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segunda-feira, 26 de março de 2018

Computação já foi e precisa voltar a ser "coisa de mulher"

Primeira turma de Ciências da Computação do Instituto de Matemática e Estatística da USP -
Foto: Arquivo Pessoal/Inês Homem de Melo

Por que as mulheres “desapareceram” dos cursos de computação?
Na década de 1970, cerca de 70% dos alunos do curso de Ciências da Computação, no IME, eram mulheres; hoje, 15%
Inicialmente, as imagens acima e abaixo podem parecer simples fotografias antigas de colegas em qualquer curso da USP. Mas ela deixa de ser comum ao descobrir que se trata da primeira turma do Bacharelado em Ciências da Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME), em São Paulo. A informação pode causar espanto nos dias de hoje, em que a área de tecnologia é ocupada, majoritariamente, por homens. No entanto, essa não era a realidade em 1974, quando a turma se formou. Antes de nomes como Alan Turing, Steve Jobs e Bill Gates, a computação era uma área ocupada por mulheres, sendo elas as criadoras de diversas tecnologias e linguagens de programação. Mas, então, o que aconteceu? Para onde foram essas mulheres?

A primeira turma de Ciências da Computação do IME contava com 20 alunos, sendo 14 mulheres e 6 homens. Ou seja, 70% da turma era composta de mulheres. Já a turma de 2016 contava com 41 alunos, sendo apenas 6 meninas, ou seja, 15%.

Primeira turma de alunos do curso de Bacharelado em Ciências da Computação do IME, em 1974
 Foto: montagem sobre reprodução de fotografia de Inês Homem de Melo


A baixa presença feminina também se verifica em cursos de outra unidade da USP. Nos últimos cinco anos, apenas 9% dos alunos formados no curso de Ciências de Computação do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP em São Carlos eram mulheres; no Bacharelado em Sistemas de Informação, foram 10% e em Engenharia de Computação, 6%.

Segundo a presidente da comissão de graduação do ICMC, Simone Souza, o baixo número de alunas no curso já vem desde a escolha no vestibular, que tem pouca procura entre as jovens. Na Fuvest, as carreiras em computação do IME e do ICMC são as de menor proporção entre homens e mulheres, juntamente com as engenharias.

Em 1997 (primeiro ano disponível para consulta), a proporção de candidatas inscritas no Bacharelado em Ciências da Computação do IME foi de 26,4%, enquanto em 2017, a proporção foi de 13,66%. Nos anos de 2010 e 2016, o curso teve a menor proporção entre todos da Fuvest.

Essa realidade não se restringe à USP. Entre as décadas de 1970 e 1980, houve uma grande inversão nos sexos da área de tecnologia no mundo todo, mesma época em que surgiu o computador pessoal.

Estigma masculino

Antes da criação do personal computer (PC), o computador era uma grande máquina de realizar cálculos e processamento de dados, atividades associadas à função de secretariado. A sua chegada na casa das pessoas, por meio de empresas como IBM e Apple, popularizou o uso pessoal das máquinas, principalmente, com a finalidade lúdica dos jogos.

Para a professora do IME Renata Wassermann, foi neste momento que o computador ganhou a “marca” de masculino que o acompanha até hoje.

Quando os jogos começaram a se popularizar, acabou ficando estigmatizado como ‘coisa de menino’. Já no início dos anos 1970, era tudo muito abstrato, ninguém tinha computador em casa, então computação tinha mais a ver com a matemática, e o curso de matemática tinha mais meninas do que o de computação. O curso de computação não era muito ligado à tecnologia porque a gente não tinha computadores pessoais. Isso mudou bastante e agora o curso se refere mais à tecnologia do que à matemática.

Um gráfico produzido por um dos podcasts da National Public Radio (NPR) expõe essa quebra, comparando o número de mulheres em cursos de computação em relação aos cursos de medicina, direito e física nos Estados Unidos:
Em verde: Direito, Medicina, Ciências Físicas. Em vermelho: Ciências da Computação
Segundo o professor e coordenador do curso de Ciência da Computação do IME, Marco Dimas Gubitoso, um fator que pode explicar o grande interesse das mulheres pela graduação na década de 1970 é a sua associação com o curso de Matemática.

A turma do início desta reportagem se constituiu a partir da migração de alunos da licenciatura em Matemática, que sempre teve um histórico maior de presença de mulheres.

Esse foi o caso de Maria Elisabete Bruno Vivian, que se formou na primeira turma de Ciência da Computação do IME e foi professora no mesmo instituto. Desde cedo, ela sabia que queria fazer computação, mas o curso ainda não existia quando se matriculou na licenciatura. A transferência só ocorreu no segundo semestre de 1971. Na época, a área era uma novidade e não se tinha ideia do quão competitiva ela se tornaria.
A licenciatura é um curso para formar professores e ser professor sempre foi uma carreira majoritariamente feminina até hoje. Por isso, quando criaram o Bacharelado em Ciência da Computação havia muita mulher porque a maioria veio da licenciatura. O cenário mudou quando a carreira ficou interessante. Com muitas vagas e ótimos salários, ela acabou atraindo mais homens”, afirma Maria Elisabete.
Camila Achutti – Foto: montagem sobre fotografia de divulgação de Mastertech
O que os alunos dessa primeira turma não imaginavam, quando fizeram a fotografia, era de que ela seria o estopim para a criação do blog Mulheres na Computação por Camila Achutti, que também se formou no curso de Bacharelado em Ciência da Computação do IME.

Em 2010, quando Camila chegou para a primeira aula de Introdução ao Algoritmo, ela notou que era uma das poucas mulheres na sala. Em 2013, quando se formou, era a única. O choque de estar sozinha numa turma masculina a obrigou a pesquisar referências de mulheres na computação. Foi, então, que encontrou a foto no acervo de relíquias do IME.
Comparando essa foto de 1974 com a foto da minha turma, você vê que caiu muito. Como pode cair de 70% para 3% o número de mulheres na turma? Tem alguma coisa muito errada. Então eu pensei: ‘já que isso existe, eu quero mostrar para todo mundo. E toda vez que uma menina digitar Mulheres na Computação ou na Tecnologia vai aparecer alguma coisa’. E esse foi meu primeiro ato empreendedor, tudo por causa dessa foto.
Hoje, Camila dirige duas startups e é conhecida por lutar pela inserção feminina na área da tecnologia.

Essa inversão de realidade causou espanto também em Inês Homem de Melo, ex-aluna e professora no IME. Durante os 15 anos em que ficou na USP, a professora assistiu à predominância feminina no curso até atingir um equilíbrio entre os gêneros, mas jamais imaginou que o número se inverteria.

Inês Homem de Melo – Foto: montagem sobre fotografia de Inês Homem de Melo
Eu trabalhei na USP, depois fui para uma fabricante de hardwares e softwares e meu último emprego, onde me aposentei, foi em um banco. Em todos esses lugares, era equilibrado o número de homens e mulheres, não havia a predominância de homens igual havia na engenharia. Não sei o que houve para diminuir tanto assim.”
Falta incentivo

Um estudo realizado na Southeastern Louisiana University, nos Estados Unidos, buscou investigar por que o número de estudantes mulheres em ciências da computação da universidade tinha diminuído. A conclusão do estudo, que pode ser encontrado no Journal of Computing Sciences in Colleges, mostra que as meninas são menos estimuladas às carreiras de tecnologia.

Propagandas midiáticas, a educação escolar e a própria família têm influência na criação do estereótipo de que homens são melhores na área de exatas, enquanto mulheres se dão melhor nas humanas. A falta de representação de mulheres na área também é um fator fundamental para repelir as meninas dos cursos de tecnologia.

Quando você fala de computação, a primeira imagem que vem à cabeça é do homem nerd que programa desde os cinco anos e criou uma grande empresa aos 18, e isso não é verdade”, conta Camila.
Existem muitas mulheres que participaram da história da computação, mas, de alguma forma, houve um apagamento dessas mulheres.”
Ela lembra que, embora os nomes de homens sejam os mais citados, mulheres como Ada Byron (Lady Lovelace) e Grace Murray Hopper foram fundamentais para a informática.

Uma pesquisa realizada pela Microsoft mostrou que as mulheres tendem a se considerar menos aptas para as carreiras de exatas conforme crescem. As meninas costumam se interessar por tecnologia e exatas, em geral, aos 11 anos, mas aos 15 elas começam a desistir. As razões, segundo a pesquisa, são: ausência de modelos femininos na área, falta de confiança na equidade entre homens e mulheres para exatas e a ausência de contato com cálculo e programação antes da faculdade.

Camila sentiu essa falta de contato maior com as exatas já no primeiro dia de aula, quando notou que todos os alunos sabiam o que era algoritmo e já tinham uma noção básica de lógica de programação, enquanto, para ela, aquilo era tudo novidade. 
Eu virei o patinho feio da sala, a burra. Comecei a me questionar do por quê estava ali.”
Anos depois de ter encontrado a fotografia, a ex-aluna do IME trabalha para desmistificar a computação como atividade exclusivamente masculina. A proposta do blog Mulheres na Computação é incentivar, discutir e difundir assuntos relacionados a tecnologia e empreendedorismo sob a ótica de jovens mulheres.

Por meio de cursos e workshops, a equipe do blog leva programação, lógica, cálculo, internet das coisas, entre outros temas, para as meninas. A intenção, segundo Camila, é acabar com a ideia de que tecnologia é difícil e tarefa de gênios.

Para ela, pequenas atitudes podem contribuir para atrair as mulheres de volta para a área. 
Aos homens, cabe o papel de ‘evangelizar’, não deixar que o amigo faça piadas contra a colega de profissão, e quando uma menina perguntar o que ele faz, explicar de fato e não dizer que é algo difícil que ela não entende. E, às meninas, cabe refletir se aquela sensação de que não é para elas a área, é de fato verdade ou uma ideia que foi imposta a elas.”
Além do trabalho de Camila, outras iniciativas buscam atrair as mulheres para a tecnologia. São projetos como Meninas na Computação, que incentiva o ingresso de jovens sergipanas na ciência da computação, Cunhatã Digital, que visa a atrair mulheres da região amazônica para a tecnologia e, principalmente, o Meninas Digitais, da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), direcionado a alunas do ensino médio e últimos anos do fundamental.
O Meninas Digitais envolve centenas de meninas, em todo o Brasil, durante o ano todo, em práticas educacionais na computação”, explica a ex-presidente da SBC e ex-embaixadora do Comitê Mulheres da Associação Americana de Computação (ACM), Claudia Bauzer Medeiros.
A SBC tem atividades regulares iniciadas há 11 anos. Começaram com um evento de um dia, o Women in Information Technology (WIT), que hoje é realizado durante três dias, com atividades de laboratório de programação para meninas, debates e apresentações. Há, além disso, um grupo bastante ativo de docentes e alunas na área de bancos de dados, o Women in dataBases (WomB), que se reúne anualmente durante o Simpósio Brasileiro de Bancos de Dados.

