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quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Frances “Poppy” Northcutt, a única mulher na sala de controle da Apollo 8

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Poppy Northcutt, a única mulher na sala de controle do Apollo 8
Ainda hoje a engenheira é uma voz ativa pelos direitos das mulheres na ciência. Conheça a história da norte-americana que rompeu diversas barreiras na astronomia

A astronomia ainda é majoritariamente masculina: menos de 11% das pessoas que já foram ao espaço são mulheres, segundo a Nasa. Mas, na década de 1960, uma engenheira de 25 anos conseguiu fazer história em meio ao clube do bolinha da agência espacial. Frances “Poppy” Northcutt foi a única mulher na sala de controle da Apollo 8, a primeira missão que orbitou a Lua e retornou à Terra.

Conheça alguns fatos sobre a carreira desta engenheira americana, que acompanhou todas as missões do programa:

De calculadora humana a engenheira espacial

Até se tornar a única mulher em uma sala cheia de homens, Northcutt trabalhou em ambientes exclusivamente femininos. Formada em matemática, começou a carreira aos 23 anos como calculadora humana, executando cálculos baseados no trabalho dos engenheiros — todos homens. Por sua vez, as calculadoras humanas eram todas mulheres. O esforço e a curiosidade que a engenheira demonstrou no trabalho acabaram servindo para que fosse promovida para o time técnico da Apollo 8.

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Aos 76, Northcutt ainda está à frente da Organização Nacional de Mulheres do Texas
Advogada dos direitos das mulheres

Enquanto trabalhava como engenheira espacial, Northcutt decidiu fazer outra graduação, desta vez em Direito, para se tornar promotora. O foco de seu trabalho eram os direitos das mulheres.
Eu me vejo como uma cientista de foguetes em um certo período, uma ocasional advogada e uma defensora dos direitos das mulheres em tempo integral”, afirmou em entrevista ao jornal Los Angeles Time.
Ainda hoje, aos 76 anos, Northcutt está à frente da Organização Nacional de Mulheres do Texas e luta por direitos reprodutivos.

Direitos iguais, salários iguais

Apesar de conquistar um assento na sala de controle, a engenheira ganhava menos que seus colegas de equipe. Mesmo com todo o esforço do gerente de operações para igualar o salário de Northcutt ao dos engenheiros homens, a diferença continuava. Na visão dela, a equiparação salarial era difícil de acontecer quando ela havia começado com uma diferença de valores tão significativa.

Ainda que os salários se equiparassem, isso não resolveria outras questões, como os benefícios a que se tem direito na aposentadoria. Mas ela reconhecia a posição privilegiada em comparação às outras mulheres, e procurou ter uma voz ativa por direitos que favorecessem todas, como benefícios de saúde melhores.

Apollo 13 e o retorno à Terra

Foi na sétima missão do projeto que Northcutt vivenciou um dos momentos mais tensos como engenheira especial. O Apollo 13 sofreu um acidente com a explosão de um dos tanques de oxigênio, comprometendo a viagem de três astronautas. Por sorte, Northcutt e a equipe já trabalhavam há anos em planos alternativos para o caso de algo dar errado. Com a suspensão dos programas pela Nasa, a engenheira passou a trabalhar em outras missões, como estudos para chegar a Marte.

Homenagem nos palcos

A peça de teatro “Sizzle Sizzle Fly” foi escrita por Susan Bernfield em homenagem a Poppy Northcutt. A produção estreou em 2017, como um monólogo da autora. Bernfield conta que desde jovem sentia-se atraída pela história de Northcutt e pela sua participação em programa de missões, que ganhou as manchetes na época.

Clipping Poppy Northcutt, a única mulher que esteve na sala de controle do Apollo 8, por Jéssica Ferreira, Galileu, 24/01/2020

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

75% de todo o trabalho de cuidados não remunerado do mundo é feito por mulheres

Uma corrida desleal
Estudo da Oxfam mostra que a força de trabalho feminina é invisível para o mercado.

Há hábitos e rotinas que não escravizam, como usualmente. Em vez disso, devem ser mantidos, para que a hipótese de constância possa ampliar uma rede de pensamentos e boas informações. Todos os anos, um dia antes de começar o Fórum Econômico Mundial (21 a 24 de janeiro), reunião de líderes e empresários abastados, a ONG Oxfam publica um relatório mostrando uma das múltiplas faces de seu tema de abrangência: a desigualdade social.

