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terça-feira, 11 de maio de 2021

Doutora mais jovem do Brasil, a química Daphne Cukierman busca tratamentos para Parkinson e Alzheimer

A doutora em Química Daphne Cukierman
Com apenas 26 anos, Daphne Cukierman já participou da síntese de 54 compostos candidatos ao combate do distúrbio degenerativo.

Em 2021, a química Daphne Cukierman se tornou a doutora mais jovem do Brasil. Ela defendeu sua tese aos 26 anos, seis meses e 10 dias de idade, o que a coloca como a mulher mais nova do país com o título, segundo o site Rank Brasil. A pesquisadora procura novos compostos para o tratamento de doenças neurodegenerativas, como o Parkinson e o Alzheimer.

Daphne fez três anos de Engenharia Química na PUC-Rio antes de mudar para o curso de Química pura. Trocar uma graduação que oferece boas oportunidades de trabalho pela carreira na pesquisa científica nunca é uma decisão fácil no Brasil, onde as bolsas de pesquisa estão completamente defasadas em relação à inflação, e os laboratórios sofrem com corte atrás de corte no orçamento.

Na época em que Daphne se mudou para a Química, muitos pesquisadores estavam testando moléculas que contêm o grupo funcional 8-hidroxiquinolina para o tratamento de doenças neurodegenerativas. No jargão dos químicos, um grupo funcional é um pedacinho que aparece igual em muitas moléculas diferentes – e acaba dando a eles características em comum.

Um exemplo típico do ensino médio é a hidroxila, que é um átomo de oxigênio juntinho de um hidrogênio. Toda molécula classificada como um álcool – como o bom e velho etanol da cachaça e do posto de combustível –, contém hidroxila. Assim, ela acaba servindo como uma etiqueta para identificar esse grupo de compostos.

O professor que orientava Daphne na iniciação científica (nome que se dá a pesquisa realizada por um aluno de graduação) uniu o grupo funcional 8-hidroxiquinolina a uma outra classe química, as hidrazonas, criando um composto híbrido. E foi sobre essa molécula frankenstein que a pesquisadora se debruçou ao longo dos últimos anos, com o enfoque em suas potenciais aplicações para o tratamento de Parkinson.

Antes de explicar o que a molécula faz, vale entender o básico do que acontece no cérebro de quem tem Parkinson. A doença é caracterizada pelo acúmulo, no cérebro, de uma proteína chamada alfa-sinucleína. Essa proteína é importante para o funcionamento adequado do órgão – mas só quando está sozinha. O problema começa quando as moléculas de alfa-sinucleína passam a se ligar entre si, formando grandes cadeias chamadas oligômeros. Esses agrupamentos de proteína são tóxicos e levam à morte das células do sistema nervoso, causando os sintomas da doença de Parkinson.

Um dos fatores que contribui para a formação dos oligômeros é um desequilíbrio na quantidade de íons de cobre no cérebro. Íons são moléculas ou átomos que ficam com uma pequena carga elétrica porque estão com alguns elétrons a menos ou a mais. Assim como a alfa-sinucleína, íons de cobre são importantes para o bom funcionamento neurológico, mas o excesso deles em algumas regiões acaba “colando” as proteínas, levando à formação de oligômeros.

O que o composto híbrido faz é competir com a proteína pela ligação aos íons de cobre. Ele chega às células do cérebro e “rouba” o excesso de íons. Sem ter com quem se ligar, a alfa-sinucleína não vira oligômero, não mata os neurônios e não desencadeia a doença de Parkinson.

Tudo isso em teoria, claro. As propriedades benéficas do composto já foram observadas in vitro e em camundongos, mas ainda não em humanos. O trabalho de conclusão de curso (TCC) de Daphne, derivado de sua iniciação científica, avaliou qual das partes da molécula frankenstein eram mais importantes para o efeito benéfico do composto.
“Quando defendi meu trabalho de conclusão de curso, a professora da banca falou ‘isso não é um TCC, isso é um bom mestrado’. Aí eu vi que estava pronta para partir direto para o doutorado”, diz a pesquisadora. Ela já tinha diversos artigos publicados, além de prêmios pelos trabalhos de iniciação científica e TCC. Assim que terminou a graduação, ela fez o processo seletivo para o doutorado e passou em primeiro lugar.
Nos anos que se seguiram, Daphne criou variações daquele mesmo composto. Criar novas moléculas é como montar Lego: nem sempre o composto original tem todas as peças necessárias para virar o que você quer – no caso, um bom medicamento. Encaixar alguma peça extra pode aumentar a estabilidade da molécula ou deixá-la mais solúvel.

Daphne considerou 54 moléculas análogas ao composto original e avaliou quais seriam as combinações com as melhores características. A solubilidade da molécula, por exemplo, é essencial (já que somos 70% água), assim como sua estabilidade – para que ela consiga chegar intacta ao cérebro, sem sofrer nenhuma reação relevante no caminho. Além de tudo, ela não pode ser tóxica, é claro.

