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A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

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terça-feira, 9 de abril de 2019

Histórias de cientistas brasileiras no e-book "Mulher faz Ciência"

Para inspirar garotas, jovens e mulheres a seguir a carreira científica
“Quando nós analisamos os números, as estatísticas, no mundo inteiro, apenas um terço dos cientistas são mulheres. Quando analisamos os cargos mais elevados, só cerca de 10% são ocupados por mulheres. Então, nós ainda temos um problema, sim, de desigualdade”.
A análise é da bióloga Rafaela Salgado Ferreira, uma das 15 jovens cientistas de todo o mundo que receberam um prêmio international para talentos promissores da ciência, o International Rising Talents, em 2018.

Rafaela é uma das dez personagens reunidas no e-book Mulher faz Ciência: dez cientistas, muitas histórias, que o projeto Minas Faz Ciência lançou para marcar o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, comemorado em 11 de fevereiro. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2016.

Objetivo da publicação é inspirar meninas e mulheres que tenham o desejo de seguir a carreira científica

No e-book, Rafaela relembra sua trajetória, iniciada como aluna do Colégio Técnico da UFMG, Coltec, depois como participante do programa de vocação científica do Centro de Pesquisas René Rachou, ligado à Fundação Oswaldo Cruz, em Belo Horizonte, até se tornar professora do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG.

Num trecho inédito da entrevista, que você pode ouvir a seguir, Rafaela comenta a situação do Brasil em comparação a outros países e cita um estudo que ilustra o “preconceito implícito”.
Foi dado a várias pessoas exatamente o mesmo currículo para elas avaliarem. A única diferença era que em um currículo foi colocado o nome de um homem e, no outro, o nome de uma mulher. O currículo do homem foi melhor avaliado e o salário proposto para o homem foi mais alto”, revela.
DEZ CIENTISTAS, MUITAS HISTÓRIAS
O e-book Mulher faz ciência: dez cientistas, muitas histórias traz também os depoimentos da historiadora e escritora indígena Aline Pachamama; da bióloga Fernanda Staniscuaski, fundadora do projeto Parent in Science[leia entrevista na edição nº 74 da revista Minas faz Ciência]; da cientista da computação Ingrid Splangler; da física Márcia Barbosa; da técnica em Meio Ambiente Myllena Crystina da Silva; da bióloga Natália Oliveira; da arquiteta e urbanista Priscila Gama; da astrônoma e vulcanóloga Rosaly Lopes e da professora de Física Experimental Sônia Guimarães.

Primeira mulher negra a obter o título de doutora em Física no Brasil, Sônia Guimarães avalia que a política de cotas, recentemente instituída no País, foi um importante avanço para ampliar o acesso de estudantes negros às instituições públicas de ensino superior. Ouça um trecho da entrevista:

HISTÓRIA REESCRITA

Assim como o racismo é um obstáculo a mais para mulheres negras na carreira científica, o apagamento das narrativas indígenas é outro equívoco histórico que a escritora Aline Pachamama, fundadora da Pachamama editora, busca contornar com seu trabalho acadêmico. Ouça:
O E-Book está disponível para download aqui

Fonte: Minas Faz Ciência, por Alessandra Ribeiro, 11/02/2019

terça-feira, 26 de março de 2019

A americana Karen Uhlenbeck vence um dos prêmios mais importantes da matemática


A americana Karen Uhlenbeck, especialista em equações derivadas parciais  
Imagem: Andrea KaneNorwegian Academy of Science and Letters/AFP

Pela 1ª vez, mulher vence um dos prêmios mais importantes da matemática


O Prêmio Abel de Matemáticas foi atribuído pela primeira vez a uma mulher, a americana Karen Uhlenbeck, especialista em equações derivadas parciais - anunciou a Academia Norueguesa de Ciências e Letras nesta terça-feira (19).
Karen Uhlenbeck recebe o Prêmio Abel 2019 por seu trabalho fundamental em análise geométrica e teoria de calibre, que transformou dramaticamente o cenário matemático", afirmou o presidente da comissão Abel, Hans Munthe-Kaas, em um comunicado.
Suas teorias revolucionaram nossa compreensão de superfícies mínimas, como a formada por bolhas de sabão, e problemas de minimização gerais em dimensões mais altas", acrescentou.
Uhlenbeck, de 76 anos, é professora visitante na Universidade de Princeton e professora associada do Instituto de Estudos Avançados (IAS) dos Estados Unidos.

Nascida em Cleveland, "desenvolveu técnicas e métodos de análise global que estão atualmente na caixa de ferramentas de cada geômetra e analista", indicou a Academia Norueguesa de Ciências e Letras.

Também é uma ativista em favor da igualdade de sexos nas ciências e matemáticas.

É a primeira mulher a receber o Prêmio Abel, criado em 2003 pelo governo norueguês com o objetivo de compensar a ausência de um Prêmio Nobel para matemática.

O prêmio é uma homenagem ao matemático norueguês Niels Henrik Abel (1802-1829) e é dotado com seis milhões de coroas (620.000 euros), sendo uma das mais prestigiosas distinções no mundo das matemáticas, junto com a Medalha Fields.

Fonte: UOL Ciência, via AFP, 19/03/2019

terça-feira, 19 de março de 2019

Marcelle Soares-Santos, astrofísica brasileira, vence prêmio da ciência mundial

Marcelle e a câmera que ajudou a construir, usada no projeto Dark Energy Survey
Astrofísica brasileira vence prêmio da ciência mundial
Marcelle Soares-Santos foi reconhecida pela Fundação Alfred P. Sloan, que seleciona os melhores jovens cientistas do mundo

Uma capixaba de 37 anos foi reconhecida como uma das melhores jovens cientistas trabalhando atualmente. A astrofísica Marcelle Soares-Santos vai receber uma bolsa de US$ 70 mil, para investir da maneira que julgar melhor em seu trabalho, da Fundação Alfred P. Sloan, que desde 1955 escolhe os mais proeminentes jovens cientistas.

Marcelle é professora assistente de Física na Universidade Brandeis, nos Estados Unidos, e estuda a natureza da expansão acelerada do universo usando dados de alguns dos telescópios mais poderosos já construídos.

Além disso, ela coordena uma equipe no Fermilab, um dos mais renomados centros de pesquisa em física de partículas, que ajudou a detectar uma fusão de estrelas de nêutrons pela primeira vez e atualmente está ajudando a criar um método novo para determinar a constante de Hubble.

A importância do prêmio é tanta que 47 dos vencedores da bolsa foram posteriormente reconhecidos pelo Nobel.
É uma honra receber a Bolsa de Pesquisa Sloan", disse Soares-Santos. "Encontrar-me ao lado das pessoas de destaque que foram reconhecidas ao longo dos anos é o que me deixa mais orgulhosa com esse prêmio."
SIMI Academy

O Sistema Mineiro de Inovação, por meio do Simi Academy, disponibiliza conteúdos educativos e gratuitos, com a colaboração de especialistas, que compartilham o conhecimento com o propósito de fortalecer cada vez mais a cultura da inovação em Minas Gerais e no Brasil. Conheça!

quinta-feira, 14 de março de 2019

As mulheres são biologiamente mais "fortes" do que os homens

Diferença na expectativa de vida entre mulheres e homens surge ainda na infância
Ciência comprova: mulheres são mais ‘fortes’ que os homens
Em tempos de crise, como fome e epidemias, elas sobrevivem mais que eles

Não é novidade que hoje as mulheres vivem mais que os homens em praticamente todos os países do mundo, mas um levantamento reunindo dados dos últimos 300 anos mostra que elas também eram mais resilientes no passado , até nas piores circunstâncias, como fome e epidemias. Segundo os pesquisadores, mesmo na infância, quando as diferenças comportamentais são mínimas, as meninas têm mais chances de sobrevivência que os meninos , o que indica que a explicação para o fenômeno deve ter algum componente biológico .