Este ano não foi diferente. Ontem (19) à noite saiu do forno o relatório “Tempo de cuidar”, em que os estudiosos se debruçaram, mais uma vez, sobre um conteúdo que mostra o lado mais perverso do atual sistema econômico. Em resumo, 2.153 pessoas têm agora mais dinheiro do que os 4,6 bilhões de pessoas mais pobres do planeta.

Mas quando se reflete sobre desigualdade, nada pode ser resumido. O relatório traz múltiplas informações, e eu busquei me deter naquela que dá título ao estudo. Tenho pensado muito sobre o trabalho das cuidadoras, não só por causa de visitas regulares a uma clínica geriátrica onde está a mãe de um amigo, como porque moro num bairro que, felizmente, tem bastante cabecinhas brancas, e elas são muito bem cuidadas.

A tecnologia está nos proporcionando uma vida mais longa, e é preciso saber lidar com algumas privações que um corpo idoso oferece, oferecendo a ele mãos seguras que o amparem nos momentos de necessidade.

A questão é que esta é uma das faces da desigualdade que vem se perpetuando no tempo. O trabalho das mulheres que cuidam, não só dos idosos como das crianças, embora seja crucial para o desenvolvimento de um país – como imaginar um alto executivo sem alguém na retaguarda, cuidando de sua casa e família, dando-lhe tranquilidade para tomar decisões importantes? – vem sendo recorrentemente subestimado.

E o problema deve se agravar na próxima década conforme a população mundial aumenta e envelhece. Estima-se que 2,3 bilhões de pessoas vão precisar de cuidados em 2030 – um aumento de 200 milhões desde 2015. No Brasil, em 2050, serão cerca de 77 milhões de pessoas a depender de cuidado (pouco mais de um terço da população estimada) entre idosos e crianças, segundo dados do IBGE.

A Oxfam calculou que esse trabalho agrega pelo menos US$ 10,8 trilhões à economia e que a maioria desses benefícios financeiros reverte para os mais ricos, que em grande parte são homens, avalia o estudo.

No texto de apresentação à imprensa, a diretora executiva da Oxfam Brasil, Katia Maia, lembra que “milhões de mulheres e meninas passam boa parte de suas vidas fazendo trabalho doméstico e de cuidado, sem remuneração e sem acesso a serviços públicos que possam ajudá-las nessas tarefas tão importantes”.

A senhora é assistida por três cuidadoras e uma enfermeira na casa em que
mora sozinha em Bauru — Foto: Reprodução/TV TEM
As mulheres fazem mais de 75% de todo o trabalho de cuidado não remunerado do mundo e, frequentemente, segundo os dados do relatório da Oxfam, “elas trabalham menos horas em seus empregos ou têm que abandoná-los por causa da carga horária com o cuidado. Em todo mundo, 42% das mulheres não conseguem um emprego porque são responsáveis por todo o trabalho de cuidado – entre os homens, esse percentual é de apenas 6%”.
Esses dados foram veiculados, na abertura do Fórum, para os ricos e empoderados senhores que se reuniram na gélida cidade suíça de Davos. Será que desta vez, ao menos, sairá dali alguma resolução que possa ajudar a dar os primeiros passos num problema que há décadas está estagnado?

No apagar das luzes do século XX, o embaixador de carreira e representante do Irã nas Nações Unidas Majid Rahnema, compilou no livro “The post-development reader”, ainda sem tradução no Brasil, mais de trinta artigos de estudiosos do mundo todo, com o objetivo de oferecer aos estudantes dados que pudessem ampliar o conhecimento sobre os mitos e as realidades a respeito do desenvolvimento.

No artigo escrito por Pam Simmons, chamado “Mulheres no desenvolvimento, uma ameaça à liberação”, a autora conta que já em 1975, na Conferência das Mulheres convocada pelas Nações Unidas no México, fez-se a denúncia de que as mulheres têm sido recorrentemente ignoradas em todas as políticas desenhadas para o desenvolvimento. Quase meio século depois o não reconhecimento permanece.

