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quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Até a Segunda Guerra Mundial, menino vestia rosa e menina vestia azul

Pinturas de um menino usando rosa e uma menina usando azul
As discussões sobre gênero (modelos de mulher e de homem) sempre estiveram presentes em nossa História. No ano passado, algo que veio à tona foi a reafirmação dos padrões de cores entre meninos e meninas, sob o discurso de Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos “menino veste azul e menina veste rosa”. Mas o que poucos sabem é que essas cores foram impostas em um passado recente, o que demonstra as bases fluidas sob as quais estão assentadas.

Se uma mãe que criou seus filhos no início do século 20 entrasse em uma loja infantil hoje em dia, ficaria horrorizada com as roupas destinadas às garotinhas: em sua época, o rosa lembrava o vermelho do sangue, simbolizando força e masculinidade. Por mais estranho que nos pareça, esse padrão só se modificou com a industrialização dos EUA no pós-guerra.

No princípio era o Branco

Para entender essa história, precisamos voltar a um passado anterior à associação entre cores e gênero. Na Inglaterra vitoriana, a cor branca e tons pastéis eram o padrão das vestimentas infantis, como foi descrito por Jo B. Paoletti, professora da Universidade de Maryland, em seu livro Pink and Blue: Telling the Boys from the Girls in America. 

Isso não acontecia por existir uma maior democratização em relação aos estereótipos de gênero, mas sim por questões econômicas: na época, a indústria da moda infantil com consumidores sedentos por roupas específicas era quase inexistente. E como era caro produzir roupas com tinturas, as cores eram destinadas às pessoas mais velhas e camadas nobres da população.

Roosevelt à moda vitoriana, de vestido / Crédito: Reprodução
Outra característica intrigante sobre as roupas infantis da época era o uso de vestido. Ambos os sexos tinham esse item como essencial, provavelmente pela facilidade na higiene e movimentação dos pequenos - um belo exemplo disso é a foto do estadista Franklin Delano Roosevelt aos 2 anos de idade, mostrando a adesão dos EUA aos padrões vitorianos. A partir dos cinco anos, os padrões de roupas começaram a se diferenciar para ambos os sexos.

Cores trocadas
Barão d'Holbach pelas mãos do pintor Louis Carmontelle. Já no século 18 o rosa era uma cor máscula. Crédito: Reprodução
Entre o fim do século 19 e o início do século 20, passou-se a definir as cores "certas" para cada gênero, de acordo com padrões que vinham do século 18 que eram contrários ao atuais.

Segundo Gavin Evans, escritor e especialista em cores, o azul sempre foi associado à Virgem Maria e a delicadeza das mulheres, enquanto o rosa estava ligado ao vermelho, visto como uma cor forte e enérgica que traria mais masculinidade aos garotos.

Essas questões, puramente sociais, que vinham desde séculos anteriores, determinavam um suposto “padrão psicológico” para o uso das cores.

Foi apenas na esteira da Segunda Guerra Mundial que o cenário mudou. Entre 1920 e 1950, com a crescente industrialização dos EUA, o azul passou a ser subitamente comercializado por varejistas como a cor perfeita para homens, enquanto marcas de moda afirmavam que o rosa era a cor mais delicada.

Com o tempo, essa dicotomia foi se espalhando para brinquedos, acessórios, berços e desenhos animados, agitando a indústria infantil e gerando os padrões que hoje temos como verdade.

Com a industrialização, padrões sociais passaram a ser como hoje.
 Crédito: National Geographic
Segundo a psicanalista Fani Hisgail,
A afinidade com alguma cor não determina personalidade ou sexualidade”. Pelo contrário: ter afinidade com algo não supostamente pertencente ao seu sexo determina apenas o modo como nossa sociedade ressignifica valores e crenças através dos tempos.
Aliás, é sempre bom lembrar da diferença entre gênero e sexualidade: enquanto orientação sexual é a atração por pessoas do mesmo sexo, de sexo diferente ou ambos, gênero é o modelo de mulher ou de homem com o qual a pessoa se identifica, não dependendo de sexualidade ou do sexo com o qual a pessoa nasceu.

É pelo fato de serem socialmente construídos (como bem demonstram as cores azul e rosa) que os gêneros podem ser criados, modificados e transformados, gerando inúmeras possibilidades de "ser humano".

quinta-feira, 25 de abril de 2019

A divisão de cores de meninos e de meninas é uma invenção histórica e não algo natural

Wendy e Peter Pan vestidos de azul e rosa — Foto: Reprodução
Rosa nem sempre foi 'cor de menina' - nem o azul, 'de menino'

Pesquisadora americana explica que a divisão de gênero das cores é uma construção social. 'Assim, também é errada a ideia de que se você não tratar as crianças segundo um estereótipo de gênero elas vão crescer confusas, serão pervertidas, vão se tornar homossexuais, transgênero. Não há nenhuma evidência disso'.
A regra geralmente aceita é que rosa é para os meninos, e azul para as meninas. O motivo é que o rosa, sendo uma cor mais decidida e forte, é mais apropriado para meninos. Enquanto o azul, que é mais delicado e gracioso, é mais bonito para a menina."
O parágrafo acima foi publicado há cem anos, em 1918, por uma revista de moda infantil americana, a Earnshaw, voltada para profissionais da área. Foi encontrado por Jo Paoletti, professora emérita de Estudos Americanos na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, e autora do livro Pink and Blue: Telling the Boys from the Girls in America (Rosa e Azul: Distinguindo Meninos de Meninas nos Estados Unidos).
(Encontrar essa frase) virou minhas suposições de cabeça para baixo", lembra a pesquisadora, em conversa com a BBC News Brasil. Afinal, o rosa nem sempre havia sido uma cor de menina, nem o azul cor de menino.
A ideia de que há algo natural e permanente sobre o uso de rosa para as meninas e azul para garotos é historicamente errada", diz Paoletti.
Assim, também é errada a ideia de que se você não tratar as crianças segundo um estereótipo de gênero elas vão crescer confusas, serão pervertidas, vão se tornar homossexuais, transgênero. Não há nenhuma evidência disso. Não é dos estereótipos de gênero que nasce a identidade homossexual ou trans."
O uso de rosa ou azul mobilizou as redes sociais brasileiras em janeiro deste ano, chegando ao topo de assuntos mais comentados no Twitter. O motivo foi a divulgação de um vídeo de Damares Alves, a primeira ministra a ocupar a pasta de Mulher, Família e Direitos Humanos - criada por Jair Bolsonaro, em substituição ao Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos do governo de Dilma Rousseff.
Atenção, atenção! É uma nova era no Brasil. Menino veste azul e menina veste rosa!", fala Damares Alves no vídeo. A frase foi acompanhada em coro por apoiadores. Em seguida, todos pularam em comemoração - inclusive a ministra, nitidamente empolgada.
O contexto da frase é a intenção do novo governo de combater a chamada "ideologia de gênero". O termo, que não é reconhecido por estudiosos, foi popularizado por segmentos contrários à ideia de que gênero é uma construção social e, portanto, não está restrito ao sexo biológico de uma pessoa.
Fiz uma metáfora contra a ideologia de gênero, mas meninos e meninas podem vestir azul, rosa, colorido, enfim, da forma que se sentirem melhores", disse a ministra, após a reação das redes sociais, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
Vestidos brancos para bebês e azul feminino em alusão à Virgem Maria

