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segunda-feira, 21 de agosto de 2017

No Brasil, há 13 feminicídios por dia



Combate à cultura da violência
No Brasil, há 13 feminicídios por dia — um crime de acentuada gravidade, a revelar a violência contra a mulher, que carrega um componente essencialmente cultural
Morta com golpes de martelo, tendo seu corpo carbonizado, Mayara Amaral, de 27 anos, teve sua vida brutalmente interrompida em 26 de julho. Era uma promissora e jovem violonista, pesquisadora e professora de música, em Campo Grande. Foi assassinada por ser mulher, com requintes de crueldade, vítima da violência por ser mulher, caracterizada como feminicídio.

No Brasil, dados registram 13 feminicídios por dia — um crime de acentuada gravidade, a revelar a violência de gênero, que carrega um componente essencialmente cultural, baseado em relações assimétricas de poder entre homens e mulheres. Para a ONU, a violência de gênero é uma forma de discriminação que afeta seriamente o pleno exercício de direitos e liberdades das mulheres.

Para a Corte Interamericana, o feminicídio constitui homicídio de mulher em razão de seu sexo, com um alto grau de violência (incluída a violência sexual), em um contexto de discriminação e impunidade. O feminicídio viola os direitos das mulheres à integridade física, psíquica e moral, à dignidade e à própria vida.

Em casos de violência contra as mulheres, destaca-se, ainda, a chamada “discriminação interseccional” (ou discriminação múltipla), quando à condição de mulher somam-se vulnerabilidades radicadas nas perspectivas étnico-racial, geracional, dentre outras — como é o caso da violência agravada que alcança as lésbicas, as afrodescendentes, as indígenas, as meninas, as idosas e as com deficiência.

No caso González e outras (caso “Campo Algodonero”, 2009), a Corte Interamericana condenou o México, em virtude do desaparecimento e morte de mulheres em Ciudad Juarez, sob o argumento de que a omissão estatal estava a contribuir para a cultura da violência e da discriminação.

No período de 1993 a 2003, estima-se que de 260 a 370 mulheres tenham sido vítimas de assassinatos, em Ciudad Juarez. A sentença demandou do México o dever de investigar as graves violações ocorridas, garantindo direitos e adotando medidas preventivas.

Este caso contribuiu para a adoção da lei que tipifica o feminicídio no Brasil (Lei nº 13.104/2015, que o prevê como circunstância qualificadora do crime de homicídio), bem como para a adoção do Protocolo Latino-Americano para Investigação de Mortes Violentas de Mulheres por Razões de Gênero.

Outro caso emblemático refere-se ao caso Maria da Penha, decidido pela Comissão Interamericana. Em 2001, a comissão recomendou ao Estado, dentre outras medidas, “prosseguir e intensificar o processo de reforma, a fim de romper com a tolerância estatal e o tratamento discriminatório com respeito à violência doméstica contra as mulheres no Brasil”. Adicionou que se tratava de uma tolerância sistemática, que perpetuava “as raízes e fatores psicológicos, sociais e históricos que mantêm e alimentam a violência contra a mulher”.

Em 7 de agosto de 2006, foi adotada a Lei 11.340 (a denominada Lei “Maria da Penha”), que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar, estabelecendo medidas para a prevenção, assistência e proteção às mulheres em situação de violência.

A violência contra a mulher alimenta-se da “cultura da violência contra a mulher”. Por consequência, o efetivo combate à violência contra a mulher requer o combate à “cultura da violência contra a mulher”, fomentada pela injustiça cultural dos preconceitos, estereótipos e padrões discriminatórios, que constrói a identidade de homens e mulheres, atribuindo-lhes diferentes papéis na vida social, política, econômica, cultural e familiar.

Em face da crescente intolerância e fortalecimento do discurso do ódio, em que avançam doutrinas de superioridade baseadas em diferenças (sejam de sexo, origem, nacionalidade, raça, etnia, diversidade sexual, idade, dentre outras), a diferença passa a ser tomada como fator a aniquilar direitos. Daí a importância da educação em direitos humanos, inspirada nos princípios da igualdade, da dignidade, da inclusão e da não discriminação, conforme a Declaração da ONU sobre Educação em Direitos Humanos de 2011.

