8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

segunda-feira, 12 de maio de 2014

A esquerda quer acabar com a pobreza destruindo a riqueza

Safatle e Lênin: separados na maternidade
Se a esquerda, principalmente a socialista bolivariana, se preocupasse mais em combater a pobreza do que a desigualdade social, seguramente teríamos menos desigualdade e menos pobreza. Entretanto, o raciosímio do pessoalzinho é de que a riqueza de uns se deve sempre à pobreza de outros. A riqueza é sempre fruto da exploração dos desfavorecidos. Enriquecer devido ao mérito é papo-furado de coxinha, direitista e tals. Bill Gates, Steve Jobs, Mark Zuckerberg que o digam.

Então, o negócio é sobretaxar os ricos - agora sobretaxá-los em nível global - e tirar-lhes o direito de passar aos filhos o fruto de seu trabalho. Ah, e não só os ricos não. Também os classe-(re)mediados. Segundo Vladimir Safatle, "deixar herança não passa de uma forma de perpetuar desigualdades e estimular a criação de uma classe parasitária de rentistas. Melhor usar esse dinheiro para financiar serviços públicos ou obrigar empresas a abrir fundações baseadas em filantropia."  O Imposto sobre Transmissão, Causa Mortis e Doação (IPCMD) de 4%, que o Estado brasileiro extorque dos cidadãos, é muito pouco para o valente Lênin dos trópicos.

A família que ralou e ralou, a fim de construir um patrimônio e deixar para os filhos um futuro melhor do que seus pais tiveram, deveria ser obrigada a doar tudo para o financiamento de serviços públicos. Ou seja, seus filhos ficariam a ver navios enquanto seu dinheiro engordaria os cofres governamentais para alimentar os vigaristas da esquerda (e de outras facções) que vivem às custas do Estado. A dúvida é: essa gente é cínica porque é louca ou é louca porque é cínica?

Dois artigos do jornalista Leandro Narloch e do economista Kenneth Rogoff refletem sobre essa absurda forma de ver a vida das esquerdas,

Safatle contra os pobres

Leandro Narloch

Por que intelectuais como Vladimir Safatle desprezam a receita mais eficaz, testada e aprovada para a redução de pobreza? Falo do crescimento econômico. Qualquer país que vive uma ou duas décadas de altas consecutivas do PIB vê massas humanas deixarem a miséria.

China: 680 milhões de miseráveis a menos desde que as fábricas capitalistas apareceram, há 35 anos. Indonésia: redução de pobreza de 54% para 16% em 18 anos. Coreia do Sul: tão pobre quanto a Índia em 1940, virou um dos países mais ricos do mundo depois de crescer em média 8% ao ano entre 1960 e 1980.

Essa receita deu tão certo que levou o mundo a superar, cinco anos antes do previsto, a meta estabelecida pela ONU, em 2000, de cortar pela metade o número de pessoas que viviam com menos de US$ 1,25 por dia. Quase tudo isso aconteceu sem cotas sociais, sem Bolsa Família, sem alta de impostos. Só com geração de riqueza.

É uma excelente notícia, que deveríamos comemorar –mas por que Safatle não participaria da festa conosco? No artigo "Demagogia" (29/4), naFolha, ele reclama de quem prefere discutir o crescimento econômico em vez de se concentrar no "caráter insuportável" dos arcaísmos brasileiros (mas a expansão da economia é melhor arma contra esses arcaísmos!).Noutro artigo, diz que a atividade econômica só faz produzir desigualdade.

Dá pra entender o desprezo. Admitir a importância da alta do PIB na redução da pobreza implica em reconhecer verdades dolorosas. A primeira é que quem atrapalha o crescimento da economia atrapalha os pobres. Afugentar investidores resulta em menos negócios, menos vagas, menores salários.

Outra é que os interesses das classes nem sempre divergem. PIB em alta faz bem para pobres, remediados e magnatas. Os anos recentes do Brasil são um exemplo disso. Entre 2007 e 2012, vivemos uma impressionante redução da miséria. Enquanto isso, o número de milionários subiu de 120 mil para 165 mil. Não há motivo para fomentar conflito entre motoboys e donos de jatinhos.