Quem primeiro escreveu sobre este estado de invisibilidade das mulheres para o mundo do progresso foi a economista dinamarquesa Ester Boserup, em 1970. No livro “Woman´s Role in Economic Development” (O papel da mulher no desenvolvimento econômico”, em tradução literal), também sem tradução no Brasil, Boserup foca o trabalho na agricultura.

E questiona o pensamento estagnado (olhem aí o lado nocivo do hábito) que considera “natural” a divisão de tarefas de trabalho, sobretudo na agricultura, que leva em conta o sexo. E faz uma provocação, lembrando que em algumas culturas a carga de trabalho segue regras completamente diferentes daquela em que ao homem são destinadas tarefas ditas pesadas, como caçar, e às mulheres restam todo o trabalho restante, não só de limpar o ambiente como de cozinhar e organizar a casa.

Mas, em geral, de fato no mundo agrícola quem aprende a lidar com as máquinas é o homem, enquanto as mulheres permanecem fazendo o trabalho com as mãos. Ester Boserup se preocupa bastante com os países pobres, foca a situação das mulheres em locais, como na Índia, onde o trabalho feminino cresceu na construção civil porque são elas que se subjugam a fazer tarefas como carregar cimento na cabeça por baixos salários.

Mas cita também os Estados Unidos, onde o uso das máquinas vem sendo preferido ao uso de mãos humanas na agricultura, mas, em proporção, aumenta o número de mão de obra feminina - e mal paga – nos campos.

Não são dados contemporâneos, certamente, mas conhecer o trabalho de Ester Boserup dá a dimensão de quão ignoradas são as recomendações para que se tire da invisibilidade a mão de obra feminina no mundo. Uma nova visão é preciso, alertou Pam Simmons em seu artigo escrito há pouco mais de duas décadas.

Ela denuncia a opressão, feita por um poderoso grupo de homens, sobre as mulheres em todas as áreas, quer seja em países pobres como nos ricos. E fala às mulheres de países ricos: “É preciso combater a dominação ‘em casa’”.
No fim das contas, são os homens do Primeiro Mundo que possuem as maiores empresas, controlam as organizações internacionais, dominam os ‘think-tanks’ e visitam os bordéis nos centros de turismo do Terceiro Mundo e esperam deferência por parte de quem eles, financeiramente, ‘suportam’”, escreve ela.
Fazer contato é o caminho que pode começar a desestruturar esta dramática realidade. Para isto, Simmons se reuniu com outras mulheres e conseguiu facilitar a comunicação entre a força feminina de países pobres e ricos. Eis a conclusão de uma estudante indiana que participou do encontro:
Sempre pensei que os valores ocidentais eram bons para o povo do Ocidente e que os valores orientais eram bons para o povo do Oriente. Agora eu sei que os valores ocidentais não são bons para o povo do Ocidente”.
Muita coisa está fora da ordem, não só no mundo feminino, e não só no Ocidente, não só no Oriente. Por isso é preciso transpor fronteiras e espraiar mais e mais conhecimento, informação, dados, estudos. É no que acredito.

Clipping Mulheres fazem 75% de todo o trabalho de cuidados não remunerado do mundo, por Ameliza Gonzalez, G1, 20/01/2020

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Até a Segunda Guerra Mundial, menino vestia rosa e menina vestia azul

Pinturas de um menino usando rosa e uma menina usando azul
As discussões sobre gênero (modelos de mulher e de homem) sempre estiveram presentes em nossa História. No ano passado, algo que veio à tona foi a reafirmação dos padrões de cores entre meninos e meninas, sob o discurso de Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos “menino veste azul e menina veste rosa”. Mas o que poucos sabem é que essas cores foram impostas em um passado recente, o que demonstra as bases fluidas sob as quais estão assentadas.

Se uma mãe que criou seus filhos no início do século 20 entrasse em uma loja infantil hoje em dia, ficaria horrorizada com as roupas destinadas às garotinhas: em sua época, o rosa lembrava o vermelho do sangue, simbolizando força e masculinidade. Por mais estranho que nos pareça, esse padrão só se modificou com a industrialização dos EUA no pós-guerra.

No princípio era o Branco

Para entender essa história, precisamos voltar a um passado anterior à associação entre cores e gênero. Na Inglaterra vitoriana, a cor branca e tons pastéis eram o padrão das vestimentas infantis, como foi descrito por Jo B. Paoletti, professora da Universidade de Maryland, em seu livro Pink and Blue: Telling the Boys from the Girls in America. 

Isso não acontecia por existir uma maior democratização em relação aos estereótipos de gênero, mas sim por questões econômicas: na época, a indústria da moda infantil com consumidores sedentos por roupas específicas era quase inexistente. E como era caro produzir roupas com tinturas, as cores eram destinadas às pessoas mais velhas e camadas nobres da população.

Roosevelt à moda vitoriana, de vestido / Crédito: Reprodução
Outra característica intrigante sobre as roupas infantis da época era o uso de vestido. Ambos os sexos tinham esse item como essencial, provavelmente pela facilidade na higiene e movimentação dos pequenos - um belo exemplo disso é a foto do estadista Franklin Delano Roosevelt aos 2 anos de idade, mostrando a adesão dos EUA aos padrões vitorianos. A partir dos cinco anos, os padrões de roupas começaram a se diferenciar para ambos os sexos.

Cores trocadas
Barão d'Holbach pelas mãos do pintor Louis Carmontelle. Já no século 18 o rosa era uma cor máscula. Crédito: Reprodução
Entre o fim do século 19 e o início do século 20, passou-se a definir as cores "certas" para cada gênero, de acordo com padrões que vinham do século 18 que eram contrários ao atuais.

Segundo Gavin Evans, escritor e especialista em cores, o azul sempre foi associado à Virgem Maria e a delicadeza das mulheres, enquanto o rosa estava ligado ao vermelho, visto como uma cor forte e enérgica que traria mais masculinidade aos garotos.

Essas questões, puramente sociais, que vinham desde séculos anteriores, determinavam um suposto “padrão psicológico” para o uso das cores.

Foi apenas na esteira da Segunda Guerra Mundial que o cenário mudou. Entre 1920 e 1950, com a crescente industrialização dos EUA, o azul passou a ser subitamente comercializado por varejistas como a cor perfeita para homens, enquanto marcas de moda afirmavam que o rosa era a cor mais delicada.

Com o tempo, essa dicotomia foi se espalhando para brinquedos, acessórios, berços e desenhos animados, agitando a indústria infantil e gerando os padrões que hoje temos como verdade.

Com a industrialização, padrões sociais passaram a ser como hoje.
 Crédito: National Geographic
Segundo a psicanalista Fani Hisgail,
A afinidade com alguma cor não determina personalidade ou sexualidade”. Pelo contrário: ter afinidade com algo não supostamente pertencente ao seu sexo determina apenas o modo como nossa sociedade ressignifica valores e crenças através dos tempos.
Aliás, é sempre bom lembrar da diferença entre gênero e sexualidade: enquanto orientação sexual é a atração por pessoas do mesmo sexo, de sexo diferente ou ambos, gênero é o modelo de mulher ou de homem com o qual a pessoa se identifica, não dependendo de sexualidade ou do sexo com o qual a pessoa nasceu.

É pelo fato de serem socialmente construídos (como bem demonstram as cores azul e rosa) que os gêneros podem ser criados, modificados e transformados, gerando inúmeras possibilidades de "ser humano".

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Marithania Silvero recebe prêmio por encontrar nó que rebate teoria do cientista Louis Kauffman

A matemática Marithania Silvero, na Universidade de Sevilla.
A matemática Marithania Silvero, na Universidade de Sevilla.PACO PUENTES

O prêmio de pesquisa Vicent Caselles reconhece Marithania Silvero por encontrar um nó que rebate uma teoria do cientista Louis Kauffman

A espanhola Marithania Silvero ainda não havia nascido quando Louis Kauffman (Nova York, 1945) apresentou em 1983 a conjectura que estabelecia que duas famílias de nós matemáticos eram equivalentes. Silvero nasceu em Huelva em 1989, quando a comunidade científica tinha aceitado a teoria do matemático norte-americano. Em 2015, três décadas depois que Kauffman apresentou sua conjectura e pouco antes de uma reunião programada entre os dois cientistas, Marithania Silvero refutou a teoria do mestre. O matemático não apenas endossou a solução encontrada por Silvero, como ambos se tornaram estreitos colaboradores. Sua descoberta foi reconhecida com o prêmio de pesquisa Vicent Caselles, concedido pela Real Sociedade Matemática Espanhola e pela Fundação BBVA.

