segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Minha máxima culpa: documentário sobre casos de pedofilia na Igreja

Cultura da Responsabilidade: Em Los Angeles, a maior arquidiocese do país,
familiares exibem um painel com fotos das vitimas dos pedófilos: ação incansável
Abaixo matéria da Veja desta semana sobre os casos de pedofilia na Igreja que tem sido abafados pela nada santa madre. Ao fim da postagem, o trailer do documentário Mea Máxima Culpa — Silêncio na Casa de Deus (em inglês) sobre os casos de pedofilia na escola Saint John para crianças surdas. Deixo também link para a página do documentário no Facebook para quem quiser se manter atualizado sobre a obra.

Dizem que uma das causas da renúncia de Bento XVI foi exatamente o tema da pedofilia que ele não soube ou não quis resolver. Não se estranha. Basta ver que o cardeal Roger Mahony, de Los Angeles, um dos cardeais habilitados a votar na escolha do novo papa abafou dezenas de crimes sexuais ao longo da carreira. Outro cardeal, Timothy Dolan, de Nova York, até cotado para ser o próximo papa, embora sem chances, passou anos como arcebispo de Milwaukee, onde pagava até 20000 dólares para que os pedófilos deixassem a Igreja. 

Mais um dos aspectos do verdadeiro perfil desta que é uma das instituições mais hipócritas da história humana. Basta ver que, enquanto combate a descriminação do aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, bancando a grande moralistona para cima dos outros, seus membros estão traçando criancinhas atrás das sacristias e nas escolas. E tudo isso sob obsequioso silêncio. 

A LIÇÃO VEM DO REBANHO

Os americanos fizeram a Igreja ajoelhar e enfrentar os casos de abuso sexual — agora, as punições estão chegando ao alto clero

Tudo começou no dia em que o garotinho Craíg se armou de coragem e contou ao pai que era molestado sexualmente pelo padre Gilbert Gauthe. "Foi o dia mais difícil da minha vida", contou o pai, Wayne Sagrera, criador de crocodilos numa pequena comunidade rural no estado de Louisiana. Em seguida, ele ficou sabendo que três de seus quatro filhos haviam sido abusados pelo padre. Quando mais vítimas apareceram, Sagrera e outros sete pais tomaram uma decisão até então inédita, cujos efeitos são sentidos ainda hoje: entraram na Justiça contra o pedófilo e os superiores. Outro garoto, Scott Gastai, então com 11 anos, depôs sem a proteção do anonimato e chocou os americanos. Contou que fora abusado pelo padre Gauthe dos 7 aos 8 anos e que, numa ocasião, atacado com violência, chegara a ser hospitalizado. Houve jurado enxugando as lágrimas. Em 1985, o padre admitiu ter abusado de 37 meninos. Pegou vinte anos de prisão.

Ao contrário dos brasileiros, que tendem a se lembrar apenas da última tragédia, os americanos são persistentes. Na época, muitos pensavam que o padre Gauthe fosse uma aberração isolada. O então reverendo Kenneth Doyle, falando em nome da Conferência Católica de Washington, disse: "Não queremos passar a impressão de que isso é um problema disseminado na Igreja, porque não é. Mas mesmo um único caso é muito". Como se sabe, os americanos persistiram. Em 2002, explodiram as histórias na arquidiocese de Boston. Eram tantos casos que, nas palavras de um ex-advogado da própria Igreja, a pedofilia parecia ser uma "cultura clerical". O prelado americano mais influente da época, o cardeal Bernard Law, depois de meses de negaças e explicações, foi forçado a renunciar por ter dado proteção sistemática aos pedófilos. Mais tarde, veio a público o caso do padre Lawrence Murphy, que, durante 22 anos, abusou de mais de 200 meninos surdos numa escola de Wisconsin. Virou um documentário, Mea Máxima Culpa — Silêncio na Casa de Deus (ver abaixo), recomendável apenas para quem tem coração forte.

