8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Google promove encontro de tecnologia para mulheres em São Paulo

Google promove encontro de tecnologia para mulheres em São Paulo

O Google realizará em seu escritório em São Paulo, no dia 14 de março, um encontro para que mulheres do setor de tecnologia possam trocar experiências e recursos. O evento faz parte do programa global Women Techmakers.

O encontro celebra o Dia Internacional da Mulher, que acontece um pouco antes, no dia 8 de março. Ele foi organizado com o mote “Conectar.Criar.Celebrar.” e oferecerá uma grade de conteúdo que incentiva as participantes a criar e explorar as possibilidades oferecidas pela tecnologia.

As apresentações tratarão de temas como desenvolvimento e design. Também será realizado um laboratório de programação para o Android Wear, o sistema operacional para relógios inteligentes do Google.

As palestras também mostrarão iniciativas da empresa para integração entre as mulheres da área e como incentivar uma participação maior do sexo feminino no mercado de tecnologia.

As inscrições para o evento se encerram no dia 27 de fevereiro. Interessadas podem preencher o cadastro clicando neste link

Fonte: Olhar Digital, 24/02/2015

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Capitalismo I: opressor ou libertador das mulheres?

Nesses tempos em que se culpa o capitalismo por tudo que há de um ruim, como se o capitalismo fosse um homem mau que sai por aí sacaneando os frascos e comprimidos, ler uma perspectiva diferente sobre o assunto é no mínimo uma atitude saudável. Primeiro, porque o que a esquerda chama de capitalismo, de fato economia de mercado, somos todos nós e não uma entidade apartada de nós que vive por aí praticando explorações várias. Todos nós que produzimos e consumimos somos o capitalismo. Não reconhecer este fato é uma boa maneira de tentar se eximir das responsabilidades pessoais sobre os rumos do mundo em que vivemos.

Segundo, que o estabelecimento de uma relação intrínseca entre grupos oprimidos e o capitalismo tem mais a ver com uma abordagem ideológica do que com a realidade dos fatos. Basta lembrar como foram os períodos históricos anteriores aos últimos 200 anos para se constatar que há algo de errado com essa visão do capitalismo como o maior vilão de todos os tempos. Pelo contrário, observa-se que a situação da maioria das pessoas era bem pior antes dele.

Apesar disso, atualmente boa parte dos movimentos sociais relaciona suas lutas específicas, por exemplo, pelos direitos das mulheres, com uma certa luta anticapitalista que, sinceramente, não sei do que se trata. Então, a fim de apresentar uma visão oposta a essa, publico esta semana dois textos que abordam a relação do capitalismo (economia de mercado) com a luta das mulheres por seus direitos humanos e de cidadania. O primeiro texto - abaixo - é do Rodrigo da Silva e foi publicado no BrasilPost.

Adianto que, na minha opinião, quem libertou as mulheres foram elas próprias e não o capitalismo ou qualquer outro sistema político-econômico já tentado, como o socialismo. Tanto em um quanto no outro, o poder de estado e o poder financeiro sempre estiveram em mãos masculinas, portanto, não dá pra falar que qualquer um deles tenha libertado as mulheres. Entretanto, podemos dizer com segurança que as sociedades abertas produzidas pelo liberalismo econômico e político foram realmente propícias ao desenvolvimento da luta das mulheres por seus direitos.


Como o capitalismo libertou as mulheres

Nunca foi uma tarefa fácil desempenhar o papel de mulher - mas é possível afirmar, sem medo de cometer qualquer equívoco, que essa era uma tarefa muito pior antes do advento do capitalismo. Nos acostumamos a debater a questão de gênero no mundo moderno ignorando o quão incomparavelmente opressivo foi o passado feminino. Por séculos, a natureza das mulheres foi um mero apetrecho submisso ao universo dos homens.

Nesse cenário, o sexo sempre foi um tabu violento. Mary Wood-Allen, uma das lideranças do movimento de Temperança, que antecedeu a Lei Seca nos Estados Unidos no século dezenove, garantia a suas jovens leitoras, através do influente What a Young Woman Ought to Know (O que uma moça deve saber), que era permitido ter intimidades sexuais dentro do casamento - contanto que o ato fosse realizado sem o menor resquício de desejos sexuais. Para evitá-los, em geral, as mulheres eram orientadas a abandonar passatempos mundanos como jogar cartas e ler romances. Os romances eram sempre os principais culpados por estimular pensamentos impuros.

E se em casa o opressão era fiel companheira da vida sexual feminina, fora dela era quase inimaginável. Em 1856, uma jovem dona de casa de vinte e quatro anos, de uma família tradicional de Boston, casada com um homem muito mais velho, confessou em lágrimas ao seu médico, Dr. Horatio Storer, que não raramente se encontrava, de forma involuntária, pensando em outros homens que não o marido. O médico lhe receitou uma série de medidas emergenciais, incluindo banhos frios e uma lavagem completa de suas partes íntimas com borato de sódio, além da eliminação de todos os estímulos, inclusive alimentos condimentados e romances. Storer apresentou o caso para a Boston Society for Medical Observation, argumentando veementemente que "se ela continuasse em seus atos de indulgência provavelmente se tornaria necessário mandá-la para um asilo".

A subordinação das mulheres refletia-se também na literatura. Em A Megera Domada, de Shakespeare, uma personagem feminina dá uma lição para outras mulheres sobre a ordem natural:
Teu marido é teu senhor, teu guardião, tua vida, teu chefe e soberano. É ele que cuida de ti; para manter-te, arrisca a vida, com trabalho penoso em mar e em terra; nas noites borrascosas, acordado; de dia, suportando o frio, enquanto dormes em casa no teu leito quente, tranquila e bem segura. Não te pede outro tributo além de teu afeto, mui sincera obediência e rosto alegre, paga mesquinha de tão grande dívida. A submissão que o servo deve ao príncipe é a que a mulher ao seu marido deve."
Quase três séculos após Shakesperare dominar os palcos britânicos, o cenário permaneceria irretocável. Para o crítico de arte britânico John Ruskin as mulheres deveriam ser educadas apenas para servir aos seus maridos, e não mais que isso. Ruskin escreveu em seu ensaio Of Queen's Garden, publicado em 1865:
Até onde ela governa, tudo deve estar certo, ou nada está. Ela deve ser paciente, incorruptível; instintivamente e infalivelmente sábia - sábia, e não para seu auto-desenvolvimento, mas para a auto-renúncia: sábia, não para fixar-se acima de seu marido, mas para nunca falhar ao seu lado."


Este é o exemplo típico do que as pessoas pensavam sobre as mulheres. A mulher era um não-ser e a única coisa que se esperava de sua existência era casar-se e ter filhos - especialmente no Reino Unido, onde, em 1861, o censo apontava para uma falta de quase meio milhão de homens. No século dezenove, o divórcio raramente era um artifício permitido às mulheres. Para obtê-lo na Inglaterra, por exemplo, um homem só precisaria mostrar que a esposa havia lhe traído. Uma mulher, porém, teria que provar que seu companheiro havia agravado a infidelidade mantendo relações com animais, cometendo incesto ou alguma outra transgressão bizarra e imperdoável. Até 1857, uma mulher divorciada tinha de abrir mão de todos os seus bens, e em geral perdia também a guarda dos filhos. Antes da Married Property Act, de 1882, quando uma mulher se casava, sua riqueza era passada ao companheiro - e se trabalhasse depois de casada, não era incomum que seus ganhos continuassem nas mãos do marido. Perante a lei, uma mulher não tinha direito algum - não poderia usufruir de plena liberdade de expressão, possuir propriedade, assinar documentos legais ou obter uma educação contra a vontade do marido. Como o jurista William Blackstone afirmou, no final do século dezoito, "pelo casamento, o marido e a esposa tornam-se uma única pessoa de direito; isto é, a existência da natureza legal da mulher é suspensa, ou pelo menos é constituída e consolidada na do marido". Em certos casos, a mulher não possuía responsabilidade legal individual sequer por crimes que cometesse.