Para Claudia, a maneira mais eficaz de atrair mais meninas não só para a computação, mas para as carreiras de Ciência e Tecnologia como um todo, é pela educação e esclarecimento desde o ensino fundamental sobre essas áreas. O projeto inspirou uma iniciativa dentro do IME de mesmo nome.

Camila Achutti destaca que incentivar as mulheres para essas carreiras é uma necessidade urgente e que traz apenas benefícios. 

Você não precisa ser feminista para concordar comigo, você pode ser só capitalista para notar que essa conta não fecha. Você tem o setor com a maior demanda do mercado e está isolando metade do País. Como continuar desenvolvendo e inovando sem utilizar a mão de obra dessas mulheres?”

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A professora Edith Ranzini foi uma das quatro mulheres que contribuíram
com a construção do primeiro computador brasileiro
Professora integrou equipe que projetou e construiu o primeiro computador do Brasil

Considerado o primeiro computador totalmente desenvolvido e construído no Brasil, o Patinho Feio, como ficou conhecida a máquina, foi fruto de um projeto da Escola Politécnica (Poli) da USP, coordenado pelo professor Antônio Hélio Guerra Vieira, ex-reitor da Universidade.

A professora Edith Ranzini foi uma das quatro mulheres que contribuíram com o projeto. Além da criação do computador, ela também foi responsável por implantar o curso de Engenharia Elétrica com ênfase em Computação na Poli.

Ela conta que entre os 360 colegas de sua turma, apenas 12 eram mulheres. Contudo, acredita que fazer parte da minoria nunca foi motivo para ser discriminada ou subjugada.
Não existe essa história de que, pelo fato de ser mulher, uma pessoa é engenheira ou professora de segunda categoria”, defende.
Ranzini passou a integrar o corpo docente da Poli em 1971 e se aposentou em 2003, mas continua contribuindo com a Universidade. Foi presidente da Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia (FDTE) e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC).

Da Assessoria de Imprensa da Poli
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Fonte: Jornal da USP, 07/03/2018

quarta-feira, 21 de março de 2018

Querer censurar obras de arte do passado, com base em valores do presente, gera grandes distorções

"Hilas e as Ninfas": o objetificado é o homem
Sob a desculpa de promover debate a respeito da objetificação do corpo feminino na arte, em fins de janeiro deste ano, o quadro "Hilas e as Ninfas", de John William Waterhouse (1849 – 1917), foi temporariamente retirado de exibição no Museu de Manchester, Inglaterra. A retirada, porém, provocou revolta do público local e até internacional, e o quadro teve que voltar ao seu lugar de origem bem antes do planejado.

No texto abaixo, Laura Ferrazza, doutora em História da Arte pela Sorbonne/PUCRS, analisa a obra e seu ator de forma contextualizada tanto no que diz respeito à época de sua produção quanto no refente à história da arte. Demonstra então que, no quadro em pauta, o objetificado é o homem, Hilas, e os sujeitos do desejo são as ninfas. Assim aponta para as distorções que ocorrem quando se projeta sobre o passado os olhos do presente. E questiona as tentativas de censura de obras antigas que não se encaixam nas exigências da correção política atual. Sempre vale lembrar que a arte não tem que bater continência nem para o moralismo de direita nem de esquerda nem de qualquer facção.

A Maldição e a Beleza

Em fins de janeiro deste ano, o museu de Manchester, no interior da Inglaterra, mandou retirar de sua exposição permanente o quadro “Hilas e as Ninfas”, de 1896, de autoria de John William Waterhouse (1849 – 1917). Além do quadro propriamente dito, os souvenires inspirados na pintura também sumiram da loja do museu. A decisão, segundo curadores, era suscitar o debate sobre a objetificação do corpo feminino na arte e na exposição permanente do espaço. Na parede onde antes ficava a obra, foi fixado um texto explicando ao público os motivos da desaparição. O público foi estimulado a expressar sua opinião em post-its, a serem fixados no mesmo local. A retirada de uma das obras mais emblemáticas do acervo provocou, de fato, rápidas e loquazes manifestações. As declarações dos visitantes, bem como dos internautas nas redes sociais ficaram bem divididas: alguns afirmaram que retirar a obra significa abrir um precedente perigoso, pela rendição à tendência de se apagar ou censurar a produção visual do passado; outros elogiaram a decisão por considerá-la politicamente correta.

Segundo a equipe do museu, a retirada seria temporária. Tanto o desaparecimento da obra quanto as reações do público seriam registradas pela artista contemporânea Sonya Boyce em uma obra que integraria uma próxima exposição. Contudo, o repúdio do público intensificou-se tanto na esfera local quanto na internacional, e o quadro acabou retornando a seu local de origem após apenas sete dias, bem antes do prazo programado. A curadora Clare Gannaway defendeu o projeto afirmando que, no período em que a obra fora produzida, “as personagens femininas aparecem como objetos passivos e decorativos ou como mulheres fatais.”

Todo esse alvoroço aguçou meu desejo de refletir mais sobre a referida pintura e seu autor e sobre as visões do feminino na arte do período, para tentar entender como uma produção de mais de cem anos pode se tornar objeto de tamanho debate nos dias atuais.

Autor e obra contextualizados

Comecemos pelo autor da obra. Afinal, quem foi Waterhouse? Nascido em Roma em 1849, filho de artistas ingleses, foi para Londres em 1853. Ingressou na Academia Real Inglesa em 1871, formando-se em 1888, época em que já estava produzindo ativamente. Continuou pintando até 1915, quando um câncer o obrigou a abandonar o trabalho. Em 2 de fevereiro de 1917, um dia após seu falecimento, uma nota no jornal Times de Londres o descreveu nos seguintes termos: “Este pintor pré-rafaelita pintava de uma maneira moderna.”

A Irmandade Pré-Rafaelita foi fundada em 1848 por três artistas: Dante Gabriel Rossetti, John Everett Millais e William Holman Hunt. O grupo iria influenciar a pintura inglesa de toda segunda metade do século XIX. O nome indicava uma oposição à arte inspirada no modelo clássico do Renascimento, personificada na figura do pintor italiano Rafael de Sanzio (1483 – 1520), que exaltava as formas perfeitas. Esse era o modelo seguido pela academia de arte inglesa. Tomando a corrente contrária, o grupo pretendia explorar, entre outros temas, o romance medieval e mesmo temas míticos, mas de maneira diferente do que acontecia na arte tradicional. O grupo oferecia aos novos artistas uma direção alternativa à arte acadêmica da época, e Waterhouse sucumbiu a esse apelo.

A confraria pré-rafaelita se dissolveu em 1862, mas seus protagonistas tiveram carreiras longevas. Seguiram produzindo e formando novos artistas com tendências semelhantes. Além da exploração de temas cavalheirescos, o espírito pré-rafaelita primava pela precisão no traço e a atenção aos detalhes. Waterhouse embebeu-se desse espírito, mas também foi influenciado pelas paisagens de pinceladas fluídas dos Impressionistas franceses e os temas carregados de simbologias obscuras do movimento Simbolista, também francês. Em suma, observou as transformações na arte do mundo ao seu redor e, a partir disso, desenvolveu um estilo único.

Na década de 1880, Waterhouse tornou-se conhecido como “o pintor das feiticeiras”. Isso, por haver transformado as mulheres no tema principal de suas pinturas. Em sua obra, abundaram, de fato, as criaturas mágicas – mas havia também mulheres de outros tipos. Suas figuras femininas eram inspiradas em personagens literárias medievais ou da antiguidade greco-romana; nesse sentido, a literatura inglesa da segunda metade do século XIX teve grande influência sobre as escolhas artísticas de Waterhouse e dos demais pintores pré-rafaelitas. Na primeira metade do século, a figura literária dominante era masculina: os heróis byronianos, libertinos, sedutores, rebelados contra a autoridade divina. Na segunda metade, ocorre a ascensão da mulher fatal, às vezes anjo luminoso, às vezes demônio crepuscular. Nesse contexto, os artistas pré-rafaelitas, situados entre o romantismo e o movimento decadentista do fim de século, haverão de criar uma imagem ambivalente da feminilidade.

Waterhouse representou uma mulher multifacetada, que podia desempenhar diferentes papéis. Em suas telas, encontramos heroínas, mártires, santas e bruxas. Isso é notável se pensarmos no contexto em que produziu suas obras: a era Vitoriana (reinado da Rainha Vitória, de 1837 a 1901) e a era Eduardiana (reinado de Eduardo VII, de 1901 a 1910). Foi nesse período que as mulheres inglesas iniciaram sua luta por igualdade social, como, por exemplo, o movimento das sufragistas, que data de 1897. Por outro lado, foi também um período de repressão contra a sexualidade feminina. Waterhouse mostra-se sensível a essas questões ao escolher figuras femininas como protagonistas e, muitas vezes, únicas personagens em suas telas. As mulheres de Waterhouse são poderosas, feiticeiras que comandam os acontecimentos, ou figuras livres, que exibem sua própria nudez sem pruridos.

Um dos motivos da recente polêmica em torno à tela “Hilas e as Ninfas” é a representação de um grupo de jovens nuas. A questão do nu, por sinal, estava no coração do debate artístico inglês na segunda metade do século XIX. Antes disso, na arte britânica, o nu era tido como um gênero menor, até mesmo vulgar. É por volta de 1850 que os críticos de arte reconhecem a ausência do nu como uma carência na tradição acadêmica do país; surge então a ideia do nu inglês. A Inglaterra desse período cria seu estilo de nu a partir da união entre três vertentes: o idealismo limpo do neoclassicismo francês, a volúpia dos nus italianos (principalmente venezianos) e o realismo inglês. Dessa maneira, os pintores ingleses produziram a imagem enigmática e sedutora, vulnerável e independente da mulher vitoriana. Sobre o véu literário e mitológico, haverá de esconder-se uma sensualidade bastante subversiva.

