segunda-feira, 10 de março de 2014

SOS Venezuela e o vergonhoso apoio do governo Dilma à ditadura de Nicolás Maduro

SOS Venezuela: Não, vocês não estão sós!
Dois textos e um vídeo abaixo dão uma ideia do que se passa na Venezuela com a cumplicidade do governo brasileiro, o que tanto nos envergonha a nós brasileiros amantes da liberdade. Um dos textos é o editorial do Estadão desse domingo; o outro, A Solidão dos Estudantes Venezuelanos (clique aqui para o original em espanhol) é do colunista Enrique Krause, do periódico El País, em 26/02/2014. Todos descrevem o drama pelo qual passa o país vizinho, dilapidado pelo chavismo e a reboque dos interesses dos irmãos Castro, os escroques da ditadura comunista de Cuba. 

Descrevem também a tragédia de um continente ocupado pelos autoritários do clube do Foro de São Paulo, agremiação que reuniu as viúvas do Muro de Berlim, os herdeiros do comunismo, desde a década de noventa do século passado. Para quem ainda tinha dúvidas, a situação atual da Venezuela mostra claramente que o destino de nosso país e de outros da região, às voltas com a esquerda autoritária e populista do Foro de São Paulo, é a cubanização, caso não consigamos tirar o PT do poder. 

Por solidariedade aos venezuelanos, isolados por um novo muro da vergonha, construído pela esquerda autoritária, e por sentido de autopreservação, vamos divulgar esses textos e o vídeo abaixo de modo a conscientizar mais pessoas a tempo de escaparmos de destino tão vil.

Vergonhoso apoio a Maduro

Em vez de assumir suas responsabilidades e pressionar o governo da Venezuela a dialogar com a oposição para superar a violenta crise no país, o governo brasileiro prefere fazer de conta que nada está acontecendo. O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, esteve recentemente na Venezuela e disse que há uma "valorização midiática" dos confrontos. "O país não parou, as coisas estão funcionando", afirmou Garcia. Não se trata de autismo, mas de uma estudada farsa, cujo objetivo é fazer crer que Nicolás Maduro tem a situação sob controle e que as manifestações só são consideradas importantes pelos "veículos de comunicação internacionais".

Desse modo, o governo petista continua a seguir a estratégia de desmerecer os protestos contra o chavismo, como se estes fossem mero alarido de quem foi derrotado nas urnas, e não uma legítima expressão de descontentamento com os rumos que o país tomou nos últimos anos. Essa política explica por que o Brasil aceitou subscrever a indecente nota do Mercosul que criminalizou os oposicionistas venezuelanos.

Enquanto Garcia finge que tudo não passa de invenção da imprensa - segundo ele, Maduro vai se encontrar com jornalistas estrangeiros para "aclarar os fatos" -, a situação na Venezuela se deteriora a cada dia. Um dos mais importantes sinais de que a desestabilização pode estar se espalhando inclusive entre os militares foi a destituição de três coronéis da Guarda Nacional Bolivariana. Eles são acusados de criticar a repressão aos manifestantes.

Além disso, em inegável tom de confronto, Maduro ordenou, durante um desfile militar, que as milícias chavistas dissolvessem barricadas erguidas por manifestantes. Esses grupos paramilitares, que agem impunemente à margem da lei, são justamente a vanguarda da repressão oficial aos manifestantes. O número de mortos em um mês de protestos já chega a 20, e há inúmeras denúncias de violações de direitos humanos por parte das forças governistas.

Foi diante desse quadro que um grupo de ex-presidentes latino-americanos, entre os quais Fernando Henrique Cardoso, decidiu publicar uma carta na qual critica a "repressão desmedida" contra "manifestações estudantis de protesto pacífico" e cita, com preocupação, os testemunhos de "tortura e tratamento desumano e degradante por parte de autoridades". A mensagem exorta Maduro a, "sem demora", criar condições para o diálogo com a oposição, pedindo o "fim imediato" da perseguição a estudantes e dirigentes oposicionistas, o fim da hostilidade à imprensa independente e a libertação dos detidos nos protestos, em especial do líder Leopoldo López - acusado pelo governo de ser o principal articulador dos protestos.

Era essa a mensagem que deveria constar das manifestações da diplomacia brasileira em relação à crise venezuelana, e não o cinismo de quem acha que nada está acontecendo. Mas o governo petista prefere endossar a beligerância de Maduro - que rompeu relações com o Panamá apenas porque esse país sugeriu uma reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA) para discutir a situação. A OEA, como se sabe, é para os chavistas o equivalente à encarnação do diabo, por ter os Estados Unidos como membro.

