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terça-feira, 14 de abril de 2020

Cientistas brasileiras foram pioneiras no sequenciamento do genoma do coronavírus

Ester Cerdeira Sabino (à esq.) e Jaqueline Goes de Jesus fazem parte da equipe que fez o sequenciamento do sequenciamento do genoma do novo coronavírus, que teve casos confirmados no Brasil em fevereiro (Foto: USP Imagens; Currículo Lattes)
Ester Cerdeira Sabino (à esq.) e Jaqueline Goes de Jesus fazem parte da equipe que fez o sequenciamento do genoma do novo coronavírus, que teve casos confirmados no Brasil a partir de fevereiro (Foto: USP Imagens; Currículo Lattes)

No início de março, duas brasileiras lideraram o trabalho que sequenciou o genoma do novo coronavírus em apenas dois dias, quando a média mundial vinha sendo de 15 dias.

Quem comandou a equipe foi Jaqueline Goes de Jesus, pós-doutoranda na Faculdade de Medicina da USP e bolsista da Fapesp. Jaqueline desenvolve pesquisas na área de arboviroses emergentes e integra um projeto itinerante de mapeamento genômico do vírus Zika no Brasil.

A coordenadora geral da “missão” é Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da USP e coordenadora do Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE), que é apoiado pela Fapesp e pelos britânicos Medical Research Council e Fundo Newton.

Os pesquisadores conseguiram um resultado tão rápido porque se prepararam. Eles sabiam que a doença poderia chegar ao Brasil e se prepararam para acelerar o processo de sequenciamento.

Segundo Ester Sabino, assim que o primeiro surto de COVID-19 foi confirmado na China, em janeiro, a equipe do projeto se mobilizou para obter os recursos necessários para sequenciar o vírus quando ele chegasse no Brasil.
Usamos essa metodologia para monitorar a evolução do vírus zika nas Américas, mas, nesse caso, só conseguimos traçar a origem do vírus e a rota de disseminação um ano após o término da epidemia. Desta vez, a equipe entrou em ação assim que o primeiro caso foi confirmado”, contou Ester.
O sequenciamento foi realizado com o primeiro caso identificado no país, de um paciente de 61 anos vindo da Itália para São Paulo. O resultado foi publicado e disponibilizado para pesquisadores do mundo inteiro e já foi possível descobrir que o vírus do brasileiro é semelhante ao de um genoma sequenciado do coronavírus na Alemanha.

Com esse sequenciamento, é possível desenvolver mais rapidamente vacinas e tratamentos mais eficientes. “Por meio desse projeto foi criado uma rede de pesquisadores dedicada a responder e analisar dados de epidemias em tempo real. A proposta é realmente ajudar os serviços de saúde e não apenas publicar as informações meses depois que o problema ocorreu”, disse Ester Sabino à Agência FAPESP.

Outros pesquisadores que participaram do sequenciamento do novo coronavírus

Ao lado dessas duas mulheres que fizeram história estão vários outros pesquisadores que elas fazem questão de lembrar, como Claudio Tavares Sacchi, responsável pelo Laboratório Estratégico do Instituto Adolfo Lutz, Dr. Nuno Faria, Dr. Oliver Pybus, Dra. Sarah Hill e o doutorando Darlan Candido, da Universidade de Oxford, Dr. Joshua Quick e Dr. Nicholas Loman, da Universidade de Birmingham, o mestre Filipe Romero, da UFRJ, a mestre Pâmela Andrade, as estudantes Mariana Cardoso e Camila Maia a bióloga Thais Coletti, a farmacêutica Erika Manuli e as biomédicas Ingra Morales e Flavia Sales. 

Clipping Cientistas brasileiras são as mais rápidas no mundo a sequenciar genoma do coronavírus, por Rafael Melo, Razões para Acreditar (via revista Galileu e Jornal da USP), 02/03/2020

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Frances “Poppy” Northcutt, a única mulher na sala de controle da Apollo 8

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Poppy Northcutt, a única mulher na sala de controle do Apollo 8
Ainda hoje a engenheira é uma voz ativa pelos direitos das mulheres na ciência. Conheça a história da norte-americana que rompeu diversas barreiras na astronomia

A astronomia ainda é majoritariamente masculina: menos de 11% das pessoas que já foram ao espaço são mulheres, segundo a Nasa. Mas, na década de 1960, uma engenheira de 25 anos conseguiu fazer história em meio ao clube do bolinha da agência espacial. Frances “Poppy” Northcutt foi a única mulher na sala de controle da Apollo 8, a primeira missão que orbitou a Lua e retornou à Terra.

Conheça alguns fatos sobre a carreira desta engenheira americana, que acompanhou todas as missões do programa:

De calculadora humana a engenheira espacial

Até se tornar a única mulher em uma sala cheia de homens, Northcutt trabalhou em ambientes exclusivamente femininos. Formada em matemática, começou a carreira aos 23 anos como calculadora humana, executando cálculos baseados no trabalho dos engenheiros — todos homens. Por sua vez, as calculadoras humanas eram todas mulheres. O esforço e a curiosidade que a engenheira demonstrou no trabalho acabaram servindo para que fosse promovida para o time técnico da Apollo 8.

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Aos 76, Northcutt ainda está à frente da Organização Nacional de Mulheres do Texas
Advogada dos direitos das mulheres

Enquanto trabalhava como engenheira espacial, Northcutt decidiu fazer outra graduação, desta vez em Direito, para se tornar promotora. O foco de seu trabalho eram os direitos das mulheres.
Eu me vejo como uma cientista de foguetes em um certo período, uma ocasional advogada e uma defensora dos direitos das mulheres em tempo integral”, afirmou em entrevista ao jornal Los Angeles Time.
Ainda hoje, aos 76 anos, Northcutt está à frente da Organização Nacional de Mulheres do Texas e luta por direitos reprodutivos.

Direitos iguais, salários iguais

Apesar de conquistar um assento na sala de controle, a engenheira ganhava menos que seus colegas de equipe. Mesmo com todo o esforço do gerente de operações para igualar o salário de Northcutt ao dos engenheiros homens, a diferença continuava. Na visão dela, a equiparação salarial era difícil de acontecer quando ela havia começado com uma diferença de valores tão significativa.

Ainda que os salários se equiparassem, isso não resolveria outras questões, como os benefícios a que se tem direito na aposentadoria. Mas ela reconhecia a posição privilegiada em comparação às outras mulheres, e procurou ter uma voz ativa por direitos que favorecessem todas, como benefícios de saúde melhores.

Apollo 13 e o retorno à Terra

Foi na sétima missão do projeto que Northcutt vivenciou um dos momentos mais tensos como engenheira especial. O Apollo 13 sofreu um acidente com a explosão de um dos tanques de oxigênio, comprometendo a viagem de três astronautas. Por sorte, Northcutt e a equipe já trabalhavam há anos em planos alternativos para o caso de algo dar errado. Com a suspensão dos programas pela Nasa, a engenheira passou a trabalhar em outras missões, como estudos para chegar a Marte.

