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terça-feira, 5 de março de 2019

O frevo mais popular do Brasil foi composto por Joana Batista Ramos em 1909

Joana Batista Ramos
Compositora da marchinha mais popular do Carnaval pernambucano foi apagada da história
Documentaristas buscam informações para construir biografia de Joana Batista Ramos

​Há 110 anos, uma mulher negra e pobre, possivelmente filha de escravos, compôs a letra do mais popular frevo do Carnaval de Pernambuco, a "Marcha Número 1 do Vassourinhas". Mas a história oficial, moldada em território masculino, tratou de apagá-la.

Na terra do frevo, Joana Batista Ramos ainda é apenas um conjunto de indícios. As informações sobre ela são bastante escassas, quase inexistentes. Resumem-se a poucos parágrafos de jornais do início do século passado. Não há nem sequer certidões de nascimento ou de óbito.
O único documento público que comprova a sua existência é o recibo de venda por 3.000 réis dos direitos autorais da música para o tradicional Clube Vassourinhas, fundado em 1889, um ano após a assinatura da Lei Áurea. 
Escrita em 1909, a música virou uma espécie de hino popular de Pernambuco.

Ela foi gravada pela primeira vez, porém, em 1945, pela Continental, interpretada por Deo e Castro Barbosa. Na versão, a letra original acabou sendo alterada com a inserção do verso de domínio público "se essa rua, se essa rua fosse minha", cantiga popular rearranjada pelo maestro Heitor Villa-Lobos na década de 1930.

Nascido como uma marcha, o frevo de Vassourinhas foi sofrendo outras modificações ao longo do tempo, até que teve a letra suprimida. O garimpo mostra que a música era executada quando o Vassourinhas estava retornando para a sua sede, na chamada marcha de regresso.

Hoje, no Carnaval, o frevo funciona como uma espécie de "acorda povo", aquele momento em que os músicos estão cansados e precisam retomar a animação dos foliões.

O maior mistério do frevo
Partitura mostra os verdadeiros autores do famoso frevo:
 Matias da Rocha e Joana Batista
Uma equipe pernambucana de documentaristas iniciou um trabalho de investigação para contar quem foi Joana Batista Ramos. A produtora cultural Tactiana Braga e os jornalistas Camerino Neto e Maíra Brandão dirigem o documentário "Joana: Se essa Marcha Fosse Minha", ainda sem data para lançamento.

Uma campanha na internet também foi lançada na tentativa de encontrar parentes da compositora ou qualquer informação que contribua para construir a sua biografia.

Até agora, além de testemunhos e escassos relatos em jornais da época, conseguiram encontrar uma única imagem do rosto dela, provavelmente uma pintura, que consta no documentário "Cem Anos de Vassourinhas" (1989), pertencente ao acervo da Fundação Joaquim Nabuco.
Estamos falando do território da cana-de-açúcar, do senhor de engenho, da casa grande e da senzala, demarcado pela violência do poder. Joana é um grito neste momento em que o Brasil ameaça a fala e o direito da mulher", diz Tactiana Braga.
Camerino Neto conta que, nos antigos bailes de Carnaval, com várias orquestras, a introdução de Vassourinhas era o alerta para que os próximos instrumentistas subissem ao palco e pudessem substituir aqueles que já estavam tocando.
Isso talvez explique porque ela se popularizou tanto. Era executada várias vezes durante a mesma noite", diz.
Algumas peças do quebra-cabeça histórico estão sendo descobertas aos poucos.
Joana era possivelmente empregada doméstica, ex-escrava ou descendente de escravos", lembra Brandão.
Mas ainda não se sabe onde exatamente ela nasceu.
O próximo passo é fazer o caminho contrário. Estamos tentando localizar a certidão de óbito", aponta.
O governo de Pernambuco afirma que a Secretaria da Mulher se prontificou a acionar a estrutura de informações oficiais para encontrar qualquer documento sobre Joana.
Há o entendimento de que essa invisibilidade não é um ato falho. É um ato de machismo. É preciso reconhecer sua contribuição a partir da história de Joana", afirma Braga.
Nas pesquisas, há relatos da presença dela e de Mathias da Rocha, que também assina a música por possivelmente ter criado a melodia, num lugar em que os negros costumavam realizar celebrações, no Porto da Madeira, na zona norte do Recife. A composição teria nascido num dos mocambos do bairro.

A busca documental já chegou a algumas conclusões. Joana tinha três filhos e, provavelmente, morreu aos 74 anos, em 1952. Os registros em cartório da venda da música ao Clube Vassourinhas são de 1910, enquanto o documento de autoria é de 1949.

A pesquisadora Carmem Lelis informa que, em 1951, a marcha passou ser reproduzida também no Carnaval carioca. "Mas as informações são precárias e sem fontes para se constatar a veracidade."

O filme será composto por entrevistas com pesquisadores, maestros renomados do frevo e compositoras e cantoras pernambucanas.

Entre os entrevistados está a cantora, compositora e dançarina Flaira Ferro.
Há cem anos, a realidade era pior para as mulheres. Ainda mais sendo negra. Ela estava na margem da margem da margem", afirma ela.
Quem foi Joana Batista Ramos?
Mulher negra, compôs, junto de Mathias da Rocha, em 1909, o frevo 'Marcha Número 1 do Vassourinhas', um dos mais famosos de Pernambuco. Tudo o que se sabe sobre ela é que tinha três filhos e, provavelmente, morreu aos 74 anos, em 1952

 Fonte: Folha de SP, João Valadares, Recife, 01/03/2019

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Para as esquerdas sobreviverem


Tinha visto o vídeo abaixo após a vitória do Trump, mas serve como uma luva para nossa situação atual. Se você quer que a extrema-direita dê as caras, que as múmias saiam de seus sarcófagos, não apoie a extrema-esquerda, mesmo quando ela vem travestida com seu usual (hipócrita da porra) bom mocismo.

A esquerda que hoje nós chamamos jocosamente de bolivariana bananeira, por causa da versão venezuelana do autoritarismo castrista, sempre foi autoritária, viúva eternamente chorosa do fim do comunismo do leste europeu. Mas a esquerda dos movimentos sociais nasceu libertária, uma grande esperança de mudança social a partir da própria sociedade e não de algum partidão. Entretanto, de seu surgimento na década de 60 do século passado até hoje, esses movimentos foram se degenerando e se tornando tão autoritários quanto seus primos da velha guarda. Primos com quem, pelo menos aqui no Brasil, se alinharam inclusive, a tal ponto de atualmente não passarem de correias de transmissão dos partidos mais retrógrados e anacrônicos da esquerda.

Hoje, com base no tal ofendidismo por qualquer coisa, os floquinhos de neve (como dizem os americanos) ou teteias de cristal (como digo eu) estão tentando criminalizar qualquer divergência que não caiba em sua agenda falsamente hipersensível. Chegamos ao ponto de ter que engolir a conversa surreal de que existem mulheres do sexo masculino e homens do sexo feminino sob risco, caso discordemos, de ir parar até na prisão (como já ocorre em alguns países). Sob a desculpa de que todo discurso divergente é discurso de ódio, quando discurso de ódio de fato é só aquele que incita diretamente à violência, de fato investem contra a liberdade de consciência, de pensamento, de expressão, de associação e de reunião, pilares da democracia.

Foram essas esquerdas que pariram o Trump nos EUA e o Bolsonaro aqui. Essa esquerda dos tais justiceiros sociais, que se alinhou à esquerda bolivariana bananeira, torrou o saco de todo o mundo, inclusive de quem não é de direita, mas não aguenta mais tanta arrogância e estupidez de gente que nunca mais se olhou no espelho.

