8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

sábado, 15 de agosto de 2009

40 anos de Woodstock -15-17 de agosto


Há 40 anos acontecia na cidade de Bethel, em Nova Iorque, o festival de Woodstock, ícone da geração paz e amor, do hippismo, da contracultura. De fato, o festival era para ter ocorrido na cidade de Woodstock mas o número de pessoas excedeu os limites do local onde seria o evento.

Os organizadores foram então para outra cidade, numa fazenda que comportaria um público de 200.000 pessoas, mas o nome permaneceu Woodstock por ser mais sonoro. O público previsto, contudo, excedeu em 300.000 a conta dos organizadores, gerando congestionamentos monstros, problemas sanitários, alimentares e médicos (não havia infra-estrutura para tanta gente).

Apesar do geral improvisado, o clima paz e amor realmente salvou a festa, que teve poucos incidentes apesar do contexto, também alimentada pela perfomance de alguns dos maiores artistas da época. São tantos os nomes memoráveis que fica difícil recordar todos. Basta lembrar, contudo, que lá estiveram presentes Jimi Hendrix, Janis Joplin, The Who, Joe Cocker... para se ter uma idéia do tamanho do documento.

Sobretudo lá esteve presente o espírito de um tempo, um daqueles raros clarões provocados pelo raio da solidariedade e da liberdade em meio à eterna noite escura e tempestuosa que caracteriza a história da humanidade. Mesmo a faceta sombria da contracultura com seus excessos (de drogas, de sexo, de autofagia) deu pouco as caras, e reinou sua face solar, pacifista, solidária, ligada à natureza, ao orientalismo. Ao contrário do que ocorreria em Altamont, na Califórnia, em dezembro do mesmo ano e que muitos consideram como o início do fim do sonho, em Woodstock reinou mesmo a música, a paz e o amor.

Tinha 15 anos quando toda essa movimentação aconteceu e lembro de como pareciam mais fáceis os contatos entre as pessoas, os relacionamentos humanos, da qualidade moral, intelectual e inclusive espiritual de toda aquela geração. Para o mundo de hoje, tão pobre de tudo isso, vale a pena lembrar que outros horizontes são sim possíveis, ainda que sem os excessos daqueles tempos, sobretudo sem drogas.

Fica aqui então meu pequeno tributo aos 40 anos de Woodstock, com a postagem de 2 vídeos de ícones do evento e da época: Janis Joplin, com toda sua visceralidade, e Jimmi Hendrix, pra lá de genial.

Ah, e vale a pena ver o filme Woodstock (para quem ainda não viu). E ficar de olho nas novidades que estão sendo lançadas em decorrência dos 40 anos do evento.


sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Vale-tudo entre mulheres. Vai encarar?



Sábado agora à noite, dia 15/08, duas mulheres irão se enfrentar no Strikeforce, um dos principais torneios de vale-tudo dos Estados Unidos.

São elas a norte-americana Gina Carano, 27 anos (a morena), e a brasileira Cristiane "Cyborg" Santos, 24 anos (a loura da foto), naquele que vem sendo considerado o maior combate de todos os tempos da modalidade entre mulheres.

Gina que também participa de seriados e filmes, tem um cartel de sete vitórias, em sete lutas, sendo três por nocaute e uma por finalização. Já nossa conterranea, a brasileira Cris Cyborg, tem sete vitórias, em sete lutas, cinco delas por nocaute. Uauuu!

Já vi muita luta marcial entre mulheres, boxe, kung fu, etc., mas não vale-tudo. Será que se agarram tanto quanto os mancebos?! E dão todas aquelas inacreditáveis porradas? O título é pelos leves, mas considerando a modalidade de luta, dá pra imaginar o que significa. Ai meus peitos!

Não descobri se a luta vai ser transmitida por algum canal de TV paga, mas, se for passar, aviso. Dizem que nossa "brazuca" aí da foto vai passar por cima da gringa.

Vejam o vídeo abaixo para dar um palpite sobre esse tipo de luta e a possível ganhadora do título de campeã da porrada. Achei a Gina muito produzida, e a nossa "brazuca" meio Mike Styson. Mesmo assim não encararia nenhuma delas nem pra dizer prazer em conhecê-la....rsss Etcha!

Atualização (16/08): A primeira campeã de um torneio renomado de MMA (Vale-Tudo) na história desse esporte é a brasileira Cris Cyborg, de Curitiba. Cris surrou a americana Gina Carano, ontem, para ser coroada campeã do StrikeForce.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Lei antifumo: autoritária ou pró-vida?

Entrou em vigor hoje a lei antifumo, 13.541/09, que proíbe o fumo em locais fechados de uso coletivo, públicos ou privados, sancionada pelo governador José Serra (PSDB), em todo o Estado de São Paulo. A legislação vale para o consumo de cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos, e os fumódromos não serão mais permitidos.
Fumantes chiaram, dizendo que a lei é autoritária, mas, como não dá pra colocar redoma em torno deles e impedir que sua fumacinha cancerígena atinja os não fumantes, sou totalmente favorável à nova lei e espero que venha de fato a ser cumprida.

Nem preciso saber que, das 8 doenças que mais matam pessoas no mundo, 6 estão relacionadas ao tabaco, para detestar cigarros e seus consumidores. Nem preciso saber que 100 milhões (isso mesmo) de pessoas morreram no século passado por causa do fumo, para detestar cigarros e seus consumidores. Nem preciso saber que 90% dos casos de câncer do pulmão, 75% dos problemas cardíacos e 25% das bronquites e enfisemas são causados pelo fumo, para detestar cigarros e seus consumidores.

Me basta sentir aquela fumacinha insuportável entrando pelas narinas, e meu nariz começar a ficar entupido, minha garganta e pulmões começarem a arder para eu detestar o cigarro e seus consumidores. Na prática os fumantes sempre obrigaram os não fumantes a suportar seu vício, segregando o espaço público com suas baforadas. E nunca tiveram respeito por fumódromos coisa nenhuma!

Daí que esse papo de dizer que lei antifumo é coisa de nazista é conversa mole para boi dormir. O higenismo dos nazistas era o aspecto não-doentio da doutrina exatamente. O espaço da gente termina onde começa o espaço do outro, mas a fumaça do cigarro não entende isso nem seus produtores. Então, é preciso mesmo obrigá-los a ser menos egoístas. Lei super bem vinda!!!

Mais informações: http://www.leiantifumo.sp.gov.br/

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Admirável mundo novo em meio à perigosa velharia ideológica e política

Não canso de me admirar dos avanços tecnológicos da humanidade. Em futuro próximo, os cientistas prometem até a imortalidade seja por meio da biotecnologia ou da nanotecnologia. Pesquisando o mecanismo de regeneração celular de certos tipos de águas-vivas, como a Turritopsis dohrnii, que rejuvenescem suas células indefinidamente, ou a integração de sistemas orgânicos com sistemas robóticos, os cientistas afirmam que, em 50 anos, como cyborgs ou águas-vivas humanas, não morreremos mais de velhice pelo menos. Pena que acho difícil estar por aqui para ver tal feito.

Mas nem é necessário ir tão além no futuro para ficar admirada com as inovações tecnológicas. Agora mesmo, cientistas australianos inventaram uma lente de contato que cura a cegueira de pessoas com problemas na córnea. Eles retiram 1 mm do limbo corneal ou conjuntiva do olho do paciente, regiões ricas em células-tronco que são colocadas numa lente de contato e mergulhadas em incubadora, por 10 dias, para que as células se multipliquem. Depois o paciente coloca a lente e, em duas semanas, as células-tronco se fundem com a córnea, substituindo as células anteriores danificadas. A lente então pode ser retirada. Em três meses, a visão dos cegos começa a retornar. Como as células-tronco são do próprio paciente, não sofrem rejeição pelo organismo. O criador da ténica, o oftalmologista Nick di Girolamo, da Universidade de New South Wales, testou sua invenção em três pacientes que recuperaram boa parte da visão. Segundo o cientista, o procedimento ainda está em fase de testes, mas, em breve, poderá ser utilizado em qualquer hospital.

Não é incrível? Pois, é! E eu poderia citar inúmeros outros exemplos desse admirável mundo novo tecnológico, porém não é o caso para essa breve postagem. Os exemplos acima estão aqui apenas como comparativos do contraste gritante entre a evolução tecnológica humana e a situação sócio-econômica-política-ideológica do mundo atual.

