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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Baixaria do "kit gay" prejudicou Serra: Marketing e núcleo político divergiram da ofensiva tucana

Ao ecoar a ignorância e o preconceito conservador contra "kit gay",
Serra prejudicou a própria candidatura
Do marketing ao núcleo político da campanha de José Serra (PSDB), a avaliação é de que o tucano "demorou demais" para minimizar o debate sobre o kit anti-homofobia, no qual sequer deveria ter entrado.
O candidato já havia sido avisado por interlocutores, às vésperas do primeiro turno, que o assunto poderia vir à tona e lhe era perigoso. Na campanha presidencial de 2010, Serra ficou negativamente marcado pela discussão de temas como religião e legalização do aborto, que lhe grudaram uma pecha conservadora que, segundo os mais próximos, nada tem a ver com as reais convicções do tucano.
Para estes grupos da campanha tucana, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus e que ofertou seu apoio a Serra, é "incontrolável". Mas Serra teria errado ao comentar a diferença do material distribuído nas escolas estaduais em 2009, quando governador, daquele que estava sendo feito no Ministério da Educação à época de Haddad como ministro. Dizem que ali o candidato "deu corda" a um assunto ingrato, impossível de abordar na propaganda televisiva e desgastante do ponto de vista político. Avaliam que o candidato fora influenciado a falar por pessoas alheias à campanha, de seu círculo pessoal.
Sobre a estratégia para a última semana da disputa, tucanos alegam que não há o que mudar. Mostram-se atônitos com os resultados mostrados por pesquisas como Ibope e Datafolha, que dão ao adversário petista uma dianteira de 20 pontos percentuais. A campanha faz pesquisas diárias por telefone com amostras de 1000 entrevistados. Todas indicam situação de empate técnico e um número de indecisos de quase um terço do eleitorado - bem maior do que aparece nas sondagens dos institutos.
Um tucano envolvido na estratégia de campanha alega que um mesmo grupo faz pesquisa para o PSDB desde 1994 e "nunca errou". Portanto, seria descabido duvidar dos resultados e mudar o discurso por causa das diferenças em relação ao Datafolha e Ibope. As pesquisas qualitativas do grupo mostram que o eleitor indeciso tende a fazer uma aposta "segura" na última hora. Isso norteou as inserções televisivas que vendem o candidato do PSDB como experiente e realizador, em contraponto a um adversário que "não está preparado", segundo a peça.

Fonte: Valor Econômico - 23/10/2012

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

No meio do caminho tinha um kit gay. Tinha um kit gay no meio do caminho!

No meio do caminho tinha um kit gay. Tinha um kit gay no meio do caminho
Em novo podcast, comento outra vez as eleições de São Paulo e as razões para a situação adversa que enfrenta o candidato tucano José Serra. Na minha opinião, entre outros fatores para esse resultado, sem dúvida, pesou a crise de identidade ideológica de Serra que, a fim de fazer média com conservadores, meteu-se a ecoar a visão destes no caso do famigerado "kit gay".  Cometeu o erro fatal de criticar o tal "kit gay", projeto com a mesma perspectiva educacional de luta contra a discriminação que ele próprio já endossara quando governador. A contradição indiscutível abalou sua credibilidade e, não por coincidência, infelizmente marcou sua queda nas pesquisas.

Ouça o podcast e deixe sua opinião sobre o mesmo. Agradeço a audição!


Atualização (29/10): Transcrição do podcast

Hoje vou voltar a comentar as eleições para a prefeitura de São Paulo e os problemas da candidatura do tucano José Serra. Os institutos de pesquisa têm errado sobremaneira, em todo o país, mas não se pode relevar o que indicam a respeito da vantagem de Haddad sobre o candidato do PSDB.

Vários fatores podem ter contribuído para essa situação, tais como a avaliação negativa da gestão do atual prefeito Kassab, considerado herdeiro de Serra, a própria rejeição à Serra que já estava alta no primeiro turno, a campanha milionária do rival e sua máquina de mistificações e difamações, etc. Tudo isso, contudo, já existia no primeiro turno, mas não impediu Serra de chegar ao segundo, inclusive liderando o pleito, embora não se possa desconsiderar que, na primeira etapa da eleição, a máquina de destruição de reputações do PT tenha mirado principalmente Russomano e não o tucano.