A maior parte das pessoas que votou e deve votar no Bolsonaro não tem nada de fascista. É simplesmente gente que não suporta a ideia de ver o PT de volta ao poder (e tem toda a razão) e quer mudanças porque o país degringolou depois dos anos do petismo no poder. É gente que também está saturada de não poder falar nada sem ser acusada de um monte de coisa que não é. Por falta de alternativa, acabaram apoiando o truculento e autoritário Bolsonaro, apesar de, apesar de, apesar de.... porque quer alguma mudança nem que seja por vias tortas. Porque está com um sapo na garganta que precisa expelir.

As esquerdas precisam entender que não têm a verdade e a luz, precisam abdicar de sua visão autolaudatória e procurar convencer as pessoas de suas ideias em vez de atacá-las com todo tipo de injúria. Se quiserem sobreviver.


segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Morre Luiz Carlos Maciel, o principal pensador da contracultura no Brasil



Aos 79 anos, morre Luiz Carlos Maciel, jornalista e pensador da contracultura

Principal ensaísta e pensador da contracultura no Brasil, o jornalista, diretor teatral e roteirista Luiz Carlos Maciel morreu na manhã deste sábado (9), aos 79 anos, no hospital Copa D'Or (Copacabana), no Rio de Janeiro, onde estava internado desde 26 de novembro com um quadro de infecção. Maciel sofria, nos últimos meses, com o agravamento da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Segundo a filha do escritor, Lúcia, o boletim médico apontou falência múltipla dos órgãos. Até o momento, não há informações sobre o velório.

O ensaísmo de Maciel articulou a contracultura brasileira com escritores e agitadores internacionais, anti ou extra-acadêmicos, e contribuiu para torná-la mais consciente de si própria, ao informar sobre ideias insurgentes e movimentos de vanguarda dos anos 60 e 70. Seus textos no "Pasquim", "Flor do Mal", "Última Hora" e "Fairplay" influenciavam adeptos do desbunde, esquerdistas menos ortodoxos e jovens aflitos para "cair fora" e encontrar um novo estilo de vida.

O espírito contracultural se manifestou em Maciel ainda na faculdade de Filosofia, em Porto Alegre (RS), onde nasceu em 15 de março de 1938. Aproximou-se do existencialismo de Sartre e do teatro do absurdo, encenando "Esperando Godot", de Samuel Beckett, com Lineu Dias, Mário de Almeida, Paulo José e Paulo César Pereio, do Teatro de Equipe. Autor do ensaio "Sartre, Vida e Obra" (1967), Maciel destacaria a relevância do filósofo francês em sua transição para a vida adulta, por despertá-lo para a liberdade e a responsabilidade.

Confiante na profecia do amigo Glauber Rocha de que a Bahia lideraria uma revolução cultural, ele decidiu mudar-se para Salvador e assumir uma cadeira de professor da Escola de Teatro, em 1959. Na capital baiana, dirigiu uma montagem elogiada da peça cabralina "Morte e Vida Severina" e foi o protagonista do homoerótico "A Cruz na Praça" (1959), o curta desaparecido de Glauber, que lhe confiaria, perto de morrer, os originais da peça "Jango: Uma Tragedya".

Em 1960, com uma bolsa da Fundação Rockefeller, Maciel partiu para o Carnegie Institute of Technology, em Pittsburgh, nos Estados Unidos. O mergulho na vida americana enriqueceu o repertório de autores e tendências comportamentais da futura e legendária coluna "Underground" no semanário humorístico "Pasquim", do qual tornou-se um dos fundadores a convite do jornalista Tarso de Castro. Entre 1969 e 1972, Maciel era o recordista de cartas da redação, como reconheceu o cartunista Jaguar, e passou a ser chamado de "guru da contracultura", um epíteto aceito a contragosto e fortalecido depois do texto "Conselhos a mim mesmo", em que recomendava: "1. Escuta o canto do ser. Ele tem mais de mil vozes. Olha a dança do ser. Ela tem mais de mil passos".

Na "Underground", e também em artigos para a grande imprensa, Maciel apresentou o zen-budismo de Alan Watts, os testes com LSD do escritor americano Ken Kesey, Timothy Leary e os benefícios terapêuticos das experiências psicodélicas, os odiados Hell's Angels, "Eros e Civilização" de Herbert Marcuse, a ação política do poeta beat Allen Ginsberg e o Gay Liberation Front da Califórnia (em confronto com Ginsberg).

Mais: o hipster segundo Norman Mailer, o Living Theatre, o romancista alemão Hermann Hesse, os Panteras Negras, Wilhelm Reich e a revolução sexual, Carlos Castaneda e os ensinamentos do bruxo Don Juan, as interpretações histórico-psicanalíticas de Norman O. Brown. Assimilou gírias dos desbundados e comentou as religiões orientais, o rock, o jazz, a antipsiquiatria, a anti-universidade, a liberação sexual, o feminismo de Yoko Ono, a maconha e o movimento hippie, além de fazer perfis de artistas como Bob Dylan, Jimi Hendrix, Richie Havens, Santana e —entrevistou-a no Rio, junto com Hélio Oiticica— Janis Joplin. Antecipou-se em décadas às campanhas nacionais contra políticas repressivas a usuários de drogas. Era uma florida revolução dentro da revolução cultural do Pasquim no jornalismo brasileiro.

Em oposição ao machismo confesso de outros membros do "Pasquim", ele simpatizava com os gays, os hippies, as feministas e os tropicalistas. Perto de embarcar para o exílio em Londres, em 1969, o compositor Caetano Veloso recebeu de Maciel a tarefa de enviar artigos para o semanário, uma colaboração bem-vinda para quebrar o gelo político em torno do grupo baiano. Gilberto Gil e Jorge Mautner também seriam acolhidos por suas páginas no período. No final de 1970, o Exército prendeu a equipe do humorístico e Maciel teve a grossa cabeleira cortada na Vila Militar.

Cabelos crescidos, ele deixou o "Pasquim" em 1972, pressionado pelo humorista Millôr Fernandes, inimigo e substituto de Tarso na chefia. Antes da despedida, estimulado por Sérgio Cabral, criou e editou o nanico "Flor do Mal", ao lado de Rogério Duarte, Torquato Mendonça e Tite de Lemos. Imerso de vez no jornalismo, comandou a edição brasileira da revista "Rolling Stone", outra experiência de vida curta, e colaborou com veículos como "Correio da Manhã", "Jornal do Brasil", "O Jornal", "Fatos e Fotos" e "Veja". Na Folha, a pedido de Tarso, escreveu para o caderno "Folhetim". Na "Ilustríssima", em 2015 e 2016, publicou seus últimos textos na imprensa.

NOVA CONSCIÊNCIA

Os ensaios contraculturais de Maciel saltaram dos jornais para duas coletâneas populares nos anos 70: "Nova Consciência" (1972) e "A Morte Organizada" (1975), complementados adiante pelo volume "Negócio Seguinte" (1978). A tensão entre cultura e contracultura, poder e antipoder, liberdade e repressão, atravessa o seu pensamento. "Nunca ninguém defendeu teses irracionalistas em estilo tão calmamente lógico", definiu Caetano Veloso.

No livro "Geração em Transe - Memórias do Tempo do Tropicalismo" (1996), ele repassou a convivência com os três artistas que julgava centrais na contracultura brasileira: Glauber, José Celso Martinez Corrêa e Caetano, independentes entre si mas sincronizados em 1967, quando o filme "Terra em Transe", a montagem de "O Rei da Vela" e a canção "Tropicália" traumatizaram as sensibilidades estéticas.

