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A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Distrital é voto direto para vereadores e deputados


Excelente texto do economista Roberto Macedo sobre o voto distrital. Assino embaixo. Para divulgar.

Distrital é voto direto para vereadores e deputados

ROBERTO MACEDO *

Há tempos defendo o voto distrital para eleger esses parlamentares. É de longe muito melhor que o sistema usado no Brasil para eleger os tais "representantes" do povo. O difícil é aprová-lo, pois a decisão legal cabe a eleitos pelo sistema atual que temem pôr reeleições em risco.

A pressão, portanto, deve vir de fora para dentro do Congresso Nacional. Na sequência das manifestações de rua, o momento é oportuno para pautar o voto distrital nas discussões sobre a reforma política. Li várias análises desses movimentos e ressaltam que o cidadão carece de representatividade política. Ora, essa é a essência do voto distrital. Ele aproxima o eleitor dos candidatos e do eleito, que passa a representar todo o distrito e a ter de prestar conta do que faz, sem o que sua reeleição fica comprometida. E mais: o eleito também atua por aqueles que não o sufragaram.

Hoje o contato entre o eleitor e "seu" vereador ou deputado lembra um cometa que passa a cada quatro anos. Após a eleição muitos se esquecem do distante candidato em que votaram. No mesmo dia os eleitos se despedem para voltar quatro anos depois à cata de votos. E os que votaram em perdedores ficam ainda mais órfãos da representatividade.

Quanto aos eleitos, também como cometas desaparecem na escuridão em que exercem seus mandatos. Pergunto ao leitor: quem é o seu vereador ou deputado? Quando recorreu a ele? O que ele fez ou faz e quando prestou contas do seu trabalho?

Hoje o "representante" fica distante do "representado" e, dessa maneira, sem amarras para o que der e vier. Ou mesmo para quem vier e der. E soltos tanto no que não fazem como no que fazem. Ou aprontam. Há exceções, mas cada vez mais excepcionais.

Há outras vantagens do distrital. Elimina o que chamo de efeito Enéas-Tiririca, em que candidatos muito bem votados arrastam, com o voto na legenda, outros mal sufragados, ou mesmo indesejáveis. Aliás, puxadores de votos como esses nem mesmo seriam eleitos em distritos, pois o foram com votos minoritários em cada localidade, mas somados por todo o Estado. No distrital as campanhas individuais não seriam tão caras, pois Estados e municípios seriam divididos em distritos. Na eleição de deputados federais, por exemplo, o Estado de São Paulo teria 70 distritos, número que lhe cabe na Câmara. E na dimensão de um distrito seria menos difícil apurar irregularidades eleitorais, como o caixa 2 e a distribuição de cestas básicas em troca de votos.

Com o distrital também seria maior o número de eleitos que lutariam por reivindicações de seus eleitores, e não pelas de corporações e de outros interesses que atuam no espaço maior das eleições atuais. E em Brasília seria fortalecido o lobby distrital para obter mais recursos tributários para cidades e regiões, hoje excessivamente concentrados na União. Mais perto dos cidadãos carentes de serviços públicos, falta aos Estados e, principalmente, aos municípios uma representação mais efetiva no Congresso. A relutância da presidente Dilma Rousseff em dar às cidades parcela maior dos impostos foi um dos motivos das vaias que levou ao falar recentemente a prefeitos de todo o País reunidos em Brasília.

O distrital também limitaria o número de candidatos a um por partido, e a uma meia dúzia de viáveis, se tanto. Isso ao contrário do sistema atual, em que o eleitor escolhe um entre uma multidão de candidatos sobre os quais não dispõe de maiores informações, não sendo assim possível confrontá-los uns com os outros no embate eleitoral. Na eleição de 2010 havia 1.169 candidatos paulistas à Câmara dos Deputados. Como escolher um entre tantos?

Nesse contexto, ao optar por um candidato, pode-se eleger outro, até um indesejável da mesma legenda. Ademais, sem vínculo com os cidadãos do espaço bem mais limitado de um distrito, vale repetir que é comum um eleito pelo sistema atual privilegiar a representação de quem votou nele em todo o Estado ou município, como uma categoria profissional ou um grupo econômico.

