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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

70% das mulheres sofrem algum tipo de agressão durante suas vidas cometida por homens

Uma mulher aterrorizada é conduzida por um soldado nos arredores de Bangui,
capital da República Centro-Africana. / 
JEROME DELAY (AP)
O macho, arma de destruição em massa
A violência e as guerras sempre estiveram dominadas por um viés de gênero. 70% das mulheres sofrem algum tipo de agressão durante a sua vida

por José Ignacio Torreblanca 

Uma das notícias mais alvissareiras de 2014 é a abertura de negociações com o regime iraniano em torno do seu programa nuclear. Com razão, a comunidade internacional se preocupa com a proliferação dessas armas, daí que, de forma excepcional, no outro lado da mesa encontremos EUA, Rússia, China e a União Europeia atuando unidos. Mas, apesar da incrível capacidade de destruição dessas armas, há quem sustente que elas não têm tanto de excepcional; são, dizem, nada mais que muitas toneladas de explosivos juntas. Não lhes falta um pouco de razão: o genocídio mais importante da história, cometido contra o povo judeu, não exigiu armas nucleares, como tampouco foram necessários mais do que algumas dezenas de milhares de facões de fabricação chinesa para liquidar os 800.000 tutsis que faleceram no genocídio ruandês. As aproximadamente 135.000 vítimas de Hiroshima desafiam nossa compreensão, mas o mesmo vale também para os quase 300.000 mortos na batalha de Verdun. A crua realidade é que, desde a noite dos tempos, o ser humano mostrou uma incrível capacidade de matar, de fazê-lo em massa e sustentadamente, e para isso se valeu de qualquer coisa ao seu alcance: um facão, uma AK-47, explosivos convencionais ou bombas atômicas.

Os maiores genocídios da história não precisaram de mísseis

Fonte: INE / EL PAÍS
Um momento: “o ser humano”? Não exatamente. Na prática, a totalidade de todas essas mortes tem em comum um fato tão relevante como invisível no debate público: que foram homens que os cometeram. A história militar não deixa lugar a nenhuma dúvida: os Exércitos sempre foram formados por homens, os quais foram os executores quase exclusivos desse tipo de violência, e suas principais vítimas. É verdade que guerrilhas e grupos terroristas historicamente incluíram mulheres, às vezes muito sanguinárias (na Espanha, por desgraça, conhecemos o fenômeno), mas a violência bélica nas mãos das mulheres foi uma gota em um oceano. O resultado, apesar de conhecido, não é por isso menos trágico: só no século XX, as vítimas desses conflitos desencadeados e executados por homens custaram a vida de entre 136 e 148 milhões de pessoas.

Podemos proibir as bombas, mas por trás delas sempre há um homem

Dir-se-á que as guerras são coisas do passado, típicas de sociedades pré-democráticas. Mas como explicar então o viés de gênero que domina a violência em nossas sociedades? Não falamos de sociedades atávicas, mas sim de sociedades ocidentais, democracias plenas onde, como nos Estados Unidos, as estatísticas nos indicam que 90% de todos os homicídios cometidos entre 1980 e 2005 foram de autoria masculina, ao passo que apenas 10% tiveram mulheres como responsáveis. De todos esses homicídios, um pouco mais de dois terços (68%) foram cometidos por homens contra homens, enquanto em um quinto deles (21%) um homem matou uma mulher. Embora haja, de fato, mulheres que matam homens, esses crimes representaram apenas 10% de todos os homicídios, ao passo que, significativamente, o percentual de mulheres que mataram outras mulheres foi ridículo (2,2%). Assim, portanto, as mulheres não matam mulheres, só homens, e em grande parte em legítima defesa. Claro que os EUA são uma sociedade mais violenta do que outras, mas os dados da Espanha, Reino Unido ou outros países de nosso entorno não são muito diferentes: reveladoramente, a população penitenciária espanhola está composta em 90% por homens e em 10% por mulheres. Assim como na guerra, o homicídio e, em geral, o crime parecem ser fenômenos quase puramente masculinos.