Homenagem nos palcos

A peça de teatro “Sizzle Sizzle Fly” foi escrita por Susan Bernfield em homenagem a Poppy Northcutt. A produção estreou em 2017, como um monólogo da autora. Bernfield conta que desde jovem sentia-se atraída pela história de Northcutt e pela sua participação em programa de missões, que ganhou as manchetes na época.

Clipping Poppy Northcutt, a única mulher que esteve na sala de controle do Apollo 8, por Jéssica Ferreira, Galileu, 24/01/2020

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Marithania Silvero recebe prêmio por encontrar nó que rebate teoria do cientista Louis Kauffman

A matemática Marithania Silvero, na Universidade de Sevilla.
A matemática Marithania Silvero, na Universidade de Sevilla.PACO PUENTES

O prêmio de pesquisa Vicent Caselles reconhece Marithania Silvero por encontrar um nó que rebate uma teoria do cientista Louis Kauffman

A espanhola Marithania Silvero ainda não havia nascido quando Louis Kauffman (Nova York, 1945) apresentou em 1983 a conjectura que estabelecia que duas famílias de nós matemáticos eram equivalentes. Silvero nasceu em Huelva em 1989, quando a comunidade científica tinha aceitado a teoria do matemático norte-americano. Em 2015, três décadas depois que Kauffman apresentou sua conjectura e pouco antes de uma reunião programada entre os dois cientistas, Marithania Silvero refutou a teoria do mestre. O matemático não apenas endossou a solução encontrada por Silvero, como ambos se tornaram estreitos colaboradores. Sua descoberta foi reconhecida com o prêmio de pesquisa Vicent Caselles, concedido pela Real Sociedade Matemática Espanhola e pela Fundação BBVA.

Silvero gosta de desafios desde menina. Seu melhor passatempo eram os problemas e ela cresceu entusiasmada com o mundo da matemática, ciência em que atualmente pesquisa e da qual é professora na Universidade de Huelva, depois de ter trabalhado em outros centros de pesquisa da Espanha, Polônia e Estados Unidos.

Sua pesquisa está enquadrada na topologia e, mais especificamente, na teoria dos nós, que a cientista simplifica para torná-la compreensível a partir de uma corda com as pontas grudadas. Os matemáticos estudam as transformações que podem ser feitas nessa corda, esticando-a e mudando de forma, mas sem cortá-la. A partir dessas transformações surgem propriedades e, de acordo com diferentes características, os nós se agrupam em famílias.

Louis Kauffman estabeleceu em 1983 que duas dessas famílias, a de nós alternativos e a de pseudo-alternantes, eram equivalentes. Até Silvero iniciar sua tese, orientada pelos professores Juan González-Meneses e Pedro González, e defendida no Instituto de Matemática da Universidade de Sevilha, ao qual pertence como colaboradora, Marithania construiu um nó pseudo-alternante e, recorrendo ao polinômio de Conway, descobriu que esse nó não poderia ser alternativo, refutando assim a conjectura de Kauffman.

Apaixonada pela pesquisa pura, ela defende a relevância da ciência básica.
Os matemáticos estudam os nós porque podemos defini-los e analisá-los para conhecer suas propriedades”, explica.
A teoria dos nós tem sua origem, segundo a pesquisadora, na tentativa de William Thomson, físico e matemático conhecido como Lord Kelvin, de classificar os átomos de acordo com as trajetórias que descrevem as partículas que os formam. Embora sua teoria tenha demonstrado não ser válida, a classificação de nós ficou como um problema matemático e surgiu o ramo da teoria dos nós, que tem aplicações em química, biologia, física e outras disciplinas.

No entanto, Marithania não se concentra nas aplicações dos resultados, mas nas fundações que mais tarde as tornam possíveis. “Gosto de pesquisa pura, de ciência básica, a responsável por expandir os limites do conhecimento. Se depois meus resultados puderem ajudar cientistas de outras áreas a resolver seus problemas, ficarei feliz, mas esse não é meu objetivo”, afirma, embora reconheça que essa parte, fundamental para estabelecer a base para futuras pesquisas, seja menos visível.

Silvero refutou a conjectura de Kauffman com um contraexemplo, algo que causou impacto no mundo da ciência espanhola se considerarmos que o último relatório do PISA nos reprova em matemática. Ela atribui sua trajetória ao apoio constante que encontrou na família, nos professores e amigos. É por isso que defende a importância do ensino, que os professores amem a matéria que lecionam e transmitam esse sentimento aos alunos.
Acredito que uma das causas dos resultados do PISA poderia ser o fato de que, nas escolas, a matemática não está sendo ensinada por matemáticos. Profissionais de outras áreas podem ter os conhecimentos, mas é muito difícil que possam despertar e transmitir um interesse e uma paixão pela matemática que eles mesmos não possuem”.
Ela também se sente feliz por não ter encontrado os obstáculos que limitam o acesso das mulheres a carreiras científicas. Suas estadias no exterior, sua dedicação à pesquisa e sua carreira sempre tiveram o apoio da família e dos professores.
Não senti um tratamento diferente ao dispensado aos meus companheiros, mas é verdade que conheço companheiras que tiveram outras experiências”, resume, admitindo que seu mundo não é alheio aos preconceitos comuns na sociedade. “Quando falo que sou matemática, às vezes me dizem: ‘Não parece’. Então, pergunto: qual aspecto uma matemática tem?”, lamenta diante da persistência de estereótipos e ideias preconcebidas.
Silvero também admite a ausência de modelos atuais que orientem as jovens para o mundo da ciência. Acredita que as figuras do século XIX já não valem, porque as meninas e adolescentes não se identificam com elas. De fato, reconhece que não tinha um modelo claro a seguir, que o construiu a partir das atitudes daqueles que lhe transmitiram a paixão pela ciência à qual se dedica. E, para retribuir, participará do próximo encontro da associação internacional Greenlight For Girls (G4G) para promover carreiras científicas entre meninas em idade escolar.


Clipping Jovem matemática refuta conjectura estabelecida há 30 anos, por Raúl Limón, El País, 21/12/2019

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Cientista francesa Émilie Du Châtelet escreveu livro que marcou geração de matemáticos e físicos e foi peça-chave do Iluminismo Europeu

A cientista francesa Émilie Du Châtelet (1707-1949)
Quando descobriu que estava grávida, sabia que estava com os dias contados.

Era 1749 e a marquesa tinha 42 anos. Naquela época, a expectativa de vida na França não chegava a 30 anos e o parto trazia sempre um risco enorme.

Mas longe de se resignar ao que considerava sua "sentença de morte", a descoberta da gravidez a levou a se dedicar incansavelmente ao trabalho tido como o seu maior legado científico.

Ela trabalhava por 18 horas diárias, com apenas dois intervalos de uma hora cada, e dormia cerca de quatro horas.

Émilie havia abandonado toda a vida social aristocrática e só interrompia sua produção para ver seu jovem amante e pai de sua quarta e última filha.

Em 4 de setembro de 1749, Du Châtelet deu à luz seu bebê. Seis dias depois, ela morreu de embolia pulmonar.

Se o mau presságio se concretizou, o mesmo aconteceu com sua missão. Du Châtelet terminou seu trabalho dias antes do parto.

