8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

terça-feira, 5 de maio de 2009

O Procurado

Não fui ver Wanted (O Procurado), em agosto do ano passado nos cinemas nem comprei o DVD, e fiquei quase tão frustrada quanto o personagem principal da história, pois adoro filmes de ação e ficção, e este estava bem cotado pela crítica. Por fim, neste final de semana, assisti o filme em pay-per-view.

A sinopse é a seguinte: contador (Wesley) leva vida medíocre, espezinhado pela chefe, traído pela namorada com um "amigo", tendo ao que parece ataques de pânico que controla com ansiolíticos. De repente, num supermercado, é abordado por ninguém menos que Angelina Jolie (Fox) dizendo que conheceu seu pai (dele). Ato contínuo, a bela começa a atirar contra um sujeito que parece querer matar o rapaz. Daí em diante, segue-se uma fuga automobolística cheia de efeitos especiais, com Angelina acabando por despistar o perseguidor e levando Wesley para um local onde conhece a Fraternidade dos Assassinos, organização que mata pessoas com vistas a evitar que estas matem muita gente. Nela, Wesley é convencido de que seu perseguidor é o mesmo homem que matou seu pai e passa a treinar para a vingança, tornando-se também um assassino. No fim das contas, Wesley vai perceber que pagou um mico, mas isso só vendo para saber e entender.

Bem superior a outras adaptações de graphic novels para o cinema (uma moda inesgotável), Wanted é inovador nos efeitos especiais, tem ritmo vigoroso, é diferente e violento, além de reservar uma bela surpresa no final. Tem algumas coisas nada verossímeis, mas as qualidades do filme superam esse defeito.

Angelina Jolie está magra mas bonita, cheia de tatuagens e de sensualidade. Morgan Freeman segura a onda perfeitamente como o chefe da Fraternidade dos Assassinos, e o ator escocês James McAvoy (Narnia, O Último Rei da Escócia, Desejo e Reparação) convence no papel do contador que vira uma espécie de super-herói. A trilha sonora também é muito legal, com destaque para The Little Things que posto abaixo. Quem não viu ainda, e gosta do gênero, não deve deixar de conhecer.

FICHA DO FILME
Título original: Wanted
Diretor: Timur Bekmambetov
Elenco: James McAvoy, Morgan Freeman, Angelina Jolie, Terence Stamp, Thomas Kretschmann, Common, Kristen Hager, Marc Warren
Gênero: Aventura
Ano: 2008
País: EUA
DADOS DO DVD
Extras: Angelina Jolie, Morgan, Freeman, James McAvoy, Common, Thomas Kretschmann, Terence Stamp, David O'Hara
Idioma: inglês, português
Legendas: inglês, português
Ano: 2008

The Little ThingsDanny Elfman



Have you heard the news?
Bad things come in twos.
But I never knew
'Bout the little things.

Every single day
Things get in my way.
Someone has to pay
For the little things.

And I'm through with the stories
And I'm sick to my shoes.
And the walking and the talking,
It's got nothing to do with
The final solution.
It's a box full of tricks.
And I'm through with repairs
When there's nothing to fix,
When there's nothing to fix,
When there's nothing to fix,
And it all comes down to you.

Let the headlines wait,
Armies hesitate.
I can deal with fate
But not the little things.

Armageddon may
Arrive anyday.
I can't get away
From the little things.

With a pile of cares
And a bucket of tears,
I could look at the sunlight
And I feel no fear.
With a mountain of maybes
And some Icarus wings,
And I'm armed with delusions
And one little thing,
And that one little thing,
And that one little thing,
And it all comes down to you.

Have you heard the news?
Bad things come in twos.
But I never knew
'Bout the little things.

Every single day
Things get in my way.
Someone has to pay
For the little things.


Have you heard the news?
Bad things come in twos.
But I never knew
'Bout the little things.

Every single day
Things get in my way.
Someone has to pay
For the little things.

And I'm through with the stories
And I'm sick to my shoes.
And the walking and the talking,
It's got nothing to do with
The final solution.
It's a box full of tricks.
And I'm through with repairs
When there's nothing to fix,
When there's nothing to fix,
When there's nothing to fix,
And it all comes down to you.

Let the headlines wait,
Armies hesitate.
I can deal with fate
But not the little things.

Armageddon may
Arrive anyday.
I can't get away
From the little things.

With a pile of cares
And a bucket of tears,
I could look at the sunlight
And I feel no fear.
With a mountain of maybes
And some Icarus wings,
And I'm armed with delusions
And one little thing,
And that one little thing,
And that one little thing,
And it all comes down to you.

Have you heard the news?
Bad things come in twos.
But I never knew
'Bout the little things.

Every single day
Things get in my way.
Someone has to pay
For the little things.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

DIA DE PROTESTAR CONTRA A VINDA DO PRESIDENTE DO IRÃ AO BRASIL


Notório sexista (mulher no Irã quase não tem direitos), homofóbico (enforca adolescentes gays em praça pública) e racista (prega a destruição do estado de Israel inclusive), o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, recebeu estranho convite da presidência da República para vir visitar o Brasil. Entidades de direitos humanos, de mulheres, de LGBTês e todas as pessoas que sonham com um mundo melhor, estão promovendo atos de protesto contra essa indigesta visita.

Em São Paulo
DATA: 03 de maio, domingo
HORA: às 11h00
LOCAL DO ENCONTRO: Praça Marechal Cordeiro de Farias (Praça dos Arcos, na esquina da Avenida Angélica com a Avenida Paulista)

No Rio, também no domingo, dia 3, às 11:00 na Avenida Atlântica. Em Brasília, no dia 6.

Faça seu protesto contra vinda do Presidente do Irã ao Brasil.

Contra o totalitarismo e o racismo, a favor da democracia, do direitos das mulheres, homossexuais, da liberdade religiosa, da liberdade de imprensa, da liberdade de expressão, do direito a existência de Israel, contra o fundamentalismo teocrático islâmico e contra o revisionismo histórico.

Somos contra a vinda do imbecil que representa todas as ideologias do mal que devemos combater no século XXI. (blog Dois em Cena)

Envie para o gabinete de Lula o seu protesto. O blog de De Olho Na Mídia também está fazendo uma petição contra a presença de Mahmoud Ahmadinejad: Genocídio e Revisionismo: Não Em Nosso Nome!

domingo, 26 de abril de 2009

Mate em legítima defesa


Pródigo em criar polêmicas, o antropólogo Luiz Mott, do Grupo Gay da Bahia, com quem compartilho o decanato no MHB/MLGBT, não perdeu a chance de roubar a cena no modorrento cenário do Congresso da ABGLT, em Belém do Pará, em 19 de abril último, segundo matéria do site A Capa.

Afirmando que o Brasil Sem Homofobia "não funciona" e que as 500 propostas tiradas da Conferência Nacional LGBT (programa e evento ligados ao governo federal) "não têm diminuído a morte de homossexuais e travestis", Mott declarou que, caso os homocídios continuem em escalada alarmante, vai fazer campanha de reação a esses crimes a que dará o nome de 'Mate em legitima defesa’.
Claro, tratou-se de frase de efeito, mas que acabou sendo tomada literalmente por representantes da ABGLT e do governo federal, todos ligados ao ironicamente belicoso partido dos trabalhadores (PT), que bajula ditadores islâmicos (o presidente do Irã, assassino de homossexuais vem aí a convite de Lula), abriga terroristas e apóia invasões armadas de terras produtivas, com cada vez mais mortos e feridos.

Apesar do perfil, imbuídos de um episódico surto de pacifismo enviesado, Claudio Nascimento (Arco-Íris/ABGLT) ameaçou "solicitar ao congresso que intervenha" caso o antropólogo realmente leve a ideia adiante, classificando-a como "panfletaria e sem valor". Caio Varela, assessor parlamentar da senadora Fátima Cleide (PT-RO), saiu-se com uma história de que a colocação seria "capitalista e individualista (sic)". Eduardo Barbosa, do programa nacional de DST/Aids, disse que a proposta era "totalmente descabida" e "contrariava qualquer tipo de política pública voltada para os direitos humanos". Por fim, Toni Reis, presidente da ABGLT, afirmou que a idéia era “um factóide baratíssimo" e que “sua entidade era contra esse tipo de proposta, pois se identificava como pró-vida e pró Direitos Humanos."

A polêmica teve continuidade na lista gls, fórum informal pero no mucho da militância tupiniquim, e em outras listas congêneres, trazida pela repassagem da matéria do site A Capa por um dos listeiros de plantão. As opiniões aí se dividiram, com várias pessoas dando apoio a Mott, inclusive eu mesma, e outras tantas insistindo numa visão pacifista meio “de orelha” contra a qual supostamente a proposta do antropólogo se insurgiria. A partir dessa discussão, outras variantes ao redor do tema despontaram, da necessidade de se promover o aprendizado de técnicas de autodefesa, entre a população LGBT, à necessidade de se aumentar a auto-estima da mesma.

