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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

As falácias do falo, exemplo de texto escrito por homem sobre mulheres sem ser mimizento

As falácias do falo
A exemplo do que disse em meu texto de segunda, Misandria: uma grande zoeira e o sempre renovado ataque à autonomia das mulheres, há homens que tentam desconstruir em si mesmos os condicionamentos machistas que receberam em vez de querer dizer a feministas o que o feminismo é ou não.

Idade não é documento, mas talvez a geração mais jovem de homens também esteja, como a das mulheres, mais propensa a questionar a (des)educação que recebeu desde o berço. O jovem que escreveu o texto abaixo, pelo menos nele, demonstra mais consciência do machismo do que muitas mulheres que conheço. Prova de que há esperanças para a humanidade.

Destaco algumas frases do artigo que vão ao encontro do que comentei sobre homens antipatriarcais. 
Ao decidir escrever esse texto, concluí que precisava ter uma dose razoável de humildade e outra de honestidade intelectual. Eu desejo que esse texto seja lido como o mais feminista possível para algo elaborado por um homem...
Essa minha preocupação também guiou a estrutura do texto: em vez de dizer "o feminismo é isso ou aquilo", vou focar meus esforços em desconstruir aquilo que podemos chamar de falácias do falo, ou seja, argumentos machistas que muitas vezes são naturalizados por nós e não são percebidos como a opressão que realmente são.
É comum dizerem que uma mulher reagiu "histericamente" em relação a alguma cantada de rua. Por outro lado, é raro chamarem um marido abusivo, violento, de irracional. Isso ilustra bem como as palavras podem ser usadas de forma a discriminar.
Por outro lado, as mulheres sempre foram ensinadas a competirem entre si para atraírem a atenção de algum pretendente. A falácia ignora que existiram numerosas instituições ou agremiações exclusivamente femininas, marcadas por fortes laços de solidariedade, no decorrer da história. A mulher não é dissimulada ou traiçoeira. Ela foi forçada, socialmente, a agir assim em relação às suas iguais.

As falácias do falo

por Daniel Murata

Estava faz tempo decidindo se escreveria ou não esse texto. Escrever sobre a luta das mulheres contra a opressão do machismo não é tarefa fácil. Em especial, se você é um homem tentando escrever sobre isso, pode incorrer em - no mínimo - uma grave miopia em relação às diversas formas de opressão que existem na sociedade.

Ao decidir escrever esse texto, concluí que precisava ter uma dose razoável de humildade e outra de honestidade intelectual. Eu desejo que esse texto seja lido como o mais feminista possível para algo elaborado por um homem, uma vez que há sempre a dúvida se é possível ao homem compreender de fato a extensão da opressão contra a mulher.

Essa minha preocupação também guiou a estrutura do texto: em vez de dizer "o feminismo é isso ou aquilo", vou focar meus esforços em desconstruir aquilo que podemos chamar de falácias do falo, ou seja, argumentos machistas que muitas vezes são naturalizados por nós e não são percebidos como a opressão que realmente são. Vamos então ver algumas dessas falácias.

Falácia nº1: "A mulher deve se dar ao respeito". Essa falácia é de longe uma das mais famosas. Esse argumento simplesmente não especifica o que é "se dar ao respeito" e nem por que motivo só mulheres devem fazer isso. No fundo, trata-se de mera discriminação disfarçada. Por que uma mulher ir à balada e ficar com quem ela bem entender é "não se dar ao respeito", enquanto para os homens isso é motivo de orgulho? Por acaso os homens tem mais direitos sexuais que as mulheres apenas porque são homens? Por que mulheres deveriam se vestir com recato, enquanto homens andam sem camisa e sem problemas?

Rebater essa primeira falácia nos leva a uma pergunta central: qual é - efetivamente - o mérito em ser homem ou mulher? Nascer com um sexo ou outro é tão somente uma questão de probabilidade. Se assim o é, não há mérito em ser de um sexo específico. Não há forma de se defender direitos de um gênero e não de outro sem ser injusto e arbitrário. Ser homem não é mérito algum, o mero fato de sê-lo não fundamenta direitos adicionais. Isso significa dizer, trocando em míudos, que não é a mulher que deve se dar ao respeito, mas o homem que deve respeitar a vontade da mulher, que pode tanto quanto ele.