Ao final da pesquisa, a cientista chegou em quatro moléculas que atendiam a todos os requisitos, incluindo uma especialmente promissora. Nos próximos anos, ela pretende testar esses compostos em animais, para que, um dia, eles possam estar à disposição dos pacientes com Parkinson.

Clipping Doutora mais jovem do Brasil desenvolve tratamentos contra a doença de Parkinson, por Maria Clara Rossini, Superinteressante,18/ 04/2021

terça-feira, 4 de maio de 2021

Maria Goeppert Mayer foi a segunda mulher a receber um Nobel de Física por definir a estrutura do núcleo atômico

Maria Goeppert Mayer só se tornou professora titular aos 54 anos Getty Images
"Voluntária", "bolsista", "pesquisadora associada": estes foram alguns dos títulos que Maria Goeppert Mayer acumulou ao longo de 30 anos liderando pesquisas científicas que a levaram a ganhar o Prêmio Nobel de Física em 1963.

Em outras palavras, a física alemã trabalhou a maior parte de sua carreira em diferentes universidades americanas sem receber salário. Ela pesquisava "apenas pelo prazer de fazer física", diz sua biografia publicada pelo Prêmio Nobel.

Embora houvesse regras antinepotismo nos Estados Unidos naquela época, a verdade é que "nenhuma universidade teria pensado em contratar a esposa de um professor", explica a academia sueca. Era o marido dela, o químico americano Joseph Mayer, que conseguia os cargos de professor e pesquisador em tempo integral, enquanto ela recebia as sobras. Literalmente.
"Ela viu um escritório vazio e perguntou se poderia usá-lo; negaram e, em vez disso, deram a ela uma sala no sótão", diz a renomada Universidade Johns Hopkins, nos EUA, uma das instituições de ensino onde o casal trabalhou.
A história dela, contada no âmbito do projeto The Women of Hopkins, "é um exemplo de determinação perante os obstáculos", reconhece a universidade.

Quando Goeppert Mayer finalmente se tornou professora titular, ela estava com 54 anos.

Sétima geração

Goeppert Mayer nasceu em 28 de junho de 1906 em Katowice, cidade que fazia parte da Alemanha na época, mas hoje pertence à Polônia.

O pai dela era a sexta geração de uma família de acadêmicos, e sempre presumiu que a única filha iria para a faculdade e seguiria o legado familiar.
Meu pai costumava me dizer: 'Quando você crescer, não se torne uma mulher', no sentido de uma dona de casa", disse Goeppert Mayer, citada pelo Nobel.
Embora inicialmente sua intenção fosse se formar em matemática, ela decidiu estudar física após participar de um seminário de mecânica quântica ministrado por Max Born, um dos pais do então incipiente ramo da ciência.

Born acabaria se tornando o mentor de Goeppert Mayer ao longo de seus anos de estudo na Universidade de Göttingen, na Alemanha.

Mas depois de completar o doutorado, a jovem se casou e mudou para os Estados Unidos, em parte em busca de melhores oportunidades acadêmicas e também para ficar longe do movimento político que culminaria na ascensão de Adolf Hitler ao poder.

Na verdade, durante a Segunda Guerra Mundial, Goeppert Mayer trabalhou no Projeto Manhattan, o programa secreto do governo americano que desenvolveu a bomba atômica.

Projeto Manhattan
A urgência da Segunda Guerra Mundial levou o governo dos Estados Unidos a tratar a capacidade de Goeppert Mayer com mais respeito do que o demonstrado por suas universidades mais importantes", afirma o Nobel.
Em 6 e 9 de agosto de 1945, os Estados Unidos lançaram duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão
Ela chegou inclusive a dizer que, graças ao Projeto Manhattan, ela conseguiu pela primeira vez na carreira "se firmar" por conta própria como cientista, sem "se sustentar" no marido.

Seus biógrafos concordam que, embora ela apreciasse o respeito que recebeu dos colegas e as responsabilidades adquiridas durante aqueles três anos de trabalho, ela tinha esperança de que o projeto fracassasse.

De acordo com o Nobel, Goeppert Mayer era "veementemente anti-Hitler, mas ciente de que a arma que estava ajudando a criar poderia ser usada contra amigos e familiares que viviam na Alemanha".

E embora a bomba tenha sido desenvolvida e usada nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, matando dezenas de milhares de pessoas, as pesquisas lideradas por ela não foram efetivamente bem-sucedidas.
Não encontramos nada e tivemos sorte... escapamos da culpa pungente que os responsáveis ​​pela bomba sentem até hoje", admitiria mais tarde, segundo o Nobel.
Os 'números mágicos'

Foi depois da guerra que Goeppert Mayer começou a trabalhar com física nuclear, linha de pesquisa que a levaria a definir a estrutura do núcleo atômico e ganhar o Prêmio Nobel.
Getty Images Quando Goeppert Mayer ganhou o Nobel de Física em 1963, ela se tornou a segunda mulher na história a receber o prêmio.
Sem entrar em muitos detalhes técnicos, o que a cientista conseguiu demonstrar repetidamente é que os núcleos mais estáveis ​​sempre tinham uma certa quantidade de nêutrons ou prótons. Os "números mágicos" eram 2, 8, 20, 28, 50, 82 e 126.

