Contrariando todas as previsões e o bom senso, Donald Trump ganhou no colégio eleitoral americano, embora Hillary Clinton até agora venha vencendo no voto popular. Como o processo eleitoral americano é exótico, para dizer o mínimo, quem levou a presidência foi o magnata do absurdo.
O mundo está em choque com a notícia. Só quem comemora é a extrema-direita. Na prática, para os americanos, a vitória de Trump representa, nas palavras do jornalista David Remnick, do The New Yorker: "...uma Suprema Corte mais reacionária (Trump deve indicar alguém à sua semelhança), um Congresso mais abertamente direitista e um Presidente que demonstrou repetidamente desprezo pelas mulheres e minorias, as liberdades civis e os fatos científicos, sem falar pela simples decência." Trump será um enorme teste para a conhecida estabilidade da democracia americana, para a solidez de suas instituições.
Em relação ao mundo, Trump representa uma economia americana mais fechada, protecionista, dificultando o comércio internacional com os EUA. Significa igualmente portas fechadas para os imigrantes em geral, especialmente mexicanos. Do ponto de vista da geopolítica, todos temem o que ele possa aprontar, considerando sua índole belicosa e suas ideias extravagantes. De novo, espera-se que a tão decantada estabilidade da democracia americana consiga segurar esse rojão. Serão anos de muitas incertezas e vulgaridades na Casa Branca.
Para o jornalista Luis Prados do El Pais, os eleitores de Trump não só escolheram um futuro de incertezas como deram as costas ao melhor da América.
Eleitorado de Trump deu as costas à tradição política que tornou a América grande
A eleição de Donald Trump como 45º presidente dos EUA é uma anomalia na tradição política deste país desde a sua fundação. Ao longo da campanha, o candidato republicano não só desafiou a correção política, tornando aceitáveis todos os seus insultos às mulheres, aos negros, aos mexicanos e aos muçulmanos, como também chegou a desafiar a própria base da democracia, ao anunciar que só aceitaria o resultado se ganhasse. A vitória de Trump coloca em risco uma Constituição que inclusive resistiu a quatro anos de Guerra Civil e que foi concebida pelos Pais Fundadores, há mais de dois séculos, para evitar que a jovem república pudesse algum dia ser sequestrada por um autocrata ou um demagogo. O impossível há apenas alguns meses se tornou provável em questão de semanas, e uma realidade na noite desta terça-feira. Os milhões de norte-americanos eleitores de Trump não só escolheram um futuro de incertezas. Deram as costas ao melhor da América.
Vale a pena, nesta madrugada amarga para os Estados Unidos e para o mundo, recordar a esses eleitores as palavras daqueles presidentes que realmente tornaram a América grande:
George Washington (1732-1799)
“O Governo não é uma razão, tampouco eloquência, é força. Funciona como o fogo; é um serviçal perigoso e um senhor terrível; em hipótese alguma se deve permitir que mãos irresponsáveis o controlem.”
John Adams (1735-1825)
“Lembrem-se, a democracia não dura muito. Logo se desgasta, se esgota e assassina-se a si mesma. Nunca existiu uma democracia que não cometesse suicídio.”
Thomas Jefferson (1743-1828)
“Sustentamos como evidentes estas verdades: que todos os homem são criados iguais; que são dotados por seu criador de certos direitos inalienáveis; que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade.”
“Quando os governos temem as pessoas, há liberdade. Quando as pessoas temem o Governo, há tirania.”
James Madison (1751-1836)
James Madison (1751-1836)
“Os casos nos quais a liberdade das pessoas é limitada por meio do assédio gradual e secreto por parte de quem está no poder são muito mais numerosos que os produzidos por usurpações repentinas.”
Abraham Lincoln (1809-1865)
Abraham Lincoln (1809-1865)
“É possível enganar a todos por algum tempo. É possível enganar a alguns o tempo todo. Mas não é possível enganar a todos o tempo todo.”
Woodrow Wilson (1856-1924)
Woodrow Wilson (1856-1924)
“A América não foi criada para gerar riquezas, e sim para tornar realidade uma visão, para tornar realidade um ideal, para defender e manter a liberdade dos homens.”
Franklin D. Roosevelt (1882-1945)
Franklin D. Roosevelt (1882-1945)
“Não temos nada a temer a não ser o próprio medo.”
“Os homens não são prisioneiros do destino, são prisioneiros apenas das suas próprias mentes.”
“Um radical é alguém com os pés fortemente plantados no ar”.
John F. Kennedy (1917-1963)
John F. Kennedy (1917-1963)
“Deve ser possível, num curto prazo, que todo norte-americano possa desfrutar dos privilégios de ser norte-americano sem importar sua raça ou cor.”
“Agora que a América é a potência mais poderosa do mundo, o grande problema consiste na maneira de conservar sua força e ao mesmo tempo suas tradições de liberdade individual. Este é o grande problema do nosso futuro.”
Fonte: El País, 09/11/2016
Fonte: El País, 09/11/2016
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