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Quando Deus era mulher:

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Aserá,

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terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Lista da BBC Culture dos 100 melhores filmes realizados por mulheres

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O Piano (1003) de Jane Campion, primeiro lugar entre os 100 filmes de diretoras (ver abaixo)
A BBC Culture lançou uma lista dos 100 melhores filmes realizados por mulheres. Desta lista resultou uma análise internacional de especialistas em cinema onde participaram 368 críticos, académicos, figuras da indústria e programadores de cinema de 84 países diferentes.

“Cléo das 5 às 7” – [Cléo de 5 à 7, França, 1962]
O filme mais votado por “The Piano” (1993), de Jane Campion, que obteve 43,5% dos votos dos críticos.
Os críticos votaram em 761 filmes diferentes no total. Agnès Varda foi a realizadora mais popular em termos de número de filmes, com 6 filmes entre os 100 melhores, seguida por Kathryn Bigelow, Claire Denis, Lynne Ramsay e Sofia Coppola.
É com satisfação que apresentamos a maior e mais internacional lista de críticos de cinema da BBC Culture”, disse Rebecca Laurence, editora da BBC Culture. “Ficámos impressionados com a enorme resposta: 368 críticos, académicos, figuras da indústria e programadores de filmes de 84 países diferentes. E temos o prazer de informar que o número de votantes é equilibrado em termos de sexo, com um número ligeiramente maior de mulheres do que homens. Esperamos, como sempre, que esta lista provoque debates e inspire a descoberta da maravilhosa e diversificada coleção de filmes criados por mulheres ao longo da história do cinema.”, acrescentou a editora.
A análise mostra ainda que a maioria dos 100 melhores filmes são das décadas de 1990 e 2000. Os anos mais populares são 1999, 2008 e 2017, com cinco filmes cada. Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Itália, Bélgica, Canadá, Japão foram os países mais populares.

Lista completa:

100. The Kids are All Right (Lisa Cholodenko, 2010)
99. The Souvenir (Joanna Hogg, 2019)
98. Somewhere (Sofia Coppola, 2010)
97. Adoption (Márta Mészáros, 1975)
96. The Meetings of Anna (Chantal Akerman, 1977)
95. Ritual in Transfigured Time (Maya Deren, 1946)
94. News From Home (Chantal Akerman, 1977)
93. Red Road (Andrea Arnold, 2006)
92. Raw (Julia Ducournau, 2016)
91. White Material (Claire Denis, 2009)
90. Fast Times at Ridgemont High (Amy Heckerling, 1982)
89. The Beaches of Agnes (Agnès Varda, 2008)
88. The Silences of the Palace (Moufida Tlatli, 1994)
87. 35 Shots of Rum (Claire Denis, 2008)
86. Wadjda (Haifaa Al-Mansour, 2012)
85. One Sings, The Other Doesn’t (Agnès Varda, 1977)
84. Portrait of Jason (Shirley Clarke, 1967)
83. Sleepless in Seattle (Nora Ephron, 1993)
82. At Land (Maya Deren, 1944)
81. A Girl Walks Home Alone at Night (Ana Lily Amirpour, 2014)
80. Big (Penny Marshall, 1988)
79. Shoes (Lois Weber, 1916)
78. The Apple (Samira Makhmalbaf, 1998)
77. Tomboy (Céline Sciamma, 2011)
76. Girlhood (Céline Sciamma, 2014)
75. Meek’s Cutoff (Kelly Reichardt, 2010)
74. Chocolat (Claire Denis, 1988)
73. On Body and Soul (Ildikó Enyedi, 2017)
72. Europa Europa (Agnieszka Holland, 1980)
71. The Seashell and the Clergyman (Germaine Dulac, 1928)
70. Whale Rider (Niki Caro, 2002)
69. The Connection (Shirley Clarke, 1961)
68. Eve’s Bayou (Kasi Lemmons, 1997)
67. The German Sisters (Margarethe von Trotta, 1981)
66. Ratcatcher (Lynne Ramsay, 1999)
65. Leave no Trace (Debra Granik, 2018)
64. The Rider (Chloe Zhao, 2017)
63. Marie Antoinette (Sofia Coppola, 2006)
62. Strange Days (Kathryn Bigelow, 1995)
61. India Song (Marguerite Duras, 1975)
60. A League of their Own (Penny Marshall, 1992)
59. The Long Farewell (Kira Muratova, 1971)
58. Desperately Seeking Susan (Susan Seidelman, 1985)
57. The Babadook (Jennifer Kent, 2014)
56. 13th (Ava DuVernay, 2016)
55. Monster (Patty Jenkins, 2003)
54. Bright Star (Jane Campion, 2009)
53. The Headless Woman (Lucrecia Martel, 2008)
52. Happy as Lazzaro (Alice Rohrwacher, 2018)
51. Harlan County, USA (Barbara Kopple, 1976)
50. Outrage (Ida Lupino, 1950)
49. Salaam Bombay! (Mira Nair, 1988)
48. The Asthenic Syndrome (Kira Muratova, 1989)
47. An Angel at my Table (Jane Campion, 1990)
46. Near Dark (Kathryn Bigelow, 1987)
45. Triumph of the Will (Leni Riefenstahl, 1935)
44. American Honey (Andrea Arnold, 2016)
43. The Virgin Suicides (Sofia Coppola, 1999)
42. The Adventures of Prince Achmed (Lotte Reiniger, 1926)
41. Capernaum (Nadine Labaki, 2018)
40. Boys Don’t Cry (Kimberly Peirce, 1999)
39. Portrait of a Lady on Fire (Céline Sciamma, 2019)
38. Paris is Burning (Jennie Livingston, 1990)
37. Olympia (Leni Riefenstahl, 1938)
36. Wendy and Lucy (Kelly Reichardt, 2008)
35. The Matrix (Lana and Lilly Wachowski, 1999)
34. Morvern Callar (Lynne Ramsay, 2002)
33. You Were Never Really Here (Lynne Ramsay, 2017)
32. The Night Porter (Liliana Cavani, 1974)
31. The Gleaners and I (Agnès Varda, 2000)
30. Zama (Lucrecia Martel, 2017)
29. Monsoon Wedding (Mira Nair, 2001)
28. Le Bonheur (Agnès Varda, 1965)
27. Selma (Ava DuVernay, 2014)
26. Stories we Tell (Sarah Polley, 2012)
25. The House is Black (Forugh Farrokhzad, 1963)
24. Lady Bird (Greta Gerwig, 2017)
23. The Hitch-Hiker (Ida Lupino, 1953)
23. We Need to Talk About Kevin (Lynne Ramsay, 2011)
21. Winter’s Bone (Debra Granik, 2010)
20. Clueless (Amy Heckerling, 1995)
19. Orlando (Sally Potter, 1992)
18. American Psycho (Mary Harron, 2000)
17. Seven Beauties (Lina Wertmüller, 1975)
16. Wanda (Barbara Loden, 1970)
15. The Swamp (Lucrecia Martel, 2001)
14. Point Break (Kathryn Bigelow, 1991)
13. Vagabond (Agnès Varda, 1985)
12. Zero Dark Thirty (Kathryn Bigelow, 2012)
11. The Ascent (Larisa Shepitko, 1977)
10. Daughters of the Dust (Julie Dash, 1991)
9. Fish Tank (Andrea Arnold, 2009)
8. Toni Erdmann (Maren Ade, 2016)
7. The Hurt Locker (Kathryn Bigelow, 2008)
6. Daisies (Věra Chytilová, 1966)
5. Lost in Translation (Sofia Coppola, 2003)
4. Beau Travail (Claire Denis, 1999)
3. Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles (Chantal Akerman, 1975)
2. Cléo from 5 to 7 (Agnès Varda, 1962)
1. The Piano (Jane Campion, 1993)

Clipping BBC divulga lista dos 100 melhores filmes realizados por mulheres, Comunidade Cultura e Arte, 01/12/2019

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Oito filmes protagonizados por mulheres para ver na Netflix


Dicas de filmes no Netflix onde as mulheres são as protagonistas. Vale conferir.

The Girl on the Train

Emily Blunt em “A Garota no Trem” (Imagem: reprodução)
Emily Blunt estrela esse thriller baseado em obra homônima que acompanha a vida de uma alcoólatra recém-divorciada que não lida muito bem com a própria vida após a separação, caindo numa espiral depressiva, incapaz de manter um emprego ou lidar com a solidão. Pouco a pouco, vamos descobrindo mais sobre seu passado, o de seu marido e das pessoas que compõem o novo núcleo familiar, tanto do ex quanto da personagem principal. Este é um filme para aquelas que amaram “Gone Girl” (“Garota Exemplar”) e que amam um bom suspense psicológico e mulheres representadas de maneira excepcionalmente em suas falhas e vulnerabilidades.

Gone Girl
Rosamund Pike em “Garota Exemplar” (Imagem: reprodução/Netflix)
“Garota Exemplar“, título com o qual chegou ao Brasil, retrata o desaparecimento de Amy Dunne e a busca pelo seu paradeiro liderada por seu marido, com a investigação tomando rumos inesperados. Dirigido por David Fincher, esse filme é muito popular e vale a audiência. Se já o assistiu, vale muito a repetição.