Há parlamentares que se elegem com votação concentrada regionalmente em seus Estados ou municípios, o que lhes dá um traço de distritais. Mas se aceitarem um cargo no Executivo, que sobre eles exerce atração irresistível, seus lugares de origem perdem seu eleito, pois em geral o suplente tem outra origem geográfica. No distrital o substituto viria do próprio distrito.

Não tenho espaço nem assegurada a paciência do leitor para seguir com as vantagens do voto distrital. Ele não é uma panaceia, mas sofre de menos males que o sistema atual. Por serem tantas as suas vantagens, em particular a de permitir ao eleitor, no jogo da representação, a marcação dos candidatos e do eleito, estou convencido de que, se adequadamente difundidas, ganhariam suporte popular, até mesmo manifestações de rua e apoio nas redes sociais.

Mas sei também o quanto é difícil difundir a ideia a ponto de convencer uma maioria capaz de levar o Congresso a aprová-la. Assim, não se pode sair por aí defendendo o voto distrital apenas com referência a esse nome. É preciso transmitir seu significado de forma clara. E na arte da comunicação é útil a associação de uma novidade a algo já bem conhecido e incorporado à vida das pessoas a quem a mensagem é levada.

É por isto que recorro a mensagens como a do título deste artigo. Insisto: é preciso difundir o voto distrital como eleição direta de vereadores e deputados. O distrito é apenas o espaço ou o campo da disputa. O brasileiro sabe o que é eleição direta e tem pendor por ela.

Aliás, há 30 anos nascia o movimento Diretas-Já. Ele teve papel importante na redemocratização do País. Mas a eleição de vereadores e deputados carece de efetiva democratização.

Diretas neles. E já. É o caminho a seguir.

* ROBERTO MACEDO É ECONOMISTA (UFMG, USP, HARVARD), PROFESSOR ASSOCIADO À FAAP, CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR.

Saiba mais em Eu Voto Distrital

terça-feira, 16 de julho de 2013

Absurdos do Brasil: Em quatro anos, criados 64 mil cargos para nomeação política

64 mil novos mamateiros
Na mesma linha da postagem anterior, que também poderia se chamar "Estado, o nosso inimigo", mais dados para fundamentar a necessidade de reformas no Estado brasileiro em todos os níveis (municipal, estadual e federal).

Prefeituras do País criam 64 mil cargos para nomeação política em quatro anos
Prefeitos incharam a máquina com aumento de 14% das vagas sem concurso nas 5.566 cidades brasileiras; uso dos postos como moeda de troca é recorrente

Daniel Bramatti e José Roberto de Toledo

Nos quatro anos de mandato entre 2008 e 2012, os 5.566 prefeitos do País criaram, em conjunto, 64 mil cargos comissionados – aqueles para os quais não é necessário fazer concurso público, e que costumam ser loteados por indicação política.

Com a massiva abertura de vagas, o total de funcionários públicos municipais em postos de livre nomeação subiu de 444 mil para 508 mil. Juntos, eles lotariam os oito maiores estádios da Copa de 2014.

Na semana que passou, milhares de prefeitos, que comandam essas máquinas municipais muitas vezes infladas por loteamentos políticos, se deslocaram a Brasília a fim de pressionar a presidente Dilma Rousseff a liberar mais recursos.

Dados da Pesquisa de Informações Básicas Municipais, divulgada no início do mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que o porcentual de servidores não concursados é maior nas prefeituras pequenas – as mais dependentes de verbas federais e as que lideram o lobby pela ampliação dos repasses. Na média, as cidades com até 5 mil habitantes têm 12% de seu quadro ocupado por servidores comissionados. No restante do universo dos municípios, essa taxa cai para 8%.

Em Brasília, os prefeitos foram agraciados com o anúncio de R$ 3 bilhões em recursos extraordinários. Parte da plateia, porém, vaiou Dilma, pois queria a ampliação do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), principal canal de repasses federais para as prefeituras.