"Pequena" ressalva: a mulher - por causa da biologia reprodutiva - acaba se valendo de direitos que não fazem sentido ao homem, ao menos não ao homem cisgênero. Direito à gestação e parto de qualidade e dignos e direito à amamentação são dois exemplos. Esses direitos fazem sentido para as mulheres porque integram sua dignidade enquanto seres humanos de igual valor a todos e cada um de nós. Expulsar uma mulher de um restaurante por ela ter amamentado em público é tão absurdo quanto expulsar um homem por ele ter um pênis.

Falácia nº2: "A mulher é naturalmente mais irracional que o homem". Essa costuma fazer dobradinha, em discussões, com frases do tipo "você está exagerando" ou "você é louca". Esse argumento tem dois pontos falhos. Primeiramente, a ideia de alguém ser "naturalmente" mais que outra pessoa. Isso é dar de barato que mulheres tem uma menor capacidade cognitiva que homens, algo que está longe de ser realidade.

O segundo ponto falho é a própria ideia de irracionalidade. Definir algo como racional é algo complexo, e usualmente usado como forma de discriminar entre entes superiores ou inferiores. A ideia de racionalidade é maleável, e no caso dessa falácia, é utilizada para dizer que determinadas formas de reação a xingamentos ou agressões são irracionais e outras não. É comum dizerem que uma mulher reagiu "histericamente" em relação a alguma cantada de rua. Por outro lado, é raro chamarem um marido abusivo, violento, de irracional. Isso ilustra bem como as palavras podem ser usadas de forma a discriminar.

Falácia nº3: "a mulher é dissimulada e traiçoeira, o homem é mais íntegro". O erro dessa falácia é parecido com o da anterior. Aqui, ocorre a naturalização de uma situação contingente. O que isso significa: historicamente, nossa sociedade sempre induziu homens a serem fraternais entre si. A ideia de "irmãos de armas" até hoje exerce fascínio sobre as pessoas. Por outro lado, as mulheres sempre foram ensinadas a competirem entre si para atraírem a atenção de algum pretendente. A falácia ignora que existiram numerosas instituições ou agremiações exclusivamente femininas, marcadas por fortes laços de solidariedade, no decorrer da história. A mulher não é dissimulada ou traiçoeira. Ela foi forçada, socialmente, a agir assim em relação às suas iguais.

Falácia nº4: "mulher que não se depila é anti-higiênica ou porca". Qual foi a última vez que você, leitor homem, depilou suas axilas ou seus genitais?
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PS: Agradeço minha colega e amiga, Bárbara Simão, pela leitura do texto e comentários valiosos. É sempre difícil para alguém com vocação para abstrações, como eu, escrever um texto sobre problemas muito reais enfrentados por pessoas no dia-a-dia.

Fonte: Brasil Post, 05/02/2015

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Desconstruindo mitos sobre a Sabesp e a falta d'água em São Paulo


Três mitos sobre a Sabesp e a seca em São Paulo

Muitas falhas podem ser atribuídas à Sabesp, a estatal de saneamento de São Paulo. Mas entre acusações justas há equívocos que exalam pura ignorância econômica. Vejo muita gente dizer, por exemplo, que a seca em São Paulo se agravou porque a Sabesp, ao vender parte de suas ações na Bolsa, “passou a seguir a lógica do mercado”, “maximizando lucros e reduzindo investimentos”, para “privilegiar acionistas em detrimento do interesse público”. Há nesse raciocínio pelo menos três equívocos graúdos.
Mito 1: “Seguindo a lógica do mercado, a Sabesp reduziu investimentos”
Se a lógica do mercado levasse empresas a reduzir investimentos e privilegiar o lucro dos acionistas, o mundo viveria uma escassez generalizada. Enfrentaríamos falta de Coca-Cola, pois a empresa teria transferido dividendos a acionistas em vez de construir novas fábricas. Supermercados seriam lugares tristes repletos de prateleiras vazias, porque a Nestlé, a Ambev, Unilever e os produtores de frutas e verduras embolsariam lucros em vez de investir o necessário para atender o aumento da demanda.
É verdade que investir em novas tubulações para evitar vazamentos não é tão rentável quanto uma nova fábrica de refrigerantes. No entanto, pela lógica da “maximização de lucros” no longo prazo, a pior coisa que pode acontecer a uma empresa é não ter o que oferecer aos consumidores, como é o caso da Sabesp hoje em dia. A melhor é crescer e conquistar mercados. Por isso previsões de demanda, aquisições, estudos de ampliação e análises do “capex” (o capital destinado a investimentos) são parte do dia a dia de empresas que buscam lucro.
Quem acompanha o mercado financeiro sabe que toda a semana o preço de ações cai porque empresas anunciam projetos e aquisições. Como investimentos geralmente significam menos lucros ou dividendos nos meses seguintes, acionistas interessados no gráfico de curto prazo se livram dos papéis. Isso aconteceu recentemente com ações do Facebook, da Intel, da Microsoft, da Vale, da Lenovo, da Tim, entre muitas outras. O preço da ação costuma se reerguer depois de algumas semanas. Os acionistas mais ligados ao longo prazo entendem que, se a empresa está investindo, terá melhores fundamentos no futuro.
Mito 2: “A Sabesp enriqueceu os acionistas”
Só existe um motivo para uma empresa evitar investimentos e privilegiar os acionistas: se o principal acionista for o próprio governo. No caso de empresas estatais, uma distribuição maior de dividendos resulta em caixa mais gordo aos políticos no poder. E o que político gosta de fazer é gastar dinheiro o mais rápido possível. Diferente de donos de empresas, políticos têm um objetivo de curto prazo: a próxima eleição. Poucos resistem à tentação de sacrificar o futuro de estatais ou das contas públicas para gastar em obras ou propaganda.
Foi esse o caso da Sabesp? Se a empresa não sofreu da lógica do mercado, teria sido vítima da lógica da política? Difícil dizer. Segundo esta reportagem da Exame, a Sabesp é uma das empresas de saneamento que mais pagam dividendos no mundo. O governo de São Paulo, dono de 50,3% das ações, é o maior beneficiário desses repasses. No entanto, entre 2008 e 2013, de acordo com a consultoria Economática, a Sabesp ficou em 28º lugar entre as 30 maiores pagadoras de dividendos do Brasil. O retorno médio aos acionistas foi de 4,9%. É uma boa média, mas bem inferior à Eletropaulo (23%) ou estatais administradas pelo governo federal, como o Banco do Brasil (6,9%). Sem contar o rendimento das ações, que depende da sorte, os acionistas da Sabesp ganharam de dividendos menos do que se tivessem investido na poupança. “A Sabesp é uma boa pagadora de dividendos, mas não é um caso excepcional”, me disse Gianmarcelo Germani, da MoneyMark. “Outras estatais, como a Copel ou a Cemig, pagam dividendos muito superiores.”
Mito 3: “Distribuir dividendos vai contra o interesse público”
Se você tem uma empresa e precisa de dinheiro para ampliar o negócio, é geralmente mais barato lançar ações na Bolsa que emprestar no banco. De um dia para o outro, investidores jogam milhões de reais na sua mão. Em troca, esperam uma remuneração anual que, segundo a lei, precisa ser no mínimo 25% dos lucros que você conseguir. As empresas costumam pagar um pouco mais do que manda a lei, para ficar em paz com os acionistas e poder captar mais dinheiro da próxima vez que precisarem.
Se o governo paulista quisesse manter a Sabesp 100% estatal e se recusasse a vender ações, teria que emprestar do BNDES ou de bancos internacionais, ou bancar do próprio bolso investimentos para a ampliação de represas e da rede de abastecimento. Isso significa tirar dinheiro de hospitais e escolas para colocar numa empresa que poderia andar com as próprias pernas. Diversas estatais de saneamento dão prejuízo no Brasil: o rombo que elas causam acaba sendo pago com o imposto dos cidadãos.
É tentador imaginar um acionista milionário nadando no dinheiro enquanto o povo morre de sede, mas isso não passa de ficção marxista. Se a empresa é bem administrada, a participação de investidores provoca melhoria e ampliação de serviços. 
Repito: não acho a Sabesp um exemplo de empresa. Na verdade considero uma tremenda loucura legar a uma estatal algo tão importante quanto o abastecimento de água. Acredito que água potável só será abundante quando arranjarmos um jeito de haver concorrência nesse setor, pois monopólios legais (públicos ou privados) sempre vão decepcionar. O que me faz defender a Sabesp neste texto é somente a falta de noção de algumas acusações.
Fonte: Veja, por Leandro Narloch, Caçador de Mitos, 27/01/2015