Qual o fator então que pesou decididamente para o atual resultado adverso? Na minha opinião, sem dúvida a crise de identidade ideológica de Serra que, para fazer média com conservadores, meteu-se a ecoar a visão destes no caso do famigerado kit gay. (Abordei este tema, aliás, no podcast anterior A Encruzilhada de Serra ou Os conservadores precisam de um partido para chamar de seu). Quando da eleição de 2010, Serra já havia flertado com conversadores ao abordar o tema do aborto, mas, naquela ocasião, não chegou a público nenhuma contradição concreta sobre a posição do candidato relativa ao assunto antes do pleito e durante o mesmo. Só rolou uma história de que sua mulher havia feito um aborto, mas a nota ficou com cara de fofoca baixaria de imprensa sensacionalista. 

Desta vez, contudo, ao criticar o tal kit gay de Haddad, por supostamente “não ensinar mas sim doutrinar”, Serra foi confrontado com o fato de que ele próprio já tinha aprovado um projeto também dirigido a escolas onde a questão da homossexualidade é abordada a partir da mesma perspectiva da do projeto Escola sem Homofobia. Na postagem Cartilha deSerra também pode ser considerada “doutrinação para o homossexualismo, reproduzi o texto do projeto e um dos vídeos que o acompanha para quem quiser verificar a abordagem. E o fiz, porque, mesmo sendo eleitora do tucano, não gosto de mentiras e, sobretudo, não gosto  de mentiras que podem prejudicar os projetos de combate a discriminações nas escolas.

Além do que, seja na boca da Dilma/Haddad ou do Serra, essa história de que o apelidado kit gay não “ensinava mas sim fazia doutrinação do homo ou bisssexualismo ou fazia proselitismo homossexual ou ainda propaganda de opções sexuais” é simplesmente ridícula. Na verdade, esse tipo de “argumento” visa apenas impedir que se desconstrua o preconceito que leva à discriminação que atinge estudantes homossexuais em salas de aula, na contramão do posicionamento dos organismos internacionais de defesa dos direitos humanos sobre a questão da homofobia.

Também existe tanto proselitismo da bissexualidade em afirmar que bissexuais são afortunados, por terem toda a humanidade entre a qual encontrar um parceiro ou parceira, quanto dizer que depois da noite vem o dia e vice-versa. Aliás, diga-se de passagem, se não fosse toda a repressão promovida pelo kit hétero (essa camisa de força que já vem malhada antes da gente nascer), provavelmente a maioria das pessoas seria bissexual. No fundo, esses conservadores morrem de medo é de que as pessoas de repente se deem conta de que o rei sempre esteve nu. De qualquer forma, pode-se fazer a prova dos nove com eles e perguntar qual a proposta que teriam de combate à homofobia que não faça “proselitismo homossexual”. Gostaria de saber como  combater a homofobia sem tratar a homo e a bissexualidade como naturais.  

Mas voltando aos percalços da candidatura do Serra, alguém pode contestar que seja a ligação com conservadores o grande problema do tucano, já que o PT também tem feito alianças com todo o tipo de reacionários (Collor, Sarney, Maluf, Bispo Macedo, Garotinho) mas continua vencendo eleições com ajuda destes. Entretanto, como já havia comentado no podcast anterior, a única coisa que o PT sabe fazer bem é mentir. Tem uma muito azeitada máquina de mistificação e difamações cujos tentáculos se espalham pela imprensa, blogs, movimentos sociais, etc. O PSDB não tem. Tucanos são ruins até em propagandear suas realizações quanto mais em sustentar mentiras. O PT, ao contrário, acusa os outros de fazer aquilo que ele mesmo faz, e a mentira cola. 

Por isso, Serra devia ter aprendido a se esquivar de certas polêmcias a partir da experiência com a campanha anterior, para a presidência da República, onde já fora rotulado de promotor do conservadorismo pelo fato de o tema do aborto ter permeado as eleições. Ele não tem a rede de proteção dos caras-de-pau que os candidatos petistas têm. Basta lembrar que Dilma Roussef se dizia  favorável à legalização do aborto antes das eleições de 2010, depois durante as mesmas negou tudo, indo fingir devoção religiosa em igrejas da cidade de Aparecida, mas foi Serra quem ficou com a fama de reacionário do pleito. Dilma também disse, como comentei anteriormente, que o tal “kit gay” fazia propaganda de opções sexuais, ao vetá-lo com anuência de Haddad, mas só Serra é quem está levando a fama de vendido ao atraso por suas declarações sobre o Escola sem Homofobia.