Após os auspiciosos anos 60, com todas suas revoluções culturais e políticas, após a derrocada dos regimes totalitários tanto de direita quanto de esquerda, na América Latina, na Europa, na Ásia, tudo enfim parecia se encaminhar para o tal mundo melhor de que tanto se fala, apesar ainda de tantos pesares. Mas, que nada! De um lado, o capitalismo se globalizou e, desregulado, incentivou um consumismo e um individualismo sem precedentes. De outro, na reviravolta conservadora, os fundamentalistas religiosos retornaram querendo novamente unir Igrejas e Estado. Ainda de outro, as viúvas da queda do muro de Berlim se reuniram na América Latina, no chamado Foro de São Paulo, não só para prantear seus mortos como também para organizar um vudu a fim de trazê-los de volta à vida.

O resultado é que temos hoje um planeta ameaçado pelo consumismo desenfreado capitalista; sociedades vivendo sob governos religiosos de cunho autoritário, com mentalidade e práticas medievais, e uma América Latina gravemente ameaçada de repetir as aventuras totalitárias da Europa dos tempos da Guerra Fria. Tudo isso sob o olhar complacente da chamada comunidade internacional que parece mais perdida que cego em tiroteio, para não fugir muito do eixo oftalmológico.

Como exemplos, no Irã, o descontentamento popular, com a reeleição, tida como fraudulenta, do presidente Mahmoud Ahmadinejad, foi reprimido à bala; na América Latrina, o caudilho Hugo Chávez avança na destruição da democracia venezuelana e arremete contra países vizinhos em conflitos com a Colômbia, por via direta, e com Honduras, através de seu esbirro Manuel Zelaya (parece um Odorico Paraguaçu de bigode) que, escorraçado em sua tentativa de implantar o modelito bolivariano no país, posa de vítima aos olhos do mundo, um mundo que, decididamente, parece estar precisando usar a lente de células-tronco do doutor Nick di Girolamo citado acima.

Ficando por aqui em nosso quintal latino-americano, hoje mesmo a imprensa nacional e internacional destaca as insofismáveis provas de que Hugo Chávez municiou as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), os terroristas maoístas narcotraficantes, com munição pesada comprada da Suécia, e negocia até mísseis, rádios e fuzis com os facínoras. Isso sem falar também das negociações do caudilho com os aiatolás do Irã, em cooperações militares e nucleares somadas à importação de terroristas islâmicos para solo regional (como se não bastassem os da FARC).

E pior que isso só mesmo o governo brasileiro que, com vários de seus membros signatários do Foro de São Paulo, à parte os fisiologistas próprios e aliados, apóia “moral”, política e economicamente (com o dinheiro dos brasileiros) o caudilho Chávez e todos seus esbirros (Evo Morales, Raul Correa, Zelaya...) enquanto também luta encarnecidamente para se perpetuar no poder através dos bolsas-esmolas da vida e do solapamento da democracia por meio da corrupção generalizada e do aparelhamento do Estado. Mais: nem a cavalaria americana a gente está podendo chamar em nosso auxílio porque, agora capitaneada pelo presidente Barack Banana, anda a fazer média com ditadores, como se fosse possível fazer média com essa gente.

Que coisa, a humanidade não aprende! Todas as vezes que nações democráticas tentaram fazer média com tiranetes o resultado foi apenas e tão somente a expansão da tirania. Talvez ninguém mais lembre, porém melhor refrescar a memória: todo mundo bajulou Hitler antes de ele deflagrar abertamente a II Guerra Mundial. E ele foi dizendo ao que vinha bem antes de se mostrar em todo o seu tenebroso esplendor. Ocorreu o mesmo com tiranos mais recentes, com os mesmos tristes resultados. E de novo todo mundo fazendo vista grossa aos desmandos dos Hugos Chávez da vida? Parodiando o capitão Nascimento, isso vai dar merda!!!

Pois é! Enquanto cientistas apontam para um futuro em que a natureza nem terá mais o poder de nos matar, pois poderemos viver per seculum seculorum, os políticos ameaçam tirar das populações até o tempo natural de vida ou mantê-las na espécie de morte-em-vida que é a sobrevida sob regimes totalitários. Vamos acordar?

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Coral Perpetum Jazzile da Eslovênia cria tempestade com o corpo

O coral Perpetuum Jazzile, da Eslovênia, foi fundado com o nome Gaudeamus Chamber Choir, em 1983, por Marko Tiran, tendo, desde 2001, como diretor artístico, o produtor musical, arranjador e vocalista Tomaž Kozlevčar. Nessa apresentação, no início, o coral reproduz o som de uma tempestade com as mãos e os pés. Vejam que incrível. A música se chama Africa, e o autor é o Toto. Abaixo a letra e depois o vídeo. Vi a indicação dessa perfomance no blog do Milton Jung.

I hear the drums echoing tonight
But she hears only whispers of some quiet conversation
She's coming in 12:30 flight
The moonlit wings reflect the stars that guide me towards salvation
I stopped an old man along the way,
Hoping to find some long forgotten words or ancinet melodies
He turned to me as if to say, Hurry boy, it's waiting there for you

CHORUS:
It's gonna take a lot to drag me away from you
There's nothing that a hundred men or more could ever do
I bless the rains down in Africa
Gonna take some time to do the things we never had

The wild dogs cry out in the night
As they grow restless longing for some solitary company
I know that I must do what's right
As sure as Kilimanjaro rises like Olympus above the Serangetti
I seek to cure what's deep inside, frightened of this thing that I've become

CHORUS
(Instrumental break)

Hurry boy, she's waiting there for you
It's gonna take a lot to drag me away from you
There's nothing that a hundred men or more could ever do
I bless the rains down in Africa, I passed some rains down in Africa
I bless the rains down in Africa, I passed some rains down in Africa
I bless the rains down in Africa
Gonna take some time to do the things we never had

domingo, 19 de julho de 2009

Histórias do Movimento Lésbico

Na caminhada lésbica de San Francisco, a comissão organizadora assim se define: somos dykes que se unem, a partir de diferentes backgrounds, pelo amor à comunidade dyke e à sua marcha. Nós somos femmes, butches, ou de outras identidades, somos negras, mestiças, judias e brancas, de diferentes idades e classes. Algumas de nós se identificam como queer ou genderqueer.

É isso: para todas as tribos lésbicas, um exemplo para nós, brasileiras, que estamos vendo nossas caminhadas sendo desvirtuadas por oportunistas (outros movimentos,que não o lésbico, partidos, o escambau).



domingo, 5 de julho de 2009

A questão político-partidária e o MHB/MLGBT

Integrantes do Somos-SP, GALF e SOS Mulher na sede do GALF-Outra Coisa (jun/83).
Acervo Rede de Informação Um Outro Olhar.


A questão político-partidária no MHB/MLGBT e suas consequências não saem de cena há tempos. O assunto é recorrente nas listas de discussão do movimento, e cada mensagem parece colocar mais lenha na fogueira.


A última acha foi colocada por um glpetista que se saiu com uma história de dividir o movimento em velho e novo, onde naturalmente ele e sua turma corresponderiam ao novo e as pessoas que discordam dele pertenceriam ao velho. Nessas, voltou-se a discutir os primórdios do movimento e a citada questão político-partidária que existiria desde sempre, o que não é verdade.

A verdade é que a questão político-partidária, na década de oitenta, foi relativa apenas ao evento do racha do Somos (17/05/1980), o primeiro grupo homossexual brasileiro, dividido pelo conflito entre partidários da Convergência Socialista e os fundadores da organização, de influência libertária, contracultural. Pelo conflito ter se dado no primeiro grupo homossexual do país (envolvendo muitos sentimentos e o fim de muitos sonhos), sua importância foi hiperdimensionada, projetando-se por toda a década de oitenta e criando uma certa mística em torno do que realmente não passou de um episódio isolado.

Isto se deve em grande parte ao fato de que foram sobretudo ou quase tão somente os ícones das distintas correntes conflituosas do Somos (James Green e João Silvério Trevisan) que posteriormente escreveram sobre o assunto em textos que foram replicados por seus simpatizantes contemporâneos. Cumpre, porém, lembrar que essas pessoas não estiverem presentes no restante da década de oitenta, na militância propriamente dita, não tendo vivido, portanto, seu desenvolvimento. Cumpre também, portanto, contextualizar a década de oitenta, inclusive para que o apontamento dos efeitos deletérios da política de grupos de esquerda tradicional no movimento de hoje não fique reduzida a uma espécie de nostalgia do paraíso perdido e não vire inclusive um tiro no pé.

