8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Maneira bem-humorada de criticar propagandas sexistas

Modelito calendário de oficina de mecânico mambembe precisa ser mudado
A grande reivindicação da última geração de feministas parece ser o direito de ser feia, direito que os homens sempre tiveram (sic). É fato que, educadas para serem objetos de uso masculino, as mulheres sempre tiveram a aparência supervalorizada, em detrimento de características muito mais relevantes de suas pessoas, criando muita ansiedade nas moças que tentam se encaixar em padrões de beleza irrealistas.

No entanto, acho um grande equívoco essa história de direito a ser feia. Substituir padrões de beleza por padrões de feiura é uma posição reativa e ressentida que não leva a nada. Em artes marciais, quando um adversário é mais poderoso do que você, se tenta derrotá-lo com raiva e de frente, você inevitavelmente perderá a contenda. Se quiser de fato derrotá-lo, tem que manter a calma e até o humor e usar a força do adversário contra ele. As mulheres têm mais é que capitalizar essa hipervalorização da aparência feminina a seu favor, sem se deixar escravizar por ela. Hoje em dia boa aparência é um abre-portas inclusive para os homens. O seu oposto, a feiura, o desleixo, fecham portas para muitas carreiras. Depois não adianta reclamar de sexismo quando não consegue emprego por aparecer em público como se estivesse em casa, sozinha e muito de folga.

O melhor a fazer é ridicularizar as propagandas de produtos e de beleza que apresentam as mulheres em imagens e posições absolutamente fora da realidade. Lembrando sempre, contudo, que modelos se submetem a certos papéis porque ganham muito dinheiro com isso. São os ossos do ofício, e só mesmo cada mulher individualmente pode avaliar a capacidade que tem de roer os muitos ossos que lhe aparecem pelo caminho.

Foi o que fez o gerente geral da concessionária Motocorsa, Arun Sharma, em Oregon, ao ser acusado de apelar na campanha de promoção da moto Ducati 1199 Panigale. Nas imagens da campanha promocional, a modelo Kylie Shea Lewallen aparece em posições contorcionistas e supostamente sensuais sobre e junto à moto. Aquele velho modelito de foto que costuma decorar lojas de mecânicos mambembes. 

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A rua foi sequestrada por vândalos e movimentos sociais que flertam com vândalos

Rua sequestrada por vândalos e movimentos sociais que flertam com vândalos
De fato, a direita brasileira sempre foi a descrita por Magnoli, conservadora na moral e nos costumes e estatista até a medula dos ossos. A nova direita, da qual um dos arautos é o colunista da VEJA Rodrigo Constantino, uma direita conservadora mas com tintas liberais, daí defensora do Estado mínimo, etc.., só existe na cabeça dele e ainda está em gestação no Brasil. Tem tudo, aliás, para ser o bebê de Rosemary, quando finalmente vir à luz, porque mistura alhos com muitos bugalhos.

Entretanto, acho que Magnoli erra ao dizer até jocosamente que o capitalismo de Estado do petismo não é de esquerda. A esquerda, após o fracasso da economia planificada do socialismo real, aderiu à formula do meio-irmão fascista, tratando de fazer uma espécie de fusão entre o Estado e empresários compadres, exatamente o tal capitalismo de Estado. É aquela velha história: o lobo perde o pelo mas não perde o vício. Manteve o estado enorme e autoritário da esquerda, agora financiado pelos capitalistas de araque e pelo povo explorado por ambos. Continua, portanto, de esquerda.  

“Eu sou de esquerda; o governo é de direita”
Demétrio Magnoli, sociólogo e doutor em geografia humana

Convidado para o Congresso da Primavera, evento realizado na última semana em Curitiba pela seccional paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR), o sociólogo Demétrio Magnoli diz que, embora as reivindicações dos movimentos das ruas tenham sido vagas, foram extremamente claras. “Ao levantarem o problema de direitos universais e de serviços públicos universais, como saúde e educação, os protestos perfuram a lógica política do atual governo”, diz. Considerado uma voz de direita entre os intelectuais brasileiros, Magnoli, nesta entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, não poupa críticas à atual gestão federal e à crise de representatividade.