Rosamund Pike carrega a película do começo ao fim, numa atuação pela qual foi indicada ao Oscar, Globo de Ouro e Critics Choice Awards, além de várias outras premiações no ano de 2015.

Annihilation
Gina Rodriguez, Tessa Thompson, Tuva Novotny, Natalie Portman e Jennifer Jason Leigh
(Imagem: divulgação/Paramount Pictures/Netflix)
Outro filme extraído das páginas de um livro, “Annihilation” (“Aniquilação”) segue a trilogia de Jeff Vandermeer, que conta sobre a descoberta de uma área protegida pelo governo: quem vai lá explorar, nunca retorna, e quem consegue, sempre deixa uma parte de si para trás. O filme faz algumas modificações no material do livro, mas não fica aquém dele.

É uma ficção científica bem elaborada, com protagonismo feminino em peso e um elenco notável: Natalie Portman é a protagonista e a equipe que lhe acompanha para a área desconhecida é composta por Tessa Mae Thompson, Jennifer Lason Leigh e Gina Rodriguez. Oscar Isaac faz o ex-marido de Portman. Quem gosta de elementos de ficção científica e reflexões sobre a humanidade e o que significa ser humano não pode perder esse filme.

RAW
Garance Marillier em “Raw” (Imagem: reprodução)
Não é para quem tem estômago fraco. “RAW” celebra o horror contando a história de Justine, uma estudante de veterinária que começa a mudar seu comportamento após o ingresso na faculdade, onde se envolve numa espiral canibalista e de vampirismo. Além de protagonizado por uma mulher, o filme também é dirigido por outra, Julia Ducournau, em estreia eficiente atrás da câmara.

“RAW” pode ser visto como um filme de horror gore ou metáfora sobre um dos períodos mais transformadores na vida de alguém, destoando da postura rudimentar normalmente agregada ao gênero. Um filme repleto de simbologia e feito de forma bem competente.

Loja de Unicórnios
Brie Larson em “Loja de Unicórnios” (Imagem: divulgação/Netflix)
Brie Larson nos leva ao seu coming of age, mas para aqueles perto dos seus 30 anos: um drama com adições de romance, mas cujo coração mora no cerne dramático mesmo. Idealizado e dirigido por Larson, ela também dá vida à protagonista, uma mulher expulsa da Academia de Artes que precisa retornar para a casa dos pais, sentindo-se descrente na própria capacidade e sem rumo algum na vida.

A obra dialoga perfeitamente com os apaixonados por criação, amantes da escrita, das artes e do meio cultural, mas também fala a qualquer pessoa que tenha tido um sonho e foi derrubada pela vida. Vemos a saga da protagonista e sua vida indo do multicolorido ao cinza. Também assistimos a abordagem de temas como  a descoberta do amor, o assédio em ambiente de trabalho, o sexismo e reconexão com a própria família.

I Am Mother
Cena de “I Am Mother” (Imagem: divulgação/Netflix)
“I Am Mother” é protagonizado por figuras femininas e envolve elementos de tecnologia, humanidade, ciência e inteligência artificial. Tudo se mistura num cenário pós-apocalíptico onde ninguém tem nome. Mesmo a protagonista tem apenas o nome de “Filha”. Os outros personagens também levam alcunhas não personalizadas.

No resumo da Netflix, vemos que “a humanidade foi dizimada e o futuro recomeça com uma garota e um robô que ela chama de mãe”. A relação entre mãe e filha é abordada conforme vamos descobrindo mais sobre o universo, o que levou ao fim da sociedade, como ela era e as possibilidades de reconstrução. As atrizes Clara Rugaard-Larsen e Hilary Swank conseguem manter a atenção dos expectadores, apesar do isolamento do cenário.

A Gente Se Vê Ontem

Eden Duncan Smith e Danté Crichlow em cena de “A Gente Se Vê Ontem”
 (Imagem: divulgação/Netflix)
Produzido por Spike Lee e dirigido por Stefon Bristol, "A gente se vê ontem" apresenta dois pré-adolescentes de inteligência superaguçada tentando provar que viagem no tempo é possível. Eles conseguem o feito, mas a princípio, o avanço é pouco – voltam apenas 24 horas no passado. A história se desenrola de fato quando o irmão da protagonista acaba sendo morto por dois policiais brancos, e ela convence seu amigo a voltar no tempo para tentar salvar o parente amado. Ambos embarcam nessa jornada mesmo cientes de que mudar os acontecimentos pode acabar afetando o presente de modo inesperado.

