segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Black Blocs agora não só depredam como também espancam

Covardia de gente com farda ou sem farda é inadmissível
E os black bostas continuam disseminando o caos. Agora, além dos usuais objetos quebrados, já estão quebrando gente também. Esses caras são fascistoides travestidos de anarquistas, como já cansei de dizer aqui e o desenrolar dos eventos me confirma. São parasitas das manifestações de causas verdadeiras, onde se grudam, aparentemente dando apoio às bandeiras do evento (e os ativistas das causas várias tendem a simpatizar com eles por isso), mas o que, de fato, querem é depredar as cidades e entrar em confronto com a polícia. Brigar com a polícia é a real grande causa dos black bostas.

A desculpa pra lá de esfarrapada para toda a destruição que provocam é a luta contra o capitalismo (sic). Por isso atacam seus símbolos. Primeiro, há de se convir que esse bando de idiotas não tem qualquer ideia de sistema alternativo ao capitalismo. Aliás, ninguém tem, portanto, o mais sensato é tentar reformar o capitalismo. Na base da porrada não se reforma nada, pois não? Depois, que eles depredam de forma generalizada não só agências bancárias como serviços públicos, fora lojas e bancas de jornal. Então, no capitalismo, suas ações não causam nem cócegas, mas, na rotina da população usuária dos serviços destruídos, causam um grande transtorno.

Outra desculpa constante para justificar sua violência é a violência da polícia.  Ninguém duvida que a polícia cometa abusos, a serem sempre investigados e punidos, mas justificar quebrar as cidades - sustentadas com o dinheiro de todos - tendo como pretexto à violência da PM é muita conserva mole. Olho por olho, e todos terminaremos cegos, diz o ditado. Esses manés vêm numa escalada de violência que precisa ser contida. A tática black bloc consiste apenas em jogar gasolina em fogueira. Tanto as autoridades quanto os movimentos sociais (que, não se enganem, são os mais prejudicados pela estupidez desses vândalos) precisam apagar essa mancha negra na reputação de nossa frágil democracia. Caso contrário, eles bem que podem matá-la.

Transcrevo abaixo texto sobre a agressão ao coronel da PM, outro excelente do Fernando Gabeira e dois vídeos, um específico com a agressão sofrida pelo militar e outro, uma reportagem da Globo mostrando os estragos em São Paulo produzidos pelos black bostas.  

Coronel da PM é espancado por 'black blocs' em protesto
Golpeado com placa de ferro, oficial de SP quebrou clavícula e teve cortes no rosto

"Segura a tropa, não deixa a tropa perder a cabeça", gritou o coronel a colegas antes de seguir para hospital

DE SÃO PAULO

O coronel da Polícia Militar de São Paulo Reynaldo Simões Rossi, comandante da região central da capital, foi espancado na noite de ontem por um grupo de cerca de dez manifestantes mascarados, adeptos à tática "black bloc".

O policial, integrante da cúpula da PM, teve a clavícula quebrada e sofreu cortes no rosto e na cabeça. Ele foi levado para o Hospital das Clínicas, onde permanecia em observação até a conclusão desta edição.

Até o início da madrugada, a polícia tentava identificar os agressores.A agressão ocorreu na entrada terminal de ônibus Parque D. Pedro, o maior da capital, durante um protesto organizado pelo MPL (Movimento Passe Livre) que reuniu cerca de 3.000 pessoas na região central, segundo a PM.

O comandante foi atacado logo depois de parte dos manifestantes iniciar a depredação do terminal.

Caixas eletrônicos e catracas que dão acesso ao local foram quebrados. Um ônibus foi parcialmente incendiado.

Em meio ao tumulto, um grupo de mascarados cercou o comandante e passou a agredi-lo com socos e pontapés. Ele foi derrubado, mas conseguiu se levantar.

Neste momento, um dos mascarados golpeou o policial na cabeça usando uma placa de ferro.

O coronel foi socorrido por um policial disfarçado, que afastou os agressores com uma arma em punho.

Amparado por colegas, ele seguiu andando até um carro da PM, que o levou para o Hospital Clínicas.

No banco de trás, fez um apelo aos gritos a um subordinado que ficou no local. "Segura a tropa, não deixa a tropa perder a cabeça".

A arma e o rádio de comunicação dele desapareceram.

INTERLOCUTOR

Responsável pelo policiamento do centro, ele acompanhava a manifestação a alguns metros de distância. Ontem, a operação estava a cargo do tenente-coronel Wagner Rodrigues.

Rossi é um oficial conhecido na corporação como "operacional". Gosta de comandar seus homens na rua e não apenas de sua sala, comportamento incomum entre oficiais de sua patente.

Parte de sua carreira foi construída em unidades de elite da polícia, como o Choque e COE (operações especiais). É tido como bom negociador em situações de reféns.

Nos protestos deste ano, muitas vezes sentou-se no chão para dialogar com o organizadores de protestos.

(LEANDRO MACHADO, FELIPE SOUZA E ROGÉRIO PAGNAN)

Ver também Folha de S.Paulo - Cotidiano - 95% desaprovam 'black blocs', diz Datafolha - 27/10/2013 

Biografias inacabadas
Na cadeia se diz: aqui o filho chora e a mãe não ouve. Na política a expressão é outra: a situação está de vaca não reconhecer o bezerro. Ambas denotam uma crise, pela suspensão do amor materno, e revelam um certo desamparo, um mundo de ponta-cabeça.

Às vezes a atmosfera político-cultural do Brasil, neste longo período de dominação do PT, transmite essa sensação, mais evidente nas ruas, onde quase toda manifestação termina em violência, mesmo quando sua bandeira é a defesa dos animais.

