quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Porque vale a pena ser contra o coro dos contentes: a descoberta da causadora da gastrite e da úlcera

Os pesquisadores australianos Barry J. Marshall e J. Robin Warren
receberam o Prêmio Nobel de Medicina de 2005
 pela descoberta da bactéria causadora da úlcera e da gastrite
A humanidade evolui por conta de indivíduos ou grupos de indivíduos que olham para o mundo que nos circunda de uma forma diferente da tradicional. A princípio são ridicularizados, hostilizados, até mesmo perseguidos e mortos, mas suas ideias são em geral depois incorporadas ao ideário comum. E isso se dá não só no terreno dos costumes mas também no das ciências.

Giordano Bruno, Copérnico e Galileu Galilei, precursores da visão heliocêntrica e da que o universo era infinito e povoado por estrelas, como o Sol, a Terra e outros planetas, tiveram sérios problemas com a nada santa madre Igreja que considerou suas teorias como heresias e os puniu via Tribunal da Inquisição (no caso de Giordano Bruno com a morte na fogueira). Obviamente, eles estavam certos, e a Igreja, errada. E seus insights e invenções foram decisivos para a ciência como hoje a conhecemos.

Mas não é preciso ir tão longe no tempo para mostrar o quanto a humanidade em geral se apega ao conforto das tradições e teme o novo que lhe pode ser bem mais propício. Lendo sobre um assunto relativamente prosaico, a gastrite, aquela inflamação da mucosa do nosso estômago que afeta a tantos de nós, descobri que uma de suas principais causas, a bactéria Helicobacter pylori (HP), foi negada por muitos cientistas no período de sua descoberta em 1979.

Os pesquisadores australianos Robin Warren e Barry Marshall conseguiram identificá-la, na biópsia de pacientes com gastrite crônica e úlcera péptica, e passaram a apontá-la como uma das causas dessas doenças e não apenas outros fatores (como pimenta e estresse) até então tidos como única origem das moléstias.

Como a comunidade médica se recusou a aceitar a pesquisa, Marshall decidiu inclusive bancar a cobaia de sua própria teoria e ingeriu uma cultura da bactéria, o que o levou  a desenvolver um quadro de gastrite aguda em pouco tempo. Mais estudos se seguiram, e o repúdio dos tradicionalistas à  nova descoberta  foi se diluindo. Obviamente, Warren e Marshall estavam certos, e os conformistas errados. 

O resultado da pesquisa dos dois foi o fim das cirurgias de remoção de parte do estômago de pacientes acometidos por úlceras e gastrites, solução encontrada para um problema  aparentemente incurável até a descoberta da H. Pylori. Seu trabalho, por fim, foi considerado de tal relevância  para a medicina, que eles foram laureados com o Nobel em 2005. 

Moral da história: ao buscar o novo, ao romper com o rotineiro, esses cientistas fizeram a humanidade dar mais um passo na direção do controle sobre as doenças que nos afetam, no caso no controle de uma enfermidade deveras dolorosa e debilitante que, em boa parte dos casos, precisa apenas ser combatida com um antibiótico.

Vejam abaixo um vídeo onde o próprio Marshall relata a trajetória que o levou ao prêmio Nobel por desafinar do coro dos contentes. E siga o exemplo!
 

Com informações do ScienceBlogs 

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