O que começou como uma tradução francesa do famoso livro de Isaac Newton Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, mais conhecido como Principia, acabou se tornando um volume de mais de 500 páginas com contestações e checagens próprias e de terceiros às teorias do físico inglês.

O livro seria publicado 10 anos depois e marcaria toda uma geração de matemáticos e físicos franceses, e suas ideias filosóficas o tornariam peça-chave no Iluminismo europeu.

Essa ainda é a única tradução completa em francês desse texto revolucionário e ao mesmo tempo sombrio de Newton.

No entanto, 270 anos após sua morte, Émilie du Châtelet é lembrada quase exclusivamente por ter sido amante de Voltaire por 15 anos (que, aliás, não era o amante mencionado acima).

É verdade que, em vida, ele era o autor mais famoso da França.

Mas, como mostram sua produção intelectual e estudos recentes, ela era uma cientista talentosa e intelectual com mérito próprio.

Autodidata

Gabrielle Émilie le Tonnelier de Breteuil nasceu em 17 de dezembro de 1706 em Paris, no seio de uma família aristocrática francesa. Era a única menina entre seis irmãos.

Se por um lado teve aulas com professores prestigiados e aos 12 anos falava seis línguas, de outro, por ser mulher, não lhe foi permitido continuar os estudos e teve que se tornar autodidata para, com a ajuda de amigos, aprender os dois temas que mais a atraíam: matemática e física.

Ela tinha tanto talento para a matemática que em Versalhes era famosa por seu dom como apostadora. O dinheiro obtido era gasto com livros e equipamentos científicos.
Se eu fosse rei, reformaria esse abuso que encolhe metade da humanidade. Eu gostaria que as mulheres participassem de todos os direitos humanos, sobretudo, os da mente", afirmou.
Nunca chegou a ser rei, ou rainha, mas se tornou marquesa.
Quando completou 18 anos, sabia que teria que se casar e aceitou a proposta do marquês Florent-Claude du Châtelet, um distinto oficial do Exército", relata a biografia publicada pela Sociedade Americana de Física em 2008.
Esse acabou sendo um arranjo conveniente para Émilie", continua o texto, "porque o marido estava frequentemente longe de casa, deixando-a livre para satisfazer seus próprios interesses em estudar matemática e ciências por sua própria conta."
Nos primeiros anos de casamento, tiveram três filhos e ela exercia seu papel de mãe e dama da alta sociedade que as normas sociais exigiam.

Mas aos 26 anos ela deu um basta.

Émilie questionava os anos em que "gastou seu tempo" com "coisas inúteis". "Dedicava um tempo extremo ao cuidado dos meus dentes, do meu cabelo, e ao descuido de minha mente e de meu conhecimento", escreveu ela.

 Livro de Robyn Arianrhod aborda a influência
de Émilie du Châtelet na 'revolução newtoniana'

Uma mente livre

Du Châtelet não era apenas passional em sua trajetória intelectual, mas também na amorosa, diz Robyn Arianrhod, matemática e historiadora da ciência, na revista Cosmos em 2015.
Ela era demais para a maioria das pessoas do seu tempo: ambiciosa demais, intelectual demais, emocional demais e  sexualmente liberada demais", afirma a pesquisadora.
Tanto foi que durante toda sua vida foi alvo de fofocas.

Dizia-se, por exemplo, que a matemática não lhe interessava tanto quanto ter romances com os homens que lhe ensinavam. Mas, no caso dela, a realidade superou a ficção.

Voltaire e Émilie
Quando Du Châtelet e Voltaire começaram a se relacionar, ela tinha 26 anos e ele, 38.

À época, era normal que pessoas em casamentos arranjados de famílias aristocráticas vivessem separadas e tivessem amantes, acrescenta Arianrhod, que em 2011 publicou um livro sobre Du Châtelet e outra cientista, Mary Somerville, chamado Seduzidas pela Lógica (em tradução livre).

O incomum é que a marquesa não tinha um relacionamento discreto com Voltaire, já que eles moravam juntos.

E, embora ele fosse uma celebridade, ainda era um plebeu.

Como se não bastasse o escândalo para a sociedade da época, o marido de Du Châtelet apoiou o romance dos amantes e até se tornou amigo de Voltaire.

Tanto que o marido, Voltaire e o amante citado acima, o poeta e soldado Jean François de Saint-Lambert, estavam com ela no dia de sua morte.

Madame Newton

A casa de campo para onde Du Châtelet e Voltaire se mudaram tornou-se um local de encontro para intelectuais e cientistas, além de um laboratório para diversas experiências.

A biblioteca tinha mais de 20 mil livros, mais do que muitas universidades da época, diz o texto da Sociedade Americana de Física.

Segundo a entidade, uma das contribuições mais importantes dela à ciência está ligada à conservação de energia, com base em experimentos com bolas de chumbo caindo sobre um leito de argila.
Ela mostrou que as bolas que atingiram o barro com o dobro da velocidade penetraram quatro vezes mais profundamente no barro; aquelas com três vezes a velocidade atingiram uma profundidade nove vezes maior. Isso sugeriu que a energia é proporcional ao mv², não ao mv, como Newton sugerira", explica.
Sua profunda admiração por Newton não a impediu de mostrar as limitações da teoria que ela defendia tanto publicamente e que lhe valeu o apelido "Madame Newton".

Du Châtelet e Voltaire promoveram as teorias do britânico Newton em um momento em que a comunidade científica e intelectual francesa privilegiava as ideias filosóficas do francês René Descartes.

Eles foram os primeiros a perceber que "Principia havia mudado não apenas a maneira como vemos o mundo, mas a maneira como vemos a ciência", escreveu Arianrhod em Seduzidas pela Lógica.

Com Newton, a ciência deixou de ser qualitativa e ligada a especulações metafísicas e religiosas, ganhando teorias e métodos quantitativos.
Desde então, esse estilo de física matemática teve um impacto tão impressionante na maneira como vivemos e como olhamos no universo que Newton é provavelmente o cientista mais importante de todos os tempos e Émilie era uma das primeiras estudiosas a promover ativamente sua nova maneira radical de pensar", afirma Arianrhod.
Principia abrangeu muitos dos valores do Iluminismo, e o texto final de Châtelet (que elogiava a teoria newtoniana e, ao mesmo tempo, a criticava usando as mesmas ferramentas) era como a iluminação quadrada.

É por isso que Arianrhod escreve em seu livro que du Châtelet "quebrava estereótipos sobre mulheres e matemáticos, estereótipos que duraram até as vésperas do século 21".
Em particular, mostrou que é possível ser emocional e racional, intelectual e sexy."

Clipping Émile du Châtelet, a matemática grávida que correu contra ‘sentença de morte’ para terminar seu maior legado científico, por Ana Pais, BBC News Mundo, 23/11/2019

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Mulheres são 58% do público de games no Brasil, mas ainda lutam por espaço profissional no mercado

Women Game Jam (2018)

Pesquisas mostram que as mulheres são 58% do público de games no Brasil, porém ainda lutam por espaço profissional neste mercado.