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

70% das mulheres sofrem algum tipo de agressão durante suas vidas cometida por homens

Uma mulher aterrorizada é conduzida por um soldado nos arredores de Bangui,
capital da República Centro-Africana. / 
JEROME DELAY (AP)
O macho, arma de destruição em massa
A violência e as guerras sempre estiveram dominadas por um viés de gênero. 70% das mulheres sofrem algum tipo de agressão durante a sua vida

por José Ignacio Torreblanca 

Uma das notícias mais alvissareiras de 2014 é a abertura de negociações com o regime iraniano em torno do seu programa nuclear. Com razão, a comunidade internacional se preocupa com a proliferação dessas armas, daí que, de forma excepcional, no outro lado da mesa encontremos EUA, Rússia, China e a União Europeia atuando unidos. Mas, apesar da incrível capacidade de destruição dessas armas, há quem sustente que elas não têm tanto de excepcional; são, dizem, nada mais que muitas toneladas de explosivos juntas. Não lhes falta um pouco de razão: o genocídio mais importante da história, cometido contra o povo judeu, não exigiu armas nucleares, como tampouco foram necessários mais do que algumas dezenas de milhares de facões de fabricação chinesa para liquidar os 800.000 tutsis que faleceram no genocídio ruandês. As aproximadamente 135.000 vítimas de Hiroshima desafiam nossa compreensão, mas o mesmo vale também para os quase 300.000 mortos na batalha de Verdun. A crua realidade é que, desde a noite dos tempos, o ser humano mostrou uma incrível capacidade de matar, de fazê-lo em massa e sustentadamente, e para isso se valeu de qualquer coisa ao seu alcance: um facão, uma AK-47, explosivos convencionais ou bombas atômicas.

Os maiores genocídios da história não precisaram de mísseis

Fonte: INE / EL PAÍS
Um momento: “o ser humano”? Não exatamente. Na prática, a totalidade de todas essas mortes tem em comum um fato tão relevante como invisível no debate público: que foram homens que os cometeram. A história militar não deixa lugar a nenhuma dúvida: os Exércitos sempre foram formados por homens, os quais foram os executores quase exclusivos desse tipo de violência, e suas principais vítimas. É verdade que guerrilhas e grupos terroristas historicamente incluíram mulheres, às vezes muito sanguinárias (na Espanha, por desgraça, conhecemos o fenômeno), mas a violência bélica nas mãos das mulheres foi uma gota em um oceano. O resultado, apesar de conhecido, não é por isso menos trágico: só no século XX, as vítimas desses conflitos desencadeados e executados por homens custaram a vida de entre 136 e 148 milhões de pessoas.

Podemos proibir as bombas, mas por trás delas sempre há um homem

Dir-se-á que as guerras são coisas do passado, típicas de sociedades pré-democráticas. Mas como explicar então o viés de gênero que domina a violência em nossas sociedades? Não falamos de sociedades atávicas, mas sim de sociedades ocidentais, democracias plenas onde, como nos Estados Unidos, as estatísticas nos indicam que 90% de todos os homicídios cometidos entre 1980 e 2005 foram de autoria masculina, ao passo que apenas 10% tiveram mulheres como responsáveis. De todos esses homicídios, um pouco mais de dois terços (68%) foram cometidos por homens contra homens, enquanto em um quinto deles (21%) um homem matou uma mulher. Embora haja, de fato, mulheres que matam homens, esses crimes representaram apenas 10% de todos os homicídios, ao passo que, significativamente, o percentual de mulheres que mataram outras mulheres foi ridículo (2,2%). Assim, portanto, as mulheres não matam mulheres, só homens, e em grande parte em legítima defesa. Claro que os EUA são uma sociedade mais violenta do que outras, mas os dados da Espanha, Reino Unido ou outros países de nosso entorno não são muito diferentes: reveladoramente, a população penitenciária espanhola está composta em 90% por homens e em 10% por mulheres. Assim como na guerra, o homicídio e, em geral, o crime parecem ser fenômenos quase puramente masculinos.