Mas ela não se deu por satisfeita: agora que sabia que eram números especiais, queria saber por quê.

Foi assim que ela começou a desenvolver o que é hoje o famoso modelo nuclear de camadas.

De acordo com um artigo de 2008 da American Physical Society (APS), "o fato de que os núcleos com um certo número de núcleons (nêutrons e prótons) eram especialmente estáveis ​​já havia sido notado antes, mas os físicos tinham certeza de que um modelo de camadas não poderia estar correto."

É que nessa época prevalecia outro modelo criado por ninguém menos que Niels Bohr, que havia ganhado o Prêmio Nobel por suas pesquisas sobre a estrutura dos átomos.

De acordo com a APS, Goeppert Mayer "tinha uma formação menos formal em física nuclear, (então) estava menos enviesada".

Seu colega e amigo Edward Teller resumiu de forma mais eloquente:
Ela teve a ideia absurda de se opor ao modelo de núcleo atômico de Bohr. Fui enfático em minhas críticas. Mas acabou que Maria estava certa e, merecidamente, recebeu o Prêmio Nobel."
Uma de quatro

Goeppert Mayer não era a única capaz de pensar de forma inovadora sobre a estrutura do núcleo atômico.

Quando estava prestes a enviar sua pesquisa para a Physical Review, soube que outra equipe liderada por Hans Jensen havia chegado à mesma conclusão na Alemanha.
Ela pediu que adiassem seu artigo para ser publicado no mesmo número que o deles, mas o dela acabou sendo publicado em número depois do deles, em junho de 1949", diz o artigo da APS.
Mais tarde, Goeppert Mayer e Jensen se conheceram, se tornaram amigos e colaboradores. Juntos, publicaram um livro sobre o modelo nuclear de camadas e, em 1963, compartilharam o Prêmio Nobel.

Naquela época, apenas uma mulher na história havia recebido o Nobel de Física: Marie Curie, 60 anos antes.

Marie Curie foi a primeira pessoa a receber dois prêmios Nobel em áreas distintas, física e química, em 1903 e 1911, respectivamente.

Levaria mais 55 anos para outra mulher, Donna Strickland, ganhar o prêmio novamente em 2018. A quarta e última física a conquistá-lo foi Andrea Ghez no ano passado.

O legado

Em 1960, pouco depois de chegar a San Diego para começar seu primeiro trabalho como professora titular na Universidade da Califórnia, Goeppert Mayer sofreu um ataque cardíaco.

Daí em diante, teria uma saúde frágil até sua morte em 1972, mas ainda assim não parou de pesquisar e dar aulas.
É uma daquelas mulheres que lutaram por seus objetivos quando a sociedade exigia que ficassem em casa", diz à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, a física Louise Giansante, autora principal do artigo "Mulheres na física: pioneiras que nos inspiram", publicado em 2018 na revista da Organização Internacional de Física Médica.
Ela enfrentou uma série de desafios em sua vida profissional e pessoal", acrescenta, "o que incluiu guerras e mortes, mas também simplesmente criar seus filhos e ser esposa enquanto tentava continuar sua pesquisa".

Suas descobertas e contribuições marcantes são amplamente utilizadas até hoje. Acho que sua história precisa ser contada e pode servir de inspiração sobretudo para mulheres jovens, que ainda têm que enfrentar muitos desafios", conclui Giansante sobre o legado da física alemã.

Clipping Maria Goeppert Mayer, a Nobel de Física que explicou números mágicos trabalhando sem remuneração, por Ana Pais (@_anapais), BBC News Mundo, 2 maio 2021

terça-feira, 6 de abril de 2021

Neurocientista Gina Rippon lança livro que desbanca suposta inferioridade do cérebro feminino

Neurocientista Gina Rippon

 Por muitos séculos, a ciência tem sido utilizada para sustentar que as mulheres são inferiores aos homens. Teorias nesse sentido foram criadas e propagadas por figuras como Aristóteles, Charles Darwin, Arthur Schopenhauer e Friedrich Nietzsche. Alimentada desde a Idade Antiga, essa visão persistiu mesmo com o avanço científico. A partir do século 18, diversas técnicas e metodologias da medicina foram criadas a fim de estudar as diferenças (muitas vezes inexistentes) entre os sexos masculino e feminino — quase sempre para justificar a desigualdade sexual na sociedade da época, que marginalizava mulheres e outras minorias.