Mas Serra não aprendeu com a eleição de 2010 e cometeu o erro fatal de criticar o tal kit gay, projeto com a mesma perspectiva educacional de luta contra a discriminação que ele próprio já endossara quando governador. A contradição indiscutível abalou sua credibilidade e, não por coincidência, marcou sua queda nas pesquisas. Sob críticas inclusive de membros de seu próprio partido, por flertar com o conservadorismo, o tucano decidiu não mais tocar no assunto, porém, o estrago à sua candidatura parece ter sido irremediável. Para tentar vencer os petralhas, Serra teria que ter buscado se diferenciar deles, mantendo-se coerente com sua trajetória social-democrata e não ter-se permitido virar porta-voz de um grupo ao qual nunca pertenceu.

Por outro lado, os conservadores, a quem andou paparicando, insistem em dizer, ao contrário  das evidências, que a queda de Serra nas pesquisas é por conta da campanha do mesmo ser covarde, por ele não ter mostrado aos eleitores o que Haddad pretendia levar às escolas, a seus filhos, irmãos, sobrinhos, netos, pelo candidato ter amarelado enfim ao desistir do seu postiço discurso conservador. Se assim fosse, só para citar um exemplo, resta explicar porque os votos de Russomano não migraram para Serra e sim para Haddad no segundo turno.

Impressiona aliás a arrogância e a prepotência desses que se dizem conservadores e se encarapitaram na candidatura do Serra. Embora não consigam organizar um partido próprio, para defender sua visão de mundo, acham que são muito bons de votos por ter blogs com milhões de acessos. Milhões de acessos em blogs que até agora não se traduziram nas cerca de apenas 500 mil assinaturas necessárias para se registrar um partido nem nos milhões de votos para eleger um candidato mesmo numa cidade considerada conservadora como São Paulo? De fato, segundo o Data Folha, em pesquisa publicada ontem, dia 21/10, a maioria do eleitorado paulistano é mais liberal do que conservadora, se juntarmos os muito liberais, os liberais e os mais ou menos liberais em oposição aos conservadores e muito conservadores. De fato, sempre achei esse papo de que Sampa é conservadora uma tremenda bobagem. Isso é muito relativo.

De qualquer forma, pode-se argumentar que não tendo candidato próprio, os conservadores encamparam quem lhes pareceu em condições de bater o PT. Mas aí pelo menos deveriam ter respeitado o histórico do candidato e não tentar descaracterizá-lo para atender a seus anseios. Querer que um candidato não-conservador encampe a agenda conservadora, em flagrante contradição com sua própria trajetória, e ainda sair pregando a ética e a honestidade contra a quadrilha do PT?  Conservador pode fazer a realpolitk, mas o PT não? O resultado desse oportunismo é simplesmente o nivelamento de todos ao mesmo patamar do petralhismo, o que só o beneficia.

Entretanto, a arrogância e a prepotência desses conservadores são de tal tamanho que não aceitam o fato do candidato e seus assessores simplesmente terem se tocado que a candidatura ficou bem mal na foto, pelas contradições cometidas, e decidido tentar reverter o desastre recolocando o tucano em seu trilho natural. Fora que unsoutros “cons“, diante do possível naufrágio da candidatura tucana, já estão tirando o seuzinho conservador da reta, com uma conversa mole de que não tem preconceito de espécie alguma, mas que insistiram para o candidato tucano bater o bumbo do kit gay porque os pais têm o direito de escolher como querem que se ensine seus filhos.

Preconceitos todos temos – e quem diz que não tem mente – mas precisamos cuidar para que nossos preconceitos não se transformem em discriminação. E é a isso que os projetos de combate à homofobia nas escolas, entre outras discriminações, se propõem: trabalhar parar que os preconceitos trazidos do berço pelos alunos os tornem perseguidores de outros alunos, diferentes da maioria por qualquer razão, impedindo estes últimos de estudar e ter a correspondente ascensão social a qual todos têm direito. Há algo de bem errado na cabeça de pessoas que não aceitam essa proposta.

