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A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Baianas criam 'bafômetro' que detecta ao menos 15 doenças através do sopro

Irmãs, dupla de estudantes baianas cria dispositivo que detecta ao menos
 15 doenças através do sopro — Foto: Arquivo pessoal

Irmãs baianas criam 'bafômetro' que detecta ao menos 15 doenças através do sopro
Aparelho analisa dados a partir de gases exalados por pacientes. Dispositivo é capaz de identificar doenças infecciosas e crônicas, como gastrite, pneumonia, diabetes e intolerância à lactose.

Duas irmãs da cidade de Feira de Santana, a cerca de 100 km de Salvador, criaram um dispositivo capaz de detectar ao menos 15 tipos de doenças a partir do sopro. O aparelho, que funciona como uma espécie de bafômetro, surgiu a partir de pesquisas das estudantes Júlia, 26 anos, e Nathália Nascimento, 31.

Aluna do curso de Biotecnologia, Júlia explica que o OrientaMed foi desenvolvido inicialmente por meio de aplicações de inteligência artificial de um trabalho científico da irmã, que atualmente faz doutorado em Computação.
O início foi com base no mestrado da Nathália. Quando ela foi apresentar na UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro], onde eu estudo, eu percebi que tinha um mercado muito grande na área de saúde e uma aplicação que fazia sentido para a minha área de pesquisa também".
Ela então viu a chance das duas desenvolverem o dispositivo junto com outro estudante, o paulista Rheyller Vargas, que também é pesquisador na área.
Apareceu a oportunidade de ir para um evento de "hackathon" [maratona hacker], e eu chamei o colega para participar e formarmos uma equipe. Lá, a gente viu quais eram as aplicabilidades do dispositivo. No início, a gente pensou em algo para detectar gastrite, mas durante pesquisas aprofundadas, criação de bancos de dados, descobrimos outras aplicações", conta.
O uso do OrientaMed é simples e facilita a triagem de doenças. O paciente assopra e o aparelho devolve o resultado em cerca de cinco minutos, sem precisar de refrigeração ou do uso de produtos químicos.
Irmãs, dupla de estudantes baianas cria dispositivo que detecta ao menos
15 doenças através do sopro — Foto: Arquivo pessoal
Com a elaboração do banco de dados e o aprofundamento das pesquisas, as irmãs chegaram à média de detecção de 15 doenças infecciosas e crônicas, entre elas a gastrite, intolerância à lactose, pneumonia, Doença de Crohn e diabetes.
Ele [aparelho] captura o sopro da pessoa, e a gente envia esses dados para o computador. O resultado sai pouco tempo depois, porque o nosso objetivo é que ele seja um teste rápido para orientar os médicos a quais exames devem ser feitos para aquela determinada doença. Hoje, os resultados só saem via computador, mas a nossa expectativa de pesquisas é para que o próprio dispositivo mostre no display", explicou Júlia.
A estudante detalha ainda que as doenças são detectadas a partir da análise dos gases que contém no sopro.
Muitas doenças que deixam uma marca biológica, principalmente através das bactérias, com as doenças infecciosas. Algumas dessas doenças deixam a marca no corpo, que faz com que as pessoas exalem alguns tipos de gases diferentes, específicos. É com base nesse gás que a gente faz a análise".
A fabricação do OrientaMed custa em torno de R$ 2.500, segundo Júlia. A perspectiva das irmãs baianas, junto com o paulista Rheyller Vargas, é fabricar o produto em maior escala, para que ele se torne mais viável.
Nós já temos alguns parceiros em vista, para desenvolver o aparelho em fase escalonada. Neste momento, estamos buscando parceria com hospitais, para pesquisar de forma mais ampla. A partir disso, a gente vai conseguir ter uma precisão boa da quantidade de doenças que conseguiremos detectar".
Fonte: G1, por Itana Alencar, G1 BA, 12/02/2019


terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

De como a autoidentidade sexual, proposta na Inglaterra, prejudica mulheres e garotas

Tire as mãos dos meus direitos
Sob o pretexto de inclusão das ditas pessoas transgênero na sociedade, o que está se vendo é a criação de uma realidade que parece, para ficar em exemplos bem ingleses, uma mistura do romance "1984", do genial George Orwell, com a  série Black Mirror e sua crítica ácida ao mundo tecnológico de hoje. Em outras palavras, uma distopia pavorosa que afeta todo o mundo, em particular mulheres e crianças. Na mesma Inglaterra, só neste mês de janeiro, três pessoas foram assediadas pela polícia local (um empresário e uma aposentada) e até presas (uma mãe de família) por não aceitarem a ideia surreal de que existem mulheres do sexo masculino. Funcionários públicos bancando a polícia do pensamento dos cidadãos que os pagam para protegê-los de coisas sérias.

Agora, os ingleses estão às voltas com uma proposta de "autoidentificação sexual"  que permitirá às pessoas mudarem online seu sexo na certidão de nascimento. Grupos feministas, os de fato ainda existentes, fazem campanhas para impedir mais esse absurdo (veja o vídeo abaixo e sua tradução). Projetos parecidos rolam em boa parte dos países de língua inglesa (mesmo nos EUA de Trump). Aqui, no Brasil, ainda que não nos mesmos termos, agregada à tentativa de criminalização da homofobia, vem também a criminalização da transfobia. Após a tradução do vídeo inglês, veja o vídeo sobre a lei brasileira.


"No Reino Unido, o governo está propondo uma mudança na lei que permitirá que pessoas trans mudem seu sexo (sic) em suas certidões de nascimento. Uma ideia em consideração é a autoidentidade sexual que permitirá que qualquer pessoa preencha online um formulário e obtenha o direito de ter sua certidão alterada para nela constar como do sexo oposto àquele de seu nascimento.
Essa ideia "revolucionária" vem sendo vendida como uma mera questão administrativa. Mas, se passar, minará a base racional de nossa lei em escala industrial. Roubará de mulheres e garotas seus direitos legais. Destruirá a definição legal de "mulher". Apagará o significado de "fêmea". Dizimará os esportes, serviços e espaços exclusivos para mulheres. Prejudicará os planos de enfrentamento da exclusão feminina. E colocará em risco a segurança e a privacidade de mulheres e garotas. Levará ao maior revés nos direitos da mulher em um século. 
O lobby poderoso de grupos trans está trabalhando arduamente para que essas mudanças ocorram. Se não nos opusermos agora, o governo dará ok a elas. Precisamos pará-las antes que seja tarde."Tirem as mãos dos meus direitos!"
Colocado em prisão feminina,
Karen White assediou várias detentas
Este mesmo grupo, Fair Play for Women, fez campanha exitosa para que criminosos transgênero sejam colocados em alas exclusivas nas penitenciárias femininas e os mais violentos de volta às prisões masculinas. Mas isso só depois de  um estuprador, autointitulado Karen White, ter assediado sexualmente detentas numa prisão feminina.

Virou moda, entre criminosos perigosos, como estupradores, pedófilos e sociopatas, "virarem mulher", nas cadeias masculinas, para pedirem transferência para as prisões femininas, colocando a segurança e a saúde das detentas em risco. Agora, talvez isso, ao menos, possa ter fim.

Nota: Na Escócia, um sujeito vestido de mulher arrastou uma garota de 10 anos para uma das toaletes do banheiro feminino de um supermercado (06/02/2019). O ataque revelou a necessidade da manutenção dos espaços exclusivamente femininos, já que, como diz a matéria, mais de 90% dos crimes sexuais são cometidos por homens (não só os crimes sexuais).


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Invenções importantes criadas por mulheres

Bette Nesmith Graham inventou o muito útil corretor líquido


11 invenções importantes que foram criadas por mulheres

Utensílios e ideias inovadoras imaginados por inventoras que simplificaram tarefas básicas na rotina das pessoas

Sem sabermos, muitos dos utensílios e tecnologias que ajudam a salvar vidas ou que usamos todos os dias foram imaginados pelas mentes criativas de mulheres inventoras. Muitos apetrechos úteis nasceram a partir de ideias de engenheiras, cientistas e outras mulheres motivadas a facilitar a rotina das pessoas.

O corretivo líquido, material comum em escritórios e escolas hoje, foi pensado por uma datilógrafa, a fórmula desenvolvida em sua cozinha. O bote salva-vidas, hoje um equipamento resistente e prático de usar em situações de emergência, também foi criação de uma mulher e ajudou a salvar centenas de pessoas em tragédias como o naufrágio do Titanic. Desde o século 19, muitas patentes foram registradas por mulheres inovadoras e seus projetos até hoje simplificam certas atividades comuns dentro e fora de casa.

Conheça outros instrumentos e materiais que foram desenvolvidos por mulheres ao longo da história:

Bote salva-vidas

Pouco se sabe sobre a inventora Maria Beasley, apenas que queria criar um bote salva-vidas mais resistente, à prova de fogo e compacto. Sua versão, lançada em 1884 em uma exposição de Nova Orleans, era mais fácil de dobrar e armazenar: até 1870, o bote era basicamente uma tábua de madeira. Beaseley patenteou sua ideia e foi responsável por outras invenções, como aquecedores de pé e uma máquina de barril de madeira, útil para a preservação de alimentos. A inventora foi uma grande exceção entre as mulheres da época, ganhando cerca de 20 mil dólares por ano, e seu bote salva-vidas impediu centenas de mortes em um dos acidentes de navio mais trágicos da história, o naufrágio do Titanic.

Cama de gabinete dobrável

Em 1885, Sarah E. Goode foi a primeira mulher afro-americana a receber uma patente nos Estados Unidos. Por isso, sua invenção de cama com gabinete dobrável marcou história e ainda ajudou as casas americanas a ganharem mais espaço com uma cama que poderia ser “engavetada”.

Corretivo líquido

Batizado de Liquid Paper em inglês (Papel Líquido, em tradução livre), o corretivo líquido usado especialmente como material escolar foi inventado por , datilógrafa americana que começou a corrigir — em segredo — seus erros de digitação com tinta branca. Ela passou anos aprimorando uma fórmula na cozinha de casa até patentear a ideia em 1958. Por 47,5 milhões de dólares, a marca Gillette comprou sua empresa em 1979.

Fraldas descartáveis

Em 1951, a inventora americana Marion Donovan deu o primeiro passo para facilitar drasticamente a vida de futuros pais e seus bebês ao patentear a capa de fralda impermeável. Originalmente feita com uma capa de chuveiro, ela foi vendida pela primeira vez na loja de luxo Saks Fifth Avenue. Dois anos depois, a patente foi vendida para a Keko Corporation por 1 milhão de dólares e Donovan lançou, logo em seguida, um modelo totalmente descartável de fraldas.
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Marion Donavan (foto: reprodução)
Kevlar

A química americana Stephanie Kwolek trabalhou durante mais de 40 anos na empresa DuPont, onde acidentalmente criou uma fibra sintética leve e super-resistente, mais tarde chamada de Kevlar. A invenção surgiu quando Kwolek tentava desenvolver uma fibra mais leve para pneus de carro e foi patenteada em 1966. A fibra é um polímero resistente ao calor e mais resistente que aço por unidade de peso. Atualmente, Kevlar é aplicado em cintos de segurança, construções aeronáuticas, coletes à prova de bala, linhas de pesca e vários outros produtos. Até alguns celulares usam a fibra, como o modelo Motorola RAZR i.
Stephanie Kwolek (foto: Wikimidia/Chemical Heritage Foundation)
Lava-louças

Patenteada em 1886, a primeira máquina de lavar louças automática foi desenvolvida pela americana Josephine Cochran, que apresentou sua invenção na Feira Mundial de Chicago, em 1893, e atraiu o interesse de restaurantes e hotéis. Apenas nos anos 50 o eletrodoméstico se tornou mais conhecido pelo público geral, com o aumento da disponibilidade de água quente nas casas, detergente para lavar louça e uma mudança de costumes em relação ao trabalho doméstico. Em 2006, seu nome foi incluído na lista de inventores da organização National Inventors Hall of Fame.

Lixeira com pedal

A psicóloga e engenheira industrial Lillian Gilbreth era conhecida por aperfeiçoar invenções com pequenos ajustes engenhosos. No início do século 20, ela projetou as prateleiras posicionadas nas portas da geladeira, melhorou o abridor de latas elétrico e lançou o pedal colocado em lixeiras para poder abri-las com o pé. Gilbreth e seu marido Frank Bunker tiveram doze filhos e inspiraram o livro Cheaper by the Dozen (sem edição no Brasil), escrito por dois de seus filhos e adaptado para filmes como Papai Batuta, de 1950, e Doze é Demais.

Lillian Gilbreth (foto: Wikimedia/Smithsonian Institution)
Escadas de Incêndio

As tradicionais escadas de incêndio, posicionadas ao lado de prédios com uma estrutura de grades, foram inventadas por Anna Connelly

em 1887. Por mais que a ideia já existisse e tenha passado por modernizações décadas mais tarde, a iniciativa de Connelly ajudou a aperfeiçoar a invenção na época em que construções começaram a ser renovadas e feitas com vários andares. Apartamentos, fábricas e prédios públicos ficaram maiores, mas suas estruturas ainda eram feitas de madeira e acidentes envolvendo incêndios poderiam ser devastadores, causando muitas vítimas — os moradores dos últimos andares eram, naturalmente, os que corriam mais riscos.

Equipamentos de combate a incêndios também não tinham a eficiência e qualidade necessárias para evitar que o fogo se espalhasse pelo prédio inteiro. Entre os anos 1877 e 1895, quando a população americana notou a urgência de criar alguma solução para o problema, pelo menos 30 patentes foram registradas por mulheres — possivelmente encorajadas pela alta taxa de mortalidade de mulheres e crianças em acidentes do tipo. Connelly foi uma das mulheres interessadas no assunto e projetou a “ponte de fuga” que logo faria parte do cenário externo de todos os prédios urbanos.

Seringa médica

Os primeiros tipos de seringa surgiram nos tempos romanos, mas sua evolução e melhorias podem ser creditadas a várias pessoas. Uma delas é Letitia Geer, que em 1899 recebeu a patente pela invenção de uma seringa com desenho adequado para ser usada apenas com uma mão, uma grande facilidade para a atividade médica.

Sinalizador noturno

Antes do surgimento de tecnologias mais inteligentes, a comunicação entre navios baseava-se apenas em bandeiras coloridas, lanternas e, quando possível, gritar mensagens bem alto. Os sinalizadores noturnos, lançados em 1859, não foram uma ideia concebida totalmente pela empreendedora Martha Coston: após a morte do marido, Coston encontrou projetos em um de seus cadernos e dedicou dez anos de trabalho ao lado de químicos e especialistas em pirotecnia para tornar os planos realidade. A patentedo produto, no entanto, creditou a invenção ao marido e citou seu nome apenas como “administradora”.

Tábua de passar

Sarah Boone foi uma costureira afro-americana responsável por aprimorar a estrutura da tábua de passar roupas. Ela recebeu uma patente pelo seu projeto em 1892, desenhado como uma superfície mais prática para passar mangas e roupas femininas. O objeto era curvo, estreito e feito de madeira.

Fonte: Revista Galileu, por Humberto Abdo, 22/03/2017

Publicado originalmente em 11/04/2019

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Mulheres com a mão na (arga)massa ensinam como reformar e pintar sua casa


Quem são as youtubers que empoderam mulheres na construção civil.
As minas que usam o YouTube para ensinar a assentar azulejo e rebocar parede 

A primeira vez que Paloma Cipriano trabalhou com argamassa na vida foi aos 16 anos de idade. A menina de Sete Lagoas, em Minas Gerais, estava cansada. Não aguentava mais ver sua casa em obras. O local estava em construção desde que havia nascido e sua mãe não conseguia dar sequência aos reparos. Foi aí que Paloma decidiu ajudar. Mais que acostumada a viver sem uma figura masculina — nunca viu a cara do pai —, a jovem não esperou pedreiro algum para meter a mão na argamassa.

Inscreveu-se em um curso de alvenaria, pesquisou o que precisava na internet, instalou o piso do seu quarto e não parou mais. Sete anos depois, Paloma segue reformando a casa. Só que agora filma e compartilha o que sabe com outras pessoas. A jovem de 23 anos é uma força na web, principalmente para as minas. Mostra que elas não precisam depender de pedreiro nenhum.

Paloma não é a única. Além do seu canal no YouTube, não faltam iniciativas empoderadoras. São diversos os canais, coletivos e produtoras de conteúdo que seguem a ascendente linha do faça você mesmo, também conhecido por do it yourself e bricolagem. Mesmo assim, a mineira segue uma temática nem tão explorada por outras garotas. Ela se especializou em construção civil, e a resposta tem sido ótima. São 100 mil inscritos em seu canal.
Vejo o pessoal falar que é diferente uma menina assentando cimento. Para mim, é normal. Sempre fiz na minha casa", conta.

Quem acessa os seus vídeos encontra de tudo: "como aplicar massa corrida", "como assentar azulejo", "como rejuntar piso" e muito mais. Seu vídeo mais assistido, "como rebocar parede", tem mais de 2 milhões e 300 mil visualizações.
Esse vídeo ainda faz muito sucesso. Depois de um tempo comecei a receber mensagens de mulheres que estavam reproduzindo em suas casas. Me inspirou a continuar gravando", diz.
A resposta positiva fica ainda mais clara nos comentários dos vídeos no YouTube. Apesar dos dizeres machistas e misóginos, não faltam mulheres expressando o apreço pelo trabalho que realiza.
Talvez não tenha noção de quanto isso muda a vidas das pessoas. Mas fico feliz e surpresa pelos comentários que recebo."
Sobre o seu feminismo, no entanto, Paloma afirma estar digerindo a informação que recebe. Sente-se orgulhosa por ajudar "mulheres que antes esperavam o marido para fazer uma coisa e agora não esperam mais".
Isso não vai fazer com o que o mundo mude, mas pode ajudar um pouquinho. Só de algumas mulheres sentirem vontade de tomar à frente o que antes era quase que completamente feito por homens eu já me sinto feliz", conta.
 Animada com a resposta, hoje foca toda a sua atenção no canal. Largou o estágio para produzir mais vídeos e já conta com alguns patrocinadores. "Agora quero terminar a reforma em casa", diz.