A equipe liderada por Virginia Zarulli, da Universidade do Sul da Dinamarca, e James Vaupel, da Universidade Duke, analisou sete episódios históricos que tiveram forte impacto sobre a expectativa de vida da população, como a chegada de ex-escravos americanos na Libéria, entre 1820 e 1843; a fome na Suécia em 1772 e 1773; e as epidemias de sarampo na Islândia em 1846 e 1882.
As condições experimentadas pelas pessoas nas populações analisadas eram horríveis. Apesar de as crises reduzirem a vantagem da sobrevivência feminina na expectativa de vida, as mulheres ainda sobreviveram mais que os homens”, revelaram os cientistas em estudo publicado semana passada na revista científica "PNAS".
Na Libéria, por exemplo, os escravos libertados nos EUA experimentaram as piores taxas de mortalidade já registradas no mundo. Mais de 40% dos realocados no país do oeste africano morreram no primeiro ano após a chegada, provavelmente por doenças tropicais. No nascimento, a expectativa de vida para os meninos era de 1,68 ano e, para as meninas, de 2,23 anos.

A fome na Suécia de 1772/1773 é considerada a pior na história do país, provocada por condições climáticas anormais no verão de 1771, que quebrou a safra e provocou aumento expressivo nos preços dos alimentos. Em 1973, a expectativa de vida da população desabou para apenas 17,15 anos para os homens e 18,79 anos para as mulheres. Na Islândia, a epidemia de sarampo fez a expectativa de vida em 1846 cair de 35,35 anos para 17,86 anos entre os homens e de 40,81 anos para 18,82 anos entre as mulheres.
Em todas as populações os homens tinham taxas de mortalidade iguais ou maiores que as mulheres em todas as faixas etárias”, apontam os pesquisadores.
Quando os cientistas analisaram os dados por faixa etária, descobriram que a vantagem de sobrevivência das mulheres se desdobram a partir de diferenças na mortalidade infantil. Em todos os casos analisados, as meninas eram mais resilientes que os meninos. Como nos primeiros anos de vida os impactos ambientais e comportamentais são mínimos, os resultados sugerem que a diferença na expectativa de vida entre homens e mulheres não pode descartar a influência biológica.
Nossos resultados adicionam uma nova peça ao quebra-cabeças das diferenças de sobrevivência entre os gêneros”, concluem os pesquisadores. “Eles sugerem que a vantagem feminina tem raízes biológicas e é influenciada por riscos, oportunidades e recursos ambientais e comportamentais”.

Fonte: O Globo, 15/01/2018 

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

A estrela de Hollywood que inventou o Wi-Fi


O texto abaixo é uma tradução do vídeo da página Cup of Jane que, entre outras coisas, resgata a história das mulheres notáveis do passado e do presente. Vamos conhecê-las!

Hedy Lammar, uma mulher revolucionária

Hedy Lamarr foi considerada, em sua época, a mulher mais linda do mundo. Mas a estrela de Hollywood foi muito mais do que uma cara bonita. A atriz austríaca judia chegou aos EUA às vésperas da II Guerra Mundial. Entre um filme e outro, Lamarr quis ajudar a derrotar os nazistas.

Então, juntamente com o compositor, pianista e inventor George Anthiel, desenvolveu um "Sistema de Comunicação Secreta". O sistema manipulava as ondas de rádio, tornando impossível para os inimigos interceptar as mensagens dos aliados.

Mas o pleno potencial da invenção de Lamarr só foi reconhecido décadas depois. O "sistema de frequências múltiplas aleatórias" se tornaria a coluna vertebral da comunicação digital: máquinas de fax, celulares, bluetooth, wi-fi...

Tudo isso graças, em parte, à Lamarr. À época, a atriz não recebeu muito crédito por sua inovação, mas, em 1997, aos 83 anos, tornou-se a primeira mulher a receber o "BULBIE™ Gnass Spirit of Achievement Award", também conhecido como o "oscar da invenção".
Esperança e curiosidade sobre o futuro sempre me pareceram as melhores garantias de todas. O desconhecido sempre foi - e ainda é - muito atrativo pra mim."
Mais sobre a atriz cientista neste link. 
 


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Baianas criam 'bafômetro' que detecta ao menos 15 doenças através do sopro

Irmãs, dupla de estudantes baianas cria dispositivo que detecta ao menos
 15 doenças através do sopro — Foto: Arquivo pessoal

Irmãs baianas criam 'bafômetro' que detecta ao menos 15 doenças através do sopro
Aparelho analisa dados a partir de gases exalados por pacientes. Dispositivo é capaz de identificar doenças infecciosas e crônicas, como gastrite, pneumonia, diabetes e intolerância à lactose.

Duas irmãs da cidade de Feira de Santana, a cerca de 100 km de Salvador, criaram um dispositivo capaz de detectar ao menos 15 tipos de doenças a partir do sopro. O aparelho, que funciona como uma espécie de bafômetro, surgiu a partir de pesquisas das estudantes Júlia, 26 anos, e Nathália Nascimento, 31.

Aluna do curso de Biotecnologia, Júlia explica que o OrientaMed foi desenvolvido inicialmente por meio de aplicações de inteligência artificial de um trabalho científico da irmã, que atualmente faz doutorado em Computação.
O início foi com base no mestrado da Nathália. Quando ela foi apresentar na UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro], onde eu estudo, eu percebi que tinha um mercado muito grande na área de saúde e uma aplicação que fazia sentido para a minha área de pesquisa também".
Ela então viu a chance das duas desenvolverem o dispositivo junto com outro estudante, o paulista Rheyller Vargas, que também é pesquisador na área.
Apareceu a oportunidade de ir para um evento de "hackathon" [maratona hacker], e eu chamei o colega para participar e formarmos uma equipe. Lá, a gente viu quais eram as aplicabilidades do dispositivo. No início, a gente pensou em algo para detectar gastrite, mas durante pesquisas aprofundadas, criação de bancos de dados, descobrimos outras aplicações", conta.
O uso do OrientaMed é simples e facilita a triagem de doenças. O paciente assopra e o aparelho devolve o resultado em cerca de cinco minutos, sem precisar de refrigeração ou do uso de produtos químicos.
Irmãs, dupla de estudantes baianas cria dispositivo que detecta ao menos
15 doenças através do sopro — Foto: Arquivo pessoal
Com a elaboração do banco de dados e o aprofundamento das pesquisas, as irmãs chegaram à média de detecção de 15 doenças infecciosas e crônicas, entre elas a gastrite, intolerância à lactose, pneumonia, Doença de Crohn e diabetes.
Ele [aparelho] captura o sopro da pessoa, e a gente envia esses dados para o computador. O resultado sai pouco tempo depois, porque o nosso objetivo é que ele seja um teste rápido para orientar os médicos a quais exames devem ser feitos para aquela determinada doença. Hoje, os resultados só saem via computador, mas a nossa expectativa de pesquisas é para que o próprio dispositivo mostre no display", explicou Júlia.
A estudante detalha ainda que as doenças são detectadas a partir da análise dos gases que contém no sopro.
Muitas doenças que deixam uma marca biológica, principalmente através das bactérias, com as doenças infecciosas. Algumas dessas doenças deixam a marca no corpo, que faz com que as pessoas exalem alguns tipos de gases diferentes, específicos. É com base nesse gás que a gente faz a análise".
A fabricação do OrientaMed custa em torno de R$ 2.500, segundo Júlia. A perspectiva das irmãs baianas, junto com o paulista Rheyller Vargas, é fabricar o produto em maior escala, para que ele se torne mais viável.
Nós já temos alguns parceiros em vista, para desenvolver o aparelho em fase escalonada. Neste momento, estamos buscando parceria com hospitais, para pesquisar de forma mais ampla. A partir disso, a gente vai conseguir ter uma precisão boa da quantidade de doenças que conseguiremos detectar".
Fonte: G1, por Itana Alencar, G1 BA, 12/02/2019


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Invenções importantes criadas por mulheres

Bette Nesmith Graham inventou o muito útil corretor líquido


11 invenções importantes que foram criadas por mulheres

Utensílios e ideias inovadoras imaginados por inventoras que simplificaram tarefas básicas na rotina das pessoas

Sem sabermos, muitos dos utensílios e tecnologias que ajudam a salvar vidas ou que usamos todos os dias foram imaginados pelas mentes criativas de mulheres inventoras. Muitos apetrechos úteis nasceram a partir de ideias de engenheiras, cientistas e outras mulheres motivadas a facilitar a rotina das pessoas.