O mais engraçado da história é que tanto a frase de efeito (e sua idéia embutida) quanto suas variantes são apenas ovos de Colombo, ou seja, obviedades que, apesar de sua natureza, precisaram de alguém para apontá-las. Todo ser vivo, se atacado, busca se defender com as armas que possui e, se necessário for, para sobreviver, mata seu agressor. A lei reconhece a legítima defesa como válida (desde que comprovada) e exime quem a pratica da condenação por homicídio. As religiões, em geral, ao contrário do que parece que alguns imaginam, também reconhecem a legítima defesa como válida mesmo quando implica na morte de alguém.

Por fim, o pacifismo de Gandhi (e de seu discípulo moral, Martin Luther King), muito lembrado nessa falsa polêmica como contraposição à suposta proposta anti-vida(sic) do presidente do GGB, precisa ser lido de forma menos superficial. Esse pacifismo visa derrotar o opressor, inimigo, adversário (à escolha) tanto quanto a estratégia belicista e também produz mortos e feridos (pior que só de um lado). A diferença é que essa estratégia, que é fundamentalmente uma ação coletiva e não individual, busca derrotar o inimigo sem matá-lo, desmoralizando-o através da ação não-violenta (que exige sacrifícios), com a qual também se procura romper o círculo vicioso que a tática do “olho por olho, dente por dente” costuma engendrar. Como disse, também provoca mortos e feridos, mas as baixas e as sequelas físicas e psicológicas nas populações envolvidas costumam ser significativamente menores do que nos conflitos onde ambos os lados pegam em armas .

O pacifismo de Gandhi é, portanto, uma estratégia de luta, nada tendo a ver com passividade diante de agressores de qualquer ímpeto e natureza. Contra eles, todo o indíviduo tem o direito de se defender e de escolher a estratégia que lhe permitirá derrotar seu agressor, mesmo que ela implique na morte do atacante. Mott nada disse de novo, e o que de fato espanta é que sua fala tenha provocado reações tão inflamadas e, sobretudo, hipócritas.

No mais, espera-se que toda essa falação resulte mesmo em ações de empoderamento da população LGBT, como oficinas de promoção de auto-estima e de técnicas de autodefesa, e não apenas em mais reclamações junto a órgãos estatais que, mesmo em países civilizados, não estão em condições de estar protegendo seus cidadãos e suas cidadãs individualmente em casa ou nas ruas.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Se eu fosse um garoto - If I Were A Boy



If I were a boy even just for a day
Se eu fosse um garoto mesmo só por um dia
I'd roll out of bed in the morning
Eu rolaria da cama de manhãAnd throw on what I wanted
Jogaria qualquer roupa por cima do corpo
And go drink beer with the guys
E iria beber cerveja com os amigos
And chase after girlsE iria correr atrás das garotasI'd kick it with who I wanted
E sairia com quem quisesseAnd I'd never get confronted for it
E nunca seria questionado por isso'Cause they stick up for mePor que os amigos me apoiariam
If I were a boy
Se eu fosse um garotoI think I could understand
Acho que poderia entenderHow it feels to love a girlComo é amar uma garotaI swear I'd be a better man
E juro eu seria um homem melhor

I'd listen to her
Eu a escutaria'Cause I know how it hurts
Porque sei como dóiWhen you lose the one you wanted
Quando você perde aquela que queria'Cause he's taking you for granted
Porque estava certo de que não perderiaAnd everything you had got destroyed
E tudo que você tinha acabou destruído

If I were a boySe eu fosse um garoto
I would turn off my phone
Desligaria meu telefone
Tell everyone it's brokenDiria a todo mundo que ele está quebrado
So they'd think that I was sleeping alone
Assim achariam que estava dormindo sozinho

I'd put myself first
Me colocaria em primeiro lugarAnd make the rules as I goE faria minhas próprias regras
'Cause I know that she'd be faithful
Porque sei que ela estaria sendo fiel
Waiting for me to come home, to come home
me esperando voltar pra casa, voltar para casa.
If I were a boySe eu fosse um garotoI think I could understandAcho que poderia entenderHow it feels to love a girlComo é amar uma garotaI swear I'd be a better manE juro eu seria um homem melhor

I'd listen to herEu a escutaria'Cause I know how it hurtsPorque sei como dóiWhen you lose the one you wantedQuando você perde aquela que queria'Cause he's taking you for grantedPorque estava certo de que não perderiaAnd everything you had got destroyedE tudo que você tinha acabou destruído

It's a little too late for you to come back
É um pouco tarde para você voltarSay it's just a mistake
Dizer que foi apenas um erroThink I'd forgive you like that
Pensar que eu o perdoaria de qualquer jeitoIf you thought I would wait for you
Se você pensou que eu esperaria por vocêYou thought wrong
Se enganou
But you're just a boy
Mas você é apenas um garotoYou don't understand
Você não entende
And you don't understand, oh
E você não entende
How it feels to love a girlComo é amar uma garotaSomeday you wish you were a better man
Algum dia você vai desejar ter sido melhor

You don't listen to her
Você não a escutaYou don't care how it hurts
Não se incomoda de magoar
Until you lose the one you wanted
Até que você perde aquela que queria'Cause you're taking her for granted
Porque estava certo de que não perderia
And everything you had got destroyed
E tudo que você tinha foi destruído

But you're just a boy
Mas você é apenas um garoto

Tradução: Míriam Martinho

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Impacto ambiental do consumo de carne

Vista-se é um site vegano bem legal, cheio de notícias, imagens e vídeos sobre vegetarianismo, ambientalismo e direitos dos animais. Tem dicas de produtos ecologicamente corretos, dicas de restaurantes, folhetos para baixar, etcetera. Uma das páginas mais legais é a passeata vegetariana, uma página em flash cheia de imagens de cartazes criativos e contundentes condenando o consumo de carne. Tem imagens com a Rita Lee e o Paul MacCartney.

De lá também fiz o download do áudio abaixo de uma fala do Arnaldo jabor sobre o impacto do consumo de carne no planeta. Essa fala do Arnaldo demonstra que as batalhas cotidianas dos ambientalistas para salvar a Terra já encontram eco nos formadores de opinião.

A propósito, não como carne. E você?

segunda-feira, 30 de março de 2009

A fera nossa de cada dia!

Esta semana que passou quase me vi envolvida num tremendo barraco pelo grande crime de não ter lido e não ter comentado um texto que me enviaram como circular num e-mail. Por conta da minha longa militância, algumas pesquisadoras, que já me entrevistaram, pedem meu parecer sobre suas teses. Muitas vezes, pela correria da vida cotidiana, deixo de comentar de imediato ou levo inclusive tempo para comentar o que me enviam. Nesses casos, contudo, quando sou objetivamente convocada a dar minha opinião sobre algo, pelo menos me sinto na obrigação de me desculpar por não ter lido ou por ter demorado a responder. Nunca me ocorreu, contudo, de alguém me vir com paus e pedras porque não expressei minha opinião sobre um texto. Tá certo que minha opinião vale muito (rsss), mas não é caso para tanto.

Como para tudo, porém, existe uma primeira vez, na semana passada fiz meu debut nesse tipo de imbróglio. Dado o caráter cordial do relacionamento que tinha com a pessoa barraqueira em questão (não sabia que era barraqueira até então) e pelo fato inclusive de estar tentando convencê-la a escrever num projeto coletivo de uma colega em comum (nem de minha iniciativa o projeto é), expliquei que não lera e comentara aquele texto dela, da barraqueira (embora tivesse comentado outros), por ter estado muito ocupada, ao mesmo tempo que busquei incentivá-la a redigir para o projeto coletivo pela idéia do projeto simplesmente. Mas a figura afirmou que, como lia meus textos, apesar de eu não ter pedido que o fizesse, eu tinha a obrigação (como amiga...rsss) de ler e comentar os dela, e, já que não lia os dela, não estava em posição de lhe pedir que escrevesse em nenhum outro lugar (sic). E quanto mais logicamente eu tentava argumentar com a dita, mais enfurecida ela ficava, começando, depois de um certo momento, literalmente a delirar, dizendo-se atacada, perseguida e não sei mais quantas outras. Como vi que estava entrando numa areia movediça porque a figura distorcia tudo o que eu dizia, entendendo inclusive o avesso do que eu falava, encerrei a conversa ponderando que ela estava querendo brigar, mas eu não queria, e desejando-lhe que ficasse bem e se encontrasse. A dita ainda me enviou uma mensagem desaforada, quando então a bloqueei, mas continua pela Web a destilar seu surto e, por certo, a veicular suas alucinações pelos bastidores da vida.