A verdade é que a questão político-partidária teve seu nascimento, apogeu e decadência apenas nos 3 ou 4 primeiros anos do movimento inicial (1979-1982), saindo lentamente de cena já a partir de meados de 1982. As teses da Convergência Socialista que pregavam uma luta conjunta dos grupos homossexuais com outros movimentos sociais, o que na prática, sobretudo naquele período de formação, representava uma diluição da questão homossexual em outras bandeiras, não encontrou eco entre as organizações LGBT da época. A maioria se posicionou pela autonomia do movimento em relação aos partidos políticos e pela consciência de que a homossexualidade era política em si mesma, devendo os grupos se organizar em torno dessa consciência, o que não implicava descartar alianças.

A Convergência Socialista ficou isolada em si mesma e no Somos convergente, já que, nas entidades da esquerda tradicional da época, não havia espaço para a questão homossexual (ainda que adeptos da CS tenham formado um grupo de homossexuais para a construção do partido do trabalhadores)1, e, no movimento homossexual, ela não conseguiu fazer escola. Mesmo no Somos, já em meados de 1982, a questão político-partidária começa a dar lugar à outra questão que constituirá o tema de sua carta de encerramento: a questão da identidade homossexual.

Os integrantes do Somos nesse momento adotam o argentino Nestor Perlongher (autor de O Negócio do Michê, foto ao lado) como mentor, e Nestor, neobarroco tanto em literatura quanto em política, estava mais interessado em discutir o potencial revolucionário da sexualidade e dos desejos, fora de identidades sexuais fixas, do que em conversas sobre a classe trabalhadora e as revoluções socialistas.

Aliás, a questão da identidade homossexual2 é que de fato pode se configurar como a questão da década de oitenta, considerando que a década não terminou em 1983. Os últimos debates/embates entre os autonomistas Outra Coisa e Grupo Ação Lésbica-Feminista (GALF) e o ex-convergente Somos (a CS deixa o Somos antes de seu fim) não se deram por questões político-partidárias mas sim em função do tema da identidade homossexual. Para os dois primeiros, a identidade homossexual ou lésbica era fundamental para a organização política, ainda que se reconhecesse as limitações e perigos dessa via. Para o Somos, a identidade homossexual passou a ser vista como restritiva da fluidez da sexualidade humana, e o Movimento Homossexual como essencialmente normatizador em sua busca de equiparação de direitos para um suposto povo homossexual que de fato não existia. Tanto o Somos enveredou por esse rumo que, em sua carta de despedida assinalava, como razão para seu fim, a impossibilidade de fomentar um projeto de inserir células desejantes revolucionárias (sic) nas estruturas do sistema.

A base para esse arrazoado repousava nos livros e textos de Gilles Deleuze, Michel Foucault e Félix Guattari, tendo inclusive este último, quando em visita ao Brasil, participado de debate, na sede conjunta do Outra Coisa com o GALF, sobre a questão da identidade e outros tópicos correlatos, temas muito em voga no período, para grande despeito do Somos e de integrantes do grupo feminista SOS Mulher, inconformados de ver tão prestigioso intelectual em espaço tão normatizador e identitário.

E a questão da não-afirmação de uma identidade homossexual, tendo virado uma espécie de discussão bizantina, vai se mesclar com a chegada da AIDS, de enorme impacto sobre os gays e a sexualidade em geral, para levar muita gente de volta ao armário. Tanto para os primeiros grupos de prevenção a AIDS quanto para o Movimento Feminista, ela dará uma base “teórica” para os processos de invisibilização respectivamente de homens e mulheres homossexuais em seus espaços. Afirmar uma identidade homossexual/lésbica era careta e divisionista; grupos específicos de gays e lésbicas idem. Mesmo ativistas que relativizavam toda essa história incorporaram a preocupação com as limitações da identidade homossexual e passaram a dizer que estavam homossexuais em vez de afirmar que eram homossexuais. O GALF, por exemplo, buscava evitar a utilização da palavra homossexual como substantivo. No Rio, o grupo Auê igualmente incorpora aspectos da discussão identitária, que também aparece no livro Jacarés e Lobisomens, de Leila Míccolis e Herbert Daniel. Outros, como o GGB e o Triângulo Rosa parecem ter passado ao largo da polêmica, se bem que não inconscientes do assunto.

Ainda que não tenha provocado a intensidade de conflitos da questão político-partidária, o tema da identidade vai permear as interações da década de oitenta (ou permanecer subjacente a ela), entre os sujeitos políticos de então, só diminuindo sua influência com o renascimento do MHB no início da década de noventa, sobretudo a partir de noventa e três, quando o número de grupos (re)começa a aumentar, e a afirmação da identidade homossexual, lésbica, e de outras homossexualidades retorna com força total da mesma forma que a questão político-partidária dá igualmente seus primeiros passos de volta à cena.

Na década de oitenta, contudo, como já dito, com exceção dos primeiros anos do movimento (até 1982), a questão político-partidária vai para os bastidores e lá permanece. Não lembro de nenhuma discussão dessa natureza, qualquer conflito, em torno do assunto, durante esse período. Mesmo na década de noventa, quando os primeiros ativistas ligados a instâncias partidárias, sobretudo ao PT, começam a formar núcleos de gays e lésbicas em seus partidos e agir no MLGBT, a questão político-partidária não assume de cara as luzes da ribalta. O que já se começa a perceber, a partir de 1993, é um incremento da postura fundamentalmente legalista e reformista, que já se evidenciava nos grupos da segunda metade dos anos oitenta, somados a um espírito cada vez mais competitivo, encontros cada vez mais nos moldes da política tradicional, cheios de plenárias e regimentos internos, e bem longe do sentido comunitário e solidário dos primeiros anos do MHB.

De qualquer forma, apenas depois de 1997, com o crescimento de grupos LGBT ligados a partidos políticos de esquerda, com destaque para o PT, é que a questão político-partidária retorna integralmente ao centro das polêmicas e problemas. E é com a ascensão do lulo-petismo à presidência do país, em 2003, que se inicia um processo claro de cooptação e aparelhamento do MLGBT, pelo glpetismo e outras agremiações da esquerda tradicional ressuscitada, ficando o movimento na dependência da agenda do partido, em vez de seguir sua própria agenda, ou como tributário das chamadas questões gerais pela melhoria de “n” setores oprimidos. Tal situação só passou a ser contestada, aliás, com mais veemência, nos últimos dois anos, e não é à toa que, entre seus contestadores, venham se destacando ativistas dos primórdios do movimento ou que nele permaneceram desde então.

De fato, tanto a questão da identidade quanto a político-partidária estiveram sempre presentes na história da organização homossexual no Brasil, parecendo apenas se revezar sob as luzes da ribalta, já que ambas não costumam compartilhar o palco. Quando uma aparece, a outra volta para os bastidores, embora de lá fique espiando o show. No momento, a questão identitária, embora apareça algumas vezes, especialmente pela via da teoria queer, ainda que não mais como instrumento de invisibilidade, não anda roubando a cena, mas continua bem viva em blogs, sites e grupos de estudo LGBT. Seja como for, não é ela a grande promotora dos conflitos atuais.

Hoje, a fonte das farpas e arpões que ativistas LGBT se jogam mutuamente é de fato de novo a questão político-partidária que se vê, aliás, presente em todos os movimentos sociais. Na década de oitenta, contudo, a história foi outra, e é importante contá-la. O movimento disse não à cooptação e sim a autonomia e pode voltar a dizê-lo.

1. OKITA, Hiro. Homossexualismo: da opressão à libertação. São Paulo, Proposta Editorial, 1981, p. 53
2. FRY, P. - Ser ou nao ser homossexual, eis a questao, In Folhetim, Suplemento Dominical da Folha de Sao Paulo, 10 de Janeiro, p. 3, 1982.
HEILBORN, Maria Luiza. “Ser ou Estar Homossexual: dilemas de construção da identidade social” In: PARKER, Richard e BARBOSA, Regina Sexualidades Brasileiras. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1996, p. 136-145.
Martinho, Míriam. A Negação da Homossexualidade. In: Chanacomchana 2, São Paulo: GALF,1983, p. 2-3
Martinho, Míriam. Ser ou Estar Homossexual, eis a questão? In: Chanacomchana 5, São Paulo: GALF,1984, p. 3-5

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Foda-se! da Lily Allen, versão brasileira.

Em comemoração aos 40 anos da revolta de Stonewall contra o preconceito e a discriminação, completados ontem, 28 de junho, uma comunidade do orkut chamada Homofobia já era resolveu fazer uma versão da música Foda-se da Lily Allen, postada no blog Stonewall. Confira abaixo o vídeo, a letra e a tradução da música.



