domingo, 20 de abril de 2014

Os diamantes são os melhores amigos da mulher ou Como o feminismo se tornou refém do socialismo e como retomá-lo?


As únicas criaturas que acreditam que o feminismo é socialista são as feministas socialistas (de esquerda, em geral) e os conservadores, as socialistas porque acham que o socialismo é tudo de bom, e os conservadores porque acham que o socialismo é tudo de ruim. Como sempre digo, como se parecem ambos.

Entretanto, qualquer pessoa que não seja historica e politicamente analfabeta, sabe que o feminismo é filho das ideias liberais e com base nessas ideias é que as mulheres chegaram onde chegaram hoje. As ideias universalistas do liberalismo alavancaram o direito de TODAS as mulheres e não apenas das "trabalhadoras". Se dependesse das socialistas e - forçoso reconhecer - de algumas anarquistas, nem o direito ao voto teríamos conquistado, pois o voto seria burguês, blá-blá-blá. No afã de encaixar a realidade nas teorias e utopias, muita gente esquece que a vida se dá no aqui e agora e não num futuro utópico que, não raro, descamba para a distopia.

O fato é que as ideias liberais foram a base das chamadas primeira e segunda ondas do feminismo (neste último caso parcialmente), perdendo espaço progressivamente, a partir da década de 70 do século passado, para as correntes autodenominadas de esquerda em sua miríade de expressões. Para estas correntes, o feminismo liberal era (e é) apenas reformista, preocupado somente em inserir as mulheres dentro da economia de mercado, sem atacar as múltiplas outras formas de opressão que atingem o sexo feminino, inclusive e sobretudo as advindas do capitalismo.  Podemos dizer que, desde então, observamos uma hegemonia das correntes ditas de esquerda no movimento feminista, particularmente na América Latina às voltas com o advento do socialismo bolivariano. 

Daí que surpreende quando uma feminista socialista, como a do blog Escreva Lola Escreva, traduz um texto de uma sua congênere, Nancy Fraser, publicado no The Guardian, com o título Como o feminismo se tornou servente do capitalismo, e como retomá-lo. Sério? Um título mais realista, para o atual contexto histórico, seria Como o feminismo se tornou refém do socialismo e como retomá-lo?

Acontece que feministas socialistas e congêneres consideram - por serem socialistas - o capitalismo como um mal tão grande ou até maior que o patriarcado e se ressentem quando o mercado - plástico e flexível - se modifica para acolher as demandas sociais das mulheres e demais grupos oprimidos. Mas só se ressentem porque alternativa ao capitalismo elas não têm (aliás, a humanidade ainda não inventou outro sistema econômico mais eficaz), o que torna seu discurso e sua luta anticapitalista pura retórica.

Aliás, felizmente, não só sou eu que percebo que elas só são blá-blá-blá. Leitoras do artigo em questão deixaram os seguintes comentários (bem divertidos, aliás) sobre o mesmo:

Jessica disse...

Bom... Você elencou 3 pontos que, teoricamente, são muito interesssantes. Mas e na prática? Qual sua sugestão pra que haja a aplicabilidade real e material desses pontos?

Porque sempre encontramos críticas nesse sentido, de que o feminismo foi assimilado e etcs. No entanto, ninguém se propõe à prática. Talvez porque seja justamente a prática é que não problematizam e nem se traçam estratégias -práticas!

16 DE ABRIL DE 2014 12:41

mimimi disse...

eu acho muito mimimi, a luta contra o capitalismo é uma luta perdida, o capitalismo está aí e nada irá substitui-lo, o que devemos fazer é integrar juntamento ao capitalismo o apoio aos menos desfavorecidos. Todo mundo quer ganhar dinheiro e esta mentalidade não irá mudar, pelo menos nas proximas centenas de anos, a questão é como ganhar dinheiro sem destruir o próximo ou minimizar os danos. É possivel integrar o capitalismo com consciencia social, não é fácil, mas é infinitamente mais fácil do que tentar destruir o capitalismo (e substituí-lo sei lá pelo o que) e com efeitos maus mais rápidos e práticos

16 DE ABRIL DE 2014 12:58

 Anônimo disse...

Muito bem. Seu eu trabalhar para ter meu proprio dinheiro e não depender de macho, estou validando o capitalismo explorador de mulheres. Era so o que me faltava mesmo.

A solução é o que? er uma fazenda de agricultura biologica onde todos tenham direito a arar a terra e comer?

Sério: adoro o blog, mas tem hora que da no saco.
Luluzinha

De fato, ironicamente, as socialistas, que tanto reclamam das injustiças do capitalismo, querem é colocar as mulheres sob a tutela do Estado (logo o Estado que é o corolário do Patriarcado), onde buscam se aboletar e a partir de onde procuram impor sua agenda sobre toda a sociedade. O que chamam de democracia participativa - como os últimos anos de esquerdismo no Brasil bem demonstram - são elas reunidas com elas mesmas, autointitulando-se representantes das mulheres que nunca as viram mais gordas (nem magras).

Ninguém aqui é ingenuazinha de achar que o mercado é uma maravilha e não tenha suas artimanhas de poder sexista e outros, mas dar murro em ponta de faca não consta como estratégia de quem quer realmente mudar alguma coisa. Vale mais buscar mudanças dentro do sistema do que manter uma luta sem bússola por alguma quimera. Nesse sentido, mil vezes ler os conselhos da Sheryl Sandberg que é uma das mulheres mais ricas do mundo (e por conta própria), mas que se preocupa com as outras mulheres, do que os do blog da Lola cujo salário é pago pelo contribuinte.

Por fim, meu conselho para as mais jovens: "- Garotas, não se esqueçam que os diamantes continuam sendo os melhores amigos da mulher." Sei que me entendem.
 

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