Conversa de louco, não é mesmo? Circulares de textos rolam aos milhares pelas caixas de entrada de todo mundo, por isso mesmo, quando se quer uma opinião de qualquer forma, a gente expressa isso claramente. Se não, entende-se que é facultativo ao destinatário comentar ou não a circular. Claro, todo mundo espera um feedback de tudo que envia, mas ninguém, em estado normal, arma um tremendo barraco porque alguém não leu um texto em particular.

Mas parece mesmo que está todo mundo meio louco, arrumando
brigas por motivos fúteis, como barris de pólvora humanos de pavio super-curto. Em novembro do ano passado, presenciei, mais do que vivi, um outro lance desses de ira despropositada. Ia deixar uma colega no ponto de ônibus, mas antes parei na farmácia, e ela me acompanhou para dar continuidade à conversa que mantínhamos. Estacionei o carro atrás de um outro de vidro fumê, e lá fomos às compras. Quando já estava no caixa, reparo que a pessoa do carro de vidro fumê manobrava, tentando sair, sabe-se lá por onde, pois não havia espaço para tal, e se aproximava perigosamente do meu carro. Pedi à colega que me acompanhava que fosse dizer @ motorista que esperasse um pouquinho que eu já estava pagando as compras. Minha colega foi e voltou irritada porque a motorista (era uma mulher) fora grosseira com ela, dizendo que tinha o que fazer, coisas do gênero (só ela, né?) em voz alta. Até apressei a caixa, alertando-a que tinha uma atacada ali no estacionamento e que era melhor correr.

Bem, saímos da farmácia e fomos para meu carro. Minha colega pegou a mochila que havia deixado no banco de trás, demos um beijinho de despedida, ela saiu em direção ao ponto de ônibus e eu sentei no banco do motorista, para dar partida no carro, quando se iniciou uma cena inusitada. Minha colega, que já estava a meio caminho do ponto de ônibus, retornou e se dirigindo ao carro de vidro fumê ergueu o braço e exclamou um “como é que é mesmo?”. Depois fiquei sabendo que a motorista havia dito para minha colega que era bom mesmo ela se apressar para não perder a hora na zona (sic). Ato contínuo, saiu do carro de vidro fumê uma versão brasileira do Arnold Schwarzenegger, se dirigiu a essa minha colega soltando fogo pelas narinas, pegou-a pelos ombros e a empurrou. Ela se estatelou no meio fio. Daí que saio eu do meu carro, para acudir a colega, e a barraqueira da motorista do vidro fumê sai do carro dela agora preocupada em controlar seu provável marido pitbulll que ela mesmo atiçara. Os transeuntes começaram a rodear a cena e a dizer para chamar a polícia ao mesmo tempo que xingavam o grandalhão de covarde, assim meio baixinho porque o tamanho do pitt e sua raiva botavam mesmo medo.

Enquanto eu entrava no meu carro de volta, para abrir a porta para minha colega a fim de sairmos dali (ela estava inclusive com um dos cotovelos sangrando), o Arnold também veio para o meu lado fungando e babando. Me senti como naquela cena do Alien III quando o monstro chega bem perto do rosto da Ripley mas não a mata porque sabe que ela estava grávida de outro monstrinho. O Arnold quase encostou o nariz no meu, mas eu mantive a pose e lhe disse que, se me tocasse, a coisa ia ficar feia. Funcionou porque ele se afastou, pude abrir a porta do carro do motorista e do passageiro para minha colega entrar e fugirmos dali. Antes pegamos a placa do veículo do pitt e, posteriomente, fomos à delegacia da mulher dar queixa. Como a colega já tinha problemas osteomusculares, o tombo agravou sua condição, estando até hoje na base da fisioterapia.

Coisa de louco, não é mesmo? Como é que alguém pode estar tão alterado a ponto de agredir outro alguém por que não tem paciência para esperar as manobras de um carro num estacionamento público? E as conseqüências de atitudes como esta? Minha colega poderia ter batido a cabeça no meio fio e ter sofrido algo bem mais sério do que problemas nas articulações.

Cito esses dois casos porque são os mais recentes que vivi, mas não são os únicos e não sou a única a ter vivido ou presenciado atitudes deste tipo principalmente em cidades como São Paulo. Tem muita gente que perde até a vida em simples brigas de trânsito, de bar, de rua. Gente que nunca sequer lhe viu, por qualquer picuinha, se toma de fúria descontrolada e parte para a baixaria verbal ou física num piscar de olhos.

O senso comum diz que há muitas pessoas por aí, carregadas de frustrações, desapontamentos, que buscam descarregar em outras pesssoas seus infortúnios, e o mais certo é simplesmente não deixar que elas lhe façam de lixeira. Sem dúvida, manter a cabeça fria em momentos de ataques alheios, súbitos e sem sentido, pode minimizar realmente as conseqüências dos atos dos destemperados sobre nossas vidas. Mas creio que é necessário uma análise mais ampla das sociedades que, cada vez mais, produzem gente assim tão irada, tão egoísta, tão amarga, tão de mal com a vida.

terça-feira, 24 de março de 2009

Maria Bethânia Reverso

Na Ilustrada de domingo (FSP), 22/03/09, o jornalista Marcus Preto fez um artigo sobre a postagem dos trabalhos de Maria Bethânia na Web, inclusive destacando que se pode encontrar coisas raras da diva na rede. Como exemplo, citou o blog de fãs da cantora, Maria Bethânia Reverso, onde se pode baixar realmente, em áudio ou vídeo, gravações e shows antológicos da artista.

Baixei o áudio do show Rosa dos Ventos, de 1971, acho que o espetáculo mais expressivo de Bethânia, pois era mais do que um show, era um congraçamento dos fãs, uma espécie de rito de toda uma geração sufocada por aqueles tempos sombrios.

Gal Costa também teve um show antológico como o Rosa dos Ventos, o Fatal, Gal a Todo Vapor, também de 1971, que incluía, entre outras músicas, Vapor Barato, do Jards Macalé e do Waly Salomão, para lá de representativo também não só da carreira da cantora como de toda uma época.

Ambos os espetáculos foram pontos altos dessas duas artistas e muito icônicos daquele momento da cultura e da vida brasileiras. À parte isso, a qualidade e a beleza das músicas desses shows são, como tudo que é bom, atemporais, e podem ser ouvidas pelas novas gerações numa boa.

Nesse sentido, quem é bon gourmet musical não deve deixar de acessar o blog Reverso para conhecer ou (re)conhecer a carreira da Betha.

Posto abaixo, Maria Bethânia cantando Lamento do Morro, de Orfeu do Carnaval, que encontrei, na página do orkut de uma colega, e que é linda.


sábado, 21 de março de 2009

Boas-vindas ao admirável mundo novo.

O assunto da semana que se encerrou, na área dos costumes, foi sem dúvida a matéria da revista Época sobre a garota que ficou grávida da companheira, auxiliada pelas modernas técnicas de reprodução assistida. Uma das mulheres cedeu os óvulos, fertilizados com o sêmen de um doador, e a outra, o útero, onde foram implantados os óvulos fertilizados. O resultado foram gêmeos, um menino e uma menina. O casal, com a parceira grávida agora nos 7 meses, quer registrar as futuras crianças no nome das duas mães que, desta vez, são mães inclusive biológicas, para desespero dos conservadores, sobretudo religiosos. Para tal, as moças recorreram à advogada Maria Berenice Dias, do Rio Grande do Sul, que já se oficializou como advogada dos direitos homossexuais no Brasil. As moças querem, além do interesse próprio, abrir precedente jurídico para o reconhecimento da maternidade ou paternidade conjunta de casais de mulheres e de homens.

Com uns e umas contra e outras e outros a favor, a discussão promete muito pano para manga. E desde já discussões paralelas também começam a surgir. O advogado Pedro Estevam Serrano, colunista da revista jurídica Última Instância, julga, em seu artigo O reconhecimento de filiação de casal lésbico, não haver empecilho legal para o reconhecimento da maternidade conjunta do casal lésbico, mas se preocupa com o fato de o pai biológico dos gêmeos ser desconhecido.

Segundo ele, a criança, fruto de inseminação artificial, tem o direito de “saber de sua história genética e exigir de seu pai o cumprimento dos deveres inerentes à paternidade, bem como exercer os direitos de filiação que lhe são acometidos, inclusive, herança etc., sob pena de jogarmos pá de cal nos direitos infantis e adolescentes previstos no art. 227 de nosso Texto Maior.” “... A criança que nasce tem direito de saber quem é seu pai e dele receber os cuidados e mantença que faz jus, bem como a exercer todos os demais direitos inerentes à filiação ou dela decorrentes.”
Achei estranhas as colocações do autor. Primeiro que sua visão sobre paternidade é inteiramente biologizante, tanto que o doador do esperma vira pai compulsório, ainda que não queira. Me parece que a paternidade e a maternidade vão além da questão do encontro de espermatozóides com óvulos. Pai e mãe são fundamentalmente aquelas pessoas que criam a criança, que a nutrem não só de leite materno como também de carinho, amor, atenção, que bancam sua sobrevivência, estudos, etc... Segundo, pressupõe-se que quem doa sêmen o faz por um ato de generosidade, para ajudar a quem não pode ter filhos, abstendo-se de futuras interferências na vida do casal receptor da doação e se isentando igualmente de cobranças quanto às obrigações da paternidade. Senão, de repente, criaremos um grupo de crianças de proveta super-privilegiado a receber pensões e heranças em duplicidade enquanto tantos outros não têm os cuidados sequer de um único pai.