Mas o fato mais difícil de reconhecer é que os filósofos de palanque e os bons mocinhos tiveram um papel irrelevante na redução da pobreza. Se crescimento da economia ajuda os pobres, isso se deve a seus protagonistas, ou seja, os homens de negócio, alguns deles ricos, quase todos interessados somente em botar dinheiro no bolso.

Pior ainda, Safatle teria que admitir que os negociantes aliviaram a condição dos pobres fazendo justamente aquilo que mais incomoda os intelectuais ressentidos: lucrar explorando mão de obra barata. Capitalistas costumam atrair competidores, criando uma concorrência por empregados, elevando salários.

Intelectuais costumam reservar para si um lugar mais elevado que o de comerciantes na sociedade. É difícil terem generosidade para admitir que uma de suas causas mais nobres depende de negociantes mundanos. Por isso, o filósofo prefere ficar do lado da ideologia, e não do lado dos pobres, o que me faz acreditar que ele é movido por um ressentimento contra os ricos, talvez um desejo puritano de conter seus excessos. E não uma vontade genuína de reduzir a pobreza.

LEANDRO NARLOCH, 35, é jornalista e autor de "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil" e coautor de "Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo" (ambos pela editora LeYa)

Fonte: Folha de São Paulo, 12/05/2014

Onde está o problema da desigualdade?
Não esqueçamos que, quando se trata de reduzir desequilíbrios,o capitalismo teve três décadas impressionantes
Kenneth Rogoff

Ao ler o influente novo livro de Thomas Piketty, “Capital in the Twenty-First Century”, pode-se concluir que o mundo nunca foi tão desigual desde os dias dos barões ladrões e dos reis. O que é estranho, pois ao se ler outro excelente lançamento, “The Great Escape”, de Angus Deaton, conclui-se que o mundo está mais igualitário do que nunca. Qual visão é a correta? Depende de se olhar para países, individualmente, ou para o mundo.

O fato abrangente no livro de Deaton (que revisei recentemente) é que, nas últimas décadas, bilhões de pessoas no mundo em desenvolvimento, particularmente na Ásia, escaparam de níveis de pobreza desesperadores. A mesma máquina que aumentou a desigualdade em países ricos aplainou globalmente o campo de jogo para bilhões. Olhando de fora, e dando, por exemplo, a um indiano o mesmo peso de um americano ou de um francês, os últimos 30 anos estão entre os melhores na história no que se refere a melhorar a situação dos pobres.

O brilhante livro de Piketty documenta a desigualdade dentro dos países, com o foco no mundo rico. Grande parte da onda que cerca o livro foi provocada por pessoas que se consideram de classe média em seus próprios países, mas que são de classe média alta ou mesmo ricos segundo padrões globais. Há debates sobre os fatos que Piketty, e o coautor Emmanuel Saez, estabeleceu para os últimos 15 anos. Mas considero os resultados persuasivos, especialmente porque outros autores, usando métodos completamente diferentes, chegaram a conclusões similares. Brent Neiman e Loukas Karabarbounis, da Universidade de Chicago, por exemplo, argumentam que a participação da mão de obra no PIB está em queda mundial desde 1970.

Entretanto, Piketty e Saez não oferecem um modelo. E a falta de um modelo, combinada com o foco nos países de classe média alta, faz diferença quando se trata de prescrição de políticas. Será que os admiradores de Piketty estariam tão entusiasmados sobre sua proposta de uma taxa global progressiva sobre a riqueza se ela se destinasse a corrigir as enormes disparidades entre os países ricos e os mais pobres, em vez de entre aqueles que estão em boa situação, pelos padrões mundiais, e os ultrarricos? Piketty argumenta que o capitalismo é injusto. E o colonialismo também não era? A ideia de uma taxação global da riqueza está repleta de problemas de credibilidade e execução, além de ser politicamente implausível.