Até os dias atuais as mulheres a lutam por espaço e igualdade nos meios profissionais e buscam representatividade no âmbito social. No mundo dos games essa lógica se repete e é representada pelo aumento do consumo feminino de videogames, do número de mulheres que trabalham como desenvolvedoras e a busca por mais representatividade nas personagens dos jogos. Para entender como funciona a indústria de games para as mulheres conversamos com a professora e doutora Érika Caramello e a desenvolvedora Lia Fuziy.

De acordo com o 2º Censo da Indústria Brasileira de Games (2018), as mulheres apresentam cerca de 20% dos funcionários das desenvolvedoras consultadas pelo estudo. Isso aponta que, nos últimos anos, o número de mulheres por trás do desenvolvimento de games triplicou em relação ao resultado do Censo em 2013. O número de jogadoras também aumentou – hoje 58% do público de jogos no Brasil é dominado pelas mulheres.

A professora e doutora na área de games Érika Caramello percebeu que dentro das salas de aula o interesse das meninas em trabalhar com games vem crescendo.
Antes dava aula para turmas sem nenhuma menina, hoje consigo encontrar um número significativo de garotas. Mais meninas estão se interessando em se profissionalizar nas áreas de TI, jogos digitais e ciência da computação”, afirma. Porém, as mulheres ainda representam um número muito pequeno e a indústria continua sendo predominantemente masculina.
Lia Fuziy ingressou na faculdade de jogos digitais pela paixão que tinha pelos jogos, mas nunca pensou que o desenvolvimento deles viraria seu ganha pão.
Quando me formei na faculdade me apaixonei pela vertente dos jogos educativos, fiz um curso na Universidade Federal do ABC e me especializei em Objetos de Aprendizagem. Hoje dou aulas de programação de jogos e trabalho na área de desenvolvimento de interações para apostilas didáticas”, conta. Lia concorda que escolheu uma vertente da área onde existe mais demanda e menos competição, mas enxerga nas colegas de profissão as dificuldades que encontram dentro do mercado.
Women Game Jam (2018)
Coloca as minas ‘pra’ jogo

Algumas iniciativas, como a Change The Game e Women Game Jam, são importantíssimas para apoiar e incentivar o trabalho realizado por mulheres e dar visibilidade para as meninas que estão a ingressar na área dos games ou para as que já estão inseridas, mas buscam espaço. Outro ponto forte desses projetos é a oportunidade de interação entre as meninas para que surjam parcerias e se crie um ambiente mais harmonioso de trabalho.

A Google criou no segundo semestre de 2019 a Change The Game, um concurso para mulheres criarem jogos para as plataformas mobile. As vencedoras trabalharão em conjunto aos desenvolvedores da empresa para o planejamento e execução de um jogo que será lançado na Google Play. As inscrições vão até o dia 30 de setembro.

Já a Women Game Jam é uma inciativa criada por desenvolvedoras e para desenvolvedoras. O evento, que surgiu na Alemanha, teve a terceira edição em terras brasileiras no último final de semana e contou com mentoras experientes da indústria como Ana Ribeiro, Lia Fuziy, Érika Caramello, entre outras. O evento foi focado em mulheres e buscou ser um ambiente seguro e confortável para elas. “
As meninas tiveram 48 horas para desenvolverem um jogo sobre independência e identidade e se dividiram em grupos que tinham experiência na área, porém a grande maioria nunca tinha participado de uma game jam. Elas puderam programar e se conhecer num ambiente longe de julgamentos e críticas masculinas,” contou Lia.
Érika completa ao falar da importância desse tipo de evento para a consolidação das mulheres na indústria.
Algumas alunas minhas já deixaram de ir a game jams mistas pois os pais não gostavam da ideia delas dormirem no meio de vários caras, o que faz esse evento ser bem importante. Sem falar que ver mulheres como mentoras e líderes de execução de projetos é uma experiência bem diferente do que a gente costuma ver. É fantástico ver que iniciativas como essa estão se consolidando no Brasil,” finaliza.
Clipping Mulheres nos games: A busca por incentivo e visibilidade na indústria!, por Isadora Marques, 18/09/2019, em Freak

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Hasbro lança "Ms. Monopoly", versão do famoso Banco Imobiliário onde as mulheres ganham mais

"Ms. Monopoly" também substitui as tradicionais propriedades do tabuleiro por invenções creditadas a mulheres
Para celebrar o empoderamento feminino e combater o grave problema de discriminação salarial que ainda acomete diversas mulheres no ambiente de trabalho nos dias de hoje, a Hasbro anunciou esta semana o lançamento de uma nova versão do Banco Imobiliário que promete enfim reverter a balança em favor do sexo feminino. Sim, em “Ms. Monopoly”, pela primeira vez na História do mundo – ou pelo menos na dos jogos – as mulheres poderão ganhar mais que os homens.

A versão “feminina” na verdade é uma repetição do modo de operação tradicional do jogo, com a diferença de que a cada vez se passa pela casa do pagamento as jogadoras ganham 240 unidades na moeda do Banco Imobiliário. Os jogadores do sexo masculino, porém, só recebem os 200 tradicionais, reforçando a ideia do “Ms. Monopoly” que a Hasbro define como “um mundo onde as mulheres tem uma vantagem que habitualmente é desfrutada pelos homens”.

Outra parte legal do derivado é que as “propriedades” do tabuleiro são todas invenções creditadas a mulheres, incluindo aí itens importantes como Wi-Fi e cookies de chocolate.

Esta também é a primeira edição do clássico jogo de tabuleiro que conta um mascote diferente do camarada milionário bigodudo de cartola (o tal Rich Uncle Pennybags). De acordo com a divulgação, a tal Ms. Monopoly do título é uma magnata do ramo imobiliário que advoca em favor das empreendedoras, concebida pela fabricante para inspirar mulheres de todas as idades.

O mais bacana, porém, é que a Hasbro aproveitou a concepção desta versão “feminista” do jogo para financiar inventoras e empresárias do sexo feminino. Aproveitando o valor de 20,580 unidades que estão disponíveis no jogo, a companhia investiu o mesmo número em dólares em três jovens cientistas moradoras no Canadá, Irlanda e Estados Unidos – e lançou o comercial abaixo para apresenta um pouco mais das invenções de cada uma ao público.
Pela introdução do ‘Ms. Monopoly’ e o dinheiro que estas jovens mulheres receberam para investir em seus futuros projetos, nós queremos reconhecer e celebrar as diversas contribuições que as mulheres fizeram a nossa sociedade e continuam a fazer diariamente” explica diretora sênior de marketing Jen Boswinkel sobre a campanha e o produto.
A primeira edição do “Ms. Monopoly” será lançado esta semana nas lojas dos Estados Unidos, mas ainda não tem previsão de ganhar uma versão em português no Brasil.