Antes do advento das revoluções que transformariam o mundo num lugar absolutamente diferente de tudo aquilo que já havia sido, era realmente difícil ser mulher - especialmente porque o respeito às normas morais quase sempre lhes negava atendimento médico apropriado. Ao longo dos séculos, o sangue menstrual era visto com desconfiança e médicos procuravam evitar operações durante esse período. Mesmo já no século dezenove, médicos não eram autorizados sequer a chegar perto das partes íntimas de suas pacientes (o ginecologista James Platt White foi expulso da Associação Médica Americana por permitir que seus alunos observassem Mary Watson, uma mulher de 26 anos, dar à luz, ainda que com a permissão dela). A ignorância em relação à anatomia feminina era quase medieval. Isso, obviamente, trazia graves consequências, já que era humanamente impossível para um médico realizar exames de forma adequada. Como regra, se uma mulher fosse acometida por alguma dor abaixo da linha do pescoço deveria apontá-la para a área afetada num manequim. Em 1878, a ignorância era tamanha que o British Medical Journal ainda era capaz de se questionar sobre a possibilidade de uma mulher tocar um presunto e estragá-lo por estar menstruada. No fim de 1892, como Judith Flanders relata em Inside the Victorian Home: A Portrait of Domestic Life in Victorian England, um inglês levou sua esposa, que tinha se tornado míope no início da meia-idade, a um oculista, apenas para ser informado de que o problema dela tinha origem em seus órgãos sexuais (e nos desejos libidinosos que a obrigavam a deteriorar seus olhos). A única maneira de restaurar sua visão foi realizando uma completa retirada de seu útero.

Porém, uma lenta e gloriosa revolução, sem precedentes na história da humanidade, ajudou a alterar os rumos do jogo. Graças às reformas liberais, a circulação de jornais na Europa aumentou oito vezes entre 1712 e 1757. Em 1771, as principais publicações britânicas obtiveram permissão para relatar de forma pública os debates no Parlamento. O que isso tudo indicava? Que a instrução finalmente estava se popularizando. Entre 1786 e 1790, no norte da França, 44% das mulheres já sabiam escrever o nome, indicando um salto de alfabetização para números jamais vistos. Não obstante, a Revolução Industrial foi um resultado direto dessa revolução silenciosa - criou e foi cria da instrução que se espalhava por todo velho continente, originando-se da sinergia entre produção e educação. Sem as máquinas que permitiram a popularização de manuais de alfabetização, e sem o comércio dos livros, livrar-se da ignorância certamente não passaria de um sonho utópico para o Ocidente. Como relata o americano Steven Roger Fischer em História da Leitura:
Os livros transformaram-se em produtos de distribuição em massa. Subia a renda e, com isso, cada vez mais livros eram comprados e lidos. A leitura proliferava em toda parte. Se no passado a maioria das casas possuía apenas um ou dois exemplares religiosos, agora quase toda casa tinha Bíblia, dicionário, semanário, diversos romances e muitos livros escolares. Médicos e advogados mantinham, e exibiam com proeminência, bibliotecas profissionais essenciais para o exercício da profissão."

Em toda Europa, graças ao surgimento da Revolução Industrial e de suas máquinas de impressão, mulheres podiam finalmente tirar proveito da distribuição literária, algo antes inteiramente controlado por eruditos e religiosos. Envoltas numa escuridão de ignorância, elas começaram a exigir o acesso ao conhecimento de todo tipo através dos livros, fazendo dessa época o apogeu de títulos como "Maneiras rápidas de..." e "Instruções práticas para...". Com o advento da moda, o segmento religioso, que durante séculos havia sido praticamente o único tema disponível para a literatura feminina, deu lugar aos guias de etiqueta. Algo mágico havia acontecido. Practical instruction in gardening for ladies (Instruções Práticas de jardinagem para senhoras), publicado em 1841 pela britânica Jane Loudon, foi a primeira obra, de qualquer natureza, a incentivar as mulheres a literalmente saírem do universo entediante de seus quartos em seus momentos de folga. Seu estilo direto, como conta Bill Bryson, pegou a um ponto que quase chegava ao erotismo. Gardening for ladies insistia bravamente que as mulheres podiam fazer jardinagem sem qualquer supervisão masculina. Era uma aventura excitante, de liberdade e desprendimento, ainda que no próprio quintal de suas casas. A obra permaneceu em catálogo, reeditada inúmeras vezes, até o fim do século. E as mulheres, felizmente, não se contentariam apenas com os limites de suas residências.