Durante o longa, as diversas tentativas frustradas da dupla refletem sobre escolhas, consequências, num misto de ficção científica e drama emocional. A mensagem principal é sobre resistir contra as adversidades, mesmo contra tudo. Existe também crítica à violência policial e contra o racismo. “A Gente Se Vê Ontem” funciona bem para quem gosta da temática de ficção científica e quer assistir o protagonismo de jovens negros, com destaque para a atriz principal.

February
Kiernan Shipka em cena de “February”, título em português (Imagem: divulgação/Netflix)
Estrelado por Kiernan Shipka, Emma Roberts e Lucy Boynton, “Enviada do Mal” se passa num instituto exclusivo para garotas e garante um clima mórbido e frio do começo ao fim do filme. Trata-se de um terror sem sustos e reações forçadas, levado por sua narrativa de suspense, com foco nas atuações das protagonistas.

Típico terror psicológico, de ar sombrio e  estilo fragmentado, criando um cenário de quebra-cabeças com perguntas provocativas até o final da projeção. “February” mantém o mistério até o terceiro ato, sendo muito indicado para os amantes do terror ou de apenas contos misteriosos cujas respostas podem ou não ser respondidas.

Com informações de Delirium Nerd, por Nathalia de Morais,  09/08/2019

quinta-feira, 18 de julho de 2019

A obra cinematográfica de Agnès Varda em 10 filmes

Cineasta belga Agnès Varda
Nome fundamental da nouvelle vague, cineasta influente na ficção e no documentário, única mulher a ganhar a Palma de Ouro honorária, primeira diretora a ganhar o Oscar pelo conjunto da obra. Estes são apenas algumas das muitas formas de tentar definir a carreira da belga Agnès Varda (1928-2019)

Mas o que pode definir melhor o trabalho da cineasta do que seus próprios filmes? Abaixo seguem dez longas-metragens que marcaram seus mais de 60 anos de carreira. E se estes dez títulos não bastam para resumir uma produção tão vasta, funcionam como uma bela porta de entrada para quem quer conhecer a obra de uma das mais importantes artistas da história do cinema. Confira:

“La Pointe Courte” – [França, 1954]
Um jovem casal visita a vila litorânea de La Pointe Courte, na França, enquanto tenta resolver os seus problemas e lidar com as mudanças que afeta o relacionamento. Aclamado como um dos precursores da nouvelle vague, um dos mais importantes movimentos cinematográficos.
“Cléo das 5 às 7” – [Cléo de 5 à 7, França, 1962]
Seriamente preocupada com a possibilidade de ter câncer, a cantora Cléo aguarda o resultado de uma biópsia. Durante duas horas, das cinco da tarde às sete da noite, ela anda pelas ruas de Paris, conversa em cafés e tenta encontrar algum tipo de paz antes de buscar os exames. Estrelado por Corinne Marchand.

“As Duas Faces da Felicidade” – [Le bonheur, França, 1965]
François é um jovem carpinteiro que parece levar uma vida perfeita ao lado da mulher e dos filhos. Seus dias se dividem entre o trabalho na marcenaria, piqueniques no campo e momentos tranquilos em casa. Mas tudo muda quando ele conhece Emilie, uma funcionária dos correios.

“Uma Canta, a Outra Não” – [L’Une Chante, L’autre pas, França, 1977]
Na Paris dos anos 1960, duas mulheres se tornam amigas: Pomme, aspirante a cantora, e Suzanne, que está grávida e não tem condições de ter um terceiro filho. Pomme empresta a Suzanne o dinheiro para um aborto ilegal e as duas perdem contato. Uma década depois, elas se encontram em uma manifestação.

“Os Renegados” – [Sans toit ni loi, França, 1985]
Durante um rigoroso inverno, o corpo de uma jovem é encontrado congelado em um fosso no sul da França. Por meio de flashbacks e entrevistas, o filme revela os eventos que levaram à trágica morte da garota. Ganhador do Leão de Ouro no Festival de Veneza. Estrelado pela atriz Sandrine Bonnaire.

“Jane B. por Agnès V.” – [Jane B. par Agnès V., França, 1987]
Distanciando-se do formato tradicional das cinebiografias, a diretora constrói Jane B. por Agnès V. como um caleidoscópico de momentos diversos. Nestes fragmentos, a atriz, cantora e ícone fashion Jane Birkin, na época completando 40 anos, interpreta diferentes personagens e, também, a si mesma.

“Jacquot de Nantes” – [França, 1991]
Uma evocação à infância do diretor e roteirista francês Jacques Demy (1931-1990), com quem Agnès Varda foi casada durante quase três décadas. O filme mostra o fascínio do jovem Demy pelo espetáculo, as descobertas do contato com a primeira câmera e sua vocação para o cinema e os musicais.

