Tirada fora de seu contexto original, a icônica frase da filósofa existencialista Simone de Beauvoir, "ninguém nasce mulher, torna-se mulher", se presta às interpretações mais errôneas.
Entre os assuntos da semana, voltou à cena a ícônica frase da Simone de Beauvoir "ninguém nasce mulher, torna-se mulher", proferida pelo Celso de Mello no julgamento das ações para criminalizar a homofobia.
Tirada fora de seu contexto original, a frase tem servido para as interpretações mais errôneas. Os ativistas transgênero acham que ela referenda sua ideia de que uma pessoa do sexo masculino pode ser mulher ou qualquer coisa que lhes dê na telha. Outros conservadores (porque os trans também são) também acham que ela nega a realidade material da mulher. Nesse sentido, disse a Janaína Paschoal:
Será que não se percebe que ao dizer que mulheres não nascem mulheres, tornam-se mulheres se está reduzindo as mulheres ao NADA? Será que não se percebe que, uma vez mais, conceitua-se mulher a partir do conceito de homem?"
O que são nossas vaginas, nossos seios, nossos úteros, nossa inteligência emocional, nosso sexto sentido, nossa capacidade de fazer inúmeras coisas ao mesmo tempo, nossa capacidade de, além da vida profissional e política, gerar e alimentar outro ser humano? Nada?
Acordem, iludidas feministas! O discurso que vocês tanto aplaudem leva à destruição. Quero ser respeitada e quero que as mulheres sejam respeitadas como seres capazes e dignos de fazer o que se determinam a fazer. Ofende-me, profundamente, ouvir que as mulheres são mera ficção."
Como se vê, primeirissimamente, Beauvoir se referia à fêmea da espécie humana, a mulher. Portanto, homens que personificam o gênero feminino (modelo de mulher) não podem usar essa frase para referendar seus devaneios fetichistas. Segundo, ela não estava dizendo que a mulher é uma ficção. Ela quis dizer que a fêmea humana (a mulher) não deve aceitar que nenhum suposto destino biológico, psíquico, econômico, etc... venha limitá-la em seus objetivos práticos e existenciais, a definir o que ela deve ser. Trata-se de um brado de independência, de autodeterminação. Só isso.
Agora, a Janaína Paschoal até escreveu certo por linhas tortas. Também a mim me ofende, profundamente, ouvir que as mulheres são mera ficção, um sentimento, uma identidade, como pregam os transativistas e não a Simone de Beauvoir.
* O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, publicado em 1949, é considerado não só um texto base para o movimento feminista como um dos cem livros que mais influenciaram a humanidade. No Brasil, foi publicado em dois volumes, Mitos e Fatos e A experiência Vivida, em tradução de Sérgio Milliet, pela editora Difusão Europeia.
* O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, publicado em 1949, é considerado não só um texto base para o movimento feminista como um dos cem livros que mais influenciaram a humanidade. No Brasil, foi publicado em dois volumes, Mitos e Fatos e A experiência Vivida, em tradução de Sérgio Milliet, pela editora Difusão Europeia.
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