Os estupros são o capítulo mais vergonhoso dos conflitos bélicos

Os efeitos de uma cultura patriarcal dominada por homens são tão demolidores que dá a impressão de que se trava no mundo uma guerra (invisível, porém guerra) de homens contra mulheres. Segundo as Nações Unidas, 70% das mulheres experimentaram alguma forma de violência ao longo de sua vida, sendo uma em cada cinco do tipo sexual. Incrivelmente, as mulheres entre 15 e 44 anos têm mais probabilidade de serem atacadas por seu cônjuge ou violentadas sexualmente do que de sofrerem de câncer ou se envolverem em um acidente de trânsito. Na Espanha e em outros países europeus, quase metade das mulheres vítimas de homicídios tiveram seus cônjuges como algozes, frente a 7% de homens, o que significa que a probabilidade de uma mulher morrer nas mãos do parceiro é seis vezes superior à de um homem com relação à parceira.

Fonte: Departamento de Justiça de EUA. / EL PAÍS
A violência sexual contra as mulheres é onipresente e constitui um dos capítulos mais vergonhosos, e mais silenciados, da história dos conflitos bélicos. Isso apesar das evidências de que essa violência não só foi consentida como também estimulada como arma de guerra. Segundo Keith Lowe, autor do livro Continente Selvagem, a Segunda Guerra Mundial bateu todos os recordes de violência sexual, especialmente contra as mulheres alemãs, à medida que o Exército soviético entrava na Alemanha (calcula-se que 2 milhões delas foram estupradas como consequência de uma política de vingança sexual deliberada). Hoje em dia, a ONU estima em 200.000 os estupros ocorridos na República Democrática do Congo, uma cifra similar à oferecida para Ruanda. Longe da África, no coração da Europa educada, o estupro também foi uma arma de guerra interétnica no conflito da antiga Iugoslávia, onde se estima que entre 20.000 e 50.000 mulheres tenham sido sexualmente violentadas. A isso se soma uma longa lista de crimes que só as diferenças de gênero podem explicar, os quais incluem o aborto seletivo de meninas, os crimes de honra, o tráfico de mulheres com fins de exploração sexual e a mutilação sexual, que afeta 130 milhões de mulheres. Nem é preciso entrar nas sutilezas da discriminação política, econômica e social, um fato em si muito revelador da subordinação generalizada da mulher: o nível de violência física contra as mulheres no mundo já diz tudo. Alguns descrevem a violência exercida contra as mulheres em decorrência apenas no seu gênero como “feminofobia”. Por que esse termo não nos soa familiar, nem qualquer outro semelhante?

Reconheçamos: os homens são a maior arma de destruição em massa que a história da humanidade já viu, e há 3,5 bilhões deles à solta por aí. Podemos proibir as armas grandes, as armas pequenas, as minas terrestres, as bombas de fósforo ou de fragmentação, as armas bacteriológicas, químicas e nucleares, mas no final estaremos sempre no mesmo lugar: por trás de cada arma haverá um homem. Por isso as Nações Unidas adotaram várias iniciativas de alcance mundial, recorrendo para tanto ao próprio Conselho de Segurança, que, em sua Resolução 1.325 de 31 de outubro de 2000, tornou visível pela primeira vez a necessidade de uma proteção explícita e diferenciada às mulheres e meninas em cenários de conflito, assim como a contribuição fundamental que as mulheres fazem e devem fazer no que tange à resolução de conflitos e a construção da paz.

Existem muitas explicações possíveis, e complexas, sobre esses fatos. Tampouco são fáceis as respostas que devemos dar, e muito menos as medidas a adotar. Mas os fatos estão aí, e são incontestáveis: os homens matam e se matam, muito, e exercem muita violência contra as mulheres. Entretanto, o debate público sobre esse fato é inexistente. Antes que repostas, esse debate exige perguntas, na verdade uma só pergunta: seriam os homens uma arma de destruição em massa?

*José Ignacio Torreblanca é professor de Ciência Política na Universidade Nacional de Educação a Distância. Dirige o escritório em Madri do Conselho Europeu de Relações Exteriores e é autor de diversos livros.