Já é possível tirar uma conclusão sobre os protestos de rua e seu lugar na história recente?

Já dá para ter conclusões iniciais. A primeira coisa é separar as jornadas de junho do que veio depois. As jornadas de junho foram manifestações multitudinárias [que reuniram multidões]. Dezenas de milhares de pessoas foram às ruas e levantaram temas que dizem respeito a direitos universais, como saúde e educação. O que veio depois foram movimentos de minoria, que é uma coisa completamente diferente. São reivindicações particulares de movimentos sociais, essencialmente governistas, e que operam dentro da lógica política do atual governo. A novidade de junho foram essas manifestações que, ao levantarem o problema de direitos universais e de serviços públicos universais, perfuram a lógica política do atual governo. As reivindicações foram justamente por saúde e educação, que são coisas que foram relegadas ao longo desses dez anos de suposto progresso e avanço do Brasil. É nesse sentido que as manifestações criam um novo cenário político, onde mesmo que tenham adormecido, deixaram mensagens que continuam a repercutir e que vão repercutir nas eleições de 2014.

É possível que as manifestações renasçam?

É difícil dizer isso, porque as manifestações de junho foram interrompidas por ações de vandalismo que repugnam as pessoas. Os grupos de vândalos que hoje atuam nas ruas basicamente estão mandando a mensagem de que rua é lugar de vândalo. Eles contaminam todas as manifestações com a depredação, a violência. A conclusão que muitas pessoas começam a tirar – erroneamente, na minha opinião, mas passível de ser compreendida – é que se manifestar é se misturar com vândalos. Então acho difícil dar uma resposta clara neste momento. É preciso saber se as pessoas comuns, em suas reivindicações democráticas, vão conseguir retomar o lugar que é delas, que é o lugar de se manifestar por direitos, ou se esse lugar vai ser sequestrado de uma maneira mais definitiva por grupos de vândalos e por movimentos sociais organizados que muitas vezes flertam com os vândalos.

Muitas propostas de reforma política estão surgindo para tentar superar a crise de representação. Como o senhor as vê?

Só existe uma proposta de reforma política com começo, meio e fim, que é a do governo. O resto são ideias soltas. A do governo vai na direção oposta à mensagem das ruas. A mensagem das ruas é que a elite política se cristalizou como uma casta hostil ao interesse público, e a proposta de reforma política do governo é cristalizar ainda mais essa elite. Fazem isso dando todo poder aos partidos, com propostas de listas partidárias fechadas que não permitem ao povo votar em candidatos nominais, apenas em partidos. E há também a proposta de financiamento público exclusivo de campanha, o que significa verter dinheiro do povo para toda a elite política que o povo odeia. Querem me obrigar a financiar candidatos em que eu nunca votaria. Essas propostas distorcem ainda mais o sentido da representação política.

Em dez anos de PT no governo, houve uma confusão das relações de direita e esquerda do Brasil?

Eu acho, e já escrevi sobre isso, que o governo é conservador porque se nega a fazer uma série de reformas que tornariam a representação mais efetiva e mais transparente. É conservador porque estimula o capitalismo de Estado. É conservador, e mais do que isso, é restauracionista, porque quer restaurar o corporativismo varguista. Isso confunde um pouco as pessoas. Elas tendem a achar que o governo é de esquerda, mas ele tem muitas características de direita. A única característica de esquerda que ele conserva é uma atração incontrolável por ditaduras de esquerda. Mas apenas isso não faz alguém ser de esquerda. Eu sou de esquerda; o governo é de direita.

A “peemedebização” do governo contribui para essa percepção?

A “peemedebização” é o sintoma mais claro da formação de uma ampla coalizão da elite política em torno do PT, que é o escudo protetor dessa elite. É um fenômeno interessantíssimo do ponto de vista histórico e sociológico, porque o PT é um partido que surge contra a ordem, mas se transforma em um partido da ordem quando chega ao poder. E hoje se converte em um partido da velha ordem.