Clipping Contra discriminação salarial por gênero, Banco Imobiliário lança versão onde mulheres ganham mais que homens, por Pedro Strazza, 11/09/2019

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Obsolescência programada: aparelhos projetados para quebrar em pouco tempo

Lixão de Agbogbloshie em Accra (Gana), aonde vão parar os resíduos da Europa e dos Estados Unidos ( EFE)
Programado para estragar

Projetar aparelhos com defeitos e peças pouco duráveis para que o consumidor tenha de comprar novamente. É a obsolescência programada, uma prática que nos leva a um beco sem saída

A frase foi publicada em 1928 na Printer’s Ink, revista do setor publicitário norte-americano:
Um artigo que não estraga é uma tragédia para os negócios.” Para que vender menos se você pode vender mais projetando produtos com um defeito incorporado? Por que não abandonar esse afã romântico de fabricar produtos bem feitos, consistentes, duradouros, e ser logo prático? Não será melhor para o business fazer com que o cliente tenha de abrir a carteira mais vezes?
Essa é história de uma ideia que ganhou força como salvação dinamizadora nos anos da Grande Depressão, transformou-se num mantra da sociedade de consumo – comprar, usar, jogar fora, voltar a comprar – e se tornou, já na atualidade, uma séria ameaça ao meio ambiente. É uma história escrita aos poucos, capítulo por capítulo. O último e mais importante deles é o destaque que a questão ganhou nos debates da Europa, sinal de que existe uma crescente conscientização: em 4 de julho, o Parlamento Europeu aprovou (por 622 votos a favor e 32 contra) o Relatório sobre Produtos com Uma Vida Útil Mais Longa: Vantagens para os Consumidores e as Empresas, pedindo que a Comissão Europeia adote medidas.

Não só isso. A França, país com a legislação mais dura da Europa contra a obsolescência programada, acaba de registrar a primeira denúncia de um coletivo de consumidores contra os fabricantes de impressoras. O fato ocorreu em 18 de setembro: a associação Halte à l' Obsolescence Programmée (HOP, Contra a Obsolescência Programada) acusou marcas como Epson, HP, Canon e Brother de práticas destinadas a reduzir deliberadamente a vida útil de impressoras e cartuchos.

O truque não é novo. Começou a ser usado no final do século XIX na indústria têxtil (quando os fabricantes começaram a utilizar mais amido e menos algodão) e se consolidou em 1924, quando General Electric, Osram e Phillips se reuniram na Suíça e decidiram limitar a vida útil das lâmpadas a 1.000 horas, tal como aponta o festejado documentário espanhol Comprar, Tirar, Comprar (“comprar, jogar fora, comprar”), de Cosima Dannoritzer. E assim foi assinado o atestado de óbito da durabilidade.

Até então, as lâmpadas duravam mais. Como a que brilha ininterruptamente desde 1901 na central dos Bombeiros de Livermore, na Califórnia. De filamento grosso e intensidade menor que a de suas sucessoras (o que impede o alto aquecimento), essa lâmpada foi concebida para perdurar. E continua lá, brilhando, mostrando que a obsolescência programada está longe de ser um mito.

Desde a sensação causada nos anos trinta pelas meias de náilon Du Pont, que não rasgavam, até o telefone inteligente que fica burro sem razão aparente – e só um ano e meio depois de ser adquirido –, muita água passou debaixo da ponte. A obsolescência programada (OP) foi aprimorada. E a intenção de fraude por parte do fabricante não é algo fácil de demonstrar.
Hoje, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento são para ver como reduzir a durabilidade dos aparelhos, mais do que para melhorá-los ao consumidor”. Quem se expressa de forma tão contundente é Benito Muros, um ex-piloto de 56 anos que há anos denuncia a OP. Presidente da Fundação Energia e Inovação Sustentável Sem Obsolescência Programada (Feniss), ele afirma que a OP está presente em todos os dispositivos eletrônicos que compramos, “até mesmo nos carros”.
Os consumidores franceses realizaram a primeira denúncia contra várias marcas de impressoras

Muros lidera uma empresa que desenvolve lâmpadas, semáforos e projetos de iluminação pública para Prefeituras da Espanha, conta que hoje é possível observar muitas formas de OP no mercado: dispositivos com carcaças que não permitem a dissipação do calor, e cujo aquecimento gera falhas prematuras; componentes como os condensadores eletrolíticos, cujas dimensões determinarão a vida do produto (perdem líquido com as horas de uso; quanto menor for a capacidade de armazenamento de líquido eletrolítico, menos vai durar); baterias que não podem ser retiradas (como foi o caso do iPhone) e que obrigam o usuário a comprar um novo aparelho; chips que agem como contadores e que estão programados para que o sistema pare de funcionar após certo número de utilizações, como ocorreu com algumas impressoras (o consumidor que ousar tentar consertar uma logo escutará que é mais barato comprar outra).

Muros, que diz ser alvo de campanhas de difamação na imprensa por se opor à OP – e que fabricou uma lâmpada que foi objeto de controvérsia, – afirma inclusive que atualizações enviadas para os nossos smartphones escondem uma mudança de software que os torna mais lentos.

A lâmpada acesa mais antiga do mundo, numa central dos Bombeiros de Livermore, na Califórnia 
Eles te enviam uma espécie de vírus que serve para preparar o telefone para o seu final”, diz. Outro aparelho jogado no lixo, e outro resíduo eletrônico que, mais cedo ou mais tarde, vai parar nos tóxicos (e sinistros) lixões que o mundo rico alimenta em lugares remotos, como a África.
Cerca de 215.000 toneladas de aparelhos eletrônicos, procedentes sobretudo dos Estados Unidos e da Europa, desembarcam todo ano em Gana, segundo a Motherboard, uma plataforma multimídia de longa trajetória sobre trabalhos de pesquisa. Acabam gerando 129.000 toneladas de resíduos em lugares como Agbogbloshie, um dos maiores lixões tecnológicos do mundo, situado em Accra, a capital do país.
Somos os responsáveis pelo nosso consumo. Não podemos seguir assim”, diz a cientista Mari Lundström
A indústria de tecnologia produz, sozinha, 41 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos por ano, segundo uma pesquisa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Entre 60% e 90% desses produtos caem nas mãos de quadrilhas, que os descarregam ou comercializam ilegalmente. Além de Gana, países como Índia e Paquistão são importantes destinos de televisores, celulares e aparelhos de som descartados com a chegada das liquidações, porque não somos bobos, e porque uma semana de preços supostamente loucos é uma oportunidade que não se pode desperdiçar. Tudo pelo último modelo.

Ainda assim, a prática tem os seus defensores. Eles dizem que uma obsolescência programada controlada, sem abusos excessivos, é a fórmula para que o mundo continue funcionando como até agora. E uma fonte de criação de emprego.

Além disso, o avanço tecnológico traz soluções mais ecológicas e eficientes, como poderia ser o caso dos carros elétricos. Portanto, a OP poderia ter sentido, argumentam seus partidários.

O debate está aberto. E dele também participam aqueles que dizem que esse negócio de obsolescência programada é uma teoria da conspiração. Basta um passeio pelo Twitter para ver mais argumentos. Uns dizem que o verdadeiro problema não são as marcas, mas os consumidores: queremos produtos baratos para usar e jogar fora, e não estamos dispostos a pagar o que custariam se realmente fossem de qualidade (e, portanto, mais caros).