Silvero gosta de desafios desde menina. Seu melhor passatempo eram os problemas e ela cresceu entusiasmada com o mundo da matemática, ciência em que atualmente pesquisa e da qual é professora na Universidade de Huelva, depois de ter trabalhado em outros centros de pesquisa da Espanha, Polônia e Estados Unidos.

Sua pesquisa está enquadrada na topologia e, mais especificamente, na teoria dos nós, que a cientista simplifica para torná-la compreensível a partir de uma corda com as pontas grudadas. Os matemáticos estudam as transformações que podem ser feitas nessa corda, esticando-a e mudando de forma, mas sem cortá-la. A partir dessas transformações surgem propriedades e, de acordo com diferentes características, os nós se agrupam em famílias.

Louis Kauffman estabeleceu em 1983 que duas dessas famílias, a de nós alternativos e a de pseudo-alternantes, eram equivalentes. Até Silvero iniciar sua tese, orientada pelos professores Juan González-Meneses e Pedro González, e defendida no Instituto de Matemática da Universidade de Sevilha, ao qual pertence como colaboradora, Marithania construiu um nó pseudo-alternante e, recorrendo ao polinômio de Conway, descobriu que esse nó não poderia ser alternativo, refutando assim a conjectura de Kauffman.

Apaixonada pela pesquisa pura, ela defende a relevância da ciência básica.
Os matemáticos estudam os nós porque podemos defini-los e analisá-los para conhecer suas propriedades”, explica.
A teoria dos nós tem sua origem, segundo a pesquisadora, na tentativa de William Thomson, físico e matemático conhecido como Lord Kelvin, de classificar os átomos de acordo com as trajetórias que descrevem as partículas que os formam. Embora sua teoria tenha demonstrado não ser válida, a classificação de nós ficou como um problema matemático e surgiu o ramo da teoria dos nós, que tem aplicações em química, biologia, física e outras disciplinas.

No entanto, Marithania não se concentra nas aplicações dos resultados, mas nas fundações que mais tarde as tornam possíveis. “Gosto de pesquisa pura, de ciência básica, a responsável por expandir os limites do conhecimento. Se depois meus resultados puderem ajudar cientistas de outras áreas a resolver seus problemas, ficarei feliz, mas esse não é meu objetivo”, afirma, embora reconheça que essa parte, fundamental para estabelecer a base para futuras pesquisas, seja menos visível.

Silvero refutou a conjectura de Kauffman com um contraexemplo, algo que causou impacto no mundo da ciência espanhola se considerarmos que o último relatório do PISA nos reprova em matemática. Ela atribui sua trajetória ao apoio constante que encontrou na família, nos professores e amigos. É por isso que defende a importância do ensino, que os professores amem a matéria que lecionam e transmitam esse sentimento aos alunos.
Acredito que uma das causas dos resultados do PISA poderia ser o fato de que, nas escolas, a matemática não está sendo ensinada por matemáticos. Profissionais de outras áreas podem ter os conhecimentos, mas é muito difícil que possam despertar e transmitir um interesse e uma paixão pela matemática que eles mesmos não possuem”.
Ela também se sente feliz por não ter encontrado os obstáculos que limitam o acesso das mulheres a carreiras científicas. Suas estadias no exterior, sua dedicação à pesquisa e sua carreira sempre tiveram o apoio da família e dos professores.
Não senti um tratamento diferente ao dispensado aos meus companheiros, mas é verdade que conheço companheiras que tiveram outras experiências”, resume, admitindo que seu mundo não é alheio aos preconceitos comuns na sociedade. “Quando falo que sou matemática, às vezes me dizem: ‘Não parece’. Então, pergunto: qual aspecto uma matemática tem?”, lamenta diante da persistência de estereótipos e ideias preconcebidas.
Silvero também admite a ausência de modelos atuais que orientem as jovens para o mundo da ciência. Acredita que as figuras do século XIX já não valem, porque as meninas e adolescentes não se identificam com elas. De fato, reconhece que não tinha um modelo claro a seguir, que o construiu a partir das atitudes daqueles que lhe transmitiram a paixão pela ciência à qual se dedica. E, para retribuir, participará do próximo encontro da associação internacional Greenlight For Girls (G4G) para promover carreiras científicas entre meninas em idade escolar.