Para a Unesco, o processo educacional deve ser orientado por valores, atitudes e habilidades voltadas ao pleno desenvolvimento da personalidade humana, com vistas à criação de uma cultura de respeito aos direitos humanos; ao senso de dignidade; à promoção do diálogo, tolerância e igualdade de gênero.

Para a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, a educação é essencial para a promoção dos direitos humanos, da igualdade de gênero, da cultura da paz e da não violência e da valorização da diversidade.

Afinal, o combate à cultura da negação e violação a direitos requer o fortalecimento da cultura da afirmação e promoção de direitos, sobretudo do mais essencial direito ao respeito e à dignidade.

Fonte:  O Globo, por Flávia Piovesan e Silvia Pimentel, 17/08/2017 

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Funcionário do Google demitido por "perpetuar estereótipos de gênero"

James Damore demitido por justíssima causa
Funcionário do Google vomita estereótipos sexuais na tentativa de garantir clube do bolinha no Google e acaba demitido. Bem feito! 😄

Google demite funcionário que escreveu memorando contra diversidade de gênero

Engenheiro de software sênior James Damore confirmou à Bloomberg que foi demitido por 'perpetuar estereótipos de gênero'.A empresa dona do Google, Alphabet, demitiu o funcionário que escreveu um memorando interno de dez páginas na qual criticava as políticas de diversidade da companhia. O engenheiro de software sênior James Damore confirmou nesta segunda-feira (7) à agência de notícias da Bloomberg que foi demitido por "perpetuar estereótipos de gênero".

Na carta de 3 mil palavras, o funcionário, um engenheiro, afirma que "as opções e as capacidades de homens e mulheres divergem, em grande parte devido a causas biológicas, e estas diferenças podem explicar por quê não existe uma representação igual de mulheres (em posições) de liderança".

As aptidões naturais levam os homens a ser programadores de informática, enquanto as mulheres são mais inclinadas "aos sentimentos e à estética que às ideias", o que as leva a escolher carreiras nas áreas "social e artística".

"Não é um ponto de vista que a empresa e eu mesmo respaldemos, promovamos ou incentivamos", respondeu em um e-mail aos funcionários Danielle Brown, diretora da área de diversidade, que trabalhava na Intel e foi contratada pelo Google há apenas um mês.

De acordo com sua mensagem, o debate interno na empresa está estimulado pelos "princípios de igualdade no emprego, que podem ser observados em nosso código de conduta, nossas políticas e nossas normas antidiscriminatórias".

Mas ela destaca que o Google sempre defendeu "uma cultura na qual aqueles que têm pontos de vista diferentes, inclusive políticos, sintam-se seguros de poder expressá-los".

Fonte: G1, 08/08/2017

terça-feira, 8 de agosto de 2017

70% das adolescentes da Inglaterra se declaram feministas

7 em cada 10 adolescentes da Inglaterra se declaram feministas
Quase 70% das adolescentes da Inglaterra se declaram feministas
46% das inglesas, em geral, defendem a igualdade entre mulheres e homens no país.

O feminismo tem cada vez mais se aproximado de mulheres jovens na Inglaterra. Sete em cada dez inglesas entre 13 e 18 anos se declaram feministas, de acordo com nova pesquisa do instituto inglês UM.

O levantamento foi realizado para entender como está a representação das mulheres na publicidade do Reino Unido. A descoberta? Os estereótipos veiculados pelas mídias não tem nada a ver com a imagem que as mulheres tem sobre si mesmas.

As mulheres responderam que as mídias mais sexistas são os jornais (71%), os programas de televisão (58%), os shows de comédia (41%) e as revistas femininas (38%).

Três quartos (77%) das mulheres alegaram que a publicidade retrata as mulheres de forma pejorativa e 65% dos homens concordaram.

Quando questionadas sobre quais os estereótipos elas achavam que eram mais comuns, elas citaram as imagens da mulher como "dona de casa perfeita", "louca por compras", "infantilizada" e "neurótica".

