas com competência e boas ideias em pé de igualdade com pessoas que tem apenas o dinheiro. Novas modalidades financeiras, como o microcrédito, têm permitido que as mulheres se tornem mais empreendedoras, produtivas e participem do processo de desenvolvimento econômico de suas sociedades.

8. A Migração Global

Ayaan Hirsi Ali, emigrante somaliana e líder feminista global














Em boa parte do mundo, o dia internacional das mulheres gera mais amentação do que celebração. De acordo com relatório da Freedom House sobre direitos das mulheres:

A violência de gênero continua a ser um dos obstáculos mais graves para as mulheres no Oriente Médio. As leis que protegem as mulheres da violência conjugal são ausentes na maioria dos países, o estupro conjugal não é criminalizado, e homicídios de honra ainda ocorrem e estão em ascensão no Iraque e na Palestina. As mulheres experimentam consideráveis ​​obstáculos no acesso à justiça devido ao seu baixo grau de alfabetização jurídica e à natureza patriarcal das sociedades. As mulheres também são significativamente sub-representadas em altos cargos na política e no setor privado, em alguns países, elas estão completamente ausentes do judiciário.

Às vezes a melhor maneira de escapar de uma sociedade com mínimas perspectivas de dignidade e liberdade é, de fato, sair de lá. Hoje o número de mulheres migrantes já equivale ao de homens. Grande parte delas migra para seguir ou reencontrar sua família. Mas o Fundo de População das Nações Unidas elenca outros motivos:

. Para estudar ou para adquirir experiência de trabalho e independência econômica, a fim de ganhar mais respeito dentro de sua família e da comunidade por causa da sua contribuição para o bem-estar…

. Para escapar da discriminação de gênero e de normas constrangedoras de gênero, como a obrigação de se casar e ter filhos, ou a proibição de estudar e trabalhar.

Mesmo quando voltam para seus países, as mulheres voltam transformadas e novas agentes de transformação. Como relata a migrante indiana Sushila Rai:

"Enquanto trabalhei em Hong Kong experimentei muitas coisas – A maneira como as pessoas tratam uma mulher, dependente ou independente. Ganhei muita experiência e minha confiança aumentou. Agora eu tenho voz ativa na tomada de decisão em casa. Meu marido não grita comigo. Eu comprei um pedaço de terra e quatro riquixás. Estou criando um meio de subsistência para outras quatro famílias."

“A conquista capitalista não consiste tipicamente em prover mais meias de seda para rainhas”, dizia o economista Joseph Schumpeter em 1942, “mas em trazer [meias de seda] para o alcance das meninas das fábricas em retorno a quantidades de esforço cada vez menores”. As consequências dessas conquistas não protegem e adornam apenas os pés dessas meninas – acabam protegendo seus direitos e adornando suas vidas.

Fonte: Capitalismo para os Pobres, 08/03/2013

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