quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Contrariando as previsões e o bom senso, o magnata da vulgaridade ganha a Presidência da República dos EUA

Contrariando todas as previsões e o bom senso, Donald Trump ganhou no colégio eleitoral americano, embora Hillary Clinton até agora venha vencendo no voto popular. Como o processo eleitoral americano é exótico, para dizer o mínimo, quem levou a presidência foi o magnata do absurdo. 

O mundo está em choque com a notícia. Só quem comemora é a extrema-direita. Na prática,  para os americanos, a vitória de Trump representa, nas palavras do jornalista David Remnick, do The New Yorker: "...uma Suprema Corte mais reacionária (Trump deve indicar alguém à sua semelhança), um Congresso mais abertamente direitista e um Presidente que demonstrou repetidamente desprezo pelas mulheres e minorias, as liberdades civis e os fatos científicos, sem falar pela simples decência." Trump será um enorme teste para a conhecida estabilidade da democracia americana, para a solidez de suas instituições. 

Em relação ao mundo, Trump representa uma economia americana mais fechada, protecionista, dificultando o comércio internacional com os EUA. Significa igualmente portas fechadas para os imigrantes em geral, especialmente mexicanos. Do ponto de vista da geopolítica, todos temem o que ele possa aprontar, considerando sua índole belicosa e suas ideias extravagantes. De novo, espera-se que a tão decantada estabilidade da democracia americana consiga segurar esse rojão. Serão anos de muitas incertezas e vulgaridades na Casa Branca.

Para o jornalista Luis Prados do El Pais, os eleitores de Trump não só escolheram um futuro de incertezas como deram as costas ao melhor da América.
O suicídio da democracia
Eleitorado de Trump deu as costas à tradição política que tornou a América grande

A eleição de Donald Trump como 45º presidente dos EUA é uma anomalia na tradição política deste país desde a sua fundação. Ao longo da campanha, o candidato republicano não só desafiou a correção política, tornando aceitáveis todos os seus insultos às mulheres, aos negros, aos mexicanos e aos muçulmanos, como também chegou a desafiar a própria base da democracia, ao anunciar que só aceitaria o resultado se ganhasse. A vitória de Trump coloca em risco uma Constituição que inclusive resistiu a quatro anos de Guerra Civil e que foi concebida pelos Pais Fundadores, há mais de dois séculos, para evitar que a jovem república pudesse algum dia ser sequestrada por um autocrata ou um demagogo. O impossível há apenas alguns meses se tornou provável em questão de semanas, e uma realidade na noite desta terça-feira. Os milhões de norte-americanos eleitores de Trump não só escolheram um futuro de incertezas. Deram as costas ao melhor da América.

Vale a pena, nesta madrugada amarga para os Estados Unidos e para o mundo, recordar a esses eleitores as palavras daqueles presidentes que realmente tornaram a América grande:

George Washington (1732-1799)

“O Governo não é uma razão, tampouco eloquência, é força. Funciona como o fogo; é um serviçal perigoso e um senhor terrível; em hipótese alguma se deve permitir que mãos irresponsáveis o controlem.”

John Adams (1735-1825)

“Lembrem-se, a democracia não dura muito. Logo se desgasta, se esgota e assassina-se a si mesma. Nunca existiu uma democracia que não cometesse suicídio.”

Thomas Jefferson (1743-1828)

“Sustentamos como evidentes estas verdades: que todos os homem são criados iguais; que são dotados por seu criador de certos direitos inalienáveis; que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade.”

“Quando os governos temem as pessoas, há liberdade. Quando as pessoas temem o Governo, há tirania.”

James Madison (1751-1836)

“Os casos nos quais a liberdade das pessoas é limitada por meio do assédio gradual e secreto por parte de quem está no poder são muito mais numerosos que os produzidos por usurpações repentinas.”

Abraham Lincoln (1809-1865)

“É possível enganar a todos por algum tempo. É possível enganar a alguns o tempo todo. Mas não é possível enganar a todos o tempo todo.”

Woodrow Wilson (1856-1924)

“A América não foi criada para gerar riquezas, e sim para tornar realidade uma visão, para tornar realidade um ideal, para defender e manter a liberdade dos homens.”

Franklin D. Roosevelt (1882-1945)

“Não temos nada a temer a não ser o próprio medo.”

“Os homens não são prisioneiros do destino, são prisioneiros apenas das suas próprias mentes.”

“Um radical é alguém com os pés fortemente plantados no ar”.

John F. Kennedy (1917-1963)

“Deve ser possível, num curto prazo, que todo norte-americano possa desfrutar dos privilégios de ser norte-americano sem importar sua raça ou cor.”

“Agora que a América é a potência mais poderosa do mundo, o grande problema consiste na maneira de conservar sua força e ao mesmo tempo suas tradições de liberdade individual. Este é o grande problema do nosso futuro.”

Fonte: El País, 09/11/2016


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