Conforme informou Marco Aurélio Garcia, a única instância aceitável de diálogo para Maduro é, claro, a União de Nações Sul-americanas (Unasul) - aquela que, em sua última reunião de cúpula, exaltou o "impulso visionário" do falecido caudilho Hugo Chávez para a criação da entidade e que é atualmente presidida pelo notório Dési Bouterse, ex-ditador e atual presidente do Suriname, procurado pela Interpol por narcotráfico.

Sem poder contar com os países vizinhos mais importantes para constranger Maduro a interromper a violência e negociar de fato, resta à oposição seguir a prudência de Henrique Capriles, seu principal líder. Para ele, embora os protestos sejam legítimos, a única solução para a crise é a "saída eleitoral", porque "a maioria do país apoia a Constituição e quer viver numa democracia".

Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2014


A solidão dos estudantes venezuelanos
Surpreende a quantidade de usuários do Twitter que assumem o libreto do Governo de Maduro. A relação de Dilma Rousseff com Havana e Caracas é cínica e paradigmática

A maioria dos estudantes da Venezuela não tem lembrança de outro regime que não seja o chavista, e não querem envelhecer com ele. Suas democráticas vozes são ouvidas de ponta a ponta na Venezuela. Marcham arriscando a vida. Em 2007, saíram às ruas para protestar contra o confisco da RCTV, a mais antiga estação de televisão independente no país. No final daquele ano, foram a principal força de oposição ao projeto chavista de confederar Cuba com a Venezuela. E conseguiram impedi-lo, ao menos em seu aspecto formal. Seus irmãos mais novos já decidiram receber o bastão.

Há na Venezuela 2,4 milhões de estudantes de nível médio e 400.000 do ensino superior. Embora os estudantes ativos em todo o país somem várias dezenas de milhares, a maioria simpatiza com o movimento opositor. Prova disso é que, há anos e até agora, a principal universidade pública – a Universidade Central da Venezuela – elege sistematicamente líderes opositores ao chavismo.

Eles não procuram reverter o atendimento social aos pobres. Criticam a inépcia econômica do regime e, sobretudo, a ocultação da gigantesca corrupção, que em algum momento virá à tona. Sabem que Hugo Chávez monopolizou um a um todos os poderes (Legislativo, Judiciário, Fiscalizador e Eleitoral) e mascarou, com o véu de seu discurso, o dispêndio sem precedentes de mais de 800 bilhões de dólares que durante seus mandatos entraram nas arcas da empresa estatal de petróleo PDVSA. Eles sabem que os níveis de inflação na Venezuela são os mais altos do continente e que a dívida pública se tornou tão intratável que há uma carestia crônica de mantimentos básicos, eletricidade, remédios, cimento e outros insumos primários (como resultado das maciças expropriações das empresas privadas e da queda brutal do investimento). E sabem muito bem que a criminalidade em seu país é também a mais alta do continente.

Os jovens levam em conta esses problemas, mas sua maior indignação é pelo sufocamento sistemático e crescente da liberdade de expressão, que impede que as pessoas tomem consciência e pesem por si mesmas as realidades do país. Chávez alardeava seus feitos (alguns reais, a maioria imaginários) a toda hora e em especial no seu interminável programa dominical Aló Presidente, mas seu sucessor Nicolás Maduro (primitivo, propenso a disparates e fantasias) recorreu à repressão direta das vozes dissidentes. A ideia é fazer com que possua a verdade única, a verdade oficial. Já desde 2012 o Governo chavista absorveu a Globovisión, a última rede independente de televisão aberta no país. Também desfalece a rádio independente. E a venda de papel-jornal foi a tal ponto limitada que a imprensa escrita tem os dias contados. A Venezuela, eis a dramática verdade, se encaminha para uma ditadura e, em vários sentidos, já é.

Os estudantes venezuelanos contam com o apoio de seus pais e professores e de pelo menos metade da população que em 2013 votou contra Maduro (e que, se não sai às ruas, é por uma natural precaução frente aos delatores nos bairros). Mas, no âmbito latino-americano, os jovens estão quase sós. É surpreendente a quantidade de usuários do Twitter (além do mais, jovens) que assumem na América Latina o libreto do Governo venezuelano e atribuem “os distúrbios” às forças “fascistas”, “reacionárias”, e “de direita” que, aliadas com o “Império”, em um obscuro “complô”, tramam um “golpe de Estado” para “derrubar o Governo”. Diante da avalanche de vídeos no YouTube que circulam mostrando o assassinato a sangue frio de estudantes por unidades móveis das tropas formadas na época de Chávez (como La Piedrita e Tupamaros), muitos usuários comentam que as imagens estão “manipuladas”. Paradoxalmente, Maduro condenou o uso do Twitter (“essas máquinas imbecis”, como definiu essa rede) e se declarou vítima de uma “guerra cibernética”.