Nos últimos quinze anos, a Igreja Católica nos Estados Unidos pagou 3,3 bilhões de dólares em indenizações (em média, l milhão por vítima) e foi forçada a divulgar milhares de documentos internos, expondo-se a um escrutínio público que a Igreja jamais enfrentou em qualquer outro país. Neste momento, as atenções estão voltadas para a arquidiocese de Los Angeles, a maior do país, com um rebanho de 4 milhões de fiéis. Por ordem judicial, a arquidiocese divulgou 12000 páginas de documentos. São uma vasta crônica de abusos sexuais cuja leitura, segundo o próprio arcebispo de Los Angeles, "é dolorosa e brutal". Nos papéis, um membro do clero aconselhou que os pedófilos não fossem encaminhados à terapia por temer que os terapeutas os denunciassem à polícia. Só em Los Angeles, as indenizações somaram 660 milhões de dólares.

Tudo isso é fruto da ação incansável dos americanos, da força das instituições e da cultura de cobrar responsabilidades. Em centenas de casos, bispos americanos estiveram mais empenhados em proteger padres criminosos do que em amparar crianças inocentes. Fundada em 1988, a entidade conhecida pela sigla SNAP, que defende as vítimas, tem 12000 membros e faz um trabalho permanente de apoio e denúncia. A imprensa americana não dá trégua aos casos de pedofilia. Em alguns estados, os deputados mudaram os prazos legais para que o crime sexual não caia na prescrição—e a Igreja tem feito lobby para que outros estados não sigam o exemplo, Completando o ciclo, a Justiça decide com celeridade.

Durante anos, apenas os americanos expuseram o que a Igreja Católica chama de "pecado" mas a sociedade civil chama de "crime". Em 2009, porém, os irlandeses mexeram no vespeiro dos abusos sexuais e sete bispos renunciaram. Nos anos seguintes, pipocaram casos na Áustria, Alemanha e Holanda. "O desafio da Igreja Católica nos EUA é recuperar a credibilidade perdida com os escândalos sexuais", diz Christopher Bellitto, da Universidade Kean, autor de 10 Perguntas e Respostas sobre os Papas e o Papado. E a falta de credibilidade não é dos pastores locais. É dos bispos. A tendência é que piore antes de melhorar. O longo braço dos escândalos está alcançando o alto clero. Em julho, o monsenhor William Lynn tornou-se o prelado americano mais graduado a ser condenado por proteger pedófilos  Pegou até seis anos de cadeia. Pouco depois, a Justiça condenou o primeiro bispo, Robert Finn, também por acobertamento. Em Los Angeles, num caso raro, o cardeal Roger Mahony, que abafou dezenas de crimes sexuais ao longo da carreira, foi publicamente censurado pelo sucessor. Mahony é um dos cardeais habilitados a votar na escolha do novo papa. Ten mais. O cardeal Timothy Dolan, de Nova York, passou anos como arcebispo de Milwaukee, onde pagava até 20000 dólares para que os pedófilos deixassem a Igreja. Quando surgiu a suspeita, Dolan disse que ela era "falsa, injusta e ridícula". Quando os pagamentos foram confirmados, disse que eram um "ato de caridade". Dolan tem chance quase zero, mas é o americano mais cotado para ser o novo papa.

Fonte: Veja, 20 de fevereiro de 2013

3 comentários:

Tiraram o vídeo do youtube. Que pena!

Pena mesmo. Tive a chance de ver, e é muito bom. Postei agora o trailer. E atualizei o post com o link para a página do documentário no Facebook.

Meu amigos Anônimo e Miriam Martinho, tiraram o vídeos do youtube porque são uns canalhas que dão proteção a "PROSTITUTA DO APOCALIPSE"
Para quem quiser, tenho bastante material sobre catolicismo romano.
CASO HOUVER INTERESSE, TENHO A DISPOSIÇÃO E POSSO ENVIAR POR E-MAIL OS ARTIGOS ABAIXO (solicitações podem ser feitas para helio.ul@hotmail.com):

Grande abraço.

Hélio

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