Em "Hilas e as Ninfas" é o homem o objetificado

Nas telas de Waterhouse, assim como em outros pintores pré-rafaelitas, a Antiguidade não é a dos grandes deuses do Olimpo, nem dos músculos modelados sob as vestes. O que interessa é a sensualidade das pequenas figuras, principalmente as femininas. Um exemplo é o próprio episódio que inspirou a tela “Hilas e as Ninfas”. Hilas tornou-se escudeiro do semideus Herácles ‒ ou Hércules ‒ após ser poupado por ele em uma batalha. Héracles encantou-se pela beleza do rapaz, e juntos embarcaram na expedição dos Argonautas. Em uma parada na ilha de Mísia, Hilas foi apanhar água junto à fonte Pegea, onde vivia um grupo de náiades (ninfas dos lagos e das fontes). Encantadas pela beleza do jovem, as ninfas o atraíram para dentro das águas e fizeram com que se afogasse; em outra versão, conferiram-lhe vida eterna e permitiram que morasse para sempre na fonte, junto delas. O fato é que Hilas nunca mais foi visto; Héracles pôs-se a procurar seu efebo pela ilha e perdeu a partida do navio Argos. O quadro de Waterhouse revela o instante mesmo em que Hilas sucumbe às ninfas e sela seu destino. É uma espécie de maldição da beleza: nesse caso, a beleza de Hilas, que desperta a cobiça das ninfas e o leva ao fim trágico. Ou seja: aqui, ironicamente, quem parece ser o objeto do desejo é o homem, e não as moças. Na pintura, o transbordamento amoroso e o êxtase são sugeridos de forma controlada, e a nudez dialoga com o tema: é principalmente nos olhares incisivos e nos gestos contidos que a sedução acontece.

A cena se desenvolve num ambiente natural com densa vegetação, onde se destacam os corpos nus das ninfas e seus olhares, que demonstram perfeitamente o poder de atração. Numa época de repressão sexual feminina, mulheres nuas, que conduzem os acontecimentos, não deixam de representar uma certa transgressão. A natureza selvagem em torno aos personagens é outro subterfúgio para sugerir aquilo que não pode ser dito explicitamente. O jogo de cores intensas na paisagem revela a pulsação amorosa. Assim, a natureza encarna a faceta da sensualidade irreprimida e florescente.

Será possível julgar o passado de forma definitiva com os olhos do presente? Por um lado, é inegável que o presente está permeado de passado; mas também existe uma distância e um contexto diverso. É problemática a exigência de que a visão dos corpos, do feminino, das mulheres satisfizesse, na era vitoriana, todas as exigências da correção política atual. Como tentei demonstrar, na verdade, há um tipo de transgressão em afrontar uma época cerceadora com a imagem de um corpo feminino nu e naturalizado; há uma homenagem em colocar-se a mulher como feiticeira, quando as ideias de igualdade entre os sexos incendeiam mentes e levam bandeiras para as ruas.  Contudo, hoje, parece que o passado sempre ‒ e somente ‒ pecou; há o perigo da distorção, de vermos apenas o que desejamos ver nas imagens que nos chegam de outras eras. Parece tentador apontar apenas os erros do passado, mas isso pode levar a interpretações dúbias, ao apagamento de comportamentos sobre os quais podemos, sim, refletir e formar uma opinião crítica; o problema é o desejo de silenciar. O episódio de “Hilas e as Ninfas” demonstra a potência das imagens que, ao atravessar os tempos, chegam a nossa contemporaneidade para gerar novas, profundas e às vezes bastante complexas reflexões.

Laura Ferrazza é doutora doutora em História da Arte pela Sorbonne/PUCRS e pesquisadora do PPG de História da UFRGS

Fonte:  O Estado de São Paulo, 24/02/2018

segunda-feira, 19 de março de 2018

Jessica Jones: uma heroína à revelia e o amor entre mulheres



Terminei de assistir a segunda temporada da Jéssica Jones e gostei. A maioria achou a primeira temporada o máximo e vem criticando essa segunda. Pra mim foi o contrário. Detestei a primeira temporada, com exceção da cena em que ela mata o vilão da história (acho que não é mais spoiler passado tanto tempo). Achei o vilão muito vilão de HQ mesmo, sem uma boa transposição para a tela.

Mas desta segunda gostei. Explica as origens dos poderes da Jessica, introduz a mãe dela supostamente morta e mais poderosa do que a filha, desenvolve mais os personagens coadjuvantes.

Pra quem gosta do binômio mocinha-vilão, vai ser meio decepcionante porque não há um vilão muito evidente e os aparentes vilões não são tão vilões quanto parecem. Todo mundo às voltas com seus defeitos e fraquezas, anseios e dramas, mas também com seu lado positivo e heroico, em particular a própria Jessica.

Gostei especialmente do amor entre mulheres da série. Tem o amor sexual da advogada Jeri Hogarth por mulheres, mas nada panfletário, graças a Zeus. Sexualmente, a maioria é hétero, faz sexo com homens, mas a história de amor é entre mulheres. Amor de mãe e filha, amor de irmãs, amor de amigas. A relação da Jessica com a mãe é conflitiva, mas intensa, bonita e triste. 😭Sua relação com a irmã adotiva, a Trish, também é intensa, e as duas estão dispostas até a morrer uma pela outra, mas nesta edição não tem happy end entre elas. Aliás, a personagem da Trish é a que sofre a maior reviravolta e promete bom desenvolvimento na próxima temporada.

Enfim, consegui desta vez sentir empatia pela rabugenta, alcoólica, meio autodestrutiva, mas muito humana e, à revelia, heroica Jessica Jones. Recomendo. 💗
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P.S. Alerta de spoilers nível hard (Resumão da segunda temporada a partir da trajetória das duas principais protagonistas, Jessica Jones e Trish Walker)

A segunda temporada de Jessica Jones se centrou na busca de Trish pela origem dos superpoderes de Jessica, encampada depois pela própria, desenvolvendo-se em duas narrativas que convergem e divergem durante os treze episódios da trama. Nos primeiros episódios, as duas narrativas, que têm Trish e Jessica como protagonistas, convergem, e as irmãs permanecem juntas na investigação da organização paramilitar IGH, a mais provável responsável pelos superpoderes de Jessica pois, além de fazer drogas para aumentar o desempenho e a resistência de soldados em guerras, também realizava experimentos genéticos em pacientes gravemente doentes sem consentimento. Com a reaparição de Wilson Simpson, ex-namorado de Trish da primeira temporada, fica-se sabendo que ela estava na mira de quem não queria a continuidade das investigações. Simpson inclusive morre na defesa de Trish que herda sua bolsa cheia de armas e do inalador que ele usava para aumentar sua força e resistência em combate.

Enquanto as investigações prosseguem, Trish faz um chamamento, em seu programa de rádio, para que uma das cientistas que descobriram estar ligada à IGH aparecesse para dar uma entrevista. A cientista liga para o estúdio e marca um encontro com a radialista em um bar. Por precaução, Jessica vai no lugar de Trish para fazer a entrevista e descobre que a suposta cientista é uma mulher mais poderosa do que ela própria. Depois de uma conversa pouco amistosa que degenera numa luta entre Jessica e a suposta doutora, esta foge arrebentando o bar e já na rua escalando um prédio alto. Jessica tira uma foto da mulher e passa a tentar identificá-la. Descobre outro nome, ligado à IGH, de outra mulher que havia trabalhado com o Dr. Karl Malus, um dos cientistas da organização. Com Trish, Jessica consegue localizar a mulher, que havia se tornado moradora de rua e havia sido enfermeira na clínica onde Malus trabalhava e tratava a mulher que Jessica tinha fotografado. A ex-enfermeira, Inez, descreve a mulher da foto como um monstro que havia matado outra das enfermeiras da clínica e a teria ferido gravemente. Jessica e Trish levam então Inez para ficar sob custódia da advogada Jeri Hogart.

Na continuidade das investigações, Jessica flagra o Dr. Malus num aquário da cidade junto com a mulher superpoderosa. Ao avistar Jessica, ela e o médico fogem, durante a fuga, ele aplica um tranquilizante na mulher e escapam em um carro. Acompanhada de Trish, Jessica questiona o dono de uma loja que tinha câmera externa e podia identificar o carro dos fugitivos, o que de fato ocorre. Nesse ponto, as narrativas de Trish e Jessica divergem momentaneamente. Enquanto Trish, se vê às voltas com os efeitos do inalador de Simpson que passara a usar de forma recorrente, Jessica segue na busca agora da localização do Dr. Malus e a mulher toda poderosa. 

Na narrativa de Trish, vamos encontrá-la cada vez mais pilhada com o uso do inalador. Transa com Malcom, assistente de Jessica na empresa de Alias Investigations, dá piti em seu show de rádio que abandona abruptamente, sai na porrada (ela que já treinava Krav Maga) com estranhos em ônibus e na rua, quando inclusive salva Malcom de uma surra de três baderneiros. Numa dica de que ela viria a ser a Felina, na temporada 3, Trish arranha a cara de um dos atacantes de cima a baixo. 

Enquanto isso, na narrativa de Jessica, a detetive finalmente encontra a casa onde moravam a mulher misteriosa e o Dr. Karl Malus à beira de um lago. Faz então uma descoberta chocante: a mulher toda poderosa que andara matando uns e outros para proteger seu segredo era sua mãe, Alisa, que supunha morta no acidente que vitimara a ela, Jessica, e a sua família. A partir desse ponto, Jessica vai oscilar várias vezes, durante o restante da temporada, entre o anseio de conhecer e ficar com a mãe e a necessidade de aprisioná-la porque, em consequência dos procedimentos a que fora submetida, a mulher não tinha controle sobre seus impulsos violentos. Assim, ainda na casa de Malus e da mãe, Jessica consegue chamar a polícia, Malus foge, mas Alisa fica com ela. Enquanto, aguardam a chegada das viaturas, entre conversas sobre o passado da família Jones, Jessica decide fugir com a mãe para seu apartamento na cidade enquanto não decidia o que fazer definitivamente. Após um novo episódio onde a mãe demonstra seu instinto assassino, Jessica decide entregá-la à polícia, mas tenta um acordo, com auxílio da advogada Jeri Hogart, para que a mãe não fosse enviada à prisão de máxima segurança, chamada a Balsa, para onde eram enviados criminosos com superpoderes. A mãe aceita assinar o acordo desde que Jessica consiga tirar Karl Malus, o cientista que a tratara e com quem casara, do país. Jessica promete fazê-lo e localiza Malus, em um quarto de hotel, onde lhe diz que lhe arrumará passaporte falso para que pudesse fugir para Montevidéu. Busca então Oscar, um seu ficante, para falsificar os documentos de Malus.

