quarta-feira, 19 de março de 2014

Enquanto Rui Falcão, presidente do PT, solidariza-se com o governo ditatorial de Nicolás Maduro, até Elio Gaspari reconhece que o governo Dilma tem fé infinita na empulhação

“Tenham a certeza da solidariedade do Partido dos Trabalhadores e DO POVO BRASILEIRO para defender a revolução bolivariana na Venezuela” – Rui Falcão, em visita a Caracas (Foto: Reprodução)
Seguem abaixo dois textos dos colunistas da Veja e da Folha, respectivamente Ricardo Setti e Elio Gaspari, dando conta de dois aspectos do governo Dilma: a faceta autoritária e a incompetência administrativa somada à má-fé. 

A faceta autoritária pode ser observada no vídeo do discurso de Rui Falcão durante as homenagens pela passagem de um ano da morte de Chávez na Venezuela. A má-fé e a incompetência são bem descritas por Elio Gaspari, que já muito apoiou o petismo, mas que parece ter se tornado mais realista sobre a gestão da presidanta do país. Diz o colunista:
Quando a doutora Dilma assumiu a Presidência, uma ação da Petrobras valia R$ 29. Hoje ela vale R$ 12,60. Somando-se a perda de valor de mercado da Petrobras à da Eletrobras, chega-se a cerca de US$ 100 bilhões. Isso significa que a gestão da doutora comeu um ervanário equivalente à fortuna do homem mais rico do mundo (Bill Gates, com US$ 76 bilhões), mais a do homem mais rico do Brasil (Jorge Paulo Lemann, com US$ 19,7 bilhões). Noutra conta, a perda do valor de mercado das duas empresas de energia equivale à fortuna dos dez maiores bilionários brasileiros.
E conclui:
O que há no governo é mais do que má gerencia. É uma fé infinita na empulhação, ofendendo a inteligência alheia.
Em discurso na Venezuela, Rui Falcão elogia os regimes bolivarianos e diz falar em nome do povo brasileiro

O deputado estadual e presidente do PT, ex-jornalista Rui Falcão, que já demonstrou apoio à repressão chavista às manifestações de protesto contra o governo Nicolás Maduro na Venezuela, esteve em Caracas para participar de solenidades referentes ao aniversário de um ano da morte do caudilho Hugo Chávez.

Em um discurso em um quartel, que começou com meia dúzia de palavras em portunhol, Falcão comparou a “ameaça do império” que julga existir contra a Venezuela à “ameaça do império” que instalou a ditadura no Brasil há 50 anos.

Falando “em nome de dois milhões de militantes do partido dos trabalhadores”, Falcão lançou diatribes contra “a elite”, contra as “ameaças do império”, contra a “imprensa manipuladora” e, supostamente “em nome do povo brasileiro”, declarou “trazer solidariedade ao povo venezuelano, ao governo constitucional e legítimo do presidente Nicolás Maduro, que enfrenta com coragem as tentativas golpistas – não apenas do império, mas da elite local – que tem sido despida de privilégios históricos, que o comandante Chávez começou a tirar”.

Rui Falcão defendeu a “democracia bolivariana” para os países latino-americanos, ressaltando a eleição de Michelle Bachelet no Chile — certamente, para quem tem conhecimento dos fatos, alguém que não é farinha do mesmo saco — e de Salvador Sánchez Cerén, em El Salvador, além de ter expressado sua certeza na reeleição de Dilma no Brasil.

O discurso ocorreu no dia 14 passado, mas merece ser apreciado como exemplo do que pensa a elite dirigente do lulopetismo.

Fonte: Veja Online, Ricardo Setti, 19/03/2014



O comissariado destruidor
Quando a doutora Dilma assumiu a Presidência, uma ação da Petrobras valia R$ 29. Hoje ela vale R$ 12,60. Somando-se a perda de valor de mercado da Petrobras à da Eletrobras, chega-se a cerca de US$ 100 bilhões. Isso significa que a gestão da doutora comeu um ervanário equivalente à fortuna do homem mais rico do mundo (Bill Gates, com US$ 76 bilhões), mais a do homem mais rico do Brasil (Jorge Paulo Lemann, com US$ 19,7 bilhões). Noutra conta, a perda do valor de mercado das duas empresas de energia equivale à fortuna dos dez maiores bilionários brasileiros.

Se o governo da doutora Dilma deve ser avaliado pela sua capacidade executiva, o comissariado petista contrapõe ao conceito de "destruição criadora" do capitalismo a novidade da destruição destruidora. No caso do preço dos combustíveis, de quebra, aleijou o mercado de produção de álcool.

Há empresas como a Polaroid, por exemplo, que vão à ruína porque vivem de uma tecnologia caduca. Outras cometem erros de concepção, como as aventuras amazônicas da Fordlândia e do Jari. É o jogo jogado. A perda de valor da Petrobras e da Eletrobras está fora dessas categorias. Acusar a doutora Graça Foster pelos maus números da Petrobras seria uma injustiça. A desgraça derivou de uma decisão de política econômica, mas responsabilizar o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pelo que acontece nessa área seria caso de atribuição indevida.

O que agrava o episódio é que tanto a Petrobras como a Eletrobras atolaram por causa de uma decisão politicamente oportunista e economicamente leviana. Tratava-se de vender energia a preços baixos para acomodar o índice do custo de vida, segurando a popularidade do governo. O truque é velho. Mesmo quando deu resultados políticos imediatos, sempre acabou em desastres para a economia.

Vem aí a campanha eleitoral e o governo irá à luta buscando a reeleição de Dilma Rousseff com duas plataformas: a da qualidade de sua gerência e os avanços sociais que dela derivaram. Numa área em que os governos petistas produziram o êxito do Prouni, o ministro da Educação Fernando Haddad criou o novo Enem em 2009. Prometia a realização de dois exames por ano. Nada, mas continuou prometendo. Em 2012 a doutora Dilma anunciou: "No ano que vem [serão] duas edições". Nada. Apesar de ela ter dito isso, o ministro Aloizio Mercadante e seu sucessor, José Henrique Paim, descartaram a segunda prova, que daria à garotada uma segunda chance de disputar a vaga na universidade. (Nos Estados Unidos, o equivalente ao Enem oferece sete datas a cada ano.) O novo presidente do Inep, organismo encarregado de aplicar o exame, dá a seguinte explicação: "É impossível se fazer dois 'Enens' por ano com esse Enem. O crescimento [de inscritos] foi de tal ordem que a logística se impôs".

É um caso simples de gerência. Quem disse que ia fazer dois exames foi o governo. As dificuldades logísticas não explicam coisa nenhuma, porque elas já estavam aí em 2009 e, desde então, o Brasil não incorporou ao seu território a península da Crimeia.

O que há no governo é mais do que má gerencia. É uma fé infinita na empulhação, ofendendo a inteligência alheia.

Fonte: Folha de São Paulo, Élio Gaspari, 19/03/2014

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