“Os Catadores e Eu” – [Les glaneurs et la glaneuse, França, 2000]
Neste documentário, Varda compõe um retrato da sociedade francesa viajando pelo país para entrevistar e retratar a vida de diferentes tipos de catadores – dos que trabalham no campo retirando o que sobrou após a colheita aos que atuam nas ruas de Paris em busca do que foi descartado por outras pessoas.

“As Praias de Agnès” – [Les plages d’Agnès, França, 2008]
Uma autobiografia de Agnès Varda no momento em que ela completa 80 anos. A diretora conta sua história e explora suas memórias usando uma variedade de materiais e formatos: fotografias, cenas de filmes, entrevistas, encenações e mais. Premiado como melhor documentário no César.

“Visages, Villages” – [França, 2017]
Varda e JR têm em comum a paixão por imagens e o questionamento sobre como são compartilhadas. Agnès escolheu o cinema; JR, criar galerias ao ar livre. A bordo de um caminhão fotográfico, eles viajam pela França fazendo retratos e ouvindo histórias. Indicado ao Oscar de documentário.

Clipping 10 filmes para conhecer o cinema de Agnès Varda, de Luísa Pécora,  Mulheres no Cinema, 30/05/2018

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Westworld impacta ao simular samurais de Akira Kurosawa no 5º episódio da segunda temporada

Atriz japonesa Rinko Kikuchi como a gueixa Akave
Nosso patrício Rodrigo Santoro acertou quando disse que o quinto episódio da segunda temporada de Westworld, Akane No Mai, seria o melhor da temporada. Homenagearam o grande diretor japonês Akira Kurosawa, resgatando o Japão feudal e seus samurais e ninjas, no Shogun World, com produção caprichada e a linda atriz japonesa Rinko Kikuchi fazendo uma gueixa que é uma espécie de alter ego da protagonista Maeve. Botaram até o samurai dos samurais, o Musashi, na história, que, por sua vez, vira alter ego do Hector (personagem do Rodrigo Santoro). É que - ficamos sabendo - os criadores das narrativas dos androides repetem as histórias nos diferentes mundos do parque.

Mais violento do que o parque do faroeste, o Shogun World esbanja sangue e pedaços decepados pra lá e pra cá, em cenas de muita ação, mas os dois pontos altos do episódio são a dança que a gueixa Akane (Rinko Kikuchi) faz para o Shogun ou xogum em português (chefe militar e senhor feudal) e as questões existenciais dos androides em seu processo de tomada de consciência. As falas da Maeve, a ex-cafetina, com a gueixa Akane, em torno do amor das duas respectivamente por suas filha e protegida, foram pura emoção.



Música da cena da dança:C.R.E.A.M. - Ramin Djawadi,
Gravada originalmente por Wu-Tang Clan

A saga das duas androides Dolores e Maeve por poder, amor e liberdade
O episódio deixa claro também a consolidação da saga das duas androides que tomam consciência de sua condição e se rebelam contra o domínio humano:

Dolores que, quando programada, era a boazinha de plantão, vive agora com o desejo de vingança e poder. Sabe-se superior aos humanos e quer dominar os parques e o mundo fora deles. Nesse processo vem se abrutalhando e exigindo o mesmo dos que a seguem.

Maeve que, quando programada, era a cafetina do bordel de Westworld, hoje é movida pelo desejo de amor e liberdade. Busca a filha nos mundos dos parques e, a cada episódio, se torna mais consciente de suas capacidades e poder. A atriz Thandie Newton está dando show na pele da Maeve.

O episódio do Shogun World, recriando o Japão feudal, com atores japoneses, falado em japonês, mostra que, tanto na produção quanto no roteiro, Westworld ganha de outras séries em sofisticação visual e de conteúdo. A manada, acostumada com os clichês das outras séries e suas obviedades, não entende o que vê e acha chato.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Documentário sobre a história da democracia

O Nascimento da Democracia e como seus princípios foram ou não colocados em prática em seu berço, Atenas, na Grécia Antiga. Vídeo ao fim do texto.

Considerada a matriz da democracia moderna, a democracia ateniense vigorou por muitos anos após a instauração de sua forma primitiva com as reformas de Sólon por volta dos anos 590 a.C. Embora a democracia possa ser definida como "o governo do povo, pelo povo e para o povo", é importante lembrar que o significado de "governo" e "povo" na Atenas Antiga difere daquele das democracias contemporâneas. Enquanto a democracia contemporânea em geral considera o governo um corpo formado por representantes eleitos, e o "povo" (geralmente) como um conjunto de cidadãos próprios de uma nação, homens e mulheres, acima dos 18 anos, os atenienses consideravam o "governo" como sendo a assembleia (eclésia) que tomava decisões diretamente (sem intermédio de representantes) e o "povo" (geralmente) como os homens atenienses maiores de 21 anos.