Faça você mesma

Na mesma pegada de Paloma também está bombando o canal Diycore, criado por Karla Amadori, catarinense de Lebon Régis. Mais fiel ao estilo faça você mesmo, Karla ensina seus mais de 500 mil assinantes a fazer uma porrada de coisa. Desde pintura básica e baús estofados até racks e painéis de madeira.

Formada em design de interiores, a jovem teve a ideia do canal em 2015, quando quis reformar seu quarto. A ideia era fazer um rack com caixotes de feira, mas não sabia nem como começar. Foi ao YouTube em busca de ajuda para o manuseio de ferramentas e não achou nada muito específico sobre os tais caixotes. Quando foi montar a peça decidiu gravar e publicar no site. O vídeo bombou — hoje conta com mais de 1 milhão de visualizações — e o sucesso a fez lançar o canal.

Com a resposta positiva do primeiro vídeo, ela começou a gravar outros trampos, tipo construir o armário do seu quarto e os móveis que queria colocar lá. Logo de cara, várias mulheres começaram a se manifestar sobre o conteúdo do canal: as minas adoraram e começaram a sugerir outros temas.


Karla também diz que não iniciou o seu projeto com o pleno objetivo de ajudar outras mulheres a se sentirem mais seguras para adentrar na área de marcenaria e decoração. Foi natural.
Quando viram uma mulher mexendo com ferramentas, fazendo o que na grande maiorias das vezes é feito por homens, elas se inspiraram. Fui alimentando essa coragem e hoje muitas falam que que querem encarar esses desafios", conta.

Nos seus comentários também não faltam mulheres de diferentes idades agradecendo as dicas. O Diycore, curiosamente, também é um puta sucesso entre os homens. Segundo Karla, eles já começam a crescer e muito nos comentários dos vídeos.
Mulher predomina um pouco mais, mas agora está bem masculino. Não sei se eles são mais quietos e só comentam depois de assistirem vários vídeos, mas sei que é um público que cresce."
Independentemente de quem é maioria, Karla está feliz em incentivar pessoas a colocarem a mão na massa.
Elas se sentem capazes de fazer e produzir e isso é muito legal da corrente faça você mesma", diz.
Ela também recebe contato de gente do Brasil inteiro para mostrar a sua influência na vida delas.
Recebo mensagem de mulher que não tinha coragem de mexer em nada e agora se sente mega feliz ao instalar um chuveiro ou pintar uma parede. Isso é muito bom. Estão se inspirando no meu trabalho."
Por que uma mina não sonha em ser marceneira quando criança?

Por causa de mulheres como Paloma e Karla, o YouTube está chamando a atenção de iniciativas como a Lumberjills, uma marcenaria fundada e tocada por duas minas feministas que lutam para mostrar que não há profissão que elas não possam dominar. O curioso é que a empresa não nasceu com o intuito de ser feminista. Tornou-se depois de tanto machismo e assédio que as fundadoras sofreram dentro do setor.

Criado pelas paulistanas Leticia Piagentini e Fernanda Sanino, o negócio se especializou em marcenaria customizada. O cliente pede e as minas fazem. As duas largaram tudo para abrir o negócio. Elas nunca tinham trampado com marcenaria antes na vida. Tinham na conta um curso básico e a vontade de abrir um negócio juntas. Encararam o machismo em suas tradicionais famílias italianas, que não viram sentido em duas mulheres bem-sucedidas largarem tudo para construir móveis, e meteram a cara a pau.
A gente não começou na militância, mas em pouco tempo deu pra perceber o quanto ela seria importante. Começamos a sofrer muito preconceito entre família e amigos e vimos que a empresa tinha que abraçar essa bandeira", diz Fernanda.
Além do núcleo familiar, ela fala que o foda é ainda ter que lidar com o machismo do setor, mesmo depois de três anos de empresa.
Quero um dia falar que sou marceneira e não causar espanto em ninguém", conta.
Menos pior seria se fosse só o espanto. Fernanda conta que já passou por situações de assédio assustadoras. Uma vez, quando foi realizar o trabalho em um imóvel, se viu sozinha junto com outros 20 homens trabalhando na reforma da casa. Em pouco tempo, pelo menos 15 deles pararam seus trabalhos para assistir a marceneira realizar o seu.
Em um quarto fechado, com esse bando de cara encarando. Eu tava fazendo uma cabeceira e os caras começaram a falar de usar a cama. Foi horrível. Eu estava completamente rendida. Não aguentei, saí para almoçar e pedi para retornar um dia que não tivesse mais ninguém trabalhando na casa", diz a jovem.

Mesmo assim, Fernanda está muito feliz com o sucesso do negócio. E mais contente ainda com o impacto entre as mulheres. "O mundo está mudando. Devagar, mas está. Estamos lutando contra o machismo. E o nosso trabalho vai mostrar que as mulheres podem ser marceneiras se elas quiserem." E é exatamente por isso que elas já começam a dar seus passos no YouTube. O canal da Lumberjills já conta com alguns vídeos próprios. 

A dupla diz que falta tempo para fazer mais vídeos. Passam o dia inteiro na oficina trabalhando nos pedidos dos seus clientes. Mesmo assim, acreditam no empoderamento que passam quando compartilham conhecimentos específicos como os que têm.
A gente quer muito produzir mais desse conteúdo. Já compramos a câmera e temos uma parceira para editar os vídeos. Queremos fazer a mulherada colocar a mão na massa", diz. Além disso, a empresa também realiza aulas para mulheres que querem aprender sobre o setor. "Estamos fazendo de tudo para as minas quebrarem essa barreira e entrarem no mercado. Afinal, por que uma menina não sonha em ser marceneira quando é criança? Está na hora disso mudar."
Fonte: Motherboard, por Rennan A. Julio, 31/03/2017

Publicado originalmente em 24 de abril de 2017

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Programe como uma garota: elas são hackers e invadem o mercado da tecnologia masculina


Minas hackers Elas invadem o mercado da tecnologia para mudar o sistema feito por homens 
Ei, garota, já passou pela sua cabeça que as tecnologias não te representam? Talvez você nunca tenha reparado nisso, mas essa inquietação fez com que um grupo de mulheres se reunisse para combater às desigualdades no mundo de hardwares e softwares. Elas chegam para invadir o sistema dominado, desde sempre, por homens brancos e com algum dinheiro. São as chamadas hackers feministas --ou seriam feministas hackers?

A hacker feminista Antes que você estranhe, é preciso esclarecer uma coisa. Há dois termos para designar pessoas que conseguem criar e modificar os sistemas computacionais: hackers e crakers. A diferença é como cada um (ou uma) usa o conhecimento e as ferramentas que possui para alterá-lo. Hackers fazem isso de forma legal, sem invasão ou quebra de dispositivos protegidos, enquanto os crackers são vistos como criminosos, porque ignoram possíveis danos a empresas e à sociedade. Ao usar o termo hacker, então, a ideia dessas mulheres é invadir um espaço bem masculino, o setor de tecnologia, para mudar o jeito com as coisas são feitas e pensadas --não só os espaços virtuais, mas também os reais, de discussão e de ação.
Ser hacker feminista é reprogramar as redes de poder e informação da nossa sociedade para que as conexões humanas sejam mais baseadas em equidade e empatia que em dominação e hegemonia. Eu tento fazer isso por meio da educação e tecnologia
Karen Ribeiro, professora do Instituto de Computação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMG) e coordenadora do Programa Meninas Digitais
Ser hacker é não se contentar com o que lhe é dado e ir atrás de mais conhecimento e inovação. Também pode ser ativista, porque se preocupa com questões éticas, políticas, liberdade de expressão, colaboração e difusão do conhecimento

Mônica Paz, pesquisadora do GIG@ (Grupo de pesquisa em Gênero, Tecnologias Digitais e Cultura da UFBA) e professora do Centro Universitário Estácio da Bahia
Para isso, elas investem, por exemplo, em novos aplicativos e plataformas digitais, capacitam outras mulheres para que, sabendo como a rede funciona, decidam melhor quais dados querem ou não disponibilizar e montam redes para formar e encaminhar profissionais qualificadas para o mercado de trabalho. O grande hackeamento é no modo como os produtos tecnológicos são pensados e realizados e como a informação é selecionada e circula. Com um olhar mais diverso, eles passam a ser concebidos carregando as experiências de quem está de fora do sistema --não só as mulheres, como negros, indígenas, gays e lésbicas, populações periféricas e demais grupos excluídos. 

O olhar muda tudo: apps para todos...

Mete a Colher

497 pessoas, na maioria mulheres, financiaram coletivamente o app que conecta vítimas de violência doméstica e pessoas dispostas a ofereça ajuda. Você deixa um relato, com segurança e privacidade, e outras mulheres ajudam para te tirar de relações abusivas.

Homo Driver


É um app de transporte, como os outros de carona que já existem, mas voltado para a comunidade de gays e lésbicas. Funciona para dar mais tranqüilidade e empatia aos passageiros durante as corridas e mais empoderamento os motoristas gays.

Black Bird


"Viajar é uma experiência transformadora, por que não pode ser também inclusiva?" Com esse lema esta plataforma oferece hospedagem e experiências voltadas aos negros, que normalmente são preteridos em sites como Airbnb, por racismo.

Construindo pontes
Caminhar por baias quase que totalmente ocupadas por seres humanos carregados de doses maiores ou menores de machismo não é fácil. As poucas mulheres que se aventuram relatam uma série discriminações, que começam quando não são ouvidas em sala de aula e terminam com a perda de salários e cargos por serem mulheres.

Então, diz Iana Chan, jornalista e fundadora da PrograMaria, é preciso olhar para esse ambiente hostil, onde eles chegam ao topo mais rápido e reproduzem uma cultura de discriminação --tanto no local de trabalho e nas relações profissionais quanto na hora de colocar produtos no mercado. 


Quer um exemplo? Enquanto eu escrevia este texto, o Word me sinalizava como errado o termo "uma hacker" e mandava eu corrigir para "um hacker".

Além disso, se você, assim como eu, é mulher e está na faixa dos 30 anos, deve ter notado propagandas de roupas ou artigos para bebê nas suas redes sociais. Isso acontece mesmo que você ainda não seja ou não tenha planos de ser mãe, mesmo que não acompanhe páginas sobre o assunto ou mesmo que informe a plataforma de que não tem interesse nesse assunto. É como se os algoritmos dissessem que já está na hora de você ser mãe.

E não sou eu quem está falando isso. As responsáveis pela plataforma Coding Rights resolveram analisar dois tipos de anúncios no Facebook: os que tinham produtos para bebês e os relacionados à palavra "fertilidade". Nas duas pesquisas, ainda que algumas propagandas fossem direcionadas pelos anunciantes para "pessoas", o algoritmo optou mostrá-los majoritariamente para mulheres. E nenhuma propaganda sobre bebês ou fertilidade estava direcionada apenas para homens.
Queríamos desvendar e expor como funciona a fábrica de propaganda direcionada do Facebook. Ou seja, averiguar como os dados que produzimos de graça são matéria-prima para todo um modelo de negócios bilionário que alimenta também estereótipos de gênero, raça e classe. Joana Varon, fundadora e diretora executiva da Coding Rights.
Dessa inquietação, ela e mais duas pesquisadoras decidiram criar o Fuzzify.me, uma extensão para navegadores (há versões para Chrome e Firefox) que reúne e explica por que cada anúncio foi parar na sua linha do tempo. E se as explicações incomodarem, a ferramenta te ajuda a fazer uma limpeza das categorias que o Facebook atribui ao seu perfil.

Mudança necessária

Olhar para o ambiente: foi o que fez Camila Achutti quando ainda era uma estudante de ciência da computação na Universidade de São Paulo e percebeu a enorme discriminação que as mulheres sofrem na sua área. Para tentar mudar de alguma forma a realidade, deu um primeiro passo, logo no primeiro dia de aula: criou o blog Mulheres na Computação.

Desde 2010, ele fala sobre o gap de gênero na tecnologia e hoje virou uma referência. Já ajudou a trazer para o Brasil, por exemplo, o Technovation Challenge Brasil, desafio de empreendedorismo e tecnologia só para garotas. Ela sonhava em trabalhar na Nasa, mas foi parar num estágio no Google da Califórnia (EUA) assim que terminou a faculdade. E isso mudou tudo.
Perceber que eu era programadora como todos os outros que estavam ali fez com que eu percebesse que poderia ser quem eu quisesse.
De volta ao Brasil, viu que "era preciso mudar a realidade da indústria de tecnologia por aqui, tão diferente da que eu tinha visto no Vale do Silício", diz. O passo seguinte foi a criação de duas startups, a Ponte21 e a Mastertech, que já formaram mais de 5.000 alunos e têm o foco na promoção da diversidade na tecnologia.
Precisamos de mais mulheres na TI [tecnologia da informação] para resolver problemas que não são os mesmos do menino branco do Vale do Silício. Ele, por exemplo, não tem tempo de fazer compra, então faz um app de entrega; não consegue se relacionar, aí faz o Tinder. Precisamos de diversidade para dar vieses mais igualitários à tecnologia. Camila Achutti, fundadora do blog Mulheres na Computação e de duas startups com foco com em inovação e diversidade.
E onde estão as mulheres?

Educação

Elas são apenas 15% dos alunos matriculados em cursos de ciência da computação e engenharia, percentual que se repete no mercado de trabalho. As mulheres representam só 17% das programadoras, segundo a Sociedade Brasileira de Computação.

Interesse

74% das meninas manifestam interesse em ciência, tecnologia, engenharia e matemática. O problema é que apenas 30% das pesquisadoras do mundo são mulheres, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas).

Discriminação

Pesquisa de 2018 feita pelo site de recrutamento Catho com a consultoria UPWIT mostrou que 51% das 1.000 entrevistadas da área relatam discriminação no trabalho por gênero, sendo que 46,6% delas consideram as chances de crescer em suas empresas ruins ou péssimas.
Somos ensinadas desde pequenas a sermos cuidadoras e a servir, ganhamos bonecas e panelas para brincar, enquanto aos homens são reservadas outras expectativas. Durante muito tempo, o computador e o videogame foram objetos para os meninos. Tudo isso cria esse estereótipo tão difundido de que mulher e tecnologia não combinam. Iana Chan
Nem todas são iguais

Se não está fácil para as mulheres brancas e com acesso, imagina para negras, indígenas e garotas da periferia. Segundo estudo feito em 2010 nos Estados Unidos, apenas 10% das mulheres que obtiveram diplomas como engenheiras ou cientistas naquele país eram negras. No mercado, elas ocupavam menos de 1% do total de mulheres empregadas nessa indústria. No Brasil, segundo a PretaLab (iniciativa para capacitar mulheres negras e indígenas para a tecnologia), não há dados precisos sobre o assunto.

Silvana Bahia, diretora de projetos do Olabi e coordenadora do PretaLab, conta que sempre achou que, como negra e periférica, o universo da tecnologia estava distante demais da sua realidade:
Só consegui aprender quando encontrei mulheres com paciência e boa vontade, e aquilo me fez achar que eu era capaz. Isso tem a ver com afeto e acolhimento, mulheres que estão a fim de ensinar, o que é muito revolucionário.
Ela ressalta é preciso entender o quanto a tecnologia está associada aos direitos humanos. "Porque nós somos diretamente afetadas por elas", diz.


Programe como uma garota

Se animou? Essa noção cada vez mais óbvia de que é muito mais fácil inovar quando se tem diversidade de gênero, étnico-racial, cultural e social é o que tem movido, portanto, mulheres de distintas áreas do conhecimento a lançar projetos, cursos, incubadoras, startups e hackatons específicos para tentar corrigir as distorções de gênero. 

Essa riqueza traz diferentes perspectivas sobre um mesmo problema e faz com que as soluções 'fora da caixa' apareçam", diz Iana. E há dados que prova isso: estudo da consultoria McKinsey and Co. em doze países mostrou que as empresas com maior diversidade de gênero têm 21% mais chances de apresentar resultados acima da média do mercado. Quando se trata de diversidade cultural e étnica, a vantagem sobe 33%.
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Programaria Trabalha para aumentar o número de mulheres qualificadas na área. As atividades vão desde oficinas de introdução ao desenvolvimento web (algumas orientadas a adolescentes ou pessoas trans) até cursos de programação front-end (HTML, CSS e JavaScript). A atuação em rede faz com que muitas alunas sejam indicadas para vagas de trabalho logo depois da formação.

Programa Meninas Digitais A Sociedade Brasileira de Computação também criou em 2011 o curso que envolve alunas do ensino fundamental e médio na produção de aplicativos, jogos eletrônicos e projetos de robótica ou eletrônica. O programa hoje está presente em 21 estados e já recebeu mais de 3.000 crianças e adolescentes, sendo 70% meninas.
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A pioneira 
Se você está lendo esta reportagem na tela de um computador ou de um smartphone, saiba que é graças a uma mulher, a britânica Ada Lovelace, que ainda no século 19 escreveu o primeiro código complexo de programação do mundo. Ada viveu entre 1815 e 1852 no Reino Unido. Aos 17 anos, conheceu o inventor Charles Babbage, que na época trabalhava em duas máquinas, uma delas era uma espécie de ancestral computador moderno. Anos depois, ele pediu que Ada que traduzisse do francês as anotações do matemático italiano Luigi Federico Menabrea sobre a máquina analítica. máquina analítica. Ada não só fez a tradução, como decidiu acrescentar notas próprias, que descreviam o funcionamento da máquina e elaborou um plano para que ela pudesse executar cálculos, ou seja, criou o primeiro algoritmo.

Fonte: UOL Tecnologia, por Marcelle Souza, 19/01/2019

Veja também: Mulheres Inspiradoras da área de Tecnologia da Informação 

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