Fuck You (Very Much)
Lily Allen

Look inside, look inside your tiny mind
Then look a bit harder
'Cause we're so uninspired, so sick and tired
Of all the hatred you harbor

So you say it's not okay to be gay
Well, I think you're just evil
You're just some racist who can't tie my laces
Your point of view is medieval

Fuck you, fuck you very, very much
'Cause we hate what you do
And we hate your whole crew
So please don't stay in touch

Fuck you, fuck you very, very much
'Cause your words don't translate
And it's getting quite late
So please don't stay in touch

Do you get, do you get a little kick
Out of being small minded?
You want to be like your father
It's approval you're after
Well, that's not how you find it

Do you, do you really enjoy
Living a life that's so hateful?
'Cause there's a hole where your soul should be
You're losing control a bit
And it's really distasteful

Fuck you, fuck you very, very much
'Cause we hate what you do
And we hate your whole crew
So please don't stay in touch

Fuck you, fuck you very, very much
'Cause your words don't translate
And it's getting quite late
So please don't stay in touch

Fuck you, fuck you, fuck you
Fuck you, fuck you, fuck you
Fuck you

You say you think we need to go to war
Well, you're already in one
'Cause it's people like you that need to get slew
No one wants your opinion

Fuck you, fuck you very, very much
'Cause we hate what you do
And we hate your whole crew
So please don't stay in touch

Fuck you, fuck you very, very much
'Cause your words don't translate
And it's getting quite late
So please don't stay in touch

Fuck you, fuck you, fuck you
Fuck you, fuck you, fuck you

Entenda o que você está cantando. Aqui está a letra da música traduzida para o português:


Fuck You (Very Much) (Tradução - Obrigada, Augusto!)
Lily Allen

Foda-se

Olhe para dentro
Olhe para dentro da sua mente pequena
Depois olhe mais atentamente
Pois ficamos tão desanimados,
tão enjoados
Com todo o ódio que você fomenta

Então você diz
Que não é certo ser gay
Eu já acho que você é perverso.
Você é apenas um racista
Que não faz o meu tipo
Seu ponto de vista é medieval

Foda-se!
Foda-se muito!
Pois odiamos o que você faz
Odiamos toda a sua turma
Então, por favor, nem chegue perto

Foda-se!
Foda-se muito!
Pois suas palavras não fazem sentido
E já está ficando muito tarde.
Então, por favor, não chegue perto

Por acaso, te dá prazer
Ter uma mente tão pequena?
Você quer ser como seu pai?
Precisa de aprovação?
Mas não é assim que a conseguirá.

Você realmente gosta de viver
Uma vida tão cheia de ódio?
Pois há um buraco onde devia estar sua alma
Você está perdendo o controle
E isso é bem desagradável

Foda-se!
Foda-se muito!
Pois odiamos o que você faz
Odiamos toda a sua turma
Então, por favor, nem chegue perto

Foda-se!
Foda-se muito!
Pois suas palavras não fazem sentido
E já está ficando muito tarde.
Então, por favor, não chegue perto

Vai se foder!

Você acha que precisamos ir pra guerra?
Bem, você já está em uma.
Pois são pessoas como você
Que precisam ser processadas
Ninguém quer sua opinião.

Foda-se!
Foda-se muito!
Pois odiamos o que você faz
Odiamos toda a sua turma
Então, por favor, nem chegue perto

Foda-se!
Foda-se muito!
Pois suas palavras não fazem sentido
E já está ficando muito tarde.
Então, por favor, não chegue perto

Vai se foder!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Tchau, Michael! Fique em paz!

Bem, não dava para não homenagear o Michael Jackson em sua despedida. Como artista, foi extraordinário. Como pessoa, se perdeu em algum lugar da Terra do Nunca. Foi se desentendendo consigo mesmo, e virou um seu avesso. De menino bonito e jovem negro idem, foi ficando cada vez mais parecido com uma máscara veneziana branca e mal-feita. Imagino quanto de dor e solidão produziram aquilo. A transformação parece ter acompanhado uma certa decadência artística.

Mas o cara produziu uma obra-prima, como o Thriller, e várias outras canções fantásticas, interpretadas com muita dança, coreografias incríveis. Estabeleceu novos paradigmas em sua área de trabalho, como só os extraordinários sabem fazer. Tem gente que passa uma vida inteira sem ir além do medíocre. Abaixo, Beat it, uma das minhas músicas preferidas do cantor. Bye, Michael! See you later.

sábado, 30 de maio de 2009

NÃO ME PROVOQUE

Não me provoque,
tenho armas escondidas...     
Não me manipule,
nasci pra ser livre...
Não me engane,
posso não resistir...
Não grite,
tenho péssimo hábito de revidar...
Não me magoe,
meu coração já tem muitas mágoas...
Não me deixe ir,
posso não mais voltar...
Não me deixe só,
tenho medo da escuridão...
Não tente me contrariar,
tenho palavras que machucam...
Não me decepcione,
nem sempre consigo perdoar...
Não espere me perder,
para sentir minha falta..."

(Clarice Lispector)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Os ditadores e o medo do rato

Pois, é! Uma imagem continua mesmo valendo mais do que 1000 palavras. Vejam que incríveis os pôsteres dos ditadores Hugo Chávez, Raúl Castro e Mahmoud Ahmadinejad, feitos pela agência Ogilvy & Mather Frankfurt para a Sociedade Internacional de Direitos Humanos , que satirizam o medo que governos autoritários tem da livre circulação de informações. Repliquei do
blog do Marcos Guterman no Estadão.























terça-feira, 5 de maio de 2009

O Procurado

Não fui ver Wanted (O Procurado), em agosto do ano passado nos cinemas nem comprei o DVD, e fiquei quase tão frustrada quanto o personagem principal da história, pois adoro filmes de ação e ficção, e este estava bem cotado pela crítica. Por fim, neste final de semana, assisti o filme em pay-per-view.

A sinopse é a seguinte: contador (Wesley) leva vida medíocre, espezinhado pela chefe, traído pela namorada com um "amigo", tendo ao que parece ataques de pânico que controla com ansiolíticos. De repente, num supermercado, é abordado por ninguém menos que Angelina Jolie (Fox) dizendo que conheceu seu pai (dele). Ato contínuo, a bela começa a atirar contra um sujeito que parece querer matar o rapaz. Daí em diante, segue-se uma fuga automobolística cheia de efeitos especiais, com Angelina acabando por despistar o perseguidor e levando Wesley para um local onde conhece a Fraternidade dos Assassinos, organização que mata pessoas com vistas a evitar que estas matem muita gente. Nela, Wesley é convencido de que seu perseguidor é o mesmo homem que matou seu pai e passa a treinar para a vingança, tornando-se também um assassino. No fim das contas, Wesley vai perceber que pagou um mico, mas isso só vendo para saber e entender.

Bem superior a outras adaptações de graphic novels para o cinema (uma moda inesgotável), Wanted é inovador nos efeitos especiais, tem ritmo vigoroso, é diferente e violento, além de reservar uma bela surpresa no final. Tem algumas coisas nada verossímeis, mas as qualidades do filme superam esse defeito.

Angelina Jolie está magra mas bonita, cheia de tatuagens e de sensualidade. Morgan Freeman segura a onda perfeitamente como o chefe da Fraternidade dos Assassinos, e o ator escocês James McAvoy (Narnia, O Último Rei da Escócia, Desejo e Reparação) convence no papel do contador que vira uma espécie de super-herói. A trilha sonora também é muito legal, com destaque para The Little Things que posto abaixo. Quem não viu ainda, e gosta do gênero, não deve deixar de conhecer.

FICHA DO FILME
Título original: Wanted
Diretor: Timur Bekmambetov
Elenco: James McAvoy, Morgan Freeman, Angelina Jolie, Terence Stamp, Thomas Kretschmann, Common, Kristen Hager, Marc Warren
Gênero: Aventura
Ano: 2008
País: EUA
DADOS DO DVD
Extras: Angelina Jolie, Morgan, Freeman, James McAvoy, Common, Thomas Kretschmann, Terence Stamp, David O'Hara
Idioma: inglês, português
Legendas: inglês, português
Ano: 2008

The Little ThingsDanny Elfman



Have you heard the news?
Bad things come in twos.
But I never knew
'Bout the little things.

Every single day
Things get in my way.
Someone has to pay
For the little things.

And I'm through with the stories
And I'm sick to my shoes.
And the walking and the talking,
It's got nothing to do with
The final solution.
It's a box full of tricks.
And I'm through with repairs
When there's nothing to fix,
When there's nothing to fix,
When there's nothing to fix,
And it all comes down to you.

Let the headlines wait,
Armies hesitate.
I can deal with fate
But not the little things.

Armageddon may
Arrive anyday.
I can't get away
From the little things.

With a pile of cares
And a bucket of tears,
I could look at the sunlight
And I feel no fear.
With a mountain of maybes
And some Icarus wings,
And I'm armed with delusions
And one little thing,
And that one little thing,
And that one little thing,
And it all comes down to you.

Have you heard the news?
Bad things come in twos.
But I never knew
'Bout the little things.

Every single day
Things get in my way.
Someone has to pay
For the little things.


Have you heard the news?
Bad things come in twos.
But I never knew
'Bout the little things.

Every single day
Things get in my way.
Someone has to pay
For the little things.

And I'm through with the stories
And I'm sick to my shoes.
And the walking and the talking,
It's got nothing to do with
The final solution.
It's a box full of tricks.
And I'm through with repairs
When there's nothing to fix,
When there's nothing to fix,
When there's nothing to fix,
And it all comes down to you.

Let the headlines wait,
Armies hesitate.
I can deal with fate
But not the little things.

Armageddon may
Arrive anyday.
I can't get away
From the little things.

With a pile of cares
And a bucket of tears,
I could look at the sunlight
And I feel no fear.
With a mountain of maybes
And some Icarus wings,
And I'm armed with delusions
And one little thing,
And that one little thing,
And that one little thing,
And it all comes down to you.

Have you heard the news?
Bad things come in twos.
But I never knew
'Bout the little things.

Every single day
Things get in my way.
Someone has to pay
For the little things.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

DIA DE PROTESTAR CONTRA A VINDA DO PRESIDENTE DO IRÃ AO BRASIL


Notório sexista (mulher no Irã quase não tem direitos), homofóbico (enforca adolescentes gays em praça pública) e racista (prega a destruição do estado de Israel inclusive), o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, recebeu estranho convite da presidência da República para vir visitar o Brasil. Entidades de direitos humanos, de mulheres, de LGBTês e todas as pessoas que sonham com um mundo melhor, estão promovendo atos de protesto contra essa indigesta visita.

Em São Paulo
DATA: 03 de maio, domingo
HORA: às 11h00
LOCAL DO ENCONTRO: Praça Marechal Cordeiro de Farias (Praça dos Arcos, na esquina da Avenida Angélica com a Avenida Paulista)

No Rio, também no domingo, dia 3, às 11:00 na Avenida Atlântica. Em Brasília, no dia 6.

Faça seu protesto contra vinda do Presidente do Irã ao Brasil.

Contra o totalitarismo e o racismo, a favor da democracia, do direitos das mulheres, homossexuais, da liberdade religiosa, da liberdade de imprensa, da liberdade de expressão, do direito a existência de Israel, contra o fundamentalismo teocrático islâmico e contra o revisionismo histórico.

Somos contra a vinda do imbecil que representa todas as ideologias do mal que devemos combater no século XXI. (blog Dois em Cena)

Envie para o gabinete de Lula o seu protesto. O blog de De Olho Na Mídia também está fazendo uma petição contra a presença de Mahmoud Ahmadinejad: Genocídio e Revisionismo: Não Em Nosso Nome!

domingo, 26 de abril de 2009

Mate em legítima defesa


Pródigo em criar polêmicas, o antropólogo Luiz Mott, do Grupo Gay da Bahia, com quem compartilho o decanato no MHB/MLGBT, não perdeu a chance de roubar a cena no modorrento cenário do Congresso da ABGLT, em Belém do Pará, em 19 de abril último, segundo matéria do site A Capa.

Afirmando que o Brasil Sem Homofobia "não funciona" e que as 500 propostas tiradas da Conferência Nacional LGBT (programa e evento ligados ao governo federal) "não têm diminuído a morte de homossexuais e travestis", Mott declarou que, caso os homocídios continuem em escalada alarmante, vai fazer campanha de reação a esses crimes a que dará o nome de 'Mate em legitima defesa’.
Claro, tratou-se de frase de efeito, mas que acabou sendo tomada literalmente por representantes da ABGLT e do governo federal, todos ligados ao ironicamente belicoso partido dos trabalhadores (PT), que bajula ditadores islâmicos (o presidente do Irã, assassino de homossexuais vem aí a convite de Lula), abriga terroristas e apóia invasões armadas de terras produtivas, com cada vez mais mortos e feridos.

Apesar do perfil, imbuídos de um episódico surto de pacifismo enviesado, Claudio Nascimento (Arco-Íris/ABGLT) ameaçou "solicitar ao congresso que intervenha" caso o antropólogo realmente leve a ideia adiante, classificando-a como "panfletaria e sem valor". Caio Varela, assessor parlamentar da senadora Fátima Cleide (PT-RO), saiu-se com uma história de que a colocação seria "capitalista e individualista (sic)". Eduardo Barbosa, do programa nacional de DST/Aids, disse que a proposta era "totalmente descabida" e "contrariava qualquer tipo de política pública voltada para os direitos humanos". Por fim, Toni Reis, presidente da ABGLT, afirmou que a idéia era “um factóide baratíssimo" e que “sua entidade era contra esse tipo de proposta, pois se identificava como pró-vida e pró Direitos Humanos."

A polêmica teve continuidade na lista gls, fórum informal pero no mucho da militância tupiniquim, e em outras listas congêneres, trazida pela repassagem da matéria do site A Capa por um dos listeiros de plantão. As opiniões aí se dividiram, com várias pessoas dando apoio a Mott, inclusive eu mesma, e outras tantas insistindo numa visão pacifista meio “de orelha” contra a qual supostamente a proposta do antropólogo se insurgiria. A partir dessa discussão, outras variantes ao redor do tema despontaram, da necessidade de se promover o aprendizado de técnicas de autodefesa, entre a população LGBT, à necessidade de se aumentar a auto-estima da mesma.

O mais engraçado da história é que tanto a frase de efeito (e sua idéia embutida) quanto suas variantes são apenas ovos de Colombo, ou seja, obviedades que, apesar de sua natureza, precisaram de alguém para apontá-las. Todo ser vivo, se atacado, busca se defender com as armas que possui e, se necessário for, para sobreviver, mata seu agressor. A lei reconhece a legítima defesa como válida (desde que comprovada) e exime quem a pratica da condenação por homicídio. As religiões, em geral, ao contrário do que parece que alguns imaginam, também reconhecem a legítima defesa como válida mesmo quando implica na morte de alguém.

Por fim, o pacifismo de Gandhi (e de seu discípulo moral, Martin Luther King), muito lembrado nessa falsa polêmica como contraposição à suposta proposta anti-vida(sic) do presidente do GGB, precisa ser lido de forma menos superficial. Esse pacifismo visa derrotar o opressor, inimigo, adversário (à escolha) tanto quanto a estratégia belicista e também produz mortos e feridos (pior que só de um lado). A diferença é que essa estratégia, que é fundamentalmente uma ação coletiva e não individual, busca derrotar o inimigo sem matá-lo, desmoralizando-o através da ação não-violenta (que exige sacrifícios), com a qual também se procura romper o círculo vicioso que a tática do “olho por olho, dente por dente” costuma engendrar. Como disse, também provoca mortos e feridos, mas as baixas e as sequelas físicas e psicológicas nas populações envolvidas costumam ser significativamente menores do que nos conflitos onde ambos os lados pegam em armas .

O pacifismo de Gandhi é, portanto, uma estratégia de luta, nada tendo a ver com passividade diante de agressores de qualquer ímpeto e natureza. Contra eles, todo o indíviduo tem o direito de se defender e de escolher a estratégia que lhe permitirá derrotar seu agressor, mesmo que ela implique na morte do atacante. Mott nada disse de novo, e o que de fato espanta é que sua fala tenha provocado reações tão inflamadas e, sobretudo, hipócritas.

No mais, espera-se que toda essa falação resulte mesmo em ações de empoderamento da população LGBT, como oficinas de promoção de auto-estima e de técnicas de autodefesa, e não apenas em mais reclamações junto a órgãos estatais que, mesmo em países civilizados, não estão em condições de estar protegendo seus cidadãos e suas cidadãs individualmente em casa ou nas ruas.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Se eu fosse um garoto - If I Were A Boy



If I were a boy even just for a day
Se eu fosse um garoto mesmo só por um dia
I'd roll out of bed in the morning
Eu rolaria da cama de manhãAnd throw on what I wanted
Jogaria qualquer roupa por cima do corpo
And go drink beer with the guys
E iria beber cerveja com os amigos
And chase after girlsE iria correr atrás das garotasI'd kick it with who I wanted
E sairia com quem quisesseAnd I'd never get confronted for it
E nunca seria questionado por isso'Cause they stick up for mePor que os amigos me apoiariam
If I were a boy
Se eu fosse um garotoI think I could understand
Acho que poderia entenderHow it feels to love a girlComo é amar uma garotaI swear I'd be a better man
E juro eu seria um homem melhor

I'd listen to her
Eu a escutaria'Cause I know how it hurts
Porque sei como dóiWhen you lose the one you wanted
Quando você perde aquela que queria'Cause he's taking you for granted
Porque estava certo de que não perderiaAnd everything you had got destroyed
E tudo que você tinha acabou destruído

If I were a boySe eu fosse um garoto
I would turn off my phone
Desligaria meu telefone
Tell everyone it's brokenDiria a todo mundo que ele está quebrado
So they'd think that I was sleeping alone
Assim achariam que estava dormindo sozinho

I'd put myself first
Me colocaria em primeiro lugarAnd make the rules as I goE faria minhas próprias regras
'Cause I know that she'd be faithful
Porque sei que ela estaria sendo fiel
Waiting for me to come home, to come home
me esperando voltar pra casa, voltar para casa.
If I were a boySe eu fosse um garotoI think I could understandAcho que poderia entenderHow it feels to love a girlComo é amar uma garotaI swear I'd be a better manE juro eu seria um homem melhor

I'd listen to herEu a escutaria'Cause I know how it hurtsPorque sei como dóiWhen you lose the one you wantedQuando você perde aquela que queria'Cause he's taking you for grantedPorque estava certo de que não perderiaAnd everything you had got destroyedE tudo que você tinha acabou destruído

It's a little too late for you to come back
É um pouco tarde para você voltarSay it's just a mistake
Dizer que foi apenas um erroThink I'd forgive you like that
Pensar que eu o perdoaria de qualquer jeitoIf you thought I would wait for you
Se você pensou que eu esperaria por vocêYou thought wrong
Se enganou
But you're just a boy
Mas você é apenas um garotoYou don't understand
Você não entende
And you don't understand, oh
E você não entende
How it feels to love a girlComo é amar uma garotaSomeday you wish you were a better man
Algum dia você vai desejar ter sido melhor

You don't listen to her
Você não a escutaYou don't care how it hurts
Não se incomoda de magoar
Until you lose the one you wanted
Até que você perde aquela que queria'Cause you're taking her for granted
Porque estava certo de que não perderia
And everything you had got destroyed
E tudo que você tinha foi destruído

But you're just a boy
Mas você é apenas um garoto

Tradução: Míriam Martinho

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Impacto ambiental do consumo de carne

Vista-se é um site vegano bem legal, cheio de notícias, imagens e vídeos sobre vegetarianismo, ambientalismo e direitos dos animais. Tem dicas de produtos ecologicamente corretos, dicas de restaurantes, folhetos para baixar, etcetera. Uma das páginas mais legais é a passeata vegetariana, uma página em flash cheia de imagens de cartazes criativos e contundentes condenando o consumo de carne. Tem imagens com a Rita Lee e o Paul MacCartney.

De lá também fiz o download do áudio abaixo de uma fala do Arnaldo jabor sobre o impacto do consumo de carne no planeta. Essa fala do Arnaldo demonstra que as batalhas cotidianas dos ambientalistas para salvar a Terra já encontram eco nos formadores de opinião.

A propósito, não como carne. E você?

segunda-feira, 30 de março de 2009

A fera nossa de cada dia!

Esta semana que passou quase me vi envolvida num tremendo barraco pelo grande crime de não ter lido e não ter comentado um texto que me enviaram como circular num e-mail. Por conta da minha longa militância, algumas pesquisadoras, que já me entrevistaram, pedem meu parecer sobre suas teses. Muitas vezes, pela correria da vida cotidiana, deixo de comentar de imediato ou levo inclusive tempo para comentar o que me enviam. Nesses casos, contudo, quando sou objetivamente convocada a dar minha opinião sobre algo, pelo menos me sinto na obrigação de me desculpar por não ter lido ou por ter demorado a responder. Nunca me ocorreu, contudo, de alguém me vir com paus e pedras porque não expressei minha opinião sobre um texto. Tá certo que minha opinião vale muito (rsss), mas não é caso para tanto.

Como para tudo, porém, existe uma primeira vez, na semana passada fiz meu debut nesse tipo de imbróglio. Dado o caráter cordial do relacionamento que tinha com a pessoa barraqueira em questão (não sabia que era barraqueira até então) e pelo fato inclusive de estar tentando convencê-la a escrever num projeto coletivo de uma colega em comum (nem de minha iniciativa o projeto é), expliquei que não lera e comentara aquele texto dela, da barraqueira (embora tivesse comentado outros), por ter estado muito ocupada, ao mesmo tempo que busquei incentivá-la a redigir para o projeto coletivo pela idéia do projeto simplesmente. Mas a figura afirmou que, como lia meus textos, apesar de eu não ter pedido que o fizesse, eu tinha a obrigação (como amiga...rsss) de ler e comentar os dela, e, já que não lia os dela, não estava em posição de lhe pedir que escrevesse em nenhum outro lugar (sic). E quanto mais logicamente eu tentava argumentar com a dita, mais enfurecida ela ficava, começando, depois de um certo momento, literalmente a delirar, dizendo-se atacada, perseguida e não sei mais quantas outras. Como vi que estava entrando numa areia movediça porque a figura distorcia tudo o que eu dizia, entendendo inclusive o avesso do que eu falava, encerrei a conversa ponderando que ela estava querendo brigar, mas eu não queria, e desejando-lhe que ficasse bem e se encontrasse. A dita ainda me enviou uma mensagem desaforada, quando então a bloqueei, mas continua pela Web a destilar seu surto e, por certo, a veicular suas alucinações pelos bastidores da vida.

Conversa de louco, não é mesmo? Circulares de textos rolam aos milhares pelas caixas de entrada de todo mundo, por isso mesmo, quando se quer uma opinião de qualquer forma, a gente expressa isso claramente. Se não, entende-se que é facultativo ao destinatário comentar ou não a circular. Claro, todo mundo espera um feedback de tudo que envia, mas ninguém, em estado normal, arma um tremendo barraco porque alguém não leu um texto em particular.

Mas parece mesmo que está todo mundo meio louco, arrumando
brigas por motivos fúteis, como barris de pólvora humanos de pavio super-curto. Em novembro do ano passado, presenciei, mais do que vivi, um outro lance desses de ira despropositada. Ia deixar uma colega no ponto de ônibus, mas antes parei na farmácia, e ela me acompanhou para dar continuidade à conversa que mantínhamos. Estacionei o carro atrás de um outro de vidro fumê, e lá fomos às compras. Quando já estava no caixa, reparo que a pessoa do carro de vidro fumê manobrava, tentando sair, sabe-se lá por onde, pois não havia espaço para tal, e se aproximava perigosamente do meu carro. Pedi à colega que me acompanhava que fosse dizer @ motorista que esperasse um pouquinho que eu já estava pagando as compras. Minha colega foi e voltou irritada porque a motorista (era uma mulher) fora grosseira com ela, dizendo que tinha o que fazer, coisas do gênero (só ela, né?) em voz alta. Até apressei a caixa, alertando-a que tinha uma atacada ali no estacionamento e que era melhor correr.

Bem, saímos da farmácia e fomos para meu carro. Minha colega pegou a mochila que havia deixado no banco de trás, demos um beijinho de despedida, ela saiu em direção ao ponto de ônibus e eu sentei no banco do motorista, para dar partida no carro, quando se iniciou uma cena inusitada. Minha colega, que já estava a meio caminho do ponto de ônibus, retornou e se dirigindo ao carro de vidro fumê ergueu o braço e exclamou um “como é que é mesmo?”. Depois fiquei sabendo que a motorista havia dito para minha colega que era bom mesmo ela se apressar para não perder a hora na zona (sic). Ato contínuo, saiu do carro de vidro fumê uma versão brasileira do Arnold Schwarzenegger, se dirigiu a essa minha colega soltando fogo pelas narinas, pegou-a pelos ombros e a empurrou. Ela se estatelou no meio fio. Daí que saio eu do meu carro, para acudir a colega, e a barraqueira da motorista do vidro fumê sai do carro dela agora preocupada em controlar seu provável marido pitbulll que ela mesmo atiçara. Os transeuntes começaram a rodear a cena e a dizer para chamar a polícia ao mesmo tempo que xingavam o grandalhão de covarde, assim meio baixinho porque o tamanho do pitt e sua raiva botavam mesmo medo.

