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Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Combate ao vandalismo: Só quem respeita limites sabe o que de fato significa a palavra liberdade

As manifestações de rua, depois de junho deste ano, ficaram reduzidas a pequenos grupos de pessoas em geral mais preocupados em vandalizar o patrimônio público e privado, além de interromper o trânsito, do que em reivindicar qualquer coisa objetiva. Agora, a Justiça decidiu (antes tarde do que nunca) interromper esse ciclo de depredações autorizando a polícia a deter gente mascarada e a impedir bloqueios de estradas. 

Como não podia deixar de ser, distorcendo os fatos e a lógica, o pessoal do Black Bloc e o grupo Anonymous estão chorando a repressão estatal que eles próprios criaram. Obviamente, a questão não está nas máscaras com as quais escondem os rostos. O problema reside nos atos de vandalismo perpetrados pelos que ocultam a cara. 

No caso dos Black Blocs, desde que apareceram, seu nome está relacionado com o quebra-quebra de lojas, agências bancárias, sinalizações de trânsito, etc.. Por isso, eu os apelidei de Black Bostas. Bando de manés simplesmente, com excesso de testosterona e escassez de neurônios. No caso do Anonymous é diferente. Participei de algumas marchas contra a corrupção aqui em Sampa e, em todas, pude ver várias pessoas, esparsamente ou em grupo, usando a máscara do V de Vingança. Fora as máscaras, estavam, como os outros manifestantes, protestando pacificamente. Nunca a polícia os deteve nem os manifestantes se incomodaram com sua presença. Pelo contrário, até lhes tinham simpatia, conhecendo todos a simbologia do personagem. Nesse caso, a máscara do V de Vingança aparecia então como algo simbólico, não como tentativa de ocultar a identidade a fim de cometer delitos.

De junho deste ano para cá, contudo, esconder o rosto passou a ser fundamentado SIM na ideia de ocultar a identidade a fim de cometer crimes impunemente. E agora, no Rio ao menos, a polícia  está autorizada a conduzir à delegacia pessoas que usem máscaras em manifestações, para serem identificadas civil e criminalmente, mesmo que não sejam flagradas cometendo algum delito.

É o que dá a falta de senso das pessoas. Não havia restrição ao uso das máscaras do Anonymous porque eles não estavam envolvidos em ações violentas. Misturaram-se aos black bostas e passaram a agir de forma inaceitável para uma democracia. Embora pra lá de capenga, a democracia brasileira funciona ao menos para dar as pessoas o direito constitucional de se manifestar nas ruas contra qualquer coisa. Na Inglaterra do sr. V, por exemplo, uma tirania, ninguém podia se manifestar contra o governo.

Então, usar máscaras nunca foi o problema. O problema é sim o vandalismo dos que têm usado máscaras para agir impunemente, achando que, ao depredar agências bancárias, vão abalar o capitalismo, entre outras pérolas otárias. No vídeo que posto abaixo, diz-se que o país já perdeu 15 bilhões de reais com as depredações e que elas, ao contrário do que pensam os manés anarcotários, só beneficiam os bancos. Assista e entenda o porquê.

Combate ao vandalismo
Estado de S.Paulo

Finalmente a Justiça começa a criar as condições necessárias para coibir a ação de grupos que se infiltram em manifestações pacíficas para promover atos de vandalismo e de outros que delas se aproveitam para perturbar a circulação, provocar congestionamentos e, assim, à custa dos que neles ficam presos horas a fio, chamar a atenção para suas reivindicações.

Poucos dias depois de o juiz Samuel de Castro Barbosa Melo, da 2.ª Vara Federal de São José dos Campos, proibir o Sindicato dos Metalúrgicos da cidade de bloquear as avenidas paralelas à Rodovia Presidente Dutra, durante uma passeata, foi a vez de a Justiça do Estado do Rio atacar o problema dos grupos de baderneiros mascarados, responsáveis pelas depredações que desvirtuam as manifestações.

Já não era sem tempo, porque a destruição por eles causada vem revoltando a população que aceita e vê mesmo com simpatia apenas os protestos pacíficos. Desde terça-feira, por decisão da Justiça do Rio, a polícia local está autorizada a conduzir a uma delegacia pessoas que usem máscaras em manifestações, para serem identificadas civil e criminalmente, mesmo que não sejam flagradas cometendo algum delito. Foram tomados todos os cuidados para garantir que a medida, tomada a pedido da Comissão Especial de Investigação de Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas (Ceiv), não seja burlada.

Para isso, ficou estabelecido, por exemplo, que quem se recusar poderá ser levado à delegacia à força. E ainda que a medida se aplica a todo manifestante que utilizar máscaras ou quaisquer objetos que escondam seu rosto, tais como camisas, capuzes e lenços. Para evitar que policiais cometam excessos, toda abordagem dos mascarados deverá ser filmada. Na delegacia, o manifestante será fotografado e terá suas impressões digitais cadastradas. Essas informações serão enviadas aos responsáveis pelos inquéritos que buscam identificar os vândalos.

A decisão judicial contornou com habilidade a polêmica - que vinha inibindo a tomada de medidas contra os vândalos - sobre a legalidade ou não de proibir o uso de máscara. Segundo o promotor Décio Alonso Gomes, ela não foi proibida, "mas quem esconder o rosto será levado à delegacia para cadastro criminal e depois liberado". Pode recolocar a máscara, retornar à manifestação e ser levado de novo à delegacia. "Os mascarados serão abordados quantas vezes forem necessárias. É uma tentativa de vencê-los pelo cansaço."

Uma outra medida foi adotada para coibir eventuais excessos cometidos por policiais, com base nos quais os advogados dos mascarados conseguem relaxar suas prisões. Os policiais militares (PMs) que atuam em manifestações terão de utilizar coletes com identificação alfanumérica visível, o que deve levá-los a ser mais cautelosos.

Esses cuidados são necessários, pois o que se tem visto com muita frequência é qualquer deslize, por menor que seja, servir para livrar os baderneiros de pagar pelos seus atos. Além disso, as críticas pela dureza com que a PM agiu na repressão às primeiras manifestações, em junho, fez com que os governos dos principais Estados - São Paulo e Rio de Janeiro, logo seguidos pelos outros - determinassem moderação à polícia, que passou de um extremo a outro.

Tudo isso criou para os grupos violentos que se infiltram nas manifestações a certeza da impunidade, levando-os a agir com audácia crescente.

A depredação de bens públicos - como lixeiras, sinalização de trânsito e placas de ruas - e de agências bancárias e revendedoras de automóveis, promovida por grupos como o Black Bloc, que se autointitula anarquista, passou a fazer parte das manifestações, apesar da oposição da maioria pacífica e da população.

É hora de pôr um fim a essa situação, porque os vândalos mascarados fizeram os protestos perder seu sentido original. É preciso separá-los dos verdadeiros manifestantes e tratá-los com todo o rigor que merecem. Para isso, um dos caminho a seguir acaba de ser apontado pela Justiça do Rio.

Fonte: Estado de São Paulo, 05/09/2013

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Clipping Médicos cubanos no Brasil: discriminados pelos governos Dilma e Castro


Fiz um clipping das últimas notícias sobre esse tema que tem ocupado as manchetes das últimas duas semanas. Há controvérsias sobre a qualidade dos médicos cubanos que são exportados para outros países (abaixo, dois deles, fugitivos da ilha-prisão têm opiniões diferentes sobre o assunto), mas não há dúvidas de que chegam ao Brasil em condições de semiescravidão, recebendo apenas pequena porcentagem do que deveriam receber, porque a ditadura castrista se apodera da maior parte de seus salários, sem poder trazer a família, que fica como que sequestrada em Cuba, sem poder pedir asilo.

Com a vinda desses médicos, nessas circunstâncias, o governo e o petismo mergulharam de vez na lama. E os verdadeiros problemas de saúde do Brasil - a falta de infraestrutura, a ausência de um plano de carreira para os médicos - permanece inalterado. Tempos de fezes estes!

Conferir também vídeo sobre o tema ao fim das postagens.

Médicos questionam infraestrutura e exigências e abandonam programa
Profissionais desistem de bolsa federal alegando de precariedade a desconhecimento de regras

Nova fase de inscrições mantém baixa adesão; para ministro, cidades vivem 'drama' igual ao de quando há concurso

Daniel Carvalho, Nelson Barros Neto

A carreira de Nailton Galdino de Oliveira, 34, no programa Mais Médicos, bandeira de Dilma Rousseff (PT) para levar atendimento de saúde ao interior e às periferias, durou menos de 48 horas e exatos 55 atendimentos.

Alegando estar impressionado com a estrutura precária da unidade em Camaragibe (região metropolitana do Recife), onde atuou por dois dias, pediu desligamento.

"É uma aberração: teto caindo, muito mofo e infiltração, uma parede que dá choque, sem ventilação no consultório, sala de vacina em local inapropriado, falta de medicamentos", afirmou.

Casos de desistência como esse frustraram parte dos municípios que deveriam receber anteontem 1.096 médicos brasileiros da primeira etapa do programa (os estrangeiros só vão começar depois).

A Folha encontrou exemplos espalhados pelo país, com justificativas variadas alegadas pelos profissionais --incluindo falta de infraestrutura, planos profissionais e pessoais e desconhecimento de algumas condições.

Na prática, as desistências de brasileiros devem reforçar a dependência do programa por profissionais estrangeiros.

Um balanço da segunda rodada do Mais Médicos mostra baixa adesão de novos interessados na bolsa de R$ 10 mil por mês. Houve só 3.016 inscrições --mais de metade de formados no exterior.

Enquanto isso, a demanda por médicos ultrapassou 16 mil --menos de 10% foi suprida na primeira etapa.

O ministro Alexandre Padilha (Saúde) disse que, após a nova fase, deve pensar "outras estratégias" para atrair mais médicos. Ele comparou as baixas às dificuldades cotidianas de contratação.

"As secretarias estão vivendo o drama que toda vez vivem quando fazem um concurso público", afirmou.

Ele disse que, se houve boicote de médicos contrários ao programa, "é de uma perversidade quase inimaginável".

BAIXAS

Em Vitória da Conquista (BA), dos cinco médicos que deveriam ter começado, três já desistiram. Na região metropolitana de Campinas, dos 13 selecionados, 5 pediram para sair. Na capital paulista, 1 de 6 voltou atrás.

Em Salvador, 5 dos 32 convocados já abandonaram, assim como 11 dos 26 profissionais previstos em Fortaleza. No Recife, 2 desistências foram confirmadas de um total de 12 médicos selecionados.

A Secretaria da Saúde de Salvador disse que três desistiram porque passaram em concursos, enquanto outros dois alegaram problemas com a carga horária.

A baiana Clarissa Oliveira, 27, disse que recuou devido "à falta de estrutura" da unidade em que trabalharia na periferia da capital baiana.

Em Caratinga (MG), um médico de 26 anos disse que abandonou devido à vinculação obrigatória de três anos.

O coordenador do Mais Médicos em Fortaleza, José Carlos de Souza Filho, disse que médicos desistiram logo que "ressaltamos que era necessário cumprir a carga horária de 40 horas e que iriam ficar em bairros mais distantes".

Segundo ele, profissionais acharam que poderiam usar parte da carga horária para se dedicar à especialização.

Em Camaragibe, Nailton Oliveira também alegou não ter recebido alimentação nem moradia individual. A prefeitura nega, diz que ele "demonstrou má vontade" e afirma que a unidade precisa de reparos, mas "nada que impeça seu funcionamento".

Fonte: Folha de São Paulo, 04/09/2013

"Cubanos se preparam há mais de um ano", diz médico
O médico cubano Carlos Rafael Jorge Jimenez, que mora no Brasil há 14 anos, afirma que colegas que ficaram na ilha foram avisados há mais de um ano pelo Ministério da Saúde local sobre missão

Anunciado em julho como uma das principais soluções para o déficit da saúde brasileira, o programa Mais Médicos já era um velho conhecido dos profissionais cubanos. De acordo com o médico cubano Carlos Rafael Jorge Jimenez, seus conterrâneos tanto sabiam da proposta que já se preparavam estudando a língua portuguesa e as condições do Sistema Único de Saúde (SUS). Jimenez participou nesta quarta-feira de uma comissão geral realizada pela Câmara dos Deputados para discutir o programa federal. Também estiveram presentes o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams. 

Carlos Jimenez chegou ao Brasil há 14 anos por vias diferentes dos seus 4.000 conterrâneos — que o governo brasileiro pretender trazer até o fim do ano para atuar em regiões carentes. O profissional fugiu da ditadura cubana e, após uma passagem pela Bolívia, desembarcou no país. Assim como qualquer profissional estrangeiro, fez o exame de revalidação do diploma, requisito para estrangeiros poderem atuar no país, e estudou português. Jimenez teve o direito de trazer seus familiares para Aracaú, no interior do Ceará, onde trabalha no programa de atenção à família e recebe tratamento igualitário ao dos demais profissionais — realidade bem diferente da dos cubanos que integrarão o Mais Médicos.

Apesar de ter fugido da ilha há mais de uma década, ele ainda mantém contato com colegas e amigos que ficaram por lá. Foi em uma conversa com um dos médicos que ainda moram em Cuba, que Jimenez recebeu a notícia de que os cubanos já sabiam da missão ao Brasil. Segundo o colega, eles foram avisados pelo Ministério da Saúde local e, então, começaram os preparativos. “Médicos de outros países vêm com família, livres. Os cubanos têm de deixar seus familiares, trabalham para receber 25%, 30% do salário, não podem sair de seus alojamentos e nem se comunicar com o resto das pessoas. Sou a favor do programa, mas que seja de uma forma correta, sem exploração.” 

Até o final deste ano, o Brasil receberá 4.000 médicos cubanos, que serão distribuídos em 701 municípios, segundo acordo fechado entre o governo e a Organização Panamericana de Saúde (Opas). O Ministério da Saúde anunciou nesta terça-feira que 91% dos profissionais cubanos estarão concentrados em regiões do Norte e do Nordeste do país. 

Governo — Em discurso no plenário da Câmara dos Deputados, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, rebateu as críticas de que o Brasil estaria impondo o regime ditatorial aos profissionais cubanos. “O que nós estamos trazendo não é o regime cubano, não é o seu modelo econômico ou de sociedade”, afirmou. “O que outros países fazem é trazer a experiência de atenção básica. Esse é um país democrático.” 

Padilha usou como exemplo países como Portugal e Canadá para justificar a não-obrigatoriedade da revalidação do diploma para profissionais estrangeiros. Segundo ele, os países utilizam apenas o modelo que está sendo adotado no Brasil: a avaliação de três semanas na universidade. Após isso, os médicos podem atuar — mas apenas na atenção básica. 

Já o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, saiu em defesa da constitucionalidade do programa. Adams apontou que desde a criação houve 53 ações judiciais contra o programa. Todas, porém, foram negadas. “Do ponto de vista constitucional, não vemos nenhuma fragilidade, como vem sendo comprovado nas recorrentes decisões judiciais que vem sendo apresentadas”, apontou.

Fonte: Veja, Marcela Mattos, de Brasília, 04/09/2013

Cubano naturalizado diz que médicos estão sendo explorados
Médico de família no Ceará, com 30 anos de formado, Carlos Jiménez avalia que os cubanos estão sendo discriminados no país


BRASÍLIA - Os médicos de Cuba possuem uma boa formação, mas ganham pouco e têm condições de trabalho ruins quando saem da ilha para trabalhar em outros países, avalia o cubano Carlos Rafael Jorge Jiménez, que fugiu da ilha e, há três anos, trabalha como médico da família no Ceará.

— O Brasil precisa de médicos nas áreas mais carentes, mas que seja de forma correta, e não explorando como estão explorando os médicos cubanos - declarou Jiménez, que tem 30 anos de formado.

Segundo ele, os cubanos dos Mais Médicos, ao ganharem menos que os médicos de outros países e ao não poderem trazer a família, estão sendo discriminados pelos governos do Brasil e de Cuba. Ele afirmou que, em geral, os médicos cubanos em missão no exterior ganham entre 25% e 40% do que é pago pelo país que os recebe ao governo de Cuba. No caso brasileiro, o salário ficaria entre R$ 2,5 mil e R$ 4 mil, frente aos R$ 10 mil que os outros médicos do programa vão receber.

Jiménez saiu de Cuba rumo à Bolívia e, de lá, veio ao Brasil, onde fez o exame de revalidação do diploma e se naturalizou. A esposa e o filho vieram depois. A filha, diz ele, ficou oito anos retida em Cuba, mas conseguiu fugir de barco. Ele se diz representante do Movimento Cristão Liberação, de oposição em Cuba, e está em Brasília para participar de um debate na Câmara sobre o programa Mais Médicos, que já trouxe 400 cubanos ao Brasil.

— Saí de Cuba como turista e fiquei. Não voltei.

Apesar dos problemas, Carlos Rafael destaca que o trabalho no exterior é uma oportunidade cobiçada pelos cubanos.

— É pouco em relação ao que fica com os outros médicos. Mas para os cubanos é muito bom. Um cubano ganha em Cuba 25 dólares por mês, ao redor de R$ 60, R$ 70, com uma carga horária de 60, 70 horas por semana. Então, chegar aqui e ganhar 200, 300, 400 dólares, para eles, é uma coisa muito boa. Eu concordo que os médicos cubanos venham ao Brasil, mas em condições iguais às dos outros médicos — afirmou Carlos Rafael.

Questionado sobre a existência de espiões entre os médicos cubanos, para evitar que eles desertem, Carlos Rafael disse:

— Normalmente vêm. Mas falar se estão vindo ou não, eu não posso falar. É normal que viajem com essas missões. São os coordenadores da missão. (A função deles) É custodiar esses médicos para que não se desvirtuem.

Aulas de português e sobre o SUS começaram no ano passado

No caso dos médicos cubanos que vêm ao Brasil, a preparação para trabalhar por aqui começou já no ano passado, com aulas de português e sobre o funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS), contou Jiménez.

— Esses médicos cubanos estão há mais de um ano se preparando em Cuba para vir ao Brasil. Não foi uma coisa de agora. Estão há mais de um ano tendo aula de português e vendo as características do SUS em Cuba — afirmou ele.

Fonte: O Globo, André de Souza, 04/09/2013

"Nossa medicina é quase de curandeirismo", diz doutor cubano
Gilberto Velazco Serrano, de 32 anos, conta por que, em 2006, desertou de uma missão de seu país na Bolívia - na qual os médicos eram vigiados por paramilitares
Aretha Yarak

O cubano Gilberto Velazco Serrano, de 32 anos, é médico. Na ilha dos irmãos Castro ele aprendeu seu ofício em meio a livros desatualizados e à falta crônica de medicamentos e de equipamentos. Os sonhos de ajudar os desamparados bateram de frente, ainda durante sua formação universitária, com a dura realidade de seu país: falta de infraestrutura, doutrinação política e arbitrariedade por parte do governo. "É triste, mas eu diria que o que se pratica em Cuba é uma medicina quase de curandeirismo”, diz Velazco. 

Ao ser enviado à Bolívia em 2006, para o que seria uma ação humanitária, o médico se viu em meio a uma manobra política, que visava pregar a ideologia comunista. “A brigada tinha cerca de 10 paramilitares, que estavam ali para nos dizer o que fazer”. Velazco não suportou a servidão forçada e fugiu. Sua primeira parada foi pedir abrigo político no Brasil, que permitiu sua estada apenas de maneira provisória. Hoje, ele mora com a família em Miami, nos Estados Unidos, onde tem asilo político e estuda para revalidar seu diploma. De lá, ele concedeu a seguinte entrevista ao site de VEJA:

Como os médicos são selecionados para as missões?
Eles são obrigados a participar. Em Cuba, se é obrigado a tudo, o governo diz até o que você deve comer e o que estudar. As brigadas médicas são apenas uma extensão disso. Se eles precisam de 100 médicos para uma missão, você precisa estar disponível. Normalmente, eles faziam uma filtragem ideológica, selecionavam pessoas alinhadas ao regime. Mas com tantas colaborações internacionais, acredito que essa filtragem esteja menos rígida ou tenha até acabado.

Como foi sua missão?
Fomos enviados 140 médicos para a Bolívia em 2006. Disseram que íamos ficar no país por três meses para ajudar a população após uma enchente. Quando cheguei lá, fiquei sabendo que não chovia há meses. Era tudo mentira. Os três meses iniciais viraram dois anos. O pior de tudo é que o grupo de 140 pessoas não era formado apenas por médicos - havia pelo menos 10 paramilitares. A chefe da brigada, por exemplo, não era médica. Os paramilitares estavam infiltrados para impedir que a gente fugisse.

Paramilitares?
Vi armas dentro das casas onde eles moravam. Eles andavam com dinheiro e viviam em mansões, enquanto nós éramos obrigados a morar nos hospitais com os pacientes internados. Quando chegamos a Havana para embarcar para a Bolívia, assinamos uma lista para registro. Eram 14 listas com 10 nomes cada. Em uma delas, nenhum dos médicos pode assinar. Essa era a lista que tinha os nomes dos paramilitares.

Como era o trabalho dos paramilitares?
Não me esqueço do que a chefe da brigada disse: “Vocês são guerrilheiros, não médicos. Não viemos à Bolívia tratar doenças parasitárias, vocês são guerrilheiros que vieram ganhar a luta que Che Guevara não pode terminar”. Eles nos diziam o que fazer, como nos comportar e eram os responsáveis por evitar deserções e impedir que fugíssemos. Na Bolívia, ela nos disse que deveríamos estudar a catarata. Estávamos lá, a priori, para a atenção básica – não para operações como catarata. Mas tratar a catarata, uma cirurgia muito simples, tinha um efeito psicológico no paciente e também na família. Todos ficariam agradecidos à brigada cubana.

Você foi obrigado a fazer algo que não quisesse?
Certa vez, eu fui para Santa Cruz para uma reunião, lá me disseram que eu teria de ficar no telefone, para atender informações dos médicos e fazer estatísticas. O objetivo era cadastrar o número de atendimentos feitos naquele dia. Alguns médicos ligavam para passar informações, outros não. Eu precisava falar com todos, do contrário os líderes saíam à caça daquele com quem eu não havia conversado. Quando terminei o relatório, 603 pacientes tinham sido atendidos. Na teoria, estávamos em 140 médicos na Bolívia, mas foi divulgado oficialmente que o grupo seria de 680. Então como poderiam ter sido feitas apenas 603 consultas? Acabei tendo que alterar os dados, já que o estabelecido era um mínimo de 72 atendimentos por médico ao dia. Os dados foram falsificados.

Como é a formação de um médico em Cuba?
Muito ruim. É uma graduação extremamente ideologizada, as aulas são teóricas, os livros são velhos e desatualizados. Alguns tinham até páginas perdidas. Aprendi sobre as doenças na literatura médica, porque não tinha reativo de glicemia para fazer um exame, por exemplo. Não dava para fazer hemograma. A máquina de raio-X só podia ser usada em casos extremos. Os hospitais tinham barata, ratos e, às vezes, faltava até água. Vi diversos pacientes que só foram medicados porque os parentes mandavam remédios dos Estados Unidos. Aspirina, por exemplo, era artigo raro. É triste, mas eu diria que é uma medicina quase de curandeiro. Você fala para o paciente que ele deveria tomar tal remédio. Mas não tem. Aí você acaba tendo que indicar um chá, um suco.

Como era feita essa "graduação extremamente ideologizada" que o senhor menciona?
Tínhamos uma disciplina chamada preparação militar. Ficávamos duas semanas por ano fora da universidade para atender a essa demanda. Segundo o governo cubano, o imperialismo iria atacar a ilha e tínhamos que nos defender. Assim, estudávamos tudo sobre bombas químicas, aprendíamos a atirar com rifle, a fazer maquiagem de guerra e a nos arrastar no chão. Mas isso não é algo exclusivo na faculdade de medicina, são ensinamentos dados até a crianças.

Como é o sistema de saúde de Cuba?
O país está vivendo uma epidemia de cólera. Nas últimas décadas não havia registro dessa doença. Agora, até a capital Havana está em crise. A cólera é uma doença típica da pobreza extrema, ela não é facilmente transmissível. Isso acontece porque o sistema público de saúde está deteriorado. Quase não existem mais médicos em Cuba, em função das missões.

Por que você resolveu fugir da missão na Bolívia?
Nasci em Cuba, estudei em Cuba, passei minha vida na ilha. Minha realidade era: ao me formar médico eu teria um salário de 25 dólares, sem permissão para sair do país, tendo que fazer o que o governo me obrigasse a fazer. Em Cuba, o paramédico é uma propriedade do governo. A Bolívia era um país um pouco mais livre, mas, supostamente, eu tinha sido enviado para trabalhar por apenas três meses. Lá, me avisaram que eu teria de ficar por dois anos. Eu não tinha opção. Eram pagos 5.000 dólares por médico, mas eu recebia apenas 100 dólares: 80 em alimentos que eles me davam e os 20 em dinheiro. A verdade é que eu nunca fui pago corretamente, já que médico cubano não pode ter dinheiro em mãos, se não compra a fuga. Todas essas condições eram insustentáveis.

Você pediu asilo no Brasil?
Pedi que o Brasil me ajudasse no refúgio. Aleguei que faria o Revalida e iria para o Nordeste trabalhar em regiões pobres, mas a Polícia Federal disse que não poderia regularizar minha situação. Consegui um refúgio temporário, válido de 1 de novembro de 2006 a 4 de fevereiro de 2007. Nesse meio tempo, fui à embaixada dos Estados Unidos e fui aprovado.

Após a sua deserção, sua família sofreu algum tipo de punição?
Eles foram penalizados e tiveram de ficar três anos sem poder sair de Cuba. Meus pais nunca receberam um centavo do governo cubano enquanto estive na Bolívia, mas sofreram represálias depois que eu decidi fugir.

Quando você foi enviado à Bolívia era um recém-formado. A primeira leva de cubanos no Brasil é composta por médicos mais experientes...
Pelo o que vivi, sei que isso é tudo uma montagem de doutrinação. Essas pessoas são mais velhas porque os jovens como eu não querem a ditadura. Eu saí de Cuba e não voltei mais. No caso das pessoas mais velhas, talvez eles tenham família, marido, filhos em Cuba. É mais improvável que optem pela fuga e deixem seus familiares para trás. Geralmente, são pessoas que vivem aterrorizadas, que só podem falar com a imprensa quando autorizadas.

Os médicos cubanos que estão no Brasil deveriam fazer o Revalida?
Sim. Em Cuba, os médicos têm de passar por uma revalidação para praticar a medicina dentro do país. Sou favorável que os médicos estrangeiros trabalhem no Brasil, mas eles precisam se adequar à legislação local. Além do mais, a formação médica em Cuba está muito crítica. Eu passei o fim da minha graduação dentro de um programa especial de emergência. A ideia era que eles reduzissem em um ano minha formação, para que eu pudesse ser enviado à Bolívia. O governo cubano está fazendo isso: acelerando a graduação para poder enviar os médicos em missões ao exterior.

Fonte: Veja, 31/08/2013

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Manifestações de 7 de setembro: voltando às ruas para melhorar o Brasil!


Novas manifestações, organizadas nas redes sociais, estão previstas para o dia 7 de setembro próximo em todo o Brasil. As principais bandeiras são o combate a corrupção, ações nas áreas de saúde e educação, reformas políticas, tributárias, entre outras chamadas.

Abaixo, links dos eventos cadastrados e confirmados para cada cidade e um vídeo de convocação do Anonymous para os eventos.

ACRE
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ALAGOAS
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AMAPÁ
____________________
AMAZONAS
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BAHIA
CEARÁ
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DISTRITO FEDERAL
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ESPÍRITO SANTO
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GOIÁS
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MARANHÃO
____________________
MATO GROSSO
____________________
MATO GROSSO DO SUL
https://www.facebook.com/events/292118647592293/
____________________
MINAS GERAIS
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PARÁ
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PARAÍBA
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PARANÁ
https://www.facebook.com/events/469431986481521/ https://www.facebook.com/events/338240642975662/
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PERNAMBUCO
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PIAUÍ
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RIO DE JANEIRO
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RIO GRANDE DO NORTE
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RIO GRANDE DO SUL
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RONDÔNIA
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RORAIMA
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SANTA CATARINA
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SÃO PAULO
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SERGIPE
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TOCANTINS
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EXTERIOR
Fonte: Folha Política, Lígia Ferreira, 02/09/2013

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Há 50 anos Martin Luther King fazia o discurso "I Have a Dream" (Eu tenho um sonho)


Há 50 anos Martin Luther King fazia o discurso "I Have a Dream" (Eu tenho um sonho) que entrou para a História como o corolário do movimento pelos direitos civis dos negros americanos e um verdadeiro mote para todas as pessoas que lutam por igualdade de direitos e oportunidades para todos os seres humanos.

Todo o discurso que transcrevo abaixo, traduzido e em versão original, acompanhado de vídeo com o pronunciamento do reverendo, em 28 de agosto de 1963, no Lincoln Memorial, em Washington, é uma grande peça de oratória cívica e democrática que propõe, a partir dos próprios princípios democráticos, que se passasse do discurso à prática, ou seja, que se efetivasse a igualdade entre negros e brancos perante a lei, igualdade sempre negada aos negros na história americana. 

Em um pronunciamento emocionante, em tom mítico-religioso, pleno de significado e bastante acessível a públicos variados, Martin Luther King propunha simplesmente transformar sonho em realidade. E sua proposta continua a ecoar até hoje, tendo no trecho abaixo o cerne de sua mensagem que deveria ser a bandeira de todos os movimentos sociais, bandeira, contudo, que anda meio rasgada hoje em dia. 

Pode-se trocar o "não julgada pela cor da pele" por qualquer outra particularidade que leve a preconceitos e discriminações que dá na mesma. O sonho de que detalhes que diferenciam as pessoas deixem de ser obstáculos a sua realização como indivíduos nas sociedades permanece tão válido hoje quanto há 50 anos.
Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!
Nesta quarta-feira, a passagem dos 50 anos do discurso de Luther King será lembrada, no mesmo local onde o reverendo o proferiu, pelo Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o que, por razões óbvias, trará mais emoção ainda a essa data já tão marcante.


Eu tenho um sonho

"Eu estou contente em unir-me com vocês no dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação.

Cem anos atrás, um grande americano, na qual estamos sob sua simbólica sombra, assinou a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de esperança para milhões de escravos negros que tinham murchados nas chamas da injustiça. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros.

Mas cem anos depois, o Negro ainda não é livre.

Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação e as cadeias de discriminação.

Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade americana e se encontram exilados em sua própria terra. Assim, nós viemos aqui hoje para dramatizar sua vergonhosa condição.

De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória para a qual todo americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os homens negros, como também os homens brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo negro um cheque sem fundo, um cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes".

Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da justiça.

Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o momento para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranqüilizante do gradualismo.

Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia.

Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol da justiça racial.

Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a pedra sólida da fraternidade. Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus.

Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este verão sufocante do legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador outono de liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo. Esses que esperam que o Negro agora estará contente, terão um violento despertar se a nação votar aos negócios de sempre. 

Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser culpados de ações de injustiças. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. Novamente e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à comunidade negra que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só.

E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos à frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os devotos dos direitos civis, "Quando vocês estarão satisfeitos?"

Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos motéis das estradas e os hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem abaixo como águas de uma poderosa correnteza.

Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns de você vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade lhe deixaram marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos de brutalidade policial. Você são o veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixe caiar no vale de desespero.

Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.

Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.

Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.

Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.

Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.

Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado.

"Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto.

Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,

De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!"

E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro.

E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire.

Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York.

Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.

Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado.

Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.

Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.

Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.

Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi.

Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.

E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho spiritual negro:

"Livre afinal, livre afinal.

Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal."

Fonte: DHNET
Martin Luther King's "I Have a Dream" speech, August 28, 1963 
I am happy to join with you today in what will go down in history as the greatest demonstration for freedom in the history of our nation.

Five score years ago, a great American, in whose symbolic shadow we stand today, signed the Emancipation Proclamation. This momentous decree came as a great beacon of hope to millions of slaves, who had been seared in the flames of withering injustice. It came as a joyous daybreak to end the long night of their captivity. But one hundred years later, the colored America is still not free. One hundred years later, the life of the colored American is still sadly crippled by the manacle of segregation and the chains of discrimination.

One hundred years later, the colored American lives on a lonely island of poverty in the midst of a vast ocean of material prosperity. One hundred years later, the colored American is still languishing in the corners of American society and finds himself an exile in his own land So we have come here today to dramatize a shameful condition.

In a sense we have come to our Nation's Capital to cash a check. When the architects of our great republic wrote the magnificent words of the Constitution and the Declaration of Independence, they were signing a promissory note to which every American was to fall heir.

This note was a promise that all men, yes, black men as well as white men, would be guaranteed to the inalienable rights of life liberty and the pursuit of happiness.

It is obvious today that America has defaulted on this promissory note insofar as her citizens of color are concerned. Instead of honoring this sacred obligation, America has given its colored people a bad check, a check that has come back marked "insufficient funds."

But we refuse to believe that the bank of justice is bankrupt. We refuse to believe that there are insufficient funds in the great vaults of opportunity of this nation. So we have come to cash this check, a check that will give us upon demand the riches of freedom and security of justice.

We have also come to his hallowed spot to remind America of the fierce urgency of Now. This is not time to engage in the luxury of cooling off or to take the tranquilizing drug of gradualism.

Now is the time to make real the promise of democracy.

Now it the time to rise from the dark and desolate valley of segregation to the sunlit path of racial justice.

Now it the time to lift our nation from the quicksands of racial injustice to the solid rock of brotherhood.

Now is the time to make justice a reality to all of God's children.

It would be fatal for the nation to overlook the urgency of the moment and to underestimate the determination of its colored citizens. This sweltering summer of the colored people's legitimate discontent will not pass until there is an invigorating autumn of freedom and equality. Nineteen sixty-three is not an end but a beginning. Those who hope that the colored Americans needed to blow off steam and will now be content will have a rude awakening if the nation returns to business as usual.

There will be neither rest nor tranquility in America until the colored citizen is granted his citizenship rights. The whirlwinds of revolt will continue to shake the foundations of our nation until the bright day of justice emerges.

We can never be satisfied as long as our bodies, heavy with the fatigue of travel, cannot gain lodging in the motels of the highways and the hotels of the cities.

We cannot be satisfied as long as the colored person's basic mobility is from a smaller ghetto to a larger one.

We can never be satisfied as long as our children are stripped of their selfhood and robbed of their dignity by signs stating "for white only."

We cannot be satisfied as long as a colored person in Mississippi cannot vote and a colored person in New York believes he has nothing for which to vote.

No, we are not satisfied and we will not be satisfied until justice rolls down like waters and righteousness like a mighty stream.

I am not unmindful that some of you have come here out of your trials and tribulations. Some of you have come from areas where your quest for freedom left you battered by storms of persecutions and staggered by the winds of police brutality.

You have been the veterans of creative suffering. Continue to work with the faith that unearned suffering is redemptive.

Go back to Mississippi, go back to Alabama, go back to South Carolina go back to Georgia, go back to Louisiana, go back to the slums and ghettos of our modern cities, knowing that somehow this situation can and will be changed.

Let us not wallow in the valley of despair. I say to you, my friends, we have the difficulties of today and tomorrow.

I still have a dream. It is a dream deeply rooted in the American dream.

I have a dream that one day this nation will rise up and live out the true meaning of its creed. We hold these truths to be self-evident that all men are created equal.

I have a dream that one day out in the red hills of Georgia the sons of former slaves and the sons of former slaveowners will be able to sit down together at the table of brotherhood.

I have a dream that one day even the state of Mississippi, a state sweltering with the heat of oppression, will be transformed into an oasis of freedom and justice.

I have a dream that my four little children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by their character.

I have a dream today.

I have a dream that one day down in Alabama, with its vicious racists, with its governor having his lips dripping with the words of interpostion and nullification; that one day right down in Alabama little black boys and black girls will be able to join hands with little white boys and white girls as sisters and brothers.

I have a dream today.

I have a dream that one day every valley shall be engulfed, every hill shall be exalted and every mountain shall be made low, the rough places will be made plains and the crooked places will be made straight and the glory of the Lord shall be revealed and all flesh shall see it together.

This is our hope. This is the faith that I will go back to the South with. With this faith we will be able to hew out of the mountain of despair a stone of hope.

With this faith we will be able to transform the jangling discords of our nation into a beautiful symphony of brotherhood.

With this faith we will be able to work together, to pray together, to struggle together, to go to jail together, to climb up for freedom together, knowing that we will be free one day.

This will be the day when all of God's children will be able to sing with new meaning "My country 'tis of thee, sweet land of liberty, of thee I sing. Land where my father's died, land of the Pilgrim's pride, from every mountainside, let freedom ring!"

And if America is to be a great nation, this must become true. So let freedom ring from the hilltops of New Hampshire. Let freedom ring from the mighty mountains of New York.

Let freedom ring from the heightening Alleghenies of Pennsylvania.

Let freedom ring from the snow-capped Rockies of Colorado.

Let freedom ring from the curvaceous slopes of California.

But not only that, let freedom ring from Stone Mountain of Georgia.

Let freedom ring from every hill and molehill of Mississippi and every mountainside.

When we let freedom ring, when we let it ring from every tenement and every hamlet, from every state and every city, we will be able to speed up that day when all of God's children, black men and white men, Jews and Gentiles, Protestants and Catholics, will be able to join hands and sing in the words of the old spiritual, "Free at last, free at last. Thank God Almighty, we are free at last."

Prepared by Gerald Murphy (The Cleveland Free-Net - aa300) Distributed by the Cybercasting Services Division of the National Public Telecomputing Network (NPTN).

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Grupos que recorrem à violência, devem ser duramente reprimidos, pois são ameaças reais à existência da democracia.

Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na UFRGS
Concordo inteiramente com o filósofo Denis Rosenfield: grupos que recorrem à violência, devem ser duramente reprimidos, pois são ameaças reais à existência da democracia. Sou idealmente libertária, sonho com uma sociedade que possa se autogerenciar sem a figura do Estado, muito mais uma fonte de problemas do que de soluções, como a história da humanidade nos conta, sobretudo a do século passado, com seus regimes totalitários. Entretanto, como não sou porra-louca, sei que tal sonho ainda está bem distante, particularmente no Brasil, então realisticamente apoio iniciativas no sentido de diminuir o tamanho do Estado, colocando-o sobre as rédeas da população, e que tornem a democracia brasileira realmente mais representativa.

Existe muita gente de diferentes nuances ideológicas que questiona o sistema democrático, por suas falhas, mas não se pode, por causa delas, solapar-se a democracia representativa, sob o risco, como também a História nos ensina, de ver surgir mais uma vez a barbárie autoritária, identifique-se ela como for. Daí que é de suma importância começar de fato a coibir os manifestantes violentos (black bostas, anarcotários, psolistas, etc...), não importando o que as redes sociais, cheias de "revolucionários anticapitalistas", pensem e digam. Essas baixarias violentas até contra hospitais não podem continuar acontecendo impunemente. Há formas de se protestar de maneira democrática no Brasil. Os que não entendem isso precisam ser reprimidos mesmo!    

Democracia e violência
Denis Lerrer Rosenfield * 

A democracia é uma forma de regramento de conflitos e de repressão à violência. Traduz-se o regramento pelo Estado de Direito, no qual as leis, válidas para todos, se caracterizam pela imparcialidade, impessoalidade e universalidade. As regras que a constituem não são, por isso mesmo, arbitrárias, mas fruto de todo um ordenamento constitucional, garantido pelo voto de todos os cidadãos.

Não pode ela, então, conviver com a violência que ameaça a estabilidade constitucional e a segurança jurídica e física. Contratos devem ser respeitados e os bens públicos e dos cidadãos, garantidos pela autoridade estatal, em particular pela polícia e pelo Judiciário. O mesmo vale para a integridade física das pessoas e seu direito de livre circulação pelas ruas.

Causa, portanto, a maior surpresa constatarmos que em recentes manifestações carros de empresas de comunicação foram destruídos; sedes dessas mesmas empresas, ameaçadas; agências bancárias, vandalizadas; revendas de carros, igualmente destruídas; tudo isso sob o olhar complacente da polícia, como se não devesse intervir. Até o Hospital Sírio-Libanês foi palco de obstruções, impedindo pessoas de recorrer à sua emergência. A noção de limite foi perdida!

Acrescentem-se a invasão ao Palácio do Itamaraty, a ameaça física ao governador do Rio, Sérgio Cabral, que não pode fazer uso de seu apartamento, perturbando seus vizinhos, as tentativas de coagir o governador paulista, Geraldo Alckmin, em frente ao palácio do governo, para que tenhamos um quadro mais completo da inércia reinante. Convém lembrar, seguindo a lição de Hobbes, que a formação do Estado pressupõe que este exerça o monopólio da violência. Os cidadãos abdicariam do seu uso em proveito da paz e da ordem públicas, condição da sociabilidade humana. Imaginem se cada um puxasse uma arma ou agredisse fisicamente qualquer pessoa para resolver um conflito. Seria o caos completo.

O mesmo vale para os grupos que se digladiam pelo poder, usando o voto para dirimir os conflitos e lutas inerentes à sua conquista. Com tal objetivo é estabelecida uma série de pré-requisitos para o ordenamento dessa disputa, como eleições periódicas, liberdade de organização partidária, imprensa e outros meios de comunicação livres, respeito aos resultados, direito das minorias e assim por diante. Em caso de descontentamento, devem os inconformados dirigir-se aos tribunais, no caso brasileiro, ao Tribunal Superior Eleitoral.

Grupos que não aceitam o Estado de Direito e a ordem constitucional, recorrendo à violência, devem, sim, ser duramente reprimidos, pois são ameaças reais à existência da democracia. Se agirem livremente, só tendem a enfraquecer as instituições. Pretendem ser aceitos democraticamente, tendo como finalidade a eliminação da própria democracia. Criam, para isso, um clima de instabilidade institucional.

Note-se que nas jornadas de junho e nas manifestações de julho/agosto grupos de extrema esquerda fizeram uso impunemente da violência, como se esta fosse um instrumento legítimo de luta política. Na verdade, eles são a negação da política, embora recorram a supostas justificativas sociais. Uma das mais recorrentes é alegar que são contra a "criminalização dos movimentos sociais". O que isso significa? Apenas um passaporte para o uso irrestrito da violência, algo que lhes garantiria a impunidade. Pretendem estar ao abrigo da lei, desrespeitando-a completamente. Na verdade, são criminosos que atentam contra a ordem democrática e, por isso mesmo, deveriam ser presos e julgados, não mais circulando livremente pelas ruas.

Para inibir a ação policial contam com o apoio de uma mídia alternativa atualmente em voga, cuja especialidade é filmar policiais que estão cumprindo a sua função, recorrendo à força para reprimir atos violentos que se voltam contra a ordem pública. É o seu dever. E o que acontece, então? São apresentados, segundo o ângulo da foto e/ou da filmagem, como "brutamontes" que estariam reprimindo jovens e estudantes... A inversão é total!

Os mascarados que saqueiam, destroem, ameaçam fisicamente as pessoas e produzem medo generalizado são apresentados como "heróis" sociais. Em vez de a lei ser a eles aplicada, teríamos a justificativa da violência, como se esta devesse ser aceita. O intolerável não pode ser democraticamente tolerado, sob pena de instabilizarmos as instituições, que são as garantes da paz pública, princípio primeiro do Estado.

As jornadas de junho, caracterizadas por serem essencialmente manifestações pacíficas de descontentamento e crítica aos partidos políticos e às autoridades constituídas, nos níveis federal, estadual e municipal, atingindo todos os partidos políticos, sem exceção, foram uma prova inequívoca da vitalidade de nossa democracia. Angariaram ampla simpatia popular, alcançando pessoas das mais diferentes faixas etárias, de renda e de escolaridade. A sociedade, autonomamente mobilizada pelas redes sociais, soube dizer não ao que está aí, farta de demagogia, de falta de representatividade política, de altos impostos que se traduzem em serviços públicos de baixa qualidade.

A inconformidade com a corrupção e o desvio de recursos públicos foi flagrante, mostrando cidadãos atentos aos valores básicos de toda convivência propriamente política. Repudiaram claramente a violência, a ponto de alguns participantes e simpatizantes dessas jornadas dizerem que não aceitariam participar desse tipo de manifestações. A violência foi e é amplamente rechaçada, numa nítida demonstração de uma sociedade civil madura.

A questão, contudo, consiste na disparidade entre essa maturidade social e a falta de legitimidade das autoridades públicas, que nem da irrupção da violência sabem tratar. Quando passarão a respeitar as suas obrigações constitucionais, próprias da democracia?

Fonte: O Estado de S.Paulo*Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na UFRGS. E-mail:denisrosenfield@terra.com.br

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