A divisão de cores de meninos e de meninas é uma construção social recente, explica Paoletti.
Cem anos atrás, os bebês usavam vestidos brancos, independentemente do sexo da criança. Essas roupas brancas eram mais fáceis de serem mantidas limpas, porque podiam ser fervidas", diz ela. Além disso, era mais fácil trocar a fralda de um bebê de vestido do que com calças.
Quando as cores foram introduzidas no vestuário infantil, tinham tons pasteis, mas não importava se era rosa ou azul. Geralmente, eram escolhidas de acordo com o tipo físico da criança. Era muito comum ver bebês de olhos azuis vestindo azul. E bebês de olhos castanhos vestindo rosa. As pessoas achavam que combinava mais", continua Paoletti.
O uso das cores também variava de acordo com a região, explica a pesquisadora.
Em alguns países católicos, era comum encontrar o uso de azul para meninas, porque o azul era associado à Virgem Maria. Em outros locais católicos, como França e Bélgica, o primeiro filho costumava ser dedicado à Virgem Maria e vestido de azul, fosse menino ou menina."
Mais recentemente, o uso de rosa para meninas e azul para meninos se tornou padronizado em todo o Ocidente. Como isso ocorreu? Uma das explicações é que o padrão teria sido criado pela indústria da moda americana e se espalhado para outros países.

O professor de psicologia da Universidade do Novo México, Marco Del Giudice, analisou as ocorrências de rosa e azul para meninos e meninas em uma base de dados de milhões de livros, publicados a partir de 1880. Segundo ele, as referências a "rosa para meninas" começaram a ser mais abundantes a partir do final da Segunda Guerra Mundial, na década de 1940.

Além disso, outros simbolismos de gênero entraram na moda infantil, como laços e corações para meninas, aviões e bolas para meninos.

Antes, o que definia a moda infantil era a praticidade, a conveniência. Agora, as pessoas estão mais interessadas em garantir que seu filho pareça com o estereótipo de um menino", diz Paoletti.

Meninas preferem rosa? Ciência diz que não

Um estudo de 2011 publicado pela Sociedade de Psicologia Britânica analisou a preferência de cor de bebês e crianças com idades entre 7 meses e 5 anos. Cada criança recebeu um par de objetos, um com a cor rosa e o outro com uma segunda cor. Os pesquisadores, então, observaram qual era a preferência ou rejeição pelos objetos rosas.

O resultado foi que, com até um ano de idade, meninas e meninos escolheram objetos cor-de-rosa de forma semelhante. Ou seja, não havia uma preferência de um sexo ou do outro pela cor.

Já aos dois anos, as meninas passaram a preferir o rosa um pouco mais frequentemente que os meninos. E, a partir de dois anos e meio, a preferência por rosa despontou nas meninas, ao mesmo tempo que a rejeição ao rosa prevaleceu entre meninos.

Segundo as pesquisadoras, a preferência pelo rosa nessa idade pode ser explicada pela identificação de gênero que é dada pelos adultos e acaba absorvida pelas crianças.
As descobertas vão na contramão da sugestão de que as preferências de cor podem ter uma base biológica. Alguns pesquisadores propuseram que há mais vantagem evolutiva para mulheres que são atraídas por cores de frutas, como o rosa. Mas, se as mulheres tivessem uma predisposição biológica ao rosa, então isso seria evidente independentemente da aquisição de conceitos de gênero".

Fonte: BBC, 04/01/2019

Rosa para meninas e azul para meninos: a divisão nem sempre foi essa
 Foto: shutterstock.com/Natalya Lys
Entenda: como o rosa se tornou 'cor de menina' e o azul, 'de menino'
Registros históricos mostram que a afirmação da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, parte de uma construção social; no início do século passado, a escolha dos tons era outra

RIO — O azul não foi sempre considerado uma "cor de menino"; nem o rosa, "de menina". De fato, até o início do século passado, era o contrário. O rosa era a cor masculina por sua semelhança ao vermelho e ao sangue, passando a ideia de "força". O azul, por sua vez, tinha como mensagem a "delicadeza".

Autora do livro "Pink and Blue: Telling the Girls from The Boys in America" (em tradução livre, "Rosa e Azul: diferenciando meninas de meninos dos EUA"), a historiadora Jo B. Paoletti afirma que, até a Primeira Guerra Mundial, prevaleciam os tons pastel.
 "A partir daí, o rosa passou a ser uma cor associada à masculinidade, era um vermelho aguado", escreve ela em seu site. "Em 1914, o'Sunday Sentinel', um jornal americano, aconselhou as mães a "usarem rosa para o menino e azul para a menina, se a pessoa fosse uma seguidora de convenções".
Em 1927, a revista americana Time questionou lojistas sobre que cor eles associavam a cada sexo, mas não houve consenso sobre o resultado.

Segundo Paoletti, a mudança para rosa para meninas e azul para meninos aconteceu somente após a Segunda Guerra Mundial.
                                                                            
Além disso, em meados da década de 1980, a ultrassonografia passou a apontar o sexo do bebê, fazendo com que os pais começassem a montar o enxoval das crianças comprando as roupas de acordo com a cor que associavam a meninos e meninas. Até então, usava-se principalmente o branco. Foi nesse momento que o mercado, de modo definitivo, selou a "divisão" entre essas cores.

Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia, Bila Sorj considera que, mesmo com a transição das cores, a ideia transmitida pelo mercado permaneceu a mesma.
A cor é arbitrária, porque ainda considera-se, desde o início da História do consumo, que as meninas devem ser associadas à delicadeza e fragilidade, e os meninos, à força e a atividades vibrantes.

Para a jornalista Daniela Tófoli, autora do livro Pré-adolescente: um guia para entender o seu filho, a polarização entre azul e rosa está cada vez mais questionada.

Muitos pais estão optando por não saber o sexo dos bebês e preparam enxovais com cores como laranja e roxo — conta. — Também vejo crianças que não se encaixam neste modelo de mercado. Minha filha tem 9 anos e sua cor preferida sempre foi azul. É a cor que ela escolheu para a parede de seu quarto. Tivemos dificuldades em encontrar uma mochila azul sem temas masculinos. Por que a princesa tem que ser rosa ou lilás? E por que os pais devem se sentir incomodados se veem seus filhos estão com brinquedos rosas?
Fonte: O Globo, por Renato Grandelle, 03/01/2019 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Impor modelos rígidos de mulher e homem afeta as escolhas das profissões de meninas e meninos

Os estereótipos de gênero afetam o que as meninas e os meninos escolhem como profissão no futuro
Impor clichês de gênero na sociedade limita o desenvolvimento das habilidades e capacidades. Das garotas que chegam à universidade, só um terço opta por ciências

Elas querem ser atrizes, estilistas ou professoras quando crescerem. Embora haja exceções, perguntadas sobre o que gostariam de ser quando forem adultas, a maioria das meninas escolhe profissões estereotipadas. Mas, e se elas fossem meninos? Foi isso que a ONG Liga da Educação perguntou a um grupo de crianças em Fuenlabrada, Madri. Muitas mudaram sua resposta inicial, como você pode ver no vídeo experimental de sua campanha contra a violência de gênero. Astronauta, policial, médica ... seriam suas opções de vida se tivessem nascido homem. "Os meninos gostam mais da lua", explica uma das entrevistadas.

