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Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

As frases emblemáticas sobre o julgamento do mensalão no Jornal Nacional

E continua tão distraída que pode dar São Paulo ao ladrão
Durante quase três meses, o país acompanhou o julgamento do mensalão. Ao longo desse período, algumas frases ouvidas no plenário do Supremo ajudaram a dar a dimensão histórica do momento.

Onze ministros e muitos momentos para ficar na história.

“Esses fatos estão com as vísceras expostas. Eles gritam. Cegar para essa realidade é golpear a própria sociedade”, afirmou Carlos Ayres Britto, presidente do STF.

O dinheiro é para o crime o que o sangue é para veia. Ou seja, se não circular com volume e sem obstáculo, não temos esquemas criminosos como esses”, avaliou a ministra Cármen Lúcia.“Esse processo criminal revela a face sombria daqueles que, no controle do aparelho de estado, transformaram a cultura da transgressão em prática ordinária e desonesta de poder”, definiu o ministro Celso de Mello.

“A entidade bancária serviu de verdadeira lavanderia de dinheiro para se cometer um crime que não está nem previsto, mas esse deveria ser o nome: gestão tenebrosa, pelos riscos que acarreta e pelas consequências que acarreta à economia popular”, disse o ministro Luiz Fux.

Discussão, argumentos, teses jurídicas e muita inspiração. Na música:

“Dormia a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações”, disse Roberto Gurgel, procurador-geral da República.

Inspiração no paladar:

“Nordestinamente, eu diria, é isso mesmo, gosto de jiló, gosto de mandioca roxa, gosto de berinjela crua. Ou seja, algo de vinagre, algo de fel, fica no céu da boca do magistrado, que se vê na obrigação de condenar alguém”, comparou Ayres Britto.

Foram mais de 200 horas de julgamento. Do plenário, saíram também lições que vão ecoar por toda a sociedade brasileira.

“Agentes públicos que se deixam corromper, qualquer que seja sua posição, são eles corruptos e corruptores, os profanadores da República, os subversivos da ordem institucional. São eles os delinquentes, marginais da ética do poder”, definiu Celso de Mello.

“O estado brasileiro não tolera o poder que corrompe e nem admite o poder que se deixa corromper”, comentou Celso de Mello.“Nenhum juiz verdadeiramente digno da sua vocação condena ninguém por ódio”, afirmou o ex-ministro do STF Cezar Peluso.

“Corrupção significa não que alguém foi furtado de alguma coisa, mas que uma sociedade inteira foi furtada pela escola que não chega, pelo posto de saúde que não se tem. Eu acho que esse julgamento dá exatamente o testemunho de que o estado de direito, a política é, sim, necessária para qualquer lugar deste planeta”, declarou Cármen Lúcia.

 

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A condenação do PT (um partido neofascista)


No artigo Petismo, neobolchevismo neofascista abordei as semelhanças entre a estrutura corrupta e autoritária do PT e o fascismo de Mussolini. Citei também outro autor, o cientista político Paulo Roberto de Almeida, que fez análise semelhante sobre o projeto de poder do petismo, moldado em conluio com políticos corruptos, empresários inescrupulosos e oportunistas de todos os tipos.  Agora, o conhecido historiador Marco Antonio Villa também analisa a estrutura fascista do PT. Destaco o trecho:

"O único projeto da aristocracia petista — conservadora, oportunista e reacionária — é de se perpetuar no poder. A estratégia petista conta com o apoio do que há de pior no Brasil. É uma associação entre políticos corruptos, empresários inescrupulosos e oportunistas de todos os tipos. O que os une é o desejo de saquear o Estado."
Por Marco Antonio Villa

O julgamento do mensalão atingiu duramente o Partido dos Trabalhadores. As revelações acabaram por enterrar definitivamente o figurino construído ao longo de décadas de um partido ético, republicano e defensor dos mais pobres. Agora é possível entender as razões da sua liderança de tentar, por todos os meios, impedir a realização do julgamento. Não queriam a publicização das práticas criminosas, das reuniões clandestinas, algumas delas ocorridas no interior do próprio Palácio do Planalto, caso único na história brasileira.