Embora Piketty esteja certo ao dizer que o retorno sobre o capital aumentou nas últimas décadas, ele menospreza o amplo debate entre os economistas sobre as causas disso. Por exemplo, se a principal causa é o maciço fluxo de mão de obra asiática nos mercados globais, o modelo de crescimento desenvolvido pelo economista Prêmio Nobel Robert Solow sugere que, eventualmente, o estoque de capital se ajustará e os salários subirão. Aposentadorias numa força de trabalho envelhecida poderão também fazer os salários aumentarem. Se a participação do trabalho na renda cai devido ao inexorável aumento da automação, a pressão de baixa continuará.

Felizmente, há meios melhores para abordar a desigualdade nos países ricos enquanto se fomenta o crescimento a longo prazo da demanda por produtos dos países em desenvolvimento. Por exemplo, a adoção de um imposto sobre o consumo com alíquotas muito próximas seria uma forma mais simples e mais efetiva de taxar a acumulação de riqueza passada. Um imposto progressivo sobre o consumo é relativamente eficiente e não distorce tanto as decisões sobre poupança como faz hoje o Imposto de Renda. Por que adotar uma taxa global sobre a riqueza quando estão disponíveis alternativas favoráveis ao crescimento, que levantam receita significativa e podem se tornar progressivas?

Além de um imposto global, Piketty recomenda uma alíquota marginal de 80% sobre a renda nos EUA. Embora acredite que os EUA precisem de uma taxação mais progressiva, particularmente para o 0,1% no topo, não entendo por que assumir que uma alíquota de 80% não causará distorções significativas, especialmente porque isto contradiz um grande trabalho dos prêmios Nobel Thomas Sargent e Edward Prescott.

Ao aceitar a premissa de Piketty, de que a desigualdade importa mais que o crescimento, é preciso lembrar que muitos nos países em desenvolvimento dependem do crescimento dos países ricos para ajudá-los a escapar da pobreza. O problema número um deste século continua a ser ajudar os mais pobres na África e fora dela. A elite do 0,1% deve pagar mais impostos, mas não esqueçamos que, quando se trata de reduzir a desigualdade mundial, o sistema capitalista teve três décadas de desempenho impressionante.

Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do FMI, é professor de Economia e Políticas Públicas na Universidade de Harvard

Fonte: O Globo, 10/05/2014

Em entrevista ao programa Grande Entrevista, do canal de televisão português RTP Informação, o cantor Ney Matogrosso apresenta a realidade brasileira sem retoques

Ney Matogrosso lavando nossa alma
Em entrevista ao programa Grande Entrevista, do canal de televisão português RTP Informação, o cantor Ney Matogrosso apresenta a realidade brasileira atual sem retoques e critica com veemência nossos políticos e governantes, em particular o PT. Diz ele, entre outras verdades que nós, brasileiros conscientes, estamos carecas de saber: "No PT, é muito mais visível a corrupção. Bem mais visível."

Sempre gostei do Ney como artista, mas não sabia que tinha essa consciência política e a coragem de dizer a verdade a respeito do país e de nossa malfadada classe política, em particular sobre a máfia fascista do PT. E ninguém vai poder dizer que ele disse o que disse porque é de direita, conservador, blá-blá-blá, porque sempre foi uma figura tida como progressista. Aliás, ninguém precisa ser conservador(a) para criticar o atual estado de coisas no Brasil. Qualquer um(a) que tenha - como se diz popularmente - um pouco de vergonha na cara não pode estar contente com nossa realidade nem pode aprovar o presente governo.


Abaixo a entrevista de Ney e - para lembrar de sua bela voz - a música O Patrão Nosso de Cada Dia que hoje virou tema da minissérie O Caçador.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

PT deixa herança maldita para próximo governo enquanto culpa imprensa pelas vaias a Dilma


Dilma e sua turma vêm sendo vaiados até em evento da CUT (braço do PT). Enfim, parece que ela está - cada vez mais - desagradando aos mais variados segmentos da sociedade. E isso é muito bom porque nos dá esperança de tirar essa coisa malévola, chamada PT, do poder. Por outro lado, o abacaxi que o governo Dilma deixará para o próximo presidente não vai ser nada fácil de descascar como bem descreve editorial do Globo do último final de semana.