Mas o capitalismo não daria apenas instrução para as mulheres. Nos Estados Unidos, elas foram a principal força de trabalho nos primeiros cinquenta anos da Revolução Industrial (em Lancaster, Massachusetts, 88% dos operários fabris eram mulheres em 1818). Na maior parte do país, os homens trabalhavam na terra - onde a força física era uma necessidade primordial. Nas fábricas, as mulheres testemunharam um processo radical: um pagamento semanal com base em uma escala de hora em hora. Algo inédito na agricultura, que permitiu que elas recebessem, em média, o dobro do que ganhavam no trabalho agrícola.

Muito se fala sobre os abusos sofridos por mulheres e crianças na Revolução Industrial, mas usualmente se esquece que as condições no período que a antecedeu eram consideravelmente piores. A maior parte das famílias vivia miseravelmente, contando com as migalhas que caíssem das mesas das castas privilegiadas. Na Inglaterra, milhares de homens e mulheres infestavam o país na mendicância e na prostituição. Em 1851, uma em cada três moças de Londres, jovens entre 15 e 25 anos, se compunha de prostitutas; outra terça parte eram criadas. Não havia muita escolha. O número total de criados na capital britânica era maior que o da população total de todas as cidades inglesas, se descontarmos as seis maiores. E ser criado estava longe de ser uma profissão gratificante. Jenny Uglow, em sua A Little History of British Gardening, conta a história de uma propriedade onde, quando a família estava presente, os jardineiros eram obrigados a se afastar no mínimo um quilômetro e meio para não se tornarem presença irritante no campo visual dos proprietários. Numa mansão em Suffolk, no leste da Inglaterra, os criados eram obrigados a colar o rosto na parede quando alguém da família passava. O trabalho nas fábricas representava um salto para as mulheres, uma ascensão social e econômica sem precedentes.

Na segunda metade do século dezenove, houve uma rápida transformação na incipiente indústria americana. A porcentagem total de mulheres operárias havia diminuído como uma flecha - influenciado pela leva de imigrantes -, criando mudanças sociais que as levariam para os cargos mais bem pagos e para os novos campos de trabalho em ebulição no país. Na indústria de algodão entre 1850 e 1905, o percentual de mulheres caiu de 64% para 47% - apesar disso, as mulheres ainda dominavam os dois trabalhos têxteis mais lucrativos: a tecelagem e as máquinas de fiar. O declínio das mulheres no emprego industrial também refletiu no aumento das oportunidades longe das fábricas. Depois de 1850, o número de professoras, em Massachusetts, por exemplo, foi o dobro dos homens. Em 1900, as mulheres estavam presentes em 195 das 303 classificações de emprego enumeradas pelo censo - algo inédito no Ocidente. Na Europa, como o próprio Engels testemunhara em A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, citando o discurso de Lorde Ashley na Câmara dos Comuns, em 1844, um pai repreendeu as duas filhas porque elas tinham ido a um pub e foi duramente retrucado - "Vai para o diabo! Nós é que te sustentamos". Fartas de serem mandadas por um homem, decidiram ir embora de casa. Nada parecido havia acontecido em séculos.

Não por acaso, o século dezenove assistiu à formação das primeiras correntes feministas. Após um período de tempo inenarrável, pela primeira vez, as mulheres conheceram a possibilidade histórica de pensar sua condição, não mais do ponto de vista biológico, mas como fruto de uma situação social imposta. A Revolução Industrial ofereceu um novo elemento ao universo feminino, imprescindível para que as mulheres deixassem de cumprir o papel de seres de segunda classe - a liberdade de escolha. Agora, pela primeira vez, elas tinham a possibilidade de prover o próprio sustento, sem depender de qualquer outra pessoa. A revolução econômica, que beneficiaria as mulheres mais do que nenhuma outra classe durante o período, se transformaria no motor para a revolução social que lentamente se levantava. Como afirma a feminista canadense Wendy McElroy:
Quando as mulheres deixaram os campos em busca de emprego e educação, elas se tornaram uma força social que não mais podia ser negada. Consequentemente, os direitos das mulheres avançaram extraordinariamente durante o final do século dezenove, algo que não teria ocorrido não fosse a Revolução Industrial."
Mesmo com abusos, nenhum outro período histórico empoderou mais vulneráveis do que o advento do capitalismo no século dezenove. Através dele, as mulheres conquistaram os primeiros sinais de independência em sua longa trajetória pelo Ocidente - como classe econômica em ascensão foram às escolas e às universidades, montaram seus próprios negócios, escreveram seus livros, ganharam o mundo, tornaram suas pautas possíveis - não sem muito sangue e suor.