Daí que, mesmo considerando válida a idéia de assegurar o direito da criança de conhecer seu pai biológico, não vejo como justa a causa de cobrar de um doador de esperma os tributos de uma paternidade normal. Se a questão ainda fosse só conhecer o pai, ainda vá lá, embora não me pareça algo assim tão simples de qualquer forma, mas cobrar do doador responsabilidades que ele não assumiu não é correto, a meu ver. O que essas cobranças – que no exterior já ocorrem com certa freqüência – podem trazer é uma debandada geral dos doadores, o que não é desejável para muita gente.

No mais, nossas boas-vindas a esse admirável mundo novo.

domingo, 8 de março de 2009

Violência contra a mulher

O tema da marcha pelo dia internacional da mulher deste ano é o combate a violência contra as mulheres. Navegando no UOL, vi este vídeo que posto abaixo sobre até onde este grau de violência pode chegar. Trata-se de um caso de violência no Paquistão.

Ao ver o vídeo, pelo seu impacto, resovi me contradizer e falar de um tema militante, neste 8 de março. Ao vê-lo lembrei também de um documentário que assisti há tempos sobre a violência contra a mulher naquele país, da National Geographic, se não me engano intitulado Crimes de Honra. O documentário tinha por eixo a história de uma mulher que teve o nariz, os olhos e as orelhas arrancadas pelo marido porque este a vira cumprimentar e trocar umas palavras com outro homem numa via pública. Sentindo-se desonrado (sic), ao chegar em casa, o facínora quase a matou de pancada e a mutilou dessa forma terrível com uma faca (foto acima).

O documentário segue a saga dessa mulher, Zahida Perveen, que contou com a ajuda do irmão e de um médico residente nos EUA, até a reconstituição plástica de seu nariz e orelhas e da implantação de simulacros de globos oculares que permitissem que ela pudesse ao menos voltar a ter uma vida social (foto ao lado). Num caso raro para o Paquistão, Zahida Perveen também processou o criminoso.

Paralelamente, outros casos de mulheres queimadas e mutiladas de várias formas por seus maridos foram sendo apresentados num filme de horror indescritível sobretudo por não ser um filme.

Também é entrevistada, no meio dessas trevas, uma mulher que se tornou ativista pelos direitos das mulheres em seu país, Shahnaz Bokhari e organizou um grupo contra a violência denominado Associação das Mulheres Progressistas de Islamabad. É ela que aparece no vídeo que posto abaixo, em homenagem a todas as mulheres que lutam por simplesmente viver em segurança neste planeta.

Também são do site de sua organização as fotos da mulher que foi mutilada pelo marido e que postei aqui. Neste site também se encontram outras fotos e histórias igualmente impressionantes. Vale a visita.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Lugar de Mulher - pelo 8 de março

Confesso que ando meio sem pique para comemorar o dia internacional da mulher seja pelo porre capitalista de tantas propagandas comerciais para você comprar num sei o quê em homenagem às mulheres (sic) seja pelo porre esquerdista de ver as questões da mulher novamente subordinadas à luta contra a burguesia, o neoliberalismo, a crise econômica e outras tantas desse pessoal que - como a Folha de São Paulo tão bem alcunhou - é cínico e mentiroso. Domingo haverá passeata cheia de bandeiras vermelhas na avenida.

Porém, todavia, contudo, como ainda há muito por fazer em termos de direitos das mulheres, achei que devia de qualquer forma lembrar a data, mas estava sem saber o que dizer que não fosse de caráter "ativista", quando uma colega me enviou o cordel abaixo da Salete Maria, do blog
Cordelirando. Achei os versos muito bons, inclusive porque desfolham essa mulher abstrata da militância e do dia 8 nas múltiplas mulheres reais que são de todo tipo e que estão em todo o lugar. De fato, nosso lugar é- como diz o cordel - onde quer que a gente sobreviva.

Lugar de Mulher

Do ponto onde me encontro, na janela dum sobrado
Daqui donde me defronto, com meu presente e passado
Fico metendo a colher do ‘meu lugar de mulher’
Neste mundão desgarrado
Do meu ângulo obtuso, num canto da camarinha
Afrouxo um parafuso, liberto uma andorinha
Desmancho uma estrutura, arranco uma fechadura
Desmonto uma ladainha
Reza a história do mundo, que mulher tem seu lugar
É um discurso ‘corcundo’,e prenhe de bla-bla-blá
Eu que ando em toda parte,divulgo através da arte
Outro modo de pensar:
Lugar de mulher é quarto,sala, bodega e avião
Lugar de mulher é mato,cidade, praia e sertão
Lugar de mulher é zona, do Estado do Arizona
À Vitória de Santo Antão
Lugar de mulher é sauna, capela, bonde, motel
Lugar de mulher é fauna, terreiro, campus, quartel
Lugar de mulher é casa, seja na Faixa de Gaza
Ou no Morro do Borel
Lugar de mulher é cama, seresta, parque, novena
Lugar de mulher é lama, escola, laje, cinema
Lugar de mulher é ninho, dos becos do Pelourinho
Às águas de Ipanema
Lugar de mulher é roça, riacho, circo, cozinha
Lugar de mulher é bossa, reisado, feira, lapinha
Lugar de mulher é chão, das ruelas do Sudão
Às veredas da Serrinha
Lugar de mulher é mangue, deserto, vila, mansão
Lugar de mulher é gangue, novela, birô, oitão
Lugar de mulher é mar, das praias do Canadá
Ao céu do Cazaquistão
Lugar de mulher é ponte, trincheira, jardim, salão
Lugar de mulher é fonte, indústria, baile, fogão
Lugar de mulher é mina, do solo de Teresina
Ao Morro do Alemão
Lugar de mulher é barro, palco, metrô e altar
Lugar de mulher é carro, camarote, rede, bar
Lugar de mulher é trem, dos caminhos de Belém
À serra do Quicuncá
Lugar de mulher é show, favela, brejo e poder
Lugar de mulher é gol, ringue, desfile e lazer
Lugar de mulher é creche, das bandas de Marrakech
Às vilas do ABC
Lugar de mulher é serra, obra, beco e parlamento
Lugar de mulher é guerra, missa, teatro e convento
Lugar de mulher é pia, das tendas de Andaluzia
À Santana do Livramento
Lugar de mulher é tudo, por onde possa passar
Seja pequeno ou graúdo, seja daqui ou de lá
Lugar de mulher é Terra, mas não onde o gato enterra
O que precisa ocultar
Lugar de mulher é dentro, mas também pode ser fora
Lugar de mulher é centro, que a margem não ignora
Lugar de mulher é leste, norte, sul, também oeste
De noite, tarde e aurora
De minha perspectiva, mulher não tem ‘um’ lugar
Onde quer que sobreviva, pode ser seu habitat
Lugares existem zil, eu mesma sou do Brasil
E vivo no Ceará!

Salete Maria

domingo, 1 de março de 2009

Parabéns ao Rio, minha terra natal!

Nasci na cidade do Rio de Janeiro em 20 de julho de 1954, filha de migrantes nordestinos em busca de vida melhor. Depois fui exportada para Sampa, ainda bebê, onde de fato cresci, onde de fato me formei como pessoa.

Mas, quando criança e mesmo no início da adolescência, ia muito ao Rio, tenho parentes por lá. Ao longo da minha vida, também visitei o Rio várias vezes e guardo boas lembranças da cidade que já foi mais maravilhosa, hoje tão conturbada pela violência sem freios.

Apesar desses pesares, o Rio ainda é o cartão-postal do Brasil, com aquela paisagem esplendorosa do Cristo Redentor, da baía de Guanabara, com seu histórico tão importante para a cultura brasileira. Por essas e mais outras, deixo aqui minha homenagem de carioca-paulistana aos 444 anos do Rio de Janeiro, com uma música que, por ritmo e letra, interpreta a cidade melhor que ninguém! Samba do Avião, do Tom Jobim, com ele e a Miucha.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Vídeo da campanha pelos casamentos gays na Califórnia

Ao som de "Fidelity", da russa Regina Spektor, o vídeo da Campanha da Coragem pela validação dos Casamentos Gays já realizados na Califórnia, antes da aprovação da Proposta 8 (iniciativa do advogado Kenneth Starr que entrou com ação pedindo a anulação de todos os casamentos oficializados na Califórnia em 2008), apresenta diferentes casais homossexuais e seus familiares segurando cartazes com a frase "Don't Divorce Us" (Não nos divorcie).