Abaixo dois textos de O Globo, um do jornalista Merval Pereira (acompanha vídeo com a vaia dada a Dilma na Expozebu) e outro o editorial falando da sortida herança de problemas que o atual governo deixará para 2015.

Critérios e tendências

Merval Pereira, O Globo

Essa não é uma boa perspectiva para quem se coloca como a melhor opção para presidir o país. Quando Lula começou a aparecer como o franco favorito nas pesquisas em 2002, os especuladores financeiros reagiram ao perigo potencial que ele representava, levando o dólar até a R$ 4,00 e elevando o risco Brasil.

Agora, a cena se repete invertida, mas pelas mesmas razões: o mercado financeiro oscila para cima com a possibilidade de derrota de Dilma, o que significa que a direção econômica do país mudará de rumo.

A convenção do PT, que reafirmou a candidatura de Dilma, tentando soterrar a campanha pela volta de Lula, teve um tom agressivo que denota todo o ressentimento pela crescente rejeição ao governo petista refletida nas pesquisas eleitorais e nas vaias que seus principais líderes estão recebendo pelo país.

Ontem mesmo foi a vez de a presidente ser vaiada mais uma vez, agora em uma tradicional exposição de gado zebu em Uberaba, em Minas, a terra de Aécio Neves que Dilma também reivindica para si, pois nasceu no estado. Mas, assim como historicamente não está ligada ao PT, e sim ao PDT, o Rio Grande do Sul tem mais a ver com sua vida política.

A radicalização da campanha petista, com críticas à elite e à grande imprensa, mais uma vez acusada por Lula como a grande opositora, pode levar, no entanto, a resultado contrário ao desejado pelos apoiadores de Dilma. As pesquisas indicam que ela está caindo pelas tabelas em direção à votação tradicional do PT, que gira em torno de 30% do eleitorado.

Lula só saiu desse índice para tornar-se presidente quando ampliou seu eleitorado adotando uma imagem pública menos agressiva do que a que tinha nas campanhas anteriores, de 1989 a 1998, quando perdeu quatro eleições seguidas, duas para Collor (primeiro e segundo turnos) e duas para Fernando Henrique Cardoso, no primeiro turno.

Teve que escrever a hoje famosa "Carta ao povo brasileiro", em que se comprometeu com a manutenção da política econômica, e amenizou tanto sua imagem que, a certa altura da campanha, me disse, satisfeito: "Desta vez estou eleito. Quando até a Vera Loyola anuncia que votará em mim, é que já ganhei". A socialite da Barra que colocava tapete persa na casa de seu cachorrinho representava naquela ocasião a aceitação do Lulinha Paz e Amor, criatura criada por Duda Mendonça, que anda sumida nos últimos tempos.

As últimas pesquisas divulgadas, mesmo que os critérios de algumas, como a de ontem do Instituto Sensus ou a do Vox Populi, de dias atrás, possam provocar dúvidas, são uníssonas em uma direção: a presidente Dilma está perdendo densidade eleitoral com o passar do tempo, e o candidato do PSDB, senador Aécio Neves, surge como a alternativa preferida dos que votam com a oposição, grupo que tem sido a maioria no primeiro turno de todas as eleições realizadas desde 1994.

Há ainda uma outra tendência reafirmada: a distância entre Dilma e Aécio num provável segundo turno está diminuindo à medida que o candidato da oposição vai ficando mais conhecido do grande eleitorado.

O outro candidato da oposição, o ex-governador Eduardo Campos, continua sem tirar vantagem da adesão de Marina, e sofre restrições impostas por sua companheira de chapa. Agora mesmo, ao ouvir Aécio dizer que é companheiro "do mesmo sonho" de Campos, Marina fez questão de afirmar que há diferenças bastante profundas entre os dois, sugerindo que a adesão a uma eventual ida de Aécio para o segundo turno não são favas contadas.