Tradicionalmente, a trajetória política da democracia ateniense é remontada a Sólon. Segundo os autores gregos, Sólon era um reformador que teria ampliado o poder da Assembléia popular da cidade, além de ter criado a Bulé, um conselho formado por quinhentos homens atenienses escolhidos por sorteio. Clístenes, um reformador que foi descrito pelos autores clássicos como o “pai” da democracia ateniense, outorgou um poder ainda maior ao corpo de cidadãos atenienses, isto é, os homens atenienses (de pai e mãe atenienses) maiores de trinta anos. No seu auge, a democracia ateniense consistia, basicamente, na soberania da assembléia popular, na qual todos os cidadãos tinham direitos iguais de voto e fala, a despeito de suas condições econômicas ou de sua instrução. A assembléia ateniense decidia virtualmente tudo na democracia ateniense. Os maiores oficiais do estado, os estrategos, eram eleitos para permanecer no cargo por apenas um ano, e não havia possibilidade de reeleição. Quase todos os outros cargos públicos da pólis eram preenchidos por cidadãos escolhidos por sorteio, de forma que todos os atenienses eram obrigados a participar da vida política da cidade. Com efeito, os gregos acreditavam que o método de escolha pela sorte era essencialmente democrático, enquanto as eleições baseavam-se num princípio aristocrático: a escolha dos “melhores”.

O conselho dos quinhentos era uma instituição política responsável por administrar eventos públicos e organizar as reuniões da assembléia popular. Esse conselho também era formado por cidadãos escolhidos aleatoriamente de acordo com um sistema estabelecido pelo próprio Sólon. Os cargos eram rotativos e os membros do conselho duravam apenas um ano no cargo. Outra célebre instituição política da democracia ateniense era o conjunto dos júris populares (δικαστήρια). Não havia nada que se assemelhasse a um juiz na democracia ateniense. Os casos de ofensa, sacrilégio, “inconstitucionalidade” e outros crimes eram julgados por um júri escolhido à sorte dentre um grupo de cidadãos que se candidatava para esse serviço. Os litigantes realizavam sua defesa ou acusação sem auxílio de “advogados” e aguardavam uma decisão peremptória dos jurados.

Os gregos foram o primeiro povo a pensar formalmente a democracia como um regime político, mas há evidências da existência de práticas democráticas em outras sociedades mais antigas. De qualquer forma, como disse o historiador Moses I. Finley,
...foram os gregos que descobriram não apenas a democracia, mas também a política – a arte de decidir através da discussão pública – e, então, de obedecer às decisões como condição necessária da existência social civilizada. Não pretendo negar a possibilidade de que houvesse exemplos anteriores de democracias, as chamadas democracias tribais, por exemplo, ou as democracias na antiga Mesopotâmia, que alguns assiriologistas acreditam poder reconstituir através de investigação. Quaisquer que possam ser os fatos sobre estas últimas, eles não tiveram impacto histórico algum nas sociedades mais recentes. Os gregos, e apenas os gregos, descobriram a democracia nesse sentido; exatamente como Cristóvão Colombo, e não algum navegador viking, descobriu a América.  —Moses I. Finley
A democracia ateniense era direta, e nisso se diferencia de nossas democracias modernas. Segundo o historiador Morgens Herman Hansen, “Nos estados modernos, temos a tendência de associar o poder executivo e o governo ao Estado, ao invés de associá-lo ao povo; mas, em uma pólis democrática, particularmente em Atenas, os órgãos do governo coincidiam amplamente com o corpo de cidadãos.”Sabemos, contudo, que a democracia ateniense marginalizava vários habitantes da pólis, como escravos e mulheres. Com efeito, pode-se dizer que de um total de 430.000 habitantes atenienses (contando mulheres e metecos), apenas 60 mil gozavam do benefício da cidadania.
Fonte: Wikipedia, A história da Democracia      


quarta-feira, 12 de agosto de 2015

"The Only Thing Worth Fighting For", trilha sonora da segunda temporada de True Detective, foi o melhor da série


A segunda temporada de True Detective (HBO) terminou no domingo com a morte dos protagonistas e a sobrevivência das protagonistas (viés feminista?). Teve altos e baixos, com bons intérpretes prejudicados por um roteiro confuso e excesso de personagens. De tudo, destacou-se uma das canções da trilha sonora, The Only Thing Worth Fighting For, de Lera Lynn, cantora que mistura blues, pop e country numa levada bela e melancólica. A música foi feita especialmente para a série e ilustra bem o clima dark da história, das relações entre os personagens (incluindo o amor possível), seus conflitos, seu desamparo. Fica o registro, letra e música, porque triste mas linda.