Muito distante das pesquisas acadêmicas — instrumentalizadas por petistas — e, portanto, mais próximos da realidade, os ministros do STF acertaram na mosca ao definir a liderança petista, em 2005, como uma sofisticada organização criminosa e que, no entender do ministro Joaquim Barbosa, tinha como chefe José Dirceu, ex-presidente do PT e ministro da Casa Civil de Lula. Segundo o ministro Celso de Mello: “Este processo criminal revela a face sombria daqueles que, no controle do aparelho de Estado, transformaram a cultura da transgressão em prática ordinária e desonesta de poder.” E concluiu: “É macrodelinquência governamental.” O presidente Ayres Brito foi direto: “É continuísmo governamental. É golpe.”

O julgamento do mensalão desnudou o PT, daí o ódio dos seus fanáticos militantes com a Suprema Corte e, principalmente, contra o que eles consideram os “ministros traidores”, isto é, aqueles que julgaram segundo os autos do processo e não de acordo com as determinações emanadas da direção partidária. Como estão acostumados a lotear as funções públicas, até hoje não entenderam o significado da existência de três poderes independentes e, mais ainda, o que é ser ministro do STF. Para eles, especialmente Lula, ministro da Suprema Corte é cargo de confiança, como os milhares criados pelo partido desde 2003. Daí que já começaram a fazer campanha para que os próximos nomeados, a começar do substituto de Ayres Brito, sejam somente aqueles de absoluta confiança do PT, uma espécie de ministro companheiro. E assim, sucessivamente, até conseguirem ter um STF absolutamente sob controle partidário.

A recepção da liderança às condenações demonstra como os petistas têm uma enorme dificuldade de conviver com a democracia. Primeiramente, logo após a eclosão do escândalo, Lula pediu desculpas em pronunciamento por rede nacional. No final do governo mudou de opinião: iria investigar o que aconteceu, sem explicar como e com quais instrumentos, pois seria um ex-presidente. Em 2011 apresentou uma terceira explicação: tudo era uma farsa, não tinha existido o mensalão. Agora apresentou uma quarta versão: disse que foi absolvido pelas urnas — um ato falho, registre-se, pois não eram um dos réus do processo. Ao associar uma simples eleição com um julgamento demonstrou mais uma vez o seu desconhecimento do funcionamento das instituições — registre-se que, em todas estas versões, Lula sempre contou com o beneplácito dos intelectuais chapas-brancas para ecoar sua fala.

As lideranças condenadas pelo STF insistem em dizer que o partido tem que manter seu projeto estratégico. Qual? O socialismo foi abandonado e faz muito tempo. A retórica anticapitalista é reservada para os bate-papos nostálgicos de suas velhas lideranças, assim como fazem parte do passado o uso das indefectíveis bolsas de couro, as sandálias, as roupas desalinhadas e a barba por fazer. A única revolução petista foi na aparência das suas lideranças. O look guevarista foi abandonado. Ficou reservado somente à base partidária. A direção, como eles próprios diriam em 1980, “se aburguesou”. Vestem roupas caras, fizeram plásticas, aplicam botox a três por quatro. Só frequentam restaurantes caros e a cachaça foi substituída pelo uísque e o vinho, sempre importados, claro.

O único projeto da aristocracia petista — conservadora, oportunista e reacionária — é de se perpetuar no poder. Para isso precisa contar com uma sociedade civil amorfa, invertebrada. Não é acidental que passaram a falar em controle social da imprensa e... do Judiciário. Sabem que a imprensa e o Judiciário acabaram se tornando, mesmo sem o querer, nos maiores obstáculos à ditadura de novo tipo que almejam criar, dada ausência de uma oposição político-partidária.

A estratégia petista conta com o apoio do que há de pior no Brasil. É uma associação entre políticos corruptos, empresários inescrupulosos e oportunistas de todos os tipos. O que os une é o desejo de saquear o Estado. O PT acabou virando o instrumento de uma burguesia predatória, que sobrevive graças às benesses do Estado. De uma burguesia corrupta que, no fundo, odeia o capitalismo e a concorrência. E que encontrou no partido — depois de um século de desencontros, namorando os militares e setores políticos ultraconservadores — o melhor instrumento para a manutenção e expansão dos seus interesses. Não deram nenhum passo atrás na defesa dos seus interesses de classe. Ficaram onde sempre estiveram. Quem se movimentou em direção a eles foi o PT.