O FPM é especialmente importante para os micromunicípios. A receita tributária própria, de impostos como IPTU, ISS e ITBI, chega no máximo a 3,5% do orçamento das cidades de até 5 mil habitantes, segundo estudo do pesquisador François Bremaeker, da Associação Transparência Municipal.

Uso político. Cargos de livre nomeação, em tese, servem para que administradores públicos possam se cercar de pessoas com quem têm afinidades políticas e projetos em comum. Na prática, no entanto, é corrente o uso dessas vagas como moeda de troca. Além de abrigar seus próprios eleitores ou correligionários, os chefes do Executivo distribuem as vagas sem concurso para partidos aliados em troca de apoio no Legislativo ou em campanhas eleitorais.

Os prefeitos não podem alegar que o crescimento da máquina administrativa responde a pressões demográficas. De 2008 a 2012, o número de vagas para servidores sem concurso cresceu 14%. No mesmo período, a população brasileira teve aumento de apenas 2%.

Enquanto as prefeituras abriam as 64 mil vagas, o governo federal, no mesmo período, passava a abrigar mais 493 servidores não concursados em seus quadros (aumento de 9%). A diferença de escala fica mais evidente quando se analisa o total de não concursados: o número é 85 vezes maior na esfera municipal que na federal (508 mil contra 5.930).

Fenômeno goiano. A onda de “carguismo” não se manifesta com a mesma força em todas as regiões. Os números do IBGE mostram que Goiás concentra sete das dez prefeituras com maior porcentual de não concursados na máquina administrativa. A primeira colocada é a pequena Vila Propício, no norte do Estado.

Na esfera estadual, Goiás também lidera. Reportagem do Estado publicada em março mostrou que, em 2012, o governador Marconi Perillo (PSDB) abrigava em sua burocracia 10.175 funcionários sem concurso, cerca de 10% dos servidores estaduais de todo o País nessa situação.

A Bahia, governada pelo petista Jaques Wagner, estava em segundo no ranking em números absolutos, com 9.240 não concursados.

Veja também: 

Fonte: Estado de São Paulo, 13/07/2013

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Absurdos do Brasil: quanto ganha um deputado federal no Brasil

Custo de cada deputado federal para nossos bolsos
No começo de julho (dia 4), o deputado Jean Wyllys, em entrevista a Marcelo Tas (programa Tas Ao Vivo ) e em resposta a um espectador, afirmou não considerar alto o salário de R$26.700,00 dos deputados porque, no caso dele, com os descontos de Imposto de Renda e Contribuição Partidária, tiraria líquido "apenas" R$ 15 mil. Segundo Wyllys, o espectador que o indagou deveria - à guisa de comparação - questionar os ganhos dos executivos das empresas privadas.

Além de não levar em conta que os executivos são pagos por suas empresas e não pelos impostos sacados de todos nós, contribuintes, e que fazem parte do setor produtivo da sociedade, na qual não se encaixam suas excelências políticos, Wyllys também "esqueceu" de todos os outros benefícios que recebe por ter sido eleito pelo voto proporcional para um cargo na Câmara Federal. 

Tive a oportunidade de defender Wyllys em outras situações porque me ficou claro que as críticas que recebia derivavam fundamentalmente do fato de ser gay assumido e lutar pelos direitos homossexuais no Congresso. Neste caso de sua opinião sobre o salário dos deputados federais, não há como defendê-lo porque sua opinião é equivocada bem como a da maioria dos políticos sobre esse mesmo tema.  

Para que fique claro porque a opinião de Wyllys é equivocada, seguem abaixo todas as mordomias que recebem suas excelências, além do salário. Acompanha também vídeo bem didático sobre o tema. Acho que quem quer melhorar o Brasil deve divulgar esses dados. Vale também rever a postagem "Suécia: um exemplo de como os políticos devem proceder!" para se constatar como, em partes mais civilizadas do mundo, político não é tratado como ser especial.

Lista: todos os salários e benefícios de um deputado
Verba para custear salários de assessores chega a R$ 78 mil por mês

POR EDUARDO MILITÃO


BENEFÍCIOS SEM VALOR ESTIMADO

Carros oficiais. São 11 carros para uso dos seguintes deputados: o presidente da Câmara; os outros 6 integrantes da Mesa (vice e secretários, mas não os suplentes); o procurador parlamentar; a procuradora da Mulher; o ouvidor da Casa; e o presidente do Conselho de Ética.