De volta à narrativa de Trish, vemos que recebe convite de um programa de rádio do qual sempre quisera participar, graças ao seu discurso pilhado no Trish Talk, mas descobre que a droga acabara e toda a pilhação que a levara a chamar atenção do produtor se fora. Falha no teste, mas ouve no estúdio que a assassina superpoderosa fora presa por Jessica. Decidida a dar um furo de reportagem, liga para a irmã, que a convida a ir a seu apartamento, onde também se encontra com Malcom. Jessica conta a eles que a assassina era sua mãe, e Trish desiste de fazer a matéria, mas não de encontrar o Dr. Malus, apesar da amiga dizer-lhe que o assunto estava encerrado. 

Trish informa que estava limpa, inclusive porque a droga acabara, mas de fato vai buscar o resultado da análise dos resíduos da droga do inalador, que queria replicar, num laboratório. Descobre que a droga era altamente tóxica, mas que não havia como rastrear sua origem. Trish então consegue autorização para falar com Alisa na cadeia, em busca de informações sobre Karl, porque supostamente queria impedi-lo de repetir suas experiências. Numa óbvia disputa pelo afeto de Jessica que terá consequências fatais posteriormente, Alisa diz que Trish tem inveja dos poderes de sua filha e de que Jessica sempre escolheria a mãe e não a irmã adotiva. 

Trish volta a conversar com Jessica e percebe que ela estava trabalhando para tirar Karl do país. Resolve então transar com Malcom a fim de convencê-lo a invadir o PC de Jessica em busca da localização do cientista. Encontra as fotos de Karl tiradas a fim de falsificar seu passaporte e, através delas, localiza seu endereço e diz que vai atrás dele. Não contava que Malcom quisesse ir com ela, porque, de fato, Trish queria encontrar o cientista para que ele reproduzisse nela o experimento que dera superpoderes a Jessica. Por isso, quando chegaram ao hotel onde estava Karl, Trish golpeia Malcom na cabeça, e o coloca no porta-malas do carro. Convence o Dr. Malus a operá-la, o que ele aceita sem maiores problemas. Saem em busca de material do cientista e outros ingredientes para fazer a fórmula que seria utilizada na cirurgia de Trish. Nesse ínterim, Malcom consegue escapar do porta-malas e Jessica também aparece para tentar em vão impedir Trish de fugir com Malus.

Aparelho agulha a droga criada por Malus ao longo da coluna de Trish

Malcom lembra do logo da loja que vira no saco que Malus carregava, e ele e Jessica correm para o estabelecimento. Lá descobrem com a atendente que Malus comprara vacina contra cinomose felina (outro indício de que Trish viria a ser a Felina) e Telazol, um anestésico. Jessica cai em si de que a irmã não estava tentando replicar a droga do inalador e sim o experimento que lhe dera superpoderes. Desesperada corre para a fábrica abandonada da IGH, onde consegue impedir a cirurgia a tempo de salvar Trish que já estava com convulsões e sangrando pela boca na mesa cirúrgica. Diz então para Malus que ele estava acabado, o que o leva a cometer suicídio atirando nos balões de oxigênio do local, não sem antes permitir que Jessica carregue Trish para fora do local. Vale destacar o diálogo que Trish teve com Malus antes do início da cirurgia por ser definidor da escolha existencial da personagem. Malus alerta Trish sobre os riscos do procedimento e pergunta se ela não queria mudar de ideia. Ela responde: “Você sabe o que é se sentir impotente?” Ele responde: “todo o mundo sabe”. Ela retruca: “nem todo o mundo teve uma mãe abusiva e uma irmã superpoderosa. Só quero ajudar pessoas que não podem se ajudar.”

Jessica leva Trish para o hospital em estado crítico. Dorothy também aparece para cuidar da filha. Nesse ínterim, na cadeia, Alisa, que assistia de sua cela a televisão da guarda da prisão, ouve a notícia de que Karl havia morrido na explosão da fábrica abandona da IGH e que a última pessoa a tê-lo visto era apresentadora Trish Walker, conforme foto tirada por uma fã. Alisa, fica fora de si, começa a gritar e a chorar dentro da cela. Quando a guarda resolve entrar na cela pra lhe perguntar o que se passava e se queria alguma medicação. Alisa a joga contra a parede (não dá pra saber se a mata) e consegue fugir da cadeia. Transtornada, procura Trish primeiro na rádio onde ela fazia seu Talk Show e ataca alguns participantes do programa. No estúdio, vê pela TV que Trish estava num hospital e se encaminha para lá. No quarto de Trish, tenta mata-la no que é impedida por Jessica, mais na base da súplica do que da força. A polícia chega e Alisa se atira pela janela levando uma das detetives que viera prendê-la na queda. Foge para o trailer que havia roubado, mancando pelo tiro, na perna, que levara da detetive. Jessica conversava com Trish que recuperara a consciência, quando recebe chamada da mãe que quer se encontrar com ela. Trish diz que poderiam usar seu apartamento, onde estava o armamento de Simpson, guardado em seu armário, e que Jessica precisava matar a mãe, pois era a única poderosa o suficiente para conseguir o feito.
Jessica vai encontrar a mãe, dizendo-lhe que ia manda-la para a Balsa, mas acaba raptada por ela. Quando acorda, está no meio de uma rodovia já distante de Nova York. Novamente, aqui Jessica se torna ambivalente em relação a mãe que lhe convence de que podia ter seus surtos de cólera controlados pela filha. Decide então não só acobertar a fuga da mãe quanto acompanhá-la na escapada. Encontra-se com Oscar, a quem decide pedir documentos falsos para ambas, mas acaba perseguida pela polícia de quem foge para se reencontrar com a mãe. De volta ao trailer, Jessica recebe chamada de Costa pelo celular do garoto de uma família que ela e a mãe haviam ajudado num acidente e ficara no trailer. Costa diz que Jessica devia entregar a mãe, pois esta já havia cruzado uma linha sem volta, mas que  Jessica ainda não. Que estava sendo cúmplice da mãe e que ele não queria que ela se machucasse. Jessica quebra o aparelho, mas Alisa se dá conta de que não poderia deixar Jessica ser morta por causa dela, embora Jessica insista em encontrar outra solução.

Enquanto isso, no hospital, Trish começa a passar mal e a dizer que estava morrendo. Pede para a mãe segurar sua mão porque estava com medo e, repentinamente, parece morrer realmente. Logo em seguida, porém, começa a ter convulsões, para desespero da mãe que chama os médicos. Quando volta a si, pede água à mãe e em seguida pergunta sobre Jessica. Diz que precisa ir ajudá-la, e a mãe a repreende com dureza. A médica diz que sua pulsação estava forte e que o vírus havia desaparecido de seu corpo, mas ainda era necessário colher exame de urina e fezes. 

Logo depois, Trish recebe visita do detetive Costa que queria ver se Trish sabia de algum lugar em Westchester onde Jessica poderia estar escondida. Trish não acredita quando Costa diz que Jessica estava ajudando a mãe a fugir, pois a irmã não poderia estar ajudando uma psicopata que tinha tentado matá-la, que Jessica simplesmente não a deixaria. Costa diz que a ligação com as mães era poderosa, não importando quão maluca pudesse ser. Trish mente então sobre o possível paradeiro de Jessica, pois de fato sabia que o parque de diversões de Westchester, chamado Playland, era onde Jessica e a mãe iam brincar na roda-gigante antes do acidente que acabara com a família Jones. Costa então diz que vai tentar trazer Jessica de volta a salvo. Trish pergunta: “vai tentar?” Temendo perder Jessica fosse para a mãe ou para um tiro da polícia, Trish levanta da cama e vai tentar encontrar a amiga.

Em Westchester, enquanto Jessica diz que havia encontrado um veleiro no píer próximo que poderiam tomar para escapar da polícia, Alisa deixa claro que desistira da fuga porque não podia arriscar que Jessica fosse morta por causa dela. Invade o parque Playland e sobe num dos bancos da roda-gigante que coloca para funcionar. Jessica a acompanha, tentando fazê-la mudar de ideia, e Alisa a aconselha a abraçar o papel de heroína porque, por mais duro e doloroso que pudesse ser, alguém precisava se incomodar com as coisas e fazer algo a respeito. E que Jessica fora a coisa mais importante que fizera. Mal acabara de dizer isso e cai morta por um tiro disparado por Trish.

Chocada, Jessica salta do banco da roda-gigante e parte pra cima de Trish, derrubando-a. Pega o revólver que matara sua mãe e o aponta para a amiga. Trish pede para Jessica poupá-la porque teve que atirar antes que Alisa a matasse, que a polícia teria atirado nas duas. E que ela tinha que salvá-la. Controlando a raiva e a dor, Jessica diz para Trish correr. Depois, a polícia a encontra junto ao corpo da mãe, com a arma de Trish na mão e supõe que fora ela a executar Alisa.

Posteriormente, Jessica encontra Trish na porta de seu apartamento. Ela se desculpa pelo que fez, embora insistisse que não tinha havido outro jeito, que, se não fosse ela, teria sido outra pessoa. Jessica então responde que não tinha que ter sido ela, Trish, a matar sua mãe. Que ela, Jessica, havia perdido a única família que tinha, que agora olhava para Trish e não via mais a irmã e sim a pessoa que havia matado sua mãe. Trish vai embora, secando uma lágrima, mas, enquanto esperava o elevador, uma moradora que sai dele de costas bate nela sem querer e Trish derruba o celular que tinha nas mãos, mas consegue apará-lo com o dorso do pé. Indicação de que a cirurgia do Dr. Karl talvez não tivesse fracassado afinal.


segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Curtas de animação para aprender filosofia, sociologia e política

De Platão a Foucault: 136 curtas de animação para aprender tudo sobre filosofia, sociologia e política

A empresa especializada em educação online Macat produziu uma série de animações curtas sobre as principais teorias de grande pensadores da humanidade. Ao todo, são 136 vídeos com duração de aproximadamente três minutos cada. Todos eles foram disponibilizados gratuitamente no canal da instituição no Youtube. Os temas abordados são bastante amplos, contemplando desde filosofia clássica, com os pensamentos de Platão e Aristóteles, até a filosofia moderna, de Foucault e Judith Butler.