Fonte: El País, 26/01/2015

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Marta Suplicy cansou de ser deixada de lado e virou oposição à Dilma e ao PT

Marta nunca engoliu ter sido preterida por Dilma
Marta Sucplicy parece realmente estar dando adeus ao PT, já que novamente veio a público meter o relho em Dilma e em seu próprio partido por extensão. No artigo "O diretor sumiu", publicado ontem na Folha de São Paulo, Marta afirma que a falta de transparência de Dilma na economia levou à lastimável situação de nossas finanças :
se tivesse havido transparência na condução da economia no governo Dilma, dificilmente a presidente teria aprofundado os erros que nos trouxeram a esta situação de descalabro. Não estaríamos agora tendo de viver o aumento desmedido das tarifas, a volta do desemprego, a diminuição de direitos trabalhistas, a inflação, o aumento consecutivo dos juros, a falta de investimentos e o aumento de impostos, fazendo a vaca engasgar de tanto tossir.
Marta também declara que Dilma fez estelionato eleitoral, enganando inclusive o fanático eleitorado petista:
Havia uma grande expectativa a respeito do perfil da equipe econômica que a presidenta Dilma Rousseff escolheria. Sem nenhuma explicação, nomeia-se um ministro da Fazenda que agradaria ao mercado e à oposição. O simpatizante do PT não entende o porquê. Se tudo ia bem, era necessário alguém para implementar ajustes e medidas tão duras e negadas na campanha? Nenhuma explicação.
Imagina-se que a presidenta apoie o ministro da Fazenda e os demais integrantes da equipe econômica. É óbvio que ela sabe o tamanho das maldades que estão sendo implementadas para consertar a situação que, na realidade, não é nada rósea como foi apresentada na eleição. 
Agora, mirando o próprio PT, Marta declara que o partido está em autofagia (a Fundação Perseu Abramo, do PT, o partido e parlamentares petistas não apoiam Dilma) e também cometeu estelionato eleitoral:
O PT vive situação complexa, pois embarcou no circo de malabarismos econômicos, prometeu, durante a campanha, um futuro sem agruras, omitiu-se na apresentação de um projeto de nação para o país, mas agora está atarantado sob sérias denúncias de corrupção.
Nada foi explicado ao povo brasileiro, que já sente e sofre as consequências e acompanha atônito um estado de total ausência de transparência, absoluta incoerência entre a fala e o fazer, o que leva à falta de credibilidade e confiança.
E termina dizendo que a diretora do país sumiu exatamente nesse momento em que o país vive cenário dramático de crescente desemprego, somados à falta de energia e de água, problemas de locomoção, queda do poder aquisitivo, violência crescente, saúde precária, fora as obrigações financeiras de começo de ano.

Naturalmente, Marta agora posar de oposicionista não convence ninguém que tenha neurônios funcionando minimamente. Marta é petista histórica e sempre apoiu a política deletéria de seu partido no poder desde o início, até inclusive nas recém-findas eleições de 2014. Ao que tudo indica, cansou de ser preterida no próprio partido e está de malas prontas para outro (qual?) a fim de seguir suas pretensões eleitorais e de apoiar as pretensões eleitorais de outro (Lula?) que quer se dissociar de Dilma. É ver para crer. Não deixa de ser agradável, de qualquer forma, ver essa gente nociva comendo o próprio rabo.

Com informações da Folha de São Paulo

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Mude o mundo: seja amiga de uma mulher


7 razões para você empoderar uma garota ao invés de explicar feminismo para um cara

Destaque: As mulheres não têm obrigação de explicar o conceito de feminismo para os homens
"Para isso existe o Google, não é mesmo?", brinca. Não é que os homens não precisam ficar a par dessa luta, muito pelo contrário, mas eles jamais serão os protagonistas dessa batalha. Por isso, é preferível, de acordo com a idealizadora da campanha, perder energia e ganhar tempo dando força às garotas a gastar saliva explicando a um rapaz o porquê do movimento ser tão importante. "Enquanto isso, muitas mulheres também continuam sem entender o motivo e elas devem ser as principais impactadas", esclarece.

A CAPRICHO, em parceria com a idealizadora da campanha, listou 7 motivos para você empoderar duas amigas e contribuir com essa corrente do amor:

1. O empoderamento quebra barreiras
Quando você dá poder a uma amiga, você dá voz aos sentimentos dela. É como se você desse um voto de confiança e acreditasse nela para valer! Parece algo meio bobo, mas é desse jeitinho que você vai superando as barreiras pratriarcais que existem há séculos. "Empoderando você encoraja. Não existe corpo ideal ou garota ideal. Existe o que você quiser que exista", esclarece Maynara.