Vivemos uma quadra muito difícil. Remar contra a corrente não é tarefa das mais fáceis. As hordas governistas estão sempre prontas para calar seus adversários.

Mas as decisões do STF dão um alento, uma esperança, de que é possível imaginar uma república em que os valores predominantes não sejam o da malandragem e da corrupção, onde o desrespeito à coisa pública é uma espécie de lema governamental e a mala recheada de dinheiro roubado do Erário tenha se transformado em símbolo nacional.

MARCO ANTONIO VILLA é historiador e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos

Baixaria do "kit gay" prejudicou Serra: Marketing e núcleo político divergiram da ofensiva tucana

Ao ecoar a ignorância e o preconceito conservador contra "kit gay",
Serra prejudicou a própria candidatura
Do marketing ao núcleo político da campanha de José Serra (PSDB), a avaliação é de que o tucano "demorou demais" para minimizar o debate sobre o kit anti-homofobia, no qual sequer deveria ter entrado.
O candidato já havia sido avisado por interlocutores, às vésperas do primeiro turno, que o assunto poderia vir à tona e lhe era perigoso. Na campanha presidencial de 2010, Serra ficou negativamente marcado pela discussão de temas como religião e legalização do aborto, que lhe grudaram uma pecha conservadora que, segundo os mais próximos, nada tem a ver com as reais convicções do tucano.
Para estes grupos da campanha tucana, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus e que ofertou seu apoio a Serra, é "incontrolável". Mas Serra teria errado ao comentar a diferença do material distribuído nas escolas estaduais em 2009, quando governador, daquele que estava sendo feito no Ministério da Educação à época de Haddad como ministro. Dizem que ali o candidato "deu corda" a um assunto ingrato, impossível de abordar na propaganda televisiva e desgastante do ponto de vista político. Avaliam que o candidato fora influenciado a falar por pessoas alheias à campanha, de seu círculo pessoal.
Sobre a estratégia para a última semana da disputa, tucanos alegam que não há o que mudar. Mostram-se atônitos com os resultados mostrados por pesquisas como Ibope e Datafolha, que dão ao adversário petista uma dianteira de 20 pontos percentuais. A campanha faz pesquisas diárias por telefone com amostras de 1000 entrevistados. Todas indicam situação de empate técnico e um número de indecisos de quase um terço do eleitorado - bem maior do que aparece nas sondagens dos institutos.
Um tucano envolvido na estratégia de campanha alega que um mesmo grupo faz pesquisa para o PSDB desde 1994 e "nunca errou". Portanto, seria descabido duvidar dos resultados e mudar o discurso por causa das diferenças em relação ao Datafolha e Ibope. As pesquisas qualitativas do grupo mostram que o eleitor indeciso tende a fazer uma aposta "segura" na última hora. Isso norteou as inserções televisivas que vendem o candidato do PSDB como experiente e realizador, em contraponto a um adversário que "não está preparado", segundo a peça.

Fonte: Valor Econômico - 23/10/2012

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

No meio do caminho tinha um kit gay. Tinha um kit gay no meio do caminho!

No meio do caminho tinha um kit gay. Tinha um kit gay no meio do caminho
Em novo podcast, comento outra vez as eleições de São Paulo e as razões para a situação adversa que enfrenta o candidato tucano José Serra. Na minha opinião, entre outros fatores para esse resultado, sem dúvida, pesou a crise de identidade ideológica de Serra que, a fim de fazer média com conservadores, meteu-se a ecoar a visão destes no caso do famigerado "kit gay".  Cometeu o erro fatal de criticar o tal "kit gay", projeto com a mesma perspectiva educacional de luta contra a discriminação que ele próprio já endossara quando governador. A contradição indiscutível abalou sua credibilidade e, não por coincidência, infelizmente marcou sua queda nas pesquisas.

Ouça o podcast e deixe sua opinião sobre o mesmo. Agradeço a audição!


Atualização (29/10): Transcrição do podcast

Hoje vou voltar a comentar as eleições para a prefeitura de São Paulo e os problemas da candidatura do tucano José Serra. Os institutos de pesquisa têm errado sobremaneira, em todo o país, mas não se pode relevar o que indicam a respeito da vantagem de Haddad sobre o candidato do PSDB.