Fora o vídeo, os organizadores enviaram uma carta, , contra a ação de Starr, já assinada por 300 mil pessoas, que deve chegar à Suprema Corte americana, em 5 de março, quando também haverá uma audiência sobre o assunto. A carta cita trecho de discurso de Barack Obama defendendo direitos da comunidade LGBT.

Veja como o vídeo da campanha ficou bonito. Divulgue!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Como hoje é carnaval...













Passeando pela Web, blogs, sites e tudo mais que se encontra nesse caminho, encontrei o blog Men who look like old lesbians (Homens que parecem lésbicas velhas). Não é novidade, outros blogs L já citaram, mas nem por isso deixo de recomendar.

Como hoje é dia de folia, nada como rir um bocado com a cara dos bofes que parecem lésbicas (ou são as lésbicas que parecem com eles?). Alguns ainda dá para perceber que são homens, mas a maioria realmente poderia passar por uma sapa. E não tem só homens mais velhos que parecem sapas mais velhas, tem os jovenzinhos também que parecem com as lezzies teen, uns que parecem com as mais butches... tem de tudo. Tem até o Milton Nascimento com cara de sapa...rsss
E para ilustrar esse post botei aí uma sapa, a Vange Leonel, que, com o passar dos anos, foi ficando cada vez mais parecida com o cara na foto ao lado (Bob Dylan, para quem não sacou). Estranhos mistérios da passagem do tempo. Talvez the answer may be blowing in the wind... rsss

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Vulvas flores












Resolvi postar essas vulvas-flores ou flores-vulvas após uma espécie de debate que rolou na lista gls, da qual participo, em função de um comentário depreciativo de um gay sobre nossa querida boceta. Comentava o rapaz com outro que era virgem de mulher e que só tinha visto as partes pudendas de uma ao nascer, e que, graças a Jesus, não lembrava desse triste momento.

Fiquei impressionada com a grosseria - para dizer o mínimo - já que a lista também é composta por mulheres e fundamentalmente lésbicas que, além de possuirem uma chana, também em geral são grandes apreciadoras de uma ou de várias.

Pedi ao dito que nos poupasse desses chistes sexistas, e a história virou um zum-zum-zum danado. Imaginasse ele - disse - se as lésbicas dessem para expressar sua opinião sobre os penduricalhos masculinos ali na lista. Ia ficar bem desagradável. O rapaz não gostou, disse que eu não tinha senso de humor e que estava fazendo tempestade em copo d'água. No fim, entre pontos e contrapontos se calou.

Fiquei pensando nessa coisa incrível da misoginia masculina (e aqui cabe se falar em misoginia sim) que afeta tanto alguns gays. Não que não existam lésbicas que também tenham repulsa ao sexo masculino (em ambos os sentidos), mas pelo menos não saem por aí dizendo na cara dos caras o quanto eles lhes parecem indigestos. Quando acontece de alguma querer ressuscitar o manifesto Scum, da Valerie Solanas, aquela que atirou no Andy Warhol, que pregava a destruição do sexo masculino, vozes iradas surgem imediatamente, inclusive de mulheres, contra a ousadia androfóbica. E olhe que as mulheres têm milênios de razões para terem mais bronca dos homens do que o contrário.

Historicamente inclusive essa maneira depreciativa de se referir ao sexo feminino, a que muitos gays chamam de racha, rachada, foi um dos motivos que levou à separação das lésbicas do Somos já nos idos de 1979. Posteriormente, eu mesma já me vi às voltas com essas e outras expressões de aversão às mulheres vindas de alguns gays. E olhe que elas vêm de homens pouco letrados e de outros tantos, como o rapaz em questão, bem letrados e articulados.

Pessoalmente não tenho repulsa ao sexo masculino em nenhum sentido. Apenas não tenho desejo por homens. Quando são bonitos, admiro-os esteticamente, mas não me dão tesão. Naturalmente todos e todas temos nossas idiossincrasias, nossas aversões e simpatias, mas, pelo menos por questão de decoro, devemos mantê-las conosco, pois essas coisas são de natureza por demais subjetiva para serem colocadas em público. Como se sabe gosto não se discute, havendo inclusive quem ame o feio porque bonito lhe parece.

Enfim, mesmo em tom de blague, certas coisas a gente só diz entre íntimos. Hoje mesmo estavam os gays rotulando a marchinha A cabelereira do Zezé, a mais tocada das marchinhas de carnaval, como homofóbica, porque - como bem lembram - ela diz: "Olha a cabeleira do Zezé. será que ele é... será que ele é.... bicha!!!" Não considero a letra ofensiva - talvez porque não seja bicha - mas obviamente não vou ficar entoando suas estrofes na cara dos gays, já que eles não acham graça nelas.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Sexo Verbal: Surpresas da Vida e do Viver

A convite do Ricardo Aguieiras, colega do início do MLGBT ou MHB, fui assistir com duas amigas à peça Sexo Verbal: Surpresas da Vida e do Viver. Com textos de Hilda Hist, João Silvério Trevisan, Marcelino Freire, poema do próprio Ricardo e até mesmo alguns do Brasil Colônia e da Inquisição, a peça se desenvolve, numa festa em um casarão, melhor dizendo nas dependências do casarão (quartos, sala, cozinha) e fala de sexo pra falar de amor.

A platéia acompanha os atores pelas dependências do casarão em suas inter-relações. Há amores héteros, gays, lésbicos, pagos, gratuitos, fortuitos, expostos pelos textos, alguns bem tocantes.

A peça me fez lembrar de um poesia que fiz a respeito dessa relação amor e sexo que transcrevo abaixo:
Essas coisas da carne

Essas coisas da carne
atingem o coração,
não aquela válvula
que bombeia sangue,
mas sim o músculo do sentimento
que se contrai, que se expande,
que se estira até romper de paixão.

Essas coisas da carne
impregnam a alma
que encarnada busca seu sexo
como a uma hóstia,
como a um cálice de vinho
que transborda e inunda
o rosto de lágrimas,
esse sal da saudade,
que só a chuva disfarça.
Essas coisas da carne
provam que as razões do coração
a razão realmente desconhece,
que o corpo da alma não esquece
porque tatua na pele a sua pele,
o seu cheiro, a sua voz, os seus gestos,
e essa imagem vale muito mais
do que as mil palavras
com as quais nos desentendemos.

A peça deve permanecer até o final de fevereiro no Casarão do Belvedere, Rua Pedroso, 267 - Bela Vista, às sextas e sábados, às 21 horas. Informações - (11) 3266-5272; Ingressos - 20 reais (10 reais meia entrada)

Ficha técnica

Dramaturgia e Direção: Aurea Karpor
Elenco: Alexandre Acquiste, Aurélio Prates, Aurea Karpor, Hélio Tavares, Mariana Galeno, Silvana da Costa Alves
Iluminação: Alexandre Pestana
Trilha Sonora: Régis Frias
Operação de Luz: Sally Rezende
Operação de som: Wilton Rozante.
Produção: ProjetoBaZar
Figurino: Alexandre Acquiste
Orientação de Literatura: Marcus Aurélius Pimenta
Direção Geral do Projeto: Aurea Karpor e Rodolfo Lima

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Regras existem para serem quebradas

Dizem que as leis da natureza são imutáveis, implacáveis. De vez em quando, porém, alguém decide contrariar as regras e ser fora-da-lei. O preço a pagar muitas vezes é alto; outras vezes o resultado é apenas divertido como no vídeo abaixo. Também disponível em alta qualidade (HQ), clicando no menu da setinha para cima.


terça-feira, 27 de janeiro de 2009

True Blood: Vampiros lutam por direitos como os homossexuais!


Vampiros sempre existiram na imaginação das pessoas bem antes de Bram Stoker ter lançado o clássico do gênero, o seu famoso Drácula, em 1897. Mas foi com o livro de Stoker que o vampirismo fez escola e nunca mais saiu de cena.

Geralmente associados ao mal, mas também à sexualidade, os vampiros, contudo, têm apresentado, com o passar dos anos, cada vez mais características humanas, dilemas existenciais, crises éticas.

A bem da verdade, o próprio Drácula saiu da Transilvânia para Londres, num laivo de romantismo angustiado, em busca da reencarnação de seu amor perdido, Mina, que o destino havia lhe tirado ainda bem jovem. O problema é que o Conde, em sua trajetória, vai chupando deus e todo mundo, deixando literalmente muitos mortos e mortos-vivos pelo caminho.

A saga do Conde rendeu também inúmeros filmes de terror B, C, mas também A, além de filmes de terrir (como o ótimo Dança dos Vampiros do Polanski), e os atores que representaram o vampiro-mór, como Bela Lugosi, Christopher Lee, Jack Palance, Gary Oldman, entre outros, entraram para a história.