Se as mulheres operárias ajudaram a libertar o capitalismo das amarras da aristocracia, o capitalismo tornou possível libertar as mulheres da escuridão.

Fonte: Brasil Post, 12/02/2015, por Rodrigo da Silva

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Meritocracia sim e contra as desigualdades sociais


Vim de uma família pobre de migrantes nordestinos que saíram de suas terras natais para tentar melhorar de vida no sul maravilha. Conseguiram seu intento com muito esforço e determinação. Não foi se locupletando em algum órgão estatal, indicados por algum cumpañero de partido, que obtiveram sua ascensão social. Então, eu creio na meritocracia que, sendo verdadeira, não faz vista grossa às desigualdades sociais. Pelo contrário, busca promover a igualdade de oportunidades entre todos, proporcionando ao menos uma largada comum a cidadãs e cidadãos de uma determinada sociedade.

Não acho coincidência que o ataque à meritocracia se dê nesses tempos obscuros de governos do PT. Petistas e outros esquerdistas em geral se colocam abertamente contra a meritocracia. Pelo que temos visto do desempenho desse pessoal, o negócio é ascender socialmente na base do compadrismo e do comadrismo e não da avaliação por mérito. Não importa se o cumpañero/a tenha qualificação para determinado posto. O que interessa é fazer parte do clube dos amiguinhos e, na base da política do favor, do toma-lá-dá-cá, ir avançando na vida. Não interessa se a/o aluna/o estudou ou não. Tem que passar de ano de qualquer forma porque o que importa não é o mérito e sim o "diproma".

Convivi com petistas durante anos em diferentes movimentos sociais, e suas relações são sempre de compadrio. Aliás, parece que, quanto mais medíocres e desonestos forem seus quadros e todos que os cercam, melhor. De fato, são contra a meritocracia porque defendem a mediocracia. Portanto, se queremos um futuro para o Brasil, precisamos defender sim a meritocracia contra a mediocracia de petistas e assemelhados.

Por isso, reproduzo o texto do Guy Franco sobre o tema meritocracia. Não concordo com tudo que diz. Acho que faltou explorar melhor algumas frases, mas, no conjunto, abordou bem o tema. Destaco:
A competência está fora de moda. 
Defender a meritocracia não quer dizer que não se reconheça os níveis desiguais de onde cada pessoa começa a vida (a classe social, cor da pele, sexo, etc), mas apenas o reconhecimento de que é um meio possível e justo (não o único, nem o mais fácil) de ascender socialmente. 
Defender a meritocracia e combater a desigualdade não são coisas excludentes. 
...Ricardo Paes de Barros, formado pela escola de Chicago, e que foi líder de um grupo de economistas liberais responsável pela concepção técnica do Bolsa Família. As ideias liberais, no entanto, foram malhadas pela esquerda. Quem se lembra da resistência do PT na época? A proposta de focalização de combate à pobreza era tida como uma ameaça “neoliberal” e foi bastante hostilizada pelo partido. Hoje, o PT tenta apagar o passado liberal, as raízes chicaguistas por trás do projeto. Ao tentar apagar o nome das mentes responsáveis por trás do Bolsa Família (inclusive tirando o nome de Ricardo Paes de Barros, o pai do projeto, de sites do governo), fica fácil afirmar o que quiser e desdenhar de liberais.

 A quem interessa desdenhar da meritocracia?


Nunca vi a sociedade tão mobilizada para tripudiar da meritocracia. Hoje, não só os membros de movimentos sindicais levantam cartazes na rua contra o sistema, qualquer jovem barbudo com um canal no youtube faz o mesmo - e em plena luz do dia. Dão chiliques, relincham, fazem cara de tuberculose quando ouvem a palavra meritocracia. Pega bem desdenhar da besta. A competência está fora de moda.

Os opositores, me parece, reagem sem ver as gradações da questão. Não é possível que não concordem que recompensar uma pessoa pela eficiência seja um incentivo para o bom trabalho. Também nunca ouvi falar de alguém que recusou um aumento de salário porque considerava injusto receber mais pelos próprios méritos.