Provavelmente faz isso para marcar uma posição de independência, confiante no cansaço do eleitorado à polarização entre PT e PSDB. Se Campos se convencer de que deve também tratar o candidato tucano como adversário, o calor da campanha eleitoral pode inviabilizar um acordo no segundo turno, o que favorecerá mais uma vez o PT.

Fonte: Blog do Noblat, via O Globo, 04/05/2014



A sortida herança de problemas para 2015 (Editorial)


O Globo

Seja qual for o presidente a partir de 1º de janeiro, já se sabe que a — ou o — esperará no principal gabinete do Palácio do Planalto uma lista razoável de questões intrincadas no campo da economia. Todas derivadas de erros cometidos no presente governo.

Ultimamente, quando se fala em “herança maldita” para o próximo presidente, pensa-se no setor elétrico. De fato, a desarrumação patrocinada por Dilma, ao intervir de maneira radical no setor e forçar um corte eleitoreiro nas tarifas conjugado com a renovação de concessões, não será de simples conserto.

Com a infeliz coincidência de uma seca histórica no Sudeste — potencializada pela teimosia eleitoreira do governo em não recuar no corte e/ou fazer campanhas de moderação do consumo —, as termelétricas, de custo operacional mais elevado, são forçadas a operar em três turnos e, com o veto palanqueiro ao repasse às contas de luz, cria-se no armário das contas públicas um “esqueleto” fiscal de grandes dimensões.

O represamento desta e de outras tarifas, como os preços de combustíveis, subsidiados pela já sobrecarregada Petrobras, precisa ser equacionado logo no início do governo. Para fugir de um tarifaço — possibilidade não afastada —, quem estiver com a faixa presidencial em 1º de janeiro precisará escalonar o ajuste.

Mas há outros ingredientes também preocupantes neste pacote de heranças. A própria “contabilidade criativa” é um deles, porque continua em funcionamento a usina de produção de números pouco ou nada confiáveis sobre o fluxo de dinheiro público, embora tenha sido este jogo de ilusionismo estatístico um dos fatores que contribuíram para o rebaixamento da nota de risco do país pela agência S&P.

Reportagem do GLOBO da última segunda-feira revelou que continua o represamento artificial de despesas, feito pelo Ministério da Fazenda/Secretaria do Tesouro na virada do ano, para maquiar as contas públicas.

Um dos truques — além da subestimativa de gastos feita no Orçamento — é retardar repasses obrigatórios. O Tesouro nega que a Previdência padeça do problema. Mas a operação-tartaruga neste fluxo financeiro, sempre com o objetivo de melhorar a aparência do superávit primário, iria além. Atingiria, por exemplo, o programa Minha Casa, Minha Vida, até mesmo o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

Trabalho feito pela Consultoria de Orçamento da Câmara, a partir de dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), detectou que o Tesouro empurrou de janeiro para fevereiro 5,66% dos desembolsos previstos. Em fevereiro, 18,9%, e, março, 10,86%.

Nesta progressão, o próximo presidente também herdará uma conta bilionária postergada para 2015 nas despesas correntes. Já ampliadas pelo pacote populista-eleitoreiro de 1º de Maio. Sem falar nas tarifas irreais. Trabalho e dores de cabeça não faltarão.

Fonte: Blog do Noblat, via O Globo, 04/05/2014

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Cinco animais biologicamente imortais. E você achando que deus lhe fez a sua imagem e semelhança?

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Morra de inveja: a Turritopsis dohrnii volta ao seu primeiro
estágio de vida em qualquer fase de seu desenvolvimento,
escapando da morte e alcançando potencial imortalidade.
Já havia abordado o tema dos animais imortais em Admirável mundo novo em meio à perigosa velharia ideológica e política mas sempre é bom lembrar da existência dessas criaturas. De repente, ainda conseguem emular suas incríveis capacidades regenerativas enquanto estou viva. Me ofereço como cobaia para experimentos nesse sentido. Abaixo artigo sobre cinco animais imortais.