Os estupros são o capítulo mais vergonhoso dos conflitos bélicos

Os efeitos de uma cultura patriarcal dominada por homens são tão demolidores que dá a impressão de que se trava no mundo uma guerra (invisível, porém guerra) de homens contra mulheres. Segundo as Nações Unidas, 70% das mulheres experimentaram alguma forma de violência ao longo de sua vida, sendo uma em cada cinco do tipo sexual. Incrivelmente, as mulheres entre 15 e 44 anos têm mais probabilidade de serem atacadas por seu cônjuge ou violentadas sexualmente do que de sofrerem de câncer ou se envolverem em um acidente de trânsito. Na Espanha e em outros países europeus, quase metade das mulheres vítimas de homicídios tiveram seus cônjuges como algozes, frente a 7% de homens, o que significa que a probabilidade de uma mulher morrer nas mãos do parceiro é seis vezes superior à de um homem com relação à parceira.

Fonte: Departamento de Justiça de EUA. / EL PAÍS
A violência sexual contra as mulheres é onipresente e constitui um dos capítulos mais vergonhosos, e mais silenciados, da história dos conflitos bélicos. Isso apesar das evidências de que essa violência não só foi consentida como também estimulada como arma de guerra. Segundo Keith Lowe, autor do livro Continente Selvagem, a Segunda Guerra Mundial bateu todos os recordes de violência sexual, especialmente contra as mulheres alemãs, à medida que o Exército soviético entrava na Alemanha (calcula-se que 2 milhões delas foram estupradas como consequência de uma política de vingança sexual deliberada). Hoje em dia, a ONU estima em 200.000 os estupros ocorridos na República Democrática do Congo, uma cifra similar à oferecida para Ruanda. Longe da África, no coração da Europa educada, o estupro também foi uma arma de guerra interétnica no conflito da antiga Iugoslávia, onde se estima que entre 20.000 e 50.000 mulheres tenham sido sexualmente violentadas. A isso se soma uma longa lista de crimes que só as diferenças de gênero podem explicar, os quais incluem o aborto seletivo de meninas, os crimes de honra, o tráfico de mulheres com fins de exploração sexual e a mutilação sexual, que afeta 130 milhões de mulheres. Nem é preciso entrar nas sutilezas da discriminação política, econômica e social, um fato em si muito revelador da subordinação generalizada da mulher: o nível de violência física contra as mulheres no mundo já diz tudo. Alguns descrevem a violência exercida contra as mulheres em decorrência apenas no seu gênero como “feminofobia”. Por que esse termo não nos soa familiar, nem qualquer outro semelhante?

Reconheçamos: os homens são a maior arma de destruição em massa que a história da humanidade já viu, e há 3,5 bilhões deles à solta por aí. Podemos proibir as armas grandes, as armas pequenas, as minas terrestres, as bombas de fósforo ou de fragmentação, as armas bacteriológicas, químicas e nucleares, mas no final estaremos sempre no mesmo lugar: por trás de cada arma haverá um homem. Por isso as Nações Unidas adotaram várias iniciativas de alcance mundial, recorrendo para tanto ao próprio Conselho de Segurança, que, em sua Resolução 1.325 de 31 de outubro de 2000, tornou visível pela primeira vez a necessidade de uma proteção explícita e diferenciada às mulheres e meninas em cenários de conflito, assim como a contribuição fundamental que as mulheres fazem e devem fazer no que tange à resolução de conflitos e a construção da paz.

Existem muitas explicações possíveis, e complexas, sobre esses fatos. Tampouco são fáceis as respostas que devemos dar, e muito menos as medidas a adotar. Mas os fatos estão aí, e são incontestáveis: os homens matam e se matam, muito, e exercem muita violência contra as mulheres. Entretanto, o debate público sobre esse fato é inexistente. Antes que repostas, esse debate exige perguntas, na verdade uma só pergunta: seriam os homens uma arma de destruição em massa?

*José Ignacio Torreblanca é professor de Ciência Política na Universidade Nacional de Educação a Distância. Dirige o escritório em Madri do Conselho Europeu de Relações Exteriores e é autor de diversos livros.

Fonte: El País, 26/01/2015

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Marta Suplicy cansou de ser deixada de lado e virou oposição à Dilma e ao PT

Marta nunca engoliu ter sido preterida por Dilma
Marta Sucplicy parece realmente estar dando adeus ao PT, já que novamente veio a público meter o relho em Dilma e em seu próprio partido por extensão. No artigo "O diretor sumiu", publicado ontem na Folha de São Paulo, Marta afirma que a falta de transparência de Dilma na economia levou à lastimável situação de nossas finanças :
se tivesse havido transparência na condução da economia no governo Dilma, dificilmente a presidente teria aprofundado os erros que nos trouxeram a esta situação de descalabro. Não estaríamos agora tendo de viver o aumento desmedido das tarifas, a volta do desemprego, a diminuição de direitos trabalhistas, a inflação, o aumento consecutivo dos juros, a falta de investimentos e o aumento de impostos, fazendo a vaca engasgar de tanto tossir.
Marta também declara que Dilma fez estelionato eleitoral, enganando inclusive o fanático eleitorado petista:
Havia uma grande expectativa a respeito do perfil da equipe econômica que a presidenta Dilma Rousseff escolheria. Sem nenhuma explicação, nomeia-se um ministro da Fazenda que agradaria ao mercado e à oposição. O simpatizante do PT não entende o porquê. Se tudo ia bem, era necessário alguém para implementar ajustes e medidas tão duras e negadas na campanha? Nenhuma explicação.
Imagina-se que a presidenta apoie o ministro da Fazenda e os demais integrantes da equipe econômica. É óbvio que ela sabe o tamanho das maldades que estão sendo implementadas para consertar a situação que, na realidade, não é nada rósea como foi apresentada na eleição. 
Agora, mirando o próprio PT, Marta declara que o partido está em autofagia (a Fundação Perseu Abramo, do PT, o partido e parlamentares petistas não apoiam Dilma) e também cometeu estelionato eleitoral:
O PT vive situação complexa, pois embarcou no circo de malabarismos econômicos, prometeu, durante a campanha, um futuro sem agruras, omitiu-se na apresentação de um projeto de nação para o país, mas agora está atarantado sob sérias denúncias de corrupção.
Nada foi explicado ao povo brasileiro, que já sente e sofre as consequências e acompanha atônito um estado de total ausência de transparência, absoluta incoerência entre a fala e o fazer, o que leva à falta de credibilidade e confiança.
E termina dizendo que a diretora do país sumiu exatamente nesse momento em que o país vive cenário dramático de crescente desemprego, somados à falta de energia e de água, problemas de locomoção, queda do poder aquisitivo, violência crescente, saúde precária, fora as obrigações financeiras de começo de ano.

Naturalmente, Marta agora posar de oposicionista não convence ninguém que tenha neurônios funcionando minimamente. Marta é petista histórica e sempre apoiu a política deletéria de seu partido no poder desde o início, até inclusive nas recém-findas eleições de 2014. Ao que tudo indica, cansou de ser preterida no próprio partido e está de malas prontas para outro (qual?) a fim de seguir suas pretensões eleitorais e de apoiar as pretensões eleitorais de outro (Lula?) que quer se dissociar de Dilma. É ver para crer. Não deixa de ser agradável, de qualquer forma, ver essa gente nociva comendo o próprio rabo.

Com informações da Folha de São Paulo

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Mude o mundo: seja amiga de uma mulher


7 razões para você empoderar uma garota ao invés de explicar feminismo para um cara

Destaque: As mulheres não têm obrigação de explicar o conceito de feminismo para os homens
"Para isso existe o Google, não é mesmo?", brinca. Não é que os homens não precisam ficar a par dessa luta, muito pelo contrário, mas eles jamais serão os protagonistas dessa batalha. Por isso, é preferível, de acordo com a idealizadora da campanha, perder energia e ganhar tempo dando força às garotas a gastar saliva explicando a um rapaz o porquê do movimento ser tão importante. "Enquanto isso, muitas mulheres também continuam sem entender o motivo e elas devem ser as principais impactadas", esclarece.