No ciclo contracultural, o ensaísta conviveu e guardava afinidades com uma lista plural de agitadores: Rogério Duarte, Gilberto Gil, Torquato Neto, Plínio Marcos, Jorge Mautner, José Agrippino de Paula, Leila Diniz, Othon Bastos, Antonio Bivar, Leon Hirszman, Helena Ignez, João Ubaldo Ribeiro, Waly Salomão, Jorge Salomão, Jards Macalé e a trupe dos Novos Baianos. Aprofundou, em tempos recentes, a amizade com o diretor Gerald Thomas.

Em suas memórias, Maciel apresenta um aspecto biográfico pouco conhecido: seu trabalho no Laboratório de Interpretação Crítica do Teatro Oficina, um passo para os atores chegarem ao estilo interpretativo de "O Rei da Vela", a peça de Oswald de Andrade que lhe fora indicada pelo diretor e crítico italiano Ruggero Jacobbi e que ele recomendou ao diretor Zé Celso. Em 1968, Maciel se afastou dos palcos, na sequência do duplo veto da censura à sua direção de "Barrela", de Plínio Marcos, no Teatro Jovem, e "As relações naturais", de Qorpo-Santo, no Teatro Glauce Rocha.

Dizia-se polímata ou homem sem especialização. Chegou a dirigir o longa "Society em Baby-Doll", em 1965. Nos anos 80, enraizou-se na atividade de roteirista na Rede Globo, integrando a equipe do "Globo Repórter" e, dentro do núcleo de Daniel Filho, de especiais como "João Gilberto Prado Pereira de Oliveira" (1980), "Baby Gal" (1983) e "Chico & Caetano" (1986). Ainda trabalharia como roteirista na Rede Record, nos anos 2000. Condensou essa experiência no livro "O Poder do Clímax - Fundamentos do Roteiro de Cinema e TV", reeditado este ano pela Ed. Giostri. Aos 77 anos, viu-se pela primeira vez desempregado. No ano passado, foi convidado para ser consultor da série "Os Dias Eram Assim", da Globo, escrita por Angela Chaves e Alessandra Poggi. "O Sol da Liberdade" (Ed. Vieira & Lent), sua última coletânea, revisitou a vanguarda do Tropicalismo, filósofos como Heráclito, Nietzsche e Heidegger, o escritor americano de ficção científica Philip K. Dick e o filme "Matrix" (1999).

Luiz Carlos Maciel, que dirige a peça "Boca Molhada de Paixão Calada", de Leilah Assunção, que estreia no Teatro Igreja.

Limitado pelo enfisema pulmonar, que se agravou este ano, Maciel sentava-se em posição de lótus, no gabinete, e passava os dias ouvindo Duke Ellington, o ídolo maior. Buscou em vão o raro LP "The Duke In São Paulo", um concerto gravado em 1968 no Teatro Municipal, jamais encontrado em seus garimpos no exterior. Sofreu com a perda de um pedaço de sua coleção de discos de jazz na última mudança de apartamento, mas pacificou-se ao lembrar de uma lição de Norman O. Brown: é preciso saber despedir-se para sempre. Nos últimos anos, publicava seus textos no Facebook e continuava a ler e discutir os mestres Heidegger, Sartre, Castaneda e Philip K. Dick.

Descontente com o impeachment de Dilma Rousseff e a ascensão da direita ao poder —com ela, a caretice, sua velha inimiga—, Maciel lamentou, em casa, duas semanas antes da internação hospitalar: "Conseguiram transformar o Brasil no país mais chato do mundo". Em seu último ensaio, "Memórias do Futuro" (inédito), pensado como introdução a um livro imaginário, o ensaísta defendeu um ponto de vista utópico: "A questão que nos confronta, hoje, é a necessidade de novas lembranças do futuro, de informação sobre nosso destino através de um processo semelhante ao que operou nos anos 60".

Filho de Logunedé, no Candomblé, Maciel aceitou os ensinamentos de Jesus e Buda, conheceu a Umbanda e o Santo Daime, absorveu o gnosticismo e preservou cautelas ateístas.

Ele deixa a viúva, Maria Cláudia, atriz, com quem estava casado desde 1976, os filhos Lúcia Maria e Roberto (do primeiro casamento com Yonne), quatro netos, 13 livros e oito gatos batizados com nomes de filósofos pré-socráticos. Arriscava-se à futurologia ao prever a manchete de sua morte: "Morre Luiz Carlos Maciel, o guru da contracultura".

Fonte: Folha de São Paulo, por Cláudio Leal, 09/12/2017

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Zumbi: Símbolo da Consciência Negra?

Hoje é feriado em algumas cidades brasileiras devido ao dia da Consciência Negra que tem o personagem Zumbi dos Palmares como referência heroica contra a escravidão dos negros. Entretanto, essa versão é aquela mistificada pelo atual movimento negro, como já abordei aqui em 13 de Maio: Dia da Vitória do Movimento Abolicionista no Brasil  Zumbi foi um resistente contra sua própria escravidão, mas não contra a escravidão em geral, sequer a de seus irmãos de cor. Pelo contrário, mantinha, em Palmares, escravos NEGROS. No texto abaixo, a historiadora Márcia Pinna Raspanti, do site História Hoje, desmistifica Zumbi porque "idealizar o passado só dificulta que compreendamos o presente."

ZUMBI: SÍMBOLO DA CONSCIÊNCIA NEGRA?

por Márcia Pinna Raspanti

Afinal, quem foi Zumbi dos Palmares? Na verdade, sabemos pouquíssimo sobre o líder do mais famoso quilombo do Brasil. Em novembro de 1695, Zumbi foi assassinado em uma emboscada, cerca de um ano após a destruição de Palmares pelo bandeirante Domingos Jorge Velho. Ao longo da História, criaram-se diferentes “biografias” a respeito desse homem, que passou de elemento perigoso a herói nacional.
É impossível escrever uma biografia de Zumbi, pois são muito poucos os traços que os coetâneos deixaram sobre o suposto homem que liderou bravamente o maior quilombo criado nas Américas durante a vigência da escravidão, o quilombo de Palmares”.
Assim começa o livro “Três vezes Zumbi“, de Jean Marcel de Carvalho França e Ricardo Alexandre Ferreira. Os autores nos mostram as diferentes versões do personagem que foram construídas ao longo da história: no período colonial, Palmares era visto como foco de instabilidade ao sistema vigente e Zumbi tinha pouca importância neste contexto; no século XIX, passou-se a enxergar o quilombo como um empecilho à civilização, e Zumbi era retratado como um bravo guerreiro, mas o verdadeiro “herói” era o bandeirante Domingos Jorge Velho, que teria libertado a sociedade deste mal.

No século XX, Zumbi passou a ser considerado o pioneiro nas lutas contra a desigualdade e a opressão, um mártir das minorias. O antropólogo Luis Mott chegou a levantar a hipótese de um Zumbi homossexual, fazendo dele um símbolo de todos aqueles que quebram as regras vigentes. Os autores mostram que nenhuma destas versões é mais ou menos verdadeira, ou seja, todas são fantasiosas, mas refletem um contexto histórico mais amplo.

Como pouco se sabe sobre ele, Zumbi é perfeito para encarnar nossos ideais e medos. Ontem, li uma artigo que falava sobre a suposta desconstrução da historiografia “de direita” da imagem de Zumbi dos Palmares. O fato de alguns historiadores destacarem que havia escravidão no quilombo – como era prática comum também na África – seria uma forma de manchar a imagem do herói da resistência negra e tornar a escravidão, aos nossos olhos, menos cruel. Sempre digo: cuidado com os anacronismos, mesmo os bem intencionados… É inegável, contudo, que alguns autores descobriram o nicho das versões politicamente “incorretas” e, infelizmente, vendem muitos livros ridicularizando a nossa História e seus personagens, distorcendo os fatos e criando sensacionalismo.