O corretivo líquido, material comum em escritórios e escolas hoje, foi pensado por uma datilógrafa, a fórmula desenvolvida em sua cozinha. O bote salva-vidas, hoje um equipamento resistente e prático de usar em situações de emergência, também foi criação de uma mulher e ajudou a salvar centenas de pessoas em tragédias como o naufrágio do Titanic. Desde o século 19, muitas patentes foram registradas por mulheres inovadoras e seus projetos até hoje simplificam certas atividades comuns dentro e fora de casa.

Conheça outros instrumentos e materiais que foram desenvolvidos por mulheres ao longo da história:

Bote salva-vidas

Pouco se sabe sobre a inventora Maria Beasley, apenas que queria criar um bote salva-vidas mais resistente, à prova de fogo e compacto. Sua versão, lançada em 1884 em uma exposição de Nova Orleans, era mais fácil de dobrar e armazenar: até 1870, o bote era basicamente uma tábua de madeira. Beaseley patenteou sua ideia e foi responsável por outras invenções, como aquecedores de pé e uma máquina de barril de madeira, útil para a preservação de alimentos. A inventora foi uma grande exceção entre as mulheres da época, ganhando cerca de 20 mil dólares por ano, e seu bote salva-vidas impediu centenas de mortes em um dos acidentes de navio mais trágicos da história, o naufrágio do Titanic.

Cama de gabinete dobrável

Em 1885, Sarah E. Goode foi a primeira mulher afro-americana a receber uma patente nos Estados Unidos. Por isso, sua invenção de cama com gabinete dobrável marcou história e ainda ajudou as casas americanas a ganharem mais espaço com uma cama que poderia ser “engavetada”.

Corretivo líquido

Batizado de Liquid Paper em inglês (Papel Líquido, em tradução livre), o corretivo líquido usado especialmente como material escolar foi inventado por , datilógrafa americana que começou a corrigir — em segredo — seus erros de digitação com tinta branca. Ela passou anos aprimorando uma fórmula na cozinha de casa até patentear a ideia em 1958. Por 47,5 milhões de dólares, a marca Gillette comprou sua empresa em 1979.

Fraldas descartáveis

Em 1951, a inventora americana Marion Donovan deu o primeiro passo para facilitar drasticamente a vida de futuros pais e seus bebês ao patentear a capa de fralda impermeável. Originalmente feita com uma capa de chuveiro, ela foi vendida pela primeira vez na loja de luxo Saks Fifth Avenue. Dois anos depois, a patente foi vendida para a Keko Corporation por 1 milhão de dólares e Donovan lançou, logo em seguida, um modelo totalmente descartável de fraldas.
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Marion Donavan (foto: reprodução)
Kevlar

A química americana Stephanie Kwolek trabalhou durante mais de 40 anos na empresa DuPont, onde acidentalmente criou uma fibra sintética leve e super-resistente, mais tarde chamada de Kevlar. A invenção surgiu quando Kwolek tentava desenvolver uma fibra mais leve para pneus de carro e foi patenteada em 1966. A fibra é um polímero resistente ao calor e mais resistente que aço por unidade de peso. Atualmente, Kevlar é aplicado em cintos de segurança, construções aeronáuticas, coletes à prova de bala, linhas de pesca e vários outros produtos. Até alguns celulares usam a fibra, como o modelo Motorola RAZR i.
Stephanie Kwolek (foto: Wikimidia/Chemical Heritage Foundation)
Lava-louças

Patenteada em 1886, a primeira máquina de lavar louças automática foi desenvolvida pela americana Josephine Cochran, que apresentou sua invenção na Feira Mundial de Chicago, em 1893, e atraiu o interesse de restaurantes e hotéis. Apenas nos anos 50 o eletrodoméstico se tornou mais conhecido pelo público geral, com o aumento da disponibilidade de água quente nas casas, detergente para lavar louça e uma mudança de costumes em relação ao trabalho doméstico. Em 2006, seu nome foi incluído na lista de inventores da organização National Inventors Hall of Fame.

Lixeira com pedal

A psicóloga e engenheira industrial Lillian Gilbreth era conhecida por aperfeiçoar invenções com pequenos ajustes engenhosos. No início do século 20, ela projetou as prateleiras posicionadas nas portas da geladeira, melhorou o abridor de latas elétrico e lançou o pedal colocado em lixeiras para poder abri-las com o pé. Gilbreth e seu marido Frank Bunker tiveram doze filhos e inspiraram o livro Cheaper by the Dozen (sem edição no Brasil), escrito por dois de seus filhos e adaptado para filmes como Papai Batuta, de 1950, e Doze é Demais.

Lillian Gilbreth (foto: Wikimedia/Smithsonian Institution)
Escadas de Incêndio

As tradicionais escadas de incêndio, posicionadas ao lado de prédios com uma estrutura de grades, foram inventadas por Anna Connelly

em 1887. Por mais que a ideia já existisse e tenha passado por modernizações décadas mais tarde, a iniciativa de Connelly ajudou a aperfeiçoar a invenção na época em que construções começaram a ser renovadas e feitas com vários andares. Apartamentos, fábricas e prédios públicos ficaram maiores, mas suas estruturas ainda eram feitas de madeira e acidentes envolvendo incêndios poderiam ser devastadores, causando muitas vítimas — os moradores dos últimos andares eram, naturalmente, os que corriam mais riscos.

Equipamentos de combate a incêndios também não tinham a eficiência e qualidade necessárias para evitar que o fogo se espalhasse pelo prédio inteiro. Entre os anos 1877 e 1895, quando a população americana notou a urgência de criar alguma solução para o problema, pelo menos 30 patentes foram registradas por mulheres — possivelmente encorajadas pela alta taxa de mortalidade de mulheres e crianças em acidentes do tipo. Connelly foi uma das mulheres interessadas no assunto e projetou a “ponte de fuga” que logo faria parte do cenário externo de todos os prédios urbanos.

Seringa médica

Os primeiros tipos de seringa surgiram nos tempos romanos, mas sua evolução e melhorias podem ser creditadas a várias pessoas. Uma delas é Letitia Geer, que em 1899 recebeu a patente pela invenção de uma seringa com desenho adequado para ser usada apenas com uma mão, uma grande facilidade para a atividade médica.

Sinalizador noturno

Antes do surgimento de tecnologias mais inteligentes, a comunicação entre navios baseava-se apenas em bandeiras coloridas, lanternas e, quando possível, gritar mensagens bem alto. Os sinalizadores noturnos, lançados em 1859, não foram uma ideia concebida totalmente pela empreendedora Martha Coston: após a morte do marido, Coston encontrou projetos em um de seus cadernos e dedicou dez anos de trabalho ao lado de químicos e especialistas em pirotecnia para tornar os planos realidade. A patentedo produto, no entanto, creditou a invenção ao marido e citou seu nome apenas como “administradora”.

Tábua de passar

Sarah Boone foi uma costureira afro-americana responsável por aprimorar a estrutura da tábua de passar roupas. Ela recebeu uma patente pelo seu projeto em 1892, desenhado como uma superfície mais prática para passar mangas e roupas femininas. O objeto era curvo, estreito e feito de madeira.