The Only Thing Worth Fighting For

Waking up is harder
Than it seems
Wandering through these empty rooms of
Dusty books and quiet dreams
Pictures on a mantel
Speak your name
Softly like forgotten tunes just
Outside the sound of pain

Weren't we like a pair of thieves
With tumbled locks and broken codes
You cannot take that from me
My small reprieves your heart of gold
Weren't we like a battlefield
Locked inside a holy war
Your love and my due diligence
The only thing worth fighting for

Change will come to those who
Have no fear
But I'm not her, you never were
The kind who kept a rule book near
What I said was never
What I meant
And now you've seen my world in flames my
Shadow songs my deep regrets

Weren't we like a pair of thieves
With tumbled locks and broken codes
You cannot take that from me
My small reprieves your heart of gold
Weren't we like a battlefield
Locked inside a holy war
Your love and my due diligence
The only thing worth fighting for

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Tura Satana estrela o clássico trash "Faster, Pussycat! Kill! Kill!" de Russ Meyer

Os filmes B ou trash (lixo), em termos de orçamento e qualidade, focando temas bizarros, também viraram cult e ganharam fãs como o diretor americano Quentin Quarantino que inclusive os homenageou com o projeto “Grindhouse” em parceria com Robert Rodriguez. Grindhouses eram os "cinemas americanos baratos que apresentavam dois filmes do tipo 'baixo orçamento mesmo' em sequência, com o valor de apenas um ingresso." (Cinéfilos)

O filme "Faster, Pussycat! Kill! Kill!", de Russ Meyer, é um desses clássicos dos filmes B que viraram cult, também por causa da protagonista Tura Satana que chegou a namorar Elvis Presley e foi uma precursora das mulheres badass (durona, fodona, de atitude) no cinema.

A sinopse abaixo é do próprio vídeo que editei porque estava muito B. Também não precisamos exagerar, né mesmo?

Elas são ágeis! Elas são sexy! Elas são mortais! No deserto californiano, três strippers em carros esportivos, após um racha com um casalzinho ingênuo, acabam matando o rapaz e sequestrando a garota. 

Em um posto de gasolina uma das garotas toma conhecimento de uma bolada de dinheiro guardada por um velho deficiente físico que mora com dois filhos, um deles demente. Usando a garota sequestrada como isca para se aproximar do rancho do velho e colocar a mão na bolada, a stripper Varla (Tura Satana) e as outras controladas por ela tentam seduzir o velho e os filhos com o intuito de encontrar o dinheiro. 

Comentário: É um dos melhores Exploitation films já feitos.Tem de tudo: corridas, strippers em fúria, Elvis genérico, deserto e mulheres detonando todo mundo. Um filme, estrelado pela diva Tura Satana, também protagonista de Astro Zombies, que consegue prender sua atenção durante todo o tempo. Dirigido por Russ Meyer, lorde dos filmes Exploitation e Sexploitation,  este é  seu filme mais conhecido, um clássico do Grindhouse que com certeza inspirou Quentin Tarantino em suas produções.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

'Violette', homenagem a uma mulher libertária


'Violette' contribui para a discussão de ideias

Longa inspira-se na relação de Violette Leduc e Simone de Beauvoir

Há um momento de Violette, o longa de Martin Provost ainda em cartaz na cidade, em que Emmanuelle Devos, na pele da protagonista, a escritora Violette Leduc, confessa que se sente feia. A ausência de beleza, o fato de não ter um corpo desejado, é uma fonte de amargura que se soma ao desencanto geral de sua vida. Violette foi abandonada na infância, cresceu ignorada pela mãe. O que a salva é a amizade de Simone de Beauvoir e, claro, a própria inteligência. Violette escreve, Simone, a autora de O Segundo Sexo e outros livros que pavimentaram a via da libertação da mulher no século 20, a exorta a ousar.

Simone de Beauvoir é interpretada por Sandrine Kiberlain, atriz que integra o elenco de Amar, Beber, Cantar, último longa de Alain Resnais, também em cartaz nos cinemas. O Resnais, até por ser o canto do cisne de um grande realizador - o próprio Resnais não se considerava um autor, embora o fosse -, está tendo suas virtudes exageradas. Provost não é tão conhecido nem apreciado, mas é bom começar a prestar atenção nele. O cinema de ideias ganha uma contribuição importante em Violette.