Fonte: Gazeta do Povo, 10/112013

terça-feira, 12 de novembro de 2013

A destruição da Venezuela pelo socialismo bolivariano com ajuda do dinheiro dos brasileiros

Em comunicado à nação, Nicolás Maduro incita população a saquear supermercado
Enquanto Nicolás Maduro destrói a Venezuela com seu socialismo bolivariano (e, seja qual for o sobrenome que se dê ao socialismo, ele sempre é uma máquina de destruição), pede dinheiro aos cumpañeros petistas do governo Dilma para diminuir a crise de abastecimento de produtos básicos nos mercados venezuelanos.

Claro, não é a primeira vez que o chavismo conta com a inestimável ajuda petista. Outras ditaduras mundo afora, em particular as de Cuba e Angola, têm contado com a generosidade petista. E os supostos empréstimos que o governo dá a essas ditaduras são inclusive considerados secretos. Em outras palavras, nós pagamos a conta e nem sequer podemos saber no que exatamente o dinheiro foi empregado.

Abaixo editorial do Estadão, de 07/11, informando os detalhes de mais uma ajuda dos petistas ao amigo Maduro e quatro vídeos sobre o assunto. No primeiro, o deputado estadual do PSDB de Minas Gerais, João Leite, fala sobre a transferência de bilhões de reais dos cofres públicos, pelo governo Lula-Dilma, para Cuba e Angola. No segundo, o "presidente" da Venezuela, Nicolás Maduro induz a população a saquear uma rede de supermercados local e se registram imagens do saqueio (gerentes das cinco lojas da rede foram presos, e a empresa forçada a fazer uma espécie de “liquidação bolivariana”), uma amostra contundente da situação de degeneração pela qual passa o país sul-americano. Nos dois outros, saqueios pura e simplesmente.

Por essas e mais outras de igual quilate é que se percebe a urgência da retirada do PT do poder. Não se trata só o destino do Brasil que está em jogo. Trata-se do destino de outros povos também.

O socorro do Brasil a Maduro
O Estado de S.Paulo

O governo petista resolveu socorrer o regime chavista da Venezuela, que faz água por todos os lados. E, claro, essa generosidade correrá por conta do contribuinte brasileiro.

Sob ameaça de sofrer um duro revés nas eleições municipais de 8 de dezembro, vistas como uma espécie de referendo de seu desastroso governo, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, pediu ajuda ao Brasil para contornar a crise de desabastecimento no país, o mais sério dos inúmeros problemas de sua administração.

A intenção de Maduro é garantir o fornecimento de alimentos e outros produtos do varejo até a eleição. Como tudo o que tem pautado o tal "socialismo do século 21", esta será mais uma medida paliativa e desesperada, lançada apenas para mitigar por um breve período os efeitos permanentemente deletérios da insanidade econômica chavista.

O modelo estatista feroz, com preços controlados e hostilidade à produção privada, esvaziou as prateleiras dos supermercados venezuelanos. As imensas filas para comprar os mais diversos produtos de primeira necessidade - o papel higiênico é o símbolo desse calvário - tornaram-se a marca do governo Maduro.

Em vez de admitir os erros de sua administração e procurar resolvê-los de modo racional, o presidente venezuelano optou pelo caminho típico do chavismo: atribuiu a escassez à "sabotagem" de capitalistas e disse que agora trava uma "guerra econômica" contra esses "agentes do imperialismo". A "guerra" inclui impedir que a imprensa noticie o desabastecimento, porque, segundo sua versão tresloucada, é isso que leva pânico à população e gera corrida aos supermercados.

É em nome desse combate imaginário que Maduro pediu ao Congresso "poderes especiais" para governar - poderes cujo escopo, obviamente, deverá ir muito além da emergência econômica.

Para o governo petista, porém, Maduro e sua equipe sabem o que estão fazendo. "Eles têm consciência dos problemas em curto, médio e longo prazos no país e estão muito preocupados em enfrentar, de forma clara e estratégica, as dificuldades históricas da economia venezuelana", disse ao jornal Valor o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia.

Ao considerar que a crise da Venezuela faz parte de "dificuldades históricas", Garcia quer fazer crer que a situação atual resulta de problemas antigos, estruturais, e não das evidentes lambanças chavistas. É provável que Garcia considere também que a importação emergencial de alimentos seja parte, conforme suas palavras, de um planejamento "claro e estratégico" para enfrentar a crise.