Fonte: Revista Galileu, por Humberto Abdo, 22/03/2017

Publicado originalmente em 11/04/2019

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Programe como uma garota: elas são hackers e invadem o mercado da tecnologia masculina


Minas hackers Elas invadem o mercado da tecnologia para mudar o sistema feito por homens 
Ei, garota, já passou pela sua cabeça que as tecnologias não te representam? Talvez você nunca tenha reparado nisso, mas essa inquietação fez com que um grupo de mulheres se reunisse para combater às desigualdades no mundo de hardwares e softwares. Elas chegam para invadir o sistema dominado, desde sempre, por homens brancos e com algum dinheiro. São as chamadas hackers feministas --ou seriam feministas hackers?

A hacker feminista Antes que você estranhe, é preciso esclarecer uma coisa. Há dois termos para designar pessoas que conseguem criar e modificar os sistemas computacionais: hackers e crakers. A diferença é como cada um (ou uma) usa o conhecimento e as ferramentas que possui para alterá-lo. Hackers fazem isso de forma legal, sem invasão ou quebra de dispositivos protegidos, enquanto os crackers são vistos como criminosos, porque ignoram possíveis danos a empresas e à sociedade. Ao usar o termo hacker, então, a ideia dessas mulheres é invadir um espaço bem masculino, o setor de tecnologia, para mudar o jeito com as coisas são feitas e pensadas --não só os espaços virtuais, mas também os reais, de discussão e de ação.
Ser hacker feminista é reprogramar as redes de poder e informação da nossa sociedade para que as conexões humanas sejam mais baseadas em equidade e empatia que em dominação e hegemonia. Eu tento fazer isso por meio da educação e tecnologia
Karen Ribeiro, professora do Instituto de Computação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMG) e coordenadora do Programa Meninas Digitais
Ser hacker é não se contentar com o que lhe é dado e ir atrás de mais conhecimento e inovação. Também pode ser ativista, porque se preocupa com questões éticas, políticas, liberdade de expressão, colaboração e difusão do conhecimento

Mônica Paz, pesquisadora do GIG@ (Grupo de pesquisa em Gênero, Tecnologias Digitais e Cultura da UFBA) e professora do Centro Universitário Estácio da Bahia
Para isso, elas investem, por exemplo, em novos aplicativos e plataformas digitais, capacitam outras mulheres para que, sabendo como a rede funciona, decidam melhor quais dados querem ou não disponibilizar e montam redes para formar e encaminhar profissionais qualificadas para o mercado de trabalho. O grande hackeamento é no modo como os produtos tecnológicos são pensados e realizados e como a informação é selecionada e circula. Com um olhar mais diverso, eles passam a ser concebidos carregando as experiências de quem está de fora do sistema --não só as mulheres, como negros, indígenas, gays e lésbicas, populações periféricas e demais grupos excluídos. 

O olhar muda tudo: apps para todos...

Mete a Colher

497 pessoas, na maioria mulheres, financiaram coletivamente o app que conecta vítimas de violência doméstica e pessoas dispostas a ofereça ajuda. Você deixa um relato, com segurança e privacidade, e outras mulheres ajudam para te tirar de relações abusivas.

Homo Driver


É um app de transporte, como os outros de carona que já existem, mas voltado para a comunidade de gays e lésbicas. Funciona para dar mais tranqüilidade e empatia aos passageiros durante as corridas e mais empoderamento os motoristas gays.

Black Bird


"Viajar é uma experiência transformadora, por que não pode ser também inclusiva?" Com esse lema esta plataforma oferece hospedagem e experiências voltadas aos negros, que normalmente são preteridos em sites como Airbnb, por racismo.

Construindo pontes
Caminhar por baias quase que totalmente ocupadas por seres humanos carregados de doses maiores ou menores de machismo não é fácil. As poucas mulheres que se aventuram relatam uma série discriminações, que começam quando não são ouvidas em sala de aula e terminam com a perda de salários e cargos por serem mulheres.

Então, diz Iana Chan, jornalista e fundadora da PrograMaria, é preciso olhar para esse ambiente hostil, onde eles chegam ao topo mais rápido e reproduzem uma cultura de discriminação --tanto no local de trabalho e nas relações profissionais quanto na hora de colocar produtos no mercado. 


Quer um exemplo? Enquanto eu escrevia este texto, o Word me sinalizava como errado o termo "uma hacker" e mandava eu corrigir para "um hacker".

Além disso, se você, assim como eu, é mulher e está na faixa dos 30 anos, deve ter notado propagandas de roupas ou artigos para bebê nas suas redes sociais. Isso acontece mesmo que você ainda não seja ou não tenha planos de ser mãe, mesmo que não acompanhe páginas sobre o assunto ou mesmo que informe a plataforma de que não tem interesse nesse assunto. É como se os algoritmos dissessem que já está na hora de você ser mãe.

E não sou eu quem está falando isso. As responsáveis pela plataforma Coding Rights resolveram analisar dois tipos de anúncios no Facebook: os que tinham produtos para bebês e os relacionados à palavra "fertilidade". Nas duas pesquisas, ainda que algumas propagandas fossem direcionadas pelos anunciantes para "pessoas", o algoritmo optou mostrá-los majoritariamente para mulheres. E nenhuma propaganda sobre bebês ou fertilidade estava direcionada apenas para homens.
Queríamos desvendar e expor como funciona a fábrica de propaganda direcionada do Facebook. Ou seja, averiguar como os dados que produzimos de graça são matéria-prima para todo um modelo de negócios bilionário que alimenta também estereótipos de gênero, raça e classe. Joana Varon, fundadora e diretora executiva da Coding Rights.
Dessa inquietação, ela e mais duas pesquisadoras decidiram criar o Fuzzify.me, uma extensão para navegadores (há versões para Chrome e Firefox) que reúne e explica por que cada anúncio foi parar na sua linha do tempo. E se as explicações incomodarem, a ferramenta te ajuda a fazer uma limpeza das categorias que o Facebook atribui ao seu perfil.

Mudança necessária

Olhar para o ambiente: foi o que fez Camila Achutti quando ainda era uma estudante de ciência da computação na Universidade de São Paulo e percebeu a enorme discriminação que as mulheres sofrem na sua área. Para tentar mudar de alguma forma a realidade, deu um primeiro passo, logo no primeiro dia de aula: criou o blog Mulheres na Computação.

Desde 2010, ele fala sobre o gap de gênero na tecnologia e hoje virou uma referência. Já ajudou a trazer para o Brasil, por exemplo, o Technovation Challenge Brasil, desafio de empreendedorismo e tecnologia só para garotas. Ela sonhava em trabalhar na Nasa, mas foi parar num estágio no Google da Califórnia (EUA) assim que terminou a faculdade. E isso mudou tudo.
Perceber que eu era programadora como todos os outros que estavam ali fez com que eu percebesse que poderia ser quem eu quisesse.
De volta ao Brasil, viu que "era preciso mudar a realidade da indústria de tecnologia por aqui, tão diferente da que eu tinha visto no Vale do Silício", diz. O passo seguinte foi a criação de duas startups, a Ponte21 e a Mastertech, que já formaram mais de 5.000 alunos e têm o foco na promoção da diversidade na tecnologia.
Precisamos de mais mulheres na TI [tecnologia da informação] para resolver problemas que não são os mesmos do menino branco do Vale do Silício. Ele, por exemplo, não tem tempo de fazer compra, então faz um app de entrega; não consegue se relacionar, aí faz o Tinder. Precisamos de diversidade para dar vieses mais igualitários à tecnologia. Camila Achutti, fundadora do blog Mulheres na Computação e de duas startups com foco com em inovação e diversidade.
E onde estão as mulheres?

Educação

Elas são apenas 15% dos alunos matriculados em cursos de ciência da computação e engenharia, percentual que se repete no mercado de trabalho. As mulheres representam só 17% das programadoras, segundo a Sociedade Brasileira de Computação.