Finalizando, infelizmente, ao que tudo indica, Serra dificilmente será prefeito de São Paulo, embora seja de longe o mais capaz dos candidatos em disputa. Pior, ele sai dessa eleição com a imagem de reacionário que nunca foi, e nós, paulistanos, é que vamos pagar o pato de ter na prefeitura de nossa cidade uma quadrilha fascistóide que vai usá-la para se reerguer das acusações do mensalão e aprofundar a corrosão da democracia brasileira.

E, desta vez, se confirmada a eleição de Haddad, pode-se dizer que os petistas contaram, para a vitória, com a ajuda inestimável dos ditos conservadores que tanto os detestam. Obviamente estes últimos deveriam fazer alguma autocrítica, mas duvido que o façam. Sofrem da mesma ojeriza pelo espelho que os petistas. Continuarão apenas postando comentários irados e preconceituosos, em redes sociais e na caixa de comentários de seus blogs com milhões de acessos, sem tirar a bunda e a cabeça quadradas da frente do computador a fim de tentar ao menos um partido que os represente para que não precisem mais ser tão oportunistas e tão contraproducentes numa próxima eleição. 

Para nós, demais paulistanos que não nos incluímos nem entre as viúvas do Muro de Berlim nem entre os cruzados medievais, só nos resta orar para que a Fortuna não nos abandone e que o Mal não deite raízes fundas demais que nos impossibilite tirá-las posteriormente. 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

FHC pondo as coisas no seu devido lugar: FHC diz a aliados que campanha de Serra flerta com conservadorismo

Dá-lhe, Fernandão! 
FHC diz a aliados que campanha de Serra flerta com conservadorismo

Tucanos acham que kit anti-homofobia não deveria ser abordado
CATIA SEABRA
MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem criticado duramente a campanha do tucano José Serra à prefeitura, especialmente o flerte do candidato com o que chama de setores conservadores.

Segundo tucanos, FHC lamenta, por exemplo, a aliança de Serra com os opositores da cartilha anti-homofobia produzida na gestão de Fernando Haddad no Ministério da Educação. O kit não foi distribuído por determinação da presidente Dilma Rousseff após pressão da bancada religiosa no Congresso.

Presidente de honra do PSDB, FHC alerta os aliados para o risco de Serra sair desta eleição com o rótulo de conservador após a exploração de temas como o kit contra a homofobia e o aborto -questão que abordou na sua campanha à Presidência em 2010.

AÉCIO

FHC também se queixa da resistência de Serra a conselhos, como o de levar o senador Aécio Neves à propaganda eleitoral já no primeiro turno numa tentativa de afastar os rumores de que, se eleito, deixaria a prefeitura para concorrer à Presidência.

FHC não é o único contrariado com os rumos da campanha. Amigo de Serra, de quem foi vice na chapa para o Palácio dos Bandeirantes em 2006, o ex-governador Alberto Goldman diz que não alimentaria o debate sobre o chamado "kit gay".

"Não foi Serra quem abordou. Mas, se fosse ele, não responderia. Diria que não tem nada a ver com a eleição para a prefeitura", disse.

Ministro da Justiça no governo FHC, José Gregori também demonstra desconforto com o tema. Segundo ele, a opinião de apoiadores de Serra, como o pastor Silas Malafaia, não retrata a do próprio candidato. Mas, numa campanha eleitoral, diz, essas discussões afloram. "O velho Serra, nesta altura da vida, não mudou", afirma.

Fonte: Folha de São Paulo, 18/10/12

Em São Paulo não se trata apenas de escolher um prefeito — é preciso brecar um projeto hegemônico do PT que ameaça a democracia

SP, não sou conduzido,
conduzo
O jornalista Ricardo Setti, com coluna na Veja, sumarizou muito bem as razões pelas quais, apesar de muitos pesares, ainda mantenho meu voto  em José Serra: brecar o projeto hegemônico do PT que ameaça a democracia.

Da mesma forma que não quero um Brasil socialista (como bem disse Ferreira Gulllar, quem ainda acredita nisso é maluco) não quero um Brasil reacionário, moralista e com tendências teocráticas. No fundo, esses são dois extremos que praticamente se tocam.

Quero um Brasil democrático, inclusivo, laico, liberal (nas diferentes acepções do termo) mas que também combata os diversos preconceitos que dividem as pessoas e impedem que todos tenham a mesma condição de largada na vida.