Além deles, as animações abordam também os principais pensamentos de Charles Darwin, em “A Origem das Espécies”; Sun Tzu, “Arte da Guerra”; Aristóteles, “Política”; Henry David Thoreaus, “A Desobediência Civil”; Sigmund Freud, “A Interpretação dos Sonhos”; Virgina Woolf, “Um Teto Todo Seu”; Max Weber, “A Política como Vocação”; Thomas Hobbes, “Leviatã”; Immanuel Kant, “Crítica da Razão Pura”; Friedrich Hegel, “Fenomenologia do Espírito”; Levy Strauss, “Antropologia Estrutural”; Karl Marx, “O Capital”; Friedrich Nietzsche, “Para Além do Bem e do Mal”; Hannah Arendt “A condição Humana”; Simone de Beauvoir, “O Segundo Sexo”; entre outros.

Os vídeos estão disponíveis apenas em inglês, no entanto é possível utilizar o serviço de legendas automáticas do Youtube, que pode ser ativada no canto inferior direito da tela de reprodução.

Exemplo:


Fonte: Revista Bula, Web Stuff, por Jéssica Chiareli

sábado, 27 de janeiro de 2018

Márcia Tiburi não quis papo com Kim Kataguiri embora tenha escrito livro "Como conversar com um fascista"


Márcia Tiburi conseguiu aparecer na semana em que Lula foi condenado a 12 anos de cana. Ela abandonou uma entrevista na Rádio Guaíba, pelo radialista Juremir Machado da Silva, na quarta (24), após saber que teria que dividir o programa com Kim Kataguiri, um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL). Ao ver o ativista chegando ao estúdio, deu piti:
Credo! Eu não vou sentar com este cara, Juremir. Gente, acabei de encontrar Kim Kataguiri. Estou fora, meu! Tá louco, vou embora, Juremir“, reclamou Márcia.
Vou chamar um psiquiatra. Desculpa, não dá para mim. Me avisa da próxima vez quem tu convida para teu programa. Tenho vergonha de estar aqui. Que as deusas me livrem. Não falo com pessoas assim que são indecentes, perigosas. Tenho até medo de estar aqui.“
Surgiu uma oportunidade de trazê-lo. Cometemos um erro, deveríamos tê-la avisado“, justificou o apresentador.
Eu também não ia querer debater com o Kim Kataguiri, ainda mais sem ser avisada. Kataguiri é um oportunista que joga pra plateia conservadora a fim de que ela o eleja. Alimenta o que há de mais reacionário e obscurantista no país com esse objetivo. É fundamentalmente um desonesto.

Problema que, ao contrário da Tiburi, eu não escrevi livro intitulado "como conversar com um fascista" nem apoio ninguém com 6 processos nas costas em andamento, já condenado em duas instâncias, o que na visão de muitos é um bocado indecente. Tiburi se enforcou com a própria corda. Devia tomar mais cuidado com o que diz.




sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Em matéria de O Globo de 2010, Lula é apontado como proprietário do triplex do Guarujá


Caso Bancoop: triplex do casal Lula está atrasado

GUARUJÁ (SP) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua mulher, Marisa Letícia, são donos de uma cobertura na praia das Astúrias, no Guarujá, mas amargam há cinco anos na fila de cooperados da Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo) para receber o imóvel. A solução encontrada pelos cerca de 120 futuros proprietários do empreendimento foi deixar de lado a Bancoop e entregar o Residencial Mar Cantábrico à construtora OAS, que prometeu concluir as obras em dois anos. Procurada, a Presidência confirmou que Lula continua proprietário do imóvel.

A construção, no entanto, permanece parada porque a empresa ainda está regularizando os documentos de transferência do imóvel. A única alusão à mudança é um painel da OAS, anunciando que ali haverá um empreendimento da construtora. O vigia do imóvel não pode abrir os portões nem aos antigos cooperados, mas o que se vê, além do muro, é que apenas uma das duas torres originais do projeto foi erguida. No local, imóvel como o de Lula pode passar de R$ 1 milhão.

O prédio, no entanto, está no osso: sem nenhum acabamento, nem portas, janelas ou elevadores. É nele que a família Lula da Silva deverá ocupar a cobertura triplex, com vista para o mar. Apesar dos imponentes 19 andares e de um projeto que prevê duas torres, com apartamentos entre 80 e 240 metros quadrados, o Mar Cantábrico é conhecido na vizinhança como "o prédio abandonado". 
As varandas estão cheias de água, e um muro caiu - conta o funcionário de um dos prédios vizinhos, que preferiu não se identificar, mas mostrou o muro. - Já pensamos até em denunciar o prédio por causa da dengue.
A segunda torre, se construída como informa a planta do empreendimento, lançado no início dos anos 2000, pode acabar com parte da alegria de Lula: o prédio ficará na frente do imóvel do presidente, atrapalhando a vista para o mar do Guarujá, cidade do litoral paulista. Na praia das Astúrias, um imóvel como o de Lula pode passar de R$ 1 milhão. Presidente declarou imóvel em 2006 no nome da primeira-dama.

Na declaração de bens feita para a candidatura à reeleição, em 2006, o presidente informou sobre o imóvel, afirmando ter participação na cooperativa habitacional para o apartamento em construção. O contrato foi assinado em maio de 2005, em nome da primeira-dama. Segundo a declaração feita por Lula ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a família já havia pagado R$ 47.695,38. Mas o apartamento mais simples, de três quartos, foi oferecido pela Bancoop por R$ 192.533,20. O medo de muitos deles é que agora o preço final chegue a triplicar, já que o empreendimento foi incorporado pela OAS, que não cobrará o prometido preço de custo da Bancoop.

O GLOBO conversou com um dos cooperados que preferiu procurar a Bancoop para receber seu dinheiro de volta, cerca de R$ 80 mil. Segundo a cooperativa, o dinheiro será devolvido aos que não aderiram ao negócio. O advogado da Bancoop, Pedro de Abreu Dallari, afirmou que a entrada da OAS ou de uma incorporadora nos empreendimentos não é exclusividade do prédio de Lula.
Foi uma decisão do Conselho Fiscal do Residencial Mar Cantábrico, mas outros conselhos também buscam essa alternativa - disse o advogado.
A solução não foi boa para a bancária Andrea Loia, que comprou um imóvel a ser construído na região de Pinheiros (Zona Oeste de São Paulo) e que preferiu, depois de uma longa briga, receber de volta os R$ 25 mil investidos. O pagamento foi a conta-gotas: 36 meses.
O meu imóvel, orçado em R$ 140 mil, também foi transferido para uma construtora. Ele já está pronto, mas sai a R$ 362 mil. Quando desisti do empreendimento, a Bancoop queria que eu trocasse pelo apartamento de Guarujá. Eu não aceitei. Queria me livrar deles.

Fonte: O Globo, por / Atualizado

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Sem estereótipos de gênero, para que meninos e meninas possam desenvolver todo seu potencial

A pesquisadora Lise Eliot, autora do livro "Cérebro azul ou rosa" (Foto: Divulgação)
Particularmente, acho altamente especulativo qualquer argumento que tente atribuir caráter natural aos estereótipos de gênero. Para que a gente pudesse realmente saber se as diferenças biológicas entre mulheres e homens implicam diferenças comportamentais precisaríamos erradicar a educação diferenciada que adestra meninas e meninos de forma totalmente distinta. Se meninas e meninos são educados de forma totalmente diferente (e reprimidos caso saiam dos modelitos rígidos de mulher e homem estabelecidos pela sociedade), obviamente tenderão a se comportar de forma diferente. Para uma abordagem verdadeiramente científica, teríamos que analisar crianças criadas sem educação diferenciada por várias gerações (não adianta pegar um único exemplo historicamente recente e efetuado num único país). Enquanto isso não ocorre, qualquer tentativa de estabelecer relação intrínseca entre sexo e gênero é bem especulativa e suspeita de, na verdade, tentar renaturalizar os estereótipos sexuais. A neurocientista abaixo fica num meio termo, talvez porque acredite, como disse em uma de suas respostas, que é preciso ir devagar com o andor porque o santo é de barro:  
Como mãe, eu tentei quebrar o estereótipo de gênero tanto quanto possível. Mas você vai até onde é possível. As crianças pertencem a uma comunidade maior, e a definição de gêneros é muito importante na nossa sociedade. É um desafio. 
Um desafio que devemos enfrentar sempre. Uma sociedade sem estereótipos de gênero será mais livre, mais igualitária e produzirá gente mais sã. Não haveria transgêneros não fosse a educação desigual dada a meninas e meninos. Não haveria gente pensando que tem algo errado com seu próprio quando de fato errado foi o adestramento de gênero que receberam.


Lise Eliot: "Pais devem evitar rotular os filhos de acordo com o sexo”

Pesquisadora americana defende uma educação além dos estereótipos de gênero, para que meninos e meninas possam desenvolver todo seu potencial

Não existem tantas diferenças no cérebro de meninos e meninas quanto pensamos, mostram pesquisas científicas. Por que então pais e professores reforçam tanto as diferenças? Lise Eliot, neurocientista da Universidade de Medicina e Ciência Franklin Rosalind, em Chicago, nos Estados Unidos, diz que a distinção sexual é inevitável na nossa cultura, mas, em excesso, pode prejudicar o desenvolvimento pleno das crianças.
Para ser feliz na nossa sociedade, você precisa de uma boa mistura de traços tipicamente masculinos e femininos. Você precisa ser forte, assertivo, mas também precisa ser atencioso e sensível”, afirma Lise, autora do livro Cérebro rosa, cérebro azul, que foi lançado recentemente no Brasil. “Se apenas criarmos as crianças de acordo com estereótipos, eles não terão a oportunidade de desenvolver toda a gama de habilidades.”
Lise é formada pela Universidade de Harvard e tem PhD pela Columbia, além de pós-doutorado na Faculdade de Medicina de Baylor. É casada e tem três filhos, uma adolescente de 15 anos e dois meninos de 13 e 10 anos. Em entrevista a ÉPOCA, ela fala das reais diferenças entre os gêneros e dá dicas para não cair na armadilha de achar que garotas nunca serão boas em matemática, e que os garotos não podem ler e escrever tão bem quanto elas na escola.