Vários fatores podem ter contribuído para essa situação, tais como a avaliação negativa da gestão do atual prefeito Kassab, considerado herdeiro de Serra, a própria rejeição à Serra que já estava alta no primeiro turno, a campanha milionária do rival e sua máquina de mistificações e difamações, etc. Tudo isso, contudo, já existia no primeiro turno, mas não impediu Serra de chegar ao segundo, inclusive liderando o pleito, embora não se possa desconsiderar que, na primeira etapa da eleição, a máquina de destruição de reputações do PT tenha mirado principalmente Russomano e não o tucano.

Qual o fator então que pesou decididamente para o atual resultado adverso? Na minha opinião, sem dúvida a crise de identidade ideológica de Serra que, para fazer média com conservadores, meteu-se a ecoar a visão destes no caso do famigerado kit gay. (Abordei este tema, aliás, no podcast anterior A Encruzilhada de Serra ou Os conservadores precisam de um partido para chamar de seu). Quando da eleição de 2010, Serra já havia flertado com conversadores ao abordar o tema do aborto, mas, naquela ocasião, não chegou a público nenhuma contradição concreta sobre a posição do candidato relativa ao assunto antes do pleito e durante o mesmo. Só rolou uma história de que sua mulher havia feito um aborto, mas a nota ficou com cara de fofoca baixaria de imprensa sensacionalista. 

Desta vez, contudo, ao criticar o tal kit gay de Haddad, por supostamente “não ensinar mas sim doutrinar”, Serra foi confrontado com o fato de que ele próprio já tinha aprovado um projeto também dirigido a escolas onde a questão da homossexualidade é abordada a partir da mesma perspectiva da do projeto Escola sem Homofobia. Na postagem Cartilha deSerra também pode ser considerada “doutrinação para o homossexualismo, reproduzi o texto do projeto e um dos vídeos que o acompanha para quem quiser verificar a abordagem. E o fiz, porque, mesmo sendo eleitora do tucano, não gosto de mentiras e, sobretudo, não gosto  de mentiras que podem prejudicar os projetos de combate a discriminações nas escolas.

Além do que, seja na boca da Dilma/Haddad ou do Serra, essa história de que o apelidado kit gay não “ensinava mas sim fazia doutrinação do homo ou bisssexualismo ou fazia proselitismo homossexual ou ainda propaganda de opções sexuais” é simplesmente ridícula. Na verdade, esse tipo de “argumento” visa apenas impedir que se desconstrua o preconceito que leva à discriminação que atinge estudantes homossexuais em salas de aula, na contramão do posicionamento dos organismos internacionais de defesa dos direitos humanos sobre a questão da homofobia.

Também existe tanto proselitismo da bissexualidade em afirmar que bissexuais são afortunados, por terem toda a humanidade entre a qual encontrar um parceiro ou parceira, quanto dizer que depois da noite vem o dia e vice-versa. Aliás, diga-se de passagem, se não fosse toda a repressão promovida pelo kit hétero (essa camisa de força que já vem malhada antes da gente nascer), provavelmente a maioria das pessoas seria bissexual. No fundo, esses conservadores morrem de medo é de que as pessoas de repente se deem conta de que o rei sempre esteve nu. De qualquer forma, pode-se fazer a prova dos nove com eles e perguntar qual a proposta que teriam de combate à homofobia que não faça “proselitismo homossexual”. Gostaria de saber como  combater a homofobia sem tratar a homo e a bissexualidade como naturais.  

Mas voltando aos percalços da candidatura do Serra, alguém pode contestar que seja a ligação com conservadores o grande problema do tucano, já que o PT também tem feito alianças com todo o tipo de reacionários (Collor, Sarney, Maluf, Bispo Macedo, Garotinho) mas continua vencendo eleições com ajuda destes. Entretanto, como já havia comentado no podcast anterior, a única coisa que o PT sabe fazer bem é mentir. Tem uma muito azeitada máquina de mistificação e difamações cujos tentáculos se espalham pela imprensa, blogs, movimentos sociais, etc. O PSDB não tem. Tucanos são ruins até em propagandear suas realizações quanto mais em sustentar mentiras. O PT, ao contrário, acusa os outros de fazer aquilo que ele mesmo faz, e a mentira cola. 