Reconhecer e promover os melhores profissionais é fundamental. Que se discuta os critérios de avaliação, mas o mérito é importante. Nada mais natural do que recompensá-lo. Não há vergonha nenhuma em defender isso.

Os opositores falam de exclusão, de “darwinismo social”. Há um fator ausente aí: ainda que a meritocracia seja excludente, impugnando a mediocridade, a sociedade como um todo não se beneficiaria de hospitais e escolas cujos médicos e professores fossem os mais capacitados? Por que seria diferente com as outras profissões?

Defender a meritocracia não quer dizer que não se reconheça os níveis desiguais de onde cada pessoa começa a vida (a classe social, cor da pele, sexo, etc), mas apenas o reconhecimento de que é um meio possível e justo (não o único, nem o mais fácil) de ascender socialmente.

Defender a meritocracia e combater a desigualdade não são coisas excludentes. E ainda que a meritocracia perpetue uma desigualdade, esta será um efeito colateral positivo, pois será baseada no mérito e não na arbitrariedade.

E aqui vou usar uma frase de Eduardo Giannetti: “A questão crucial é: a desigualdade observada reflete essencialmente os talentos, esforços e valores diferenciados dos indivíduos ou, ao contrário, ela resulta de um jogo viciado na origem, de uma profunda falta de equidade nas condições iniciais de vida, da privação de direitos elementares e/ou discriminação racial, sexual ou religiosa?”

O vizinho de blog Flávio Moura comentou sobre o silêncio dos liberais em relação a um artigo da The Economist que mostra como os mais ricos costumam ser os mais beneficiados pela meritocracia. Na verdade, essa é uma questão que tem ocupado os liberais há muito tempo. Queria reabilitar aqui um trecho de Hayek:
“…se uma invenção acidental se torna extremamente útil para os demais, o fato de que tenha pouco mérito não a torna menos valiosa do que se tivesse resultado de grande sacrifício pessoal.”
Há muito tempo que os liberais reconhecem que o mérito não é apenas resultado de grande esforço. E há muito tempo que estudam soluções de política pública para consertar eventuais desigualdades e diminuir a pobreza. Basta ler Milton Friedman - o liberal dos liberais - que encontrará nele as raízes do Bolsa Família e do Prouni, por exemplo.

“Meritocracia para quem, cara-pálida? 
Nossos liberais mereciam estudar um pouco mais.”

Os nossos liberais estudaram. Um deles é Ricardo Paes de Barros, formado pela escola de Chicago, e que foi líder de um grupo de economistas liberais responsável pela concepção técnica do Bolsa Família. As ideias liberais, no entanto, foram malhadas pela esquerda. Quem se lembra da resistência do PT na época? A proposta de focalização de combate à pobreza era tida como uma ameaça “neoliberal” e foi bastante hostilizada pelo partido. Hoje, o PT tenta apagar o passado liberal, as raízes chicaguistas por trás do projeto. Ao tentar apagar o nome das mentes responsáveis por trás do Bolsa Família (inclusive tirando o nome de Ricardo Paes de Barros, o pai do projeto, de sites do governo), fica fácil afirmar o que quiser e desdenhar de liberais.

A nossa esquerda merecia estudar um pouco mais os liberais.

Fonte: Yahoo Notícias, Blog do Guy Franco, 14/02/2015

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Brasil em risco de confronto popular como a Venezuela?

Juan Arias
O Brasil corre o risco de sofrer um confronto popular?
Analistas começam a se preocupar com a possibilidade de que o país entre num círculo de conflito que o deixe parecido com a Argentina ou Venezuela

O Brasil, em vez de se dividir, sempre se uniu no passado para defender as grandes batalhas democráticas. Foi assim nas manifestações de massa das “Diretas Já”, para pedir a volta do direito ao voto popular, e quando, juntos, os brasileiros saíram às ruas, vestidos de preto, para exigir o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. O país nunca teve comichão pelo confronto popular.

O Carnaval deste ano está sendo outra prova desse gosto dos brasileiros pela aglomeração na rua, tanto nos momentos de dor quanto nos de alegria e prazer. Milhões de pessoas de todas as classes sociais, de Norte a Sul do país, desfilaram pacificamente em milhares de blocos de todas as idades e ideias políticas para se divertir em paz.