Esse "planejamento" conta com a bondade brasileira. Como faltam dólares na Venezuela para realizar a importação, graças ao controle do câmbio, o Brasil pretende usar o Programa de Financiamento às Exportações (Proex), do Banco do Brasil, num acordo com o Banco de Venezuela. Segundo essa solução, ainda a ser detalhada, o Banco de Venezuela receberia o dinheiro do financiamento e quitaria a importação diretamente aos fornecedores brasileiros, sem ter de passar pela Cadivi, o órgão venezuelano que regula o câmbio. O Banco de Venezuela pagaria o financiamento ao Banco do Brasil em suaves prestações.

Com tal garantia, a expectativa do governo é de que os empresários brasileiros superem a crescente desconfiança em relação à Venezuela - convidadas a incrementar as exportações àquele país nos últimos anos, seguindo a orientação da agenda Sul-Sul do governo petista, muitas empresas nacionais enfrentam agora grandes atrasos no pagamento. Como resultado, as exportações para a Venezuela no primeiro semestre do ano foram quase 16% inferiores às do mesmo período de 2012.

Em outras palavras, se as negociações prosperarem, o risco de calote dos importadores venezuelanos seria assumido pelo Banco do Brasil - em nome do compromisso ideológico do governo petista com o chavismo, com cujas agruras o contribuinte brasileiro não tem rigorosamente nada a ver.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Racialistas avançam seu projeto de dividir os brasileiros na base do preto ou branco

Racialistas querem separar essas mãos pra sempre
No mundo maniqueísta do esquerdireitismo, os fatos não são analisados em si mesmos mas sim pela moldura onde foram enquadrados. Parece aquela história dos pacotes de TV a cabo, onde a gente adquire à revelia um monte de canais pelos quais não tem interesse para poder ter acesso aos que interessam.

Nos pacotes do esquerdireitismo, se você é favorável, por exemplo, ao casamento de pessoas de mesmo sexo tem que ser compulsoriamente a favor de cotas raciais, embora sejam questões diametralmente opostas. No caso da primeira, o pleito do casamento LGBT vai ao encontro do artigo quinto de nossa constituição onde se lê que somos todos iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza. Trata-se apenas de um direito que se estende a um segmento da população sem alterar em nada a vida dos que já o usufruíam. A oposição ao casamento entre pessoas de mesmo sexo é de fundo religioso e antidemocrática. 

No caso da segunda, as cotas raciais vão contra esse mesmo artigo, passando a distinguir pessoas pelo critério anticientífico e socialmente danoso de "raça" e a tratar seres humanos de forma diferenciada com base em cor de pele e "autodeclarações raciais". Neste caso, a oposição às cotas é democrática e, ao contrário do que pregam, antirracista, independente da posição do STF sobre o assunto (opinião, aliás, profundamente equivocada).

Neste mundo esquerdireitista, contudo, quem analisa os fatos pelo que são e não partir das molduras onde foram enquadrados sofre um bocado. O sociólogo Demétrio Magnoli, considerado de direita pela esquerdosa e de esquerda pela direitosa, tem sido uma das vítimas preferenciais da ala vermelha do esquerdireitismo. Como sempre se opôs - e com boa fundamentação - às nefastas cotas raciais é rotulado de reacionário racista. Em evento na Bahia, no dia 26 de outubro último, inclusive teve uma de suas palestras interrompida por estudantes racialistas que o acusaram de racista por não acreditar em "raças".

Num aparte pessoal, também perdi a conta das vezes que fui chamada de direitista reacionária, por integrantes dos movimentos esquerdiotizados da atualidade (esta semana já me xingaram mais uma vez), e de esquerdista, comunista (é mole?), feminazi, gayzista e tantas outras insânias que a conservalha evacua pela boca latrinária. Tá muito difícil a coisa!