Clipping Jovem matemática refuta conjectura estabelecida há 30 anos, por Raúl Limón, El País, 21/12/2019

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Lista da BBC Culture dos 100 melhores filmes realizados por mulheres

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O Piano (1003) de Jane Campion, primeiro lugar entre os 100 filmes de diretoras (ver abaixo)
A BBC Culture lançou uma lista dos 100 melhores filmes realizados por mulheres. Desta lista resultou uma análise internacional de especialistas em cinema onde participaram 368 críticos, académicos, figuras da indústria e programadores de cinema de 84 países diferentes.

“Cléo das 5 às 7” – [Cléo de 5 à 7, França, 1962]
O filme mais votado por “The Piano” (1993), de Jane Campion, que obteve 43,5% dos votos dos críticos.
Os críticos votaram em 761 filmes diferentes no total. Agnès Varda foi a realizadora mais popular em termos de número de filmes, com 6 filmes entre os 100 melhores, seguida por Kathryn Bigelow, Claire Denis, Lynne Ramsay e Sofia Coppola.
É com satisfação que apresentamos a maior e mais internacional lista de críticos de cinema da BBC Culture”, disse Rebecca Laurence, editora da BBC Culture. “Ficámos impressionados com a enorme resposta: 368 críticos, académicos, figuras da indústria e programadores de filmes de 84 países diferentes. E temos o prazer de informar que o número de votantes é equilibrado em termos de sexo, com um número ligeiramente maior de mulheres do que homens. Esperamos, como sempre, que esta lista provoque debates e inspire a descoberta da maravilhosa e diversificada coleção de filmes criados por mulheres ao longo da história do cinema.”, acrescentou a editora.
A análise mostra ainda que a maioria dos 100 melhores filmes são das décadas de 1990 e 2000. Os anos mais populares são 1999, 2008 e 2017, com cinco filmes cada. Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Itália, Bélgica, Canadá, Japão foram os países mais populares.

Lista completa:

100. The Kids are All Right (Lisa Cholodenko, 2010)
99. The Souvenir (Joanna Hogg, 2019)
98. Somewhere (Sofia Coppola, 2010)
97. Adoption (Márta Mészáros, 1975)
96. The Meetings of Anna (Chantal Akerman, 1977)
95. Ritual in Transfigured Time (Maya Deren, 1946)
94. News From Home (Chantal Akerman, 1977)
93. Red Road (Andrea Arnold, 2006)
92. Raw (Julia Ducournau, 2016)
91. White Material (Claire Denis, 2009)
90. Fast Times at Ridgemont High (Amy Heckerling, 1982)
89. The Beaches of Agnes (Agnès Varda, 2008)
88. The Silences of the Palace (Moufida Tlatli, 1994)
87. 35 Shots of Rum (Claire Denis, 2008)
86. Wadjda (Haifaa Al-Mansour, 2012)
85. One Sings, The Other Doesn’t (Agnès Varda, 1977)
84. Portrait of Jason (Shirley Clarke, 1967)
83. Sleepless in Seattle (Nora Ephron, 1993)
82. At Land (Maya Deren, 1944)
81. A Girl Walks Home Alone at Night (Ana Lily Amirpour, 2014)
80. Big (Penny Marshall, 1988)
79. Shoes (Lois Weber, 1916)
78. The Apple (Samira Makhmalbaf, 1998)
77. Tomboy (Céline Sciamma, 2011)
76. Girlhood (Céline Sciamma, 2014)
75. Meek’s Cutoff (Kelly Reichardt, 2010)
74. Chocolat (Claire Denis, 1988)
73. On Body and Soul (Ildikó Enyedi, 2017)
72. Europa Europa (Agnieszka Holland, 1980)
71. The Seashell and the Clergyman (Germaine Dulac, 1928)
70. Whale Rider (Niki Caro, 2002)
69. The Connection (Shirley Clarke, 1961)
68. Eve’s Bayou (Kasi Lemmons, 1997)
67. The German Sisters (Margarethe von Trotta, 1981)
66. Ratcatcher (Lynne Ramsay, 1999)
65. Leave no Trace (Debra Granik, 2018)
64. The Rider (Chloe Zhao, 2017)
63. Marie Antoinette (Sofia Coppola, 2006)
62. Strange Days (Kathryn Bigelow, 1995)
61. India Song (Marguerite Duras, 1975)
60. A League of their Own (Penny Marshall, 1992)
59. The Long Farewell (Kira Muratova, 1971)
58. Desperately Seeking Susan (Susan Seidelman, 1985)
57. The Babadook (Jennifer Kent, 2014)
56. 13th (Ava DuVernay, 2016)
55. Monster (Patty Jenkins, 2003)
54. Bright Star (Jane Campion, 2009)
53. The Headless Woman (Lucrecia Martel, 2008)
52. Happy as Lazzaro (Alice Rohrwacher, 2018)
51. Harlan County, USA (Barbara Kopple, 1976)
50. Outrage (Ida Lupino, 1950)
49. Salaam Bombay! (Mira Nair, 1988)
48. The Asthenic Syndrome (Kira Muratova, 1989)
47. An Angel at my Table (Jane Campion, 1990)
46. Near Dark (Kathryn Bigelow, 1987)
45. Triumph of the Will (Leni Riefenstahl, 1935)
44. American Honey (Andrea Arnold, 2016)
43. The Virgin Suicides (Sofia Coppola, 1999)
42. The Adventures of Prince Achmed (Lotte Reiniger, 1926)
41. Capernaum (Nadine Labaki, 2018)
40. Boys Don’t Cry (Kimberly Peirce, 1999)
39. Portrait of a Lady on Fire (Céline Sciamma, 2019)
38. Paris is Burning (Jennie Livingston, 1990)
37. Olympia (Leni Riefenstahl, 1938)
36. Wendy and Lucy (Kelly Reichardt, 2008)
35. The Matrix (Lana and Lilly Wachowski, 1999)
34. Morvern Callar (Lynne Ramsay, 2002)
33. You Were Never Really Here (Lynne Ramsay, 2017)
32. The Night Porter (Liliana Cavani, 1974)
31. The Gleaners and I (Agnès Varda, 2000)
30. Zama (Lucrecia Martel, 2017)
29. Monsoon Wedding (Mira Nair, 2001)
28. Le Bonheur (Agnès Varda, 1965)
27. Selma (Ava DuVernay, 2014)
26. Stories we Tell (Sarah Polley, 2012)
25. The House is Black (Forugh Farrokhzad, 1963)
24. Lady Bird (Greta Gerwig, 2017)
23. The Hitch-Hiker (Ida Lupino, 1953)
23. We Need to Talk About Kevin (Lynne Ramsay, 2011)
21. Winter’s Bone (Debra Granik, 2010)
20. Clueless (Amy Heckerling, 1995)
19. Orlando (Sally Potter, 1992)
18. American Psycho (Mary Harron, 2000)
17. Seven Beauties (Lina Wertmüller, 1975)
16. Wanda (Barbara Loden, 1970)
15. The Swamp (Lucrecia Martel, 2001)
14. Point Break (Kathryn Bigelow, 1991)
13. Vagabond (Agnès Varda, 1985)
12. Zero Dark Thirty (Kathryn Bigelow, 2012)
11. The Ascent (Larisa Shepitko, 1977)
10. Daughters of the Dust (Julie Dash, 1991)
9. Fish Tank (Andrea Arnold, 2009)
8. Toni Erdmann (Maren Ade, 2016)
7. The Hurt Locker (Kathryn Bigelow, 2008)
6. Daisies (Věra Chytilová, 1966)
5. Lost in Translation (Sofia Coppola, 2003)
4. Beau Travail (Claire Denis, 1999)
3. Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles (Chantal Akerman, 1975)
2. Cléo from 5 to 7 (Agnès Varda, 1962)
1. The Piano (Jane Campion, 1993)

Clipping BBC divulga lista dos 100 melhores filmes realizados por mulheres, Comunidade Cultura e Arte, 01/12/2019

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