Ora, Zumbi não era e não poderia ter sido um líder em busca da libertação do negro. Mesmo porque não havia o conceito de um “negro”, uma identidade cultural que unisse todos os africanos. Eles vinham de etnias e regiões diferentes, muitos eram inimigos e trouxeram suas diferenças para as terras coloniais. É como falar do “europeu” ou do “branco”, como se isso bastasse para criar uma cultura homogênea. Ingleses, franceses, portugueses, espanhóis, holandeses e outros travavam lutas violentas entre si e não se viam como um “povo”. O mesmo se dava com os africanos.

Zumbi não queria acabar com a escravidão e nem libertar o “povo negro” da opressão do branco. Ele apenas lutava pela sua liberdade e do grupo que formou o quilombo. Havia, inclusive, laços de amizade entre os quilombolas e os comerciantes ou outros “brancos” com quem eles conviviam. Havia escravidão dentro do quilombo, havia regras de comportamento e castigos físicos para quem não as cumprisse.

Não podemos esperar de Zumbi atitudes de um homem do século XXI. Nos tempos coloniais, muitos ex-escravos juntavam uma determinada quantia em dinheiro e compravam…escravos! Chica da Silva é outra figura histórica que já sofreu muitos ataques por se comportar como uma mulher de seu tempo. Ela queria apenas ser aceita pela sociedade, livrar-se do preconceito e da miséria. É interessante notar que certas pessoas ficam “decepcionadas” com este comportamento.

Por outro lado, acho que é muito importante que paremos para refletir sobre a escravidão e os seus efeitos na sociedade brasileira. Escolher Zumbi dos Palmares como símbolo deste “Dia da Consciência Negra” não faz dele um herói contemporâneo, mas a sua história é um exemplo de como os escravos resistiram à opressão, cada um à sua maneira. Havia muitas formas de lidar com o cativeiro, nem todas heroicas, mas acredito que sempre sofridas. Também discordo da ideia de que desmistificar personagens históricos seja uma prática negativa: idealizar o passado só dificulta que compreendamos o presente.

Fonte:  História Hoje, 20/11/2014

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Maryam Mirzakhani foi a primeira mulher a receber o Fields Medal, o nobel da matemática

Maryam Mirzakhani: morre jovem as que os deuses amam
Além da matemática: A premiada Maryam Mirzakhani também foi revolucionária
A notícia de sua morte surpreendeu o seu país de origem e os Estados Unidos, onde morava e era professora na Universidade de Stanford.

Em 2014, aos 37 anos, Maryam Mirzakhani recebeu o prêmio de matemática Fields Medal, uma espécie de Nobel do gênero, pelo conjunto da obra de seus estudos. A iraniana foi a primeira mulher da história a vencer tal premiação desde sua criação, em 1936.

Por sua genialidade e representatividade, no última sábado (14) a notícia de sua morte surpreendeu o seu país de origem e os Estados Unidos, onde morava e era professora na Universidade de Stanford. A matemática enfrentava um câncer de mama, de acordo com nota oficial da universidade.
Ela era uma teórica matemática particularmente atraída pela resolução de alguns dos problemas mais difíceis em matemática. Ela foi particularmente excelente no desenvolvimento de formas de calcular as superfícies de objetos curvos com a maior precisão, o que tem muitas implicações na vida cotidiana", descreve a nota.
Mirzakhani descreveu o seu trabalho, que muitas vezes é compreendido como uma nova linguagem, como a necessidade de encontra soluções com um único recurso possível: o seu conhecimento.
Eu não tenho nenhuma receita particular [para desenvolver novas teorias]. É como estar perdido em uma selva e tentar usar todo o conhecimento que você pode reunir para criar novos truques e, com alguma sorte, você pode encontrar uma saída."
Apesar da natureza altamente teórica, as descobertas da iraniana têm impactos sobre os estudos de física da origem do universo, além de aplicações para a engenharia.

Dentro da matemática, teve influências no estudo de números primos e na criptografia.

Para o presidente da Stanford, Marc Tessier-Lavigne, a contribuição da matemática vai muito além das teorias.
Maryam se foi muito cedo, mas seu impacto continuará em torno das milhares de mulheres que ela inspirou para pesquisar a matemática e fazer ciência. Maryam era uma brilhante teórica matemática, e também uma pessoa humilde que aceitou honras apenas com a esperança de encorajar os outros a seguir seu caminho. Suas contribuições tanto como estudiosa quanto como modelo são significativas e duradouras, e ela será muito sentida aqui em Stanford e em todo o mundo."

Uma joia do Irã

Mirzakhani nasceu em Teerã e sonhava em se tornar escritora, mas os números e fórmulas atravessaram o seu caminho.

De acordo com a nota da Stanford, ela frequentou uma escola secundária de meninas na capital iraniana.

Mirzakhani ganhou reconhecimento internacional durante as competições da Olimpíadas Internacionais de Matemática. Ela era uma das poucas mulheres a integrar os times e levou ouro nas edições de 1994 e 1995.

Depois da graduação, foi aceita em Harvard, onde começou a trilhar o caminho de suas teorias. Apesar da barreira linguística, não deixava de interpelar seus professores em inglês, enquanto escrevia suas teorias em persa.

A notícia de sua morte levou os jornais estatais do Irã romperem com as estritas regras do país sobre o uso do hijab pelas mulheres.

Para homenagear a matemática, eles publicaram uma foto dela com a cabeça descoberta.

Até o presidente Hassan Rouhani publicou uma foto de Mirzakhani em seu Instagram.
A grave passagem de Maryam Mirzakhani, a eminente matemática iraniana e de renome mundial, é muito dolorosa", escreveu.
Em uma das raras entrevistas ao Guardian, Maryam Mirzakhani descreveu o momento em que se sentiu atraída pelas fórmulas:
Quando criança, eu sonhava em me tornar uma escritora. Meu passatempo mais emocionante era ler romances; Na verdade, eu leria qualquer coisa que eu pudesse encontrar. Nunca pensei na matemática até meu último ano no ensino médio. Cresci em uma família com três irmãos. Meus pais sempre foram muito solidários e encorajadores. Era importante para eles que tivéssemos profissões significativas e satisfatórias, mas não se importavam tanto com o sucesso e a realização.
Em muitos aspectos, foi um ótimo ambiente para mim, embora estes tenham sido tempos difíceis durante a guerra do Irã-Iraque. Meu irmão mais velho foi a pessoa que me despertou o interesse pela ciência em geral. Ele costumava me dizer o que ele aprendia na escola. Minha primeira lembrança da matemática é provavelmente o momento em que ele me contou sobre o problema de adicionar números de 1 a 100. Eu acho que ele havia lido em um jornal científico popular como Gauss resolveu esse problema. A solução foi bastante fascinante para mim. Essa foi a primeira vez que eu gostei de uma solução bonita, embora não conseguisse encontrá-la sozinha."

segunda-feira, 19 de junho de 2017

As Amazonas, além do mito

Meiramgul, aos 9 anos (1995), descendente das amazonas
Fui assistir a Mulher Maravilha e me encantar com a beleza da atriz Gal Gadot que interpreta a heroína. Como toda história de heróis tirados de HQ, o filme tem seus altos e baixos, mas algumas cenas realmente memoráveis como a luta das amazonas contra os soldados alemães que invadem Temiscira, a fala da mãe de Diana de que a humanidade não a merecia, e a cena em que a heroína sai da trincheira para atacar os inimigos e abrir caminho para seus amigos aliados. Uau! Gal Gadot só precisaria adquirir um pouco de músculos para ficar uma amazona perfeita. No mais, veio pra ficar.