Os meninos não estão isentos de estereótipos de gênero. Eles imaginam um futuro como jogadores de futebol, bombeiros ou construtores, mas, se fossem meninas, gostariam de ser cabeleireiros de cachorros, professores ou atrizes. "O fato de estarem escolhendo profissões feminilizadas (elas) e masculinizadas (eles) nada mais é do que um reflexo da cultura na qual vivem imersos em uma desigualdade tradicional e estrutural entre homens e mulheres", diz. Rosa Martínez, secretária de Infância da Liga de Educação. E isso, continua ela, "limita o desenvolvimento de suas habilidades e capacidades".
A primeira coisa a fazer é tomar consciência da realidade em que nos encontramos e romper a miragem de igualdade em que vivemos imersos", sugere Martínez. Só então a transformação pode acontecer, diz. "Na Liga da Educação acreditamos que o feminismo ainda é uma questão em falta nas escolas e, com campanhas como essa, pretendemos que isso mude", acrescenta Ana Rodríguez Penín, diretora de Igualdade da ONG.
Por isso, elas acreditam que um dos principais campos de batalha é a escola. Essa é a mesma opinião de Paulo Speller, secretário Geral da Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, Ciência e Cultura (OEI).
É necessária uma educação em que tudo seja o mesmo para meninos e meninas", disse ele durante seu pronunciamento em um debate sobre meninas e mulheres na ciência nas Jornadas Europeias do Desenvolvimento, em Bruxelas, em 6 de junho.

A consolidação dos estereótipos no futuro

Apenas 30% das universitárias escolhem carreiras relacionadas à ciência, tecnologia ou matemática (denominadas STEM, por sua sigla em inglês), segundo dados da Unesco. O peso dos estereótipos forjados desde a infância se reflete no que se busca quando adulto. Não só na vida profissional, mas, também, na pessoal. "A escolha da profissão é apenas uma amostra de como os papéis de gênero influenciam o desenvolvimento cognitivo ou afetivo", diz Martinez.

Em relação à primeira, a baixa proporção de mulheres em carreiras STEM é significativa. Mas, como corrobora o experimento da Liga da Educação, a escolha de profissões tradicionalmente atribuídas a um ou outro gênero se estende a outros campos. Assim, o estudo Goleando Sem a Bola, Praticamente Bonecas,realizado pela Federação de Mulheres Progressistas em 2012 – no qual a campanha da ONG se baseia –, mostrou que 50% dos 153 adolescentes entrevistados mudaram a opção de profissão quando lhes perguntaram o que fariam se fossem do sexo oposto. Especialmente elas.
Em relação às escolhas de carreira, ambos os sexos demonstram valores semelhantes em profissões como medicina, educação e veterinária, mas se observam diferenças na opção por trabalhos tradicionalmente atribuídos a um ou outro sexo. Por exemplo, engenharia, jogador de futebol ou policial apontados em maior medida pelos meninos, enquanto as que estão mais ligadas ao mundo da beleza ou do cuidado com os outros, como aeromoça ou professora de jardim de infância, são preferencialmente marcadas por meninas", diz o relatório.
Os especialistas concordam em que a educação no ensino básico é essencial para reverter essa situação de desigualdade. Isso é enfatizado na Liga da Educação, na OEI e também na Fundação Descobrir.
Temos que começar desde o início, desde o ensino fundamental. E temos que aproveitar o movimento feminista agora", disse Carmen Segura, chefe de Ciência nesta organização, em sua fala nas Jornadas Europeias do Desenvolvimento, em Bruxelas, no mesmo debate sobre as mulheres em STEM do qual Speller participou.
Nesse sentido, Martinez (da Liga de Educação) dá ênfase especial ao chamado currículo oculto nas escolas.
Todos nós sabemos que os alunos aprendem muitas coisas vistas e ouvidas, mas, acima de tudo, aprendem o que lhes é transmitido", explica ela. Por exemplo, quando tratados de forma diferente por um professor (mais autoritário) e uma professora (mais maternal)" estão recebendo uma mensagem que reproduz e consolida o papel feminino relacionado com o cuidado e o papel masculino, com poder e liderança ", observa.
Não se deve esquecer ainda aspectos como a ambientação das salas de aula ou a configuração de elementos de jogo nos espaços ao ar livre das escolas (pátios), as ilustrações de livros didáticos, o tipo de atividade proposta para abordar a aprendizagem ou personalidades que aparecem como protagonistas nas diferentes áreas do conhecimento transmitido, enfatiza a especialista.

Dito e feito, a Fundação Búlgara de Pesquisa e Tecnologia para Educação de Gênero implementou um projeto na Bulgária, Grécia, Romênia e Croácia para que haja mulheres em todas as disciplinas obrigatórias.
Os estereótipos estão nos livros didáticos. Quando você lê, parece que todos os avanços e invenções foram obra dos homens, de tal modo que os alunos acreditam que eles, os homens, criaram tudo e são capazes de qualquer coisa. E as meninas acabam acreditando que não valem nada", critica Jivka Marinova, diretora da organização, em sua intervenção nas Jornadas Europeias do Desenvolvimento.
Por isso, reuniram um grupo de especialistas cuja missão era encontrar mulheres de referência que pudessem ser mostradas como exemplos em diferentes assuntos.
No começo nos disseram que não era possível, que não havia mulheres", confessa. Mas havia. "Para cada assunto, temos quatro", diz, com orgulho.
Assim, estudantes de escolas dentro de seu programa sabem hoje que a britânica Hertha Marks Ayrton é a cientista que inventou o arco elétrico.
Não se trata de mudar a história, mas de contar bem", resume ela. Seu projeto mostra que isso é possível.
Fonte: El País, 04/01/2019


sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Sem estereótipos de gênero, para que meninos e meninas possam desenvolver todo seu potencial