No México, a imprensa de esquerda – com grande ascendência sobre os jovens – apoia Maduro sem restrições. Nesses setores, Leopoldo López aparece como o instigador da insurreição, e não como o que é: um líder desarmado e agora submetido a um julgamento ilegal sobre acusações falsas e fabricadas.

O poder da ideologia na Venezuela é explicável: em milhões de pessoas perdura o convencimento de que a obra social do Chávez foi tangível e de que, se ele não fez mais pelos humildes, foi porque a morte atravessou seu caminho. Outro fator é a dependência direta de milhões de venezuelanos do erário, consequência do progressivo enfraquecimento da atividade empresarial e do investimento privado. As simpatias dos países dependentes do petróleo venezuelano têm a mesma raiz. O clientelismo tem interesses criados em acreditar no chavismo. Mas como explicar a popularidade da ideologia chavista ou de suas variantes em países que não pertencem à sua órbita?

Embora a Revolução Cubana tenha perdido sua aura mítica, a democracia representativa e o liberalismo não puderam se arraigar de maneira definitiva na cultura política da América Latina. Por isso, a chantagem ideológica de Cuba e da Venezuela ainda funciona: ninguém quer parecer “de direita” em um continente apaixonado pela Revolução, onde os ídolos políticos não foram democratas como Rómulo Betancourt, e sim redentores como Eva Perón, Che Guevara, Fidel Castro e Hugo Chávez. Octavio Paz apontou a razão desse anacronismo: depois da queda do Muro de Berlim, amplos setores da esquerda latino-americana se negaram a praticar a crítica do totalitarismo cubano. E, se não o fizeram com Cuba, menos o fazem com essa versão derivada que é a Revolução Bolivariana.

Devido a essa falta de autocrítica, hoje no México vivemos um paradoxo. O movimento de 1968 foi uma façanha dos estudantes e das correntes políticas e intelectuais de esquerda. Os estudantes foram massacrados pelo Governo de Díaz Ordaz, e grandes líderes de esquerda foram encarcerados. Hoje, não poucos herdeiros dessa esquerda defendem as ações repressoras do Governo venezuelano, que são equiparáveis às de Díaz Ordaz. Hoje, muitos herdeiros dessa esquerda viraram as costas à democracia.

O apoio ao chavismo é, no fundo, uma decorrência do prestígio minguado, mas estranhamente vivo, da Revolução Cubana. Estar contra ela é estar com “o Império”. Que Cuba continue sendo uma meca da ideologia latino-americana é algo que foi comprovado quando, na recente Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), realizadas nos dias 28 e 29 de janeiro último em Havana, praticamente nenhum presidente faltou. E Fidel foi proclamado “guia político e moral da América”. Nessa cúpula, aliás, todos os participantes (incluída Cuba) assinaram o compromisso de respeitar os direitos humanos. Sua assinatura vale o papel em que está escrita.

Mas mais importante que a ideologia são os frios interesses materiais. Nesse sentido, a postura do Brasil é tão paradigmática como cínica: as oportunidades econômicas (turísticas e energéticas, sobretudo) que se abrem em Cuba depois da eventual morte dos irmãos Castro são muito importantes para que se assumam posturas idealistas e se arrisque a estabilidade da ilha. E essa estabilidade implica manter intacta a aliança entre a Venezuela e Cuba. Só assim se explica que Dilma Rousseff, que em sua juventude foi uma estudante torturada pelos militares, agora apoie um Governo cujas forças policiais reprimem estudantes em emboscadas.

Essa lógica é alheia aos estudantes venezuelanos. Eles aquilatam o valor da liberdade porque – diferentemente de seus coetâneos de outros países da região – a veem seriamente ameaçada. Sabem que a democracia prevalece e avança no mundo. Não pensaram em emigrar do país. Mas a América Latina – seus Governos, suas instituições, seus Congressos, seus intelectuais e até seus estudantes – é ingrata com a Venezuela. O país que em grande medida a libertou, há 200 anos, hoje só luta por sua liberdade.

Enrique Krauze é escritor e diretor da revista ‘Letras Libres’.

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