Impressões e materiais

até 15 mil A4 por mês,
até 2 mil A5 por mês
até 4 mil exemplares de 50 páginas por ano (200 mil páginas por ano)
até 1 mil pastas por ano
até 2 mil folhas de ofício por ano
até 50 blocos de 100 folhas por ano
até 5 mil cartões de visita por ano
até 2 mil cartões de cumprimentos por ano
até 5 mil cartões de gabinete por ano
até 1 mil cartões de gabinete duplo por ano

OBSERVAÇÕES

(1) Ajuda de custo. O 14º e o 15º salários foram extintos em 2013, restando apenas a ajuda de custo. O valor remanescente se refere à média anual do valor dessa ajuda de custo, que é paga apenas duas vezes em 4 anos.

(2) Cotão. Valor se refere à média dos 513 deputados, consideradas as diferenças entre estados. A média não computa adicional de R$ 1.244,54 devido a líderes e vice-líderes partidários. A Câmara decidiu aumentar o valor do cotão este ano em 12%. Cotão inclui passagens aéreas, fretamento de aeronaves, alimentação do parlamentar, cota postal e telefônica, combustíveis e lubrificantes, consultorias, divulgação do mandato, aluguel e demais despesas de escritórios políticos, assinatura de publicações e serviços de TV e internet, contratação de serviços de segurança. O telefone dos imóveis funcionais está fora do cotão: é de uso livre, sem franquia.

(3) Auxílio-moradia. O valor indicado representa a média de gastos de acordo com o uso do benefício em cada época. Em 2011, o valor era de R$ 3 mil por mês. Em 2013, vai subir para R$ 3.800, aumento de 26,67%. Mas só quem não usa apartamento funcional tem direito ao benefício. Em março de 2011, 270 deputados não usavam apartamentos e, portanto, recebiam auxílio. Em março de 2013, 207 deputados usavam o benefício, 300 moravam em um dos 432 imóveis existentes e 5 não usavam os apartamentos funcionais e nem recebiam o auxílio.

(4) Saúde. O valor se refere à média de gastos por parlamentar. Em 2011, foram R$ 2,01 milhões; em 2012 (último ano fechado), R$ 1,47 milhão. Os deputados só são ressarcidos em serviços médicos que não puderem ser prestados no Departamento Médico (Demed) da Câmara, em Brasília.


 Fonte: Congresso em Foco, 13/07/2013 08:01

sábado, 13 de julho de 2013

Trocando as pontes: democratização da mídia é eufemismo para censura

Ponte Octavio Frias de Oliveira
Quando vejo esse tipo de manifestação (a troca do nome do jornalista e criador da Folha de São Paulo, Octavio Frias de Oliveira, pelo do jornalista Wladimir Herzog, morto pelos militares - ver vídeo abaixo) me dá um misto de saco e tristeza porque é esquerdiotice pura! Trocar o nome do Octavio Frias  pelo do Vladimir Herzog significa colocar os dois jornalistas em lados opostos na época da ditadura militar. É ridículo simplesmente. Aliás, é resultado da ditadura militar a esquerda nada democrática de ontem e de hoje ter se acantonado nas universidades e enfiado um monte de mentiras e distorções históricas na cabeça de várias gerações desde aquela época. Eu mesma fui vítima dessa esquerdiotização quando mais jovem, se bem que a cepa mais agressiva do vírus nunca tenha me contaminado.

A sociedade brasileira de 1964 apoiou a deposição do Jango porque o país estava degringolado (mais do que hoje) e havia SIM ameaça de golpe comunista no ar. Estava-se na época da Guerra Fria, e o comunismo era um perigo real, não um delírio mofado como hoje (atualmente o que nos ameaça de fato é um populismo autoritário de esquerda). As pessoas não queriam entrar nessa fria e apoiaram os militares que, por sua vez, seguindo sua tradição no país, aproveitaram para instalar uma ditadura fardada.

Depois que os militares deixaram claro que não devolveriam o poder aos civis, a imprensa e outras instituições da sociedade civil, que os apoiaram a princípio, passaram a lhes fazer oposição e foram censuradas e perseguidas. Então, o Octavio Frias de Oliveira e o Vladimir Herzog estiveram do mesmo lado do embate boa parte do tempo. Fora que, se for para se falar de cumplicidade com a ditadura militar, vai se encontrar muita gente que até hoje se diz esquerdista e que foi bancada pelo sistema de então. Os militares chamavam a isso de estratégia da panela de pressão, ou seja, diminuíam a pressão dos descontentamentos soltando  ar em forma de tostões para uns e outros da oposição, deixando os menos perigosos para o regime a levar suas vidinhas de contestadores de botequim. Vender-se ao poder de ocasião é uma tradição no Brasil.

Esse tipo de manifestação do vídeo visa apenas dar respaldo a tal democratização da mídia, eufemismo de socialista bolivariano bananeiro para censurar a grande imprensa. Não há clima democrático no país para se fazer uma avaliação correta e objetiva do que se precisa mudar nos meios de comunicação sem descambar para a censura, como têm acontecido em países vizinhos. E esse tipo de manifestação exemplifica bem isso, não é mesmo?

 

sexta-feira, 12 de julho de 2013

8 exemplos de como o capitalismo possibilitou a liberação das mulheres

O capitalismo tem suas fraquezas, mas foi ele  que pôs fim à
 opressão das aristocracias hereditárias, melhorou o padrão de vida
 da maioria das pessoas no mundo e possibilitou a  emancipação das mulheres. Camile Paglia
Transcrevo o texto abaixo, originalmente postado no blog Capitalismo para os Pobres porque achei interessantes os exemplos que o autor, Diogo Costa, listou sobre a ajuda da economia de mercado  à liberação feminina. Como já abordei em texto aqui do CCC (Feminismo e Liberalismo: uma relação histórica e íntima!), ao contrário do que dizem os conservadores, o feminismo, em sua acepção geral de luta pelos direitos das mulheres, não só não tem sua origem em um suposto marxismo cultural como até, ao contrário, deve sua paternidade às ideias liberais, em especial as de igualdade de direitos perante a lei, de soberania do indivíduo sobre seu próprio corpo e de liberdade individual em geral. Não por menos, aliás, os primórdios do feminismo coincidem com o aparecimento das ideias liberais. 

Mas não só no aspecto doutrinário e filosófico, o liberalismo pavimentou o caminho para as lutas femininas. Também do ponto de vista econômico, os avanços tecnológicos decorrentes da economia de mercado, mudaram em muito a condição da mulher para melhor. Sobretudo o advento da pílula anticoncepcional, do início da década de 60, trouxe um enorme avanço para a liberdade das mulheres pelo controle que lhes proporcionou sobre o processo reprodutivo.

Ressalvo apenas que, obviamente sem o protagonismo das próprias mulheres na luta por seus direitos, não teria sido possível aproveitar os progressos trazidos pelo capitalismo. As limitações impostas às mulheres nunca foram fundamentalmente decorrentes das limitações tecnológicas e sim da cultura patriarcal. Nunca foi por questões de maior fragilidade física que as mulheres foram restritas ao lar e às tarefas domésticas e impedidas de estudar (ninguém precisa ser fisiculturista para levantar um livro, pois não?). Essa é apenas uma desculpa machista  para justificar a exclusão social das mulheres.

Mulheres já foram consideradas frágeis demais para fazer esportes, para jogar futebol, para lutar boxe e MMA, para trabalhar na construção civil, em exércitos e na polícia. Hoje as mulheres estão em todas essas profissões e com certeza não houve nenhuma alteração anatômico-fisiológica na constituição feminina nos últimos duzentos anos. Fora que as mulheres mais pobres sempre tiveram que trabalhar tanto nas cidades quanto no campo. 

