terça-feira, 31 de agosto de 2010

O fim de agosto - Yanni e a violinista Karen Briggs


E lá se vai agosto, mês difícil. Confesso que incorporei as superstições contra o mês, considerado aziago, azarado, de maus augúrios. Aziagosto, costumo dizer. Ainda mais porque no sudeste costuma fazer um frio danado em agosto.

E a má fama de agosto vem do misticismo, do folclore e do coincidente rol de acontecimentos tristes e inclusive catastófricos associados ao mês. Houve o massacre de São Bartolomeu em agosto, daí que, no folclore cristão, o dia 24 de agosto é quando o diabo sai das profundas e vem à superfície aprontar das dele.

Jogaram as duas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki em agosto, matando milhares de pessoas, naquele que é o maior crime contra a humanidade de que se tem notícia. Vulcões deram o ar de sua (des)graça em agosto, sepultando, em diferentes épocas, Pompéia e Krakatoa e matando nem sei quantos.

No Brasil, o mês é considerado ruim para política (como se pudesse haver algum que não fosse), pois Getúlio Vargas se suicidou em agosto. Fora isso, muitas declarações de guerra foram feitas em agosto, mergulhando o mundo dos homens em mais um mar de sangue. Por essas e mais outras, agosto também é considerado o mês do cachorro louco e, em sua homenagem, o Play Center realiza as noites de terror.

Apesar dos pesares, dessa carga dramática toda, agosto também é um mês em que se celebra por exemplo a vitória dos aliados contra o eixo nazi-fascista durante a segunda guerra mundial e a assinatura da lei de anistia que trouxe de volta ao Brasil inúmeros exilados políticos no fim da ditadura militar. Agosto também presenciou, em 1994, o fim do totalitarismo comunista da URSS, com sua saída militar da Alemanha Oriental e dos países bálticos após meio século. E, se em agosto, muita gente da melhor cepa se foi, muita gente da melhor cepa também nasceu.

Para nós, lésbicas brasileiras, agosto acabou mostrando suas duas faces. Em 10 de agosto, a primeira lésbica a ter sua biografia publicada em livro, Sandra Mara Herzer, se suicidou em São Paulo, atirando-se de um viaduto. Em 28 de agosto, a pioneira na política de visibilidade lésbica, Rosely Roth (21/08/59- 28/08/1990), suicidou-se também no Rio, sucumbindo a uma doença devastadora. Em compensação, Rosely (foto) também nasceu em agosto e, em sua breve vida, marcou o mês, com sua coragem e idealismo, ao protagonizar a primeira manifestação lésbica contra o preconceito e a discriminação no dia 19 de agosto, em São Paulo, que posteriormente oficializamos como dia do orgulho das lésbicas brasileiras. E em agosto também se comemora a visibilidade das lésbicas.

Por isso, deixo os sentimentos um pouco sombrios que o mês me evoca, e me concentro no seu lado heróico mais do que no dramático, lembrando também que agosto antecede setembro, o mês glorioso da primavera. Daí que como uma homenagem ao lado heróico de agosto e à memória daquelas que marcaram seus dias com tanto brilho, posto o vídeo com a música "O fim de agosto", um dueto belíssimo de piano e violino com o músico Yanni e a violinista Karen Briggs.

1 comentários:

Rosely sempre linda em muitos aspectos.

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