5 animais biologicamente imortais

A chegada de uma nova primavera não traz só flores. Nosso corpo é marcado pela passagem do tempo: lentamente, perdemos os melanócitos que dão cor aos cabelos e o colágeno da pele, a cartilagem dos ossos se enfraquece, nossas células e órgãos já não funcionam a todo vapor como na juventude e deixam de cumprir funções cruciais. E aí, já viu – não há caminho de volta. Apesar da data de expiração ser incerta, nosso corpo parece ter um prazo de validade. Ou melhor, é isso que acontece com a maioria das espécies do planeta, com exceção de um grupo especial: aquele formado por animais que possuem o que a ciência chama de “envelhecimento desprezível”.

Em bom português, isso significa que as células de alguns seres felizardos se mantêm em um ciclo de renovação constante, sem sofrerem com o declínio natural que nós humanos, por exemplo, experimentamos. Ou seja, para dar fim à existência destes animais, é preciso apelar para “morte matada” já que eles são (biologicamente, ao menos) imortais. Conheça 5 destes seres incríveis:

1. Hidras
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Os seres do gênero Hydra parecem ter tirado a sorte grande na loteria da vida. A maioria dos organismos animais sofre um processo de deterioração que aumenta a possibilidade de morte com o avançar da idade cronológica, chamado de senescência. As células que entram neste processo natural de envelhecimento perdem a capacidade de reprodução e regeneração. Mas isso não acontece com as hidras. Estudos apontam que estes seres são capazes contornar o envelhecimento renovando constantemente os tecidos de seu corpo. Ao que tudo indica, as hidras podem ter escapado da senescência e serem, potencialmente, imortais.

2. Rockfish (Sebates aleutianus)
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Eles não vivem para sempre – mas chegam perto. É também uma insignificante apresentação de senescência que garante a esse peixe do Pacífico enorme longevidade. Além de seu marcante tom vermelho, o rockfish tem outras características que o distinguem no reino animal – com uma reduzida taxa de envelhecimento, espécimes deste peixe podem chegar a viver 205 anos na natureza. Nada mal.

3. Tartarugas Blandingii (Emydoidea blandingii)
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Natural da América do Norte, esta tartaruga semi-aquática de queixo amarelo pode ultrapassar a marca de 80 anos. Oito décadas pode não ser sinônimo de “vida eterna”, mas é uma idade respeitável, ainda mais considerando uma particularidade destes seres: uma vez que atingem a vida adulta, as tartarugas Blandingii parecem não envelhecer. Além de terem baixa senescência,estudos indicam que os espécimes mais velhos curtem a vida adoidado e se reproduzem mais que os companheiros mais jovens.

4. Planárias
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As planárias são vermes planos que intrigam cientistas por sua alta capacidade regenerativa. Se cortados, transversal ou longitudinalmente, esses bichinhos feios são capazes de regenerar suas partes perdidas, originando vermes completos. Quero ver você fazer isso em casa. Este surpreendente super poder, aparentemente ilimitado, faz com que as planárias sejam consideradas praticamente imortais.

5. Água-viva imortal (Turritopsis dohrnii)
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“O que é imortal não morre no final” (LEAH, Sandy)

Esta espécie de água-viva é o “Benjamin Button” do oceano. Encontrado em 1988 pelo então estudante de biologia marinha Christian Sommer, este curioso ser exibiu um comportamento que intrigou o pesquisador alemão: a água-viva se recusava a morrer. Mais que isso, parecia estar seguindo o caminho inverso, tornando-se cada vez mais “jovem”, em uma regressão que a levou de volta à sua primeira fase de desenvolvimento. Pã. Chegando lá, começou um novo ciclo de vida. Duplo pã.

