terça-feira, 6 de março de 2012

Ayn Rand: homenagem a uma mulher notável no dia internacional da mulher!

Escrevi o texto abaixo em março do ano passado e o republico hoje por ser aniversário da morte de Ayn Rand e por estarmos às vésperas do Dia Internacional das Mulheres, quando feministas esquerdistas estarão novamente misturando a luta pelos direitos das mulheres com uma suposta luta anticapitalista.

Essa mistura espúria serve apenas para alimentar os argumentos conservadores contra o feminismo que, segundo eles seria fruto do marxismo cultural da Escola de Frankfurt, instituto  de pesquisa alemão (de inspiração marxista) das primeiras décadas do século XX, embora as lutas das mulheres tenham se iniciado a partir de ideias liberais, em particular à época da Revolução Francesa (1789-1799), e sob essa bandeira tenham se dado as conquistas do direito a estudar, trabalhar e votar e ser votada, entre outros, para o sexo feminino.

Dizer que o feminismo é fruto do marxismo cultural, em função da atual predominância de ideias esquerdistas no movimento, é o mesmo que dizer que o Brasil é fruto de governos socialistas só porque, desde 2002, temos um governo com essa tendência. Enfim, o que não faltam são mentirosos de "esquerda" e de "direita". Como não faço parte desse fla-flu de autoritários, busco apresentar os fatos sem esse comprometimento ideológico excessivo. Fiquem, então, mais uma vez, com a história dessa mulher notável e polêmica que foi Ayn Rand. (06/03/12)


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Neste momento em que o mundo celebra mais um dia - agora por extensão mês – internacional da mulher e um bando de absurdas (feministas socialistas) vai às ruas para pregar contra o capitalismo, o sistema que mais proporcionou às mulheres autonomia e liberdade, torna-se imprescindível lembrar Ayn Rand (vi a pregação anticapitalista em chamada para a manifestação pela data, no dia 12, em São Paulo). Torna-se imprescindível não só porque ela foi uma mulher extraordinária, por suas vida e obra, mas também por ter sido uma das maiores defensoras das liberdades individuais, da racionalidade, da livre expressão e da democracia liberal.

Podemos não concordar com tudo que ela diz, em sua obra de ficção e não-ficção, da corrente filosófica que iniciou, chamada Objetivismo, mas não podemos deixar de admirar sua inteligência e a incrível influência que suas idéias exerceram – e exercem ainda - na sociedade norte-americana, inclusive em nível governamental. Basta lembrar que sua obra-prima, A Revolta de Atlas (Atlas Shrugged), continua sendo o livro mais lido nos EUA, depois da Bíblia, e um best-seller no mundo inteiro, com 11 milhões de exemplares vendidos. Qual outra mulher exerceu tanta influência em qualquer dos países ocidentais? E por que uma mulher como Ayn Rand nunca teve sua biografia e obra divulgadas pelo movimento feminista brasileiro? Provavelmente porque quem sai às ruas para pregar contra o capitalismo, sem ter a menor idéia do que colocar no lugar dele, não tem mesmo condições de falar sobre Ayn Rand.

Quem foi Ayn Rand (1905–1982)?
Nascida Alissa Zinovievna Rosenbaum, em São Petersburgo (Rússia), em 1905, Ayn Rand deixou seu país, ao completar 21 anos de idade, rumo aos Estados Unidos, supostamente para visitar parentes, mas, de fato, com a intenção de por lá ficar. Na terra natal, com a revolução russa e a vitória final dos comunistas, sua família de classe-média, que fugira para a Criméia, teve seus bens confiscados e ficou na miséria. Mesmo assim, de volta a Petrogrado, Alissa conseguiu se formar, em 1924, em Filosofia e História na universidade local e, no ano seguinte, 1925, logrou obter permissão para visitar parentes nos EUA, a terra da liberdade, como aprendera nas aulas de história ainda no secundário. Nunca mais retornou.

Nos EUA, após passar alguns meses com parentes em Chicago, praticando inglês, mudou-se para Hollywood em busca de trabalho. Foi quando adotou o nome Ayn Rand (Ayn se pronuncia com “mine” em inglês) e conheceu, por um golpe de sorte, em seu segundo dia na cidade, o legendário diretor Cecil B. DeMille, que lhe deu trabalho como extra no filme Rei dos Reis (King of Kings, 1927). O contato com DeMille lhe rendeu, além de trabalho, conselhos de como se tornar roteirista em Hollywood e o encontro com o ator Frank O’Connor, nos sets de filmagem, com o qual passaria a namorar e se casaria em 1929.