Retornando, porém, ao tema dessa postagem, o tempo costuma dar a César o que é de César. As análises de Magnoli, sobre as nefastas cotas racistas, estão sendo confirmadas pelo andar da carruagem. Das cotas racistas para ingresso em faculdades passaram-se às cotas para pós-graduação (mas pra quê, se o aluno já está na universidade?). Agora, na terça (dia 05/11),  Dilma, fazendo média com os racialistas, validou projeto de cotas para o serviço público. Dias antes, em 30/10, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabelece cotas raciais na representação parlamentar do povo (sic).  Como bem aponta Magnoli (ver texto na íntegra abaixo), 
...as políticas de raça não são motivadas por um desejo de corrigir distorções derivadas da renda. O racialismo exibe-se, agora, como ele realmente é: um programa de divisão dos brasileiros segundo o critério envenenado da raça.
O Brasil e a ‘nação diaspórica’

Demétrio Magnoli
A gloriosa Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou uma viola-se diretamente o princípio fundamental da liberdade de voto. Por isso, a PEC de autoria dos petistas João Paulo Cunha (SP) e Luiz Alberto (BA) provavelmente dormirá o longo sono dos disparates nos escaninhos da Câmara. Mas ela cumpre uma função útil: evidencia o verdadeiro programa do racialismo, rasgando a fantasia com que se adorna no debate público.
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabelece cotas raciais na representação parlamentar do povo. Ignorando tanto a Constituição quanto a Justiça, a CCJ aprova qualquer coisa que emane de um grupo de interesse organizado, o que é um sintoma clamoroso da desmoralização do Congresso. Nesse caso,

O argumento ilusionista para a introdução de cotas raciais no ingresso às universidades residia na suposta desvantagem escolar prévia dos “negros” — algo que, de fato, é uma desvantagem prévia dos pobres de todas as cores de pele. A fantasia da compensação social começou a esgarçar-se com a extensão das cotas raciais para cursos de pós-graduação, cujas vagas são disputadas por detentores de diplomas universitários. A PEC aprovada na CCJ comprova que as políticas de raça não são motivadas por um desejo de corrigir distorções derivadas da renda. O racialismo exibe-se, agora, como ele realmente é: um programa de divisão dos brasileiros segundo o critério envenenado da raça.

De acordo com a PEC, na Câmara dos Deputados e nas Assembleias Legislativas estaduais, será reservada uma parcela de cadeiras para parlamentares “negros” equivalente a dois terços do percentual de pessoas que se declaram pretas ou pardas no mais recente censo demográfico. As bancadas “negras” não serão inferiores a um quinto ou superiores à metade do total de cadeiras. Os deputados proponentes operam como despachantes de ONGs racialistas e expressam, na PEC, a convicção política que as anima: o Brasil não é uma nação, mas um espaço geopolítico no qual, sob a hegemonia dos “brancos”, pulsa uma “nação africana” diaspórica. A presença parlamentar de bancadas “negras” representaria o reconhecimento tácito tanto da inexistência de uma nação brasileira quanto da existência dessa nação na diáspora.

Os eleitores, reza a PEC, darão dois votos: o primeiro, para um candidato de uma lista geral; o segundo, para um candidato de uma lista de “negros”. A proposta desvia-se, nesse ponto, de uma férrea lógica racialista. Segundo tal lógica, os eleitores deveriam ser, eles também, bipartidos pela fronteira da raça: os “negros” votariam apenas na lista de candidatos “negros” e os demais, apenas na lista geral. A hipótese coerente não violaria o princípio da liberdade de voto, pois estaria ancorada num contrato constitucional de reconhecimento da nação diaspórica. Como inexiste esse contrato, os racialistas optaram por um atalho esdrúxulo, que escarnece da liberdade de voto com a finalidade de, disfarçadamente, inscrever a nação diaspórica no ordenamento político e jurídico do país.

Nações não são montanhas, rios ou vales: não existem como componentes do mundo natural. Na expressão certeira de Benedict Anderson, nações são “comunidades imaginadas”: elas podem ser fabricadas na esfera da política, por meio das ferramentas do nacionalismo. A PEC não caiu do céu. A “nação africana” na diáspora surgiu no nacionalismo negro do início do século XX com o americano W. E. B. Du Bois e o jamaicano Marcus Garvey. No Brasil, aportou cerca de três décadas atrás, pela nau do Movimento Negro Unificado, entre cujos fundadores estava Luiz Alberto. No início, a versão brasileira do nacionalismo negro tingia-se com as cores do anticapitalismo. Depois, a partir da preparação da Conferência de Durban, da ONU, em 2001, adaptou-se à ordem vigente, aninhando-se no colo bilionário da Fundação Ford. “Afro-americanos”, nos EUA, e “afrodescendentes”, no Brasil, são produtos identitários paralelos dessa vertente narrativa.