Foi apenas em 1996 que um estudo sobre a reveladora descoberta foi publicado – contrariando o que consideramos o ciclo natural da vida (que inclui a inevitável morte), a Turritopsis dohrnii é capaz de voltar ao seu primeiro estágio de vida em qualquer fase de seu desenvolvimento, escapando da morte e alcançando potencial imortalidade. Não bastasse isso, a espécie ainda é espertinha – pegando carona em cascos de navios, a Turritopsis hoje é encontrada não apenas na região do Mediterrâneo, mas também nas costas de Panamá, Espanha, Japão e Flórida, parecendo ser capaz de sobreviver e se proliferar em todos os oceanos do mundo. Limitações tecnológicas ainda impedem que pesquisadores determinem o que exatamente permite que o bichinho viva para sempre, mas é bom ficar atento: se descobrirem o segredo desta água-viva, isso pode também afetar nossa mortalidade. Quem viver, verá.

Fonte: Superinteressante, Jessica Soares 27 de novembro de 2013

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Polêmica sobre candidatura de Bolsonaro à presidência revela que à esquerda ou à direita poucos brasileiros entendem de democracia

Bolsonaro em entrevero  em frente ao antigo DOI-Codi, no Rio, com o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). Os dois quase trocam socos — algo usual em discussões de que participa o deputado do PP. Bolsonaro não tem equilíbrio nem preparo para aspirar à Presidência — e suas ideias são abomináveis (Foto: O Globo)
A última polêmica da Internet e das redes sociais girou em torno da possível candidatura do deputado Jair Bolsonaro à Presidência da República. A polêmica surgiu porque os colunistas da VEJA - que é tida como de direita - consideraram a candidatura um gracejo ou mesmo uma piada. Até Rodrigo Constantino, que (em suas fantasias de unir a "direita") já chegou a postar foto sentado com o Boçalnaro,  posicionou-se contrário à candidatura por considerar o deputado inadequado para o cargo de presidente.

Acontece que os bolsanaretes ficaram furiosos com os colunistas e invadiram as caixas de comentários dos ditos para fazer campanha pelo truculento ex-militar e xingar os blogueiros. Bolsonaro que faz qualquer coisa para aparecer na mídia e alavancar a infausta carreira está adorando todo o barraco, bem a seu estilo. 

Tudo isso só mostra que - à esquerda ou à direita - poucos entendem o significado da palavra democracia no Brasil. Uma olhada nos comentários sobre as postagens dos colunistas da VEJA a respeito da candidatura de Bolsonaro dá uma boa ideia do que falo.

Abaixo texto do Ricardo Setti sobre o assunto e vídeo onde o lastimável deputado define a sua antidemocrática concepção de democracia onde as minorias devem se curvar as maiorias. E ele não é uma piada? A democracia se define pelo exato oposto: é um sistema onde, apesar de definir cargos parlamentares com base no voto da maioria de eleitores, tem como característica o respeito às minorias sejam as eleitorais, sexuais, raciais ou religiosas.  

Bolsonaro candidato a presidente? É uma piada, mesmo. Piada.

Meu amigo Lauro Jardim publicou uma nota em seu Radar On Line que explodiu na web dizendo que o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) havia decidido “fazer mais uma graça” e “anunciou oficialmente à cúpula do PP que está disponível para se candidatar a presidente da República”.

A nota provocou um aluvião de acessos e mais de 12 mil comentários — um número espantoso.

Pois eu acho que se trata mesmo apenas de uma “graça”, uma piada, uma brincadeira, a suposta candidatura do deputado a presidente.

Digo isto não porque abomino a maioria das ideias, as posturas, a atitude e o jeito de fazer política do deputado Bolsonaro.

Em primeiro lugar, é uma piada porque o PP é um partido de raposas, e não vai embarcar numa fria, em uma candidatura com chance zero de vingar.

Boa parte do PP pretende continuar mamando no governo e, apesar de se tratar de um partido supostamente conservador, quer continuar tecnicamente apoiando o governo lulopetista da presidente Dilma.