Por isso, Serra devia ter aprendido a se esquivar de certas polêmcias a partir da experiência com a campanha anterior, para a presidência da República, onde já fora rotulado de promotor do conservadorismo pelo fato de o tema do aborto ter permeado as eleições. Ele não tem a rede de proteção dos caras-de-pau que os candidatos petistas têm. Basta lembrar que Dilma Roussef se dizia  favorável à legalização do aborto antes das eleições de 2010, depois durante as mesmas negou tudo, indo fingir devoção religiosa em igrejas da cidade de Aparecida, mas foi Serra quem ficou com a fama de reacionário do pleito. Dilma também disse, como comentei anteriormente, que o tal “kit gay” fazia propaganda de opções sexuais, ao vetá-lo com anuência de Haddad, mas só Serra é quem está levando a fama de vendido ao atraso por suas declarações sobre o Escola sem Homofobia.

Mas Serra não aprendeu com a eleição de 2010 e cometeu o erro fatal de criticar o tal kit gay, projeto com a mesma perspectiva educacional de luta contra a discriminação que ele próprio já endossara quando governador. A contradição indiscutível abalou sua credibilidade e, não por coincidência, marcou sua queda nas pesquisas. Sob críticas inclusive de membros de seu próprio partido, por flertar com o conservadorismo, o tucano decidiu não mais tocar no assunto, porém, o estrago à sua candidatura parece ter sido irremediável. Para tentar vencer os petralhas, Serra teria que ter buscado se diferenciar deles, mantendo-se coerente com sua trajetória social-democrata e não ter-se permitido virar porta-voz de um grupo ao qual nunca pertenceu.

Por outro lado, os conservadores, a quem andou paparicando, insistem em dizer, ao contrário  das evidências, que a queda de Serra nas pesquisas é por conta da campanha do mesmo ser covarde, por ele não ter mostrado aos eleitores o que Haddad pretendia levar às escolas, a seus filhos, irmãos, sobrinhos, netos, pelo candidato ter amarelado enfim ao desistir do seu postiço discurso conservador. Se assim fosse, só para citar um exemplo, resta explicar porque os votos de Russomano não migraram para Serra e sim para Haddad no segundo turno.

Impressiona aliás a arrogância e a prepotência desses que se dizem conservadores e se encarapitaram na candidatura do Serra. Embora não consigam organizar um partido próprio, para defender sua visão de mundo, acham que são muito bons de votos por ter blogs com milhões de acessos. Milhões de acessos em blogs que até agora não se traduziram nas cerca de apenas 500 mil assinaturas necessárias para se registrar um partido nem nos milhões de votos para eleger um candidato mesmo numa cidade considerada conservadora como São Paulo? De fato, segundo o Data Folha, em pesquisa publicada ontem, dia 21/10, a maioria do eleitorado paulistano é mais liberal do que conservadora, se juntarmos os muito liberais, os liberais e os mais ou menos liberais em oposição aos conservadores e muito conservadores. De fato, sempre achei esse papo de que Sampa é conservadora uma tremenda bobagem. Isso é muito relativo.

De qualquer forma, pode-se argumentar que não tendo candidato próprio, os conservadores encamparam quem lhes pareceu em condições de bater o PT. Mas aí pelo menos deveriam ter respeitado o histórico do candidato e não tentar descaracterizá-lo para atender a seus anseios. Querer que um candidato não-conservador encampe a agenda conservadora, em flagrante contradição com sua própria trajetória, e ainda sair pregando a ética e a honestidade contra a quadrilha do PT?  Conservador pode fazer a realpolitk, mas o PT não? O resultado desse oportunismo é simplesmente o nivelamento de todos ao mesmo patamar do petralhismo, o que só o beneficia.

Entretanto, a arrogância e a prepotência desses conservadores são de tal tamanho que não aceitam o fato do candidato e seus assessores simplesmente terem se tocado que a candidatura ficou bem mal na foto, pelas contradições cometidas, e decidido tentar reverter o desastre recolocando o tucano em seu trilho natural. Fora que unsoutros “cons“, diante do possível naufrágio da candidatura tucana, já estão tirando o seuzinho conservador da reta, com uma conversa mole de que não tem preconceito de espécie alguma, mas que insistiram para o candidato tucano bater o bumbo do kit gay porque os pais têm o direito de escolher como querem que se ensine seus filhos.

Preconceitos todos temos – e quem diz que não tem mente – mas precisamos cuidar para que nossos preconceitos não se transformem em discriminação. E é a isso que os projetos de combate à homofobia nas escolas, entre outras discriminações, se propõem: trabalhar parar que os preconceitos trazidos do berço pelos alunos os tornem perseguidores de outros alunos, diferentes da maioria por qualquer razão, impedindo estes últimos de estudar e ter a correspondente ascensão social a qual todos têm direito. Há algo de bem errado na cabeça de pessoas que não aceitam essa proposta.

Finalizando, infelizmente, ao que tudo indica, Serra dificilmente será prefeito de São Paulo, embora seja de longe o mais capaz dos candidatos em disputa. Pior, ele sai dessa eleição com a imagem de reacionário que nunca foi, e nós, paulistanos, é que vamos pagar o pato de ter na prefeitura de nossa cidade uma quadrilha fascistóide que vai usá-la para se reerguer das acusações do mensalão e aprofundar a corrosão da democracia brasileira.

E, desta vez, se confirmada a eleição de Haddad, pode-se dizer que os petistas contaram, para a vitória, com a ajuda inestimável dos ditos conservadores que tanto os detestam. Obviamente estes últimos deveriam fazer alguma autocrítica, mas duvido que o façam. Sofrem da mesma ojeriza pelo espelho que os petistas. Continuarão apenas postando comentários irados e preconceituosos, em redes sociais e na caixa de comentários de seus blogs com milhões de acessos, sem tirar a bunda e a cabeça quadradas da frente do computador a fim de tentar ao menos um partido que os represente para que não precisem mais ser tão oportunistas e tão contraproducentes numa próxima eleição. 

Para nós, demais paulistanos que não nos incluímos nem entre as viúvas do Muro de Berlim nem entre os cruzados medievais, só nos resta orar para que a Fortuna não nos abandone e que o Mal não deite raízes fundas demais que nos impossibilite tirá-las posteriormente. 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

FHC pondo as coisas no seu devido lugar: FHC diz a aliados que campanha de Serra flerta com conservadorismo

Dá-lhe, Fernandão! 
FHC diz a aliados que campanha de Serra flerta com conservadorismo

Tucanos acham que kit anti-homofobia não deveria ser abordado
CATIA SEABRA
MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem criticado duramente a campanha do tucano José Serra à prefeitura, especialmente o flerte do candidato com o que chama de setores conservadores.

Segundo tucanos, FHC lamenta, por exemplo, a aliança de Serra com os opositores da cartilha anti-homofobia produzida na gestão de Fernando Haddad no Ministério da Educação. O kit não foi distribuído por determinação da presidente Dilma Rousseff após pressão da bancada religiosa no Congresso.

Presidente de honra do PSDB, FHC alerta os aliados para o risco de Serra sair desta eleição com o rótulo de conservador após a exploração de temas como o kit contra a homofobia e o aborto -questão que abordou na sua campanha à Presidência em 2010.

AÉCIO

FHC também se queixa da resistência de Serra a conselhos, como o de levar o senador Aécio Neves à propaganda eleitoral já no primeiro turno numa tentativa de afastar os rumores de que, se eleito, deixaria a prefeitura para concorrer à Presidência.

FHC não é o único contrariado com os rumos da campanha. Amigo de Serra, de quem foi vice na chapa para o Palácio dos Bandeirantes em 2006, o ex-governador Alberto Goldman diz que não alimentaria o debate sobre o chamado "kit gay".

"Não foi Serra quem abordou. Mas, se fosse ele, não responderia. Diria que não tem nada a ver com a eleição para a prefeitura", disse.

Ministro da Justiça no governo FHC, José Gregori também demonstra desconforto com o tema. Segundo ele, a opinião de apoiadores de Serra, como o pastor Silas Malafaia, não retrata a do próprio candidato. Mas, numa campanha eleitoral, diz, essas discussões afloram. "O velho Serra, nesta altura da vida, não mudou", afirma.

Fonte: Folha de São Paulo, 18/10/12

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