Interesse

74% das meninas manifestam interesse em ciência, tecnologia, engenharia e matemática. O problema é que apenas 30% das pesquisadoras do mundo são mulheres, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas).

Discriminação

Pesquisa de 2018 feita pelo site de recrutamento Catho com a consultoria UPWIT mostrou que 51% das 1.000 entrevistadas da área relatam discriminação no trabalho por gênero, sendo que 46,6% delas consideram as chances de crescer em suas empresas ruins ou péssimas.
Somos ensinadas desde pequenas a sermos cuidadoras e a servir, ganhamos bonecas e panelas para brincar, enquanto aos homens são reservadas outras expectativas. Durante muito tempo, o computador e o videogame foram objetos para os meninos. Tudo isso cria esse estereótipo tão difundido de que mulher e tecnologia não combinam. Iana Chan
Nem todas são iguais

Se não está fácil para as mulheres brancas e com acesso, imagina para negras, indígenas e garotas da periferia. Segundo estudo feito em 2010 nos Estados Unidos, apenas 10% das mulheres que obtiveram diplomas como engenheiras ou cientistas naquele país eram negras. No mercado, elas ocupavam menos de 1% do total de mulheres empregadas nessa indústria. No Brasil, segundo a PretaLab (iniciativa para capacitar mulheres negras e indígenas para a tecnologia), não há dados precisos sobre o assunto.

Silvana Bahia, diretora de projetos do Olabi e coordenadora do PretaLab, conta que sempre achou que, como negra e periférica, o universo da tecnologia estava distante demais da sua realidade:
Só consegui aprender quando encontrei mulheres com paciência e boa vontade, e aquilo me fez achar que eu era capaz. Isso tem a ver com afeto e acolhimento, mulheres que estão a fim de ensinar, o que é muito revolucionário.
Ela ressalta é preciso entender o quanto a tecnologia está associada aos direitos humanos. "Porque nós somos diretamente afetadas por elas", diz.


Programe como uma garota

Se animou? Essa noção cada vez mais óbvia de que é muito mais fácil inovar quando se tem diversidade de gênero, étnico-racial, cultural e social é o que tem movido, portanto, mulheres de distintas áreas do conhecimento a lançar projetos, cursos, incubadoras, startups e hackatons específicos para tentar corrigir as distorções de gênero. 

Essa riqueza traz diferentes perspectivas sobre um mesmo problema e faz com que as soluções 'fora da caixa' apareçam", diz Iana. E há dados que prova isso: estudo da consultoria McKinsey and Co. em doze países mostrou que as empresas com maior diversidade de gênero têm 21% mais chances de apresentar resultados acima da média do mercado. Quando se trata de diversidade cultural e étnica, a vantagem sobe 33%.
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Programaria Trabalha para aumentar o número de mulheres qualificadas na área. As atividades vão desde oficinas de introdução ao desenvolvimento web (algumas orientadas a adolescentes ou pessoas trans) até cursos de programação front-end (HTML, CSS e JavaScript). A atuação em rede faz com que muitas alunas sejam indicadas para vagas de trabalho logo depois da formação.

Programa Meninas Digitais A Sociedade Brasileira de Computação também criou em 2011 o curso que envolve alunas do ensino fundamental e médio na produção de aplicativos, jogos eletrônicos e projetos de robótica ou eletrônica. O programa hoje está presente em 21 estados e já recebeu mais de 3.000 crianças e adolescentes, sendo 70% meninas.
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A pioneira 
Se você está lendo esta reportagem na tela de um computador ou de um smartphone, saiba que é graças a uma mulher, a britânica Ada Lovelace, que ainda no século 19 escreveu o primeiro código complexo de programação do mundo. Ada viveu entre 1815 e 1852 no Reino Unido. Aos 17 anos, conheceu o inventor Charles Babbage, que na época trabalhava em duas máquinas, uma delas era uma espécie de ancestral computador moderno. Anos depois, ele pediu que Ada que traduzisse do francês as anotações do matemático italiano Luigi Federico Menabrea sobre a máquina analítica. máquina analítica. Ada não só fez a tradução, como decidiu acrescentar notas próprias, que descreviam o funcionamento da máquina e elaborou um plano para que ela pudesse executar cálculos, ou seja, criou o primeiro algoritmo.

Fonte: UOL Tecnologia, por Marcelle Souza, 19/01/2019

Veja também: Mulheres Inspiradoras da área de Tecnologia da Informação 

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Mulheres Inspiradoras da área de Tecnologia da Informação

Conheça mulheres inspiradoras da área de TI

Os cursos de tecnologia da informação e computação apresentam um aumento crescente no número de alunos e egressos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Computação (SBC), em 2014 quase 40 mil pessoas se formaram nos cursos de informática no país. Embora o percentual de mulheres nesses cursos esteja crescendo nos últimos anos, elas representam apenas 6 mil (cerca de 16%) do total de alunos.

O mesmo ocorre no mercado de trabalho: segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2016, dos mais de 580 mil profissionais de TI no Brasil, apenas 20% são do sexo feminino.

Em um mundo em que homens dominam as áreas de exatas como ciência, tecnologia, engenharia e matemática, a presença de mulheres ainda pode causar um certo “espanto” das pessoas.

A seguir, um resumo das histórias de mulheres internacionalmente conhecidas por fazer a diferença na área da tecnologia.

Andressa Martins, Narrira Lemos e Luciana Silva
Fundadoras da ONG Mulheres na Tecnologia, organização brasileira sem fins lucrativos com objetivo de aumentar a participação das mulheres na área de Tecnologia da informação. O grupo realiza encontros nacionais sobre o reconhecimento do potencial da mulher na área de TI.
Camila Achutti
A paulistana, única mulher na sua turma de Ciência de Computação da USP, criou o blog Mulheres na Computação. O blog virou referência para dezenas de mulheres. Camila participou de um estágio na sede do Google, na Califórnia, e hoje é diretora do Technovation Challenge Brasil, um programa de incentivo à participação das mulheres na área de TI .
Inovadora no campo da computação compartilhada (baseada em rede) que se tornou a base para a Internet. Seus pais a viam como um “fracasso” e na faculdade sofreu preconceito por querer ter aulas de Química.

Kim Wilkens
Fundadora da Tech-Girls, uma organização sem fins lucrativos que incentiva o interesse das mulheres em campos STEM. Apaixonada por transformar usuários em criadores de tecnologia, colaboradores e ativistas, é presença garantida no Mozfest, evento organizado pela Mozilla na promoção da livre circulação de conhecimento.

Janet Shufor Fofang
Janet ensina engenharia elétrica há mais de 15 anos na Faculdade D’enseignement Technique Industriel et Commercial. Criou uma escola privada K-12, um modelo educacional que oferece educação de qualidade via uso da tecnologia. Em 2007, fundou a Girls in Tech (GIT), uma organização global sem fins lucrativos focada no envolvimento, educação e capacitação de mulheres em tecnologia.

Kiran Mazumdar Shaw
Kiran Mazumdar-Shaw é uma empresária indiana Diretora geral e Presidente da Biocon, a maior empresa de Biotecnologia da Índia. A Fundação Biocon é uma organização filantrópica que realiza programas ambientais e de saúde, cujo objetivo é ajudar os mais vulneráveis da sociedade. Em 2007, Shaw criou um centro de tratamento do câncer em Bangalore.

Sisi Wei
Pesquisadora e desenvolvedora de jogos para jornalismo, atua como jornalista investigativa, designer e desenvolvedora da ProPublica, onde cria histórias interativas. Wei trabalhou como professora adjunta na New York University, The New School e CUNY, e também é co-fundadora da “Code with me”, uma oficina sem fins lucrativos que ensina jornalistas a codificar.