Nessa mesma linha se manifesta o diretor geral da Associação Nacional de Fabricantes de Eletrodomésticos (Anfel), da Espanha, que reúne as marcas de linha branca (geladeiras, lava-roupa, lava-louça, etc). Este jornal tentou realizar uma entrevista com algum diretor da Anfel, que só aceitou responder às perguntas por e-mail. Após afirmar que não há dados embasando a ideia de que os eletrodomésticos duravam mais em meados do século passado do que agora, e de qualificar a prática da OP como “deplorável”, Alberto Zapatero, diretor geral da Anfel, escreve: “Devemos levar em conta que os consumidores não só jogam fora os produtos que deixaram de funcionar, mas também o fazem por outros motivos, por exemplo quando um aparelho deixa de cumprir com suas expectativas por razões técnicas, regulatórias ou econômicas (caso de televisores não aptos para a transmissão digital), além do desejo dos consumidores de adquirir um novo modelo por questões de mudanças de funcionalidade, design e serviços.”

Não bastasse o consumismo desenfreado dos cidadãos ocidentais, existe também a contemporânea impossibilidade de consertar. E os dados indicam que o consumidor estaria disposto a reparar os produtos, se pudesse: 77% dos europeus prefeririam o conserto a uma nova compra, segundo o Eurobarômetro de 2014.
A sociedade dos resíduos não pode seguir assim. Estamos perante um modelo econômico superado”, afirma de Bruxela, por telefone, Pascal Durand, deputado verde europeu que liderou a iniciativa apresentada pelo Parlamento Europeu no final de julho.
A cifra de consumidores de produtos de tecnologia aumenta a cada ano. Novas classes médias de países como China e Índia se incorporam ao padrão de compra dos países mais desenvolvidos. Mais celulares, mais computadores, mais eletrodomésticos. Primeiro para o carrinho de compras, depois para o lixo. E mais extração de metais para produzi-los. Matérias-primas que não são ilimitadas.

Ao mesmo tempo, quanto mais curta é a vida dos dispositivos que compramos (veja os celulares, cuja expectativa de vida oscila entre um e dois anos, segundo os estudos europeus), maior é o volume de resíduos gerados.

Jogar fora aparelhos novos que poderiam ser consertados na Europa, enviando-os a lixões distantes em barcos que contaminam águas, para, ao mesmo tempo, comprar aparelhos fabricados em lugares distantes e que chegam em barcos que contaminam de novo. “Cedo ou tarde, isso vai acabar”, diz Durand.

Essa é uma das reflexões de uma proposta que foi batizada como “economia circular” e que ganha força nos fóruns europeus e globais. A ideia é simples: ao fabricar um bem, devemos levar em conta o resíduo que ele vai gerar para que este seja reutilizável, se possível totalmente. Desse modo, em vez de seguir o paradigma da economia linear (produzo, utilizo, jogo fora), passaríamos ao “produzo, utilizo, reutilizo”. E, se possível, conserto.

Legislar nesse sentido, portanto, significaria fazer com que as marcas aumentem os prazos de garantia; incentivar a possibilidade de reparação dos produtos em qualquer loja, não só nos serviços autorizados; que as marcas projetem artefatos que permitam a extração de peças, componentes, baterias; reduzir impostos às marcas que adotem essas medidas e aos artesãos que a elas se dediquem; perseguir e multar a obsolescência programada intencional; revelar a OP informática. A iniciativa apresentada no Parlamento Europeu vai nessa linha. A Comissão deverá dar uma resposta legislativa antes de julho de 2018.

Enquanto isso, países como a Finlândia arregaçam as mangas. O país escandinavo já conta com um plano para fazer a transição rumo à economia circular. Florescem as start-ups que procuram soluções para os resíduos que geramos, enquanto fundos são destinados para a pesquisa.

A Universidade Aalto integra um projeto de colaboração transversal que recebeu cinco milhões de euros (18,5 milhões de reais) para começar a caminhar. Mari Lundström, professora de hidrometalurgia e corrosão, lidera um programa que busca soluções para a reciclagem de metais. Em entrevista pelo telefone de Estocolmo, ela explica que os celulares, os fios elétricos e os computadores que jogamos no lixo estão repletos de materiais úteis e valiosos. Alguns inclusive são difíceis de encontrar no subsolo europeu; e, no entanto, jogamos tudo isso fora. Desperdiçamos níquel, cobalto, lítio... Muitos deles são facilmente recuperáveis através de tratamentos químicos, por exemplo. Um único telefone contém até 40 elementos recicláveis, dos quais só reutilizamos 10, explica Lundström. Doze empresas finlandesas que usam metais já trabalham com o fruto das pesquisas científicas.

Podemos reciclar o metal da lata de refrigerante. Mas precisamos de 20 vezes mais energia para recuperá-lo se essa lata foi queimada num saco com lixo orgânico, explica a cientista finlandesa. Este é um dos resultados das pesquisas do programa. Pode-se deduzir, portanto, que a economia circular deve ser promovida pelos Governos, pesquisada pelos docentes e assumida pelas empresas. Ok, mas também precisa dos cidadãos.
A chave da economia circular é o que cada pessoa fizer”, diz Lundström, de forma categórica. “Não podemos continuar vivendo como fizemos até agora. É necessária uma resposta da sociedade: somos responsáveis por nossa forma de consumir.”
Mas a economia circular também tem seus críticos. Alguns consideram que se trata de uma mera prolongação da ideia de crescimento sustentável, que, apesar de bem intencionada, não levou a grandes realizações. O problema, explicam, é o crescimento. É a lógica que nos empurra a seguir espremendo o planeta, cujos recursos são finitos.

A solução não é fácil, e romper com décadas de inércia levará um tempo. Há várias perguntas no ar. Num contexto de contínuo avanço tecnológico, será mesmo tão difícil melhorar a durabilidade dos produtos? Faz sentido continuar vivendo do mesmo jeito, conhecendo a toxicidade dos resíduos gerados por nosso modo de consumo? E os Governos não têm pensado em fazer nada a respeito?

Fonte: El País, por Joseba Elola


CONSUMIDORES SE MOBILIZAM NA FRANÇA

A França é a país com a legislação mais dura da Europa na luta contra a obsolescência programada, aprovada em 2015. As marcas que realizam a prática podem pagar multas de até 300.000 euros (1,1 bilhão de reais).

A denúncia da associação HOP apresentada em setembro, a primeira do gênero, acusou marcas como HP, Canon e Brother de práticas voltadas a reduzir deliberadamente a vida útil de impressoras e cartuchos; e destacava, em particular, o caso da Epson.

Este jornal solicitou entrevista com um diretor da Epson na Espanha, mas o pedido foi negado. Um porta-voz somente escreveu esta resposta por e-mail: “A Epson conhece a denúncia da associação HOP na França e trabalhará com as autoridades competentes para responder de maneira adequada e resolver o caso.” E acrescentou: “Rechaçamos totalmente a afirmação de que nossos produtos estão programados para estragar num período de tempo predeterminado.”



quinta-feira, 2 de maio de 2019

Taís Araújo vai interpretar a cientista Joana D'arc Félix de Souza e sua bela história de superação

Taís Araújo interpretará Joana D'arc Félix de Souza nos cinemas — Foto: João Miguel Júnior/TV Globo/Arquivo; Etec/Divulgação

Cientista de Franca que superou infância pobre e preconceito terá história contada nos cinemas

Filme sobre a vida de Joana D'arc Félix de Souza será protagonizado por Taís Araújo. Professora que aprendeu a ler sozinha tornou-se PhD na Universidade Harvard e acumula 82 premiações.

Filha de empregada doméstica e de um profissional de curtume, Joana D’arc Félix de Souza superou muitas dificuldades e preconceitoaté se tornar PhD em química pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, além de uma cientista mundialmente premiada.

Aprovada em três universidades aos 14 anos, Joana aprendeu a ler sozinha e dormiu com fome muitas noites, porque o dinheiro para estudar longe de casa era pouco. Durante o intercâmbio, ouviu comentários racistas de colegas, mas se mantinha firme aos objetivos.

Agora, a história de vida e de superação de Joana será representada nos cinemas. O papel principal será da atriz Taís Araújo. A cinebiografia ainda não começou a ser gravada e também não há previsão para lançamento, mas a produção será da Globo Filmes.
Foi uma surpresa muito grande. Até então, parece que a gente não valoriza oque é feito. Aí, caiu a ficha: ‘nossa, estou fazendo trabalhados interessantes em prol da sociedade, do meio ambiente, da saúde humana’. É possível vencer na vida através da educação”, diz Joana.
A professora conta que recebeu a proposta de ter a vida contada em um filme depois de conquistar o título “Personalidade 2017” do Prêmio Faz Diferença, uma iniciativa do Jornal O Globo em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).
Quando subi ao palco para falar um pouco sobre a minha história, foi o que ensibilizou”, relembra. “É um filme brasileiro voltado para a educação. Somente através dela é possível alcançar uma transformação social efetiva e estou contente por isso”, diz.
Os produtores do filme já estiveram na escola técnica onde Joana leciona, em Franca (SP), para acompanhar a rotina da professora. Diretor do colégio, Cláudio Ribeiro Sandoval diz que se surpreende com a capacidade da cientista de envolver e incentivar os estudantes.
Ela traz ao longo da história de vida um exemplo. Isso faz com que o aluno consiga se refletir naquilo que ela viveu. Ela é muito humana e simples no que faz. É uma alegria muito grande porque é uma oportunidade de mostrar ao Brasil inteiro quem é a Joana D’arc”, afirma.
PhD na Universidade Harvard, Joana D'arc Félix de Souza leciona em escola técnica em Franca, SP — Foto: Valdinei Malaguti/EPTV

Estudo e superação

Joana nasceu em Franca no seio de uma família com poucos recursos financeiros. Sem condições manter a caçula em uma creche, a mãe optou por levá-la para o trabalho. Aos 4 anos de idade, a menina passava o dia quietinha, lendo os jornais da casa.

Sem dinheiro e sem saber como viveria longe da família, já que precisaria estudar em uma universidade pública fora da cidade, Joana ouviu os conselhos do pai e se dedicou a longas jornadas de estudo com o material emprestado do filho da professora.

O trabalho do pai no curtume, local onde o couro cru é quimicamente tratado para ser usado na produção de sapatos e bolsas, foi responsável pela escolha da graduação. Aos 14 anos, a jovem foi aprovada em três universidades: Unicamp, USP e Unesp. Optou por Campinas (SP).
Foi uma luta enorme. Ainda estavam construindo as moradias, tivemos que pagar para morar em um pensionato. O dinheiro era contado. Meu pai começou a trabalhar à noite para pagar as despesas. O pãozinho que vinha no bandejão era o meu jantar”, relembra.

A professora Joana D'arc Félix de Souza ao lados dos pais na formatura em Campinas, SP — Foto: Arquivo Pessoal

Joana passou 10 anos na Unicamp, da graduação ao doutorado. As publicações científicas levaram ao convite para cursar o pós-doutorado nos Estados Unidos. Mas, antes de chegar à Harvard, a professora passou pela Universidade Clemson, na Carolina do Sul.
Foi um ano muito difícil, foram muitas agressões verbais por causa da minha cor. Estava no estado mais racista dos Estados Unidos. Havia frases do tipo ‘negra, volte ao seu país porque você está tomando o espaço de um branco’. Eu tinha medo, mas aguentei firme e forte”, conta.
A professora voltou ao Brasil em 2002, após duas perdas avassaladoras. Primeiro, a irmã. Um mês e três dias depois, o pai também morreu. Como a mãe estava doente e o cunhado passou a morar com ela, Joana decidiu regressar a Franca e ajudar a cuidar dos sobrinhos.

O ponto final à vida nos Estados Unidos revelou à Joana uma nova oportunidade: a carreira de docente na Escola Técnica Estadual (Etec), onde leciona até os dias de hoje. Foi nesse colégio que a cientista desenvolveu projetos de pesquisa que lhe renderam prêmios e patentes.

A cientista Joana D'Arc Félix em palestra na Campus Party 2019 — Foto: Fábio Tito/G1
Eu vi que é possível desenvolver pesquisa de ponta sem estar dentro de uma grande universidade. É possível desenvolver patentes de projetos inovadores sem estar nesse meio. É possível fazer pesquisa na educação básica, na escola técnica, basta querer”, afirma.
Hoje, aos 55 anos, Joana já registrou 15 patentes nacionais e internacionais, junto aos alunos, a partir de pesquisas envolvendo, principalmente, reaproveitamento de couro e utilização de pele suína em transplantes realizados em seres humanos.

Esse último estudo, aliás, rendeu à Joana o mais importante entre os 82 prêmios que coleciona: o Kurt Politizer de Tecnologia, concedido em 2014 pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abquim).
Todos nós somos capazes. Tem que querer, tem que ter objetivos, tem que traçar metas para vencer na vida”, afirma a pesquisadora. “Independente da cor da pele, temos que ser fortes, resistentes, enfrentar os problemas de cabeça erguida e sem vitimismo”, completa.
A professora Joana D'arc Félix de Souza ao lado dos alunos na escola em Franca, SP — Foto: Valdinei Malaguti/EPTV

Fonte: G1 Ribeirão Preto e Franca, 22/04/2019 

terça-feira, 23 de abril de 2019

72% dos artigos científicos publicados pelo Brasil são assinados por mulheres



Mulheres assinam 72% dos artigos científicos publicados pelo Brasil

O Brasil publicou cerca de 53,3 mil artigos, dos quais 72% são assinados por pesquisadoras mulheres.

O Brasil é o país íbero-americano com a maior porcentagem de artigos científicos assinados por mulheres seja como autora principal ou como co-autora, de acordo com a Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI). Entre 2014 e 2017, o Brasil publicou cerca de 53,3 mil artigos, dos quais 72% são assinados por pesquisadoras mulheres.

Atrás do Brasil, aparecem a Argentina, Guatemala e Portugal com participação de mulheres em 67%, 66% e 64% dos artigos publicados, respectivamente. No extremo oposto estão El Salvador, Nicarágua e Chile, com mulheres participando em menos de 48% dos artigos publicados por cada país.