2. Empoderar é bem melhor que competir
Você já deve ter escutado um menino ou até mesmo uma colega de sala dizer que garotas não têm amigas, pois são muito competitivas e até se vestem para impressionar as rivais. Quando você dá poder a uma menina, você acaba com toda essa rivalidade e, acredite, vive mil vezes mais leve sem toda essa cobrança. Maynara explica o motivo: "ouvimos o tempo todo que mulher não pode ser isso e não pode fazer aquilo, para não ficar mal falada, e que deve cuidar do corpo de tal forma para deixá-lo de acordo com os padrões de beleza. O machismo faz com que as garotas vivam em constante competição, quando, na verdade, deveriam ser pura e simplesmente aliadas".

3. Apoiar outras garotas é o princípio básico do feminismo
"A troca de experiências conforta uma parte das mulheres que se sente incomodada com a opressão e faz com que a outra metade, que, eventualmente, ainda não consegue enxergar o quão machista é a nossa sociedade, sinta-se tocada", conta Maynara. Afinal, os homens não precisam lutar a favor do movimento. 

4. Compartilhar experiências te faz abrir os olhos
"Eu já tive meus 13, 15, 17 anos. Você precisa ser uma boa filha, estar dentro dos padrões, mas não exagerar para não ficar com má fama. Precisa agradar um namorado e trocar de roupa quando ele disser que aquela está muito curta. Conhecer seu corpo e se descobrir, pois dizem que é importante, mas fazer isso sem se sentir culpada depois. Não é fácil, mas quando você descobre que acontece igual com a amiga, fica menos aterrorizante", afirma May. A mesma coisa acontece quando você descobre que não foi a única assediada no metrô, que não foi a única que se sentiu invadida por uma cantada no meio da rua ou que foi agarrada por um menino sem noção na festa e ainda precisou sorrir para não parecer grossa. A troca de vivências, de conselhos, de amor, é a saída. 

5. As mulheres não têm obrigação de explicar o conceito de feminismo para os homens
"Para isso existe o Google, não é mesmo?", brinca. Não é que os homens não precisam ficar a par dessa luta, muito pelo contrário, mas eles jamais serão os protagonistas dessa batalha. Por isso, é preferível, de acordo com a idealizadora da campanha, perder energia e ganhar tempo dando força às garotas a gastar saliva explicando a um rapaz o porquê do movimento ser tão importante. "Enquanto isso, muitas mulheres também continuam sem entender o motivo e elas devem ser as principais impactadas", esclarece.

6. Opressor e oprimido nem sempre convivem em harmonia
Para não falar nunca! Isso é justificado por um simples fato: o privilegiado nunca quer abdicar de tudo aquilo que lhe favorece. Fica muito difícil incluir o opressor dentro de um movimento de oprimidos. É por isso que a campanha da Maynara é e sempre será de menina para menina. "Muitos caras se dizem feministas para agradar, mas, na prática, continuam fazendo tudo aquilo que os tornam machistas".

7. Você é a primeira pessoa que precisa se libertar de estereótipos
Quando alguém te coloca láááá em cima, você não fica com uma sensação de "eu posso, eu consigo"? É esse sentimento que, muitas vezes, te dá coragem para ir além, se abrir, se aceitar, lutar por um sonho. Teoricamente, você tem liberdade de se vestir do jeito que bem entender, ficar com quem quiser e quando sentir vontade, se depilar com cera, com lâmina ou até mesmo não depilar. Contudo, na prática, as coisas não são tão simples. Muitas vezes, a garota não se sente segura para tomar tal decisão. Autoestima é o primeiro passo para a quebra de paradigmas. Como já dizia Demi Lovato: "minha armadura é feita de aço. Você não pode entrar nela. Sou uma guerreira e você nunca poderá me machucar!"

Para curtir a página da campanha "Empodere Duas Mulheres" no Facebook e saber mais sobre ela, clique aqui.

Fonte: Capricho, por Isabella Otto, 25/01/2015

domingo, 25 de janeiro de 2015

Sobre o terrorismo islâmico: Parlamentares paquistaneses marcham…contra o Charlie Hebdo

Parlamentares paquistaneses marcham…contra o Charlie Hebdo
Enquanto isso na Arábia Saudita, no Paquistão, no…

Na mesma sexta-feira passada em que quatro judeus foram executados pelo terrorista islâmico Amedi Coulibaly em Paris, um muçulmano era punido em Jeddah, na Arábia Saudita. O blogueiro liberal Raif Badawi (liberal para os padrões sauditas) recebia as primeiras 50 chibatadas das mil de sua punição por “insultar o islamismo”, no espetáculo diante do centenas de fiéis fora da mesquita.

