quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Verão trágico: a propaganda petista do Brasil-maravilha rolou encosta abaixo

Valas para mortos da tragédia carioca em cemitério de Teresópolis
Normalmente gosto da chuva, daquela chuva miúda que, no verão, desce refrescando o mundo. Chuva especialmente agradável no campo quando deixa, após sua passagem, aquele cheiro de mato tão caro às narinas urbanas. Para mim, a chuva costumava trazer sobretudo uma sensação reconfortante, mas, de uns anos para cá, esse cenário mudou drasticamente.

Os últimos verões, em particular o atual, têm se caracterizado por um punhado de dias escaldantes sitiados por outros, com chuvas torrenciais, trovões e raios, que de reconfortantes não tem nada, bem pelo contrário. No âmbito pessoal, vazamentos pela casa, provocados por calhas entupidas, telhas quebradas, rejuntes por refazer, aparelhos danificados pelas quedas bruscas de energia elétrica. No âmbito social, a calamidade das enchentes e deslizamentos de encostas em São Paulo e em várias outras cidades brasileiras. Calamidades ainda mais calamitosas por gerarem, além da perda de móveis e imóveis, o fim de vidas humanas e animais.

Neste verão especialmente, as chuvas torrenciais provocaram a tragédia da região serrana do estado do Rio de Janeiro, com - até agora – 727 mortos computados (não duvido que cheguem a 1000 ou ultrapassem esse número), fora vítimas em menor escala em outras regiões do país. Tecnicamente, o desastre ocorreu por um volume de chuvas excessivo, num curto período de tempo, numa região de encostas, de terreno poroso (porosidade aumentada pela ocupação humana) que, por sua vez, provocou, auxiliado pelo declive dos morros, o deslizamento das escarpas e o engolfamento de tudo que estava em seu curso (árvores, pedras, casas, gente, bichos). Veja vídeo abaixo da Globo sobre o assunto.

Deslizamento de encostas, ocasionados pelo excesso de chuvas, é fenômeno natural que passaria despercebido não fosse a ocupação irregular dessas áreas, chamadas áreas de risco. E, mesmo considerando a ocupação irregular, não traria consequências tão trágicas, se houvesse o que os estudiosos chamam de centro de prevenção de desastres naturais. Pior: no caso do Rio, foi realizado estudo sobre essas áreas de risco em 2008, com resultados que apontavam para grande probabilidade de ocorrência da situação hoje vivida. Fora que, em 2010, já haviam ocorrido outras 3 tragédias, no estado, com destaque para o soterramento de centenas de pessoas em Angra dos Reis, pela mesma razão. Entramos, portanto, na esfera da responsabilidade humana pelo drama, sobretudo responsabilidade das autoridades envolvidas em todo o processo que levou ao fatídico desfecho.


Cenário de guerra em Nova Friburgo
 E quais são essas autoridades? As municipais, estaduais e federais. As municipais por permitirem a ocupação de áreas de risco; as estaduais e federais pela não implantação dos centros de prevenção de desastres naturais. Há dois anos foi criado o Centro Nacional de Gerenciamento de Desastres (Cenad), no Ministério da Integração Nacional, mas nenhum centavo chegou a ser liberado para o projeto, dizem que por conta de dificuldades relacionadas ao terreno que vai abrigar o órgão em Brasília. Nesta segunda-feira(17), o governo federal se saiu com o anúncio de um outro centro, o Centro Nacional de Prevenção de Desastres, que reformulará o sistema de alerta em áreas de risco e aumentará a rede de radares que, junto com um supercomputador, irá prever mudanças climáticas com mais eficiência. E tudo isso ainda levará 5 anos para ser implementado. Enquanto isso, quantas mais pessoas terão que morrer?

Para se ter idéia do tamanho do absurdo, só em festas e publicidade, o governo Lula gastou R$ 154,4 milhões (festas e homenagens) e R$ 9,3 bilhões (publicidade oficial) em oito anos de “administração”. Fora o dinheiro doado a pelegos e corruptos de todo o tipo. A União Nacional dos Estudantes (UNE), hoje totalmente chapa-branca, recebeu 45 milhões de reais para construir uma sede, mas não houve recursos e condições para superar um suposto problema no terreno que seria sede do tal Centro Nacional de Gerenciamento de Desastres (Cenad)? Não há recursos para a construção de casas populares que permitam a população de baixa renda sair dos perigosos declives das serras e morros? Não há recursos para agilizar pelo menos o tal sistema de alerta, sobre a iminência de um desastre natural, às autoridades das regiões de alto risco, a fim de evacuar a população a tempo e minimizar a ocorrência de óbitos? Não há recursos para projetos de escoramento ou contenção de encostas a fim de diminuir os deslizamentos?

Hoje as “autoridades” municipais, estaduais e federais vêm anunciando mundos e fundos para a recuperação das cidades cariocas devastadas pela tragédia dos deslizamentos, mas sequer se observa muita atuação política no resgate de corpos e apoio às vítimas da tragédia. O que se tem visto é uma imensa onda de solidariedade do povo brasileiro com a população da região serrana do Rio enquanto o poder público parece ausente. De fato, deveriam ser processados todos os políticos eletivos de nível municipal, estadual e federal por negligência criminosa. Talvez assim as coisas começassem a mudar um pouco neste país cada vez mais decadente, e nossas lágrimas de compaixão e indignação impotente deixassem de ser tão copiosas quanto a chuva que nos castiga.



Clique aqui para saber como ajudar as vítimas das chuvas da Região Serrana do estado do Rio

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