A CAPRICHO, em parceria com a idealizadora da campanha, listou 7 motivos para você empoderar duas amigas e contribuir com essa corrente do amor:

1. O empoderamento quebra barreiras
Quando você dá poder a uma amiga, você dá voz aos sentimentos dela. É como se você desse um voto de confiança e acreditasse nela para valer! Parece algo meio bobo, mas é desse jeitinho que você vai superando as barreiras pratriarcais que existem há séculos. "Empoderando você encoraja. Não existe corpo ideal ou garota ideal. Existe o que você quiser que exista", esclarece Maynara.

2. Empoderar é bem melhor que competir
Você já deve ter escutado um menino ou até mesmo uma colega de sala dizer que garotas não têm amigas, pois são muito competitivas e até se vestem para impressionar as rivais. Quando você dá poder a uma menina, você acaba com toda essa rivalidade e, acredite, vive mil vezes mais leve sem toda essa cobrança. Maynara explica o motivo: "ouvimos o tempo todo que mulher não pode ser isso e não pode fazer aquilo, para não ficar mal falada, e que deve cuidar do corpo de tal forma para deixá-lo de acordo com os padrões de beleza. O machismo faz com que as garotas vivam em constante competição, quando, na verdade, deveriam ser pura e simplesmente aliadas".

3. Apoiar outras garotas é o princípio básico do feminismo
"A troca de experiências conforta uma parte das mulheres que se sente incomodada com a opressão e faz com que a outra metade, que, eventualmente, ainda não consegue enxergar o quão machista é a nossa sociedade, sinta-se tocada", conta Maynara. Afinal, os homens não precisam lutar a favor do movimento. 

4. Compartilhar experiências te faz abrir os olhos
"Eu já tive meus 13, 15, 17 anos. Você precisa ser uma boa filha, estar dentro dos padrões, mas não exagerar para não ficar com má fama. Precisa agradar um namorado e trocar de roupa quando ele disser que aquela está muito curta. Conhecer seu corpo e se descobrir, pois dizem que é importante, mas fazer isso sem se sentir culpada depois. Não é fácil, mas quando você descobre que acontece igual com a amiga, fica menos aterrorizante", afirma May. A mesma coisa acontece quando você descobre que não foi a única assediada no metrô, que não foi a única que se sentiu invadida por uma cantada no meio da rua ou que foi agarrada por um menino sem noção na festa e ainda precisou sorrir para não parecer grossa. A troca de vivências, de conselhos, de amor, é a saída. 

5. As mulheres não têm obrigação de explicar o conceito de feminismo para os homens
"Para isso existe o Google, não é mesmo?", brinca. Não é que os homens não precisam ficar a par dessa luta, muito pelo contrário, mas eles jamais serão os protagonistas dessa batalha. Por isso, é preferível, de acordo com a idealizadora da campanha, perder energia e ganhar tempo dando força às garotas a gastar saliva explicando a um rapaz o porquê do movimento ser tão importante. "Enquanto isso, muitas mulheres também continuam sem entender o motivo e elas devem ser as principais impactadas", esclarece.

6. Opressor e oprimido nem sempre convivem em harmonia
Para não falar nunca! Isso é justificado por um simples fato: o privilegiado nunca quer abdicar de tudo aquilo que lhe favorece. Fica muito difícil incluir o opressor dentro de um movimento de oprimidos. É por isso que a campanha da Maynara é e sempre será de menina para menina. "Muitos caras se dizem feministas para agradar, mas, na prática, continuam fazendo tudo aquilo que os tornam machistas".

7. Você é a primeira pessoa que precisa se libertar de estereótipos
Quando alguém te coloca láááá em cima, você não fica com uma sensação de "eu posso, eu consigo"? É esse sentimento que, muitas vezes, te dá coragem para ir além, se abrir, se aceitar, lutar por um sonho. Teoricamente, você tem liberdade de se vestir do jeito que bem entender, ficar com quem quiser e quando sentir vontade, se depilar com cera, com lâmina ou até mesmo não depilar. Contudo, na prática, as coisas não são tão simples. Muitas vezes, a garota não se sente segura para tomar tal decisão. Autoestima é o primeiro passo para a quebra de paradigmas. Como já dizia Demi Lovato: "minha armadura é feita de aço. Você não pode entrar nela. Sou uma guerreira e você nunca poderá me machucar!"

Para curtir a página da campanha "Empodere Duas Mulheres" no Facebook e saber mais sobre ela, clique aqui.

Fonte: Capricho, por Isabella Otto, 25/01/2015

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