A pesquisadora Lise Eliot, autora do livro "Cérebro azul ou rosa" (Foto: Divulgação)
Particularmente, acho altamente especulativo qualquer argumento que tente atribuir caráter natural aos estereótipos de gênero. Para que a gente pudesse realmente saber se as diferenças biológicas entre mulheres e homens implicam diferenças comportamentais precisaríamos erradicar a educação diferenciada que adestra meninas e meninos de forma totalmente distinta. Se meninas e meninos são educados de forma totalmente diferente (e reprimidos caso saiam dos modelitos rígidos de mulher e homem estabelecidos pela sociedade), obviamente tenderão a se comportar de forma diferente. Para uma abordagem verdadeiramente científica, teríamos que analisar crianças criadas sem educação diferenciada por várias gerações (não adianta pegar um único exemplo historicamente recente e efetuado num único país). Enquanto isso não ocorre, qualquer tentativa de estabelecer relação intrínseca entre sexo e gênero é bem especulativa e suspeita de, na verdade, tentar renaturalizar os estereótipos sexuais. A neurocientista abaixo fica num meio termo, talvez porque acredite, como disse em uma de suas respostas, que é preciso ir devagar com o andor porque o santo é de barro:  
Como mãe, eu tentei quebrar o estereótipo de gênero tanto quanto possível. Mas você vai até onde é possível. As crianças pertencem a uma comunidade maior, e a definição de gêneros é muito importante na nossa sociedade. É um desafio. 
Um desafio que devemos enfrentar sempre. Uma sociedade sem estereótipos de gênero será mais livre, mais igualitária e produzirá gente mais sã. Não haveria transgêneros não fosse a educação desigual dada a meninas e meninos. Não haveria gente pensando que tem algo errado com seu próprio quando de fato errado foi o adestramento de gênero que receberam.


Lise Eliot: "Pais devem evitar rotular os filhos de acordo com o sexo”

Pesquisadora americana defende uma educação além dos estereótipos de gênero, para que meninos e meninas possam desenvolver todo seu potencial

Não existem tantas diferenças no cérebro de meninos e meninas quanto pensamos, mostram pesquisas científicas. Por que então pais e professores reforçam tanto as diferenças? Lise Eliot, neurocientista da Universidade de Medicina e Ciência Franklin Rosalind, em Chicago, nos Estados Unidos, diz que a distinção sexual é inevitável na nossa cultura, mas, em excesso, pode prejudicar o desenvolvimento pleno das crianças.
Para ser feliz na nossa sociedade, você precisa de uma boa mistura de traços tipicamente masculinos e femininos. Você precisa ser forte, assertivo, mas também precisa ser atencioso e sensível”, afirma Lise, autora do livro Cérebro rosa, cérebro azul, que foi lançado recentemente no Brasil. “Se apenas criarmos as crianças de acordo com estereótipos, eles não terão a oportunidade de desenvolver toda a gama de habilidades.”
Lise é formada pela Universidade de Harvard e tem PhD pela Columbia, além de pós-doutorado na Faculdade de Medicina de Baylor. É casada e tem três filhos, uma adolescente de 15 anos e dois meninos de 13 e 10 anos. Em entrevista a ÉPOCA, ela fala das reais diferenças entre os gêneros e dá dicas para não cair na armadilha de achar que garotas nunca serão boas em matemática, e que os garotos não podem ler e escrever tão bem quanto elas na escola.

ÉPOCA – Muito se fala sobre as diferenças entre homens e mulheres. Mas existem, de fato, grandes diferenças no cérebro de meninos e meninas?
Lise Eliot – É verdade que não identificamos muitas diferenças estruturais entre o cérebro dos meninos e o das meninas. As diferenças são muito sutis. Como eu destaco no livro, as principais diferenças psicológicas entre homens e mulheres não são programadas. Existe a noção popular de que homens e mulheres são programados para serem diferentes psicologicamente. Na verdade, não existem muitas evidências para isso. Particularmente no cérebro, muitas das habilidades que falamos – habilidades verbais, escritas, por exemplo – ão aprendidas. Nenhumas delas são traços de personalidade, estão presentes desde o nascimento. Todas são aprendidas. O melhor exemplo é a linguagem. 

ÉPOCA – A maioria das diferenças são culturais?
Lise – Penso que sim, mas não estou dizendo que 100% delas são culturais. Nós realmente temos evidência que a testosterona pré-natal de certa forma afeta o cérebro masculino promovendo uma maturação um pouco mais lenta e um nível maior de atividade, o que provavelmente se traduz em violência física. Mas estas são diferenças relativamente pequenas nas crianças, e elas se tornam muito maiores principalmente por causa da forma como tratamos meninos e meninas, da forma como eles brincam com seus amigos. Nós vivemos em uma sociedade muito segregada por gêneros. Crianças pequenas interagem pouco com crianças do outro gênero. Mesmo adultos, em nosso tempo de lazer, exceto com nossos cônjuges, não passamos muito tempo com pessoas de outro gênero. Com quem você se relaciona influencia no que você é bom. 

ÉPOCA – Quais são as principais diferenças?
Lise – As meninas são mais maduras que os meninos fisiologicamente. No nascimento, a diferença é de cerca de duas semanas. Nós sabemos que meninas falam mais cedo que os meninos. Elas dizem as primeiras palavras, em média, um mês mais cedo que eles. Então é uma diferença enorme. É uma diferença estatística e você precisa avaliar centenas de crianças para encontrar a diferença. Há exceções, claro. Na minha família, tenho uma menina e dois meninos. Meu filho mais velho falou mais cedo que os demais. Os meninos são mais ativos, eles correm mais do que as garotas. Mas não há diferenças em relação a isso na fase da gestação. Muitas pessoas pensam que os bebês que se movem mais podem ser meninos, mas isso não é verdade. Depois do nascimento, no primeiro ano de vida há uma pequena diferença no nível de atividade. Depois do primeiro aniversário, e principalmente quando eles têm dois ou três anos, meninos são mais ativos fisicamente. Estatisticamente, o menino médio é mais ativo que dois terços das meninas. Isso significa que a menina média é mais ativa que um terço dos meninos. 

ÉPOCA – Quais são os mitos em torno de como as meninas “são”?
Lise – Entres os mitos, podemos citar o de que as meninas não são tão agressivas ou competitivas. Isso é totalmente inverídico. O que ocorre é que as meninas aprendem a fazer isso de forma mais secreta. Outro mito é que os meninos são menos emotivos e afetuosos, e não conseguem demonstrar muita empatia. Isso não é verdade. Meninos aprendem a não chorar, eles aprendem a parecer durões, especialmente se convivem apenas com outros meninos. A cultura masculina tende a suprimir emoções masculinas e a sensibilidade. Não é que os garotos nascem insensíveis a outras pessoas. Todas as crianças aprendem sensibilidade social. Elas aprendem quando recebem cuidados. Quando alguém alimenta você, você aprende a alimentar outros. É por isso que a maioria das pessoas educam seus filhos da mesma forma que seus pais. Para os garotos, esse comportamento não é valorizado como é para as garotas, principalmente entre seus amigos. As meninas tendem a ser mais atenciosas e gostar de animais fofos e bebês. Se um menino disser entre seus amigos: “Que fofo!”, os outros vão dar risada. Eles não veem jogadores de futebol fazendo isso. 