No ritual cruel, estão programadas 50 chibatadas a cada sexta-feira, além de 10 anos de prisão. Badawi apenas escapará de nova prestação de chibatadas se o médico concluir que ele não está em condições físicas para a flagelação devido aos ferimentos sofridos na primeira prestação.

Atualização às 11:53: A organização Anistia Internacional informou que as chibatadas desta sexta-feira foram adiadas para a semana que vem por recomendações médicas.

Os dois massacres em Paris na semana passada (Charlie Hebdo e supermercado judaico) clamam mais uma vez a necessidade de um franco debate no islamismo sobre fé e tolerância. No entanto, Badawi está sendo punido publicamente por ter aberto um debate público sobre a modernização do islamismo. Como pensar na modernização de uma religião quando um dos seus centros mais influentes e ricos, como o reino saudita, açoita as esperanças?

O geriátrico reino saudita é um complicado aliado do Ocidente (e de suas democracias liberais) e, de fato, combate grupos terroristas como Estado Islâmico e Al Qaeda, além de costurar uma aliança de necessidade com Israel em um Oriente Médio tão turbulento. No entanto, como escreve Nicholas Kristof, no New York Times, os sauditas dão legitimidade ao fundamentalismo e à intolerância.

Velho e doente, o rei Abdullah nem poderia marchar em Paris como fizeram tantos outros dirigentes que tampouco poderiam ter ido ao boulevard Voltaire no domingo passado por falta de credibilidade. No seu país, não há liberdade de expressão e de religião. A Arábia Saudita é uma ditadura que financia escolas islâmicas extremistas e proíbe igrejas no país. A minoria xiita é perseguida na sunita Arábia Saudita.

Minorias muçulmanas e cristãos também são perseguidos no Paquistão, outro complicado aliado do Ocidente, localizado numa quebrada muito turbulenta do mundo.

Na quinta-feira, dezenas de parlamentares paquistaneses marcharam, não em solidariedade a cartunistas, judeus e policiais assassinados por terroristas em Paris, mas bradando “morte aos blasfemadores”, em alusão ao pessoal do Charlie Hebdo que publicou charges do profeta Maomé.

A marcha de 40 parlamentares em Islamabad foi liderada pelo ministro de Assuntos Religiosos Sardar Yousaf. Ele disse: “Todos os partidos políticos estão conosco. Todas as nações islâmicas deveriam condenar estas charges blasfematórias”. De quebra, o ministro recomendou o confisco e a queima de todos os exemplares de publicações que exibirem as charges.

Uma moção de condenação à publicação das charges foi aprovada de forma unânime no Parlamento do Paquistão. Se unanimidade fosse apenas burra. No Paquistão, ela é uma blasfêmia contra os direitos humanos.

Fonte: Veja, Caio Blinder, 16/01/2015

http://poracaso.com/arabia-saudita-declara-todos-os-ateus-sao-terroristas/

Sobre o terrorismo islâmico: Nascer para a liberdade

Nascer para a liberdade
por Fernando Gabeira

O atentado ao “Charlie Hebdo” me colheu num trabalho no Maranhão. Tive tempo ainda de escrever um artigo geral sobre o tema. Deixei para domingo, dia mais ameno, algumas reflexões pessoais. Bruscas mudanças no mundo, às vezes, nos levam a examinar nosso lugar nele. Minha família veio do Líbano, um país com histórico de conflitos religiosos. Eram cristãos, minha avó tinha cruzes tatuadas na testa e no braço. Isso sempre me impressionou e, ao longo dos anos, novos conflitos religiosos me parecem uma tristeza que não tem fim.

Por várias razões criei uma certa resistência em estudar o Islã. Cheguei a discursar sobre o perigo do Islã político, porque, mesmo sem estudá-lo a fundo, sinto que a fusão do estado com a religião sempre termina em prisão, tortura e morte. Ainda mais com visão tão estreita sobre mulher e sexualidade. Agora vejo, de todos os lados, uma advertência para dissociar o Islã da violência, sob o perigo de parecer racista e islamofóbico.