Enquanto eu entrava no meu carro de volta, para abrir a porta para minha colega a fim de sairmos dali (ela estava inclusive com um dos cotovelos sangrando), o Arnold também veio para o meu lado fungando e babando. Me senti como naquela cena do Alien III quando o monstro chega bem perto do rosto da Ripley mas não a mata porque sabe que ela estava grávida de outro monstrinho. O Arnold quase encostou o nariz no meu, mas eu mantive a pose e lhe disse que, se me tocasse, a coisa ia ficar feia. Funcionou porque ele se afastou, pude abrir a porta do carro do motorista e do passageiro para minha colega entrar e fugirmos dali. Antes pegamos a placa do veículo do pitt e, posteriomente, fomos à delegacia da mulher dar queixa. Como a colega já tinha problemas osteomusculares, o tombo agravou sua condição, estando até hoje na base da fisioterapia.

Coisa de louco, não é mesmo? Como é que alguém pode estar tão alterado a ponto de agredir outro alguém por que não tem paciência para esperar as manobras de um carro num estacionamento público? E as conseqüências de atitudes como esta? Minha colega poderia ter batido a cabeça no meio fio e ter sofrido algo bem mais sério do que problemas nas articulações.

Cito esses dois casos porque são os mais recentes que vivi, mas não são os únicos e não sou a única a ter vivido ou presenciado atitudes deste tipo principalmente em cidades como São Paulo. Tem muita gente que perde até a vida em simples brigas de trânsito, de bar, de rua. Gente que nunca sequer lhe viu, por qualquer picuinha, se toma de fúria descontrolada e parte para a baixaria verbal ou física num piscar de olhos.

O senso comum diz que há muitas pessoas por aí, carregadas de frustrações, desapontamentos, que buscam descarregar em outras pesssoas seus infortúnios, e o mais certo é simplesmente não deixar que elas lhe façam de lixeira. Sem dúvida, manter a cabeça fria em momentos de ataques alheios, súbitos e sem sentido, pode minimizar realmente as conseqüências dos atos dos destemperados sobre nossas vidas. Mas creio que é necessário uma análise mais ampla das sociedades que, cada vez mais, produzem gente assim tão irada, tão egoísta, tão amarga, tão de mal com a vida.

terça-feira, 24 de março de 2009

Maria Bethânia Reverso

Na Ilustrada de domingo (FSP), 22/03/09, o jornalista Marcus Preto fez um artigo sobre a postagem dos trabalhos de Maria Bethânia na Web, inclusive destacando que se pode encontrar coisas raras da diva na rede. Como exemplo, citou o blog de fãs da cantora, Maria Bethânia Reverso, onde se pode baixar realmente, em áudio ou vídeo, gravações e shows antológicos da artista.

Baixei o áudio do show Rosa dos Ventos, de 1971, acho que o espetáculo mais expressivo de Bethânia, pois era mais do que um show, era um congraçamento dos fãs, uma espécie de rito de toda uma geração sufocada por aqueles tempos sombrios.

Gal Costa também teve um show antológico como o Rosa dos Ventos, o Fatal, Gal a Todo Vapor, também de 1971, que incluía, entre outras músicas, Vapor Barato, do Jards Macalé e do Waly Salomão, para lá de representativo também não só da carreira da cantora como de toda uma época.

Ambos os espetáculos foram pontos altos dessas duas artistas e muito icônicos daquele momento da cultura e da vida brasileiras. À parte isso, a qualidade e a beleza das músicas desses shows são, como tudo que é bom, atemporais, e podem ser ouvidas pelas novas gerações numa boa.

Nesse sentido, quem é bon gourmet musical não deve deixar de acessar o blog Reverso para conhecer ou (re)conhecer a carreira da Betha.

Posto abaixo, Maria Bethânia cantando Lamento do Morro, de Orfeu do Carnaval, que encontrei, na página do orkut de uma colega, e que é linda.


sábado, 21 de março de 2009

Boas-vindas ao admirável mundo novo.

O assunto da semana que se encerrou, na área dos costumes, foi sem dúvida a matéria da revista Época sobre a garota que ficou grávida da companheira, auxiliada pelas modernas técnicas de reprodução assistida. Uma das mulheres cedeu os óvulos, fertilizados com o sêmen de um doador, e a outra, o útero, onde foram implantados os óvulos fertilizados. O resultado foram gêmeos, um menino e uma menina. O casal, com a parceira grávida agora nos 7 meses, quer registrar as futuras crianças no nome das duas mães que, desta vez, são mães inclusive biológicas, para desespero dos conservadores, sobretudo religiosos. Para tal, as moças recorreram à advogada Maria Berenice Dias, do Rio Grande do Sul, que já se oficializou como advogada dos direitos homossexuais no Brasil. As moças querem, além do interesse próprio, abrir precedente jurídico para o reconhecimento da maternidade ou paternidade conjunta de casais de mulheres e de homens.

Com uns e umas contra e outras e outros a favor, a discussão promete muito pano para manga. E desde já discussões paralelas também começam a surgir. O advogado Pedro Estevam Serrano, colunista da revista jurídica Última Instância, julga, em seu artigo O reconhecimento de filiação de casal lésbico, não haver empecilho legal para o reconhecimento da maternidade conjunta do casal lésbico, mas se preocupa com o fato de o pai biológico dos gêmeos ser desconhecido.

Segundo ele, a criança, fruto de inseminação artificial, tem o direito de “saber de sua história genética e exigir de seu pai o cumprimento dos deveres inerentes à paternidade, bem como exercer os direitos de filiação que lhe são acometidos, inclusive, herança etc., sob pena de jogarmos pá de cal nos direitos infantis e adolescentes previstos no art. 227 de nosso Texto Maior.” “... A criança que nasce tem direito de saber quem é seu pai e dele receber os cuidados e mantença que faz jus, bem como a exercer todos os demais direitos inerentes à filiação ou dela decorrentes.”
Achei estranhas as colocações do autor. Primeiro que sua visão sobre paternidade é inteiramente biologizante, tanto que o doador do esperma vira pai compulsório, ainda que não queira. Me parece que a paternidade e a maternidade vão além da questão do encontro de espermatozóides com óvulos. Pai e mãe são fundamentalmente aquelas pessoas que criam a criança, que a nutrem não só de leite materno como também de carinho, amor, atenção, que bancam sua sobrevivência, estudos, etc... Segundo, pressupõe-se que quem doa sêmen o faz por um ato de generosidade, para ajudar a quem não pode ter filhos, abstendo-se de futuras interferências na vida do casal receptor da doação e se isentando igualmente de cobranças quanto às obrigações da paternidade. Senão, de repente, criaremos um grupo de crianças de proveta super-privilegiado a receber pensões e heranças em duplicidade enquanto tantos outros não têm os cuidados sequer de um único pai.

Daí que, mesmo considerando válida a idéia de assegurar o direito da criança de conhecer seu pai biológico, não vejo como justa a causa de cobrar de um doador de esperma os tributos de uma paternidade normal. Se a questão ainda fosse só conhecer o pai, ainda vá lá, embora não me pareça algo assim tão simples de qualquer forma, mas cobrar do doador responsabilidades que ele não assumiu não é correto, a meu ver. O que essas cobranças – que no exterior já ocorrem com certa freqüência – podem trazer é uma debandada geral dos doadores, o que não é desejável para muita gente.

No mais, nossas boas-vindas a esse admirável mundo novo.

domingo, 8 de março de 2009

Violência contra a mulher

O tema da marcha pelo dia internacional da mulher deste ano é o combate a violência contra as mulheres. Navegando no UOL, vi este vídeo que posto abaixo sobre até onde este grau de violência pode chegar. Trata-se de um caso de violência no Paquistão.

Ao ver o vídeo, pelo seu impacto, resovi me contradizer e falar de um tema militante, neste 8 de março. Ao vê-lo lembrei também de um documentário que assisti há tempos sobre a violência contra a mulher naquele país, da National Geographic, se não me engano intitulado Crimes de Honra. O documentário tinha por eixo a história de uma mulher que teve o nariz, os olhos e as orelhas arrancadas pelo marido porque este a vira cumprimentar e trocar umas palavras com outro homem numa via pública. Sentindo-se desonrado (sic), ao chegar em casa, o facínora quase a matou de pancada e a mutilou dessa forma terrível com uma faca (foto acima).

