quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Milhares de reacionários foram às ruas de Paris para protestar contra a igualdade de todos perante a lei

Milhares de reacionários em ação contra a igualdade de direitos para todos

Organizada pela Igreja Católica, com apoio de evangélicos e muçulmanos, uma marcha de cerca de 350 mil conservadores franceses, segundo a polícia local, percorreu as ruas de Paris, no último domingo, dia 13, para protestar contra o projeto de lei do governo do presidente François Hollande que autoriza o casamento gay e a adoção de crianças por casais de pessoas do mesmo sexo.

Quando a gente pensa que já viu de tudo, ainda sobram coisas para nos surpreender. Manifestações em geral se dão por reivindicação de direitos ou para protestar contra a perda de direitos ou, por exemplo, contra a corrupção que lesa o erário público construído com dinheiro tirado de nossos impostos. Agora, marcha para protestar contra a igualdade de todos perante a lei, contra os direitos dos outros, é mesmo difícil de racionalizar. 

Não que seja exatamente uma novidade. Os ancestrais desses conservadores reacionários que foram às ruas francesas combater a igualdade entre héteros e homos já faziam passeatas contra a igualdade entre brancos e negros, nos EUA das décadas de 50 e 60 do século passado, à época do movimento pelos direitos civis dos negros americanos. As desculpas eram um pouco diferentes das que usam hoje para não aceitar a igualdade entre héteros e homos perante a lei (ao menos), mas Deus também era convocado a dar seu selo de autoridade à visão de mundo distorcida dessa gente abjeta. À guisa de exemplo, posto um vídeo sobre o período onde aparece brevemente, aos 00:25, uma manifestação em que uma conservadora segura um cartaz com os dizeres: "God demands segregation (Deus exige a segregação)." Vale lembrar ainda que, nesse período, proibiam também, por lei, nos EUA, os casamentos interraciais. Não era permitido que negros e brancos se casassem. E com certeza invocavam Deus para chancelar essa infâmia.

Hoje são os casamentos entre pessoas de mesmo sexo que eles querem impedir como antes quiseram impedir o de negros com brancos. E, claro, invocam novamente esse tal Deus para dizer que casamento é só entre homem e mulher com fins reprodutivos. (De passagem, vale destacar que, se assim for, há de se revogar o casamento dos heterossexuais que não tem filhos, pois não?) A desculpa esfarrapada para a objeção dos "cons" ao casamento homossexual é que ele representaria uma ameaça à família tradicional por razões que a própria razão desconhece. Qualquer pessoa provida de suas faculdades mentais intactas sabe que o ato de duas pessoas homossexuais irem a um cartório registrar seu relacionamento não afeta a vida de ninguém a não ser a delas mesmas. 

E no fundo esses conservadores sabem bem disso. Seu protesto é de fato pelo que veem  como perda de um privilégio, perda do monopólio heterossexual do casamento civil, embora se tratando de casamento civil e não religioso, ele deva ser acessível a todos os membros da sociedade civil, a qual também pertencem, naturalmente, os homossexuais. Seu protesto é contra um dos pilares das sociedades democráticas modernas que é a igualdade de todos perante a lei SEM DISTINÇÃO DE QUALQUER NATUREZA (artigo 5 de nossa constituição). Seu protesto é fascista até a medula dos ossos.

Os conservadores daqui exultaram com a marcha fascista, lamentando não serem capazes de promover, em solo pátrio, algo semelhante que vá além da Marcha para Jesus. Vale lembrar que esses conservadores são os mesmos que mais se opõem ao petismo e aos esquerdismos por sua real ou imaginária falta de democracia. Obviamente não deveriam atirar pedras no telhado alheio quando o próprio é de vidro, mas - como se sabe - os rotos sempre se acham superiores aos rasgados. Nenhum dos dois tem espelho.

1 comentários:

Obrigar uma religião a aceitar o casamento gay é errado, ok. Mas ninguém é obrigado a seguir religiões que não aceitam essas coisas. Mas,honestamente,no que o casamento civil gay prejudica a quem é hétero? Concordo com você, em nada. E sou hétero.

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