Trabalhos tidos como científicos mediam crânios de mulheres a fim de alegar sua incapacidade intelectual e argumentar por que elas seriam menos racionais e mais emocionais. Apesar de soarem absurdas atualmente, muitos pesquisadores ainda insistem em encontrar diferenças funcionais no cérebro de homens e mulheres. Hoje, isso é feito a partir de estudos com técnicas de neuroimagem.
Em geral, eles [os autores] não são especialistas na área, mas se propõem a explicar problemas comportamentais em relacionamentos ou no trabalho pautando-se pela diferença entre os sexos”, afirma a neurocientista britânica Gina Rippon.
Professora da Universidade Aston, no Reino Unido, Rippon é especialista em técnicas de imagem cerebral e pesquisa o uso de eletroencefalografia e magnetoencefalografia em estudos sobre processos cognitivos. Ao longo de sua carreira, ela se deparou com diversos artigos que utilizavam exames como esses para procurar diferenças entre o “cérebro masculino” e o “cérebro feminino”. Notando inconsistências nesses trabalhos, passou a questioná-los e a investigar o assunto.

Para mostrar que a desigualdade sexual não tem base biológica, a neurocientista escreveu seu primeiro livro não acadêmico, Gênero e os nossos cérebros: como a neurociência acabou com o mito de um cérebro feminino ou masculino (no original em inglês temos "nossos cérebros generificados", o que é bem mais preciso), lançado em janeiro no Brasil pela editora Rocco. Nele, ela discute a contribuição da ciência para a criação de preconceitos e reúne evidências de que comportamentos tido como masculinos ou femininos são socialmente construídos, e não ditados pelo cérebro. A seguir, Rippon reflete sobre a cultura sexista na neurociência, conta como começou a questionar pesquisas pautadas pela diferença entre os sexos e dá dicas de como identificar e desbancar estudos enviesados.

Com ao menos quatro décadas de expertise em técnicas de neuroimagem, você se dedicou a muitos estudos sobre condições como esquizofrenia, transtorno do espectro autista e dislexia. De que maneira a relação entre sexo e neurociência começou a chamar sua atenção também?

Durante a minha formação, convivi com uma visão inflexível da neurociência: a ciência da época acreditava firmemente em ligações fixas entre o cérebro e o comportamento. Isso incluía uma organização fixa desse órgão, com diferenças igualmente fixas entre os cérebros de homens e mulheres. Ao longo dos anos 1980 e 1990, houve uma revolta por parte de alguns pesquisadores, descontentes com as explicações dadas a certos comportamentos e baseadas apenas na biologia do cérebro. As principais críticas giravam em torno, principalmente, das desculpas dadas à desigualdade entre os sexos: muitos estudos sugeriam que, de alguma forma, as mulheres eram inferiores, que não tinham certas habilidades por conta de algumas características físicas cerebrais e, por isso, não seriam bem-sucedidas em negócios, política, ciência etc.

Esses pesquisadores começaram a questionar e sugerir que, por um momento, ignorássemos a biologia e focássemos na forma como a sociedade molda o comportamento das pessoas, principalmente como mulheres são colocadas e mantidas em posições inferiores.


O movimento feminista teve influência na sua carreira e nessa crítica que foi sendo alimentada dentro da comunidade científica?

Com certeza. Na verdade, eu sentia que havia uma desconexão entre o meu envolvimento pessoal com a segunda onda do feminismo e o tipo de pesquisa que eu estava fazendo. Eu comecei a perceber que os estudos não traziam provas conclusivas sobre a ligação entre cérebro, comportamento e diferenças sexuais. E isso remete a mais de um século de pesquisas pautadas por uma forte agenda das diferenças, que apoiava que mulheres deveriam ter uma posição inferior na sociedade.

Esse tipo de pensamento ganhou uma nova força com o desenvolvimento de técnicas de neuroimagem. Por meio delas, nós realmente pudemos ver o que esse órgão é capaz de fazer em seres humanos vivos. Muitos papers começaram a pipocar afirmando que haviam encontrado “A” diferença entre o cérebro de homens e mulheres — cada um apontando para uma resposta diferente. Mas nenhuma delas trazia provas realmente consistentes de que houvesse uma distinção relevante.

Então, podemos dizer que essa é a definição de “neurolixo” da qual você trata em seu lixo?

Eu chamo de neurolixo esse emprego incorreto da neurociência e de neuroimagens por autores de livros populares sobre ciência. Em geral, eles não são especialistas na área, mas se propõem a explicar problemas comportamentais em relacionamentos ou no trabalho pautando-se pela diferença entre os sexos. Muitos interpretam mal o resultado de estudos ou se baseiam em pesquisas de má qualidade para justificar comportamentos, ignorando completamente o fato de que temos mais provas de que o cérebro de homens e mulheres são mais similares do que diferentes. Aliás, muitos estudos que chegaram a essa conclusão não foram publicados. Afinal, não é tão interessante dizer que não há diferenças na capacidade cerebral de homens e mulheres, não é mesmo?

Pode nos contar sobre o que mais motivou você a escrever essa obra e desmascarar pesquisas desse tipo?

O livro surgiu para mostrar que há novas formas de estudar cérebro e sexo, sem se pautar em diferenças biológicas e levando em consideração como a sociedade molda nossos comportamentos, que não são inatos. Minha motivação é mostrar que não há base biológica em estereótipos como “mulheres são melhores para lidar com crianças’’, ou “meninos gostam mais de matemática do que meninas”. É ir contra o pensamento de que a igualdade entre mulheres e homens nunca será atingida porque há uma “diferença natural e biologicamente determinada” que deveria ser intocada e inquestionável. Eu não me tornei cientista porque tenho “o cérebro de um cientista”; foi por ver as consequências públicas dessa crença fixa de algo que não era verdade.

Na sua visão, quais são os principais equívocos cometidos por neurocientistas e autores leigos ao tratar sobre cérebro e comportamento?

Um dos maiores erros é não reconhecer o que sabemos hoje sobre a plasticidade cerebral. Antes, acreditava-se que apenas o cérebro de bebês e crianças fosse elástico, sendo modificado pelas novas experiências e habilidades. A partir de uma certa idade, pensava-se, o órgão se tornava mais fixo. Agora nós sabemos que, por exemplo, nosso cérebro ganha novos neurônios ao longo de toda a vida e sua estrutura e função mudam constantemente, seja ao aprender uma língua, tocar um instrumento ou jogar um esporte. O maior erro é assumir que qualquer diferença que você encontra surge de um fator biológico invariável, sem olhar para outros fatores.

Como podemos identificar quando um estudo é enviesado ou não foi feito de forma rigorosa?

Essa pergunta é muito importante. Junto com as psicólogas Cordelia Fine [da Universidade de Melbourne, na Austrália] e Daphna Joel [da Universidade de Tel-Aviv, em Israel], escrevi um artigo voltado para leigos explicando alguns pontos que precisam ser levados em consideração para saber se uma pesquisa é duvidosa ou não. Verifique se a descoberta foi replicada em outro lugar com uma amostra diferente; qual foi o tamanho da amostra do estudo e quantas comparações foram feitas também são pontos relevantes. Vale refletir: os pesquisadores discutem as semelhanças e as diferenças ou apenas enfatizam as diferenças? Comparando com outros estudos mais reconhecidos, o quão consistente essa pesquisa é?

O que deve ser feito para que os jovens cientistas não repitam os mesmos erros e estejam conscientes desse viés?

Estou no processo de escrever algo para periódicos científicos sobre como saber se você coletou dados e os analisou corretamente. A forma como você apresenta suas conclusões também é muito importante para que não sejam feitas más interpretações — há pessoas que não são especialistas e que irão ler o que você escreveu e serão impactadas pelos resultados que você traçou.

Pesquisas sobre o cérebro são de interesse geral, todos nós temos curiosidade para saber como ele funciona. Então, tanto os jornais científicos quanto os autores precisam ser muito cuidadosos. Ao relacioná-lo com questões de gênero, podemos estar influenciando a criação de crianças ou a elaboração de políticas públicas sobre diversidade e inclusão. Isso envolve muita responsabilidade na forma como você relata suas conclusões.

Quais são os prejuízos de estudos como esses, produzidos por mais de um século, para a nossa sociedade?

Eu me preocupo muito com a sub-representação das mulheres na ciência, um problema de longa data. Por muito tempo, assumiu-se que elas não poderiam ser cientistas porque não tinham o cérebro apto para isso. Conforme o tempo foi passando, ficou claro que as mulheres são tão capazes quanto os homens. Ainda assim, os discursos sexistas se adaptaram, e há quem acredite em razões biológicas de por que mulheres escolhem não fazer ciência, mesmo que elas possam.

A ciência, como uma organização, tem sua cultura — e ela pode ser bem hostil para mulheres. Há muito a ser feito até que as pessoas parem de olhar para o indivíduo e comecem a observar a cultura que uma determinada organização possui. Precisamos perceber que talvez não estejamos permitindo que as pessoas conquistem seu potencial por conta da forma como estruturamos a nossa cultura.

Clipping “Minha motivação é mostrar que não há base biológica em estereótipos”, Revista Galileu, 24/03/2021

Estudo descarta haver diferenças significativas entre os cérebros de mulheres e homens 
Como o "neurossexismo" está impedindo o progresso da igualdade de gênero - e da própria ciência 

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Cientista francesa Émilie Du Châtelet escreveu livro que marcou geração de matemáticos e físicos e foi peça-chave do Iluminismo Europeu

A cientista francesa Émilie Du Châtelet (1707-1949)
Quando descobriu que estava grávida, sabia que estava com os dias contados.

Era 1749 e a marquesa tinha 42 anos. Naquela época, a expectativa de vida na França não chegava a 30 anos e o parto trazia sempre um risco enorme.

Mas longe de se resignar ao que considerava sua "sentença de morte", a descoberta da gravidez a levou a se dedicar incansavelmente ao trabalho tido como o seu maior legado científico.

Ela trabalhava por 18 horas diárias, com apenas dois intervalos de uma hora cada, e dormia cerca de quatro horas.

Émilie havia abandonado toda a vida social aristocrática e só interrompia sua produção para ver seu jovem amante e pai de sua quarta e última filha.

Em 4 de setembro de 1749, Du Châtelet deu à luz seu bebê. Seis dias depois, ela morreu de embolia pulmonar.

Se o mau presságio se concretizou, o mesmo aconteceu com sua missão. Du Châtelet terminou seu trabalho dias antes do parto.

O que começou como uma tradução francesa do famoso livro de Isaac Newton Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, mais conhecido como Principia, acabou se tornando um volume de mais de 500 páginas com contestações e checagens próprias e de terceiros às teorias do físico inglês.

O livro seria publicado 10 anos depois e marcaria toda uma geração de matemáticos e físicos franceses, e suas ideias filosóficas o tornariam peça-chave no Iluminismo europeu.

Essa ainda é a única tradução completa em francês desse texto revolucionário e ao mesmo tempo sombrio de Newton.

No entanto, 270 anos após sua morte, Émilie du Châtelet é lembrada quase exclusivamente por ter sido amante de Voltaire por 15 anos (que, aliás, não era o amante mencionado acima).

É verdade que, em vida, ele era o autor mais famoso da França.

Mas, como mostram sua produção intelectual e estudos recentes, ela era uma cientista talentosa e intelectual com mérito próprio.

Autodidata

Gabrielle Émilie le Tonnelier de Breteuil nasceu em 17 de dezembro de 1706 em Paris, no seio de uma família aristocrática francesa. Era a única menina entre seis irmãos.

Se por um lado teve aulas com professores prestigiados e aos 12 anos falava seis línguas, de outro, por ser mulher, não lhe foi permitido continuar os estudos e teve que se tornar autodidata para, com a ajuda de amigos, aprender os dois temas que mais a atraíam: matemática e física.

Ela tinha tanto talento para a matemática que em Versalhes era famosa por seu dom como apostadora. O dinheiro obtido era gasto com livros e equipamentos científicos.
Se eu fosse rei, reformaria esse abuso que encolhe metade da humanidade. Eu gostaria que as mulheres participassem de todos os direitos humanos, sobretudo, os da mente", afirmou.
Nunca chegou a ser rei, ou rainha, mas se tornou marquesa.
Quando completou 18 anos, sabia que teria que se casar e aceitou a proposta do marquês Florent-Claude du Châtelet, um distinto oficial do Exército", relata a biografia publicada pela Sociedade Americana de Física em 2008.
Esse acabou sendo um arranjo conveniente para Émilie", continua o texto, "porque o marido estava frequentemente longe de casa, deixando-a livre para satisfazer seus próprios interesses em estudar matemática e ciências por sua própria conta."
Nos primeiros anos de casamento, tiveram três filhos e ela exercia seu papel de mãe e dama da alta sociedade que as normas sociais exigiam.

Mas aos 26 anos ela deu um basta.

Émilie questionava os anos em que "gastou seu tempo" com "coisas inúteis". "Dedicava um tempo extremo ao cuidado dos meus dentes, do meu cabelo, e ao descuido de minha mente e de meu conhecimento", escreveu ela.

 Livro de Robyn Arianrhod aborda a influência
de Émilie du Châtelet na 'revolução newtoniana'

Uma mente livre

Du Châtelet não era apenas passional em sua trajetória intelectual, mas também na amorosa, diz Robyn Arianrhod, matemática e historiadora da ciência, na revista Cosmos em 2015.
Ela era demais para a maioria das pessoas do seu tempo: ambiciosa demais, intelectual demais, emocional demais e  sexualmente liberada demais", afirma a pesquisadora.
Tanto foi que durante toda sua vida foi alvo de fofocas.

Dizia-se, por exemplo, que a matemática não lhe interessava tanto quanto ter romances com os homens que lhe ensinavam. Mas, no caso dela, a realidade superou a ficção.

Voltaire e Émilie
Quando Du Châtelet e Voltaire começaram a se relacionar, ela tinha 26 anos e ele, 38.

À época, era normal que pessoas em casamentos arranjados de famílias aristocráticas vivessem separadas e tivessem amantes, acrescenta Arianrhod, que em 2011 publicou um livro sobre Du Châtelet e outra cientista, Mary Somerville, chamado Seduzidas pela Lógica (em tradução livre).

O incomum é que a marquesa não tinha um relacionamento discreto com Voltaire, já que eles moravam juntos.

E, embora ele fosse uma celebridade, ainda era um plebeu.

Como se não bastasse o escândalo para a sociedade da época, o marido de Du Châtelet apoiou o romance dos amantes e até se tornou amigo de Voltaire.

Tanto que o marido, Voltaire e o amante citado acima, o poeta e soldado Jean François de Saint-Lambert, estavam com ela no dia de sua morte.

Madame Newton

A casa de campo para onde Du Châtelet e Voltaire se mudaram tornou-se um local de encontro para intelectuais e cientistas, além de um laboratório para diversas experiências.

A biblioteca tinha mais de 20 mil livros, mais do que muitas universidades da época, diz o texto da Sociedade Americana de Física.

Segundo a entidade, uma das contribuições mais importantes dela à ciência está ligada à conservação de energia, com base em experimentos com bolas de chumbo caindo sobre um leito de argila.
Ela mostrou que as bolas que atingiram o barro com o dobro da velocidade penetraram quatro vezes mais profundamente no barro; aquelas com três vezes a velocidade atingiram uma profundidade nove vezes maior. Isso sugeriu que a energia é proporcional ao mv², não ao mv, como Newton sugerira", explica.
Sua profunda admiração por Newton não a impediu de mostrar as limitações da teoria que ela defendia tanto publicamente e que lhe valeu o apelido "Madame Newton".

Du Châtelet e Voltaire promoveram as teorias do britânico Newton em um momento em que a comunidade científica e intelectual francesa privilegiava as ideias filosóficas do francês René Descartes.

Eles foram os primeiros a perceber que "Principia havia mudado não apenas a maneira como vemos o mundo, mas a maneira como vemos a ciência", escreveu Arianrhod em Seduzidas pela Lógica.

Com Newton, a ciência deixou de ser qualitativa e ligada a especulações metafísicas e religiosas, ganhando teorias e métodos quantitativos.
Desde então, esse estilo de física matemática teve um impacto tão impressionante na maneira como vivemos e como olhamos no universo que Newton é provavelmente o cientista mais importante de todos os tempos e Émilie era uma das primeiras estudiosas a promover ativamente sua nova maneira radical de pensar", afirma Arianrhod.
Principia abrangeu muitos dos valores do Iluminismo, e o texto final de Châtelet (que elogiava a teoria newtoniana e, ao mesmo tempo, a criticava usando as mesmas ferramentas) era como a iluminação quadrada.

É por isso que Arianrhod escreve em seu livro que du Châtelet "quebrava estereótipos sobre mulheres e matemáticos, estereótipos que duraram até as vésperas do século 21".
Em particular, mostrou que é possível ser emocional e racional, intelectual e sexy."

Clipping Émile du Châtelet, a matemática grávida que correu contra ‘sentença de morte’ para terminar seu maior legado científico, por Ana Pais, BBC News Mundo, 23/11/2019

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Pesquisadora de física do Reino Unido, Jessica Wade escreve páginas da Wikipédia sobre mulheres cientistas diariamente

Jessica Wade explica como funciona um material orgânico semicondutor.
IMPERIAL COLLEGE LONDON
Jessica Wade escreve uma biografia diária para divulgar mulheres ignoradas pela ciência

Como a maioria das pesquisadoras de física do Reino Unido, Jessica Wade (Londres, 1988) frequentou um colégio apenas para meninas. Ela trabalha todos os dias para assegurar que, a cada ano, mais meninas escolham carreiras científicas. É fundadora e coordenadora de várias associações, colabora com o Instituto de Física britânico e dá palestras em colégios. Mas Wade tem outra estratégia surpreendente para aumentar a representação das mulheres na ciência: escreve páginas da Wikipédia sobre cientistas do sexo feminino. Uma por dia.

Wade cursou graduação e mestrado no Imperial College de Londres, onde agora trabalha no estudo da eletrônica dos polímeros. “Quando comecei a fazer minha tese de doutorado, era a única garota no grupo de pesquisa. Minha melhor amiga se pós-graduou e para mim de repente ficou muito difícil continuar na universidade que eu amava tanto sem uma rede de apoio. Foi então que percebi que isso deve acontecer com todas as mulheres em todos os departamentos, quando não têm essa melhor amiga”, recorda a jovem pesquisadora.

Criar páginas da Wikipédia sobre cientistas mulheres “é um movimento global”, afirma. Sua inspiração foi a estudante de medicina norte-americana Emily Temple-Wood, que começou a editar a Wikipédia aos 12 anos. Depois de receber uma onda de comentários misóginos, por e-mail e por redes sociais, Temple-Wood decidiu “focar sua ira” de forma construtiva: começou a escrever uma página da Wikipédia sobre uma mulher pesquisadora para cada mensagem abusiva que recebia. Em pouco tempo, a jovem estava à frente de um grupo de colaboradores que conseguiu melhorar a qualidade dos artigos biográficos sobre cientistas até ficarem acima da média de toda a enciclopédia. Esse fenômeno foi batizado de efeito Keilana, em homenagem ao nome de usuária de Temple-Wood.