Mas pela primeira vez os analistas começam a se preocupar com a possibilidade de que o país entre, por motivos políticos e para reagir à corrupção e à crise econômica e de desencanto com a política, num círculo de confronto popular que pode deixá-lo mais parecido com a Argentina ou com a Venezuela que com sua própria história.

No Brasil começam a ressoar dois gritos preocupantes: o de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, recém-eleita nas urnas, e o de uma possível guerra civil, não sangrenta, mas de consequências difíceis de medir, em que os cidadãos poderiam acabar se enfrentando nas ruas, pela primeira vez não unidos em defesa de uma causa comum, mas com ruídos de “guerra”.

Já foi explicado pelos especialistas em direito que o pedido de impeachment não é nenhum golpe contra a democracia, já que está previsto na Constituição e pode ser solicitado por qualquer cidadão que acredite que haja motivos para isso.

Difícil saber o eco popular que poderão ter as manifestações convocadas em caráter nacional para 15 de março, para pedir a saída do Governo da presidenta Dilma Rousseff. O que é indiscutível é que, diante da corrupção e da crise econômica, cresce o descontentamento popular, até nas pessoas menos favorecidas, as da classe C, que até ontem eram o fiel baluarte do governo do PT e hoje começam a se distanciar dele, como se depreende da última pesquisa do Datafolha.

Depor de seu cargo um presidente, ainda que isso carregue sempre um certo drama, supõe passar pelos procedimentos jurídicos previstos na Constituição, com severo controle pelo Congresso: o impeachment precisa ter dois terços dos votos na Câmara e no Senado.

Tal pedido, inclusive bradado nas ruas pelos brasileiros descontentes com o governo, como um dia fez o PT ao pedir, na oposição, a saída do então presidente Fernando Henrique Cardoso, não deveria ser motivo de preocupação em termos democráticos.

O que hoje começa a dar medo é que algumas forças políticas, tentadas pelo demônio da perpetuação no poder a qualquer preço, em vez de buscar meios de sair da crise, possam acabar dividindo o país, como já acontece na Argentina e na Venezuela, com impulsos, como naqueles países, de amordaçar a informação livre.

Um pedido de impeachment pressupõe um exercício democrático, no qual os eleitores acreditem que o governante vitorioso e democraticamente eleito nas urnas tenha se tornado indigno de continuar no poder. Nada mais.

Ao contrário, um confronto que dividisse o país em dois grupos irreconciliáveis, já sem distinguir quem fosse governo ou oposição, poderia criar a tentação à violência, que não se sabe ao que poderia levar.

Esse tipo de confronto civil, que torna irreconciliáveis as duas partes em conflito e acaba dividindo salomonicamente um país, dificulta desde seu nascimento qualquer solução democrática, porque em vez de diálogo e racionalidade, reina a paixão, cultivada mais com o fígado que com o cérebro.

Nada pior neste momento, por exemplo, que uma parte do partido do Governo querer empurrar as ruas usando seus sindicatos e movimento sociais contra as medidas de austeridades defendidas por seu próprio Governo para tirar o país da crise.

A reação do Governo frente a um pedido de impeachment da presidenta Rousseff deve ser apresentar fatos que mostrem que não há motivo para isso. Tudo, é claro, à luz do Sol, aceitando os resultados das legítimas investigações, sem tentar domesticá-las nem manipulá-las.

Sempre se disse que é a verdade que nos torna livres. E são os fatos, revelados por meio das instituições livres do Estado, nesse caso das forças policiais e dos tribunais de Justiça, os melhores defensores da legalidade.

Todo o resto, como os fatos “tenebrosos” insinuados pelo juiz Sergio Moro na operação Lava Jato, praticados com a expectativa de impunidade nas sombras dos esgotos do submundo do poder, são o melhor caldo de cultura para que se forme no país um clima de dissimulada violência e divisão dos cidadãos.

Seria o pior dos remédios para que o Brasil saísse da crise econômica e política que vive.

A força do Brasil, invejada em vários continentes pelos países que sofrem com a tentação de rasgos nacionalistas ou ideológicos, sempre foi sua unidade nacional, apesar de suas imensas diferenças geográficas e culturais.

Querer hoje ignorar os novos ventos da busca por formas mais participativas do poder para perpetuar a velha política patrimonialista poderia acabar esgarçando um país que sempre se orgulhou de sua união.

