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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A corrupção do PT é sistêmica como uma metástase num organismo vivo

Por Merval Pereira
Destaque:
O PT não inventou a corrupção, mas inventou um método sistêmico de corrupção que perpassa todo o organismo governamental. Isso nunca houve.
Havia esquemas de corrupção localizados, pessoas corruptas atuando, mas nunca houve um esquema desse porte organizado pelo governo. A ideia de que é tudo igual ajuda a quem está envolvido com essas denúncias. Não é todo mundo igual, nunca houve um partido que tenha chegado ao poder e que tenha montado um esquema dessa amplitude.

Corrupção sistêmica

O escândalo da Petrobras está produzindo reações curiosas no governo, algumas até mesmo engraçadas, se o momento não fosse trágico. Anuncia-se que o PT pretende questionar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a escolha, por sorteio, do ministro Gilmar Mendes para relator das contas da campanha presidencial do partido em 2014. Por sorteio, ressalte-se, e a mando do presidente do TSE, ministro Dias Toffoli, o mais próximo ao PT de todos os integrantes do Supremo Tribunal Federal. Nunca vi tamanha confissão de culpa.

Também o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo deitou falação sobre a politização das investigações, insinuando que a oposição está querendo ter um terceiro turno da eleição que perdeu. Logo quem, o mesmo que acabara de dizer que a presidente Dilma havia determinado que as investigações prosseguissem, doam a quem doer. Como se a presidente tivesse o poder de mandar parar as investigações se quisesse. Além do mais, Cardozo abriu uma investigação para punir delegados envolvidos na Operação Lava-Jato por terem expressado opiniões pessoais de crítica ao governo e apoio à candidatura oposicionista em uma página do Facebook fechada ao público.

Com isso, os petistas mais afoitos querem identificar razões partidárias para os vazamentos de partes dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Yousseff. Tanto os membros do Ministério Público quanto o juiz Sérgio Moro, responsável pelas investigações, saíram em defesa dos delegados da Polícia Federal, e não fariam isso se vissem no comportamento de algum deles desvios que pudessem prejudicar as investigações.

O importante é que o sistema que está sendo revelado mostra que toda sustentação política dos governos petistas é montada na base da corrupção, os partidos indicando diretores de órgãos estatais simplesmente para deles retirar dinheiro para financiar suas campanhas, e claro que os benefícios pessoais se impõem. Então dividem os órgãos estatais e os ministérios por partidos, e cada um que é nomeado sabe exatamente por que está sendo nomeado, para que e o que tem que fazer. E a investigação já mostrou que o mesmo esquema existe em outras áreas do governo, que ainda serão investigadas.

É evidente que essa maneira de fazer política, que foi aprofundada absurdamente nos anos petistas, tem que parar, não há país que aguente uma situação dessas por tanto tempo. Esse sistema de distribuição de ministérios para partidos, de divisão de diretorias de empresas públicas para partidos para montagem de governo está falido.

Não apenas isso, prejudica a imagem do país no exterior e afugenta os investidores sérios, prejudica a economia do país e prejudica sobretudo os mais pobres pois monta-se um governo disfuncional. É preciso mudar, e a crueza dos fatos vai se encarregar dessa mudança. Provavelmente no próximo mês, ou no máximo no início do próximo ano vamos ter uma relação de 70 a 100 políticos desfilando diante da opinião pública como implicados nesses desvios de dinheiro da Petrobras.

Serão governadores, senadores, deputados, ex-governadores, ex-senadores, ex-deputados, a maior parte será indiciada e julgada pelos tribunais superiores. Estamos na verdade passando por um processo que está em curso desde o mensalão. Um processo que está sendo construído, depurado, e a consequência dessa depuração deve ser a mudança de nosso sistema político-eleitoral.

É muito difícil fazer uma reforma dessa profundidade com o Congresso, pois em tempos normais os deputados e senadores querem manter o sistema que os elegeu. Mas numa crise como a que estamos passando, e ainda vai piorar, é o momento da oportunidade para mudar. O PT não inventou a corrupção, mas inventou um método sistêmico de corrupção que perpassa todo o organismo governamental. Isso nunca houve.

Havia esquemas de corrupção localizados, pessoas corruptas atuando, mas nunca houve um esquema desse porte organizado pelo governo. A ideia de que é tudo igual ajuda a quem está envolvido com essas denúncias. Não é todo mundo igual, nunca houve um partido que tenha chegado ao poder e que tenha montado um esquema dessa amplitude.

Além do mais, esse esquema de corrupção que o PT montou nesses 12 anos faz com que o país não tenha condições de se desenvolver. Uma estrutura de 40 ministérios para financiar sua base eleitoral inviabiliza qualquer governo, perdemos competitividade, perdemos produtividade. Além de todas as decisões de cunho econômico equivocadas, temos um governo disfuncional.

Fonte: O Globo, 16/11/2014, Merval Pereira

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Arnaldo Jabor vai direto ao âmago da crise brasileira

Jabor anda pessismista. Quem não? Mas seu texto toca nos pontos nevrálgicos que levaram o país a esse contexto de falta de luz no fim do túnel. Cita a covardia do PSDB que não combateu o petismo durante esses tristes anos de governos Lula e Dilma, sendo cúmplice da atual situação por omissão. E cita a estupidez da esquerda bolivariana brasileira, herdeira do comunismo, que não consegue fazer coisa alguma a não ser manter os pobres na pobreza assistida do bolsa-família para poder periodicamente colher-lhe os votos. Duro, mas necessário.

A derrota do óbvio

Arnaldo Jabor

A vitória da Dilma começou há dez anos, quando o PSDB preferiu não se defender dos ataques de Lula e do PT. Nunca entenderei como um partido que, no governo, acabou com a inflação, criou leis modernizantes, reformas fundamentais, se fechou, se "arregou, se encagaçou" diante das acusações mais infundadas, por preguiça e medo. Aí o PT deitou e rolou. E conseguiu transformar o social-democratas em "reacionários de direita", pecha que os jovens imbecis e intelectuais de hoje engoliram.

Ou seja, o melhor projeto para o País foi desmoralizado como "neoliberal", de "direita".

Os intelectuais que legitimaram o Lula /Dilma nos últimos 12 anos repetem os diagnósticos óbvios sobre o mundo capitalista, mas, na hora de traçar um programa para o Brasil, temos o "silêncio dos inocentes". Rejeitam o capitalismo, mas não têm nada para botar no lugar. Assim, em vez de construir, avacalham. Estamos no início de um grave desastre. E esses "revolucionários" de galinheiro não se preocupam com o detalhe de dizer "como" fazer suas mudanças no País.

Dizem que querem mudar a realidade brasileira, mas odeiam vê-la, como se a realidade fosse "reacionária". Isso me faz lembrar (para um breve refresco cômico) a frase de Woody Allen: "A 'realidade' é enigmática, mas ainda é o único lugar onde se pode comer um bom bife".

No Brasil, a palavra "esquerda" continua a ser o ópio dos "pequenos burgueses" (para usar um termo tão caro a eles). Pressupõe uma especialidade que ninguém mais sabe qual é, mas que "fortalece", enobrece qualquer discurso. O termo é esquivo, encobre erros pavorosos e até justifica massacres.

Nas rasas autocríticas que fazem, falam em "aventureirismo", "vacilações", "sectarismo" e outros vícios ideológicos; mas o que os define são conceitos como narcisismo, paranoia, onipotência, voracidade, ignorância. É impossível repensar uma "esquerda", mantendo velhas ideias como: "Democracia burguesa, fins justificam os meios, superioridade moral sobre os 'outros', luta de classes clássica". Uma "nova esquerda" teria de acabar com a fé e a esperança. Isso dói, eu sei; mas contar com essas duas antigas virtudes não cabe mais neste mundo de bosta de hoje.

As grandes soluções impossíveis amarram as possíveis. Temos de encerrar as macrossoluções e aceitar as "micro". O discurso épico tem de ser substituído por um discurso realista e até pessimista. O pensamento da "esquerda metafísica" tem de dar lugar a uma reflexão mais testada, mais sociológica, mais óbvia, mais cotidiana.

Não quero bancar o profeta, mas qualquer um que tenha conhecido a turminha que está no poder hoje, nos idos de 1963, poderia adivinhar o que estava para vir. E olhem que nos meus 20 anos era impossível não ser "de esquerda". Havia o espírito do tempo da guerra fria, uma onda de esperança misturada com falta de experiência. Nós queríamos ser como os homens maravilhosos que conquistaram Cuba, os longos cabelos louros de Camilo Cienfuegos, o charuto do Guevara, a "pachanga" dançada na chuva linda do dia em que entraram em Havana, exaustos, barbados, com fuzis na mão e embriagados de vitória.

A genialidade de Marx me fascinava. Um companheiro me disse uma vez: "Marx estudou economia, história e filosofia e, um dia, sentou na mesa e escreveu um programa para reorganizar a humanidade". Era a invencível beleza da Razão, o poder das ideias "justas", que me estimulava a largar qualquer profissão "burguesa". Meu avô dizia: "Cuidado, Arnaldinho, os comunistas se acham 'médiuns', parece tenda espírita...".

Eu não liguei e fui para os "aparelhos", as reuniões de "base" e, para meu desalento, me decepcionei.

Em vez do charme infinito dos heróis cubanos, comecei a ver o erro, plantado em duas raízes: ou uma patética tentativa de organização da sociedade que nunca se explicitava ou, de outro lado, um delírio radical utópico. Eu e outros "artistas" morávamos numa espécie de "terceira via" revolucionária e começamos a achar caretas ou malucos os nossos camaradas. Nas reuniões e assembleias, surgia sempre a presença rombuda da burrice. A burrice tem sido muito subestimada nas análises históricas. No entanto, ela é presença obrigatória, o convidado de honra: a burrice sólida, assentada em certezas. As discussões intermináveis acabavam diante do enigma: o que fazer? E ninguém sabia. Eu nunca vi gente tão incompetente como os "comunistas". São militantes cheios de fé como evangélicos, mas não sabem fazer porra nenhuma. E até hoje são fiéis a essa ignorância. Trata-se de um cinismo indestrutível em nome de um emaranhado de dogmas que eles chamam de "causas populares". E Lula montou nessa gente e essa gente no Lula.

A grande mentira está adoecendo os homens de bem que romanticamente achavam que o Brasil poderia se modernizar. Os safados atuais acreditam que o País não tem condições de suportar a "delicadeza" da democracia. E como o socialismo é impossível - eles remotamente suspeitam - partiram para o mais descarado populismo, que funciona num país de pobres analfabetos e famintos. E eles são mantidos "in vitro" para futuras eleições. E populismo dura muito. Destruirão a Venezuela e Argentina com a aprovação da população de enganados. É muito longa a "jornada dos imbecis até o entendimento".

Na situação atual, é um insulto vermos o regresso do Brasil a um passado pré-impeachment do Collor. Reaparecem todos os vícios que pareciam suprimidos pela consciência da sociedade. E para além das racionalizações, do "wishful thinking" dos derrotados (tucanos "fortalecidos", etc.), a oposição vai ter de lutar muito para impedir o desastre institucional que pode ser irreversível.

Nas últimas eleições, não houve uma disputa tipo FlaxFlu. É muito mais grave. Estamos descobrindo que temos poucos instrumentos para modernizar o País - tudo parece ter uma vocação para a marcha à ré em direção ao Atraso. O óbvio está berrando à nossa frente e os donos do poder fecham os olhos.

Esta crise não é só política; é psiquiátrica.

Fonte: O Estado de São Paulo, 11 de novembro de 2014

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Apológica (Eu sei que vou te amar)


Apológica

Você é como uma prece.
Você é um momento bom.
Você é o dia que amanhece.
Você é como nascer com um dom.

Você é aquilo que enaltece.
Você é o apropriado tom.
Você é a quem a vida agradece.
Você é o silêncio e o som.

Míriam Martinho 



Reeditado a partir de original de 18/07/2008

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Em Porto Alegre, manifestantes protestam contra memorial para o comunista Luiz Carlos Prestes

Ato ocorreu neste sábadoFoto: Rafael Camargo / Divulgação
Um verdadeiro mar ideológico me separa dos conservadores, de tantas são as diferenças que tenho com eles. Entretanto, considero a necessidade de uma oposição não só parlamentar mas sobretudo civil tão fundamental que sou obrigada a aplaudir a cara e a coragem que os conservas estão tendo de ir para as ruas desafiar a hegemonia esquerdista bolivariana bananeira. E essa esquerda jurássica, fóssil, que tem, em pleno século XXI, a relíquia comunista dos genocidas Castro como Meca, desacostumada com questionamentos, está meio perdidaça com a novidade de ver seus ídolos de pés de barro desafiados.

Não deixa de impressionar a brutal inversão de valores que fazem os jurássicos diante de uma manifestação pacífica, como pode se ver pelo vídeo abaixo sobre um protesto contra um memorial ao comunista Luiz Carlos Prestes.

Diz o presidente do Instituto Olga Benário Prestes, outra comunista, que a manifestação teve dizeres agressivos à democracia, contra o Foro de São Paulo, os comunistas, o Luiz Carlos Prestes, a libertação dos povos. É a novilíngua autoritária em ação. Protestar contra o comunismo é algo contra a democracia, contra a libertação dos povos (sic)? O comunismo é o exato oposto da democracia. O Foro de São Paulo, entidade fundada em 1990 por Lula e Fidel e outras viúvas do Muro de Berlim, é composto de gente com a mesma mentalidade autoritária que construiu os regimes mais assassinos e liberticidas da história da humanidade. E cá entre nós, o que o Luiz Carlos Prestes fez de bom pelo Brasil para ser homenageado com memorial em espaço público?

Parabéns pela manifestação aos organizadores do protesto. Abaixo mesmo os muros físicos e ideológicos com que esses pulhas querem cercear nossa liberdade. Tô me divertindo muito com essas manifestações. 

Memorial Luiz Carlos Prestes é alvo de protesto contra o comunismo

Em parte dos cartazes deixados pelos manifestantes, havia inscrições como "devemos derrubar o memorial"

O Memorial Luiz Carlos Prestes, prédio de Porto Alegre projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, foi alvo de uma manifestação neste sábado. Cartazes, cruzes e coroa de flores foram fixados na grade da construção, situada à beira do Guaíba.

A data escolhida tem relação com os 25 anos da queda do Muro de Berlim, conforme o cientista político Paulo Moura, que ajudou a promover o ato.
Ele (Prestes) está sendo vendido como um herói da pátria, aquele local será objeto de visitação pública. As pessoas que estão promovendo o evento acham que aquilo é para idolatrar um líder comunista que tentou produzir um golpe em 1935 com a Coluna Prestes — afirma o coordenador do curso de Ciências Sociais da Ulbra.
Os cartazes e faixas fixados na grade do prédio iam de "abaixo ao comunismo" até "devemos derrubar o memorial ao comunista Prestes" e "tear down this wall (derrube este muro, em inglês)".
Era um ambiente raivoso de ódio. Constatei à tarde, fui chamado por quem passou por aqui e viu. Claramente, foi uma manifestação com dizeres agressivos à democracia, contra o Foro de São Paulo, os comunistas, o Luiz Carlos Prestes, a libertação dos povos — critica Edson Santos, presidente do Instituto Olga Benário Prestes, que não chegou a ver a movimentação de pessoas, apenas o material deixado por elas.
Santos diz que serão estudadas providências do ponto de vista jurídico e político para o que ele chamou de "ato fascista":
Foi uma manifestação de direita, com símbolos da suástica, do nazifascismo, da TFP (Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade).
Moura salienta que não tem como responder por quem fez esse tipo de cartaz e que, nas manifestações políticas atuais, cada um escreve o que quer.
Uma das características das manifestações hoje em dia é que as pessoas manifestam seu desejo individual. Você não controla o que cada um bota no seu cartaz. Ninguém é dono da verdade de ninguém — explica o cientista político, acrescentando sua contrariedade à aprovação da doação do terreno por parte da Câmara de Vereadores.
Rafael Bonfá, um dos participantes da manifestação, afirma, por e-mail, que a intenção dos cartazes não era enaltecer o nazismo:
Havia sim um cartaz com uma suástica, mas ela estava colocada ao lado da foice e martelo representando os regimes totalitários que tanto mal trouxeram ao mundo
Na página do Facebook criada para organizar o ato, havia o pedido para que não fossem levados cartazes e faixas pedindo intervenção militar. As sugestões eram para inscrições como "nossa homenagem às vítimas do comunismo", "fora Foro de São Paulo", "Prestes assassino", "queremos liberdade e democracia" e "fim do Muro de Berlim na Europa e no Brasil".

Quem foi Luiz Carlos Prestes

— Luiz Carlos Prestes nasceu em Porto Alegre no dia 3 de janeiro de 1898. Aos 26 anos, rebelou-se contra o governo de Arthur Bernardes e formou a Coluna Prestes, movimento que, a partir do Rio Grande do Sul, marchou por 25 mil quilômetros pelo Brasil e lutou 53 combates ao longo de dois anos e meio. Exilou-se na América Latina, quando teve contato com a doutrina marxista, e morou na União Soviética durante três anos, onde conheceu a militante alemã Olga Benário, com quem se casou.

— De volta ao Brasil e já integrante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), foi preso com a mulher que, grávida, foi deportada para a Alemanha nazista. Cassado após o golpe de 1964, exilou-se na antiga União Soviética. Após a redemocratização, apoiou a candidatura de Brizola à presidência da República, em 1989. Morreu no ano seguinte.



Fonte: Zero Hora, por Eduardo Rosa, 08/11/2014

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