Então, não procede o que diz o autor do texto de que a industrialização permitiu que as mulheres compensassem com neurônios o que lhes faltava em musculatura. De fato, foram as mulheres mais pobres que passaram a ralar nas fábricas porque estas surgiram como uma alternativa de trabalho melhor remunerada que as outras existentes, embora longe de satisfatórias.  Mas é fato que, apesar dos pesares, essa melhor remuneração contribuiu para dar mais independência financeira para as mulheres das classes trabalhadoras, abrindo espaço para a ideia da emancipação feminina em geral.

E, ainda hoje, acho que uma das melhores formas de tirar as mulheres da pobreza e lhes dar mais autonomia em todos os sentidos é possibilitando que se tornem pequenas, médias e grandes empreendedoras. Em outras palavras, capitalismo para as mulheres, sobretudo para as pobres. 

8 Conquistas Capitalistas Das Mulheres 

1. A Revolução Industrial


Ouvimos falar das péssimas condições que mulheres e crianças enfrentavam na indústria britânica do século XIX pelas páginas de Dickens ou pela boca do nosso professor de geografia. E às vezes nos esquecemos perguntar por que as mulheres escolhiam ir para as fábricas. Na verdade, as fábricas aumentaram a renda e a independência das mulheres.

Voltaire notava que, por serem fisicamente mais fracas que os homens, as mulheres eram “pouco capazes de fazerem o trabalho pesado de marcenaria, carpintaria, ferragem ou arado”. E que, portanto, “elas eram necessariamente delegadas com os trabalhos mais leves do interior da casa e, sobretudo, com o cuidado dos filhos”.

Ninguém acusa Voltaire de machismo. O que ocorria no século XVIII era uma falta de oportunidade para o trabalho feminino. Com as máquinas, as habilidades humanas mudam de valor. O capital deixa o trabalho menos braçal e mais intelectual, permitindo que as mulheres compensassem com neurônios o que lhes faltava em musculatura. Por ser mais produtivo que o trabalho rural, a renda dos trabalhadores industriais superou a renda do campo. Foi a revolução industrial que dinamizou o processo de emancipação econômica das mulheres.

2. A Invenção da Bicicleta


Mais barata e fácil de manter que o cavalo, a bicicleta deu mais mobilidade às mulheres no final do século XIX. A National Geographic publicou The Wheels of Change só para contar a história feminina da bicicleta. Originalmente, havia bicicletas com os dois pedais do mesmo lado, para que as mulheres pudessem pedalar em seus vestidos longos e de múltiplas camadas de tecido. Com o passar do tempo, o ato de pedalar causou uma reimaginação do vestuário feminino. E permitiu que as mulheres se deslocassem com mais facilidade, seja para trabalhar, se educar, ou conspirar pelos seus direitos. A líder feminista Susan B. Anthony dizia que a bicicleta “fez mais para emancipar as mulheres do que qualquer outra coisa no mundo.”

3. A Evolução da Máquina de Lavar



“Salve a vida das mulheres”, dizia a madeira que revestia as máquinas de lavar produzidas em 1907 pela Nineteen Hundred Company. O slogan é o título do livro de Lee Maxwell que conta a história da máquina de lavar. Lavar roupa em caldeirões ferventes de fato não era uma atividade muito segura. A automatização do trabalho doméstico aumentou o bem-estar feminino. A partir da máquina de lavar, outros utensílios começaram a realocar o espaço e o tempo das atividades femininas. A vida da mulher se torna mais segura – a cozinha de tempos pré-industriais era o principal local de acidentes fatais entre as mulheres. E menos tempo em trabalhos domésticos permitiu às mulheres se educarem e investir em outras atividades, da arte à indústria.

4. A Comercialização das Artes

Berthe Morisot


















“O declínio do sistema de patronagem serviu de alavanca para as mulheres escritoras”, diz Tyler Cowen em In Praise of Commercial Culture. “Os homens, que tinham conexões políticas e sociais, recebiam quase todo o patrocínio artístico.” Ao poder depender diretamente dos consumidores, as mulheres podiam desenvolver sua arte sem precisar pedir licença ao clubinho masculino. E a diminuição dos custos do material artístico, como tintas, pincel e canvas, fez com que praticar arte fosse menos um privilégio da elite e mais uma questão de talento. 