Tara Chklovski
Em 2006, Tara fundou a Iridescent para criar uma educação poderosa em tecnologia, engenharia e ciência a fim de capacitar jovens subrepresentados. A organização cresceu para se tornar uma comunidade de mais de 7000 mentores e mais de 90.000 participantes em todo o mundo através de seus programas emblemáticos Technovation e Curiosity Machine. A Forbes destacou Tara em 2016 como “a pioneira na capacitação de meninas para a tecnologia do futuro”, e ela foi destaque no documentário Codegirl.

Presença Feminina
Nos dias atuais, a presença das mulheres na área de TI têm aumentado à medida que, cada vez mais cedo, as crianças estão em contato com a tecnologia e a Internet.

O Internet Health Report, iniciativa da Mozilla que tem por objetivo inspirar ações mundiais para uma internet mais saudável, traz a história de Lauren de apenas 11 anos, que lançou sua própria empresa de robótica, e Latasia de 12 anos, que construiu uma página na internet com objetivo de reduzir a violência contra as mulheres indígenas no Canadá.

Ambas são alunas da Ladies Learning Code, uma organização canadense que encoraja a presença feminina no campo da Internet.


quinta-feira, 12 de abril de 2018

As cientistas não mais esquecidas


O papel das mulheres na história da ciência
Em uma época em que a igualdade nos laboratórios está mais próxima, a cultura revisa o papel censurado das mulheres na história da ciência

No outono de 1940, enquanto o antissemitismo dava dentadas, Rita Levi-Montalcini (Turim, 1909-Roma, 2012) fabricava instrumentos artesanais para remontar em sua casa um laboratório onde pudesse continuar a pesquisa que as leis raciais de Mussolini haviam impedido. Ante cada bombardeio britânico, protegia sua vida tanto quanto a do microscópio binocular Zeiss que levava para o abrigo. Na montanha, onde se escondeu com sua família, peregrinou por granjas para conseguir ovos que lhe proporcionassem embriões para o experimento e comida para seu estômago, nesta ordem. E nem sequer foram as horas mais angustiantes que viveu durante a guerra, quando exerceu a medicina com enorme impotência diante da avalanche de mortos.

Anos depois, ao reviver aquelas horas para suas memórias Elogio da Imperfeição, afirmaria que seguiu adiante com seus trabalhos enquanto o mundo desabava graças “à desesperada e em parte inconsciente vontade de ignorar o que acontece, porque a plena consciência nos teria impedido de continuar vivendo”. Aqueles estudos desenvolvidos contra as circunstâncias acabariam em um descobrimento, o fator de crescimento nervoso (NGF, na sigla em inglês), que lhe daria o Nobel de Medicina em 1986.

Um assunto ao qual ela dedica duas singelas alusões em suas memórias. O importante estava em outra parte. No conselho que um colega lhe deu em um daqueles dias apocalípticos:
Não se dê por vencida. Monte um laboratório e continue trabalhando. Lembre-se de Cajal, e como na cidade sonolenta que deveria ser Valência em meados do século XIX, assentou as bases do que conhecemos do sistema nervoso dos vertebrados”.
Marie Curie com sua filha Irène em um hospital de
campanha  durante a Primeira Guerra Mundial. 

Musée Curie (Colección ACJC)

Não se dar por vencida ainda que tudo, inclusive o contexto, a convidava a render-se. A chave que transforma em histórias épicas as trajetórias das mulheres que deram à ciência mais do que a ciência lhes reconhece reside em um heroico afã de superação. Em uma inteligência de grande porte protegida por uma couraça firme para sobrepor-se às vaias, provocações, exploração salarial e apropriação indevida de suas ideias. Contra a visão de que a ciência era um reduto de homens, emergem cada vez mais biografias e filmes dessas aventureiras do conhecimento (desde 2009, Alexandria, Jane’s Journey, Temple Grandin, Estrelas Além do Tempo e Marie Curie).

Poucas, sim. Mas tão silenciadas que não existiam até que nas últimas décadas, acompanhando a irrupção em massa de mulheres em laboratórios e o impulso dos estudos da mulher, aflorou uma releitura que põe algumas coisas (e pessoas) em seu devido lugar: desde a paleontóloga Mary Anning (1799-1847), que renovou o conhecimento da pré-história com suas descobertas de fósseis de dinossauros (e silenciada por ser mulher, pobre e não anglicana, na ordem que quiser), até a matemática Ada Lovelace (1815-1852), considerada precursora da programação informática.

Claro que se o Nobel é o auge para se mediar a excelência, somente 48 mulheres tocaram o céu. Um ínfimo 5% dos 881 premiados (excluídos os organismos) desde que os prêmios foram concedidos pela primeira vez em 1901. As estatísticas nacionais na Espanha também não convidam à diversão: os principais prêmios científicos concedidos até 2015 no país (Princesa de Astúrias, Nacionais, Jaime I e Frontera-­BBVA) foram para homens em 89% das ocasiões, segundo dados da Associação de Mulheres Pesquisadoras e Tecnólogas (AMIT, na sigla em espanhol).

As premiações não resistem a uma revisão crítica de sua história. A trajetória do Nobel está repleta de pegadas sexistas. Três exemplos. A austríaca Lise Meitner, apesar de seu papel no descobrimento da fissão nuclear, foi excluída em 1944 do Nobel de Física, entregue a seu colaborador ­Otto Hahn (outra alegria que a judia Meitner somava, depois de ter fugido da Berlim nazista). Rosalind Franklin e sua famosa Fotografia 51, em que se aprecia a dupla hélice do DNA pela qual entrariam para a história James Watson, Francis Crick e Maurice Wilkins, que se valeram da imagem sem reconhecerem sua autora. Ou a irlandesa Jocelyn Bell, que descobriu os pulsares com 24 anos, enquanto realizava seu doutorado. Tanta precocidade perturbou a Academia, que concedeu o Nobel a seus superiores.

Rita Levi-Montalcini
A este resgate histórico se soma agora a exposição Mujeres Nobel (Mulheres Nobel), em Madri, dedicada a algumas das ganhadoras. Uma lista inaugurada por Marie Curie em 1903 e, por enquanto, fechada em 2015 pela jornalista bielorrussa Svetlana Alexiévich (Literatura) e a cientista chinesa Youyou Tu (Medicina). Por trás de cada história costumam coincidir a vontade, a modéstia e o humanismo. Se Levi-Montalcini exerceu a medicina clandestinamente durante a Segunda Guerra Mundial, Marie Curie (Nobel de Física e Nobel de Química) criou um serviço móvel de atendimento radiológico, os petit curie, para facilitar a extração de estilhaços dos feridos na Primeira, ajudada por sua filha Irène, futura Nobel de Química em 1935. “Preocupada com a possibilidade de que alguma vez o motorista não estivesse disponível, aprendeu a dirigir e também a mecânica imprescindível”, contam na biografia Ella Misma (Ela mesma) Belén Yuste e Sonnia L. Rivas-Caballero, também organizadoras da exposição, realizada pelo Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CSIC, na sigla em espanhol) e o Museu Nacional de Ciências Naturais da Espanha.

Marie Curie é provavelmente a cientista mais admirada. Foi também uma das mais atacadas por sua vida pessoal (sua suposta relação, já viúva, com Paul Langevin, que era casado), utilizada pela imprensa sensacionalista com a sanha das redes sociais de hoje. O mito Curie, no entanto, enfrentou tudo, inclusive a abertura das portas do Panteão dos Homens Ilustres da França, em 1995. Um modelo que levou a menina Joaquina Álvarez a saber o que iria fazer no futuro:
Me deram de presente um livro sobre ela e disse para mim mesma: ‘Eu quero fazer isso, saber como funciona o mundo’. E mais ou menos consegui, mas sempre fui minoria. E quando se é minoria, não te escutam, te ignoram, e quase sempre se está sozinha”.
A geóloga Álvarez, que pesquisa em Taiwan os processos que influenciam na formação de cordilheiras, preside a AMIT, a organização que desde 2002 luta por uma ciência livre de discriminação. E, apesar de haver sinais otimistas –tantas mulheres quanto homens lendo teses–, se mantém o predomínio masculino no topo da carreira científica espanhola.