Marina Silva lançou a ideia de salvar Dilma Rousseff dos políticos fisiológicos, evitando que deles se torne refém. Não ficou muito claro para mim. Passa a ideia de uma donzela imaculada assediada por experientes chantagistas, como se o governo não fosse também um fator decisivo nesse processo. Onde a proposta de Marina sugere dependência, vejo uma interdependência. Se consideramos o governo refém da fisiologia, é preciso reescrever a história do mensalão, isentando o partido do governo de sua maior responsabilidade.

Também não entendi, no front político-cultural, a defesa da autorização prévia de biografias. Tantas pessoas queridas, entre elas Caetano Veloso - a quem tenho gratidão - embarcam num equívoco por falta de um debate mais amplo.

Para começar, a importância das biografias em nossa formação. Pela trilogia de Isaac Deutscher sobre Trotsky muito se aprendeu sobre a Revolução Russa e os bolcheviques. Sem Rüdiger Safranski não teríamos uma história equilibrada da vida de Martin Heidegger, sem Robert Skidelsky não conheceríamos a vida de lorde Keynes. É um território delicado, pois sem as biografias não conheceríamos a vida de Mao Tsé-tung, nem os pecados dos nossos políticos - que certamente iriam aproveitar-se desses dois artigos inconstitucionais que determinam autorização prévia para publicação de biografias.

Os argumentos também foram defendidos de forma ambivalente. Na maioria das vezes, falava-se em defesa da privacidade. Mas, em outras, surgia a questão do dinheiro, da falsa suposição de que biografias no Brasil rendem fortunas. O artigo de Mário Magalhães contando suas dificuldades para biografar Carlos Marighella é muito mais próximo da realidade, pois revela como ele gastou dinheiro do próprio bolso para completar o seu livro.

Quando surgem de um mesmo núcleo a defesa da privacidade e demandas financeiras, cria-se a falsa impressão de que são intercambiáveis. Quanto custariam, por exemplo, os detalhes da relação com a cunhada numa biografia de Sigmund Freud?

De um ponto de vista existencial, os admiradores dos grandes artistas que participam do movimento ficam preocupados com um debate biográfico. Ainda esperamos deles tantas canções, tantos espetáculos, tantas aventuras políticas, tantos amores... Quem sabe o melhor não virá nos últimos capítulos, nos anos ainda não vividos?

Nas ruas, os black blocs de uma certa forma conseguiram propagar a violência. Isso só é possível por falta de uma certa cartilagem tecida pela política. Tudo vai direto ao osso, termina em incêndio e pancadaria.

Historicamente, essas ondas de violência levam a leis mais rígidas e mais repressão. Quem vem de longe tem o dever de lembrar isso. Mas leis mais rígidas não resolvem sozinhas. O sistema político no Brasil precisa recuperar o mínimo de credibilidade e o sistema repressivo, desenvolver o mínimo de inteligência e capacidade de análise.

No passado os políticos metiam-se no meio dos conflitos com a disposição de atenuá-los. Hoje fogem dos conflito com medo justificado de apanhar da multidão. O Congresso foi incapaz de produzir um debate sobre a violência nas ruas. A sensação é de que as raposas políticas aceitam a explosão de violência porque sabem que ela os ameaça menos que os grandes protestos de massa. Na verdade, ao inibir potenciais manifestações pacíficas os black blocs criam uma camada de proteção útil ao político que se aproveita da confusão para seguir sendo o que é.

O mundo está mesmo virado. Os black blocs consideram-se revolucionários. E no momento em que poderosos instrumentos internacionais devassam a privacidade de bilhões de pessoas, nosso tema central é a biografia de pessoas famosas.

A defesa do aumento do consumo como o único valor político moral nos levou a esse abismo. A gente não quer só comida. Os artistas têm um grande papel na superação dessas ruínas, sobretudo as de Brasília. Grandes momentos nos esperam e Chico Buarque foi bastante simples ao dizer: "Se a lei é esta, perdi".

A lei é a Constituição. Se não for essa, teremos perdido nós. Não deixarei de lamentar uma contradição tão explícita entre a sentença e um dos seus artigos essenciais: o que prevê a ampla liberdade de expressão.

No momento, o filho chora e a mãe não ouve, a vaca não reconhece o bezerro. É a crise. Suspensa a presença materna, temos de enfrentar uma certa solidão na busca pela saída. O caminho será encontrado via diálogo, mas sem a ilusão de considerar o governo refém da picaretagem. Foi o governo, em sua estreiteza e seu materialismo vulgar, que acabou provocando essa crise: a galinha aterrissou do voo econômico e só cacareja no chão suas previsões otimistas.

Estamo-nos acostumando com as chamas urbanas. Uma pedrada aqui, um coquetel molotov ali, produzimos uma rotina burocrática, sintonizada com o pântano político. Nos fronts político, social e cultural o alarme está soando há algum tempo. Conseguimos sobreviver a uma longa ditadura militar. Será que vamos capitular diante de um governo que distribui cestas básicas e Bolsas Família?

O País foi moralmente arrasado pela experiência petista e de todos os cafajestes que o governo conseguiu alinhar. Predadores oficiais e predadores de rua se encontram nessa encruzilhada em que um profundo silêncio político se abate sobre nós, com exceção de vozes isoladas.

Precisamos reaprender a conversar, reafirmar valores políticos que não se resumem a casa e comida. Precisamos viver a vida, cuidar mais da bio que da grafia. Precisamos sair dessa maré.
 

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