Ilustração de Nick Gaetano
Antes de se tornar escritora profissional, Ayn Rand trabalhou como analista de roteiros, arquivista nos estúdios cinematográficos e atendente no departamento de figurinos da RKO Pictures. Entretanto, apenas quando produziu o roteiro O peão vermelho (Red Pawan), vendido para a Universal Pictures, em 1932, e nunca filmado, ela conseguiu dinheiro suficiente para se manter apenas como escritora. Daí em diante, não parou de produzir romances e contos até chegar ao monumental Atlas Shrugged (A revolta de Atlas) que lançou em 1957. Depois disso, deixou a literatura para se dedicar a trabalhos de não-ficção, sobretudo referentes à sua filosofia, o Objetivismo, e outros temas como o capitalismo, as esquerdas, o trabalho intelectual.

Mesmo após sua morte, em 1982, A influência de Ayn Rand não se extinguiu. Pelo contrário, trabalhos literários e acadêmicos sobre sua obra continuaram sendo produzidos (Journal of Ayn Rand Studies) e organizações devotadas às suas ideias foram criadas, como o Centro objetivista (The Objectivist Center) e o Instituto Ayn Rand (Ayn Rand Institute).

Ayn Rand no Brasil
Em nosso país, Ayn Rand é pouco conhecida, embora tenha fãs ilustres e ilustrados, mas duas de suas principais obras, A Nascente (The Fountainhead) e A Revolta de Atlas (Atlas Shrugged), foram traduzidas para o português e lançadas respectivamente, em 2008 e em 2010, pelas editoras Landscape e Sextante. Atlas Shrugged já havia sido traduzido e publicado em 1987, pela Editora Expressão e Cultura, com o título Quem foi John Galt?, mas só se encontram exemplares dessa edição em sebos e por preços astronômicos. Os três volumes da edição atual, da Sextante, podem ser comprados por R$69,00 nas melhores livrarias.

A Nascente (The Fountainhead, 1942)

A Nascente foi o primeiro romance de Ayn Rand a ser conhecido internacionalmente e onde ela já apresenta, de forma mais consistente, as idéias que seriam melhor elaboradas em A Revolta de Atlas e que gerariam a filosofia do Objetivismo. O protagonista do livro, o arquiteto Howard Roark é um homem criativo e idealista que constrói projetos ousados, cujo brilhantismo, porém, atrai mais inveja do que reconhecimento, como a sentida pelo influente jornalista do periódico The Banner, Elsworth Toohey, que o persegue a ponto de deixá-lo sem clientes.

Entre quedas e recuperações, Roark mantém sua integridade, chegando a dinamitar um conjunto habitacional que construíra por causa das mutilações feitas no projeto original, mutilações que afetariam a qualidade de vida dos moradores. Essa atitude polêmica lhe causa uma série de vicissitudes, não só com os invejosos costumeiros mas também com a namorada e a Justiça. Roark é o modelo ideal de pessoa, na ótica de Ayn Rand: o indivíduo movido pela razão e pela criatividade, colocadas em prática através do esforço próprio, e que, se necessário, enfrenta a tudo e a todos para afirmar sua individualidade, não aceitando quaisquer tentativas de suborno ou dominação. O livro foi transformado em filme, em 1949, pelo diretor King Vidor (no Brasil, apareceu com o nome de Vontade Indômita), estrelado por Gary Cooper e Patricia Neal. Melodrama típico dos anos 40 e 50, o destaque da fita é a cena antológica de Howard Roark explicando, num tribunal, as razões que o levaram a implodir a própria obra. 



A Revolta de Atlas (Atlas Shrugged, 1957)

A Revolta de Atlas é a obra-prima de Ayn Rand e considerada um dos grandes romances de ideias de todos os tempos. Nela, através de um enredo que mescla suspense e filosofia, a escritora russa-americana expõe seu ideário. Num mundo governado por repúblicas autoritárias coletivistas, os EUA rumam para o mesmo destino, com seu governo criando tantos obstáculos à livre iniciativa das pessoas, sob pretexto de igualitarismo, que os principais líderes da indústria, do empresariado, das ciências e das artes, liderados por um misterioso John Galt, decidem fazer uma greve de cérebros.

Em outras palavras, aqueles que sustentam o país (daí a referência à figura de Atlas, o titã da mitologia grega, que sustenta o mundo nos ombros) somem literalmente do mapa deixando a sociedade à própria sorte. O Estado se apossa de suas propriedades e invenções, mas não é capaz de mantê-las funcionando porque não tem competência para tal, atravancado pela burocracia e pela corrupção e infestado de medíocres e parasitas de toda ordem (qualquer semelhança com o Brasil de hoje não é mera coincidência). Para saber o resultado dessa greve, é preciso ler os três volumes desse épico da liberdade que é A Revolta de Atlas.