E vendo as amazonas da ficção, lembrei deste texto, sobre as amazonas de carne e osso, que escrevi há oito anos, e resolvi repostá-lo. Trata-se da saga da arqueóloga Jeaninne Davis-Kimball que resolveu rastrear a trajetória das Amazonas, descritas no relato História de Heródoto, até encontrar uma de suas descendentes, Meiramgul, então uma menina de 9 anos, nos rincões da Mongólia.

Pintura de amazona, em antigo vaso grego,
trajando armadura hoplita.
As Amazonas, além do mito

Registros de mulheres guerreiras na história da humanidade não são incomuns, mas sempre estiveram envoltos em muita conjectura. Para boa parte dos estudiosos, as Amazonas nunca passaram de lenda, excesso de imaginação, figuras da mitologia grega, como os centauros, os sátiros, a Medusa, a despeito de sua presença em vasos de cerâmica, esculturas, pinturas e outros artefatos. Entretanto, descobertas recentes de tumbas (em 1995), com restos mortais de mulheres acompanhados de armas, mudaram um pouco essa visão.

Atualmente arqueólogos e historiadores passaram a ver os relatos dos escritores e historiadores gregos Homero e Heródoto com um outro olhar, buscando resgatar das mitológicas filhas do deus Marte e da ninfa Harmonia, as guerreiras de carne e osso. Nessa nova perspectiva, as Amazonas aparecem como originárias da grande cordilheira do Cáucaso, próxima ao Mar Negro, região hoje ocupada pela Armênia, Azerbaijão, Geórgia e Rússia, onde viveram por volta de 5500 anos atrás. Seriam alouradas, de pele clara, altas, fortes e musculosas, subsistindo da caça e da pesca e se relacionando com homens de outros agrupamentos da mesma região apenas para fins reprodutivos.

Em 3500 a. C, teriam migrado para o Mar Mediterrâneo, povoando a ilha de Creta e formando a base da sociedade minóica, de características matriarcais, e estabelecido também outros reinos na Trácia (Grécia), na ilha de Lemnos (no Mar Egeu), no Cáucaso (junto ao Mar Negro), e em Temiscira, banhada pelo rio Termodonte (hoje rio Terme Çayi, na atual Turquia). Durante a idade do bronze (3000 a 700 a.C.) do mundo mediterrâneo, o amazonato também teria se espalhado pelo Egito, Líbia e Itália (na ilha da Sicília) e por outras regiões da Europa, África e Ásia. Vale lembrar que, igualmente no Brasil, o nome de nosso maior rio se deve ao fato de o conquistador espanhol Francisco Orellana ter avistado na região um bando de índias tapuias que identificou como amazonas.

Jeaninne Davis-Kimball
Entretanto, o que deu mais consistência a tese das Amazonas, como mais do que mito, foi o trabalho da arqueóloga Jeaninne Davis-Kimball que resolveu rastrear a trajetória das Amazonas, descritas no relato de Heródoto, em sua fuga após a derrota para uma expedição grega na cidade de Temiscira (atual Ünye, na região da Capadócia), junto à foz do rio Termodonte (atual Terme Çayi). Em seu clássico História, Heródoto afirma que os gregos venceram as amazonas, em data não definida, e levaram várias, como cativas, em barcos. Em alto-mar, contudo, as prisioneiras se rebelaram, mataram todos os gregos e, como não sabiam navegar, acabaram chegando meio à deriva na Cítia, na costa do Mar de Azov, atual Rússia. Os citas e as amazonas teriam se unido e emigrado para as estepes russas entre os rios Don e Volga, dando origem ao povo sauromata que, por sua vez, em 400 a. C. foi colonizado pelos sármatas, povo indo-europeu vindo da Ásia Central. Seguindo nesses processos de conquista e assimilação, os sármatas foram vencidos por góticos, hunos e por fim mongóis, com quem se miscigenaram.

Percorrendo a trajetória dos sármatas, a arqueóloga Jeannine Davis-Kimball encontrou na cidade de Pokrovka, fronteira da Rússia com o Cazaquistão, cerca de 150 túmulos desse povo, datados de 2500 anos atrás, dentre os quais 15% das covas eram de mulheres altas, muitas com pernas arqueadas, ferimentos de batalhas, e que estavam enterradas com flechas de bronze, espadas e adagas. Davis-Kimball e sua equipe procederam a uma análise do DNA dos ossos encontrados para identificar o sexo dos esqueletos, confirmando tratar-se de mulheres.

Amazons: The Quest for Warrior Women Trailer from Story House Productions on Vimeo.

Em seguida, a arqueóloga, consciente de que o último processo de miscigenação dos sármatas havia sido com mongóis, embrenhou-se pela Mongólia, indo de acampamento nômade em acampamento nômade, em busca de alguém que lembrasse a velha herança genética das mulheres guerreiras. Por fim, em uma das aldeias nômades, encontrou uma estranha menina de traços mongóis mas loura. Colheu amostra da saliva da garota e enviou-a ao laboratório para comparação com o DNA colhido dos ossos das guerreiras de Pokrovka. O resultado revelou que o DNA mitocondrial da menina, chamada Meiramgul, de 9 anos na época (1995), era o mesmo contido nos esqueletos datados de mais de 2 mil anos atrás.

Ficou provado assim que as Amazonas eram bem mais de carne e osso do que se supunha, tendo deixado descendência que chegou milagrosamente até os tempos atuais. Não se duvida que novas descobertas possam trazer outras provas da existência dessas guerreiras, ainda que não como as da mitologia, mas importantes por confirmar a realidade de mulheres que viveram fundamentalmente com mulheres ou construíram sociedades onde as mulheres não eram submissas aos homens. Mulheres que eram capazes de lutar e derrotar seus inimigos, que as temiam e as admiravam.

Por isso, as amazonas não podem deixar de constar de uma cronologia da história lésbica, sendo o amazonato o primeiro controle de natalidade que se conhece e que as lésbicas empregam até hoje. Não por menos também, a machadinha de dupla face, utilizada pelas amazonas, conhecida como labrys (imagem ao lado), é um dos símbolos da organização lésbica em todo o mundo atual. E numa hora de necessidade vale invocar os nomes de algumas rainhas amazonas para ganhar coragem: Myrine, Antíope, Pentesiléia, Hipólita, Maroula, Califia, Hipólita... As fotos são da menina Meiramgul, da Jeannine Davis-Kimball e novamente da menina. O desenho é de um labrys estilizado.

A saga de Jeaninne David-Kimball foi registrada no DVD The Secret of the Dead: Amazon Warrior Women (O Segredo dos Mortos: Amazonas, Mulheres Guerreiras) que pode ser adquirido pela loja da National Geographic ou pela Amazon.com. Também, na Amazon, acha-se o livro da arqueóloga  Jeaninne Davis-Kimball. O documentário já passou igualmente no canal da National Geographic legendado, valendo a pena uma pesquisa. 