O documentário segue a saga dessa mulher, Zahida Perveen, que contou com a ajuda do irmão e de um médico residente nos EUA, até a reconstituição plástica de seu nariz e orelhas e da implantação de simulacros de globos oculares que permitissem que ela pudesse ao menos voltar a ter uma vida social (foto ao lado). Num caso raro para o Paquistão, Zahida Perveen também processou o criminoso.

Paralelamente, outros casos de mulheres queimadas e mutiladas de várias formas por seus maridos foram sendo apresentados num filme de horror indescritível sobretudo por não ser um filme.

Também é entrevistada, no meio dessas trevas, uma mulher que se tornou ativista pelos direitos das mulheres em seu país, Shahnaz Bokhari e organizou um grupo contra a violência denominado Associação das Mulheres Progressistas de Islamabad. É ela que aparece no vídeo que posto abaixo, em homenagem a todas as mulheres que lutam por simplesmente viver em segurança neste planeta.

Também são do site de sua organização as fotos da mulher que foi mutilada pelo marido e que postei aqui. Neste site também se encontram outras fotos e histórias igualmente impressionantes. Vale a visita.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Lugar de Mulher - pelo 8 de março

Confesso que ando meio sem pique para comemorar o dia internacional da mulher seja pelo porre capitalista de tantas propagandas comerciais para você comprar num sei o quê em homenagem às mulheres (sic) seja pelo porre esquerdista de ver as questões da mulher novamente subordinadas à luta contra a burguesia, o neoliberalismo, a crise econômica e outras tantas desse pessoal que - como a Folha de São Paulo tão bem alcunhou - é cínico e mentiroso. Domingo haverá passeata cheia de bandeiras vermelhas na avenida.

Porém, todavia, contudo, como ainda há muito por fazer em termos de direitos das mulheres, achei que devia de qualquer forma lembrar a data, mas estava sem saber o que dizer que não fosse de caráter "ativista", quando uma colega me enviou o cordel abaixo da Salete Maria, do blog
Cordelirando. Achei os versos muito bons, inclusive porque desfolham essa mulher abstrata da militância e do dia 8 nas múltiplas mulheres reais que são de todo tipo e que estão em todo o lugar. De fato, nosso lugar é- como diz o cordel - onde quer que a gente sobreviva.

Lugar de Mulher

Do ponto onde me encontro, na janela dum sobrado
Daqui donde me defronto, com meu presente e passado
Fico metendo a colher do ‘meu lugar de mulher’
Neste mundão desgarrado
Do meu ângulo obtuso, num canto da camarinha
Afrouxo um parafuso, liberto uma andorinha
Desmancho uma estrutura, arranco uma fechadura
Desmonto uma ladainha
Reza a história do mundo, que mulher tem seu lugar
É um discurso ‘corcundo’,e prenhe de bla-bla-blá
Eu que ando em toda parte,divulgo através da arte
Outro modo de pensar:
Lugar de mulher é quarto,sala, bodega e avião
Lugar de mulher é mato,cidade, praia e sertão
Lugar de mulher é zona, do Estado do Arizona
À Vitória de Santo Antão
Lugar de mulher é sauna, capela, bonde, motel
Lugar de mulher é fauna, terreiro, campus, quartel
Lugar de mulher é casa, seja na Faixa de Gaza
Ou no Morro do Borel
Lugar de mulher é cama, seresta, parque, novena
Lugar de mulher é lama, escola, laje, cinema
Lugar de mulher é ninho, dos becos do Pelourinho
Às águas de Ipanema
Lugar de mulher é roça, riacho, circo, cozinha
Lugar de mulher é bossa, reisado, feira, lapinha
Lugar de mulher é chão, das ruelas do Sudão
Às veredas da Serrinha
Lugar de mulher é mangue, deserto, vila, mansão
Lugar de mulher é gangue, novela, birô, oitão
Lugar de mulher é mar, das praias do Canadá
Ao céu do Cazaquistão
Lugar de mulher é ponte, trincheira, jardim, salão
Lugar de mulher é fonte, indústria, baile, fogão
Lugar de mulher é mina, do solo de Teresina
Ao Morro do Alemão
Lugar de mulher é barro, palco, metrô e altar
Lugar de mulher é carro, camarote, rede, bar
Lugar de mulher é trem, dos caminhos de Belém
À serra do Quicuncá
Lugar de mulher é show, favela, brejo e poder
Lugar de mulher é gol, ringue, desfile e lazer
Lugar de mulher é creche, das bandas de Marrakech
Às vilas do ABC
Lugar de mulher é serra, obra, beco e parlamento
Lugar de mulher é guerra, missa, teatro e convento
Lugar de mulher é pia, das tendas de Andaluzia
À Santana do Livramento
Lugar de mulher é tudo, por onde possa passar
Seja pequeno ou graúdo, seja daqui ou de lá
Lugar de mulher é Terra, mas não onde o gato enterra
O que precisa ocultar
Lugar de mulher é dentro, mas também pode ser fora
Lugar de mulher é centro, que a margem não ignora
Lugar de mulher é leste, norte, sul, também oeste
De noite, tarde e aurora
De minha perspectiva, mulher não tem ‘um’ lugar
Onde quer que sobreviva, pode ser seu habitat
Lugares existem zil, eu mesma sou do Brasil
E vivo no Ceará!

Salete Maria

domingo, 1 de março de 2009

Parabéns ao Rio, minha terra natal!

Nasci na cidade do Rio de Janeiro em 20 de julho de 1954, filha de migrantes nordestinos em busca de vida melhor. Depois fui exportada para Sampa, ainda bebê, onde de fato cresci, onde de fato me formei como pessoa.

Mas, quando criança e mesmo no início da adolescência, ia muito ao Rio, tenho parentes por lá. Ao longo da minha vida, também visitei o Rio várias vezes e guardo boas lembranças da cidade que já foi mais maravilhosa, hoje tão conturbada pela violência sem freios.

Apesar desses pesares, o Rio ainda é o cartão-postal do Brasil, com aquela paisagem esplendorosa do Cristo Redentor, da baía de Guanabara, com seu histórico tão importante para a cultura brasileira. Por essas e mais outras, deixo aqui minha homenagem de carioca-paulistana aos 444 anos do Rio de Janeiro, com uma música que, por ritmo e letra, interpreta a cidade melhor que ninguém! Samba do Avião, do Tom Jobim, com ele e a Miucha.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Vídeo da campanha pelos casamentos gays na Califórnia

Ao som de "Fidelity", da russa Regina Spektor, o vídeo da Campanha da Coragem pela validação dos Casamentos Gays já realizados na Califórnia, antes da aprovação da Proposta 8 (iniciativa do advogado Kenneth Starr que entrou com ação pedindo a anulação de todos os casamentos oficializados na Califórnia em 2008), apresenta diferentes casais homossexuais e seus familiares segurando cartazes com a frase "Don't Divorce Us" (Não nos divorcie).

Fora o vídeo, os organizadores enviaram uma carta, , contra a ação de Starr, já assinada por 300 mil pessoas, que deve chegar à Suprema Corte americana, em 5 de março, quando também haverá uma audiência sobre o assunto. A carta cita trecho de discurso de Barack Obama defendendo direitos da comunidade LGBT.

Veja como o vídeo da campanha ficou bonito. Divulgue!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Como hoje é carnaval...













Passeando pela Web, blogs, sites e tudo mais que se encontra nesse caminho, encontrei o blog Men who look like old lesbians (Homens que parecem lésbicas velhas). Não é novidade, outros blogs L já citaram, mas nem por isso deixo de recomendar.

Como hoje é dia de folia, nada como rir um bocado com a cara dos bofes que parecem lésbicas (ou são as lésbicas que parecem com eles?). Alguns ainda dá para perceber que são homens, mas a maioria realmente poderia passar por uma sapa. E não tem só homens mais velhos que parecem sapas mais velhas, tem os jovenzinhos também que parecem com as lezzies teen, uns que parecem com as mais butches... tem de tudo. Tem até o Milton Nascimento com cara de sapa...rsss
E para ilustrar esse post botei aí uma sapa, a Vange Leonel, que, com o passar dos anos, foi ficando cada vez mais parecida com o cara na foto ao lado (Bob Dylan, para quem não sacou). Estranhos mistérios da passagem do tempo. Talvez the answer may be blowing in the wind... rsss

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