Na Europa se aponta o ano 2000 como divisor de águas. Foi apresentado naquele ano o estudo ETAN sobre Mulheres e Ciência, um alarmante levantamento sobre a desigualdade nos países da Comunidade Europeia. “A desigualdade de gênero afeta o PIB. Uma sociedade não pode permiti-la, como também não se pode permitir a escravidão, porque significa perder talento”, afirma Pilar López Sancho, presidenta da Comissão Mulheres e Ciência do CSIC. Em 2015 promoveu a entrega da medalha de ouro do organismo a Jocelyn Bell, a descobridora dos pulsares. Pensou que era a primeira a recebê-la. Seu estupor foi maiúsculo ao descobrir que havia um precedente que não conhecia.
A primeira a receber a medalha fora Rita Levi-Montalcini, mas, em vez do salão de eventos, foi em uma salinha pequena e não tiraram fotos. Passou desapercebido. É o cúmulo que lhe deem essa medalha e que não se saiba”.
Youyou Teu
A jornalista Dava Sobel reconstruiu em The Glass Universe (O Universo de Vidro) a insólita experiência do Observatório de Harvard, que em 1893 alcançava a paridade: 42,5% dos auxiliares eram mulheres. Até aí tudo bem.




Às vezes me sinto tentada a abandonar e deixar que algum homem faça o meu trabalho, para que assim percebam o que estão obtendo comigo por 1.500 dólares por ano, comparado com os 2.500 que recebe qualquer outro auxiliar (homem). Já pensou alguma vez que tenho um lar a manter e uma família a cuidar assim como os homens?”, se queixava Williamina Fleming, uma escocesa que entrou como servente na casa do diretor do Observatório, Edward Pickering, e acabou como conservadora oficial de fotografias astronômicas de Harvard.
As Cientistas que mudaram o mundo
 Além da cumplicidade de Picke­ring, as pesquisadoras se beneficiaram de outra circunstância: o financiamento do Observatório dependia da filantropa Anna Palmer Draper, viúva do astrônomo Henry Draper. Para a história também ficou constando o incômodo que as astrônomas suscitavam no presidente de Harvard:

"Sempre pensei que o cargo da senhora Fleming era um tanto anômalo e seria melhor não convertê-lo em uma prática regular outorgando a suas sucessoras o mesmo cargo”.

Fonte: El País, por Tereixa Constenla, 17/07/2017 

segunda-feira, 26 de março de 2018

Computação já foi e precisa voltar a ser "coisa de mulher"

Primeira turma de Ciências da Computação do Instituto de Matemática e Estatística da USP -
Foto: Arquivo Pessoal/Inês Homem de Melo

Por que as mulheres “desapareceram” dos cursos de computação?
Na década de 1970, cerca de 70% dos alunos do curso de Ciências da Computação, no IME, eram mulheres; hoje, 15%
Inicialmente, as imagens acima e abaixo podem parecer simples fotografias antigas de colegas em qualquer curso da USP. Mas ela deixa de ser comum ao descobrir que se trata da primeira turma do Bacharelado em Ciências da Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME), em São Paulo. A informação pode causar espanto nos dias de hoje, em que a área de tecnologia é ocupada, majoritariamente, por homens. No entanto, essa não era a realidade em 1974, quando a turma se formou. Antes de nomes como Alan Turing, Steve Jobs e Bill Gates, a computação era uma área ocupada por mulheres, sendo elas as criadoras de diversas tecnologias e linguagens de programação. Mas, então, o que aconteceu? Para onde foram essas mulheres?

A primeira turma de Ciências da Computação do IME contava com 20 alunos, sendo 14 mulheres e 6 homens. Ou seja, 70% da turma era composta de mulheres. Já a turma de 2016 contava com 41 alunos, sendo apenas 6 meninas, ou seja, 15%.

Primeira turma de alunos do curso de Bacharelado em Ciências da Computação do IME, em 1974
 Foto: montagem sobre reprodução de fotografia de Inês Homem de Melo


A baixa presença feminina também se verifica em cursos de outra unidade da USP. Nos últimos cinco anos, apenas 9% dos alunos formados no curso de Ciências de Computação do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP em São Carlos eram mulheres; no Bacharelado em Sistemas de Informação, foram 10% e em Engenharia de Computação, 6%.

Segundo a presidente da comissão de graduação do ICMC, Simone Souza, o baixo número de alunas no curso já vem desde a escolha no vestibular, que tem pouca procura entre as jovens. Na Fuvest, as carreiras em computação do IME e do ICMC são as de menor proporção entre homens e mulheres, juntamente com as engenharias.

Em 1997 (primeiro ano disponível para consulta), a proporção de candidatas inscritas no Bacharelado em Ciências da Computação do IME foi de 26,4%, enquanto em 2017, a proporção foi de 13,66%. Nos anos de 2010 e 2016, o curso teve a menor proporção entre todos da Fuvest.

Essa realidade não se restringe à USP. Entre as décadas de 1970 e 1980, houve uma grande inversão nos sexos da área de tecnologia no mundo todo, mesma época em que surgiu o computador pessoal.

Estigma masculino

Antes da criação do personal computer (PC), o computador era uma grande máquina de realizar cálculos e processamento de dados, atividades associadas à função de secretariado. A sua chegada na casa das pessoas, por meio de empresas como IBM e Apple, popularizou o uso pessoal das máquinas, principalmente, com a finalidade lúdica dos jogos.

Para a professora do IME Renata Wassermann, foi neste momento que o computador ganhou a “marca” de masculino que o acompanha até hoje.

Quando os jogos começaram a se popularizar, acabou ficando estigmatizado como ‘coisa de menino’. Já no início dos anos 1970, era tudo muito abstrato, ninguém tinha computador em casa, então computação tinha mais a ver com a matemática, e o curso de matemática tinha mais meninas do que o de computação. O curso de computação não era muito ligado à tecnologia porque a gente não tinha computadores pessoais. Isso mudou bastante e agora o curso se refere mais à tecnologia do que à matemática.

Um gráfico produzido por um dos podcasts da National Public Radio (NPR) expõe essa quebra, comparando o número de mulheres em cursos de computação em relação aos cursos de medicina, direito e física nos Estados Unidos:
Em verde: Direito, Medicina, Ciências Físicas. Em vermelho: Ciências da Computação
Segundo o professor e coordenador do curso de Ciência da Computação do IME, Marco Dimas Gubitoso, um fator que pode explicar o grande interesse das mulheres pela graduação na década de 1970 é a sua associação com o curso de Matemática.

A turma do início desta reportagem se constituiu a partir da migração de alunos da licenciatura em Matemática, que sempre teve um histórico maior de presença de mulheres.

Esse foi o caso de Maria Elisabete Bruno Vivian, que se formou na primeira turma de Ciência da Computação do IME e foi professora no mesmo instituto. Desde cedo, ela sabia que queria fazer computação, mas o curso ainda não existia quando se matriculou na licenciatura. A transferência só ocorreu no segundo semestre de 1971. Na época, a área era uma novidade e não se tinha ideia do quão competitiva ela se tornaria.
A licenciatura é um curso para formar professores e ser professor sempre foi uma carreira majoritariamente feminina até hoje. Por isso, quando criaram o Bacharelado em Ciência da Computação havia muita mulher porque a maioria veio da licenciatura. O cenário mudou quando a carreira ficou interessante. Com muitas vagas e ótimos salários, ela acabou atraindo mais homens”, afirma Maria Elisabete.
Camila Achutti – Foto: montagem sobre fotografia de divulgação de Mastertech
O que os alunos dessa primeira turma não imaginavam, quando fizeram a fotografia, era de que ela seria o estopim para a criação do blog Mulheres na Computação por Camila Achutti, que também se formou no curso de Bacharelado em Ciência da Computação do IME.