Publicado originalmente em 16/06/2009

terça-feira, 9 de maio de 2017

Nazismo se apresentava como uma "terceira via" entre o liberalismo e comunismo

Em meio a crise econômica e política na Alemanha, nazismo trazia ideia de "revolução social". mas só para os "arianos"
Artigo muito interessante sobre a definição política do nazismo, identificando-o como uma terceira via entre a esquerda e a direita, com uma perspectiva racista e ultranacionalista. De fato, tanto o nazismo e o fascismo quanto o comunismo tinham em comum um profundo antiliberalismo, embora empresários tenham contribuído com os dois primeiros, um apreço por regimes totalitários e a criação de bodes-expiatórios (como os judeus para os nazistas) e a burguesia (para os comunistas) a serem eliminados em campos de extermínio e nos paredões da vida. Tinham mais em comum do que sonham as vãs filosofias, daí também ser complicado rotulá-los de esquerda ou de direita simplesmente. Conhecer suas diferenças, como apresentadas pelo texto abaixo, ajuda a esclarecer o fenômeno nazista.

O nazismo era um movimento de esquerda ou de direita?

"Cara, cai na real! Ser de esquerda é ser a favor de milhares de mortes causadas pelo comunismo e nazismo no mundo. Reflita!", diz uma mensagem de janeiro no Twitter. "O socialismo/comunismo é uma ideologia de esquerda irmã do nazismo", diz outra do final de abril. Outro participante da rede social pergunta: "Quantas pessoas será que estão em grupos de libertários no Facebook discutindo se nazismo é esquerda ou direita neste exato momento?".

A discussão sobre se o movimento nazista alemão - cujo governo matou milhões de pessoas e levou à Segunda Guerra Mundial - teria as mesmas origens do marxismo ferve nas redes sociais há alguns meses, com a crescente polarização do debate político no Brasil.

Mas historiadores entrevistados pela BBC Brasil esclarecem o que dizem ser uma "confusão de conceitos" que alimenta a discussão - e explicam que, na verdade, o movimento se apresentava como uma "terceira via".

Tanto o nazismo alemão quanto o fascismo italiano surgem após a Primeira Guerra Mundial, contra o socialismo marxista - que tinha sido vitorioso na Rússia na revolução de outubro de 1917 -, mas também contra o capitalismo liberal que existia na época. É por isso que existe essa confusão", afirma Denise Rollemberg, professora de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Não era que o nazismo fosse à esquerda, mas tinha um ponto de vista crítico em relação ao capitalismo que era comum à crítica que o socialismo marxista fazia também. O que o nazismo falava é que eles queriam fazer um tipo de socialismo, mas que fosse nacionalista, para a Alemanha. Sem a perspectiva de unir revoluções no mundo inteiro, que o marxismo tinha."
O projeto do movimento nazista, segundo Rollemberg, previa uma "revolução social para os alemães", diferentemente do projeto dos partidos de direita da época, "que vinham de uma cultura política do século 19, de exclusão completa e falta de diálogo com as massas".

Mesmo assim, ela diz, seria complicado classificá-lo no espectro político atual. 

Eles rejeitavam o que era a direita tradicional da época e também a esquerda que estava se estabelecendo. Eles procuravam um terceiro caminho", afirma.

Nacionalismo

A ideia de uma "revolução social para a Alemanha" deu origem ao Partido Nacional-Socialista alemão, em 1919. O "socialista" no nome é um dos principais argumentos usados nos debates de internet que falam no nazismo como um movimento de esquerda.

Me parece que isso é uma grande ignorância da História e de como as coisas aconteceram", disse à BBC Brasil Izidoro Blikstein, professor de Linguística e Semiótica da USP e especialista em análise do discurso nazista e totalitário.
O que é fundamental aí é o termo 'nacional', não o termo 'socialista'. Essa é a linha de força fundamental do nazismo - a defesa daquilo que é nacional e 'próprio dos alemães'. Aí entra a chamada teoria do arianismo", explica.
De acordo com Blikstein, os teóricos do nazismo procuraram uma fundamentação teórica e filosófica para defender a ideia de que eles eram descendentes diretos dos "árias", que seriam uma espécie de tribo europeia original.
Estudiosos na Europa tinham o 'sonho da raça pura' nessa época. Quanto mais próximos da tribo ariana, mais pura seria a raça. E esses teóricos acreditavam que o grupo germânico era o mais próximo. Daí surgiu a tese de que, para serem felizes, tinham que defender a raça ariana, para ficar longe de subversões e decadência. (Alegavam que) a raça pura poderia salvar a humanidade."
A ideia de uma defesa do povo germânico ganhou popularidade em um momento de perda de territórios, profunda recessão e forte inflação após a Primeira Guerra Mundial - e tornou-se o centro do movimento nazista.
Era preciso recuperar a moral do pobre coitado, que não tinha dinheiro e era 'massacrado pelos capitalistas'", explica Blikstein. Nesse contexto, afirma, o nazismo vendia a ideia de "reeguer o orgulho da nação ariana. O pressuposto disso seria eliminar os não arianos. E essa teoria foi aplicada até as últimas consequências".
Segundo especialistas, judeus eram perseguidos por simbolizarem dois "inimigos" do nazismo: o capitalismo liberal e o socialismo marxista
'Marxistas e capitalistas'

Mesmo propagando a ideia de que o nazismo planejava uma revolução que garantiria justiça social na Alemanha - o que incluía, por exemplo, maior intervenção do Estado na economia -, o partido fazia questão de deixar clara sua oposição ao marxismo.

Os comícios hitleristas eram profundamente antimarxistas", disse à BBC Brasil a antropóloga Adriana Dias, da Unicamp, que é estudiosa de movimentos neonazistas.
O nazismo e o fascismo diziam que não existia a luta de classes - como defendia o socialismo - e, sim, uma luta a favor dos limites linguísticos e raciais. As escolas nacional-socialistas que se espalharam pela Alemanha ensinavam aos jovens que os judeus eram os criadores do marxismo e que, além de antimarxistas, deveriam ser antissemitas."
Os judeus, aliás, tornaram-se o ponto focal da perseguição nazista porque representavam tanto o socialismo como o capitalismo liberal, mesmo que isso possa parecer antagônico nos dias de hoje.
Havia uma simbologia do judeu como representante, por um lado, do socialismo revolucionário - porque Marx vinha de uma família judia convertida ao protestantismo, assim como muitos bolcheviques", diz a historiadora Denise Rollemberg.
Por outro lado, os judeus eram associados ao capitalismo financeiro porque os judeus assimilados (que assumiram as culturas de outros países, para além da nação religiosa) que viviam na Europa tinham uma tradição de empréstimos de dinheiro e de negócios."
'Precisão científica'

A "precisão científica" do extermínio de judeus na Alemanha nazista também dificulta as comparações com a perseguição política no regime socialista soviético, na opinião de Izidoro Blikstein.
Há muitos genocídios pelo mundo, mas nenhum igual ao nazismo, porque este era plenamente apoiado por falsa teoria científica e linguística e levada até as últimas consequências. A União Soviética também tinha campos de trabalhos forçados, mas não existia uma doutrina para justificar isso", afirma.
Mas há traços comuns entre o nazismo o regime (soviético) de Stálin. A propaganda, por exemplo, e o fato de que ambos eram regimes totalitários, que controlavam e legislavam sobre a vida pública e também privada do cidadão", admite.
Além dos judeus, o regime nazista também perseguiu democratas liberais, socialistas, ciganos, testemunhas de Jeová e homossexuais - algo que, nos dias de hoje, associa o movimento a partidos de extrema-direita que pregam contra a comunidade LGBT, contra imigrantes e contra muçulmanos, por exemplo.
Todo esse projeto de repressão, censura, campos de concentração e extermínio nazista era direcionado a quem estava fora do que eles chamavam de 'comunidade popular', o povo alemão. Mas alemães que eram democratas liberais e socialistas também eram excluídos por serem contrários ao projeto nazista e colocarem em risco a comunidade popular", explica Denise Rollemberg.
No entanto, para Blikstein, a ideia de raça é tão central ao nazismo que, assim como não se pode usar o projeto de revolução social para classificá-lo como "esquerda", também é difícil defini-lo como "direita".
Dizer apenas que Hitler era um político de direita é apequenar o nazismo. Foi mais do que direita ou esquerda. Foi uma doutrina arquitetada para defender uma raça, embora esse conceito seja discutível e pouco científico", diz.
'Crise de referências'

Uma recapitulação do projeto e do regime nazista, de acordo com os especialistas no assunto, aumenta a confusão: deveria haver igualdade social e distribuição de renda, mas imigrantes, judeus, opositores políticos e até filhos "não talentosos" de alemães seriam excluídos dela por serem "menos puros"; o Estado prometia interferir mais na economia para benefício dos cidadãos, mas empresas privadas tiveram os maiores lucros com a máquina de extermínio e de guerra nazista; o movimento dizia defender os trabalhadores, mas sindicatos trabalhistas foram extintos, assim como o direito de greve; o socialismo marxista era considerado ruim, mas o liberalismo também.