ÉPOCA – Muito se fala sobre as diferenças entre homens e mulheres. Mas existem, de fato, grandes diferenças no cérebro de meninos e meninas?
Lise Eliot – É verdade que não identificamos muitas diferenças estruturais entre o cérebro dos meninos e o das meninas. As diferenças são muito sutis. Como eu destaco no livro, as principais diferenças psicológicas entre homens e mulheres não são programadas. Existe a noção popular de que homens e mulheres são programados para serem diferentes psicologicamente. Na verdade, não existem muitas evidências para isso. Particularmente no cérebro, muitas das habilidades que falamos – habilidades verbais, escritas, por exemplo – ão aprendidas. Nenhumas delas são traços de personalidade, estão presentes desde o nascimento. Todas são aprendidas. O melhor exemplo é a linguagem. 

ÉPOCA – A maioria das diferenças são culturais?
Lise – Penso que sim, mas não estou dizendo que 100% delas são culturais. Nós realmente temos evidência que a testosterona pré-natal de certa forma afeta o cérebro masculino promovendo uma maturação um pouco mais lenta e um nível maior de atividade, o que provavelmente se traduz em violência física. Mas estas são diferenças relativamente pequenas nas crianças, e elas se tornam muito maiores principalmente por causa da forma como tratamos meninos e meninas, da forma como eles brincam com seus amigos. Nós vivemos em uma sociedade muito segregada por gêneros. Crianças pequenas interagem pouco com crianças do outro gênero. Mesmo adultos, em nosso tempo de lazer, exceto com nossos cônjuges, não passamos muito tempo com pessoas de outro gênero. Com quem você se relaciona influencia no que você é bom. 

ÉPOCA – Quais são as principais diferenças?
Lise – As meninas são mais maduras que os meninos fisiologicamente. No nascimento, a diferença é de cerca de duas semanas. Nós sabemos que meninas falam mais cedo que os meninos. Elas dizem as primeiras palavras, em média, um mês mais cedo que eles. Então é uma diferença enorme. É uma diferença estatística e você precisa avaliar centenas de crianças para encontrar a diferença. Há exceções, claro. Na minha família, tenho uma menina e dois meninos. Meu filho mais velho falou mais cedo que os demais. Os meninos são mais ativos, eles correm mais do que as garotas. Mas não há diferenças em relação a isso na fase da gestação. Muitas pessoas pensam que os bebês que se movem mais podem ser meninos, mas isso não é verdade. Depois do nascimento, no primeiro ano de vida há uma pequena diferença no nível de atividade. Depois do primeiro aniversário, e principalmente quando eles têm dois ou três anos, meninos são mais ativos fisicamente. Estatisticamente, o menino médio é mais ativo que dois terços das meninas. Isso significa que a menina média é mais ativa que um terço dos meninos. 

ÉPOCA – Quais são os mitos em torno de como as meninas “são”?
Lise – Entres os mitos, podemos citar o de que as meninas não são tão agressivas ou competitivas. Isso é totalmente inverídico. O que ocorre é que as meninas aprendem a fazer isso de forma mais secreta. Outro mito é que os meninos são menos emotivos e afetuosos, e não conseguem demonstrar muita empatia. Isso não é verdade. Meninos aprendem a não chorar, eles aprendem a parecer durões, especialmente se convivem apenas com outros meninos. A cultura masculina tende a suprimir emoções masculinas e a sensibilidade. Não é que os garotos nascem insensíveis a outras pessoas. Todas as crianças aprendem sensibilidade social. Elas aprendem quando recebem cuidados. Quando alguém alimenta você, você aprende a alimentar outros. É por isso que a maioria das pessoas educam seus filhos da mesma forma que seus pais. Para os garotos, esse comportamento não é valorizado como é para as garotas, principalmente entre seus amigos. As meninas tendem a ser mais atenciosas e gostar de animais fofos e bebês. Se um menino disser entre seus amigos: “Que fofo!”, os outros vão dar risada. Eles não veem jogadores de futebol fazendo isso. 

ÉPOCA – Por que pais e professores devem prestar atenção às reais diferenças entre os gêneros?
Lise – Para ser feliz na nossa sociedade, você precisa de uma boa mistura de traços tipicamente masculinos e femininos. Você precisa ser forte, assertivo, mas também precisa ser atencioso e sensível. Se apenas criarmos as crianças de acordo com estereótipos, eles não terão a oportunidade de desenvolver toda a gama de habilidades. Se tentarmos ignorar ou contrapor os estereótipos, nós damos a todas as crianças a oportunidade de serem artísticas, científicas, matemáticas, competitivas ou cuidadoras – todos esses traços delas podem ser apoiados ou suprimidos pela educação. Normalmente, garotas fazem artes e meninos, matemática. É muito difícil ver um garoto em numa sala de arte. Mas isso é ridículo. Desde quando um homem não poderia ser artista? Nós vemos agora uma explosão de garotas atletas, depois que esta oportunidade foi dada a elas, principalmente depois dos anos 1970. Atualmente, temos dez vezes mais mulheres nos esportes nos Estados Unidos. Fica claro que, com oportunidade, as crianças expressam suas habilidades. Se você realmente prestar atenção em meninas pequenas, elas são muito ativas. Elas não sabem que não podem correr por aí, procurar insetos e subir em coisas. É mais tarde que aprendem a ser como uma lady. 

ÉPOCA – Que orientações você pode dar aos pais sobre a compra de brinquedos?
Lise – Acho que eles devem oferecer de tudo às crianças. Há muito o que aprender brincando com caminhões e há muito o que aprender brincando com bonecas. Os caminhões enfatizam habilidades físicas e mecânicas. As bonecas, as habilidades verbais, relacionais e de cuidado com os outros. Não queremos os dois tipos em meninos e meninas? Aos dois anos, meninos gostam mais de caminhões que as meninas, mas em famílias de mente aberta e irmãos dos dois gêneros, meninas podem ter mais interesse nesses brinquedos do que a média. Similarmente, meninos com irmãs podem ter mais interesse em bonecas, barbies e projetos de arte. O maior problema é que a maioria dos pais ainda estereotipa. Eu assisti a um programa de TV em que mostravam produtos incríveis para famílias e tudo era em rosa ou azul. Mesmo fora de casa, ensinamos que meninos e meninas são opostos. Eles aprendem essa ideia e, na hora de escolher os brinquedos, as crianças têm noção de gênero e querem se encaixar. Eles preferem coisas de um determinado gênero e evitam outras. Os pais deveriam evitar a rotulagem de gêneros o máximo possível. 

ÉPOCA – Como os pais podem ajudar os meninos a ler e escrever melhor?
Lise – Pais devem ler para os meninos todos os dias, encontrar livros de que eles gostem, como um sobre caminhões, por exemplo, além de tudo o que fazemos mais com as meninas. Nós falamos mais com elas, e é bem conhecido que o vocabulário falado de uma criança está diretamente relacionado à sua habilidade de leitura. Precisamos falar mais com nossos filhos, ouvi-los e engajá-los em diálogos. É esperado que uma garota fale mais e, pelos meninos serem mais ativos, elas ficam menos tempo sentados conversando. Você tem de se esforçar mais com seus filhos, assim como tem de se esforçar para fazer a sua filha praticar mais esportes. 

ÉPOCA – Como os pais podem ajudar as meninas a permanecer confiantes em matemática?
Lise – Isso está mudando rapidamente, pelo menos nos Estados Unidos. As meninas têm desempenho tão bom quanto o dos meninos até o ensino médio. Ao redor do mundo, a diferença entre os gêneros nessa disciplina está cada vez menor. Temos que continuar com as estratégias para as garotas que são valorizar o empenho delas, dar exemplos de vida, falar sobre mulheres que usam matemática em seus trabalhos e sobre o prazer disso. Francamente, precisamos ensinar a todos os nossos filhos que quem tem boas habilidades matemáticas pode ter acesso aos trabalhos mais bem pagos – em finanças, engenharia, ciências. 

ÉPOCA – No futuro, teremos muitas mulheres engenheiras ou trabalhando com computação?
Lise – Com certeza. No caso da computação, não há nada sobre isso que esteja associado a traços masculinos. Não é como trabalhar com engenharia, que está ligada a construções. Existem diferenças físicas entre homens e mulheres, é mais fácil para um homem assumir um trabalho em construções. Você consegue ver a conexão entre um emprego desse tipo, a engenharia e a formação de um estereótipo. No caso da computação, é só sentar e digitar. Não há razão para não termos mais mulheres fazendo programação. O maior problema é o estereótipo: muitas meninas temem se tornar geeks. Meninos passam a maior parte do tempo brincando com seus computadores. Para eles, a computação é a sua zona de conforto. Para elas, existe uma barreira de gênero.

ÉPOCA – Por que as adolescentes são mais vulneráveis à depressão?
Lise – Eu pesquisei e isso, assim como outras pessoas, achei que estivesse relacionado aos hormônios, já que na puberdade elas têm níveis elevados de estrogênio e progesterona. A evidência para isso é muito fraca. Talvez haja algum impacto hormonal, mas, para pesquisas que olham para diferentes causas, baixa autoestima é a principal causa da depressão. E a principal causa da baixa autoestima é a imagem negativa sobre o próprio corpo. Nós colocamos tanto foco na aparência física nas garotas, desde quando elas são bebês, que as que não se parecem como modelos – a maioria de nós – se sentem mal consigo mesmas. Elas têm esse peso que os garotos simplesmente não têm. Eles querem ser fortes e maiores, mas a maioria deles não fica na frente do espelho e diz: “Eu odeio o meu corpo”. É muito difícil achar uma adolescente que não faça isso. Todo mundo que tem essa “bagagem” de autoimagem ruim está mais vulnerável.