O acento americano do discurso racialista brasileiro é tão óbvio quanto problemático. Nos EUA, o projeto político de uma identidade negra separada tem alicerces sólidos, fincados nas leis de segregação que, depois da Guerra de Secessão, traçaram uma linha oficial entre “brancos” e “negros”, suprimindo no nascedouro a possibilidade de construção de identidades intermediárias. No Brasil, em contraste, esse projeto choca-se com a noção de mestiçagem, que funciona como poderoso obstáculo no caminho da fabricação política de raças. A solução dos porta-bandeiras do nacionalismo negro é impor, de cima para baixo, a divisão dos brasileiros em “brancos” e “negros”. As leis de cotas raciais servem para isso, exclusivamente.

As diferenças históricas entre EUA e Brasil têm implicação direta na gramática do discurso político. Lá, o nacionalismo negro é uma proposição clara, que provoca um debate público informado — e, quando Barack Obama se define como mestiço, emerge uma resposta desconcertante no cenário conhecido da polaridade racial. Aqui, os arautos do nacionalismo negro operam por meio de subterfúgios, escondendo-se atrás do pretexto fácil da desigualdade social — e encontram políticos oportunistas, juízes populistas e intelectuais preguiçosos o suficiente para conceder-lhes o privilégio da prestidigitação.

“Tirem a máscara!” — eis a exigência que deve ser dirigida aos nossos racialistas, na hora em que apresentam a PEC do Parlamento Racial. Saiam à luz do dia e conclamem o Brasil a escrever uma nova Constituição, redefinindo-se como um Estado binacional. Digam aos brasileiros que vocês não querem direitos iguais e oportunidades para todos numa república democrática, mas almejam apenas a condição de líderes políticos de um movimento racial. Vocês não têm vergonha de ocultar seu programa retrógrado à sombra da persistente ruína de nossas escolas públicas?

Fonte: O Globo, 07/11/2013

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Executivas 'neofeministas' dos EUA pregam ascensão agressiva

Sheryl Sandberg, durante a apresentação de seu livro (Getty Images)
Sheryl Sandberg, durante a apresentação de seu livro
Quando a diretora operacional do Facebook, Sheryl Sandberg, exortou as mulheres ''a fazer acontecer'' no mercado de trabalho para retomar uma ''revolução'' feminista que, segundo ela, ''empacou'', sabia que estava levantando uma discussão espinhosa.
Intuição semelhante deve ter tido a CEO do Yahoo!, Marissa Mayer, quando proibiu seus empregados de trabalharem de casa, poucos meses depois de se autoimpor uma licença-maternidade de apenas ''algumas semanas'', ao longo da qual ela continuou exercendo sua função à distância.

Coincidência ou apenas a ponta do mesmo iceberg, as duas executivas entraram no centro do debate sobre o avanço da mulher no mercado de trabalho e a busca do santo graal do emprego moderno, o equilíbrio entre o dever e o lazer.

A problemática foi colocada por Sandberg em um livro publicado nesta semana nos EUA, que chega ao Brasil no início de abril – Faça Acontecer: Mulheres, Trabalho e a Vontade de Liderar (Editora Companhia das Letras).

Há três décadas, as mulheres são metade dos graduados nas universidades, escreve. Mas apesar do avanço, elas ainda ocupam apenas 4% dos cargos de diretores executivos das 500 empresas de maior faturamento nos EUA, segundo a lista da revista Forbes.

O cenário é semelhante na política: apenas 17 países são governados por mulheres, e elas ocupam apenas 20% das cadeiras de parlamentares.

Sandberg não deixa de reconhecer as ''barreiras externas'' – o preconceito, a discriminação, o assédio sexual – que travam o avanço das mulheres no mercado de trabalho.