5. O Mercado Publicitário



Pode parecer frivolidade, mas o mercado de beleza abre oportunidades para a independência financeira das mulheres. Anne Applebaum lembra que “na União Soviética não havia mercado para a beleza feminina. As revistas de moda não exibiam mulheres bonitas, porque não havia revistas de moda. Nenhuma série de televisão dependia de mulheres bonitas para aumentar sua audiência, porque não se media a audiência.” Quantas líderes femininas não alcançaram proeminência por causa do mercado publicitário?

6. O Anticoncepcional



“Pela primeira vez na experiência humana, e talvez na própria natureza, um dos sexos passou a ter o controle sobre a produção de bebês”, escreve Lionel Tiger em The Decline of Men. Os anticoncepcionais deram poder reprodutivo às mulheres. Antes da sua invenção, entre 30 a 50% das noivas se casavam grávidas. O declínio desse número significa que mais mulheres puderam planejar e escolher quem será o pai dos seus filhos. Os homens passaram a ter que mudar o comportamento com relação às mulheres para se tornarem merecedores da paternidade. Agora são os homens que estão reavaliando o seu declínio social.

7. Acesso ao Crédito



Ainda hoje, as mulheres correspondem a 70% da população pobre do planeta. O acesso ao crédito é um dos instrumentos de enriquecimento das mulheres. Em boa operação, um sistema financeiro coloca pessoas com competência e boas ideias em pé de igualdade com pessoas que tem apenas o dinheiro. Novas modalidades financeiras, como o microcrédito, têm permitido que as mulheres se tornem mais empreendedoras, produtivas e participem do processo de desenvolvimento econômico de suas sociedades.

8. A Migração Global

Ayaan Hirsi Ali, emigrante somaliana e líder feminista global














Em boa parte do mundo, o dia internacional das mulheres gera mais amentação do que celebração. De acordo com relatório da Freedom House sobre direitos das mulheres:

A violência de gênero continua a ser um dos obstáculos mais graves para as mulheres no Oriente Médio. As leis que protegem as mulheres da violência conjugal são ausentes na maioria dos países, o estupro conjugal não é criminalizado, e homicídios de honra ainda ocorrem e estão em ascensão no Iraque e na Palestina. As mulheres experimentam consideráveis ​​obstáculos no acesso à justiça devido ao seu baixo grau de alfabetização jurídica e à natureza patriarcal das sociedades. As mulheres também são significativamente sub-representadas em altos cargos na política e no setor privado, em alguns países, elas estão completamente ausentes do judiciário.

Às vezes a melhor maneira de escapar de uma sociedade com mínimas perspectivas de dignidade e liberdade é, de fato, sair de lá. Hoje o número de mulheres migrantes já equivale ao de homens. Grande parte delas migra para seguir ou reencontrar sua família. Mas o Fundo de População das Nações Unidas elenca outros motivos:

. Para estudar ou para adquirir experiência de trabalho e independência econômica, a fim de ganhar mais respeito dentro de sua família e da comunidade por causa da sua contribuição para o bem-estar…

. Para escapar da discriminação de gênero e de normas constrangedoras de gênero, como a obrigação de se casar e ter filhos, ou a proibição de estudar e trabalhar.

Mesmo quando voltam para seus países, as mulheres voltam transformadas e novas agentes de transformação. Como relata a migrante indiana Sushila Rai:

"Enquanto trabalhei em Hong Kong experimentei muitas coisas – A maneira como as pessoas tratam uma mulher, dependente ou independente. Ganhei muita experiência e minha confiança aumentou. Agora eu tenho voz ativa na tomada de decisão em casa. Meu marido não grita comigo. Eu comprei um pedaço de terra e quatro riquixás. Estou criando um meio de subsistência para outras quatro famílias."

“A conquista capitalista não consiste tipicamente em prover mais meias de seda para rainhas”, dizia o economista Joseph Schumpeter em 1942, “mas em trazer [meias de seda] para o alcance das meninas das fábricas em retorno a quantidades de esforço cada vez menores”. As consequências dessas conquistas não protegem e adornam apenas os pés dessas meninas – acabam protegendo seus direitos e adornando suas vidas.

Fonte: Capitalismo para os Pobres, 08/03/2013

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