A saga do Conde inspirou ainda muitos outros escritores a criarem seus vampiros, variantes do clássico, com alguns diferenciais. Em tempos mais recentes – como já disse – os vamps passaram a ter crises existenciais, éticas, culpa por matarem humanos inocentes, como o vampiro Louis de Entrevista com o Vampiro, de Anne Rice, ou mesmo revolta contra a própria espécie, como o vampiro negro Blade, que sai caçando seus iguais.

Com o avanço da ciência – que não conseguiu desacreditá-los – e o advento dos hemocentros e dos sangues sintéticos, os mais modernos puderam se abster totalmente de sangue fresco ou mesmo humano, preferindo controlar seus instintos e até interagir com suas antigas presas. Mais do que isso, deram para se apaixonar por humanos, em alguns casos sendo capazes de consumar a paixão, em outros não.

No seriado de TV Moonlight, recentemente exibido pela Warner, o vampiro Mick, que até pode andar – mais ou menos – à luz do sol, se apaixona por uma jornalista, que descobre sua identidade e o acompanha na resolução de casos, embora o amor entre eles apareça como uma impossibilidade. No filme Crepúsculo, sucesso de bilheteria atual, em cinemas do mundo todo, o casal teen composto por um vampiro e uma mocinha vive suspirando seu amor platônico para gáudio da platéia.

E agora, no dia 18 de janeiro, estreou pela HBO, a série True Blood, onde os vampiros não só dispensam o sangue humano por um sangue sintético inventado pelos japoneses (ah, esses japoneses!), como também interagem com os humanos, apaixonam-se por eles e – sim - consumam a paixão por meio de um sexo selvagem que literalmente tira sangue de seus pares.

Mais do que isso, os vampiros querem seu lugar à lua, como os humanos querem ao sol, organizam-se em grupos vampirescos e reivindicam direito ao amor, ao casamento e à propriedade privada, que não são bestas.

Vulneráveis à prata, são imobilizados por traficantes de drogas, que drenam seu sangue, de incríveis poderes reabilitadores e afrodisíacos, e o vendem para humanos viciados, que ficam pra lá de doidões com a nova droga, chamada True Blood. São também vítimas de muitos preconceitos dos humanos que os temem e os rejeitam e os consideram de cara os principais suspeitos quando surgem crimes misteriosos.

A analogia com a luta homossexual é muito grande. Na introdução de cada episódio, em uma das cenas aparece um cartaz onde se lê God hate Fangs (Deus odeia vampiros), uma paródia dos homofóbicos cartazes dos fundamentalistas cristãos onde se constuma ler God Hate Fags (Deus odeia homossexuais). No último episódio do dia 25/01, em um programa de televisão, um pregador evangélico aparece desconjurando a representante da associação dos vampiros que reivindica direitos para sua comunidade.

Ambientado numa cidade interiorana da Louisiana, Bon Temps, True Blood na verdade fala da dificuldade enorme que a sociedade tem para lidar com os diferentes. De quebra, traz um caliente romance entre a garçonete médium Sookie (Anna Paquin, de X-Men) e o vampiro Bill (Stephen Moyer).

Muito bem feita em termos técnicos e de conteúdo, a série de Alan Ball, um dos idealizadores de A Sete Palmos, promete muitas emoções. Abaixo, vídeo com cenas de amor entre Bill e Sookie.

HBO, aos domingos, 22:00

domingo, 25 de janeiro de 2009

Feliz aniversário, São Paulo!


Berço do movimento homossexual no Brasil, berço sobretudo da organização lésbica brasileira, berço da primeira manifestação lésbica contra o preconceito em nosso país, berço da primeira caminhada lésbica, São Paulo é a cidade do meu coração, ainda que tenha nascido em outra cidade maravilhosa.

Tudo em São Paulo é grande, seu tamanho, sua pujança, seus problemas. Mas a maior grandeza de Sampa é mesmo sua diversidade, de povos, de culturas, de etnias, e sobretudo sua eterna capacidade de se abrir para inúmeras possibilidades, oportunidades.

Para você, minha bela-feia, minha bela-fera, em homenagem aos seus 455 aninhos, seu hino feito por alguém que - como eu - veio de outro sonho feliz de cidade, mas soube lhe traduzir como ninguém daqui mesmo.

Sampa, Caetano Veloso



Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas

Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes

E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Vestido de Michelle Obama quase ofusca discurso do marido


Na terça-feira, dia 20, ocorreu a tão aguardada cerimônia de posse de Barack Obama, o primeiro presidente negro americano. Considerando a história pregressa dos negros nos Estados Unidos, marcada por virulento racismo, Obama ter chegado à presidência da maior potência mundial é, sem dúvida, um feito histórico sem precedentes.

Há mais ou menos 60 anos, os negros americanos nem sequer podiam sentar lado a lado com brancos em ônibus, havia lugares só para brancos e só para negros, universidades eram vetadas aos negros. Negros ainda tinham problemas para votar, e casar com brancos era proibido por lei. Aliás, o racismo nos EUA, ao contrário do Brasil, era inclusive institucional.

Então, claro, diante de tal quadro, a posse de Obama não poderia deixar de ser emocionante ainda que só pela questão racial. Fora isso, Obama aparece com um discurso progressista, preocupado com direitos humanos e meio-ambiente, em flagrante contraste com seu antecessor George W. Bush, a pior persona política que o mundo viu nos últimos anos, belicista, vilão ambiental, contrário a tudo que a maioria de nós considera como o necessário para um mundo melhor.

Assim, foi inevitável verter algumas lágrimas na cerimônia de posse de Obama. Não pensei, contudo, que fosse inevitável também dar umas risadas. Ao contrário dos europeus, os americanos em geral (há exceções, claro) nunca primaram exatamente pela elegância de modos e trajes. A breguice sempre os assediou, e não falo só dos adeptos da country music, dos caipiras da terra do tio Sam. É uma espécie de característica nacional na qual volta e meia algum deles resvala, sobretudo aqueles deles do sexo feminino...rsss

Michelle Obama não se fez de rogada e manteve a tradição. Apareceu num modelito amarelo-limão, meio-bordado, acompanhado de luvas e sapatos esverdeados de arribombar o malho. As filhas também estavam vestidas com cores vibrantes, mas, em crianças, a gente entende. Mesmo a mulher do vice-presidente que apareceu com um casaco vermelhão e botas pretas de fazer o gáudio da galera de clubes fetichistas, não pôde superar em visibilidade (rsss) a primeira-dama.

Agora, mais engraçado que o vestido da Michelle, só mesmo os comentários que ele gerou. Preocupados em manter a pompa e a circunstância e movidos pela simpatia provocada pelo casal Obama, a imprensa nacional abriu o baú dos eufemismos e largou brasa em frases como “o vestido luminoso de Michelle”, “o vestido reflete a personalidade forte de Michelle”, “o amarelo do vestido reflete a esperança”, além de paradoxos como “a elegância acintosa de Michelle”.... hehehe. Houve inclusive quem se irritasse com as críticas sobre o estilo luminoso da primeira-dama e visse nelas um velado racismo.

Tudo isso me fez lembrar o velho conto do Andersen, A roupa nova do rei, onde dois vigaristas se fazendo passar por estilistas, conhecedores da vaidade ilimitada do soberano de plantão, convencem-no que o estão vestindo com um tecido tão diáfano e chique que é como se fosse invisível. O monarca, não querendo parecer fora de moda, se auto-ilude de que está usando algo muito fashion e vai inclusive desfilar em público... pelado. Todos os súditos, não querendo contrariar sua majestade, fazem vista grossa diante da nudez real e participam da pantomima até que um menino – com a sinceridade típica da infância – olha para sua majestade e exclama a célebre frase: “ O rei está nu.” Quebrado o encanto, todos passam a gritar o mesmo para desespero da realeza.

Pois, é. Sou como aquele menino. Também morro de simpatia pelo casal Obama e desejo a ambos sucesso em sua difícil empreitada, mas o vestido de Michelle foi uma das coisas mais feias que vi na vida, não importa se feito pela mais cotada estilista cubana-americana do momento, custando os tubos, ou se comprado diretamente na notória grife DASPU...rsss

E que me perdoem as leitoras e leitores esse post-chiste, mas é que rir ainda é o melhor remédio. Continuo rindo.

domingo, 18 de janeiro de 2009

E - afinal - a Catarina ficou com a Stella?

O autor de A Favorita, João Emanuel Carneiro, depois de gravar a despedida de Stella e Catarina, com Stella assumindo a paixonite não correspondida pela amiga, e tudo terminando em lágrimas e abraços e exclamações de futuras saudades pra cá e pra lá, mudou de idéia ao fim e ao cabo e, no último capítulo da novela, botou as duas indo juntas para Buenos Aires.

Stella diz para a amiga que estava feliz por ela ter aceito o convite para viajar, Catarina diz que era tudo influência dela (Stella) estar indo tomar avião, etecetera... Uma conversa meio mole, meio sonsa, aparentemente ainda só de amigas, mas, considerando o papo ocorrido quando Stella assumiu seu amor por Catarina, sem dúvida pelo menos ambígua.