É perfeitamente possível combater preconceitos e discriminações sem partir para cotas e privilégios. Com boa educação para todos e um ambiente de livre expressão, sem os extremistas de plantão que hoje nos reprimem, podemos sim, na base do diálogo, da troca de ideias, promover um país melhor. Mas para isso é fundamental que se mantenha presente essa senhora tão polêmica mas tão imprescindível chamada democracia. Portanto, FORA PT!

Até o 
 sabe:
O importante agora é derrotar o Haddad porque ele é incompetente e porque sua vitoria fortalece o Lula e a turma do Mensalão.

Em São Paulo não se trata apenas de escolher um prefeito — é preciso brecar um projeto hegemônico do PT que ameaça a democracia
Por Ricardo Setti 

No próximo dia 28, em São Paulo, a maior e mais importante cidade do Brasil, não estará sendo apenas eleito um novo prefeito, escolhido entre José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT).
Estará em jogo, mais que isso, decidir se o PT prosseguirá, ou não, com seu projeto hegemônico, de “cristinakirchnerização” da vida pública brasileira, de ocupar com seus quadros todos os espaços possíveis, de tornar difícil, se conseguir, a vida da imprensa livre, de permanecer no poder custe o que custar, mesmo depois do mensalão.
Estará em jogo, em última instância, uma fatia importante da democracia brasileira.
O tucano José Serra, então, é um novo Messias? É o melhor candidato da história da República? É um super-herói sem máculas que barrará o avanço dos malvados vilões da fita?
O petista Fernando Haddad, por sua vez, seria o demônio personificado? Um troglodita político que esmagará a porretadas as liberdades públicas, de seu gabinete no Viaduto do Chá?
Nada disso, é claro.
Serra tem qualidades que o ódio de seus inimigos não reconhece: enorme experiência, um saldo muito positivo como secretário do Planejamento do governador Franco Montoro (1983-1987), como um dos deputados mais ativos da Constituinte, um senador profícuo, um ministro da Saúde que marcou época, um prefeito efêmero, mas eficaz, da cidade de São Paulo, um excelente governador do Estado durante três anos e meio.
Tem defeitos? Deus sabe que sim: é excessivamente centralizador, não ouve quase ninguém, deveria ser menos arrogante e ter mais respeito pelos adversários (e, às vezes, pelos próprios aliados), ostenta um péssimo humor que não ajuda em nada suas tarefas.
Pesam contra ele acusações? Sim, pesam, a começar pela tal história do tal Paulo Preto. Mas não custa lembrar que o PT está há dez anos no poder, há dez anos tem o Ministério da Justiça, há dez anos manda na Polícia Federal. Se trabalharmos com fatos, a pergunta é obrigatória: onde estão as investigações, ou sequer os indícios de qualquer irregularidade?
Haddad é um quadro novo, relativamente jovem (além de não aparentar seus 49 anos) e promissor do PT. Professor da USP, bacharel, mestre e doutor e, diferentemente da maioria dos graduados petistas trabalhou, sim, na iniciativa privada, e ainda mais no setor financeiro. Já está na vida pública há 11 anos, com passagem pela área de economia e planejamento tanto na Prefeitura de São Paulo como trabalhando com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Seus sete anos como ministro da Educação do lulalato e de Dilma foram um período de altos e baixos, e o saldo, a despeito de seus esforços, não passou de medíocre e controvertido.
O problema não está em Haddad, cujas qualidades incluem a afabilidade pessoal e o bom trato com assessores e subordinados.
Lula leva Haddad a tiracolo para a fato antes inimaginável: mendigando minutos na TV de Maluf na casa de Maluf (Foto: Folhapress)
O problema é o projeto de que Haddad – por força do dedazo de Lula, que o empurrou como candidato goela abaixo do PT paulistano — faz parte. Haddad, que Lula levou pela mão no humilhante e outrora absolutamente inimaginável peregrinação até a casa de Paulo Maluf, quando vendeu mais uma parte da alma do PTem troca e menos de 2 minutos de tempo na TV.
O projeto de Lula, que é também…
* o projeto de comprar o Congresso com dinheiro sujo, e subordiná-lo ao Executivo,
* o projeto de José Dirceu, do “bater neles nas urnas e nas ruas”,
* o projeto de que cooptou quase todo o leque partidário à custa de cargos, vantagens e tudo o que antes se criticava da “velha política” brasileira no afã de alcançar, dispor de e manter o poder até onde a vista alcança,