Além desses países, a OEI analisou a produção científica da Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Cuba, República Dominicana, Equador, Espanha, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. Os dados fazem parte do estudo As desigualdades entre os sexos na produção científica ibero-americana, do Observatório Ibero-americano de Ciência, Tecnologia e Sociedade (OCTS), instituição da OEI.

A pesquisa analisou os artigos publicados na chamada Web of Science, em português, web da ciência, que é um banco de dados que reúne mais de 20 mil periódicos internacionais.
O Brasil está melhor do que o restante dos países. Acho que é algo que não podemos nos dar por satisfeitos porque temos desafios, mas indica que o Brasil caminha na direção positiva de mais oportunidades, de igualdade de gênero entre homens e mulheres”, diz o diretor da OEI no Brasil, Raphael Callou.

Menos pesquisadoras publicam

Apesar de assinar a maior parte dos artigos, quando levado em conta o número de mulheres pesquisadoras que publicaram no período analisado, ele é menor que o dos homens. No Brasil, elas representam 49% dos autores, de acordo com os dados de 2017. A porcentagem se manteve praticamente constante em relação a 2014, quando elas eram 50%.

Com base nos números de 2017, o Paraguai ocupa o topo do ranking, com 60% das autoras mulheres. Na outra ponta, está o Chile, com 37%.

As diferenças aparecem também entre áreas de pesquisa. No Brasil, entre as áreas analisadas, medicina é a que conta com a maior parte das autoras mulheres, elas são 56% entre aqueles que publicaram entre 2014 e 2017. As engenharias estão na base, com a menor representatividade, 32%.

Essa realidade faz parte do cotidiano da professora da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Maria Cristina Tavares.
Nas salas de aula, as meninas são cerca de 5% dos estudantes. No departamento temos em torno de 90 professores e somos cinco professoras”, diz. “Quando você vai a congressos, são pouquíssimas engenheiras. Você vê só ternos. Se você tem 100 trabalhos sendo expostos, tem geralmente três ou quatro pesquisadoras”, acrescenta.
Maria Cristina comemora a posição de destaque das mulheres no número de assinaturas de publicações: |
Publicações hoje em dia são tudo no mundo acadêmico. As próprias universidades prezam por expor o resultado das pesquisa. Para eu conseguir mais bolsas para os meus estudantes, preciso estar com um bom nível de publicação e não é número pelo número, é número que significa que meu trabalho está sendo bom”, diz.
A professora faz, no entanto, uma ressalva sobre a baixa presença de pesquisadoras na área que atua: 
O país perde quando não trabalha essa diversidade e todos esses olhares”.

Maioria entre estudantes, minoria entre professores

Publicar sempre foi difícil, sempre é um processo. Há casos clássicos, bem icônicos de como esse estereótipo sexual está arraigado. Quando se lê um artigo de autor chinês, polonês ucraniano, que tem um nome diferente, dificilmente vem imagem de que seja uma mulher, porque na nossa cabeça, a gente entende que esse lugares difíceis são ocupados por homens”, diz a bióloga da Universidade de Brasília (UnB) Bárbara Paes.

Apaixonada por ciência, a pesquisadora integra a equipe do Dragões de Garagem, criado para divulgar, de forma simples e atrativa, descobertas científicas e questionamentos sobre o fazer ciência no país.
Existe uma resistência da própria academia de reconhecer que existe um problema”, diz.
De acordo com o Censo da Educação Superior de 2016, última edição do levantamento, as mulheres representam 57,2% dos estudantes matriculados em cursos de graduação.

Elas são também maioria entre bolsistas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), autarquia vinculada ao Ministério da Educação (MEC), representam 60% do total de beneficiários na pós-graduação e nos programas de formação de professores.

Entre os professores contratados, no entanto, o cenário muda, os homens são maioria. Dos 384.094 docentes da educação superior em exercício, 45,5% são mulheres.

Fonte: Agência Brasil, Por Mariana Tokarnia, 23/03/2019 

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Katie Bouman, a jovem cientista que revelou como é um buraco negro


Quem é Katie Bouman, a jovem cientista que revelou como é um buraco negro

São Paulo — Em 1919, Albert Einstein previu a aparência de um buraco negro pela primeira vez. Cem anos depois, em uma quarta-feira aparentemente normal de abril, a equação de Einstein foi confirmada por Katherine (ou Katie) Bouman, a cientista por trás dos algoritmos responsáveis pela primeira imagem de um buraco negro.

A primeira imagem é uma simulação de computador que utiliza equação de Einstein para mostrar como seria um buraco negro. A teoria foi formulada por Einstein em 1919.

A segunda é a primeira foto já feita de um buraco negro, revelada em 10 de abril, 100 anos depois de Einstein.

— Jurunense (@o_jurunense) April 10, 2019
Aos 29 anos, Katie é doutora em engenharia elétrica e ciência da computação pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology) e está cursando um pós-doutorado em Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics.

Ela trabalhou no código por quase seis anos, desde a época em que era aluna da graduação no MIT, e agora colhe os frutos de seus estudos. Toda a pesquisa foi feita em conjunto ao projeto Telescópio de Horizonte de Eventos (EHT, em inglês) e a cientista liderou outros 200 cientistas na empreitada para chegar na imagem perfeita do buraco negro.

Para comemorar o feito, Katie alterou a foto de seu perfil no Facebook.
Observando sem acreditar enquanto a primeira imagem que eu já fiz de um buraco negro estava no processo de ser reconstruída”, escreveu ela na legenda.
Segundo o site MIT News, apenas um telescópio não seria grande o suficiente para enxergar um buraco negro. Para isso, então, o algoritmo desenvolvido pela cientista armazenou dados de oito radiotelescópios nos quatro cantos do mundo. O escaneamento do buraco negro, que mede 40 bilhões de quilômetros, ou três milhões de vezes o tamanho da Terra, demorou 10 dias.

Margaret Hamilton, responsável pelo código que ajudou a colocar astronautas na lua (acima) e Katie Bouman, a cientista por trás dos algoritmos responsáveis pela primeira imagem de um buraco negro.
Para armazenar tantos dados, foram necessários 5 petabytes. De acordo com a revista Superinteressante, apenas 1,5 petabyte equivale a 10 bilhões de fotos do Facebook. Com os 5 petabytes de informação utilizados para abrigar os dados que compuseram a foto do buraco negro, seria possível armazenar os efeitos especiais do filme Avatar (2009) por cinco vezes, de James Cameron.

Para guardar tantas informações assim, uma pilha de HDs externos foi necessária, todas com gás hélio em seu interior para evitar danos aos discos e a perda de dados. Depois disso, eles foram transportados de avião até chegarem aos supercomputadores no Instituto Max Planck de Radioastronomia, na Alemanha, e no Observatório Haystack, do MIT, nos Estados Unidos.

A foto nasceu da união de todos os dados.
Nós borramos duas imagens e então as sobrepusemos para conseguir a foto”, explicou ela ao jornal diário norte-americano The Washington Post.
Katie posou para uma foto “abraçando” a pilha de discos rígidos e foi comparada à cientista Margaret Hamilton, responsável pelo código que ajudou a colocar o homem na lua (ver acima).

Fonte: Exame, 11/04/2019


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