Aí já não dava mais para a Catarina dizer que não sabia com quem estava se metendo, né? Se eu fosse a Stella, encararia a mudança súbita da situação com muitas esperanças. E você como se sentiria?

E como viu esse final feliz meia-boca entre as duas?

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Ne me quitte pas, ainda na onda de Maysa, quando fala o coração!

Ainda na onda da Maysa redescoberta, Ne me quitte pas, com tradução!

E o autor do livro Maysa - Só numa multidão de amores, Lira Neto, no qual é baseada a minissérie, está metendo o pau no roteiro da versão televisiva da trajetória da diva.

Diz que 90% do que a gente tá vendo é pura ficção. Mandaram a personagem histórica pro espaço, reduziram-na a uma menina mimada e autodestrutiva, tirando o caráter do seu drama existencial.

Fora distorções históricas importantes como omitir que Maysa foi, apesar de rainha da fossa, e não apenas por causa de Boscôli, que também não era tão cafajeste como retratado na minissérie, uma das primeiras cantoras brasileiras a gravar bossa-nova já em 1957.

Se Lira Neto está querendo vender seu livro que, lançado em abril de 2007, também está bombando mais do que nunca, fez o marketing certo. Licença poética a gente entende, mas, quando a distorção histórica é grande, me dá o maior bode. Daí que lá vou eu comprar o livro. Aliás, em um dos posts do blog do livro, uma entrevista com o jornalista Lira Neto, para a International Magazine, registra-se a razão porque Maysa já mereceu 2 posts por aqui. Vale a pena ler a entrevista. Cito:

"Maysa está de volta à cena em biografias e discos tributos. Trinta anos após sua morte, a cantora e compositora que desafinou do coro dos contentes de seu tempo é relembrada por sua voz, suas composições e, principalmente, por sua personalidade. O livro Maysa: Só numa multidão de amores, do jornalista Lira Neto, é um dos responsáveis pelo retorno dessa mulher/mito que teve seus imensos olhos verdes descritos pelo poeta Manoel Bandeira como "dois oceanos não pacíficos".
Segue também a letra de Ne me quitte pas.



Ne Me Quitte Pas
Jacques Brel
Composição: Paroles et Musique: Jacques Brel 1959

Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit déjà
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
À savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
À coups de pourquoi
Le coeur du bonheure
Ne me quitte pas (x4)

Moi je t'offrirai
Des perles de pluie
Venues de pays
Où il ne pleut pas
Je creuserai la terre
Jusqu'après ma mort
Pour couvrir ton corps
D'or et de lumière
Je ferai un domaine
Où l'amour sera roi
Où l'amour sera loi
Où tu seras reine
Ne me quitte pas (x4)

Ne me quitte pas
Je t'inventerai
Des mots insensés
Que tu comprendras
Je te parlerai
De ces amants là
Qui ont vu deux fois
Leurs coeurs s'embrasser
Je te raconterai
L'histoire de ce roi
Mort de n'avoir pas
Pu te rencontrer
Ne me quitte pas (x4)

On a vu souvent
Rejaillir le feu
De l'ancien volcan
Qu'on croyait trop vieux
Il est paraît-il
Des terres brûlées
Donnant plus de blé
Qu'un meilleur avril
Et quand vient le soir
Pour qu'un ciel flamboie
Le rouge et le noir
Ne s'épousent-ils pas
Ne me quite pas (x4)

Ne me quite pas
Je ne veux plus pleurer
Je ne veux plus parler
Je me cacherai là
À te regarder
Danser et sourire
Et à t'écouter
Chanter et puis rire
Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L'ombre de ta main
L'ombre de ton chien
Ne me quitte pas (x4)

sábado, 10 de janeiro de 2009

A ética do outing: Quando é válido assumir os outros!

Coming out of the closet é a expressão em inglês que, na tradução para o português, virou o célebre sair do armário. Sair do armário é quando uma pessoa decide assumir sua homossexualidade ou qualquer outra preferência sexual não-ortodoxa publicamente.

Outing, por sua vez, é a expressão também em inglês que designa o ato de tirar alguém do armário à revelia. Ação política controversa, pois implica expor a privacidade alheia, ela divide opiniões em sua aplicação, mas vem sendo utilizada cada vez mais em todo o mundo.

Para alguns ativistas LGBT, o outing deveria ser feito com todos os enrustidos, pois eles contribuem pouco ou nada para o avanço dos direitos humanos LGBT, embora se beneficiem imensamente dos ganhos conquistados pelos que tiveram a coragem de se assumir.

O argumento é consistente, mas esbarra no fato de que as pessoas dependem de empregos para sobreviver, e a homossexualidade, ou qualquer outra atividade sexual diferente da heteronormalidade tradicional, pode ainda ser motivo de demissão no trabalho, pode criar problemas na relação da pessoa com a família e mesmo em seu círculo pessoal de socialização.

Por essa razão, o outing indiscriminado, mesmo de celebridades, não costuma ser bem aceito. Prefere-se incentivar as pessoas a que se assumam espontaneamente no seu ritmo de autoaceitação para que o sair do armário se dê com o mínimo de problemas em relação ao entorno de cada um(a).

Entretanto, há uma variante do outing que tem ganho cada vez mais adeptos: o outing de pessoas que, embora pertencentes a minorias sexuais, atuam contra os direitos dessas minorias ou contra membros dessas minorias, por razões pessoais egoístas, como ascender na carreira, ou para prejudicar um desafeto.

Nesses casos, o outing é não só moralmente justificável como necessário. Ao não fazê-lo, principalmente contra gente influente, permite-se que essas pessoas continuem agindo em prejuízo da comunidade ou dos indivíduos aos quais atingem diretamente. O silêncio e a inação da comunidade em relação a essas pessoas torna a todos cúmplices de suas atitudes hipócritas e deploráveis. Pelo contrário, ao assumi-las, encoraja-se pelo menos algumas delas a pensar duas vezes antes de repetir as mesmas ações no futuro.

Concordo inteiramente com essa última perspectiva. Pior do que os que lutam contra nossos direitos, não sendo da comunidade, só mesmo os que, sendo do meio, atuam contra os interesses coletivos ou contra membros da comunidade por razões mesquinhas.

Obviamente, não se fala aqui de pessoas que são discretas simplesmente, reservadas, e não ficam levantando bandeira a toda hora e em todo o lugar. Essas pessoas agem naturalmente, não escondem que são LGBT mas também não ostentam, não podendo, portanto, ser classificadas como “no armário” muito menos como traidoras da causa.

Fala-se aqui de enrustidos que chegam ao ponto de difamar e perseguir outros membros da comunidade enquanto secretamente continuam mantendo relações não-heterotradicionais. Estes devem ser assumidos para expor sua hipocrisia e destruir sua má influência.

O outing às vezes é mal-visto porque utilizado também por pessoas sem princípios que invadem a privacidade alheia para faturar com matérias sensacionalistas ou para simplesmente prejudicar alguém. Principalmente celebridades costumam sofrer com a imprensa marrom que não mede esforços para divulgar detalhes picantes da vida íntima de artistas, políticos e gente influente em geral.

Nesse quesito, não só a homossexualidade de alguns mas também o fetichismo de outros são um prato cheio para os escândalos. Em março do ano passado, o presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), Max Mosley, foi vítima desse tipo de ação antiética. Um vídeo, em que ele aparece em cenas sadomasoquistas de temática nazi com algumas mulheres, foi divulgado na Internet, pelo tablóide inglês News of The World, e virou um escândalo total.

Mosley foi várias vezes ameaçado de demissão e afirmou que a revelação devastou sua família. De qualquer forma, conseguiu dar a volta por cima, assumiu suas preferências e até conseguiu processar o jornal por invasão de privacidade. Segundo o presidente da FIA, a divulgação das imagens foi obra de alguém da área do motor a fim de desestabilizá-lo.

Naturalmente, o outing político nada tem a ver com esse tipo de ação mercantilista e de má-fé. Ele é estritamente destinado aos hipócritas que, embora membros de uma comunidade estigmatizada, usam dos estigmas que a afetam para atacar indivíduos dessa mesma comunidade ou para, ao combater a luta pelos direitos dessa comunidade, usufruir de benesses pessoais. O outing dessas pessoas é, nessas circunstâncias, como afirma o ativista Peter Tatchell, da aguerrida organização inglesa OutRAge, a quem devo muitas das idéias desse artigo, uma potente técnica de autodefesa queer.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Maysa, Quando Fala o Coração

A minissérie Maysa, Quando Fala o Coração, está bombando no IBOPE. Não pude deixar de segui-la, como a maioria (É, de vez em quando, eu me afino com a maioria), e curtir a trajetória dessa mulher tão intensa, bela e sofrida.