Essa advertência se articula com outra, sutil: a de que as religiões não devem ser criticadas, que elas devem ficar fora do raio de alcance da liberdade de expressão. Esse é o problema. Vivemos num mundo democrático em que a blasfêmia não é um crime. O “Charlie Hebdo”, de uma certa forma, mostrava onde o terrorismo se nutria no Islã. Num dos desenhos na porta do paraíso, Maomé advertia: parem com as bombas, estamos em falta de virgens.

É uma maneira de enfatizar como a visão do martírio e suas recompensas inspiram homens-bomba. De todos os discursos, o que mais mexeu com minha intuição foi o do presidente do Egito, que não só denunciou as interpretações do Islã, mas afirmou que era necessária uma revolução religiosa para integrá-lo na pluralidade do mundo moderno. A capacidade do Islã de se rever no mundo, algo que os católicos fazem, sem traumas, com o Papa Francisco, pode ser uma luz no fim desse longo túnel.

Alguns sinais animadores existem tanto na Europa como nos Estados Unidos, onde parte da comunidade islâmica define o terrorismo como inimigo comum. O combate direto ao Estado Islâmico é dado por muçulmanos que arriscam suas vidas. O número de mortos em atentados é muito maior na região do que no Ocidente. Mesmo com a derrota do terrorismo ainda ficaria no ar um ponto em que é difícil separar o islamismo da violência. O total enlace do estado com a religião tende a transformar os infiéis em criminosos.

A fatwa, pena de morte para o escritor Salman Rushdie, foi decretada por autoridades religiosas. Na Arábia Saudita, o blogueiro Ralf Badawi foi condenado a mil chibatadas. Minha hipótese sobre o Islã é a mesma que tenho sobre o marxismo. Muita gente diz que o marxismo é perfeito, mas os equívocos foram obra do socialismo realmente existente. Não havia nada errado com o texto, mas sim com os intérpretes. Como textos corretos podem levar a interpretações tão violentas e autoritárias? Não haverá alguma coisa neles que, de certa forma, estimula massacres?

No passado, concordava com Sartre na sua benevolência com as ações terroristas na Argélia. E rejeitava a posição de Camus. Hoje, compreendo que errei. O próprio Camus, em “Os justos”, mostra que os terroristas que iam matar o arquiduque Francisco Ferdinando, há um século, adiaram o ataque porque havia crianças na carruagem. Agora, estamos diante de terroristas que não se importam com a presença de crianças, sob o argumento de que crianças são mortas no Oriente Médio.

Jornais americanos não publicaram os desenhos do “Charlie Hebdo”. Dizem que seu estilo é outro, não publicam material contra religião. Mas, depois do atentado, é um erro jornalístico. Aqui no Brasil, mesmo com a clavícula quebrada, saí exibindo o filme “Je vous salue, Marie”. Não gostava tanto do filme, no final estava até meio cansado dele. O que estava em jogo não era minha afinidade com o filme de Godard. Claro que uma coisa é o contexto de “Je vous salue, Marie”, Sarney e Igreja Católica. Outra, Maomé e os radicais islâmicos. Nesse sentido, tive sorte quando minha avó com a cruz na testa fez a mala e veio para o Brasil. Mas o Brasil, através do seu governo, me desaponta nesse drama de alcance mundial. Quando Dilma propôs um dialogo com o Estado Islâmico, na ONU, percebi que o governo vive numa outra época. A nota formal de condenação do atentado parece o exercício de um dever burocrático.

A família veio para o país certo, apesar do governo. Quantas vezes com o Minc e Sirkis fizemos manifestações pela paz com judeus e árabes juntos no Saara? Isso não quer dizer que não exista intolerância religiosa no âmbito nacional. Nem tentativas de associar o Estado à religião, o que enfatizei em artigo sobre as eleições no Rio. Olhando para trás, no momento de barbárie, vejo como a ideia da liberdade individual, livre de doutrinas políticas ou religiosas, é uma trincheira a se defender com todos os riscos. Embora os riscos não sejam tão altos aqui nos trópicos.

Fonte: Blog do Gabeira, artigo publicado no Segundo Caderno do Globo em 18/01/2014

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