A polêmica está no que ela considera ''barreiras internas'': uma suposta ''internalização das mensagens negativas'' recebidas de um mundo machista, uma ''redução das expectativas'' de carreira em prol da dos maridos, enfim, uma espécie de derrotismo feminino diante dos desafios do mercado.
'Meu argumento é que livrar-se destas barreiras internas é crucial para ganhar poder'', escreve Sandberg. ''Outras pessoas argumentam que as mulheres só conseguem chegar ao topo quando as barreiras institucionais são removidas. É a situação típica do ovo e da galinha.
'Estou incentivando as mulheres a tratar da galinha, mas apoio totalmente aquelas que estão focadas no ovo'', escreve.
Feminismo ou mais pressão?

A executiva da rede social quis que seu livro chegasse às suas leitoras como um novo manifesto feminista. Junto com a obra, Sandberg está impulsionando a criação dos chamados ''círculos para fazer acontecer'', espécies de grupos de discussão para discutir como renovar o avanço da mulher no mercado de trabalho.

Mas, mal chegou às livrarias, a obra já foi acusada de colocar ainda mais pressão sobre as mulheres, ao criar expectativas irrealistas sobre o que cada uma pode fazer, individualmente, para avançar na profissão diante da dupla jornada em casa e principalmente da maternidade, um ''obstáculo'' que os colegas masculinos de profissão não precisam vencer.

O livro descreve o problema, mas não aponta as soluções, e assim as respostas vão nascendo por tentativa e erro no próprio mercado de trabalho.

A CEO do Yahoo!, Marissa Mayer, que tirou apenas
algumas semanas de licença maternidade
Um exemplo veio em meados do ano passado, quando a CEO do site Yahoo!, Marissa Mayer, anunciou que tiraria apenas algumas semanas de licença-maternidade, que nesse período continuaria trabalhando de casa e que voltaria o mais rápido possível para o escritório.

A decisão deixara os especialistas debatendo se se tratava de progresso do feminismo ou um péssimo exemplo emanado de uma jovem mãe viciada em trabalho.

No mês passado, Mayer voltou a criar polêmica ao proibir os funcionários de sua companhia de trabalhar de casa – uma prática comum na indústria de tecnologia, que muitos consideram um avanço, principalmente naquela busca do equilíbrio entre trabalho e lazer na qual as mais prejudicadas são frequentemente as mulheres.

A CEO alegou que, por razões de produtividade e integração, todos precisariam estar ''fisicamente juntos'' no ambiente de trabalho.

Representatividade

Mayer e Sandberg não são as mulheres médias afetadas pelas suas decisões ou por suas visões do lugar da mulher no mercado de trabalho.

Mayer, em particular, está sob fogo cruzado pelo fato de ter mandado construir, pagando de seu próprio bolso, um berçário ao lado de seu escritório para poder passar mais tempo com seu filho.

A bilionária Sandberg, que pode cercar-se de quantas babás e enfermeiras julgar necessárias para cumprir por ela a sua função, também não foi poupada.

À sua maneira, as duas poderosas executivas puseram mais lenha em uma fogueira onde já queimam as opiniões da especialista em política da Universidade de Princeton, e mãe de dois adolescentes, Anne-Marie Slaughter.

Em meados do ano passado, Slaughter, recém-saída da direção de Planejamento de Políticas do Departamento de Estado no governo Obama, escreveu um artigo argumentando que ''as mulheres ainda não podem ter tudo''.

Na sua experiência, argumentou, os interesses de uma mãe de dois adolescentes e de uma alta autoridade do governo americano simplesmente não são compatíveis.

Especialistas estão chamando este debate polarizado de um ''cabo-de-guerra'', cujo resultado, se é que haverá um resultado claro, ainda está longe de ser indicado.

No ínterim, Sandberg, do Facebook, saiu em defesa de Mayer, afirmando que a executiva do Yahoo! não estaria sendo tão criticada por sua decisão – que zela pela saúde financeira da empresa que ela preside – se ela fosse homem.

Uma capa da revista Time sobre Sandberg e seu livro estampa os dizeres: ''Não a deteste por ela ser bem-sucedida'', titula o semanário.

Como a executiva, os editores da revista sabiam onde estavam pisando.

Fonte: BBC Brasil, Pablo Uchoa, 15/03/2013

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