ÉPOCA – Por que pais e professores devem prestar atenção às reais diferenças entre os gêneros?
Lise – Para ser feliz na nossa sociedade, você precisa de uma boa mistura de traços tipicamente masculinos e femininos. Você precisa ser forte, assertivo, mas também precisa ser atencioso e sensível. Se apenas criarmos as crianças de acordo com estereótipos, eles não terão a oportunidade de desenvolver toda a gama de habilidades. Se tentarmos ignorar ou contrapor os estereótipos, nós damos a todas as crianças a oportunidade de serem artísticas, científicas, matemáticas, competitivas ou cuidadoras – todos esses traços delas podem ser apoiados ou suprimidos pela educação. Normalmente, garotas fazem artes e meninos, matemática. É muito difícil ver um garoto em numa sala de arte. Mas isso é ridículo. Desde quando um homem não poderia ser artista? Nós vemos agora uma explosão de garotas atletas, depois que esta oportunidade foi dada a elas, principalmente depois dos anos 1970. Atualmente, temos dez vezes mais mulheres nos esportes nos Estados Unidos. Fica claro que, com oportunidade, as crianças expressam suas habilidades. Se você realmente prestar atenção em meninas pequenas, elas são muito ativas. Elas não sabem que não podem correr por aí, procurar insetos e subir em coisas. É mais tarde que aprendem a ser como uma lady. 

ÉPOCA – Que orientações você pode dar aos pais sobre a compra de brinquedos?
Lise – Acho que eles devem oferecer de tudo às crianças. Há muito o que aprender brincando com caminhões e há muito o que aprender brincando com bonecas. Os caminhões enfatizam habilidades físicas e mecânicas. As bonecas, as habilidades verbais, relacionais e de cuidado com os outros. Não queremos os dois tipos em meninos e meninas? Aos dois anos, meninos gostam mais de caminhões que as meninas, mas em famílias de mente aberta e irmãos dos dois gêneros, meninas podem ter mais interesse nesses brinquedos do que a média. Similarmente, meninos com irmãs podem ter mais interesse em bonecas, barbies e projetos de arte. O maior problema é que a maioria dos pais ainda estereotipa. Eu assisti a um programa de TV em que mostravam produtos incríveis para famílias e tudo era em rosa ou azul. Mesmo fora de casa, ensinamos que meninos e meninas são opostos. Eles aprendem essa ideia e, na hora de escolher os brinquedos, as crianças têm noção de gênero e querem se encaixar. Eles preferem coisas de um determinado gênero e evitam outras. Os pais deveriam evitar a rotulagem de gêneros o máximo possível. 

ÉPOCA – Como os pais podem ajudar os meninos a ler e escrever melhor?
Lise – Pais devem ler para os meninos todos os dias, encontrar livros de que eles gostem, como um sobre caminhões, por exemplo, além de tudo o que fazemos mais com as meninas. Nós falamos mais com elas, e é bem conhecido que o vocabulário falado de uma criança está diretamente relacionado à sua habilidade de leitura. Precisamos falar mais com nossos filhos, ouvi-los e engajá-los em diálogos. É esperado que uma garota fale mais e, pelos meninos serem mais ativos, elas ficam menos tempo sentados conversando. Você tem de se esforçar mais com seus filhos, assim como tem de se esforçar para fazer a sua filha praticar mais esportes. 

ÉPOCA – Como os pais podem ajudar as meninas a permanecer confiantes em matemática?
Lise – Isso está mudando rapidamente, pelo menos nos Estados Unidos. As meninas têm desempenho tão bom quanto o dos meninos até o ensino médio. Ao redor do mundo, a diferença entre os gêneros nessa disciplina está cada vez menor. Temos que continuar com as estratégias para as garotas que são valorizar o empenho delas, dar exemplos de vida, falar sobre mulheres que usam matemática em seus trabalhos e sobre o prazer disso. Francamente, precisamos ensinar a todos os nossos filhos que quem tem boas habilidades matemáticas pode ter acesso aos trabalhos mais bem pagos – em finanças, engenharia, ciências. 

ÉPOCA – No futuro, teremos muitas mulheres engenheiras ou trabalhando com computação?
Lise – Com certeza. No caso da computação, não há nada sobre isso que esteja associado a traços masculinos. Não é como trabalhar com engenharia, que está ligada a construções. Existem diferenças físicas entre homens e mulheres, é mais fácil para um homem assumir um trabalho em construções. Você consegue ver a conexão entre um emprego desse tipo, a engenharia e a formação de um estereótipo. No caso da computação, é só sentar e digitar. Não há razão para não termos mais mulheres fazendo programação. O maior problema é o estereótipo: muitas meninas temem se tornar geeks. Meninos passam a maior parte do tempo brincando com seus computadores. Para eles, a computação é a sua zona de conforto. Para elas, existe uma barreira de gênero.

ÉPOCA – Por que as adolescentes são mais vulneráveis à depressão?
Lise – Eu pesquisei e isso, assim como outras pessoas, achei que estivesse relacionado aos hormônios, já que na puberdade elas têm níveis elevados de estrogênio e progesterona. A evidência para isso é muito fraca. Talvez haja algum impacto hormonal, mas, para pesquisas que olham para diferentes causas, baixa autoestima é a principal causa da depressão. E a principal causa da baixa autoestima é a imagem negativa sobre o próprio corpo. Nós colocamos tanto foco na aparência física nas garotas, desde quando elas são bebês, que as que não se parecem como modelos – a maioria de nós – se sentem mal consigo mesmas. Elas têm esse peso que os garotos simplesmente não têm. Eles querem ser fortes e maiores, mas a maioria deles não fica na frente do espelho e diz: “Eu odeio o meu corpo”. É muito difícil achar uma adolescente que não faça isso. Todo mundo que tem essa “bagagem” de autoimagem ruim está mais vulnerável.

ÉPOCA – Você poderia dar mais ideias para balancear as diferenças emocionais entre garotos e garotas na adolescência?
Lise – Nós precisamos, sempre que possível, ensinar as meninas a gostar dos seus corpos. Nós precisamos encorajá-las a praticar mais esportes. Garotas fisicamente ativas se sentem melhor com seus próprios corpos. Elas são mais saudáveis. Além disso, aprendem a lidar melhor com a competição, trabalho em grupo, o que é importante na hora de conseguir um emprego. No caso dos garotos, precisamos ensiná-los a expressar suas emoções, encontrar espaços para que possam chorar.

ÉPOCA – Você acredita que é mais difícil criar meninos ou meninas de forma equilibrada?
Lise – Eu tenho os dois. Os dois têm seus desafios. Certamente, quando os meninos são pequenos, a atividade física é um desafio. Mas eu tenho uma amiga que tem uma filha que parece um carro de corrida. Na adolescência, para mães e filhas pode ser perigoso. É mais difícil para garotas. Na verdade, depende da criança. Se você tem dois filhos do mesmo gênero... Meus dois garotos são tão diferentes quanto minha filha é. 

ÉPOCA – Como suas experiências como mãe influenciaram seu livro?
Lise – Eu fiquei interessada no assunto quando eu já tinha um filho e uma filha, e estava grávida do terceiro. Naquela época, havia aquela discussão sobre cérebro masculino e feminino. Eu queria entrar na questão. Como mãe, eu tentei quebrar o estereótipo de gênero tanto quanto possível. Mas você vai até onde é possível. As crianças pertencem a uma comunidade maior, e a definição de gêneros é muito importante na nossa sociedade. É um desafio. Ao se aproximar da vida adulta, minha filha começou a entender isso e agradecer. Na faculdade, ela está envolvida com a questão LGB.  Jovens universitários se esforçam para quebrar estereótipos. Esperamos que na próxima geração vejamos menos pessoas categorizadas pelo gênero e mais pela sua humanidade.