Para 68% das inglesas, o pior deles é o de que a mulher "bonita" não é e não precisa ser "inteligente".

A pesquisa foi realizado entre 2.000 britânicos com mais de 13 anos e é uma resposta ao recente anúncio de que a Autoridade de Padrões de Publicidade (ASA) do país quer proibir os anúncios que reforçam os estereótipos de gênero.

O estudo, ainda, compartilhou dados sobre como as propagandas influenciam a vida dessas mulheres.

Metade das entrevistadas afirmaram se sentir pressionadas a seguir determinados padrões e agir de certa maneira para "se encaixar" no que a publicidade vende. Enquanto isso, 44% delas observaram que os anúncios faziam com que elas nunca se sentissem boas o suficiente.

Talvez seja por isso que o feminismo tem sido um movimento bastante defendido por essas mulheres.

O estudo mostra que 46% delas se autodefinem como feministas. Essa taxa aumenta drasticamente entre os grupos mais jovens. Sete em cada dez meninas de 13 a 18 anos defendem o feminismo.

Quando foram perguntadas sobre o significado do movimento, a resposta que prevaleceu era de que homens e mulheres precisam ter as mesmas oportunidades e os mesmos tratamentos.

Emma Watson, Beyoncé e Angelina Jolie foram eleitas as mulheres mais inspiradoras entre as feministas mais jovens. Enquanto para as mulheres de 35 anos ou mais, as figuras mais populares foram Emmeline Pankhurst, Germaine Greer e Michelle Obama.

Fonte: HuffPost Brasil, Ana Beatriz Rosa, 05/08/2017

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Crime brutal contra musicista Mayara Amaral em Campo Grande (GO) não pode ficar impune

Mayara Amaral, barbaramente assassinada em Campo Grande (Arquivo Pessoal/Reprodução)
Três homens contra Mayara Amaral. Ela está morta. Carbonizada
A polícia embarca na versão dos agressores, investiga como latrocínio e desconsidera a hipótese de feminicídio. O jornalismo erra junto com ela

O jornalismo está devendo muito às mulheres. Devendo respeito à verdade delas. As informações publicadas na chamada grande imprensa sobre a barbaridade cometida contra a musicista Mayara Amaral, 27 anos, são um vexame. A violonista, que vivia em Campo Grande, foi dada como desaparecida na segunda-feira (24/7). Seu corpo ressurgiu carbonizado na terça. Embora tenha todas as características de feminicídio, de crime horrendo que envolveu três homens, rito machista que subjugou a mulher e abuso sexual seguido de morte, as autoridades do caso conduzem as investigações no escopo do latrocínio — o roubo que se completa na extinção da vida.

Foi preciso que Pauliane Amaral, irmã mais velha de Mayara, se insurgisse contra o tratamento dado por policiais e jornalistas. Só assim soubemos o que aconteceu de verdade. Antes de ela postar seu texto nas redes sociais, nenhum veículo havia usado a palavra feminicídio. Pior, as notícias induziam à versão de uma Mayara que topou uma balada pesada com os estupradores, deu brechas para o triste fim. A escolha de fotos dela para ilustrar jornais físicos e digitais recaiu na linha batom vermelho ou em poses que, no contexto, tentam conferir contornos de frivolidade, volúpia e erotização. Fora dele, as fotos são de uma mulher como todas nós. Uma brasileira comum.

No mínimo, Tiago Macedo, o delegado responsável pela apuração, devia se atentar para isto: um dos três homens presos, Luís Alberto Bastos Barbosa, 29 anos, não era um estranho, mas alguém com quem Mayara havia saído algumas vezes. Segundo os jornais, Luís é músico e tocava com Mayara. Eles foram a um motel. Ali, um outro homem participou do estupro contra ela. Os acusados disseram que a violonista aceitou. Doutor Tiago Macedo: o senhor não caiu nessa, né? Havia um martelo. Com o qual Mayara fora golpeada até perder os sentidos. Concordo com a pergunta de Pauliane: Se Mayara consentiu com a transa a três, por que um martelo na jogada?

Pauliane diz no texto:
Eis a versão do monstro: minha irmã consentiu em ser violada, eles decidiram roubá-la, ela reagiu fisicamente, e eles, sob o efeito de drogas, golpearam-na com o martelo – ela morreu por acidente.”
O acusado, bem instruído por seu advogado, pode dar a versão que mais gostar. Mas o delegado, não.

Bem, Luís e o amigo contaram que puseram Mayara, morta, no carro dela (um Gol velhusco, de 1992), foram até a casa de um terceiro fulano, dividiram os pertences da violonista (o tal produto do roubo), lançaram o corpo em um matagal perto da estrada e tacaram fogo. Apenas as mãos da violonista ficaram inteiras, os outros membros viraram carvão.

O trio parece ter convencido o delegado. O veículo Campo Grande News atribuiu estas pérolas a Tiago Macedo:
Neste caso, ao que tudo indica até o momento, não houve homicídio. O que aconteceu ali é que o autor, verificando a possibilidade de cometer um roubo, atraiu a vítima e teve como resultado deste crime, que é um crime contra o patrimônio, a morte da vítima. Nós verificamos que existe uma tendência das pessoas afirmarem que porque uma mulher morreu é feminicídio, mas isso não corresponde ao ordenamento jurídico”.
Ora, se não foi feminicídio, o hediondo crime de ódio contra as mulheres, o que aconteceu, então? E o estupro? Não conta, doutor Tiago? Trata-se de mero detalhe? Dispensa investigação? Não é crime, e sim, consenso!

Três dias após os fatos não li reportagem investigativa. Não foram ouvidos a família, os amigos, os funcionários do motel. Ninguém reconstituiu a trajetória macabra. Os jornalistas esqueceram como se faz bom jornalismo.

Mayara, aos 27 anos, termina carbonizada. Fim dos sonhos, da breve carreira de musicista, que incluiu um mestrado na Universidade Federal de Goiás. Seu tema na dissertação: as mulheres compositoras e intérpretes no violão erudito. Queria dar visibilidade a elas em um mundo ainda muito másculo. Some uma cidadã que podia ir longe, amar muito, desenvolver projetos profissionais, pessoais e familiares…

Foram três homens contra uma mulher. Não vai ficar assim. Haverá uma manifestação em Campo Grande pedindo apuração severa, rigorosa e pena pesada. Outro ato está sendo planejado em São Paulo. Nós vamos apoiar.

Transcrevo aqui o desabafo de Pauliane Amaral, postado por ela nas redes sociais. Trata-se de uma importante reflexão sobre a polícia e o desrespeito que a imprensa reserva às mulheres.

“Quem é Mayara Amaral?

Minha irmã caçula, mulher, violonista com mestrado pela UFG e um dissertação incrível sobre mulheres compositoras para violão. Desde ontem Mayara Amaral também é vítima de uma violência que parece cada vez mais banal na nossa sociedade. Crime de ódio contra as mulheres, contra um gênero considerado frágil e, para alguns, inferior e digno de ter sua vida tirada apenas por ser jovem, talentosa, bonita… por ser mulher.

Mais uma vez a sociedade falhou e uma mulher, uma jovem professora de música de 27 anos, foi outra vítima da barbárie de homens que não podem nem serem considerados humanos. Foram três, três homens contra uma jovem mulher.

Um deles, Luis Alberto Bastos Barbosa, 29 anos, por quem ela estava cegamente apaixonada, atraiu-a para um motel, levando consigo um martelo na mochila. Lá, ele encontrou um de seus comparsas.

Em uma das matérias que noticiaram, o crime os suspeitos dizem que mantiveram relações sexuais com minha irmã com o consentimento dela. Para que o martelo então, se era consentido?

Estranhamente, nenhuma das matérias aparece a palavra ESTUPRO, apesar de todas as evidências.

Às vezes tenho a sensação de que setores da imprensa estão tomando como verdade a palavra desses assassinos. O tratamento que dão ao caso me indigna profundamente.

Quando escrevem que Mayara era a “mulher achada carbonizada” que foi ensaiar com a banda, ela está em uma foto como uma menina. Quando a suspeita envolvia “namorado” hiper-sexualizam a imagem dela. Quando a notícia fala que a cena do crime é um motel, minha irmã aparece vulnerável, molhada na praia.

Quando falam da inspiração de Mayara, associam-na com a história do pai e avô e a foto muda: é ela com o violão, porém com sua face cortada. Esse tipo de tratamento não representa quem minha irmã foi. Isso é desumanização. Por favor, tenham cuidado, colegas jornalistas.

Para nossa tristeza, grande parte das notícias dão bastante voz aos assassinos e fazem coro à falsa ideia de que os acusados só queriam roubar um carro. Um carro que foi vendido por mil reais. Mil reais. Um Gol quadrado, ano 1992. Se eles quisessem só roubá-la, não precisariam atraí-la para um motel.

Um dos assassinos, Luís, de família rica, vai tentar se livrar de uma condenação alegando privação momentânea dos sentidos por conta de uso de drogas. Não bastando matar a minha irmã, da forma que fizeram, agora querem destruir sua reputação. Eis a versão do monstro: minha irmã consentiu em ser violada por eles, elas decidiram roubá-la, ela reagiu fisicamente e eles, sob o efeito de drogas, golpearam-na com o martelo – e ela morreu por acidente. Pela memória da minha irmã, e pela de outras mulheres que passaram por esta mesma violência, não propaguem essa mentira! Confio que a Polícia e o Ministério Público não aceitarão esta narrativa covarde, e peço a solidariedade e vigilância de todos para que a justiça seja feita.

Na delegacia disseram à minha mãe que uma outra jovem já havia registrado uma denúncia contra Luís por tentativa de abuso sexual… Investiguem! Se essa informação proceder, este é mais um crime pelo qual ele deve responder. E uma prova de como a justiça tem tratado as queixas feitas por nós, mulheres. Se naquela ocasião ele tivesse sido punido exemplarmente, talvez minha irmã não tivesse sofrido este destino.

Foi tudo premeditado: ela foi estuprada por dois desumanos.

O terceiro comparsa – não menos monstruoso – ajudou a levar o corpo da minha irmã para um lugar ermo, e lá atearam fogo nela, como se a brutalidade das marteladas no crânio já não fosse crueldade demais. Minha irmã foi encontrada com o corpo ainda em chamas, apenas de calcinha e uma de suas mãos foi a única parte de seu corpo que sobrou para que meu pai fizesse o reconhecimento no IML. “Parece que ela fazia uma nota com os dedos”, disse meu pai pelo telefone.

A confirmação veio logo depois, com o resultado do exame de DNA. Era ela mesmo e eu gritei um choro sufocado.

Eu vou dedicar o meu luto à memória da minha irmã, e a não permitir que ela seja vilipendiada pela versão imunda de seus algozes. Como tantas outras vítimas de violência, a Mayara merece JUSTIÇA – não que isso vá diminuir nossa dor, mas porque só isso pode ajudar a curar uma sociedade doente, e a proteger outras mulheres do mesmo destino” Pauliane Amaral

Fonte: Cláudia, por Patrícia Zaidan, 28/07/2017

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Maryam Mirzakhani foi a primeira mulher a receber o Fields Medal, o nobel da matemática

Maryam Mirzakhani: morre jovem as que os deuses amam
Além da matemática: A premiada Maryam Mirzakhani também foi revolucionária
A notícia de sua morte surpreendeu o seu país de origem e os Estados Unidos, onde morava e era professora na Universidade de Stanford.

Em 2014, aos 37 anos, Maryam Mirzakhani recebeu o prêmio de matemática Fields Medal, uma espécie de Nobel do gênero, pelo conjunto da obra de seus estudos. A iraniana foi a primeira mulher da história a vencer tal premiação desde sua criação, em 1936.