* o projeto de um “núcleo duro” que, com raríssimas exceções, nunca escondeu seu desprezo pela “democracia burguesa”,
* o projeto de Rui Falcão, aquele que, embora membro dela desde sempre, denuncia “a elite” e ofende o Supremo Tribunal Federal ao incluí-lo entre a oposição “conservadora, suja e reacionária”,
* o projeto da turma de Franklin Martins, que ressurge dentro do PT querendo o “controle social” da imprensa, sinônimo de calar a imprensa livre,
* o projeto dos que consideram as consideram as condenações impostas pelo Supremo Tribunal Federal a mensaleiros e ladravazes como um “golpe” da oposição –coitadinha dela — e da imprensa, um improvável e espantoso golpe contra um EX-presidente, não aceitando as regras mais elementares da democracia e do Estado de Direito,
* o projeto de quem, propositalmente, martela nos ouvidos da opinião pública que quem se opõe aos desígnios do PT “é contra o Brasil” — como fazia a ditadura militar com o “ame-o ou deixe-o”,
* o projeto de quem esvaziou, desmoralizou e politizou as agências reguladoras — criadas para serem entes de Estado, e não de governo, com padrão e ação técnicos –, distribuindo-as como moeda de troca entre partidos,
* o projeto de quem inchou com milhares de militantes partidários os quadros da administração pública,
* o projeto de quem distribuiu cargos gordíssimos e bem remunerados em conselhos de estatais e de fundos de pensão de funcionários de estatais a sindicalistas “companheiros” — não pela competência, mas pela afinidade ideológica,
* o projeto de quem prestou, e em menor grau ainda continua prestando, seguidas homenagens a regimes párias como o de Cuba e o do Irã, e estende tapete vermelho a demagogos autoritários como Hugo Chávez ou governantes que pisam nos interesses brasileiros, como Evo Morales,
* o projeto de quem tratou os narco-terroristas das chamadas “Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia”, as Farc, como grupo político no cenário colombiano, e não como os bandidos, sequestradores e assassinos que são, tendo por eles mais consideração do que com os governos democráticos, mas “de direita”, de Bogotá,
* o projeto de quem envergonhou o Brasil se abstendo de condenar, na ONU, regimes que pisoteiam os direitos humanos, concedendo prioridade em desferir caneladas em aliados ocidentais, a começar pelos Estados Unidos,
* o projeto de quem, qual república de bananas, abriu generosamente os braços ao terrorista e assassino Cesare Battisti, concedendo-lhe o status de refugiado político e ferindo os brios de uma democracia exemplar como a Itália, país amigo e terra dos ancestrais de mais de 30 milhões de brasileiros,
* o projeto de quem, na oposição, por décadas se opôs sistematicamente, por razões ideológicas, a medidas que beneficiavam o Brasil, de tal forma que nada que a atual oposição faça possa nem de longe lembrar o comportamento deletério e derrotista manifestado por Lula e o lulo-petismo ao longo de sucessivos governos,
* o projeto a que resiste, como uma rocha, há 18 anos, o eleitorado do Estado de São Paulo, acompanhado há menos tempo pelos eleitores Minas Gerais e, aqui e ali, pelo de Estados como o Paraná, o Pará e Goiás, razão pela qual a conquista da cidade de São Paulo é vista como um passo importante para “descontruir” a administração tucana do Estado e tentar abocanhá-lo em 2014..
Tancredo discursa já como presidente eleito para restaurar a democracia, em 1985: o PT não apoiou sua eleição (Foto: Dedoc / Editora Abril)
Quase todo mundo sabe, mas, como nossa memória é curta, e a memória de boa parte dos lulo-petistas extremamente seletiva, vale lembrar que Lula e sua turma, entre outros episódios que vou deixar de lado…
*… foram contra a eleição de Tancredo Neves como presidente da República em 1985, ato que encerraria a ditadura militar, dando lugar a um regime civil que restauraria as liberdades públicas e a democracia. Os então deputados petistas que votaram em Tancredo – Ayrton Soares (SP), Bete Mendes (SP) e José Eudes (RJ) — foram expulsos do partido. 
*… não participaram da solenidade de homologação da nova Constituição democrática, a 5 de outubro de 1988, e deixaram claras suas “ressalvas” ao texto aprovado por todos os deputados e senadores de todos os partidos.