Outros setores querem marchar com o tucano Aécio Neves, que emplacou um governador em exercício do PP em Minas, tem boas relações com o comando do partido, apoia a senadora pepista Ana Amélia na corrida para o governo do Rio Grande do Sul e é primo e muito próximo de um dos cardeais do PP, o senador Francisco Dornelles (RJ).

Em segundo lugar, a candidatura de Bolsonaro é uma piada porque ele não tem equilíbrio, nem postura nem preparo para ser presidente (e não me venham com o argumento de que, se Lula foi presidente, vale tudo, de que, se Collor foi presidente, tudo pode, de que, se Dilma, de quem se dizia “preparadíssima”, chegou lá, tudo vale — não, não vale, porque quero o MELHOR para meu país. Nada de nivelar a exigência por baixo! Já sabemos o resultado disso). As ideias e atitudes do deputado estão longe daquilo que os brasileiros MERECEM ter no próximo ocupante do Palácio do Planalto.

Truculento e gritalhão, Bolsonaro já se envolveu em inúmeros entreveros repletos de insultos e próximos a briga de socos no Congresso. Ele zomba de quem defende direitos humanos, não hesitou em acarinhar publicamente, mais de uma vez, a ideia de golpes militares, defendeu a tortura em determinados casos — atropelando um dos valores mais sagrados da civilização ocidental a que ele supostamente pertence — e até chegou ao extremo grotesco de defender o “fuzilamento” de um presidente da República em exercício, no caso o presidente Fernando Henrique Cardoso. É homofóbico de carteirinha e orgulha-se deste e de outros preconceitos.

É um saudosista da ditadura e faz grossa demagogia dizendo-se, por ser ex-capitão do Exército, representante das Forças Armadas no Congresso.

NÃO, senhores: ele é delegado de 120.646 eleitores do Estado do Rio de Janeiro que o elegeram. Embora entre eles certamente se incluam militares da ativa e da reserva e pessoas de suas famílias, isso fica a anos-luz de se arrogar representante “das Forças Armadas”.

Suposto crítico contumaz da “velha política”, transformou-se por ironia em um ferrenho adepto do que condena e colocou a família para viver às custas da política: ele próprio está no sexto mandato de deputado federal, seu filho Flávio desempenha o terceiro mandato de deputado estadual, a ex-esposa Rogéria foi vereadora na Câmara Municipal do Rio e ele tem lá, hoje, outro filho, Carlos, já no segundo mandato.

Bolsonaro surgiu para a vida pública como um capitão da ativa do Exército que escreveu um artigo para a antiga seção “Ponto de Vista” de VEJA criticando a Força por diferentes razões, inclusive os baixos salários. Acabou sendo punido, ganhou as manchetes, foi para a reserva e pulou para a política, começando como vereador no Rio, embora seja paulista de Campinas.

Em seus 24 anos como deputado federal — consultem seu perfil oficial na Câmara dos Deputados e seu site na internet –, embora tenha apresentado montanhas de projetos e participado de incontáveis comissões, Bolsonaro não demonstrou qualquer preparo apreciável em gestão pública, em economia, em relações internacionais e em uma série de outros requisitos mínimos necessários a quem aspira ser presidente da República.

Seus cursos de saltos como pára-quedista, de mergulho treinado pelo Corpo de Bombeiros e sua passagem pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército (EsAO) certamente são úteis e interessantes, mas muito pouco para quem quer dirigir uma das 10 maiores economias do planeta.

Não concordo com as ideias de Bolsonaro e repudio a frequência com que ele as defende de forma grosseira, agressiva e pouco democrática. Acho, porém, que ele representa um segmento da opinião pública e tem absolutamente o direito de expressar o que pensa, sempre que aja dentro da lei.

Está muito bem que seja deputado federal e que tente se reeleger. (Já não acho tão bem que queira a família toda vivendo de salários do Legislativo…)

Ser presidente da República, porém, definitivamente não é para seu bico.

Fonte: Coluna do Ricardo Setti, VEJA, 02/05/2014

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