Em 2010, quando Camila chegou para a primeira aula de Introdução ao Algoritmo, ela notou que era uma das poucas mulheres na sala. Em 2013, quando se formou, era a única. O choque de estar sozinha numa turma masculina a obrigou a pesquisar referências de mulheres na computação. Foi, então, que encontrou a foto no acervo de relíquias do IME.
Comparando essa foto de 1974 com a foto da minha turma, você vê que caiu muito. Como pode cair de 70% para 3% o número de mulheres na turma? Tem alguma coisa muito errada. Então eu pensei: ‘já que isso existe, eu quero mostrar para todo mundo. E toda vez que uma menina digitar Mulheres na Computação ou na Tecnologia vai aparecer alguma coisa’. E esse foi meu primeiro ato empreendedor, tudo por causa dessa foto.
Hoje, Camila dirige duas startups e é conhecida por lutar pela inserção feminina na área da tecnologia.

Essa inversão de realidade causou espanto também em Inês Homem de Melo, ex-aluna e professora no IME. Durante os 15 anos em que ficou na USP, a professora assistiu à predominância feminina no curso até atingir um equilíbrio entre os gêneros, mas jamais imaginou que o número se inverteria.

Inês Homem de Melo – Foto: montagem sobre fotografia de Inês Homem de Melo
Eu trabalhei na USP, depois fui para uma fabricante de hardwares e softwares e meu último emprego, onde me aposentei, foi em um banco. Em todos esses lugares, era equilibrado o número de homens e mulheres, não havia a predominância de homens igual havia na engenharia. Não sei o que houve para diminuir tanto assim.”
Falta incentivo

Um estudo realizado na Southeastern Louisiana University, nos Estados Unidos, buscou investigar por que o número de estudantes mulheres em ciências da computação da universidade tinha diminuído. A conclusão do estudo, que pode ser encontrado no Journal of Computing Sciences in Colleges, mostra que as meninas são menos estimuladas às carreiras de tecnologia.

Propagandas midiáticas, a educação escolar e a própria família têm influência na criação do estereótipo de que homens são melhores na área de exatas, enquanto mulheres se dão melhor nas humanas. A falta de representação de mulheres na área também é um fator fundamental para repelir as meninas dos cursos de tecnologia.

Quando você fala de computação, a primeira imagem que vem à cabeça é do homem nerd que programa desde os cinco anos e criou uma grande empresa aos 18, e isso não é verdade”, conta Camila.
Existem muitas mulheres que participaram da história da computação, mas, de alguma forma, houve um apagamento dessas mulheres.”
Ela lembra que, embora os nomes de homens sejam os mais citados, mulheres como Ada Byron (Lady Lovelace) e Grace Murray Hopper foram fundamentais para a informática.

Uma pesquisa realizada pela Microsoft mostrou que as mulheres tendem a se considerar menos aptas para as carreiras de exatas conforme crescem. As meninas costumam se interessar por tecnologia e exatas, em geral, aos 11 anos, mas aos 15 elas começam a desistir. As razões, segundo a pesquisa, são: ausência de modelos femininos na área, falta de confiança na equidade entre homens e mulheres para exatas e a ausência de contato com cálculo e programação antes da faculdade.

Camila sentiu essa falta de contato maior com as exatas já no primeiro dia de aula, quando notou que todos os alunos sabiam o que era algoritmo e já tinham uma noção básica de lógica de programação, enquanto, para ela, aquilo era tudo novidade. 
Eu virei o patinho feio da sala, a burra. Comecei a me questionar do por quê estava ali.”
Anos depois de ter encontrado a fotografia, a ex-aluna do IME trabalha para desmistificar a computação como atividade exclusivamente masculina. A proposta do blog Mulheres na Computação é incentivar, discutir e difundir assuntos relacionados a tecnologia e empreendedorismo sob a ótica de jovens mulheres.

Por meio de cursos e workshops, a equipe do blog leva programação, lógica, cálculo, internet das coisas, entre outros temas, para as meninas. A intenção, segundo Camila, é acabar com a ideia de que tecnologia é difícil e tarefa de gênios.

Para ela, pequenas atitudes podem contribuir para atrair as mulheres de volta para a área. 
Aos homens, cabe o papel de ‘evangelizar’, não deixar que o amigo faça piadas contra a colega de profissão, e quando uma menina perguntar o que ele faz, explicar de fato e não dizer que é algo difícil que ela não entende. E, às meninas, cabe refletir se aquela sensação de que não é para elas a área, é de fato verdade ou uma ideia que foi imposta a elas.”
Além do trabalho de Camila, outras iniciativas buscam atrair as mulheres para a tecnologia. São projetos como Meninas na Computação, que incentiva o ingresso de jovens sergipanas na ciência da computação, Cunhatã Digital, que visa a atrair mulheres da região amazônica para a tecnologia e, principalmente, o Meninas Digitais, da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), direcionado a alunas do ensino médio e últimos anos do fundamental.
O Meninas Digitais envolve centenas de meninas, em todo o Brasil, durante o ano todo, em práticas educacionais na computação”, explica a ex-presidente da SBC e ex-embaixadora do Comitê Mulheres da Associação Americana de Computação (ACM), Claudia Bauzer Medeiros.
A SBC tem atividades regulares iniciadas há 11 anos. Começaram com um evento de um dia, o Women in Information Technology (WIT), que hoje é realizado durante três dias, com atividades de laboratório de programação para meninas, debates e apresentações. Há, além disso, um grupo bastante ativo de docentes e alunas na área de bancos de dados, o Women in dataBases (WomB), que se reúne anualmente durante o Simpósio Brasileiro de Bancos de Dados.

Para Claudia, a maneira mais eficaz de atrair mais meninas não só para a computação, mas para as carreiras de Ciência e Tecnologia como um todo, é pela educação e esclarecimento desde o ensino fundamental sobre essas áreas. O projeto inspirou uma iniciativa dentro do IME de mesmo nome.

Camila Achutti destaca que incentivar as mulheres para essas carreiras é uma necessidade urgente e que traz apenas benefícios. 

Você não precisa ser feminista para concordar comigo, você pode ser só capitalista para notar que essa conta não fecha. Você tem o setor com a maior demanda do mercado e está isolando metade do País. Como continuar desenvolvendo e inovando sem utilizar a mão de obra dessas mulheres?”

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A professora Edith Ranzini foi uma das quatro mulheres que contribuíram
com a construção do primeiro computador brasileiro
Professora integrou equipe que projetou e construiu o primeiro computador do Brasil

Considerado o primeiro computador totalmente desenvolvido e construído no Brasil, o Patinho Feio, como ficou conhecida a máquina, foi fruto de um projeto da Escola Politécnica (Poli) da USP, coordenado pelo professor Antônio Hélio Guerra Vieira, ex-reitor da Universidade.

A professora Edith Ranzini foi uma das quatro mulheres que contribuíram com o projeto. Além da criação do computador, ela também foi responsável por implantar o curso de Engenharia Elétrica com ênfase em Computação na Poli.

Ela conta que entre os 360 colegas de sua turma, apenas 12 eram mulheres. Contudo, acredita que fazer parte da minoria nunca foi motivo para ser discriminada ou subjugada.
Não existe essa história de que, pelo fato de ser mulher, uma pessoa é engenheira ou professora de segunda categoria”, defende.
Ranzini passou a integrar o corpo docente da Poli em 1971 e se aposentou em 2003, mas continua contribuindo com a Universidade. Foi presidente da Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia (FDTE) e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC).

Da Assessoria de Imprensa da Poli
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Fonte: Jornal da USP, 07/03/2018

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