Ainda não tenho uma avaliação bem clara da série, pois está em seus primeiros capítulos, mas venho apreciando a história. Alguns atores me parecem um pouco empostados, dando um ar de documentário à série mais do que de narrativa dramática simplesmente.

A Larissa Maciel, que interpreta Maysa, me pareceu também um pouco forçada a princípio, mas agora, já no quarto capítulo, acho que começou realmente a encarnar a diva. Só seus esforços para emular a cantora já valem um bom conceito. Deve ter ficado muito tempo (dizem que 8 meses) assistindo os vídeos da Maysa para imitar seus trejeitos.

Mas eu não sabia que a Maysa, além de beber que nem um gambá (de onde saiu essa expressão?), armava também tantos escândalos e barracos. Já andam dizendo que ela foi a versão alcoólica e brasileira da Amy Winehouse...rsss que também capricha na maquiagem carregada nas pálpebras.

O fato é que a mulher emplacou muitos sucessos dor-de-cotovelo e de fossa, como se dizia, deixando indeléveis, na memória coletiva, os hits Ouça e Meu Mundo Caiu. Como não há nesse mundo quem, em fase adulta, não tenha curtido uma dor de amor, dá para entender o porquê do sucesso de ontem e de hoje da cantora.

Historicamente falando, a aproximação da Maysa da bossa nova, via o amante Ronaldo Bôscoli, também é interessante de se ver. A bossa nova vai desanuviar os ouvidos e a paisagem da música brasileira. Tudo fica light, mesmo quando a letra tem tom menor. A imagem da mulher passa de fatal destruidora de homens, dos sambas-canção do Lupicínio e outros, à musa (olha que coisa mais linda, mais cheia de graça...), o amor perde as tintas carregadas e os fins-de-caso não dão mais vontade de se pendurar no lustre.

Mas os anos 50, 60 e 70, de diferentes formas, foram mesmo as décadas do excesso, bossa-nova à parte. Era como se muita energia reprimida tivesse explodido em muitas contravenções, contraculturas, rebeldias meio autofágicas de toda uma coletividade. Maysa foi apenas um de seus produtos de boa qualidade. É bom revê-la e ouvi-la de novo, como no vídeo abaixo, quando esteve no Japão, cantando Manhã de Carnaval.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Baila Comigo: Dança de Salão para o público LGBT

Conheci Giovane Salmeron durante as comemorações do Dia do Orgulho Lésbico (19 de agosto) de 2006, quando ele ministrou uma aula de dança de salão para as participantes do evento, introduzindo-as nos primeiros passos do mambo e do bolero, culminando com um arretado forró. Após uma hora e meia de bailado, todas estavam suadas e exaustas, mas com sorrisos radiantes pela dinâmica e a diversão da atividade.

Em outubro de 2008, Giovane abriu seu próprio espaço em São Paulo onde também desenvolve o projeto Duco et Ducitur (do latim “conduzo e sou conduzido”) para o público LGBT. Como ele disse - e eu concordo -, "A Dança, enquanto prática social, nos dá a sensação de pertencimento e estabilidade de que tanto precisamos e merecemos."

Entrevistei Giovane para o site da Um Outro Olhar e convido a tod@s para ler a entrevista:
http://www.umoutroolhar.com.br/entrevistas_bailacomigo.htm

domingo, 4 de janeiro de 2009

A revolução do garfo: uma revolução sem sangue!

Nos últimos anos, na América Latina, temos tido a ascenção dos populismos de esquerda, daquela esquerda tradicional, arcaica, que acredita em revolução comunista, socialista e ditaduras do proletariado. Daquela esquerda que, nos países em que se instalou, no século passado, produziu regimes totalitários e milhões de mortos nas suas chamadas revoluções.

O vídeo abaixo, contudo, fala de um outro tipo de revolução: da revolução do garfo, sem uma gota de sangue. Uma revolução acessível a cada um(a) de nós, bastando um pouco de consciência e compaixão. Poderíamos dizer: mude sua alimentação e salve o planeta!

A proposta vegetariana hoje se baseia em 3 pilares:

1) a questão ética (ou comer com o mínimo de crueldade):
Se nós, seres humanos, não somos carnívoros e sim onívaros, ou seja, comemos de tudo, podendo viver sem carne, temos o direito de matar animais para produzir alimento, considerando o imenso sofrimento que tal escolha causa a seres que, como nós, tem frio, tem fome, tem medo?

2) a questão da saúde:
O ciclo natural de vida dos animais de abate é totalmente detonado, pois eles não são vistos como seres vivos e sim produtos. São obrigados a ingerir hormônios e antibióticos, entre outras coisas, vivem confinados e sofrem barbaridades até serem mortos. Quem come carne ingere todas essas drogas e todo esse sofrimento.

3) a questão ambiental:
Para criar pasto para os animais de abate e para produzir alimento para eles, milhares de hectares de floresta virgem são derrubados, destruindo o habitat natural de várias espécies, o que também contribui com o aquecimento global. O que se produz de comida, para alimentar o gado, daria, se fosse fornecido diretamente aos humanos, para acabar com a fome no mundo. Esses animais, com suas fezes, também poluem o solo e as águas e até com seu puns afetam a camada de ozônio.

Já há quem diga que, para ter um futuro, a humanidade terá que compulsoriamente deixar de comer carne, pois o planeta não aguentará por muito tempo o sistema de alimentação que temos atualmente.

Não precisamos esperar por esse dia. Podemos começar essa revolução agora, mudando progressivamente nossos hábitos alimentares. O vídeo abaixo fala um pouco de tudo isso com mais propriedade.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Passado, presente, futuro!

Me interessei pelo Budismo tempos atrás - já faz um tempo – meio por acaso meio por destino (quem sabe?). O primeiro mel que atraiu a abelha existencialmente indagadora foi o filme O Pequeno Buda, do Bertolucci. À parte a beleza do filme em si mesmo – que recomendo - e mais do que a trajetória "maravilhosa" do Sidarta Gautama, do nascimento à Iluminação, o que mais me impressionou foi a forma como morre o monge tibetano, que busca, no roteiro, em algumas crianças, seu mestre renascido.

Ele vinha doente e tinha como sua última missão encontrar a criança em que reconheceria seu mestre. Como o mestre era brincalhão, 3 crianças mostraram suas características, e o monge as apresentou (as crianças), em seu monastério, como o lama renascido. Cumprida sua missão, ele sentou para meditar e se foi, sem drama, como se estivesse apenas dormindo.

Fiquei impressionada, pensando se realmente alguém poderia morrer assim, tão placidamente. Tempos depois comprei um livro chamado Conhecimento da Liberdade, sem reparar que era de outro monge tibetano. Gostei do livro, das questões que abordava e me dei conta, ao fim, de que as idéias levantadas pelo autor refletiam sua formação budista. Curiosa, passei a ler sobre o Budismo, suas diferentes escolas, e, por fim, acabei indo parar num templo Zen no bairro da Liberdade, em São Paulo capital, por indicação de uma conhecida.

E foi com o Zen que acabei me relacionando mais intimamente, apesar de inúmeras idas e vindas, intermitências que por certo não contribuíram para minha imagem na avaliação da mestra. Apesar de discípula um tanto indisciplinada do zen-budismo (o que não deixa de ser uma ironia), as idéias budistas calaram fundo em minha mente e mudaram muita coisa na minha maneira de ver o mundo, a sociedade, as pessoas, a vida.

Mais para ser vivido do que entendido, o Zen é prático, não teórico, tanto que busca desligar o piloto automático, em que a maioria de nós leva a vida, não só através da meditação propriamente dita mas também da sacralização de todo o cotidiano. Sua proposta, como a de todo o Budismo, é de que se viva a vida aqui e agora porque o presente é o único tempo real de que dispomos. Fácil de dizer, dificílimo de fazer, tal proposição encerra, contudo, uma sabedoria que se aplica a todo mundo, independente de sexo, etnia, orientação sexual ou seja qual for a especificidade.

Por isso, para começar o ano, resolvi transcrever aqui uma das anedotas filosóficas Zen (que é pródigo nelas) que mais expressam essa verdade, verdade que, se apreendida, poderá fazer de nossos 2009 um ano bem melhor do que os anteriores.

Um dia, caminhando pela selva, um homem encontrou um tigre feroz.

Ele correu, mas logo chegou à beira de um penhasco. Descendo por um cipó, viu outro tigre lá embaixo.

Então apareceram dois ratos e começaram a roer o cipó...
Subitamente, ele viu um morango maduro e apetitoso.

Ele o colheu e colocou na boca...

Delicioso!

Não viva no passado. Não se preocupe com o futuro. Aproveite o momento. Ser feliz é agir conforme as circunstâncias, sejam elas quais forem.
Feliz 2575!

Imagem e texto: Zen em Quadrinhos, Tsai Chih Chung, Ediouro, 3 edição.

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