Provost tem se interessado pelos destinos de mulheres libertárias. Depois de Séraphine, de 2008 - sobre a pintora Séraphine de Senlis, praticamente analfabeta, mas que foi reconhecida como grande artista, antes de cair na depressão -, a ligação de Simone de Beauvoir e Violette Leduc lhe permite revisitar a intelectualidade que mudou o pensamento literário francês. Com Simone e Violette, a cena se amplia para abarcar os existencialistas. Jean-Paul Sartre, Albert Camus, Jean Genet. Se a anatomia delimita o destino de Violette - Sigmund Freud -, a palavra a resgata. A palavra escrita, falada. Violette nunca desfrutou, em vida, do prestígio dos escritores citados, mas, a partir de sua morte, em 1972, tem sido cada vez mais considerada. A autora maldita é hoje vista como pioneira. Protofeminista, bissexual. Ravages, de 1955, foi censurado pela sexualidade explícita na descrição de uma relação lésbica. A parte deletada ganhou versão publicada em 1966 - e Thérèse et Isabelle inclusive virou filme (de Radley Metzger).

É verdade que Gertrude Stein já afrontara alguns desses tabus - e na França, como devem se lembrar os cinéfilos que viram (e amaram) Meia-noite em Paris, de Woody Allen -, mas o foco de Violette é particular, nesse território ultimamente tão frequentado (e minado) das biografias filmadas. O filme não tenta explicar a baixa autoestima de Violette por seus traumas infantis e problemas familiares. A figura permanece intencionalmente difusa para que o público se sinta tentado a preencher os vazios do relato.

O ambíguo vínculo/romance de Violette e Simone traz para a tela um debate que abarca vida e arte. Simone difere de Violette, e esse é um elemento de atração, não de repulsa. A diferença não é só física, porque a Simone de Sandrine também não é exatamente sedutora nem erotizante. Parece até espectral. O que as liberta é a palavra - a literatura. E aqui a diferença talvez seja maior ainda. Simone, via existencialismo, questiona formas e comportamentos. Como autora, é planejadora e até calculista. Violette escreve à flor de sua pele sensível. A consciência da rejeição exala a dor de seu texto, mas também o júbilo (a catarse?) da escrita. Violette é muito interessante.

Fonte: O Estado de São Paulo, por Luiz Carlos Merten, 12 de setembro 2014

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O Porteiro da Noite

Lançado em 1974, O Porteiro da Noite, da cineasta italiana Liliana Cavani, provocou muita polêmica e inclusive furor, entre judeus e feministas, ao retratar o ardente amor entre uma judia e um oficial da SS nazista.

A relação que começa em um campo de concentração, onde ele a salva da morte, recomeça em 1957, quando ela o reencontra como porteiro de um hotel em Viena. Longe de denunciá-lo às autoridades, como criminoso de guerra, ela volta aos seus braços, e eles retomam o relacionamento dos primeiros tempos.

Os amigos do porteiro, todos nazistas fugitivos, obviamente querem acabar com a testemunha de seu passado, passatempo a que se dedicam costumeiramente, mas o porteiro de novo tenta protegê-la, desta vez sem sucesso. Enfurnam-se num dos quartos do hotel onde vivem seu estranho amor até, já quase mortos de exaustão, saírem às ruas para serem obviamente mortos.

Mais do que um prato cheio para teorias psicanalíticas, dado o caráter sadomasoquista do relacionamento entre os personagens, O Porteiro da Noite transgride por mostrar que há mais entre vítimas e opressores do que sonha a vã filosofia do politicamente correto, nos fazendo pensar sobre a natureza da condição humana.

Ademais, o filme guarda uma cena para lá de sexy, ainda que decadente, chamada a cena bíblica pela referência à Salomé, onde Lucia Atherton (Charlotte Rampling, belíssima no filme) canta e dança para uma platéia de nazis embasbacados, incluindo seu amante, Maximilian Theo Aldorfer, interpretado por Dirk Bogarde. Veja abaixo. Fetiche puro. Para ver ou rever o filme todo, clique aqui.

Elenco
Dirk Bogarde (Maximilian Theo Aldorfer)Charlotte Rampling (Lucia Atherton)Philippe Leroy (Klaus)Gabriele Ferzetti (Hans)Giuseppe Addobbati (Stumm)Isa Miranda (Condessa Stein)Nino Bignamini (Adolph)Marino Masé (Atherton)Amedeo Amodio (Bert)Piero Vida (Day Porter)Geoffrey Copleston (Kurt)Manfred Freyberger (Dobson)Ugo Cardea (Mario)Hilda Gunther (Greta)Kai S. Seefeld (Jacob)
Esteve em exibição, em 2008,  no HSBC Belas Artes, mas volta e meia retorna em algum cinema. Também em DVD.



Reedição do original de 23/07/2008

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