ÉPOCA – Você poderia dar mais ideias para balancear as diferenças emocionais entre garotos e garotas na adolescência?
Lise – Nós precisamos, sempre que possível, ensinar as meninas a gostar dos seus corpos. Nós precisamos encorajá-las a praticar mais esportes. Garotas fisicamente ativas se sentem melhor com seus próprios corpos. Elas são mais saudáveis. Além disso, aprendem a lidar melhor com a competição, trabalho em grupo, o que é importante na hora de conseguir um emprego. No caso dos garotos, precisamos ensiná-los a expressar suas emoções, encontrar espaços para que possam chorar.

ÉPOCA – Você acredita que é mais difícil criar meninos ou meninas de forma equilibrada?
Lise – Eu tenho os dois. Os dois têm seus desafios. Certamente, quando os meninos são pequenos, a atividade física é um desafio. Mas eu tenho uma amiga que tem uma filha que parece um carro de corrida. Na adolescência, para mães e filhas pode ser perigoso. É mais difícil para garotas. Na verdade, depende da criança. Se você tem dois filhos do mesmo gênero... Meus dois garotos são tão diferentes quanto minha filha é. 

ÉPOCA – Como suas experiências como mãe influenciaram seu livro?
Lise – Eu fiquei interessada no assunto quando eu já tinha um filho e uma filha, e estava grávida do terceiro. Naquela época, havia aquela discussão sobre cérebro masculino e feminino. Eu queria entrar na questão. Como mãe, eu tentei quebrar o estereótipo de gênero tanto quanto possível. Mas você vai até onde é possível. As crianças pertencem a uma comunidade maior, e a definição de gêneros é muito importante na nossa sociedade. É um desafio. Ao se aproximar da vida adulta, minha filha começou a entender isso e agradecer. Na faculdade, ela está envolvida com a questão LGB.  Jovens universitários se esforçam para quebrar estereótipos. Esperamos que na próxima geração vejamos menos pessoas categorizadas pelo gênero e mais pela sua humanidade.

Fonte: Época, por Amanda Polato, 01/10/2013

Ver também: Estudo mostra que educar meninas e meninos de forma desigual é prejudicial às crianças.

Estudo descarta haver diferenças significativas entre os cérebros de mulheres e homens 

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Os esportes femininos são para mulheres, não para trans.

Laurel Hubbard (nascido em 1978), anteriormente conhecido como Gavin Hubbard,
é uma trans levantadora de peso da Nova Zelândia. É ou não um escárnio essa situação?

A jogadora de vôlei Ana Paula teve a coragem de falar contra o absurdo que é ter transgêneras competindo em esportes femininos. E falou bem. Concordo inteiramente com a "musa do vôlei", seja ela de esquerda, de direita, de centro, de cima ou de baixo. Parece que se identifica como de direita. Não é meu caso, mas também não faz diferença. Conheço igualmente gente de esquerda que concorda com ela. Essa questão é muito mais apenas de bom senso e defesa dos direitos das mulheres.

Biologia não é de esquerda nem de direita

Tiffany, 1,94m de altura, nasceu Rodrigo de Abreu. Depois de participar durante anos de ligas masculinas de vôlei pelo mundo como Rodrigo, inclusive no Brasil, agora se apresenta como Tiffany e joga na Superliga Feminina. Sou contra e peço licença para ter uma conversa honesta e franca com você.

Antes de tudo, a discussão não é sobre preconceito ou tolerância, é sobre a volta do bom senso. Nada contra Tiffany, que apenas segue uma regra criada pelas entidades responsáveis pelo esporte, mas tudo contra politizar ciência, esporte profissional e biologia em nome de uma agenda ideológica que humilha e inferioriza as mulheres. O próprio coordenador da Comissão Nacional Médica (Conamev) da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), órgão responsável pela liberação de Tiffany, Dr. João Granjeiro, declarou ser contra a participação da atleta trans na Superliga Feminina.

Defensores de mulheres transexuais em ligas femininas têm como linha de argumento que atletas passam por tratamentos para reduzir seus níveis de testosterona para o mesmo nível exigido das atletas nascidas mulheres. Permita-me explicar o absurdo desta ideia: mulheres que, como eu, disputaram competições femininas oficiais desde as categorias de base, passam toda sua vida profissional sendo monitoradas em incontáveis testes, dentro e fora do período de competições. No mínimo traço de testosterona detectado acima dos níveis permitidos, uma suspensão é aplicada.

Toda a patrulha médica do Comitê Olímpico Internacional (COI), da Federação Internacional de Vôlei (FIVB) e da própria CBV serviram para que minha força, musculatura, ossos e condição cardiovascular não estivessem sendo construídos injustamente com o hormônio masculino ao longo dos anos. Durante toda minha trajetória de atleta fui submetida ao controle da Agência Mundial Anti-Doping (WADA), o que incluiu informar ao órgão, durante anos, onde eu estava todos os 365 dias do ano para que pudesse ser alvo de um teste-surpresa. Todas as atletas profissionais sabem do que estou falando. Quantas vezes não fomos acordadas às 5h30 da manhã para colherem material sem aviso prévio?

Tiffany, que foi Rodrigo na maior parte da sua vida, tem 33 anos. Há dois anos tem níveis de testosterona compatíveis com o esporte feminino, mas nos outros 31, quando jogava vôlei em ligas profissionais como Rodrigo, construiu um corpo de 1,94m de músculos masculinos. É justo que agora participe de competições com quem é mulher desde que nasceu, que tem ossos, músculos, ligamentos e capacidade aeróbica tipicamente femininas? Você sabe a resposta.

Alguns dos médicos mais respeitados da área, como a Dra. Ramona Krutzik, endocrinologista californiana que estuda os hormônios humanos há 19 anos, estão começando a se posicionar contra este absurdo. Krutzik defende que um ano de terapia hormonal não é suficiente para reverter os efeitos da puberdade masculina em uma atleta transexual.
Para reverter qualquer aspecto físico masculino no corpo, além da cirurgia de sexo são necessários ao menos quinze anos sem testosterona para começarmos a perceber algumas mudanças ósseas e musculares”, esclarece a Dra. Ramona Krutzik.
Nem a Dra. Joanna Harper, mulher transexual desde 2004, concorda que atletas trans femininas deviam ser liberadas apenas pelo nível de testosterona. Fisiologista do Providence Portland Medical Center, Dra. Harper publicou um estudo em 2015 afirmando que corredoras trans podem ser mais lentas que mulheres. No entanto, ela acredita que a redução de testosterona por apenas um ano num corpo masculino não é dado suficiente para permitir a participação de transexuais em diversas modalidades em que a força física é determinante.

Se tudo isso não bastasse, o debate beira o surrealismo quando se sabe que o COI pode excluir do esporte feminino mulheres com níveis mais altos de testosterona por causas naturais. Mulheres que nunca usaram qualquer substância para elevar seus níveis hormonais são impedidas de competir, como a corredora indiana Dutee Chand que foi acusada de “não ser mulher”.

Dutee Chand tinha um distúrbio conhecido como “hiperandrogenismo” e, por isso, foi banida do esporte. Na época, o COI e a Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF) alegaram que Chand não havia passado no teste de gênero e teria que ser suspensa. O teste de gênero é feito nos casos de níveis elevados de testosterona endógena (produzida pelo corpo) e é obrigatório apenas (pasmem!) para mulheres. Chand só pôde voltar a competir depois de recorrer à Corte Arbitral do Esporte (CAS).

Com que cara olhamos então para essas mulheres que já foram cortadas de competições ou banidas do esporte pelo nível de testosterona alto em algum momento da vida? Como impedir agora que meninas adolescentes construam corpos com hormônio masculino e depois ajustem os níveis um ano antes de competir com as outras?

A agenda político-ideológica em defesa de transexuais em esportes disputados por mulheres ultrapassou qualquer limite do absurdo quando Fallon Fox, um ex-militar e ex-caminhoneiro americano, tornou-se a primeira lutadora trans de MMA. Fox não apenas venceu cinco das seis lutas que disputou como causou profundas lesões corporais nas suas oponentes, como concussões sérias e ossos fraturados. Digam o quiserem, Fox é um homem batendo publicamente em uma mulher numa arena e ganhando dinheiro e aplausos politicamente corretos por isso.

O que aconteceria se LeBron James, uma lenda viva da NBA, decidisse levar sua técnica, seus músculos e seus 2,03m para o campeonato de basquete feminino depois de dois anos de tratamento hormonal? A diferença entre o basquete masculino e feminino está em quase tudo: no tamanho na bola, na altura da cesta, na distância para o arremesso de três pontos e até nas regras.

Pode parecer absurdo, mas até a possibilidade de uma convocação de Tiffany para a seleção brasileira já foi admitida pelo atual técnico, José Roberto Guimarães. Em quanto tempo teremos uma seleção feminina composta basicamente por transexuais? Quantas Fernandas, Sheilas e Anas não terão qualquer chance na seleção adulta depois de terem passado (limpas) por todas as categorias de base? Precisamos ser claros em relação a isso, sem meias palavras ou eufemismos, pode ser fim de jogo para o esporte feminino.

Vi as recentes declarações de Tiffany e sou solidária em relação às batalhas que precisou travar para que seu corpo estivesse melhor alinhado com o que deseja. Seus desafios pessoais são inimagináveis para mim. Mas por mais adorável que seja, não tenho como ignorar que possui uma composição óssea e muscular masculina sacando, bloqueando e subindo na rede para cortar. Tiffany pode ser muito bem vinda nas áreas técnicas do esporte feminino, mas seu corpo é totalmente incompatível com o vôlei entre mulheres.

Este é mais um dos temas que precisamos enfrentar numa sociedade que está sucumbindo às militâncias barulhentas, intelectuais e comentaristas perturbados por falta de coragem de participar do debate público e dizer o que precisa ser dito sem medo de perseguições e assassinatos de reputação. Se é desgastante sair da zona de conforto e se posicionar, considere as consequências de se calar.

Não podemos vendar os olhos com o politicamente correto e aplaudir uma desigualdade em nome da igualdade. O que está acontecendo é um verniz em um universo fora da realidade, onde a inclusão de atletas trans no esporte feminino significa a exclusão de mulheres. Exaltar homens “que se identificam como mulheres” em papéis e campos femininos pode ser a forma suprema de misoginia.