Por sua genialidade e representatividade, no última sábado (14) a notícia de sua morte surpreendeu o seu país de origem e os Estados Unidos, onde morava e era professora na Universidade de Stanford. A matemática enfrentava um câncer de mama, de acordo com nota oficial da universidade.
Ela era uma teórica matemática particularmente atraída pela resolução de alguns dos problemas mais difíceis em matemática. Ela foi particularmente excelente no desenvolvimento de formas de calcular as superfícies de objetos curvos com a maior precisão, o que tem muitas implicações na vida cotidiana", descreve a nota.
Mirzakhani descreveu o seu trabalho, que muitas vezes é compreendido como uma nova linguagem, como a necessidade de encontra soluções com um único recurso possível: o seu conhecimento.
Eu não tenho nenhuma receita particular [para desenvolver novas teorias]. É como estar perdido em uma selva e tentar usar todo o conhecimento que você pode reunir para criar novos truques e, com alguma sorte, você pode encontrar uma saída."
Apesar da natureza altamente teórica, as descobertas da iraniana têm impactos sobre os estudos de física da origem do universo, além de aplicações para a engenharia.

Dentro da matemática, teve influências no estudo de números primos e na criptografia.

Para o presidente da Stanford, Marc Tessier-Lavigne, a contribuição da matemática vai muito além das teorias.
Maryam se foi muito cedo, mas seu impacto continuará em torno das milhares de mulheres que ela inspirou para pesquisar a matemática e fazer ciência. Maryam era uma brilhante teórica matemática, e também uma pessoa humilde que aceitou honras apenas com a esperança de encorajar os outros a seguir seu caminho. Suas contribuições tanto como estudiosa quanto como modelo são significativas e duradouras, e ela será muito sentida aqui em Stanford e em todo o mundo."

Uma joia do Irã

Mirzakhani nasceu em Teerã e sonhava em se tornar escritora, mas os números e fórmulas atravessaram o seu caminho.

De acordo com a nota da Stanford, ela frequentou uma escola secundária de meninas na capital iraniana.

Mirzakhani ganhou reconhecimento internacional durante as competições da Olimpíadas Internacionais de Matemática. Ela era uma das poucas mulheres a integrar os times e levou ouro nas edições de 1994 e 1995.

Depois da graduação, foi aceita em Harvard, onde começou a trilhar o caminho de suas teorias. Apesar da barreira linguística, não deixava de interpelar seus professores em inglês, enquanto escrevia suas teorias em persa.

A notícia de sua morte levou os jornais estatais do Irã romperem com as estritas regras do país sobre o uso do hijab pelas mulheres.

Para homenagear a matemática, eles publicaram uma foto dela com a cabeça descoberta.

Até o presidente Hassan Rouhani publicou uma foto de Mirzakhani em seu Instagram.
A grave passagem de Maryam Mirzakhani, a eminente matemática iraniana e de renome mundial, é muito dolorosa", escreveu.
Em uma das raras entrevistas ao Guardian, Maryam Mirzakhani descreveu o momento em que se sentiu atraída pelas fórmulas:
Quando criança, eu sonhava em me tornar uma escritora. Meu passatempo mais emocionante era ler romances; Na verdade, eu leria qualquer coisa que eu pudesse encontrar. Nunca pensei na matemática até meu último ano no ensino médio. Cresci em uma família com três irmãos. Meus pais sempre foram muito solidários e encorajadores. Era importante para eles que tivéssemos profissões significativas e satisfatórias, mas não se importavam tanto com o sucesso e a realização.
Em muitos aspectos, foi um ótimo ambiente para mim, embora estes tenham sido tempos difíceis durante a guerra do Irã-Iraque. Meu irmão mais velho foi a pessoa que me despertou o interesse pela ciência em geral. Ele costumava me dizer o que ele aprendia na escola. Minha primeira lembrança da matemática é provavelmente o momento em que ele me contou sobre o problema de adicionar números de 1 a 100. Eu acho que ele havia lido em um jornal científico popular como Gauss resolveu esse problema. A solução foi bastante fascinante para mim. Essa foi a primeira vez que eu gostei de uma solução bonita, embora não conseguisse encontrá-la sozinha."

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