Como seria possível defender todas estas ideias ao mesmo tempo?
Quando o partido foi constituído, ele tinha uma vertente mais à esquerda e uma mais à direita. No início, tinha um discurso bastante antiburguês. Mas ao assumir o poder na Alemanha, o grupo à direita foi fazendo mais alianças com a burguesia e expulsando o grupo à esquerda", diz a historiadora da UFF.
Além disso, o nazismo nasce no meio de uma crise de referências muito grande após a Primeira Guerra. Muitos passaram de um lado para outro. Os valores muitas vezes vão se embaralhar, e esses conceitos de direita e esquerda atuais não resolvem bem o problema."
Entre historiadores, a tentativa de traçar paralelos entre o nazismo e o fascismo europeus e o regime stalinista na União Soviética também não é nova, segundo Rollemberg.
Todos eles eram regimes totalitários, mas o totalitarismo pode estar de qualquer lado. Hoje entendemos que há o totalitarismo mais à direita, como o nazismo e o fascismo, e o de esquerda, como o da União Soviética."
Fonte:  BBC Brasil, por Camilla Costa, 07/05/2017

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Em quadrinhos, a vida de Olympe de Gouges, uma das pioneiras na luta pelos direitos das mulheres

Abaixo texto sobre o lançamento da versão, em quadrinhos, de Olympe de Gouges, uma das pioneiras na luta pelos direitos das mulheres já na época da Revolução Francesa. Para se ver como aquela história de que o feminismo é fruto do marxismo cultural da Escola de Frankfurt é pura vigarice de conservador.

Apesar do inacreditável preço de R$88,00 (acho que foi para combinar com as 488 páginas do livro), sobrando alguma grana, vale comprar a HQ. Sabidamente, as HQ são bem mais acessíveis do que os textos corridos.

Vida de Pioneira Feminista lançada em quadrinhos no Brasil

Fiquei sabendo hoje que a editora Record lançou no Brasil uma biografia em quadrinhos da (proto)feminista Olympe de Gouges. Para quem não a conhece, trata-se de uma jornalista e autora de peças de teatro francesa que militou na Revolução e, com o passar do tempo, sentiu-se decepcionada com os rumos da mesma, especialmente em relação aos direitos das mulheres. Assim como Abgail Adams, que pleiteou direitos iguais para as mulheres e acesso ao voto durante a Revolução Americana, Gouges o fez na França. Só que a futura primeira-dama norte americana usou cartas privadas ao marido, enquanto Gouges publicou, em 1791, um manifesto “Declaração dos direitos da mulher e da cidadã” como reação a nova constituição que negava direitos iguais às mulheres. Lembro de ter lido parte do texto anos atrás e um dos argumentos da autora era particularmente agudo, se as mulheres podem ser condenadas a todas as penas, prisão ou morte, da mesma forma que os homens, deveriam poder gozar dos direitos que seus compatriotas tinham.

O (bom) governo revolucionário, especialmente quando caiu nas mãos dos jacobinos, começou a cercear a participação política feminina, algo muito presente no início da Revolução. Além disso, houve a perseguição sistemática dos inimigos da Revolução e, conseqüência direta de um governo autoritário, do partido. No auge do chamado Terror, era muito fácil ir parar na guilhotina, Gouges, que se tornará crítica aguda dos rumos da revolução, iria ser condenada mais cedo, ou mais tarde. Denunciada, guiou os sujeitos que foram prendê-la até seus escritos. Presa e acusada, acabou assumindo sua própria defesa e, algo muito comum, terminou condenada e executada em 3 de novembro de 1793. 


Enfim, o quadrinho publicado aqui no Brasil é francês, uma bande-desinée, portanto, é de autoria de José-Louis Bocquet e Catel Muller e foi publicada em 2012 (*a nota da Record diz que a BD foi premiada em Angoulême em 2008, mas nos sites franceses a data de lançamento é 2012, não sei se procede*). A edição da Record tem 488 páginas e um preço que eu até agora não consegui compreender, R$88. Não fosse isso, eu compraria sem piscar. De qualquer forma, é mais um material importante, porque mostra aquilo que muitos livros de História e professores da disciplina omitem ou não tem conhecimento, a participação ativa das mulheres nas grandes revoluções, sua ação política e produção intelectual. Espero poder comprar este volume em breve.

Ah, sim! Para uma visão mais acadêmica da ação de Olympe de Gouges recomendo o livro de Joan W. Scott, uma das maiores teóricas e historiadoras feministas, A cidadã paradoxal: as feministas francesas e os direitos do homem. Acredito que esteja esgotado, mas deve ter para baixar por aí.

Fonte: Blog Shoujo Café, 25/04/2014

Publicado originalmente em 06/05/2014

terça-feira, 28 de março de 2017

Matriarcados: quando as mulheres é que mandam

Bijagós: elas organizam o trabalho, a gestão da economia e a lei
Conhecer sociedades matriarcais ou matrilineares tem dois objetivos salutares fundamentais:
primeiro, desconstruir a crença de que o patriarcado em que vivemos é natural, universal e atemporal. Como tudo que se refere ao ser humano, visões essencialistas e deterministas não encontram respaldo na história da humanidade. O patriarcado, ou seja, o sistema onde o sexo masculino monopoliza a condução das sociedades e domina as mulheres, é um evento histórico consolidado sobretudo com o advento das religiões patriarcais, com destaque para as abraâmicas, a saber o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo.
segundo, citando as palavras da antropóloga Anna Boye "porque, através do saber que se adquire com elas, a gente aprende que há novas maneiras de organizar a sociedade, novas maneiras de ser, o que nos obriga a revisar tudo que aprendemos". 
Abaixo edição do texto original O que podemos aprender com as sociedades em que as mulheres mandam, da Natasha Romanzoti, e informações do blog da antropóloga Anna Boye. Ver também, ao fim da postagem, vídeos sobre sociedades matriarcais e um sobre a visão negativa que nossa sociedade patriarcal tem das mulheres à guisa de comparação.
Ede
Tradicionalmente, nas aldeias Ede do Vietnã, são as mulheres que possuem todas as propriedades e as passam para suas filhas. Elas também devem pedir seus maridos em casamento, e eles adotam o nome de família da esposa, vivendo na casa dela. A mulher mais velha da casa, inclusive, tem sua própria cadeira artesanal, que deve ser cuidadosamente esculpida a partir de um certo pedaço de madeira.