Melhor, em caso extremo, um impeachment, se necessário e constitucional, que qualquer outra tentação antidemocrática, mesmo que possa ser disfarçada como defesa dos direitos dos mais pobres.

A verdadeira democracia exige que até aos mais necessitados e indefesos seja dada a liberdade de escolher como e por quem querem ser defendidos, porque a História ensina o quão perigosa é a força desses excluídos quando descobrem que estão sendo enganados ou manipulados pelos malabarismos do poder.

Fonte: El País, por Juan Arias, 17/02/2015

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Precisamos conversar sobre o aborto: grávida apoia descriminação do aborto em solidariedade às mulheres que abortam


Grávida apoia descriminalização do aborto em rede social e gera debate sobre o tema

‘Estou ao lado dos direitos reprodutivos das mulheres. Jamais vou usar minha gestação contra mulheres que abortam’

RIO - Uma grávida que se manifestou a favor da descriminalização do aborto numa rede social está provocando um enorme debate sobre o tema na web. Gaabriela Moura, que está grávida pela segunda vez, escreveu, nesta terça-feira, um texto de apoio às mulheres que optam por terminar a gravidez. Seu manifesto - parte de uma campanha que tem mobilizado gestantes em torno do assunto nos últimos dias - tem quase 22 mil “curtidas” e cinco mil compartilhamentos.
Estou ao lado dos direitos reprodutivos das mulheres. Eu sou totalmente favorável à descriminalização do aborto, ao respeito às mulheres e suas escolhas e seus corpos. Sou inteiramente solidária às minhas irmãs que são massacradas, estupradas, culpabilizadas por suas gestações, culpabilizadas pela interrupção destas gestações. (...) Mulheres casadas abortam, cristãs abortam, prostitutas abortam, mulheres de mais de 40 anos, mulheres de menos idade abortam, e eu jamais vou usar a minha gestação contra elas”, escreveu a jovem na rede social.
Enquanto uma parte dos internautas aplaude a iniciativa, muitas pessoas com uma visão oposta à dela estão atacando Gaabriela em sua página pessoal, deixando claro o poder de polarização do assunto. Os comentários ofensivos estão sendo devidamente apagados pela dona do perfil, mas a futura mãe de segunda viagem tem mantido os comentários contrários à sua visão que não ferem sua dignidade ou de outras mulheres. A publicação, por isso, acabou virando um espaço para debate para a questão do aborto. Já são mais de 800 comentários em seu post.

Confira, abaixo, o texto completo de Gaabriela:
Eu passei pela experiência de engravidar duas vezes. A primeira não foi planejada, a segunda, sim. Ambas foram muitíssimo desejadas e apoiadas, parceiro, familiar, financeiro, todas as nossas questões nos satisfaziam, estávamos (e estamos, afinal, estou gestando ainda) muitíssimo felizes, empenhados e preparados física e, sobretudo, emocionalmente. 
As minhas gestações são as minhas gestações, jamais poderia embasar decisões de mulheres, essas que suas histórias não conheço, essas que seus desejos não conheço, essas que suas dores e delícias não conheço, por minhas experiências felizes na gestação e maternidade. 
Estou ao lado dos direitos reprodutivos das mulheres. Eu sou TOTALMENTE favorável à descriminalização do aborto, ao respeito às mulheres e suas escolhas e seus corpos. Sou inteiramente solidária às minhas irmãs que são massacradas, estupradas, culpabilizadas por suas gestações, culpabilizadas pela interrupção destas gestações, caso tenham esses filhos, sofram violência obstétrica, sejam culpabilizadas por péssimas condições físicas e emocionais, rechaçadas no trabalho, crucificadas nos meios conservadores e, muitas vezes, sobretudo se forem negras e pobres, mortas sangrando na mão de um sistema cruel, ao coro de comemorações, em um Estado que tem por dever ser LAICO, ou seja, não deve embasar suas políticas públicas em aspectos religiosos. 
Mulheres casadas abortam, cristãs abortam, prostitutas abortam, mulheres de mais de 40 anos, mulheres de menos idade abortam e eu jamais vou usar a minha gestação contra elas. 
Solidariedade às minhas irmãs mulheres”.

Compartilhe

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites