sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Retrospectiva 2014: Conservadores e sua misoginia: contra a interrupção da gravidez até nos casos previstos em lei

Conservadores só defendem a vida dos não-nascidos,
 dos não efetivamente vivos
Pastor evangélico envolvido em desvios de recursos públicos e outros delitos, como a maioria dos parlamentares-pastores do congresso brasileiro, o senador Magno Malta (PR-ES) quer agora revogar a Portaria 415 do governo, publicada na semana passada, que inclui na tabela do Sistema Único de Saúde (SUS) a interrupção da gravidez nos casos previstos em lei, ou seja, em casos de estupro, gestação de anencéfalos ou quando há risco de morte para a mulher (ver notícia abaixo).

Completa desumanização da mulher no discurso conservador

Em outras palavras, o senador quer mais é que as mulheres pobres e que não têm condições de fazer um aborto seguro em clínicas particulares se fodam. Claro que nem ele nem qualquer conservador assumem que querem mais é que as mulheres se fodam. Não pega bem dizer isso às claras. Por isso, eles vêm com aquela falácia (argumento enganador), ou, mais popularmente, conversa mole e cínica de "defesa da vida", "pró-vida", mera cortina de fumaça para ocultar a verdade dos fatos.

E a verdade dos fatos é a total desumanização da mulher no discurso conservador. Essa desumanização salta aos olhos de quem consegue enxergar através da grossa fumaça ideológica conservadora. Percebe-se, então, que simplesmente não interessa o que a mulher sente, o que ela pensa. Não importam sequer as condições objetivas que a mulher tem para manter uma gravidez. Ela é apenas um objeto que tem que cumprir sua função: ser uma incubadeira.

Inclusive não importa também, realmente, a vida do bebê que nasce fruto de uma gravidez compulsória. Todo o mundo sabe que muitas mulheres que parem nessas circunstâncias, totalmente despreparadas para a maternidade e em depressão pós-parto, abandonam o recém-nascido no mato, no lixo, no riacho, na privada. E aí, se pegas no ato, ainda vão ser processadas por tentativa de homicídio. No mínimo, os conservadores deveriam ser igualmente processados como cúmplices.

Sem falar nas crianças das miseráveis que morrem antes do primeiro ano de vida, vítimas de inanição. Sem falar nas milhares de crianças que os homens matam diariamente em suas intermináveis guerrinhas sujas. Sem falar que, de qualquer forma, não é possível neste planeta encarar a vida como valor absoluto.

Conservadores, contudo, só se importam com a "defesa da vida" dos não-nascidos, dos não efetivamente vivos: as células embrionárias, os zigotos, os embriões, os fetos. Os nascidos, os realmente vivos - assim como as mulheres - que se fodam.

Negando a realidade biológica da concepção para criminalizar a mulher

No afã, porém, de ocultar que simplesmente negam a mulher como ser humano, todos os conservadores, desde os  tipos mais toscos, como esses pastores evangélicos até aqueles outros autoproclamados conservadores libertários (saquinho, please, que vou chamar o Hugo), saem-se com os "argumentos" mais estapafúrdios, kafkianos até. 

Por exemplo, o político Ron Paul do Partido Republicano dos EUA, conservador dito libertário, por se dizer, entre outras coisas, contrário a intervenção estatal na vida das pessoas, muito citado por uns e outros aqui do Brasil, contraditoriamente, apóia a intervenção estatal (ainda que não federal) na vida dos indivíduos do sexo feminino. Como desculpa surreal para sua postura "antiaborto", ele "argumenta" que o feto é um ser completamente distinto da mãe e, portanto, retirá-lo do útero só pode ser crime. Kct, e o fulano é médico! O fulano é médico e nega os fatos biológicos envolvidos na concepção.

Não só o feto nada tem de distinto da mulher que o gesta como também, ao contrário, ele é uno com ela, mantém uma relação simbiótica com a mãe, ou seja, uma relação praticamente unha e carne. Aliás, é essa simbiose a produtora da chamada tolerância imunológica que desativa as células maternas, encarregadas de rejeitar o feto como corpo estranho, e que permite a gravidez ser levada a termo. De tal ordem a gestação é uma simbiose de duas vidas que células do feto passam para a circulação materna e permanecem no corpo da mulher até após o nascimento da criança (microquimerismo).

Mas nem se precisa entender esse básico do processo gestacional para sacar o quanto o feto nada tem de distinto da mulher. Se uma mulher grávida morre antes de sete meses de gestação, mesmo estando internada num hospital, o feto morre com ela porque sua vida é una com a da mãe. Só haveria chance de sobrevivência para o feto, nas condições ideais descritas, se ele tivesse de sete a mais meses de desenvolvimento, pois já estaria suficientemente constituído para sobreviver fora do útero materno. Em outras palavras, quando fosse realmente distinto da mulher.

Em resumo, o tal discurso "pró-vida", por qualquer ângulo que se veja, é uma asquerosa mentira. Há honrosas exceções entre os homens que veem as mulheres como iguais, mas forçoso reconhecer que muitos integrantes do sexo masculino (sobretudo os ditos conservadores) têm um enorme complexo de inferioridade por não serem capazes de reproduzir a si mesmos e depender das mulheres para o simples fato de existir. Essa ferida anímica essencial, esse recalque, eles buscam tratar controlando o corpo das mulheres, negando sua subjetividade, sua humanidade, reduzindo-as a mero receptáculo daquilo que pensam ser fundamentalmente extensão sua. 

Entretanto, a capacidade reprodutiva feminina é fruto da mãe natureza e não de condições sociais ou de fantasias delirantes de egos feridos. E essa capacidade quem tem que gerenciar é a mulher a quem a natureza outorgou esse privilégio. Por mais complexa e delicada que seja a questão do aborto, um verdadeiro dilema para a maioria das mulheres, quem tem que responder a esse dilema é quem o vive literalmente na própria carne. Em outras palavras, não pode ser homem algum, que não sabe o que é gravidez,  que deve decidir tal dilema pela mulher seja individualmente ou - pior ainda -  pela via do Estado patriarcal, sua maior projeção.

Fica registrado, como exemplo contundente de que o tal discurso "pró-vida" não passa de deslavada misoginia, a tentativa do horrendo Magno Malta de impedir  o aborto pelo SUS até nos casos previstos em lei (estupro, anencefalia, risco de vida para a mulher). Para esse escroto, crime é salvar a vida de uma mulher que esteja prestes a morrer em decorrência de uma gravidez mal concebida.

Mas nós sabemos que crime de fato quem cometeu foi a mãe de Malta ao nos obrigar a conhecê-lo, não é mesmo?

Crime de fato cometeu a mãe de Malta ao nos obrigar a conhecê-lo
Magno Malta quer revogação de portaria que oficializa aborto

O senador Magno Malta (PR-ES) anunciou em Plenário, nesta terça-feira (27), que vai se empenhar pela revogação da portaria do Ministério da Saúde que oficializa o procedimento do aborto nos hospitais brasileiros. Segundo o parlamentar, a decisão do governo federal não representa o desejo da sociedade e não tem a aprovação da maioria dos partidos no Congresso Nacional.

A Portaria 415, publicada na semana passada, inclui na tabela do Sistema Único de Saúde (SUS) a interrupção da gravidez nos casos previstos em lei, ou seja, em casos de estupro, gestação de anencéfalos ou quando há risco de morte para a mulher.

O SUS pagará R$ 443 pelo procedimento, com a exigência da presença de um acompanhante e de equipe médica multidisciplinar.

Na opinião de Magno Malta, a portaria obriga os médicos a "cometerem um crime", excluindo os princípios éticos e religiosos de cada profissional.

Argumentando que não quer ser acusado de polarizar o debate, por ser da bancada evangélica, o senador lembrou que a Igreja Católica também condena a prática do aborto, punida com a excomunhão.

- Chamo a atenção para que nós cristãos, que entendemos o aborto como uma afronta à natureza de Deus, nos levantemos, nos insurjamos e exijamos que essa portaria seja revogada - pediu Magno Malta.

Fonte: Portal de Notícias do Senado Federal, 27/05/2014

Atualização: Cedendo às pressões dos fundamentalistas religiosos, o governo de Dilma Roussef revogou a portaria 415 no dia 28/05/2014 

Publicado originalmente em 30/05/2014

8 comentários:

Homem não tem que legislar sobre o corpo da mulher! Não tem essa história de dar palpite no que a mulher tem que fazer nessa situação. Na hora de engravidar a mulher, eles não pensam sobre as consequências. Gente hipócrita!

Troca se ai no caso o "conservadores" por "religiosos tapados"...

isso eh pior que praga...

Essa charge é tão vazia quanto a critica feita por ela. Eu como Cristão Católico, defendo a vida desde o ventre da mãe até o seu fim natural. Nós católicos mantemos desde maternidades, pastorais da criança e casas de abrigo e asilos, justamente por que acreditamos na defesa da vida.

Para esses aí, punheta é abandono de incapaz? Antes do 3o mês de gestação não existe criança!!!! Quem quer que queira ou necesside deveria ter o direito a interromper a gravidez antes do 3o mês de gestação... antes disso NÃO EXISTE BEBÊ!!! Infelizmente, só quem tem muito dinheiro pode abortar de maneira segura... isso é segregação, onde é tirado das mulheres o direito ao próprio corpo!

...quem não conhece um "pouquinho" da História e dá Filosofia da ESQUERDA, e que tenha o mínimo de bom senso e razoabilidade entre o utópico e o real é que "compra" as mentiras tecnicamente falseadas e pseudo-cientificamente projetadas para arrebanhar as massas ao escravagismo alienação Marx-gamicista... entre outros em pleno sec. XXI

O cristão católico deve, além de abrigos e asilos para crianças, dar um jeito de também ficar grávido e parir pelo órgão excretor. Enquanto a gravidez for obra da mulher, ela será soberana sobre o que fazer com ela.

"Pastor evangélico envolvido em desvios de recursos públicos e outros delitos, como a maioria dos parlamentares-pastores do congresso brasileiro" - Tu perde o ânimo de ler o troço já no começo do primeiro parágrafo. Se a proposta dele é boa ou ruim, o fato de ser um parlamentar corrupto, honesto, ateu, religioso, comunista, direitistas, etc, não deveria ser relevante. Atacar a pessoa e não o argumento é uma coisa lamentável.

Pastor político?! Que coisa bizarra!
LUGAR DE RELIGIOSO É NA IGREJA POR%@!!!
Já não basta arrancarem o dinheiro dos fiéis nas igrejas, esses senhores crápulas ainda se metem na política pra pegar ainda mais dinheiro e inventar essas atrocidades.

Postar um comentário

Compartilhe

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites