Passeata contra a guitarra elétrica em 17 de junho de 1967 (SP) |
Há muito mais mistérios entre conservadores e esquerdistas socialistas do que sonham as vãs filosofias. Mudam os deuses, os profetas e os dogmas, mas o autoritarismo é o mesmo, a mania de querer impor seus credos e crenças pela goela da sociedade abaixo idem. E isso não é de hoje. No período do regime militar, antes do AI-5 (1968), a fase mais repressora da ditadura, havia até espaço para a liberdade criativa, e a juventude se dividia entre engajada e desbundada.
A engajada representava a esquerda ortodoxa com suas canções de protesto, seu nacionalismo (tão parecido com o dos militares), seu moralismo (tão parecido com o da direita) e sua breguice generalizada. A juventude desbundada era filha da contracultura, da revolução sexual, da política do corpo, do hippismo e sonhava em dormir no sleeping bag, fumar um baseado, enfim, seu negócio era apenas sexo, drogas e rock'n'roll. Se a engajada queria a ditadura do proletariado, a desbundada queria somente cair na estrada, morar em comunidade, pôr flores nos cabelos, e acreditar que a política podia ser feita com atos cotidianos e não com palavras de ordem e fuzis.
Essas duas juventudes passaram a se confrontar mais claramente na época dos festivais de música popular brasileira e internacionais durante a segunda metade da década de sessenta. Para a esquerda engajada, a música tinha que ser puramente brasileira, falar de temas sociais e promover a "revolução". Já tinha sido demais para ela o aparecimento da bossa-nova, no final da década de cinquenta, do pessoal da classe média carioca que misturava samba com jazz, aquela música imperialista americana.
Imagine só como não se sentiram quando aparece a Jovem Guarda, confirmando a chegada do fenômeno internacional do rock ao Brasil que já tinha começado a dar as caras, também em meados dos anos 50, com Celly Campello!! Aí foi demais. Letras ingênuas, alienadas e, ainda por cima, acompanhadas de guitarras elétricas? Passeta neles. E falo sério.
Jair Rodrigues, Elis Regina e Edu Lobo na passeta contra as guitarras elétricas |
No dia 17 de junho de 1967, manifestantes da "verdadeira" MPB saíram em passeata contra a guitarra elétrica num percurso que se iniciou no Largo São Francisco e terminou no antigo Teatro Paramount, na avenida Brigadeiro Luís Antônio, onde se realizaria o programa Frente Única da MPB. Entre os manifestantes, Geraldo Vandré, Elis Regina, Jair Rodrigues, Zé Keti, Edu Lobo, MPB4, Gilberto Gil (pois, é!) e universitários em defesa da música de 'raiz' brasileira, contra os ritmos estrangeiros imperialistas da cultura norte-americana e inglesa.
Dizem que houve também interesses mercadológicos no meio dessa passeata purista, pois o programa Jovem Guarda andava tirando audiência do programa Fino da Bossa, da Elis Regina, ambos da Rede Record (nada a ver com a Record de hoje). Dizem que Gilberto Gil participou dessa passeata por amizade a Elis (ver depoimento de Gil no vídeo abaixo), o que parece conferir com os fatos posteriores, pois pouco depois participaria dos festivais de música popular brasileira acompanhado das guitarras elétricas dos Mutantes, dando início ao Tropicalismo, movimento onde não faltaram cabeludos e aquele instrumento imperialista dos diabos. E aí foi a vez dos tropicalistas enfrentarem também a sanha anti-imperalista da esquerda que era tão ruim de estética quanto de política tanto ontem quanto hoje.
Naturalmente, com o passar do tempo, todos os artistas incorporariam a guitarra elétrica, inclusive Elis Regina. De qualquer forma, o certo é que de todas as passeatas bizarras já feitas pela esquerda política ou cultural, hoje viúva do Muro de Berlim, essa foi sem dúvida uma das mais esdrúxulas.
Fica aqui registrado, portanto, em homenagem atrasada ao dia do Rock, que foi em 13 de julho, esse evento que marcou o início do roque tupiniquim. E para ilustrar musicalmente a postagem, alguns hits da Jovem Guarda, na voz de seu principal intérprete, Roberto Carlos, com aquelas adoráveis letras ingênuas e alienadas que tanta leveza e juventude trouxeram ao ambiente anquilosado do Brasil daqueles tempos. Além do que, neste inverno congelante, só quero que você me aqueça e que tudo o mais vá para o inferno.
Fica aqui registrado, portanto, em homenagem atrasada ao dia do Rock, que foi em 13 de julho, esse evento que marcou o início do roque tupiniquim. E para ilustrar musicalmente a postagem, alguns hits da Jovem Guarda, na voz de seu principal intérprete, Roberto Carlos, com aquelas adoráveis letras ingênuas e alienadas que tanta leveza e juventude trouxeram ao ambiente anquilosado do Brasil daqueles tempos. Além do que, neste inverno congelante, só quero que você me aqueça e que tudo o mais vá para o inferno.
7 comentários:
Gilberto Gil sempre com aquele papo nova era e sempre maria-vai-com-as-outras. Participou da passeata por causa dos amigos, logo depois apareceu com conjunto de rock no festival da MPB. Caetano, que não participou da passeata-palhaçada, é que foi a cabeça do Tropicalismo. Gil para variar foi atrás.
KKKKKKK... como tudo, música também não deveria servir (somente) para divulgar ideologias, melhor dizendo...impor...mas essa passeata foi demais....kkkkkk....anos depois, na minha vida, conheci uma dessas esquerdistas radicais, cujo jardim da sua bela casa comprada com muito dinheiro (rsrsrs) tinha uma placa assim: "Praça Che Guevara" e ela falou-me que os grupos da tal "luta armada' planejavam matar, inclusive, nós, os desbundados, decadência da burguesia...rsrs... aliás, fizeram "justiciamento", sim, com um deles, um esquerdista que "desbundou"... eles o mataram...
Beijo,
Ricardo Aguieiras
aguieiras2002@yahoo.com.br
kkkkk Praça Che Guevara é mesmo hilário. Mas é isso mesmo: as viúvas do Muro de Berlim, mesmo quando ainda não eram viúvas, sempre adoraram um dindim, o bem-bom do capitalismo enquanto prega(va)m a revolução socialista pros ouvintes idiotas úteis.
E o Chezinho era antiroque, antigay e racista ainda por cima. Fuzilamos, fuzilamos e fuzilaremos, dizia. Falando nisso, acabaram de matar mais um dissidente na ilha-prisão de Cuba e prenderam e espancaram o pessoal que foi ao enterro do cara.
Pior é ver o quanto tem de jovens replicando essas ideias nefastas hoje em dia. Me impressiona e entristece. Seria o caso de dizer, perdoai-os, Pai, eles não sabem o que falam!?? Bjk
Essa passeata foi etnocêntrica, umbigocÊntrica, e podre! Curto vários desses artistas, mas acho essa atitude deles fascista!
Mirian Martinho, disse tudo.Mesmo hoje, com toda forma de informação entregue de bandeja existe muitas pessoas que defender este tipo de pensamento comunista e o pior, na maioria das vezes é de estudantezinhos de classe média, que de alguma forma precisam se rebelar contra algo para suprir algum tipo de carência...
ANA BROWN AND THE DOWNLOADER , pois é, eu me perguntei que como um grupo intitulado esquerdista pode ter uma atitude de tamanho cunho fascista.. será que é só por aqui no Brasil que ocorre este tipo de imbecilidade?
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