Fonte: Época, por Amanda Polato, 01/10/2013

Ver também: Estudo mostra que educar meninas e meninos de forma desigual é prejudicial às crianças.

Estudo descarta haver diferenças significativas entre os cérebros de mulheres e homens 

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Curso de extensão da USP sobre Judith Butler e Michel Foucault

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Judith Butler e Michel Foucault
A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, por meio do Departamento de Antropologia Social, ofereceu, no segundo semestre deste ano, um curso de extensão, denominado Poder e Performatividade Pública: introdução a Judith Butler e Michel Foucault, que aborda conceitos-chave da teoria de ambos os autores bem como suas correlações. Quem administrou as aulas foi a professora Jacqueline Moraes Teixeira (ver ps vídeos abaixo), e os textos do curso podem ser acessados no google drive clicando aqui.
Jacqueline Moraes Teixeira

Considerando a importância que esses dois autores têm nas discussões sobre gênero, em particular, Judith Butler, recentemente alcunhada, por grupos conservadores, de criadora da "ideologia de gênero", vale a audiência desse curso e a leitura de seus textos. 


Arqueologia do Saber/ Michel Foucault


As Palavras e as Coisas/ Michel Foucault 
Corpo e Dispositivo da Segurança em Michel Foucault  
Governamentalidade e Dispositivo do Poder Pastoral pt.1  
Governamentalidade e Dispositivo do Poder Pastoral pt.2  
História da Sexualidade / Michel Foucault pt.1  
História da Sexualidade / Michel Foucault pt.2  
Problemas de Gênero 1/ Judith Butler 
Problemas de Gênero 2/ Judith Butler  
Relatar a si mesmo / Judith Butler  
Vidas precárias 1 / Judith Butler  
Vidas precárias 2 / Judith Butler  
Performatividade e Teoria da Assembleia / Judith Butler

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Estudo mostra que educar meninas e meninos de forma desigual é prejudicial às crianças


Por que evitar clichês de gênero na educação das crianças desde cedo
Estudo mostra que em países ricos e nos pobres educar de forma desigual é prejudicial. No Brasil, campanha de marca de sabão ataca estereótipos e é alvo de conservadores

Os meninos gostam de carros. As meninas, de princesas. Os meninos podem estudar, as meninas fazem as tarefas domésticas. São estereótipos de gênero estabelecidos na infância pelos pais, professores, colegas e a sociedade em geral e podem ser prejudiciais quando o indivíduo começa a adolescência – ao redor dos 10 anos. Esta é a principal conclusão do estudo Global Early Adolescent Study, feito em 15 países pela Organização Mundial de Saúde e a Universidade John Hopkins (Baltimore, Estados Unidos). O debate sobre como os estereótipos têm consequências negativas nas crianças acontece há anos. Pais e educadores que defendem, cada vez mais, uma educação baseada na igualdade com muitos atores intervindo para alcançar este objetivo, tal como, por exemplo, as empresas de roupas; as associações para a igualdade, as intervenções educacionais igualitárias ou os muitos pais atuais cuja mentalidade é diferente dos das gerações anteriores. Os especialistas aconselham a trabalhar a igualdade de gênero na infância e não esperar a adolescência.
Não importa se o seu filho está em Baltimore, Pequim ou Nairóbi”, explicam os autores da pesquisa que foi iniciada há seis anos, “o início da adolescência desencadeia um conjunto comum de expectativas de gênero rigorosamente impostas que estão ligadas a um maior risco ao longo da vida do indivíduo, de sofrer com HIV ou depressão, até recorrer à violência ou ao suicídio”.
Descobrimos que os meninos e meninas desde pequenas – tanto nas sociedades mais liberais quanto nas conservadoras – interiorizam logo o mito de que as meninas são vulneráveis e os meninos são fortes e independentes”, assegura em um comunicado Robert Blum, diretor do estudo e professor na Universidade Johns Hopkins. “Esta é a mensagem que foi reforçada por cada pessoa, companheiro, professor, cuidador (...) que vive no ambiente do pequeno ou da pequena”. Os pesquisadores observaram que suas conclusões coincidiam com as de trabalhos anteriores, que afirmavam que “durante a adolescência, o mundo se expande para os meninos e se contrai para as meninas”.
A análise chamada It Begins at Ten: How Gender Expectations Shape Early Adolescence Around the World é a primeira que explica como são construídas as expectativas de gênero no começo da adolescência, de 10 a 14 anos, e como os menores chegam à adolescência tendo claro se são meninos ou meninas em diferentes países do mundo, tanto nos mais ricos como nos mais pobres. Os especialistas também verificaram o risco na saúde mental e física.

As conclusões vêm de entrevistas realizadas nos últimos quatro anos a 450 adolescentes e seus pais e cuidadores na Bolívia, Bélgica, Burkina Faso, China, República Democrática do Congo, Equador, Egito, Índia, Quênia, Malawi, Nigéria, Escócia, África do Sul, Estados Unidos e Vietnã.

Consequências negativas dos estereótipos de gênero.

As entrevistas determinaram que, ao redor do mundo, tanto meninas como meninos estão presos a restrições de gênero desde muito cedo e elas podem ter consequências graves em sua vida, sendo piores nas meninas.
Os estereótipos femininos baseados na ‘proteção’ acabam deixando-as mais vulneráveis, enfatizando o desejo de vigiá-las e puni-las fisicamente quando quebram as regras”, continuam os especialistas. O que as leva a sofrer mais com abandono escolar, casar-se muito jovens, gravidez precoce, infecção por HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis. Os meninos, em cidades como Xangai e Nova Deli, por exemplo, são “encorajados a sair de casa sem supervisão, enquanto que as meninas devem ficar em casa e fazer tarefas domésticas”.
Meninas e meninos das duas cidades relataram a vergonha que sofriam e os espancamentos que recebiam aqueles que tentavam cruzar a linha.

Em todas as cidades, exceto uma, Edimburgo (Escócia), tanto meninos quanto meninas tinham claro que era o menino que devia tomar a iniciativa em qualquer relacionamento. Em todos os cenários, as jovens afirmaram de forma consistente que a aparência física e seus corpos eram seu principal trunfo.
Precisamos repensar as intervenções de saúde e sociais, que normalmente são feitas quando os menores têm 15 anos ou mais, e começar a fazer isso mais cedo”, continua Blum. “Os riscos para a saúde dos adolescentes são influenciados frequentemente por papéis de gênero já aos 11 anos”, acrescenta Kristin Mmari, professora associada e principal autora da pesquisa. “Vemos como muitos países gastam milhões de dólares em programas de saúde que só começam aos 15 anos, e achamos que provavelmente seja tarde demais para fazer uma grande diferença”, acrescenta a especialista no mesmo texto.
Blum nega o argumento de que em várias partes do mundo os estereótipos de gênero são parte da cultura e, por isso, inamovíveis.
Continuamos imersos em estereótipos de gênero muito rígidos, por exemplo, em alguns lugares nos Estados Unidos e partes da Europa, só nas últimas décadas as coisas começaram a mudar muito. As mudanças podem acontecer, mas exigem vontade política e uma variedade de intervenções”, acrescenta. “E saber que incutir mitos sobre as diferenças de gênero em uma idade precoce pode levá-los a sofrer problemas prejudiciais no futuro.”
No Brasil, a marca de sabão de pó OMO lançou uma campanha na internet a favor da igualdade de gênero na semana passada. Em sua página do Facebook, a marca convocou todos que têm filhos “a fazerem recall de todas as brincadeiras que reforcem clichês sobre gênero.
Meninas podem, sim, se divertir com minicozinha, miniaspirador e minilavanderia, mas também podem ter acesso a fantasias de super-heróis, carrinhos velozes e dinossauros assustadores. E meninos também devem ter toda a liberdade para brincar de casinha, trocar fraldas de bonecas e ter uma incrível coleção de panelinhas”.
O post, no entanto, atraiu a oposição de grupos conservadores que se mobilizaram contra a campanha.


 Fonte: El País, por Carolina Garcia, 11/10/2017

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Omitir sexo de criança em documentos não mudará sua forma de se apresentar no mundo

Omitir o sexo da criança não vai fazer qualquer diferença na forma como ela irá
 se apresentar em sociedade. Sua apresentação dependerá da educação que receberá.
Para nós que ainda não enlouquecemos com as insanidades dos adeptos da teoria de gênero, vamos lembrar que sexo é o que vem com o nosso corpo quando nascemos. Gênero é como nos ensinam a nos apresentarmos em sociedade. Sexo é obra da natureza. Gênero é fruto de educação. Nem sexo nem gênero são determinados ao nascer. Sexo é determinado quando da concepção, encontro do óvulo com o espermatozoide (lembram?) Gênero é adquirido por um longo processo de adestramento. Quando a gente nasce, o médico ou a parteira apenas comunica ou reitera aos pais da criança o sexo do bebê. Eles não dizem: "-Parabéns, vocês ganharam uma feminina ou um masculino". Eles dizem que os pais ou a mãe da criança ganharam uma bebê do sexo feminino (menina) ou um bebê do sexo masculino (menino).

Omitir o sexo da criança não vai fazer qualquer diferença na forma como ela se apresentará em sociedade. Sua apresentação dependerá da educação que receberá. Basta ver que o monte de malucos, girando em torno dessa patacoada de gênero, teve seu sexo bem definido na certidão de nascimento. Nem por isso deixam de viver hoje loucos no crack de gênero.

Agora, omitir o sexo das crianças e das pessoas em geral, negando a materialidade dos corpos, terá consequências (aliás, já está tendo) das mais funestas para toda a sociedade.


Bebê terá documento sem identificação de sexo para 'decidir gênero quando crescer'
Segundo imprensa canadense, este pode ser o primeiro caso do mundo de um cartão de saúde de um bebê sem uma definição de gênero.

Um bebê canadense de oito meses é provavelmente o primeiro caso no mundo de recém-nascido que recebeu um cartão de saúde sem um identificador de gênero.

Seu progenitor Kori Doty - uma pessoa transgênero não binária que não se identifica com pronomes nem no masculino nem no feminino - afirma que quer dar oportunidade ao filho de descobrir seu próprio gênero.

O cartão de saúde da criança terá um "U" no espaço reservado para "sexo", letra que simbolizará "indeterminado" ou "não atribuído".

Kori Doty agora está tentando omitir o gênero do filho também da certidão de nascimento.

Doty dey à luz Searyl Atli em novembro no Estado de Colúmbia Britânica. Doty, que se refere à criança com o pronome "they" (que pode ser traduzido como "eles" ou "elas" em português), em vez de "ele" ou "ela", argumenta que não é necessariamente pelo gênero determinado ao nascer que uma pessoa se identificará ao longo da vida.

El quer tirar a categoria sexo de todos o documentos oficiais de Searyl.
Eu estou criando Searyl de modo que até que elx tenha seu senso de si e capacidade de vocabulário para me dizer quem é, eu x reconheço como bebê e tento dar a elx todo o amor e apoio para ser a pessoa mais inteira que puder fora das restrições que vêm com o rótulo menino ou o rótulo menina", disse Doty à rede de TV CBC.
Kori Doty, que trabalha com educação comunitária e é parte da Coalizão de Identidade sem Gênero, disse que aqueles que se sentem diferentes da indicação de gênero feita no momento do nascimento enfrentam vários problemas ao tentar mudar seus documentos mais tarde na vida.
Quando eu nasci, médicos olharam para os meus genitais e fizeram suposições sobre quem eu seria, e essas suposições me seguiram e seguiram minha identificação ao longo da vida", afirma. "Essas suposições estavam erradas e eu acabei tendo que fazer vários ajustes desde então".
No caso de Searyl Atli, Doty diz que as autoridades se negaram a emitir a certidão de nascimento sem uma designação de gênero. O caso foi decidido judicialmente.

A advogada da família, barbara findlay, que prefere escrever seu nome sem maiúsculas, disse ao site Global News que "a designação de gênero nesta cultura é feita quando um(a) médico(a) abre as pernas e olha para os genitais de um bebê. Mas nós sabemos que a identidade de gênero do bebê só será desenvolvida alguns anos após o nascimento".

A imprensa canadense disse que o cartão de saúde do bebê pode ser o primeiro do mundo sem uma definição de gênero.

Fonte: G1, 04/07/2017

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Como o "neurossexismo" está impedindo o progresso da igualdade de gênero - e da própria ciência

As mulheres são criativas e os homens são lógicos - um equívoco comum.
O comportamento diferenciado de mulheres e homens é obviamente resultante da educação radicalmente diferente que meninas e meninos recebem desde o berço. Entretanto, muitos querem tapar esse sol com a peneira furada do determinismo biológico, ou seja, os comportamentos de homens e mulheres seriam diferentes por razões de ordem inata, fruto de cérebros femininos e masculinos e diferenças químicas e hormonais.

Não é de hoje que religiosos e cientistas apelam para uma suposta natureza feminina a fim de tentar impedir as mulheres de desenvolverem seus potenciais individuais. No momento,  o instrumento da moda para tal finalidade é a neurociência e seus scanners cerebrais. Estes vêm sendo usados para tentar dar status de cientificidade aos velhos estereótipos de gênero e garantir "a crença de que, por mais inconveniente que seja a “verdade”, mulheres e homens são imutavelmente diferentes."

Para contestar essas crenças tão arraigadas, traduzi o texto abaixo da Gina Rippon que é professora de Neuroimagem Cognitiva da Aston University. Ela desconstrói os argumentos biologicistas, utilizados na área de neurociências, para assegurar que cientistas, a mídia e o público em geral se tornem conscientes das falácias que produzem. O link para o texto original se encontra ao final da tradução.

Míriam Martinho, 12/03/2017


Meninas e meninos são educados de forma radicalmente distinta, mas a pseudociência
vai procurar respostas para o comportamento diferenciado de mulheres e homens em
supostas químicas cerebrais e hormônios diferentes.


Gina Rippon
Como o "neurossexismo" está impedindo o progresso da igualdade de gênero - e da própria ciência

À procura de provas de que mulheres e homens aprendem, falam, resolvem problemas ou leem mapas de forma diferente, algumas pessoas pensam ter encontrado nos scanners cerebrais a resposta definitiva para sua busca. É fácil entender o porquê. Eles produzem mapas codificados, coloridos e brilhantes destacando diferenças entre os sexos em várias áreas cerebrais, o que potencializa o argumento de quem advoga escolas separadas para garotas e garotos ou treinamento diferenciado por sexo para militares das forças armadas.

Seu poder, aliás, está atrelado ao permanente debate sobre as diferenças comportamentais entre mulheres e homens. De marqueteiros e políticos a grupos de pressão, muitas pessoas fazem referências entusiásticas à "neurociência de ponta" em suas suposições a respeito de diferenças sexuais.

A ideia de que o cérebro é responsável por diferenças ou desequilíbrios de sexo/gênero nos acompanha há bastante tempo. No século dezoito, cientistas descobriram que os cérebros das mulheres pesam em média cerca de 142 gramas menos do que os dos homens - descoberta que foi imediatamente interpretada como sinal de inferioridade feminina. Desde então, os cérebros das mulheres têm sido pesados, medidos e considerados insuficientes. Tal perspectiva se deve à crença no "determinismo biológico": a ideia de que as diferenças biológicas refletem a ordem natural das coisas com a qual não devemos nos intrometer para não colocar a sociedade em risco.

Infelizmente, essa visão persiste ainda hoje sob o nome de neurossexismo. Neurossexismo é a prática de alegar a existência de diferenças fixas entre os cérebros femininos e masculinos, o que supostamente explicaria a inferioridade ou a inaptidão das mulheres para certos papéis. Ao apontar atividades sexo-dependentes em certas regiões do cérebro - como as associadas à empatia, ao aprendizado de idiomas ou ao processamento espacial - os estudos neurossexistas têm possibilitado o florescimento de uma lista especializada de diferenças comportamentais entre os sexos. Ela inclui coisas como "homens serem mais lógicos do que mulheres" e "mulheres serem melhores no aprendizado de idiomas e no cuidado dos outros em geral (criação de filhos, etc.)".


Um espectro de diferenças sexuais

Mulheres são de Vênus e homens de Marte,
uma crença de longa data a ser repensada 
Hoje as técnicas de imagem do cérebro oferecem um perfil cada vez mais detalhado da atividade cerebral, possibilitando o acesso dos pesquisadores a enormes conjuntos de dados.  Há pouco tempo também se descobriu que nossos cérebros podem realmente ser moldados por diferentes experiências, incluindo aquelas associadas com ser mulher ou homem. Esta descoberta inclusive ilustra bem o problema da abordagem determinista biológica. Igualmente mostra que, ao se comparar características cerebrais, é imprescindível contabilizar variáveis como educação e o status socioeconômico das pessoas.

Psicólogos também começaram a apontar recentemente que muitos dos traços psicológicos considerados como ou femininos ou masculinos existem de fato em um espectro. Um estudo atual revisitou um número desses traços comportamentais e revelou que eles não se enquadram em apenas duas categorias binárias não-coincidentes e ordenadas. Mesmo as supostas habilidades superiores dos homens em cognição espacial – uma convenção bem estabelecida – vêm diminuindo com o tempo, até mesmo desaparecendo. Em certas culturas, a situação é realmente oposta à que conhecemos.

E não para por aí. O próprio conceito de cérebro “feminino” e “masculino” se mostrou falho. Um estudo recente apontou que cada cérebro é realmente um mosaico de padrões diferentes, alguns mais comumente encontrados em cérebros de homens e outros nos de mulheres. Mas nenhum desses padrões pode ser realmente descrito como totalmente masculino ou feminino.

Apesar disso, os velhos e disparatados argumentos neurológicos persistem. As pessoas parecem amar histórias de diferenças sexuais, particularmente as que podem ser ilustradas com imagens cerebrais. Livros de autoajuda, comerciais, artigos de jornal e a mídia social se amarram nessas histórias – mesmo naquelas que são contestáveis à primeira vista.

Tal neurociência populista se baseia em geral numa ideia falsa do que a imagem dos cérebros de fato mostra. Ela tende a se apresentar como uma espécie de “cinema verdade”, oferecendo acesso instantâneo, em tempo real, a funções e estruturas do cérebro claramente definidas. Entretanto, os mapas cerebrais são de fato produtos finais de uma longa cadeia de manipulação de imagens e complexo processamento estatístico, especialmente projetado para destacar diferenças. Eles não nos dizem o que o cérebro de uma pessoa fará em qualquer situação.

Estereótipos de gênero
Lidando com o neurolixo

Embora seja fácil culpar a mídia ou a indústria do marketing por esse populismo pseudocientífico, o fato é que essa espécie de neurolixo é muitas vezes sustentada pela própria indústria das imagens cerebrais. Pesquisadores muitas vezes erram, por descuido, ao não reconhecer o papel de variáveis ​​mais amplas na concepção de um estudo ou na seleção de participantes. Termos como “fundamental” ou ‘”profundo” são comuns em resumos de estudos sobre diferenças sexuais, mesmo quando uma inspeção mais detalhada das tabelas de dados revela somente minúsculos efeitos diferentes ou resultados estatisticamente insignificantes.

Também há exemplos de pesquisadores interpretando achados em termos de obsoletas diferenças estereotípicas. Por exemplo, eles assumem a superioridade espacial masculina ou a maior proficiência linguística das mulheres antes mesmo da fase de escaneamento. Além disso ser uma prática científica questionável, tais estudos alimentam o neurolixo em circulação e mantém a crença de que, por mais inconveniente que seja a “verdade”, mulheres e homens são imutavelmente diferentes.

Desafiar o neurossexismo não é negar a existência de diferenças sexuais, embora não faltem acusações nesse sentido. Por exemplo, pesquisas em saúde mental apresentaram importantes diferenças entre os sexos na incidência de condições tais como depressão, déficit de atenção e autismo. Reconhecer tais diferenças possibilita a descoberta de tratamentos apropriados para essas doenças.

Por outro lado, como conhecemos agora o quanto é falho o conceito de cérebro “feminino” e “masculino” e inadequada aquela lista especializada de diferenças psicológicas baseadas em sexo, nós precisamos parar de enfatizar a categoria binária do sexo biológico como fonte de nossas investigações. Pode levar tempo desconstruir crenças tão arraigadas, mas já é um bom começo assegurar que cientistas, a mídia e o público em geral se tornem conscientes do problema.


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