Fonte: ESP, 28/12/2017, por Ana Paula Henkel

Atletas trans versus mulheres: É violência contra as mulheres.


quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Eventos em Sampa e documentário homenageiam David Bowie


Multi-instrumentista, compositor, intérprete, performer, ator, produtor musical, fashionista, multimídia (muito antes da palavra ter sido inventada), David Bowie inovou na música, nas artes em geral e no comportamento, com a androginia alucinada de seus primeiros álbuns. Sempre mutante, com suas diferentes personas, passeou pelo hard rock, punk rock, glam rock (que praticamente fundou), folk music, soul music, techno music, neo romantic music, e até jazz, R&B e hip hop. Fez trabalhos bem experimentais e emplacou hits comerciais, mas sempre de boa qualidade. Foi influenciado por outros grandes rock stars, mas influenciou muito mais gente do que foi influenciado. Para muitos, ele foi e continua sendo, a estrela do rock mais influente até hoje. Para quem quer esquecer um pouco da mediocridade atual da música nacional e internacional, nada como ouvir Mister Bowie.

E, para celebrar a genialidade de Bowie, a cidade de São Paulo, tem uma programação variada que vale checar abaixo. Também o documentário sobre seus últimos cinco anos de vida estreia hoje pelo canal BIS (igualmente veja abaixo). Após o texto, confira também algumas músicas de Bowie, como compositor e intérprete, que fazem parte da minha playlist primordial .

7 eventos imperdíveis para quem é fã de David Bowie
No mês em que David Bowie completaria 71 anos, a cidade de São Paulo oferece atrações imperdíveis aos fãs do saudoso cantor, compositor e ator. Janeiro também marca os dois anos da morte e o lançamento de seu último álbum, "Blackstar".

As homenagens ultrapassam o campo da música e incluem uma mostra de filmes estrelados por Bowie, como o clássico de fantasia "Labirinto"; um espetáculo de dança baseado na discografia dele; uma oficina de maquiagens, figurinos e perucas, onde o público é convidado a construir seu próprio Ziggy Stardust, icônico personagem criado pelo artista; e outra de bonecos que vai ensinar a criar um de pelúcia inspirado no camaleão do rock.

Mas é claro que vai ter muita música também, como a apresentação 'Bowie convida Amy' do cantor André Frateschi, vencedor do reality musical PopStar (TV Globo), ao lado da mulher Miranda Kassin; o tributo 'Let's Dance' com artistas que tiveram influência da obra do artista; e um festival de rua no bairro do Bixiga, no centro da cidade.

Veja abaixo 7 atrações:



Data: 9 de janeiro de 2018

Horário: Às 21h

Preço: R$ 10 (meia) e R$ 20 (inteira)

O espetáculo "Ziggy", com a Cisne Negro Cia. de Dança, é baseado na discografia de Bowie. A bailarina e coreógrafa Hulda Bittencourt convidou o renomado bailarino brasileiro Mário Nascimento para um mergulho interpretativo na genialidade do artista. O resultado é um Bowie de personalidade eclética, inovadora e inquieta muito à frente do tempo.

Local: Sesc 24 de Maio - rua 24 de Maio, 109, centro


Data: 9, 10, 13 e 14 de janeiro de 2018

Horário: Das 14h às 17h

Preço: Entrada gratuita

Com uso de maquiagens, figurinos e perucas, o público é convidado a construir seu próprio "Ziggy Stardust" nesta oficina aberta. O personagem criado por Bowie era um ser de outro mundo que veio à Terra para salvá-la, mas em vez disso, encontrou o rock. Ziggy cantava sobre mudança e dor e tocava música muito melhor do que qualquer um. Esse personagem tornou o artista famoso e formou uma comunidade em torno de sua singularidade.

Local: Sesc 24 de Maio - rua 24 de Maio, 109, centro


Data: 10 e 11 de janeiro de 2018

Horário: Quarta às 14h e às 21h; e quinta às 12h

Preço: De R$ 15 (meia) a R$ 30 (inteira)

Show presta homenagem a David Bowie no mês em que ele completaria 71 anos, e que também marca os dois anos de sua morte e o lançamento de seu último álbum, 'Blackstar'. A apresentação vai reunir quatro vocalistas de diferentes estilos e gerações, cujos trabalhos tiveram influência da obra do camaleão do rock. São eles Ritchie, Filipe Catto, Bluebell e Léo Cavalcanti. As canções apresentadas cobrem todas as diferentes fases de Bowie, do som folk do primeiro álbum ao glam dos anos 70, o experimentalismo da fase alemã, a eletrônica dos anos 00 e o pop dançante dos anos 90. A classificação é 16 anos.

Local: Sesc 24 de Maio - rua 24 de Maio, 109, centro


Data: 10, 11 e 12 de janeiro de 2018

Horário: Das 18h30 às 20h30

Preço: R$ 12 (meia) e R$ 24 (inteira)

Nessa oficina os participantes são convidados a soltar a imaginação e criar um boneco de pelúcia inspirado em David Bowie. Após estudo das diferentes fases do artista, seus personagens e figurinos, cada participante com a ajuda dos professores Bololofos vai produzir seu boneco em 3 encontros. Será abordado todo o processo de criação e confecção, desde o desenho do projeto até a costura e enchimento. Inscrições na Central de Atendimento dia 9/01 das 13h às 20h30 para a categoria Credencial Plena, e dia 10/01 das 13h às 20h30 na categoria Credencial Atividade. Vagas Remanescentes dia 11/01.

Local: Sesc 24 de Maio - rua 24 de Maio, 109, centro


Data: 13 de janeiro de 2018

Horário: Das 12h às 20h

Preço: Entrada gratuita

Bowie veio dia 8 de janeiro, criou um universo dentro da Terra e se foi dia 10 de janeiro. O festival vai celebrar sua vida e obra em uma grande festa no bairro do Bixiga. As bandas e as atrações serão confirmadas em breve.

Local: Bixiga


Data: 13 de janeiro de 2018

Horário: Das 15h às 21h

Preço: Entrada gratuita

Nesta homenagem a Bowie, o MIS promove uma mostra de filmes em que ele atua. Serão exibidos o clássico de fantasia "Labirinto: A Magia do Tempo", às 15h; o documentário "Ziggy Stardust and the Spiders from Mars", às 17h; e a cópia restaurada de "O Homem que Caiu na Terra", às 19h. Os ingressos devem ser retirados com uma hora de antecedência na recepção do MIS e a sala está sujeita a lotação. A classificação indicativa é 16 anos.

Local: MIS - avenida Europa, 158, Jardim Europa


Data: 18 de janeiro de 2018

Horário: Às 22h30

Preço: R$ 60

No show BOWAMY, o vencedor do reality musical PopStar (TV Globo), André Frateschi interpreta canções de David Bowie ao lado da mulher, Miranda Kassin, que canta hits de Amy Winehouse. Bowie e Amy sempre foram referência para o casal, até que um dia eles resolveram declarar seu amor pelos ídolos em alto e bom som nos palcos.

Local: Bourbon Street - rua dos Chanés, 127, Moema

Fonte: Catraca Livre, 09/01/2018

DAVID BOWIE: THE LAST FIVE YEARS (bom)
Documentário
QUANDO quarta-feira (10), às 21h30, no canal Bis

Nos últimos anos de sua vida, David Bowie revisitou a exuberância de sua juventude, como se tentasse fechar um círculo em que as glórias de um passado de invenções e reinvenções musicais e estéticas serviriam de alicerces de uma despedida calculada.

"Blackstar", seu último álbum, chegou às lojas dois dias antes de sua morte, há exatos dois anos. Foi o suspiro derradeiro –todo construído em segredo– de um dos maiores artistas do século 20.

Um documentário que acaba de estrear na HBO americana e que chega nesta quarta ao Brasil revela os bastidores da criação de seu disco final, do musical "Lazarus", encenado na Broadway, e de seu penúltimo álbum, "The Next Day", gravado no início de uma década passada em reclusão.

Bowie, dizem os músicos de sua banda no filme, nunca pareceu tão jovem quanto no dia em que sofreu um ataque cardíaco em pleno palco num show em Berlim. Ele terminou aquela apresentação, sua última ao vivo, e foi levado direto dali para o hospital.

Esse episódio em 2004, que abortou sua mais longa turnê, foi o estopim de um surto criativo. Bowie voltou depois para Nova York, onde vivia, e passou anos pensando num adeus à vida de estrela do rock que parece ter amado tanto quanto desdenhado.

"David Bowie: The Last Five Years", o filme, vai muito além de seus últimos cinco anos. É uma crônica das obsessões estéticas do músico, desde seus primórdios, na "swinging London", até o auge de sua fama avassaladora, "aquele lugar onde as coisas são ocas", nas palavras dele.

Francis Whately, o diretor, disseca com olhar clínico cada passo de Bowie e se esforça para destrinchar as influências por trás de cada letra e cada decisão visual, mas também se deixa seduzir pelo magnetismo do retratado.

Os closes insistentes nos olhos de cores destoantes de Bowie são um único –e talvez incontornável– aceno à hagiografia num filme que não disfarça a visão de Bowie como pavão misterioso e frágil que arquitetou três de suas obras mais fortes enquanto lutava contra o câncer que acabaria tirando a sua vida.

Bowie é visto como um gênio inabalável, orquestrando faixa por faixa de seus últimos trabalhos como resgates precisos dos personagens que marcaram toda a sua obra –Lazarus, no caso, é o mesmo Thomas Newton de "O Homem que Caiu na Terra", filme estrelado pelo músico em 1976 que explicita a sua sensação de não pertencimento.

Sua experimentação em faixas como "Sue (Or In a Season of Crime)" e "Lazarus", do disco "Blackstar", retomam as inovações de "Sound and Vision" e as performances ultrateatrais de "Diamond Dogs", dos anos 1970.

Mesmo sendo um tanto convencional no formato, o documentário acaba desmistificando o camaleão. É um exame preciso e delicado dos motivos que levaram Bowie a se esconder do mundo para mostrar depois as suas tais "cicatrizes que não podem ser vistas". No fundo, é uma ode ao astro que fez de sua morte um espetáculo cintilante.

Folha de SP, por Silas Marti, 10/01/2018

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