Wade seguiu seu exemplo escrevendo sete entradas novas por semana, e já soma várias centenas. Rebusca nos arquivos de instituições científicas, passa horas no Twitter, vai a conferências, tudo para encontrar as mulheres ignoradas da ciência, vivas ou mortas. A cada 100 biografias da Wikipédia em inglês, só 17 são de mulheres.
Mas esses 17% não são só para a ciência. Em ciências, onde as mulheres por si só já estão pouco representadas, é muito pior”, denuncia.
“Essa não é só uma realidade triste e discriminatória; é que, além disso, as poucas páginas que existem sobre cientistas costumam se limitar a enumerar os prêmios que elas receberam, mencionar o fato de serem mulheres ou falar de seus maridos. Há pouquíssima informação sobre suas pesquisas”, conta , irritada. “E se você for à página de uma disciplina científica onde sabe que uma mulher fez uma contribuição importante, é muito raro que mencionem o nome dela ou sua contribuição. Fico furiosíssima.”
Além disso, Wade observa que a Wikipédia é o principal recurso educativo em muitos países com escassa distribuição de livros didáticos. “Não quero que essa gente tenha uma visão tão distorcida”, acrescenta.
O mais importante na hora de criar uma biografia nova é demonstrar a notabilidade da pessoa, que ela “merece” ter uma página da Wikipédia. E costuma ser muito difícil.
Não posso fazer uma página para a minha amiga só para fazer graça. Na ciência, normalmente é preciso ter certo número de publicações”, explica. “Minha página foi feita por um engenheiro do Imperial College, mas me dá muita vergonha, eu não tenho publicações suficientes para ser notável!”, ri.
Ainda assim, Wade confessa querer fazer a biografia de sua mãe, que também foi uma grande inspiração em sua vida. O único motivo pelo qual ainda não a escreveu é para evitar um conflito de interesse, porque na verdade ela cumpre todos os requisitos: é pesquisadora psiquiatra, médica no Serviço Nacional de Saúde (NHS), publicou um livro e, claro, é mulher. Sua filha diz:
Acho que quando pequena não apreciava isso, mas agora lhe digo frequentemente: ‘Um dia destes faço uma página da Wikipédia para você’”
No caso de escritoras e divulgadoras da ciência, os critérios de notabilidade são mais ambíguos.
Às vezes você cria uma página sobre uma mulher que contribui mais para o diálogo sobre a ciência do que diretamente para a pesquisa, e as pessoas rapidamente começam a apontar que não há notabilidade ou que não ela tem fez nenhuma contribuição. É horrível ler isso”, diz. “Seria horrível ler isso sobre você.”
Justamente por esses comentários, Wade procura esperar a revisão de um editor experiente da enciclopédia antes de compartilhar suas páginas novas.
Mas necessitamos de mais diversidade entre os editores; também aí há uma distorção, porque quase todos são homens”, lamenta. Além disso, a pesquisadora acredita que há outro problema: “Percebi de forma empírica, ainda não tenho dados estatísticos, mas parece que esses comentários aparecem mais rapidamente quando a mulher não é branca. Isso realmente me parece terrível”.
Existe um movimento internacional para melhorar a diversidade em outras versões da Wikipédia.
Em espanhol acredito que 18% das biografias sejam de mulheres. Está um pouco melhor, mas, claro, é uma Wikipédia muito menor [que a inglesa]”. A vantagem, observa, é que há tão poucos editores em outros idiomas que é muito fácil começar e se sentir acolhido pela nova comunidade que está aparecendo. Para todos os que estiverem cogitando aderir, Wade tem um conselho: “Uma forma muito fácil de começar a editar a Wikipédia [em outro idioma] é traduzir artigos da versão inglesa que ainda não existem. Isso seria genial”.
'WIKITHON', EDIÇÃO EM GRUPO

Qualquer um pode editar a Wikipédia. Não é preciso nem registrar um usuário. Mas como muitos não se animam sem um empurrão, Wade organiza wikithons regulares. São eventos onde as pessoas de uma sala editam a enciclopédia em grupo, normalmente durante uma ou duas horas. "Você só precisa de um computador, uma pessoa que entenda a Wikipédia e um grupo de gente motivada a fazer o bem", diz a física londrina.

Os wikithons podem acontecer em congressos, escolas de verão ou com grupos universitários, mas funcionam especialmente bem em colégios. "Os professores adoram, porque muitas habilidades, como a de consultar fontes imparciais e fazer uma bibliografia, coincidem com material do currículo que eles querem ensinar de qualquer jeito", diz. "E têm um efeito incrível sobre os jovens: o discurso acostuma ser 'necessitamos de mais mulheres na ciência', simplesmente porque é o correto, mas estamos cansados de ouvir isso. Se [os alunos] estão conhecendo as mulheres, todos trabalhando juntos, realmente apreciam as descobertas incríveis que fizeram".

Clipping A mulher que inclui uma cientista por dia na Wikipédia, por Bruno Martín, 18/07/2018

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