Nele, Ayn Rand desafia algumas de nossas crenças mais arraigadas, seja em função de nossa formação judaico-cristã seja em razão da influência das ideias de esquerda em nossa sociedade. Como lemos na contra-capa da caixa que contém os três volumes do romance, em A Revolta de Atlas, a autora apresenta os princípios de sua filosofia: a defesa da razão, do individualismo, do livre mercado e da liberdade de expressão, bem como os valores segundo os quais o homem deve viver – a racionalidade, a honestidade, a justiça, a independência, a integridade, a produtividade e o orgulho.... Sua mensagem transformadora conquistou uma legião de leitores e fãs: cada indivíduo é responsável por suas ações e por buscar a liberdade e a felicidade como valores supremos.

No site da editora Sextante, que lançou A Revolta de Atlas, no ano passado, é possível baixar o primeiro capítulo do romance em *.PDF. E na página da editora, no Youtube também é possível assistir a própria Ayn Rand falando sobre sua obra e suas idéias numa entrevista ao jornalista Mike Wallace em 1959. Clique aqui para assistir a entrevista em 3 partes: Parte 1:  Parte 2: Parte 3:

Há também um site sobre Ayn Rand, em português, com sua biografia e obras, elaborado por Eduardo Chaves, Professor de Filosofia da Faculdade de Educação da UNICAMP, hoje aposentado. Clique aqui para seguir até lá. 

Ainda se pode ter uma introdução ao pensamento de Ayn Rand com o livro do economista Rodrigo Constantino, intitulado Egoismo Racional, O Individualismo de Ayn Rand, de 2007, que pode ser encontrado nas boas livrarias do país.

Ayn Rand, contra todos os autoritários
Ilustração de Nick Gaetano

Finalizando esta postagem, que é uma lembrança e uma homenagem a essa mulher brilhante e polêmica, neste dia internacional da mulher, vale lembrar que a escritora e filósofa Ayn Rand era particularmente contrária ao comunismo (socialismo) pela experiência traumática que teve com a revolução russa em sua terra natal, não usufruindo  obviamente de  prestígio com as esquerdas em geral. Entretanto, Rand também não gozava de popularidade junto à direita religiosa e conservadora, pois era ateia e igualmente pregava a liberdade dos indivíduos frente às instituições religiosas.

Suas ideias deram origem ao libertarianismo americano, uma espécie de retomada do liberalismo clássico, que inclusive veio a se concretizar como partido, de difícil definição no espectro político tradicional: de direita por defender o capitalismo, como o sistema que melhor possibilita uma sociedade livre?; de esquerda por possuir uma pauta de apoio, por exemplo, aos direitos da mulher, dos homossexuais, à liberação das drogas, ao aborto, etc.?

Como se vê, o que não falta na vida e na obra de Ayn Rand e no trabalho de seus seguidores é polêmica. Muitas das pessoas que leram livros seus como A Nascente e A Revolta de Atlas afirmam que suas vidas nunca mais foram as mesmas. Vamos ler também e ver o que nos acontece? Abaixo vídeo sobre Ayn Rand nos Simpsons. Apenas um reparo à legendagem. No início, onde se lê "que evitava compromisso" de fato é "que se recusava a conceder."

Fontes: Várias fontes, já apontadas nos links e citações do texto, e o Cato Institute.
Outras bibliografias: Objetivismo, a Filosofia de Ayn Rand. Leonard Peikoff. Editora Ateneu Objetivista. Clique aqui para mais informações e compra.

A Virtude do Egoísmo
por OnLine Assessoria em Idiomas, revisão de Winston Ling e Cândido Mendes Prunes, publicado pela Editora Ortiz e pelo Instituto de Estudos Empresariais, Porto Alegre, 1991)


2 comentários:

Parabéns pelo post Míriam Martinho! Tomei conhecimento do seu blog (parabéns, mais uma vez!) por você ter deixado o seu endereço no blog do Tambosi.
Os dois romances de Ayn Rand tão bem resenhados serão minhas próximas leituras de ficção. Agradeço a indicação. Um abraço.

Obrigada pela visita, Maria e pelos parabéns. Fico feliz que tenha colocado os romances de Ayn Rand em sua lista de leitura. Meu interesse é exatamente divulgá-la!
Um abraço.

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