Os petistas assinam a nova Constituição, porque era uma formalidade inescapável, mas o próprio Lula, então deputado constituinte, pronunciou um longo discurso 12 dias antes da promulgação, a 23 de setembro de 1988, dizendo, com todas as letras: “O partido [PT] vota contra o texto, e amanhã, por decisão do nosso Diretório – decisão majoritária – assinará a Constituição, porque entende que é o cumprimento formal da sua participação nessa Constituinte”.
* … defenderam em 1989 o calote da dívida externa brasileira, com Lula candidato à Presidência – seria derrotado no segundo turno por Fernando Color –, medida que levaria o Brasil à bancarrota e à desegraça, faria secar os investimentos externos por tempo indeterminado e transformaria o país em pária internacional.
* … recusaram-se num momento de gravíssima crise institucional, no final de 1992, a colaborar com o vice Itamar Franco, que assumiu em definitivo a Presidência com o afastamento de Fernando Collor e, no Planalto, tentou fazer um governo de grande acordo nacional para tirar o país do caos econômico e da derrocada moral a que o levara seu antecessor. A ex-prefeita petista de São Paulo Luiza Erundina, uma exceção, cometeu o “crime” de cooperar com o presidente Itamar como ministra da Administração e viu-se obrigada a deixar o PT.
O então ministro da Fazenda Rubens Ricupero e o presidente Itamar Franco com as primeiras cédulas do Real, em 1994: o plano que estabilizou a economia foi ferozmente combatido pelos petistas -- cujos governos, depois, tanto se beneficiaram dele (Foto: Dedoc / Editora Abril)
* … combateram sem tréguas o Plano Real, classificando como “eleitoreiro” o mais bem sucedido programa de estabilização da moeda da história econômica do país, concebido por equipe reunida pelo ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, e bancado pelo presidente Itamar. Sem ele, como se sabe, os proclamados êxitos econômicos do lulalato não existiriam.
 * … se opuseram ferozmente a todas as privatizações que, durante os dois mandatos de FHC (1995-2003), dinamizaram e modernizaram a economia do país, aumentaram a arrecadação de impostos, diminuíram o peso do Estado, melhoraram a competitividade do Brasil no mercado internacional e tornaram o país terreno fértil para investimentos estrangeiros.
A oposição do lulo-petismo, que não esteve alheio à participação em atos de hostilidade e mesmo da agressão física a empresários e autoridades durante leilões na Bolsa de Valores, incluiu a da telefonia, que permitiu entre outros resultados que o país pulasse em menos de duas décadas de 800 mil celulares para os mais de 200 milhões que tem hoje.
* … manifestaram-se em 1999 inteiramente contra a adoção de um dos três pilares da estabilidade do país – a política de câmbio flutuante. No mesmo ano, declararam-se contrário ao segundo deles, a política de metas de inflação. No ano seguinte, combateram e votaram contra o terceiro pilar do tripé que, ironicamente, propiciaria um governo extremamente favorável ao próprio Lula – a Lei de Responsabilidade Fiscal .
* … inventaram e propagaram uma campanha de teor golpista e antidemocrática, o “Fora FHC”, tão logo o presidente iniciou em 1999 o segundo mandato, para o qual, derrotando Lula, foi eleito por MAIORIA ABSOLUTA dos eleitores brasileiros, e no PRIMEIRO TURNO.
* combateram e criticaram, a partir de 2001, várias medidas da chamada “rede de proteção social” estabelecida pelo governo FHC, como o Bolsa Escola, o vale-alimentação, o vale-gás, o auxílio a mulheres grávidas que fizessem todos os exames do prénatal e o auxílio a famílias que evitassem o trabalho infantil de seus integrantes. Os distintos programas que Lula e seus seguidores, na oposição, consideravam “esmola” e parte de uma suposta ação eleitoreira viriam a ser unificados durante o lulalato e transformados em sua principal vitrine: o Bolsa Família — utilizado, como todos sabemos como O instrumento eleitoreiro por excelência.
Por tudo isso, e por mais que se poderia relacionar aqui, o voto CONTRA o PT em São Paulo se impõe — para impedir que um projeto hegemônico que, misturando belas palavras e sorrisos com ameaças, pretende moldar a democracia brasileira a seus desígnios.

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