A terra é propriedade coletiva da aldeia, enquanto as florestas são sagradas, parte de sua antiga religião animista. Enquanto vestígios de costumes antigos ainda permanecem, as aldeias Ede de hoje são principalmente cristãs protestantes (ou seja, a contaminação patriarcal já se instalou).

Mosuo
Na sociedade Mosuo, no sudoeste da China, perto do lago Lugu, as mulheres tomam a maioria das decisões de negócios e gerenciam as famílias completamente. O também chamado “Reino das Mulheres” é formado por 40.000 fortes damas, e é uma das últimas sociedades matriarcais do mundo. A “Ah Mi” é a líder suprema da casa, normalmente a mulher mais velha. Crianças são criadas comunitariamente. Muitas vezes, uma família ajuda a criar o filho de outra como se fosse sua. Enquanto todo mundo compartilha um espaço comum, mulheres com mais de 13 anos de idade ganham a privacidade de seu próprio quarto, chamada de “sala de floração”. As mulheres podem escolher seu parceiro, mas não ficam totalmente ligadas à ele. Como convém a uma cultura com nenhuma palavra para “pai” ou “marido”, as mulheres não casam. Em vez disso, têm quantos amantes quiserem, convidando-os para encontros secretos à noite (geralmente depois que os homens passaram o dia todo abatendo porcos, enquanto elas organizavam as finanças domésticas). A propriedade é transmitida através da linha feminina e não há nenhum estigma em não saber quem é o pai de uma criança. Tal utopia matriarcal tem desvantagens, no entanto – visitantes curiosos vão até a região antes isolada sob a sugestão equivocada de que as mulheres Mosuo oferecem sexo grátis o tempo todo. Infelizmente, algumas das aldeias anteriormente pacíficas foram invadidas por hotéis, cassinos, karaokês e até um “distrito vermelho”.

Hopi
A tribo indígena americana Hopi se chama de “as pessoas pacíficas”. Eles basearam seu modo de vida em um respeito por seu ambiente, e tradicionalmente se organizam em volta de matriarcas. As mulheres ocupam a maior parte do poder, mesmo que o trabalho seja dividido igualmente.

Todas as mulheres se reúnem sempre que um bebê na tribo chega aos 20 dias de idade, a fim de nomeá-lo. É uma sociedade extremamente cooperativa, e que evoca princípios comuns a todos os níveis.

Chambri
Os escritos de Margaret Mead sobre o povo Chambri, de Papua Nova Guiné, em 1930 ajudaram a reforçar o feminismo nos Estados Unidos. Mead escreveu sobre como as mulheres é que pescavam e proviam para sua família e comunidade na sociedade Chambri. Antropólogos mais tarde concluíram que, embora as observações de Mead estivessem corretas, a dinâmica de poder entre as relações dos Chambri era mais igualitária do que ela deixou transparecer. No entanto, o povo Chambri ainda é um bom exemplo de uma sociedade com uma política sexual atípica, onde mulheres mantêm o controle de muitos aspectos da cultura.

Meghalaya
De acordo com o Livro dos Recordes Guinness, o estado indiano de Meghalaya é o lugar mais chuvoso na Terra. Suas populações tribais também possuem um dos poucos sistemas matrilineares sobreviventes do mundo, onde as mulheres, em vez de homens, são as donas das terras e propriedades. A tradição dita que a filha caçula da família herda todos os bens, bem como atua como zeladora dos pais idosos e irmãos solteiros. Quanto aos homens da família, um movimento sufragista surgiu, com grupos de direita afirmando que a cultura matrilinear está produzindo gerações de senhores que ficam aquém do seu potencial, posteriormente entrando no alcoolismo e abuso de drogas.

Aka
Os homens do povo Aka, na Bacia do Congo, na África, têm sido descritos como os “melhores pais do mundo”. Eles brincam com seus bebês pelo menos cinco vezes mais frequentemente que homens de outras sociedades. Enquanto as mulheres caçam, os homens cozinham. Berços não existem; os casais nunca deixam os bebês deitados sozinhos, e se um deles bate em uma criança, isso é base para divórcio. Mais impressionante de tudo, os pais Aka oferecem seus mamilos como chupetas para seus bebês quando a mãe não está por perto.

Minangkabau
Vivendo principalmente na Sumatra Ocidental, na Indonésia, em quatro milhões de pessoas, o povo Minangkabau é a maior sociedade matrilinear conhecida hoje. Além do direito tribal que exige que todos os bens do clã sejam legados de mãe para filha, o povo Minangkabau acredita firmemente que a mãe é a pessoa mais importante da sociedade. Após o casamento, cada mulher adquire seu próprio quarto. O marido pode dormir com ela, mas deve sair no início da manhã para tomar café na casa de sua mãe. Aos 10 anos, os meninos saem da casa de sua mãe para ficar em quartos de homens e aprender habilidades práticas. Os homens são sempre chefes do clã, mas são elas que escolhem o chefe e pode tirá-lo do posto se sentirem que ele não cumpriu suas funções.

Akan
Os Akan vivem em sua maioria em Gana e aderem à estrutura social matriarcal, apesar da pressão do governo.

A organização social dos Akan é fundamentalmente construída em torno do clã matriarcal. Dentro deste clã, a identidade, herança, riqueza e política são todas determinadas pelas mulheres.

No entanto, homens tradicionalmente ocupam cargos de liderança. Muitas vezes, o homem deve não só sustentar sua própria família, mas as de suas parentes do sexo feminino.

Bribri
O povo Bribri é um pequeno grupo indígena de pouco mais de 13 mil pessoas que vivem em uma reserva no Cantão Talamanca, na província de Limón, Costa Rica. Como muitas outras sociedades matrilineares, a de Bribri é organizada em clãs. Cada clã é composto de uma família e determinado pela matriarca. As mulheres são as únicas que tradicionalmente podem herdar terra, além de possuírem o direito de preparar o cacau usado nos rituais sagrados do povo.

Nagovisi
O povo Nagovisi vive no sul de Bougainville, ilha de Nova Guiné. O antropólogo Jill Nash relatou detalhes da sociedade dividida em clãs matriarcais. Por exemplo, mulheres Nagovisi estão envolvidas na liderança e cerimônias do povo, mas também trabalham nas terras que possuem. Nash observou que, quando se trata de casamento, a mulher Nagovisi dá à jardinagem e à sexualidade igual importância. O casamento não é institucionalizado. Se um casal é visto junto, dorme junto e o homem ajuda a mulher em seu jardim, para todos os efeitos, eles são considerados casados.

Bijagós
Trata-se de uma comunidade da ilha Orango Grande, no arquipélago Bijagós, em frente a costa de Guinea Bissau, onde as mulheres governam, gerenciam a economia e são respeitadas.

Segundo a antropóloga Anna Boye, nesta comunidade bijagó de Orango Grande cada sexo tem funções diferentes: as mulheres seguem a tradição de seus antepassados e organizam o trabalho, a gestão da economia e a lei, porém com um sistema de valores que aprecia os homens por sua sensibilidade e delicadeza e os valoriza pelo trabalho no campo, na caça e na pesca. Também os homens são levados em conta na hora de decidir as questões da comunidade com vistas ao bem comum.

Abaixo, o documentário Matriarcados: A lha das Mulheres, da antropóloga Anna Boye, outro sobre a sociedade Mosuo e um terceiro questionando o rebaixamento da mulher na educação patriarcal (à guisa de comparação). Fazer alguma coisa como uma menina é uma coisa negativa, ridícula.

Com informações de Hypescience e do blog da antropóloga Anna BoyeVer também Libertem as meninas do estereótipo feminino e elas serão grandes cientistas, matemáticas, engenheiras 




Publicado originalmente 04/07/2014

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